Você está na página 1de 133

Accelerat ing t he world's research.

Fidelidade no Apocalipse
Marcus Frutuoso

Related papers Download a PDF Pack of t he best relat ed papers 

O APOCALIPSE COMENTADO VERSO A VERSO


Pedro T hiago Araujo Freit as

A AS S P PR RO OF FE EC CI IA AS S D DO O T T E EM MP PO O D DO O F FI IM M
Marcelo Palma Rezende

Apocalipse e Escat ologia livro


Daniel Vicent e
!1

SEMINÁRIO ADVENTISTA LATINO-AMERICANO DE TEOLOGIA

MARCUS CLAY FRUTUOSO DE SOUZA

FIDELIDADE NO LIVRO DO APOCALIPSE

CACHOEIRA
2013
!2

MARCUS CLAY FRUTUOSO DE SOUZA

FIDELIDADE NO LIVRO DO APOCALIPSE

Dissertação apresentada como trabalho final


do Mestrado Intra Corpus em Interpretação e
Ensino da Bíblia.

Orientador: Dr. Carlos Molina, PhD., D.Min.

CACHOEIRA
2013

S7294f Frutuoso de Souza, Marcus Clay
Fidelidade no livro do Apocalipse / Marcus Clay Frutuoso de Souza.
– Cachoeira: SALT/FADBA, 2013.
131 f.: il.; 30 cm.

Orientador: Carlos Gerardo Molina


Dissertação (Mestrado em Teologia Intra Corpus) – Seminário
Latino-Americano de Teologia; Faculdade Adventista da Bahia –
Cachoeira, 2013.

1. Pístis (fidelidade) – Raiz grega do termo. 2. Fidelidade (termo) –


Análise no livro do Apocalipse. 3. Escatologia no Apocalipse. I. Molina,
Carlos Gerardo. II. Seminário Latino-Americano de Teologia; Faculdade
Adventista da Bahia. III. Título.

CDD 236.9
!3

MARCUS CLAY FRUTUOSO DE SOUZA

FIDELIDADE NO LIVRO DO APOCALIPSE

Dissertação apresentada como trabalho final


do Mestrado Intra Corpus em Interpretação e
Ensino da Bíblia.

Aprovada em 04 de dezembro de 2013.

_______________________________
Dr. Carlos Molina, PhD., D.Min. (orientador)

_______________________________
Me. Gerson Rodrigues (presidente)

_______________________________
Me. Natan Fernandes (examinador interno)

CACHOEIRA, BA

!4

A Deus, porque grande é a Sua fidelidade.


À Kelem, a ela serei sempre fiel.
Aos meus pais, fiéis em seu papel de intercessores.
!5

“A menos que vocês provem para mim pela


Escritura e pela razão que eu estou enganado,
eu não posso e não me retratarei. Minha
consciência é cativa à Palavra de Deus. Ir
contra a minha consciência não é correto nem
seguro. Aqui permaneço eu. Não há nada mais
que eu possa fazer. Que Deus me ajude.
Amém.”

Martinho Lutero
!6

AGRADECIMENTOS

Primeiramente, louvo a Deus por dar-me condições de concluir este trabalho, mesmo em
meio às atividades do ministério pastoral. Exalto Seu nome porque Ele sempre é fiel e Seu amor por
cada ser humano é incondicional.
Minha gratidão à Kelem, esposa e amiga que foi minha maior incentivadora. Agradeço
pela compreensão e paciência.
Aos meus pais que me ensinaram sobre fidelidade mais com ações do que com palavras,
quero que saibam que os amo muito e sou muito grato por tudo o que fizeram e fazem por mim. Aos
meus irmãos, que embora geograficamente distantes, sempre me incentivaram.
Aos membros da Igreja Adventista do Sétimo Dia do Distrito Central de Boa Vista, que me
acompanharam nesta jornada, oraram por mim, e já ouviram em meus sermões muito do que está
escrito aqui. Meu desejo é que este trabalho sirva justamente à membresia da igreja. Agradeço em
especial à irmã D’Ângela Kotinscki, à irmã Dilma Costa e ao irmão Paulo Cézar Menezes, que
fizeram um pouco mais do que orar.
Agradeço à administração da Associação Amazonas Roraima, na pessoa do Pr. Wiglife
Saraiva, e à União Noroeste Brasileira, na pessoa do Pr. Gilmar Zahn, por incentivarem seus
pastores ao estudo.
Meu reconhecimento aos professores que durante o curso ministraram aulas que muitas
vezes soaram como sermões aos nossos corações, e ampliaram mais do que conhecimento
acadêmico, ampliaram ministérios pastorais. Em especial agradeço ao Pr. Carlos Molina que teve a
tarefa de ser o meu orientador. Minha gratidão também aos funcionários do SALT e da Biblioteca,
que sempre nos atenderam de maneira gentil.
Um trabalho assim sempre tem a sugestão, correção e conselho de várias pessoas que vão
nos acompanhando durante o processo. Então agradeço àqueles que de maneira direta ou indireta
alteraram alguma parte deste trabalho através de seus conselhos.
Obrigado novos “coleguinhas” de classe pela amizade e companheirismo que tivemos
neste curso, é bom saber que a Igreja está sendo dirigida por homens comprometidos com a Palavra
de Deus.
Finalmente, um agradecimento especial ao Pr. Luiz Nunes. Meu primeiro contato com este
tema, deu-se em uma aula dele, na matéria de Mordomia Cristã quando eu ainda estudava Teologia.
Ele aconselhou-nos a pregar sobre “mordomia cristã e os eventos finais”. E eu levei tão a sério este
conselho que penso que esta dissertação é fruto desta orientação.

