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ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

SBM
Nº 70074832403 (Nº CNJ: 0247355-22.2017.8.21.7000)
2017/CÍVEL

APELAÇÃO CÍVEL. UNIÃO ESTÁVEL.


RECONHECIMENTO DE UNIÃO ESTÁVEL POST
MORTEM. SENTENÇA QUE DECLARA A EXISTÊNCIA
DA UNIÃO ESTÁVEL QUE TEM EFEITOS ERGA OMNES.
SENTENÇA REFORMADA.
A sentença judicial transitada em julgado que
reconhece e declara união estável produz efeitos
erga omnes, tendo o condão de assegurar à
companheira, portanto, todos os direitos inerentes
a relação jurídica havida entre os companheiros.
APELAÇÃO PROVIDA.

APELAÇÃO CÍVEL SÉTIMA CÂMARA CÍVEL

Nº 70074832403 (Nº CNJ: 0247355- COMARCA DE PORTO ALEGRE


22.2017.8.21.7000)

M.A.G.C. APELANTE
..
A.J. APELADO
..
V.C.P. INTERESSADO
..
S.V.C.P. INTERESSADO
..
L.C.P. INTERESSADO
..
M.C.P. INTERESSADO
..

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos.

Acordam os Desembargadores integrantes da Sétima Câmara Cível


do Tribunal de Justiça do Estado, à unanimidade, em dar provimento à apelação.

Custas na forma da lei.

Participaram do julgamento, além da signatária, os eminentes


Senhores DES. JORGE LUÍS DALL'AGNOL (PRESIDENTE) E DES. SÉRGIO FERNANDO
DE VASCONCELLOS CHAVES.

Porto Alegre, 27 de setembro de 2017.


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PODER JUDICIÁRIO
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SBM
Nº 70074832403 (Nº CNJ: 0247355-22.2017.8.21.7000)
2017/CÍVEL

DES.ª SANDRA BRISOLARA MEDEIROS,


Relatora.

RELATÓRIO

DES.ª SANDRA BRISOLARA MEDEIROS (RELATORA)

MARIA AMÉLIA G. C. interpõe recurso de apelação da sentença que,


apreciando ação declaratória de reconhecimento de união estável post mortem
ajuizada contra a SUCESSÃO DE VOLNEI C. P., homologou acordo no qual ficou
estabelecido que a união estável havida entre a apelante e o de cujus teve início
em dezembro de 2012 até 03 de agosto de 2016, data o falecimento do
companheiro (fls. 70-72).
Nas razões recursais, a apelante sustenta que, diferentemente do
afirmado pelo Julgador singular, a sentença que reconhece a união estável não
produz efeitos somente entre as partes, mas guarda, também, reflexos erga
omnes, não podendo excluir-se terceiros, o fisco, os herdeiros, os credores, os
devedores, a previdência ou quaisquer outras situações que envolvem o estado da
pessoa. Postula o provimento do apelo para que seja afastada a limitação dos
efeitos do reconhecimento da união estável somente às partes (fls. 76-80).

Não foram apresentadas contrarrazões.

Subiram os autos à consideração desta Corte.

A Drª Procuradora de Justiça exarou parecer opinando pelo


provimento do apelo.

Vieram os autos conclusos para julgamento.

É o relatório.

VOTOS

DES.ª SANDRA BRISOLARA MEDEIROS (RELATORA)

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Eminentes Colegas.

Merece provimento o pleito recursal.

Insurge-se a apelante contra a afirmação constante na sentença de


que “tal como prevê o Código de Processo Civil (art. 506. A sentença faz coisa
julgada às partes entre as quais é dada, não prejudicando terceiros), é de se
ressaltar que a presente ação, na forma litigiosa ou consensual, não poderia
atingir terceiros, como o órgão previdenciário, que não é parte no feito nem pôde
se defender”.

Com efeito, diferentemente do que constou na sentença recorrida,


o pronunciamento judicial transitado em julgado que reconhece e declara união
estável produz efeitos erga omnes, inclusive assegurando à companheira, entre
outros, o direito à pensão por morte do companheiro.

Vale dizer que os efeitos da união estável perpassam a relação


interpartes e, indo além, concedem à ex-companheira todos os direitos
patrimoniais, nos termos do disposto no art. 1725 do Código Civil.

Ainda, como bem assinalou a eminente Desª Laura Jaccottet, ao


julgar a AC nº 70073405235, “de conformidade com o sistema jurídico brasileiro,
os “direitos de família”, decorrentes do Princípio Constitucional da Dignidade da
Pessoa Humana, fundam-se, em realidade, na gênese dos Direitos Fundamentais –
dentre os quais personalidade e estado. Destarte, não produzem efeitos apenas
entre as partes. Absolutamente. Ao contrário, como dos mais categorizados
direitos fundamentais, guardam reflexos erga omnes, não podendo remanescer
dúvida dos efeitos do reconhecimento de uma união estável perante terceiros, o
fisco, os herdeiros, os credores, os devedores, a previdência ou diante do mais
variado universo de situações que se possam apresentar envolvendo a
envergadura do estado da pessoa” (julgado em 26 de julho de 2017, Segunda
Câmara Cível).

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Se tanto não bastasse, a ilustre Procuradora de Justiça, Dra. Synara


Jacques Buttelli Göelzer, em seu parecer, trouxe doutrina de Cristiano Chaves de
Farias e de Nelson Rosenvald1 que, pela pertinência, peço vênia para transcrever:

“(...) a união estável dá origem a um conjunto de


efeitos de ordem pessoal (CC, art. 1.724) que
estendem sua influência também à esfera
patrimonial, produzindo consequências que
interessam a ambos os companheiros, exigindo, por
consequência natural, uma regulamentação jurídica.
Dentre os efeitos patrimoniais da união estável
sobreleva explicar que alguns decorrerão de sua
dissolução em vida, enquanto outros defluem da
dissolução por morte. Note-se que na dissolução por
atos ente vivos, decorrem o direito à meação e aos
alimentos. Quando extinta a relação pela morte de
um dos conviventes, o sobrevivente poderá reclamar,
além da sua meação, o direito à herança (inclusive
podendo pleitear a inventariança), à habitação e aos
eventuais benefícios previdenciários (...)”.

Portanto, entendo que imperioso o afastamento da limitação


imposta pela sentença, já que os efeitos gerados com o reconhecimento da união
estável são consequências naturais da relação jurídica existente entre os
companheiros.

Ante o exposto, voto no sentido de dar provimento à apelação, nos


termos da fundamentação.

DES. JORGE LUÍS DALL'AGNOL (PRESIDENTE) - De acordo com o(a) Relator(a).

DES. SÉRGIO FERNANDO DE VASCONCELLOS CHAVES - De acordo com o(a)


Relator(a).

DES. JORGE LUÍS DALL'AGNOL - Presidente - Apelação Cível nº 70074832403,


Comarca de Porto Alegre: "DERAM PROVIMENTO À APELAÇÃO. UNÂNIME."

1
FARIAS, C.C.; ROSENVALD, N. Curso de Direito Civil - Famílias. Editora Jus Podivm, Salvador, v. 06, 4ª ed, p.
544, 2012.
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Julgador(a) de 1º Grau:

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