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NAMP

Nº 70084705201 (Nº CNJ: 0108879-96.2020.8.21.7000)


2020/CÍVEL

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. SERVIDOR PÚBLICO. ÍNDICE


DE ATUALIZAÇÃO MONETÁRIA DA CONDENAÇÃO E JUROS
DE MORA. TEMA 810-STF E TEMA 905-STJ. JUÍZO DE
RETRATAÇÃO. OMISSÃO, CONTRADIÇÃO OU OBSCURIDADE.
INEXISTÊNCIA. REDISCUSSÃO DA MATÉRIA QUE NÃO SE
ADMITE NA VIA ELEITA. INTELIGÊNCIA DO ART. 1.022 DO
CPC.
1. Da leitura do recurso percebe-se que a pretensão da parte
embargante não é apenas de sanar omissão, obscuridade ou
contradição do acórdão, mas sim de rediscutir a matéria, o
que não é admissível na via dos embargos de declaração, sem
a demonstração de qualquer de seus pressupostos.
Questionamentos arguidos nos embargos que estão
respondidos no acórdão ora embargado.
2. As normas que dispõem sobre correção monetária são de
caráter processual e, portanto, de aplicabilidade imediata a
partir da vigência da lei, conforme posição do Superior
Tribunal de Justiça no julgamento do REsp nº 1.205.946-SP
(Temas nº 491 e nº 492), matéria que pode ser conhecida,
inclusive, de ofício, em razão da inconstitucionalidade
proclamada. Não há reformatio in pejus quando a norma tida
por mais benéfica é inconstitucional.
3. Não há, assim, ofensa ao entendimento firmado no Tema
nº 733 da repercussão geral do Supremo Tribunal Federal,
bem como os arts. 502, 507 e 508 do CPC, art. 5º, XXXVI, da
CF-88 e art. 5º da Lei 11.960/09, de maneira que os
fundamentos deduzidos no arrazoado não são insuficientes
para modificar a decisão objurgada.
4. Não havendo omissão, contradição ou obscuridade no
acórdão, os embargos merecem o improvimento.
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO IMPROVIDOS.

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO TERCEIRA CÂMARA CÍVEL

Nº 70084705201 (Nº CNJ: COMARCA DE PORTO ALEGRE


0108879-96.2020.8.21.7000)

ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL EMBARGANTE

LEILA DOS REIS MARTINS EMBARGADO

ELAINE MARIA OLIVEIRA DE OLIVEIRA EMBARGADO

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MARIA MADALENA TEIXEIRA DE FREITAS EMBARGADO

TANIA ELISABETH DE CASTRO EMBARGADO

IZABEL URIO EMBARGADO

ANDREA BITTENCOURT JOHNSTON EMBARGADO

EDIVANE MODENA ZEMBRUSKI EMBARGADO

ELONI TERESINHA FERRI EMBARGADO

ALCIONE D AGOSTINI ANNES E OUTROS EMBARGADO

MARGARETE SUSANA DOS SANTOS GREGORIO EMBARGADO

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos.

Acordam os Desembargadores integrantes da Terceira Câmara Cível do


Tribunal de Justiça do Estado, à unanimidade, em negar provimento aos embargos de
declaração.

Custas na forma da lei.

Participaram do julgamento, além do signatário (Presidente), os eminentes


Senhores DES.ª MATILDE CHABAR MAIA E DES. EDUARDO DELGADO.

Porto Alegre, 26 de novembro de 2020.

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RELATÓRIO

Trata-se de embargos de declaração opostos pelo ESTADO DO RIO GRANDE


DO SUL, porquanto está inconformado com o acórdão que exerceu parcialmente o juízo de
retratação, em razão dos Tema 810-STF e Tema 905-STJ.

Nas razões, sustentou que o acórdão contém omissão e contradição. Asseverou


que para se exercer o juízo de retratação com base no Tema 810-STF é necessário que haja
recurso da parte autora questionando a incidência dos critérios de correção monetária fixados
em juízo, o que não é o caso. Aduziu que haverá reformatio in pejus na espécie e ofensa ao
disposto nos arts. 141 e 1.008, do CPC. Pediu o acolhimento dos embargos de declaração.

É o relatório.

