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Luciene Guitarrari Bastos

“A HARPA CRISTÃ NOS CULTOS DAS IGREJAS ASSEMBLEIA DE DEUS: UM


ENQUADRAMENTO PENTECOSTAL”

Ensaio apresentado à Prof. Dra.


Suzel Ana Reily, pela disciplina
MS 110 - Tópicos Especiais em
Etnomusicologia

UNICAMP

Julho/2020
“A HARPA CRISTÃ NOS CULTOS DAS IGREJAS ASSEMBLEIA DE DEUS: UM
ENQUADRAMENTO PENTECOSTAL”

Introdução

A música, ao longo da História da Música, tem sido parte integrante de diversas


correntes e ritos religiosos. Em cada crença, ela insere-se de modo peculiar em suas
reuniões, com determinadas funções.

A Reforma Protestante, empreendida por Martinho Lutero em 1517, resultou


no surgimento de uma nova corrente cristã: o Protestantismo, que ao longo do tempo
originou várias denominações evangélicas - entre elas, as pentecostais. Estas tem
apresentado uma relevante expansão na sociedade.

Este ensaio adota um recorte com foco em uma dessas denominações


pentecostais: a Assembleia de Deus, e argumenta sobre o fator espiritual direcionando
a liturgia musical através de seu hinário oficial - a Harpa Cristã.

Inicialmente, apresenta-se a denominação em suas origens e principais


características. Em seguida, desenvolve-se o argumento central do ensaio, através de
análise bibliográfica e comparações com outros grupos pentecostais.

Princípios teológicos, dogmas e práticas

A origem das Assembleias de Deus remonta ao início do século XX, nos Estados
Unidos, quando um grupo deu início a reuniões de oração no Colégio Bíblico Betel, em
Topeka (Kansas), em 1901. Esses encontros suscitaram o entendimento de que falar
em línguas - diferentes de seus idiomas originais - era o sinal do Batismo no Espírito
Santo. Em 1906, o Pastor William J. Seymour - que assistira a aulas no colégio - foi a
Los Angeles para uma preleção, que culminou no Avivamento da Rua Azusa.
Geralmente, considera-se que o início do movimento pentecostal se deu a partir desse
acontecimento, para o qual contribuiu o Pastor Charles Fox Parham, fundador do
Colégio Bíblico Betel.

De acordo com o pentecostalismo, os participantes desse avivamento ficaram


cheios do Espírito Santo da mesma maneira que os discípulos e os seguidores de Jesus
durante a Festa Judaica do Pentecostes, no início da Igreja Primitiva, conforme
registrado na Bíblia Sagrada, livro de Atos dos Apóstolos, capítulo 2. Assim, eles foram
chamados de “pentecostais”.

Os autores Moulian, Izquierdo e Valdez, no seu livro Poiesis numinosa de Ia


música pentecostal: Cantos de júbilo, gozo de avivamiento y danzas en el fuego del
espíritu (p. 38-55) “analisam o pentecostalismo, na busca pelo encontro com o Espírito
Santo, a práxis litúrgica pentecostal se encontra marcada pela retórica da presença,
um conjunto de procedimentos e estratégias de comunicação ritual que se orientam
para o ‘avivamento do Espírito Santo’ entre os membros da congregação. Isso se dá de
forma oral, na pregação discursiva convencional, através de gestos e comportamentos
rituais que permitem a sua localização no espaço do templo. Trata-se de uma dinâmica
de culto que valoriza o movimento. Por valorizar esse movimento, a música se mostra
fundamental porque ‘dirige’ os corpos para esse fim.” 1

Esse avivamento resultou na fundação, em 1914, das Assembleias de Deus nos


Estados Unidos. Através da obra missionária, a denominação expandiu-se, tornando-se
a maior denominação evangélica pentecostal do mundo.

A Assembleia de Deus estabeleceu-se no Brasil através dos missionários Daniel


Berg e Gunnar Vingren, que chegaram a Belém do Pará em 1910. Por pregarem a
atualidade do Batismo no Espírito Santo e outros dons espirituais, dentro dos
princípios pentecostais, foram desligados da Igreja Batista em 1911. No mesmo ano,
fundaram a Missão de Fé Apostólica, a qual, em 1918, ficou conhecida como
Assembleia de Deus.