!7

FRUTUOSO DE SOUZA, M. C. Fidelidade no livro do Apocalipse. Dissertação (Mestrado Intra


Corpus em Interpretação e Ensino da Bíblia) – Seminário Adventista Latino-Americano de
Teologia, Cachoeira, 2013.

RESUMO

A palavra “fidelidade” denota convicção e compromisso. No livro do Apocalipse ela é usada


relacionada aos santos, porém outras palavras também são usadas no mesmo livro para expressar a
mesma ideia, como “fiel”, “guardar”, “vencer”, “perseverança”, entre outras. O objetivo principal
deste trabalho é mostrar qual o conceito primário de fidelidade no Ap através de um estudo deste
tema nas cartas à Sete Igreja do Ap e o seu conceito secundário, ou escatológico, de como Deus
espera que Seu povo seja em relação às perseguições, principalmente no tempo do fim. Este
trabalho apresenta exegeses dos versículos onde aparecem os termos relacionados ao tema,
estabelecendo o seu significado com base em dicionários e comentários bíblicos, além de
investigações relacionadas às interpretações escatológicas de tais palavras, usando como ferramenta
principal a hermenêutica historicista e fazendo uma relação entre os termos e palavras analisados. O
trabalho está organizado em três partes: (1) Análise Exegética de textos relacionados à fidelidade
nas cartas às Sete Igrejas do Apocalipse; (2) Análise Exegética de textos relacionados à fidelidade
na seção escatológica do Apocalipse; e (3) Implicações práticas para a Igreja Adventista do Sétimo
Dia do Século 21.

Palavras-chave: Pístis (fidelidade) – Raiz grega do termo. Fidelidade (termo) – Análise no livro do
Apocalipse. Escatologia no Apocalipse.
!8

FRUTUOSO DE SOUZA, M. C. Faithfulness in the Book of Revelation. Dissertation (Master Intra Corpus
in Interpretation and Teaching of the Bible) – Latin-american Adventist Theological Seminary, Cachoeira,
2013.

ABSTRACT

The word “faithfulness” denotes conviction and commitment. In the book of Revelation it is used
related to the saints, but other words are also used in the same book to express the same idea as
“faithful”, “keep”, “win”, “perseverance”, among others. The main objective of this work is to show
the primary concept of faithfulness in Rev. through a study of this theme in the letters to the Seven
Church of Revelation and its secondary concept, or eschatological concept, showing how God
expects that His people to be envisage to the persecutions, especially at the end time. This paper
presents exegeses of verses where appear the terms related to the theme, establishing its meaning
based on dictionaries and biblical commentaries, and investigations related to the eschatological
interpretations of such words, using as main tool the historicist hermeneutics and making a
relationship between terms and words analyzed. The paper is organized into three parts: (1)
Exegetical Analysis of texts related to faithfulness in the letters to the Seven Churches of
Revelation, (2) Exegetical Analysis of texts related to faithfulness in the eschatological section of
Revelation, and (3) Implications practice for Seventh-day Adventist Church in the 21st Century .