VOTOS

NELSON ANTONIO MONTEIRO PACHECO (RELATOR)

Encaminho voto pelo improvimento dos embargos de declaração.

Da leitura do recurso percebe-se, inicialmente, que a pretensão da parte


embargante não é apenas de sanar omissão ou contradição do acórdão, mas sim de rediscutir a
matéria tratada exaustivamente, o que não é admissível na via dos embargos de declaração,
sem a demonstração de qualquer de seus pressupostos.

Com efeito, a nova roupagem dos embargos de declaração conferida pelo CPC,
de fato, exige manifestação concreta e objetiva do julgador acerca dos temas tratados nos
acórdãos e decisões monocráticas. É o que se depreende da combinação do art. 1.022 com o art.
489, § 1º, do CPC, cuja transcrição, na hipótese concreta, se revela pertinente:

Art. 1.022. Cabem embargos de declaração contra qualquer


decisão judicial para:
I - esclarecer obscuridade ou eliminar contradição;
II - suprir omissão de ponto ou questão sobre o qual devia se
pronunciar o juiz de ofício ou a requerimento;
III - corrigir erro material.
Parágrafo único. Considera-se omissa a decisão que:

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I - deixe de se manifestar sobre tese firmada em julgamento de


casos repetitivos ou em incidente de assunção de competência
aplicável ao caso sob julgamento;
II - incorra em qualquer das condutas descritas no art. 489, § 1º.

Art. 489. (...):


(...).
§ 1º Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial,
seja ela interlocutória, sentença ou acórdão, que:
I - se limitar à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato
normativo, sem explicar sua relação com a causa ou a questão
decidida;
II - empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem explicar o
motivo concreto de sua incidência no caso;
III - invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer outra
decisão;
IV - não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo
capazes de, em tese, infirmar a conclusão adotada pelo julgador;
V - se limitar a invocar precedente ou enunciado de súmula, sem
identificar seus fundamentos determinantes nem demonstrar que
o caso sob julgamento se ajusta àqueles fundamentos;
VI - deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou
precedente invocado pela parte, sem demonstrar a existência de
distinção no caso em julgamento ou a superação do entendimento.
(...).

No caso dos autos, contudo, nenhuma das hipóteses do art. 1.022 c/c 489, § 1º,
do CPC se verifica.

Com efeito, não há falar em inaplicabilidade do entendimento do Tema nº


810-STF por ausência de recurso ou mesmo de reformatio in pejus, pois a matéria devolvida ao
juízo de retratação diz respeito aos Temas nº 810-STF e nº 905-STJ, estando a decisão do
colegiado dentro dos limites da retratação. Não se cogita, assim, a alegada ofensa ao disposto
nos arts. 141 e 1.008, do CPC.

De outro lado, inexiste ofensa à coisa julgada em relação aos índices de


atualização previstos no título judicial, porquanto as normas que dispõem sobre correção

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monetária são de caráter processual e, portanto, de aplicabilidade imediata a partir da vigência


da lei, conforme posição do Superior Tribunal de Justiça no julgamento do REsp nº 1.205.946-SP
(Temas nº 491 e nº 492), assim ementado:

PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. RECURSO


ESPECIAL. SERVIDOR PÚBLICO. VERBAS
REMUNERATÓRIAS. CORREÇÃO MONETÁRIA E JUROS DE
MORA DEVIDOS PELA FAZENDA PÚBLICA. LEI 11.960/09,
QUE ALTEROU O ARTIGO 1º-F DA LEI 9.494/97. NATUREZA
PROCESSUAL. APLICAÇÃO IMEDIATA AOS PROCESSOS EM
CURSO QUANDO DA SUA VIGÊNCIA. EFEITO RETROATIVO.
IMPOSSIBILIDADE.
1. Cinge-se a controvérsia acerca da possibilidade de
aplicação imediata às ações em curso da Lei 11.960/09, que
veio alterar a redação do artigo 1º-F da Lei 9.494/97, para
disciplinar os critérios de correção monetária e de juros de
mora a serem observados nas "condenações impostas à
Fazenda Pública, independentemente de sua natureza", quais
sejam, "os índices oficiais de remuneração básica e juros
aplicados à caderneta de poupança".
2. A Corte Especial, em sessão de 18.06.2011, por ocasião do
julgamento dos EREsp n. 1.207.197/RS, entendeu por bem
alterar entendimento até então adotado, firmando posição
no sentido de que a Lei 11.960/2009, a qual traz novo
regramento concernente à atualização monetária e aos juros
de mora devidos pela Fazenda Pública, deve ser aplicada, de
imediato, aos processos em andamento, sem, contudo,
retroagir a período anterior à sua vigência.
3. Nesse mesmo sentido já se manifestou o Supremo Tribunal
Federal, ao decidir que a Lei 9.494/97, alterada pela Medida
Provisória n.
2.180-35/2001, que também tratava de consectário da
condenação (juros de mora), devia ser aplicada
imediatamente aos feitos em curso.
4. Assim, os valores resultantes de condenações proferidas
contra a Fazenda Pública após a entrada em vigor da Lei
11.960/09 devem observar os critérios de atualização
(correção monetária e juros) nela disciplinados, enquanto
vigorarem. Por outro lado, no período anterior, tais
acessórios deverão seguir os parâmetros definidos pela
legislação então vigente.