Dessa forma, o pentecostalismo está no cerne dos princípios teológicos, dos


dogmas e práticas das Assembleias de Deus, assim como outros pontos fundamentais.

Formato do culto e o lugar da música

Na Assembleia de Deus, o formato do culto segue uma liturgia (do grego


leitourgia: leitos - público e ergon - trabalho). Como está registrado no capítulo 4 do
Evangelho de Lucas (versículos 16 a 22), o próprio Jesus costumava frequentar os
cultos religiosos na sinagoga, participando dos serviços litúrgicos.

“O movimento litúrgico tem início ao nos reunirmos para adorar a


Deus. Prossegue já com a oração, já com os cânticos. Tem sequência
com a proclamação do Evangelho. E, finalmente, encerra-se com a
impetração da bênção apostólica. [...]Numa linguagem mais técnica,
liturgia é a soma de quanto concorre para a boa condução de um ato
religioso. [...]É tudo o que, diante de Deus, exprime a devoção de
uma comunidade de fé: cânticos, leituras bíblicas, testemunhos,
pregação etc.” 2
______________________________________________________________________________________________

1
CÂMARA, A. L. F. A música e a adoração a Deus na Igreja Evangélica Assembleia de Deus. São Leopoldo: EST/PPG,
2016. p. 38.
2
ANDRADE, C. DE. CPAD News, 2014. O culto cristão e a liturgia. Disponível em:
http://www.cpadnews.com.br/blog/claudionorandrade/posts/79/o-culto-cristao-e-a-liturgia.html. Acesso em: 05
jul. 2020.
O Apóstolo Paulo orienta os fiéis da igreja de Corinto: “Que fazer, pois, irmãos?
Quando vos congregais, cada um de vós tem salmo, tem doutrina, tem revelação, tem
língua, tem interpretação. Faça-se tudo para edificação” (1Co 14.26). 3

Considerando a liturgia como uma necessidade dos cultos, as Assembleias de


Deus, em geral, buscam um equilíbrio entre as etapas do serviço religioso, com
possíveis variações, mas sempre estruturando o serviço nos pilares: oração, louvor,
contribuição e Palavra. Algumas variações podem ocorrer entre cultos evangelísticos,
Santa Ceia, de ação de graças, de oração e de doutrina, entre outras ocasiões que
guardem suas peculiaridades. No que tange ao louvor:

“[...] o cântico litúrgico aparece como instrumento de louvor. Ao


longo da história, diversos formatos foram experimentados tais como
os salmos, os hinos clássicos e os cânticos populares [...], estes
transformados em hinos evangelísticos no Brasil [...]. por meio da
música litúrgica, os cristãos buscaram comunicação com Deus,
comunicação de Deus para com eles, comunicação entre eles e
4
comunicação entre eles e os incrédulos”.

Martinho Lutero, líder da Reforma Protestante, já defendia a música como


parte da liturgia, isto é, do serviço religioso, para “a entonação para as leituras bíblicas,
para a oração da coleta, para o Credo e outras partes do culto, prevendo a participação
do coro das mais variadas maneiras.” 5 A afirmação de PATSIAOURA (2018) sobre o
louvor entre nigerianos pentecostais em Atenas (Grécia), é aplicável ao contexto
assembleiano: “[...] pentecostais nigerianos empregam a música para expressar,
facilitar e incorporar a fé na igreja e no dia-a-dia”. 6 Segundo WHITE (1997), a função
da música no culto é a de “acrescentar uma dimensão mais profunda de
envolvimento” do fiel. "As formas de relacionamento com a música e os efeitos que se
podem alcançar através das atividades musicais são múltiplos” 7 e muito particulares
para cada fiel. Apesar de tais particularidades, é comum aos pentecostais a busca pela
manifestação do Espírito Santo através do louvor, fortalecendo sua fé e
proporcionando-lhes a experiência transcendente de sentir a presença de Deus em sua
vida.