Keywords: Pístis (faithfulness) – Greek root of the word. Faithfulness (word) – Analysis in the
book of Revelation. Eschatology in the book of Revelation.
!9

ÍNDICE
LISTA DE ABREVIATURAS 14

ABREVIATURAS DE LIVROS DA BÍBLIA 15

LISTA DE QUADROS 16

LISTA DE ILUSTRAÇÕES 17

1 INTRODUÇÃO 18

1.1 JUSTIFICATIVA 19

1.2 MARCO TEÓRICO 20

1.3 METODOLOGIA 22

1.3.1 Materiais e Métodos 22

1.3.1.1 Da escolha das palavras 24

1.4 OBJETIVO GERAL 24

1.4.1 Objetivos específicos 24

2 IDENTIFICANDO FIDELIDADE NAS SETE IGREJAS DO APOCALIPSE 25

2.1 O CONTEXTO HISTÓRICO DAS SETE IGREJAS DO APOCALIPSE 25

2.1.1 Perigos para a fé no século I 26

2.1.2 Domiciano e os cristãos 28

2.2 ANÁLISE DE PALAVRAS 30

2.2.1 πίστις (pístis, “fé”) 30

2.2.1.1 Ap 2:13 “a minha fé” 31

2.2.1.2 Ap 2:19 “a tua fé” 32

2.2.2 πιστός (pistós, “fiel”) 32

2.2.2.1 Ap 1:5 Jesus: a Testemunha fiel 33

2.2.2.2 Ap 2:10 Incentivo à fidelidade 34

2.2.2.3 Ap 2:13 A fidelidade de Antipas 35

2.2.2.4 Ap 3:14 Títulos de Cristo 35

2.2.3 τηρέω (tēreō, “guardar”) 36


!10

2.2.3.1 Ap 1:3 “Bem-aventurados aqueles que […] guardam as coisas nela escrita” 37

2.2.3.2 Ap 2:26 “guardar […] as minhas obras” 37

2.2.3.3 Ap 3:3 Guardar o que foi ouvido 37

2.2.3.4 Ap 3:8 “Guardaste a minha palavra” 38

2.2.3.5 Ap 3:10 Deus também guarda 39

2.2.4 κρατέω (krateō, “conservar”) 40

2.2.4.1 Ap 2:1 Jesus, aquele que conserva 41

2.2.4.2 Ap 2:13 “Conservas o meu nome” 41

2.2.4.3 Ap 2:25 “Conservai o que tendes” 42

2.2.4.4 Ap 3:11 “Para que ninguém tome a tua coroa” 42

2.2.5 ὑποµονή (hypomonē, “perseverança”) 43

2.2.5.1 Ap 1:9 João, companheiro na perseverança 44

2.2.5.2 Ap 2:2 e 3 Éfeso perseverante 44

2.2.5.3 Ap 2:19 Perseverança como parte de um todo 45

2.2.5.4 Ap 3:10 “A palavra da minha perseverança” 46

2.2.6 νικάω (nikáō, “vencer”) 46

2.2.6.1 Ap 2-3 Os vencedores nas sete igrejas 47

2.2.7 θάνατος, σφάζω e νεκρός (thánatos, sfázō e nekrós, “morte”) 48

2.2.7.1 Ap 1:18 Jesus, o ressuscitado 49

2.2.7.2 Ap 2:10 Fiel até a morte 49

2.2.7.3 Ap 2:11 A segunda morte 50

2.2.8 θλῖψις (thlipsis, “tribulação”) 50

2.2.8.1 Ap 1:9 João, “companheiro na tribulação” 51

2.2.8.2 Ap 2:9 A tribulação de Esmirna 51

2.2.8.3 Ap 2:10 “Tribulação de 10 dias” 52

2.2.9 ταχύς (tachys, “sem demora”) 52

2.2.9.1 Ap 3:11 A promessa na seção histórica 53


!11

3 IDENTIFICANDO FIDELIDADE EM AP 12-22 54

3.1 A IDADE MÉDIA NA PROFECIA 54

3.1.1 θλῖψις (thlipsis, “tribulação”) 55

3.1.1.1 Ap 7:1 “A grande tribulação” 55

3.1.2 σφάζω (sfázō, “morto”) 55

3.1.2.1 Ap 6:9 Mortos por causa da Palavra de Deus e por causa do Testemunho de Jesus 55

3.2 ANÁLISE DE PALAVRAS NA SEÇÃO ESCATOLÓGICA 57

3.2.1 πίστις (pístis, “fé”) 59

3.2.1.1 Ap 13:10 “a fidelidade dos santos” 59

3.2.1.2 Ap 14:12 “a fé em Jesus” ou “a fé de Jesus” 67

3.2.2 πιστός (pistós, “fiel”) 68

3.1.2.1 Ap 17:14 A vitória dos fiéis 68

3.2.2.2 Ap 19:11 Jesus: Fiel e Verdadeiro 70

