O documento discute o conceito de autotutela executiva da administração pública, que permite que a administração execute suas decisões unilateralmente sem decisão judicial prévia. A discussão inclui o histórico do conceito em Portugal, uma análise conceitual da autotutela como coação pública versus violência, e como o conceito se relaciona com os princípios constitucionais de liberdade, igualdade e separação de poderes.
O documento discute o conceito de autotutela executiva da administração pública, que permite que a administração execute suas decisões unilateralmente sem decisão judicial prévia. A discussão inclui o histórico do conceito em Portugal, uma análise conceitual da autotutela como coação pública versus violência, e como o conceito se relaciona com os princípios constitucionais de liberdade, igualdade e separação de poderes.
O documento discute o conceito de autotutela executiva da administração pública, que permite que a administração execute suas decisões unilateralmente sem decisão judicial prévia. A discussão inclui o histórico do conceito em Portugal, uma análise conceitual da autotutela como coação pública versus violência, e como o conceito se relaciona com os princípios constitucionais de liberdade, igualdade e separação de poderes.
poderes “exorbitantes” sobre os cidadãos, por comparação com os poderes “normais” reconhecidos pelo Direito Civil aos particulares nas relações entre si. A Administração dispõe de um poder de auto-tutela uma vez que esta determina o Direito a aplicar. As decisões unilaterais da Administração têm em regra força executória própria. Neste sistema temos presentes tanto a auto-tutela declarativa como a executiva. Isto é, no sistema Francês, a Administração dispõe de auto-tutela declarativa, a qual lhe permite declarar unilateralmente o Direito a aplicar, e de auto-tutela executiva, que lhe permite executar as suas decisões sem recurso a tribunal. Por isso mesmo, estas decisões podem ser impostas pela Administração com recurso á coacção sem necessidade de qualquer intervenção prévia do poder judicial. A Administração tem assim o poder de, por si só, obrigar o particular a obedecer às regras por esta impostas, através de medidas coercivas, não precisando de recorrer ao tribunal para fazer executar as suas regras.
Por autotutela executiva da administração pública entende-se, usualmente, a
execução pela administração, sem decisão judicial prévia, da sua definição unilateral do direito para determinada situação jurídica concreta (é o que tradicionalmente se designa por privilégio da execução prévia). Partindo dessa noção preliminar, o nosso objectivo é contribuir para a análise do respectivo fundamento, ou da sua compreensão como problema jurídico-político. Sabendo-se que o Estado impõe decisões suas aos particulares, afectando a sua liberdade com justificação, em geral, num critério de “necessidade”, pergunta-se: entre administração e tribunais, quem deve deter preferencialmente – em termos de modelo – o poder de aplicar a força na efectivação dessas mesmas imposições? E qual o quadro geral de vinculação para o legislador na conformação desse mesmo modelo? A Parte I é dedicada ao enquadramento histórico-dogmático da autotutela executiva como manifestação do poder administrativo em Portugal, em duas diferentes dimensões: (I) a dimensão do pensamento jusadministrativo em Portugal no século XX; e (II) a dimensão histórico-constitucional, desde o período pré-liberal até à actual Constituição de 1976. A Parte II aborda a autotutela executiva enquanto figura jurídica “pendente” entre o político e a realização administrativa do direito, subdividindo-se em dois grandes momentos: (I) num primeiro, procede-se a uma análise estrutural e conceptual da autotutela executiva da administração, qualificando-a no contexto alternativo coacção pública / violência; (II) num segundo, à luz daquela grande dicotomia da separação de poderes entre o político e o jurídico, procura-se a relação entre autotutela executiva e elemento político, e a justificação para uma intervenção judicial prévia validante do uso da força pela administração. A Parte III e última diz respeito à autotutela executiva como problema constitucional, enquadrando-a: (I) no contexto fundamental da liberdade / igualdade; (II) no estatuto constitucional da administração; (III) e analisando o significado jurídico- político de alguns dos mecanismos mais salientes de garantia dos direitos dos particulares. Palavras chave: poder administrativo; coacção; liberdade; poder político; “iurisdictio”; reserva de juiz; separação de poderes.