______________________________________________________________________________________________
3
BÍBLIA SAGRADA. 1ª carta do Apóstolo Paulo aos Coríntios, capítulo 14, versículo 26.
4
CUNHA, M. do N. A Explosão Gospel: um olhar das ciências humanas sobre o cenário evangélico no Brasil. Rio de
Janeiro: Mauad X, Instituto Mysterium, 2007. p. 87-88.
5
SCHALK, C. F. Lutero e a música: paradigmas de louvor. São Leopoldo: Sinodal, 2006.
1997.
6
PATSIAOURA, E. Bringing Down the Spirit. The Routledge, Companion to the Study of Local Musicking Routledge,
2018. Disponível em: https://www.routledgehandbooks.com/doi/10.4324/9781315687353-16 Acesso em: 08 nov.
2018.
7
TOURINHO, I. Usos e Funções da Música na Escola Pública de 1º Grau. Fundamentos da Educação Musical, Porto
Alegre, n.1, p.91-133, maio 1993.
Nas Assembleias de Deus, a música ocupa um lugar importante na liturgia e de
natureza transcendental, no plano espiritual. Do ponto de vista litúrgico, o fazer
musical insere-se em momentos importantes como na abertura do culto, em geral com
hinos congregacionais, da Harpa Cristã - hinário oficial das Assembleias de Deus,
durante o recolhimento das ofertas e em momentos específicos de participação de
grupos como coral, conjuntos de crianças, adolescentes, jovens, senhoras e “grupos de
louvor” (praise team), com acompanhamento instrumental (orquestra, banda, piano).
Em muitas igrejas, as pregações são acompanhadas por fundo musical instrumental, o
qual se estende até o momento do “apelo” - quando o preletor ou pastor da igreja
convida os presentes a aceitarem a Jesus como seu Salvador. Muitos pregadores,
porém, costumam fazer sua preleção entoando hinos, mesclados ou não com a Palavra
falada. Para SOUZA (2010, p. 43), “a música é uma forma privilegiada de pregar a
Palavra de Deus. Seus elementos sonoros e rítmicos, e mesmo poéticos (no caso das
músicas letradas) possuem bem mais atrativos do que as palavras planas pronunciadas
através da voz”. 8

O tempo destinado à Palavra e à música varia muito entre as igrejas e


ministérios.

As igrejas pentecostais creem na ação do Espírito Santo de Deus, o qual pode


agir segundo a Sua vontade, inclusive nos louvores teoricamente considerados
contemplativos, como os corais, o que aponta para o caráter transcendente da música
nos cultos das Assembleias de Deus.

Em seu artigo Bringing Down the Spirit, a pesquisadora Evanthia Patsiaoura


aborda o louvor nas igrejas pentecostais nigerianas. Apesar do distanciamento físico e
cultural, é possível estabelecer um paralelo com o caráter transcendente do louvor nas
Assembleias de Deus, no que se refere ao mover do Espírito Santo:

“[...] música e o processo do fazer musical são interligados com o


reino espiritual do mesmo modo que musicalidade e espiritualidade
são inseparáveis para os Pentecostais Nigerianos. Crendo ser
inspirado ou controlado pelo Espírito Santo durante o fazer musical
(louvor e dança inclusos), a ação musical do indivíduo é também uma
ação espiritual. Portanto, a ação músico-espiritual define a localidade
transcendente, músico-espiritual que emerge através do louvor,
particularmente quando o fazer musical compreende uma parte
estratégica da liturgia, o que é uma característica comum do louvor
nigeriano pentecostal.” 9

______________________________________________________________________________________________________________________________________________

8
SOUZA, M. B. Prédica e música. In: EWALD, Werner (Org.). Música e Igreja: reflexões contemporâneas para uma
prática milenar. São Leopoldo: Sinodal, p. 43.
9
PATSIAOURA, E. 2018.
Harpa Cristã no canto congregacional

A Harpa Cristã, hinário oficial das Assembleias de Deus, “foi especialmente


organizada com o objetivo de enlevar o cântico congregacional e proporcionar o louvor
a Deus nas diversas liturgias da igreja.” 10 Seu principal objetivo é estimular a música
em forma de louvor nas igrejas.

Buscando um repertório mais adequado ao Pentecostalismo, a denominação


passou a empregar o Cantor Pentecostal, hinário com quarenta e quatro hinos e dez
corinhos lançado em 1921, organizado por Almeida Sobrinho e impresso na tipografia
Guajarina. Em 1922, foi lançada no Recife - Pernambuco, a primeira edição da Harpa
Cristã, organizada pelo Pastor Adriano Nobre.