3.2.2.3 Ap 21:5; 22:6 Palavras fiéis e verdadeiras 71

3.2.3 τηρέω (tēréō, “guardar”) 71

3.2.3.1 Ap 12:17 Guardam os Mandamentos de Deus e têm o Testemunho de Jesus 71

3.2.3.2 Ap 14:12 Guardam os Mandamentos de Deus e a fé em Jesus 73

3.2.3.3 Ap 16:15 Guardar a veste para não andar nu 73

3.2.3.4 Ap 22:7 e 9 Guardar as palavras da profecia deste livro 74

3.1.4 ὑποµονή (hypomonē, “perseverança”) 75

3.2.4.1 Ap 13:10 Aqui está a perseverança dos santos 75

3.2.4.2 Ap 14:12 Aqui está a perseverança dos santos 76

3.2.5 νικάω (nikáō, “vencer”) 77

3.2.5.1 Ap 12:11 Uma mensagem muito importante 77

3.2.5.2 Ap 15:2 Vencedores sobre a besta 79

3.2.5.3 Ap 21:7 O vencedor é herdeiro 79

3.2.6 θάνατος, ἀποκτείνω , σφάζω e νεκρός (thánatos, apokteinō, sfazō e nekrós) 80


!12

3.2.6.1 Ap 12:11 Não amaram à própria vida 80

3.2.6.2 Ap 13:15 Um decreto de morte 81

3.2.6.3 Ap 14:13 Bem-aventurados 81

3.2.7 ταχύς (tachys, “sem demora”) 82

3.2.7.1 Ap 22:7, 12 e 20 Jesus vem “sem demora” 82

4 AP 13:11-18 E SUA RELAÇÃO COM A FIDELIDADE 83

4.1 ESTRUTURA DA PASSAGEM 84

4.2 CRONOLOGIA DO TEXTO 86

4.3 IDENTIFICANDO A SEGUNDA BESTA E SUA IMAGEM 86

4.4 ASPECTOS DE FIDELIDADE EM APOCALIPSE 13:11-18 91

4.4.1 O princípio do exercício da fidelidade (cf. Lc 16:10) 91

4.4.2 A questão da adoração 92

4.4.3 A questão da adoração e o zelo na guarda do sábado 96

4.4.4 Boicote financeiro 97

4.4.4.1 O boicote financeiro e sua relação com o dízimo 97

4.4.5 Decreto de morte 99

4.5 OUTRAS IMPLICAÇÕES DE FIDELIDADE EM APOCALIPSE 13:11-18 101

4.5.1 Perigos para a fé nos dias atuais 101

4.5.2 “Armas” escatológicas 103

4.5.2.1 Ouro 103

4.5.2.2 Vestiduras brancas 104

4.5.2.3 Colírio 105

4.5.3 O Ap e a leitura 106

4.5.3.1 Palavra de Deus 106

4.5.3.2 O Testemunho de Jesus 108

4.5.4 O santuário aberto de Ap e sua relação com a fidelidade 111

4.5.5 As palavras κόπος e διακονία e sua relação com a pregação mundial de Ap 14 113
!13

4.5.6 “Venho sem demora”: o princípio da urgência de Mateus 24:45-51 114

CONCLUSÃO 116

BIBLIOGRAFIA 120
!14

LISTA DE ABREVIATURAS

a.C. antes de Cristo

ARA Bíblia Versão Almeida Revista e Atualizada

AT Antigo Testamento

cf. confira

d.C. depois de Cristo

ed. editor

EGW Ellen G. White

EUA Estados Unidos da América

LXX Septuaginta

NT Novo Testamento

NVI Nova versão Internacional

p. página

pp. páginas

SDABC Seventh-Day Adventist Bible Commentary

tb. também

TDNT Theological Dictionary of the New Testament

v. versículo

vv. versículos

14
!15

ABREVIATURAS DE LIVROS DA BÍBLIA

ANTIGO TESTAMENTO
Gn Gênesis Pv Provérbios
Êx Êxodo Ec Eclesiastes
Lv Levítico Is Isaías
Nm Números Je Jeremias
Dt Deuteronômio Lm Lamentações
Js Josué Ez Ezequiel
Jz Juízes Dn Daniel
1Sm Primeiro Samuel Jl Joel
2Sm Segundo Samuel Am Amós
1Re Primeiro Reis Na Naum
2Re Segundo Reis Hc Habacuque
Ne Neemias Sf Sofonias
Et Ester Zc Zacarias
Sl Salmos Ml Malaquias