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5. No caso concreto, merece prosperar a insurgência da


recorrente no que se refere à incidência do art. 5º da Lei n.
11.960/09 no período subsequente a 29/06/2009, data da
edição da referida lei, ante o princípio do tempus regit
actum.
6. Recurso afetado à Seção, por ser representativo de
controvérsia, submetido ao regime do artigo 543-C do CPC e
da Resolução 8/STJ.
7. Cessam os efeitos previstos no artigo 543-C do CPC em
relação ao Recurso Especial Repetitivo n. 1.086.944/SP, que se
referia tão somente às modificações legislativas impostas
pela MP 2.180-35/01, que acrescentou o art. 1º-F à Lei
9.494/97, alterada pela Lei 11.960/09, aqui tratada.
8. Recurso especial parcialmente provido para determinar,
ao presente feito, a imediata aplicação do art. 5º da Lei
11.960/09, a partir de sua vigência, sem efeitos retroativos.
(REsp 1.205.946-SP, Corte Especial, rel. Ministro Benedito
Gonçalves, j. em 19OUT11, DJe 02FEV12).

Tratando-se, assim, de norma de caráter processual, não há preclusão ou coisa


julgada acerca da matéria, que pode ser conhecida, inclusive, de ofício, em razão da
inconstitucionalidade proclamada. Não há reformatio in pejus quando a norma tida por mais
benéfica é inconstitucional. E assim, não há falar em ofensa ao entendimento materializado no
julgamento do Tema nº 733 do STF1, bem como os arts. 502, 507 e 508 do CPC, art. 5º, XXXVI, da
CF-88 e art. 5º da Lei 11.960/09, de maneira que os fundamentos deduzidos no arrazoado não
são insuficientes para modificar a decisão objurgada.

Não estão preenchidos, portanto, os lindes do art. 1.022 do CPC e, de mais a


mais, se a solução dada ao litígio não foi a melhor do ponto de vista da parte embargante, não é
na via dos embargos de declaração, sem a demonstração de quaisquer de suas causas, que
poderá modificar o que foi decidido.

Tais as razões pelas quais voto pelo improvimento dos embargos de declaração.

1
“A decisão do Supremo Tribunal Federal declarando a constitucionalidade ou a inconstitucionalidade de
preceito normativo não produz a automática reforma ou rescisão das decisões anteriores que tenham
adotado entendimento diferente. Para que tal ocorra, será indispensável a interposição de recurso
próprio ou, se for o caso, a propositura de ação rescisória própria, nos termos do art. 485 do CPC,
observado o respectivo prazo decadencial (CPC, art. 495)”.
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2020/CÍVEL

DES.ª MATILDE CHABAR MAIA - De acordo com o(a) Relator(a).

DES. EDUARDO DELGADO - De acordo com o(a) Relator(a).

DES. NELSON ANTONIO MONTEIRO PACHECO - Presidente - Embargos de Declaração nº


70084705201, Comarca de Porto Alegre: "NEGARAM PROVIMENTO AOS EMBARGOS DE
DECLARAÇÃO. UNÂNIME."

Julgador(a) de 1º Grau: DR MARTIN SCHULZE

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