Inicialmente composta por cem hinos, tinha como pilares a doutrina


pentecostal da manifestação do Espírito Santo e a crença na segunda vinda de Cristo,
os quais permanecem como fundamentos do hinário até os dias atuais. Ao longo dos
anos, outros hinos foram adicionados, chegando ao número de quinhentos e vinte e
quatro músicas, na publicação da primeira harpa com partituras.

Em 1999, foi lançada a Harpa Cristã ampliada, com cento e dezesseis hinos a
mais. Engloba hinos de cento e cinquenta e nove autores e tradutores, brasileiros e
estrangeiros, cujas temáticas estão basicamente centradas na Santíssima Trindade e
na vida cristã, incluindo a Igreja e seus cultos.

A congregação é convidada a entoar os louvores do hinário, em geral com uma


voz guia, ao microfone, no púlpito. Portanto, trata-se do que TURINO (2008, p. 28) 11
classificou como participatory performance, ou seja, “performance participativa”, em
que todos os presentes (que desejem) contribuem de maneira ativa com a produção
sonora - neste caso, os hinos. Musicalidade e espiritualidade constituem experiências
compartilhadas e transcendentais através do canto coletivo e da ação do Espírito Santo
sobre o grupo reunido, como pressupõe o pentecostalismo.

“Este tipo de performance gera caminhos nos quais os participantes


se conectam uns com os outros e experimentam flow, definido por
TURINO (2008, p. 4) 12 como ‘o estado de elevada concentração,
quando um indivíduo está tão empenhado na atividade em questão
que todos os outros pensamentos, preocupações, e distrações
desaparecem e o ator está inteiramente no presente’,
experimentando sensações de atemporalidade e de ‘transcendência
pessoal’”. 13
______________________________________________________________________________________________________________________________________________
10
CPAD - CASA PUBLICADORA DAS ASSEMBLEIAS DE DEUS. Editora CPAD, [s/d]. Conheça a história da Harpa Cristã:
O hinário oficial das Assembleias de Deus. Disponível em:
http://www.editoracpad.com.br/assembleia/historia.php?i=11. Acesso em: 03 jul.2020.
11 12
TURINO, T. Music as Social Life: The Politics of Participation. Chicago: The University of Chicago Press, 2008.
Cap. 2.
13
PATSIAOURA, E. 2018.
Nascida da tradição protestante à qual foi amalgamada a doutrina pentecostal,
a Harpa Cristã carrega consigo a identidade do fazer musical assembleiano, resultando
em uma paisagem sonora característica cuja localidade não é fixa: se manifesta onde
quer que os hinos do hinário sejam executados, por pessoas compartilhando da
experiência transcendental do contato com o divino. Citando novamente PATSIOURA
(2018), “[...] a ação músico-espiritual define a localidade transcendente, músico-
espiritual que emerge através do louvor [...]”.14

“De uma perspectiva etnomusicológica, pessoas fazendo música


‘marcam paisagens sonoras e simbolizam lugar’ (BRUCHER E REILY
2013, p. 26) 15 e empregam música para estabelecer um local de
modo que gere significados e experiências (religiosos)
particularmente importantes’ (BRUCHER E REILY 2013, p. 22). 16
Considerando essas abordagens, é pertinente pensar localidades de
musicar não como locais fixos mas sim como situados na produção
dos sons, movimentos, e interações entre participantes em um
evento”. 17

Sejam uma residência em um culto doméstico, as congregações em diferentes bairros


ou um grande evento religioso: ali estará configurada a localidade marcada pela
performance participativa congregacional assembleiana, dentro de suas crenças e
doutrinas, conforme ilustra o prefácio da primeira edição do hinário (grafia da época):