NOVO TESTAMENTO
Mt Mateus 1Ts Primeira Tessalonicenses
Mc Marcos 2Ts Segunda Tessalonicenses
Lc Lucas 1Tm Primeira Timóteo
Jo João 2Tm Segunda Timóteo
At Atos Tt Tito
Rm Romanos Hb Hebreus
1Co Primeira Coríntios Tg Tiago
2Co Segunda Coríntios 1Pe Primeira Pedro
Gl Gálatas 1Jo Primeira João
Ef Efésios 3Jo Terceira João
Fp Filipenses Ap Apocalipse
Cl Colossenses

15
!16

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 Comparação entre Marcos 13 e Apocalipse 6 p. 56

Quadro 2 Comparação entre o uso de palavras no livro do Apocalipse p. 57

Quadro 3 Comparação entre Jeremias 15:2 e Apocalipse 13:10 p. 62

Quadro 4 Aplicação da frase “sob estas circunstâncias” em Apocalipse 13 p. 66

Quadro 5 A Palavra de Deus e o Testemunho de Jesus em Apocalipse p. 67

Quadro 6 Chamado, Eleito e Fiel p. 70


Relação entre as Dez Pragas do Egito e as Sete Trombetas e Sete
Quadro 7 p. 74
Pragas do Apocalipse
Quadro 8 Paralelos entre Daniel 3 e 6 e Apocalipse 13:11-18 p. 85
Quadro 9 Ataques feitos à 1ª Tábua do Decálogo em Apocalipse 13 p. 94
Pesquisa feita pela Divisão Norte Americana com leitores e não
Quadro 10 p. 110
leitores de Ellen G. White

Quadro 11 Paralelo entre Elias, João Batista e o Remanescente Escatológico p. 114

Quadro 12 Proposta de adição da ênfase escatológica na Mordomia Cristã p. 118

16
!17

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Ilustração 1 Quiasma de Apocalipse p. 18

Ilustração 2 Quiasma de Apocalipse 12 p. 78

Ilustração 3 Quiasma de Apocalipse 12:7-12 p. 78

Ilustração 4 Estrutura da seção Apocalipse 13:11-18 p. 84

Ilustração 5 Proposta de ordem cronológica para o decreto de morte p. 101

17
!18

1 INTRODUÇÃO

O livro do Apocalipse (Ap, exceto em títulos e citações) foi escrito pelo apóstolo João
(1:1) entre os anos 93-95 d.C.1, na ilha de Patmos (1:9), para onde João foi levado preso “por causa
da palavra de Deus e do testemunho de Jesus” (1:9), e onde ficou até pouco depois da morte de
Domiciano, que aconteceu em 18 de setembro de 96 d.C. (KNIGHT e ANGLIN, 1983, p. 15). O
livro é de categoria apocalíptica (BAUCKHAM, 1993) e contém mensagens proféticas aos cristãos
de todas as eras a partir da época em que foi escrito. “A apocalíptica bíblica revela os planos de
Deus para a história” (JOHNSSON, 2011, p. 874).
O livro é composto por visões ricas em imagens, cores e sons, e deve ser compreendido
primariamente usando a própria Bíblia como chave de interpretação (PAULIEN, 2009). Além disso,
é importante ter em mente a divisão básica do livro: a primeira parte, maiormente histórica
(capítulos 1-11), abrange as sete igrejas, os sete selos e as sete trombetas, e são descrições da
história mundial vista de perspectivas diferentes; e a segunda parte, maiormente escatológica
(capítulos 12-22) (MAXWELL, 2008), contém as cenas do grande conflito, as sete últimas pragas, a
queda de Babilônia, o Milênio e a nova Jerusalém, que são descrições das últimas cenas do mundo.
Strand (1992) chama essa divisão (histórica e escatológica) de “natural”, porém considera o
capítulo 14 como o centro do livro.
A seguir (Ilustração 1) está a estrutura do Ap tal como sugerida por Stefanovic (2009), e
que será usada neste trabalho como auxílio na identificação do conceito de fidelidade no Ap:
Ilustração 1. Quiasma de Apocalipse
A. Prólogo (1:1-8)
B. Promessas para o vencedor (1:9–3:22)
C. A obra de Deus pela salvação da humanidade (4:8–8:1)
D. A ira de Deus misturada com misericórdia (8:2–9:21)
E. Comissionamento de João para profetizar (10–11:18)
F. Grande Conflito entre Cristo e Satanás (11:19–13:18)
E’. A igreja proclama o evangelho do tempo do fim (14:1-21)
D’. A ira final de Deus não misturada com misericórdia (15–18:24)
C’. A obra de Deus pela salvação da humanidade completada (19–21:4)
B’. Cumprimento das promessas aos vencedores (21:5–22:5)
A’. Epílogo (22:6-21)
Fonte: Stefanovic (2009).