“PREFACIO DA PRIMEIRA EDICÇÃO: É com alegria que apresentamos a


primeira edicção do nosso livrinho de hymnos, para uso dos crentes
em Jesus, d’aquelle que tem o seu prazer em louvar ao Cordeiro de
Deus. O presente livrinho não aparece como um trabalho literário, mas
como o fructo da bôa vontade de um certo numero de filhos de Deus,
os quaes desejam louvar ao seu Pae, mais com o coração do que com o
intelecto. É verdade que procuramos harmonizar o mais possível essas
duas faculdades, mas como nos falta competência, ouzamos
apresentar-nos confiantes na benevolência dos nossos leitores, aos
quaes pedimos para olharem mais para a espiritualidade que haja nos
hymnos do que para a letra, na qual se encontram senões. Com a
declaração de que a “Harpa Cristã” é para uso das “Assembléas de
Deus” (Heb; 12.23) não queremos dizer que Ella se restringe somente
aos crentes que se reúnem sob esse titulo, pois como “Assembléa de
Deus”, reconhecemos a reunião dos fies e verdadeiros christãos em
todo logar. O Edictor.” 18
______________________________________________________________________________________________
14
PATSIAOURA, E. 2018.
15
BRUCHER, K. REILY, S. A. “Introduction: The World of Brass Bands.” In: Brass Bands of the World: Militarism,
Colonial Legacies, and Local Music Making, edited by Suzel Ana Reily and Katherine Brucher, Farnham: Ashgate.
2013, p. 26.
16
BRUCHER E REILY 2013, p. 22
17
PATSIAOURA, E. 2018.
18
ARAÚJO, Isael. Dicionário do Movimento Pentecostal. Recife: 2012. Disponível em:
http://dicionariomovimentopentecostal.blogspot.com/2012/03/recife-inicio-das-comemoracoes-dos-90.html.
Acesso em: 03 jul. 2020.
O hino de número 581 da Harpa Cristã, “Castelo Forte” (Ein feste Burg ist unser
Gott), de autoria de Martinho Lutero, é notavelmente representativo das origens das
Assembleias de Deus, tendo sido composto no contexto da Reforma Protestante:

1. Castelo forte é nosso Deus,


Amparo e fortaleza:
Com Seu poder defende os Seus
Na luta e na fraqueza.
Nos tenta Satanás,
Com fúria pertinaz,
Com artimanhas tais
E astúcias tão cruéis,
Que iguais não há na Terra.

2. A nossa força nada faz:


Estamos, sim, perdidos.
Mas nosso Deus socorro traz
E somos protegidos.
Defende-nos Jesus,
O que venceu na cruz,
Senhor dos altos céus.
E sendo também Deus,
Triunfa na batalha.

3. Se nos quisessem devotar


Demônios não contados,
Não nos podiam assustar,
Nem somos derrotados.
O grande acusador
Dos servos do Senhor
Já condenado está:
Vencido cairá
Por uma só palavra.

4. Que Deus a luta vencerá,


Sabemos com certeza,
E nada nos assustará
Com Cristo por defesa.
Se temos de perder
Família, bens, poder,
E, embora a vida vá,
Por nós Jesus está,
E dar-nos-á Seu reino.

Como exemplo da fundamentação da Harpa Cristã na doutrina pentecostal,


pode-se citar o hino de número 24 - “Poder Pentecostal”, cuja letra encontra-se a
seguir:
1. No Pentecostes sucedeu
O que Jesus falou,
Pois de repente lá do céu
Um vento assoprou,
Que veio a casa toda encher
E os corações com mui poder.

REFRÃO
Poder, poder, poder pentecostal.
Ó vem nos inflamar,
Também nos renovar;
Ó vem, sim, vem, ó chama divinal,
Teus servos batizar.

2. Em cada um veio repousar


A preciosa luz,
O Preceptor que veio ficar
Co’os servos de Jesus;
Foi o fogo santo do Senhor.
Que os encheu com Seu vigor.

3. E começaram a falar, Repletos de poder,


Em outras línguas exaltar
Ao que mandou trazer
Os ricos dons do Seu amor
E o poder consolador.

4. E quem deseja receber


Esta água salutar.
Que é prometida ao que crer
E humilde esperar,
Perseverando em oração,
Terá poder seu coração.

“Vem à Assembleia de Deus“ (número 144) ilustra de forma pertinente a


conclamação dos fieis a participarem ativamente do culto (“performance
participativa”):

1. À Assembleia de Deus, vem comigo,


Ouvir a Palavra de Deus;
E terás a certeza, contigo,
Que Jesus é o caminho dos céus.

REFRÃO
Ó vem, vem, vem, vem!
Vem à Assembleia e louvemos
Ao nosso bom Deus Redentor,
Pois maior alegria não temos,
Que fruir Seu imenso amor.
2. Vem, irmão, à Assembleia dos Santos,
Sentir o poder do Senhor
E ali entoar lindos cantos
Exultando no Consolador.

3. Na Assembleia de Deus tu estejas


Humilde aos pés do Senhor:
Santidade convém à Igreja,
P’ra gozarmos celeste amor.

4. Nós sentimos a santa presença


Do nosso querido Jesus;
Anulada foi tua sentença:
Deixa as trevas e vem para a luz.

Conclusão

O canto congregacional é parte integrante da liturgia nas igrejas Assembleia de


Deus e envolve de maneira característica o hinário oficial da denominação - a Harpa
Cristã (embora outros tipos de repertório também sejam empregados para o canto
coletivo). Organizada de acordo com as crenças e doutrinas da igreja, reúne hinos
compatíveis com suas origens e com o pentecostalismo.

Compreendendo performances participativas, essa manifestação de louvor a


Deus envolve a experiência coletiva transcendental com o divino através de hinos que
versam sobre a Santíssima Trindade e a vida cristã. A comparação entre esta paisagem
sonora com o contexto pentecostal nigeriano ilustra de forma pertinente a intrínseca
ligação entre musicalidade e espiritualidade, repertório e experiência transcendental,
Harpa Cristã e pentecostalismo.
Bibliografia

ANDRADE, C. DE. CPAD News, 2014. O culto cristão e a liturgia. Disponível em:
http://www.cpadnews.com.br/blog/claudionorandrade/posts/79/o-culto-cristao-e-a-
liturgia.html. Acesso em: 05 jul. 2020.

ARAÚJO, Isael. Dicionário do Movimento Pentecostal. Recife: 2012. Disponível em:


http://dicionariomovimentopentecostal.blogspot.com/2012/03/recife-inicio-das-
comemoracoes-dos-90.html. Acesso em: 03 jul. 2020.

BÍBLIA SAGRADA. 1ª carta do Apóstolo Paulo aos Coríntios, capítulo 14, versículo 26.

BRUCHER, K. REILY, S. A. “Introduction: The World of Brass Bands.” In: Brass Bands of
the World: Militarism, Colonial Legacies, and Local Music Making, edited by Suzel Ana
Reily and Katherine Brucher, Farnham: Ashgate. 2013, p. 22 e 26.

CÂMARA, A. L. F. A música e a adoração a Deus na Igreja Evangélica Assembleia de


Deus. São Leopoldo: EST/PPG, 2016. p. 38.

CPAD - CASA PUBLICADORA DAS ASSEMBLEIAS DE DEUS. Editora CPAD, [s/d]. Conheça
a história da Harpa Cristã: O hinário oficial das Assembleias de Deus. Disponível em:
http://www.editoracpad.com.br/assembleia/historia.php?i=11. Acesso em: 03
jul.2020.

CUNHA, M. do N. A Explosão Gospel: um olhar das ciências humanas sobre o cenário


evangélico no Brasil. Rio de Janeiro: Mauad X, Instituto Mysterium, 2007. p. 87-88.

PATSIAOURA, E. Bringing Down the Spirit. The Routledge, Companion to the Study of
Local Musicking Routledge, 2018. Disponível em:
https://www.routledgehandbooks.com/doi/10.4324/9781315687353-16 Acesso em:
08 nov. 2018.

SCHALK, C. F. Lutero e a música: paradigmas de louvor. São Leopoldo: Sinodal, 2006.


1997.

SOUZA, M. B. Prédica e música. In: EWALD, Werner (Org.). Música e Igreja: reflexões
contemporâneas para uma prática milenar. São Leopoldo: Sinodal, p. 43.

TOURINHO, I. Usos e Funções da Música na Escola Pública de 1º Grau. Fundamentos


da Educação Musical, Porto Alegre, n.1, p.91-133, maio 1993.

TURINO, T. Music as Social Life: The Politics of Participation. Chicago: The University
of Chicago Press, 2008. Cap. 2.

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