1 Irenaeus (1885, pp. 559-560). Domiciano foi o imperador que no final do primeiro século exigiu adoração a si, ele
governou entre 81-96 d.C., sob seu governo foi “que a questão da adoração ao imperador tornou-se, pela primeira vez,
uma questão crucial para os cristãos” (STEFANOVIC, 2009, p. 5), assim a data proposta de autoria não pode
ultrapassar 96 d.C.
18
!19

Dentre as muitas imagens que aparecem no Ap, a perseguição aos cristãos é um tema
frequente (AUNE, 1998a), pode-se até mesmo incluí-la como um dos temas centrais do livro. Os
crentes deveriam ser fiéis e manterem-se firmes naquilo que acreditavam. Mas, o que significa ser
fiel?
Os cristãos do primeiro século que viviam na Ásia tinham, em sua maioria, abandonado
uma vida de paganismo e aceitaram a Cristo como digno de receber adoração, o que era uma ofensa
para o imperador romano Domiciano, que exigia adoração como “deus”. Diante desse quadro, os
cristãos deveriam ser estimulados a manter fidelidade a Cristo e ao que outrora haviam aprendido
sobre as Escrituras. Esses cristãos primitivos receberam então cartas enviadas pelo apóstolo João a
partir de sua prisão na rochosa ilha, falando sobre como eles deveriam ser fiéis a Deus.
Qual é o significado de fidelidade no Ap? Que outros termos denotam o mesmo
significado? Qual o significado histórico dessas palavras para aqueles primeiros cristãos da Ásia
Menor? Essas mesmas palavras podem ter uma importância para os cristãos da atualidade? Quais as
implicações escatológicas dessas palavras quase dois mil anos depois que elas foram escritas? Que
consequências relacionadas à fidelidade são apresentadas no Ap? O Ap mostra que vale a pena ser
fiel a Deus e a Seus ensinamentos. Qual é o limite da fidelidade? O que significa ser fiel nos dias de
hoje? Como cultivar a fidelidade nos dias atuais? A quem e a que se deve ser fiel? A busca pelas
respostas a essas perguntas norteará o presente trabalho.
O estudo do conceito de fidelidade nas cartas às sete igrejas do Ap provê informações para
a compreensão de como aqueles primeiros cristãos entendiam que deveria ser seu comportamento
diante das constantes ameaças à sua fé, fossem essas ameaças vindas de fatores internos ou
externos, como apostasia ou perseguições. Além dessa compreensão histórica, o estudo do conceito
de fidelidade no Ap pode prover também luz para o uso que João faz delas na seção escatológia do
livro.

1.1 JUSTIFICATIVA

O primeiro motivo que justifica a realização deste trabalho é a importância do estudo do


livro do Ap. Sem desmerecer outros assuntos e livros, o Ap não é apenas mais um livro da Bíblia;
ele é o livro que deve ser estudado e conhecido pelos cristãos modernos, em especial pelos
Adventistas do Sétimo Dia, uma vez que seus temas tratam de toda a Bíblia, e suas mensagens
foram escritas para o tempo do fim. O profeta João recebeu uma solene ordem: “Não seles as
palavras da profecia deste livro”, e o motivo era “porque o tempo está próximo” (Ap 22:10). Há, no
!20

final do livro, incentivos à leitura do mesmo: “Estas palavras são fiéis e verdadeiras” (22:6);
“Guarda as palavras da profecia deste livro” (22:7).
No contexto adventista, Ellen G. White (EGW) também incentiva o estudo deste livro: “As
predições do livro do Apocalipse que ainda não se cumpriram logo se cumprirão. Esta profecia deve
ser agora estudada com diligência pelo povo de Deus e compreendida claramente. Ela não encobre
a verdade; nos previne com clareza, contando-nos o que haverá no futuro” (WHITE, 2004, p. 15).
Seus apelos são ainda mais fortes quando diz que “as solenes mensagens que foram dadas, em sua
ordem, no Apocalipse, devem ocupar o primeiro lugar no espírito do povo de Deus. Não devemos
deixar que qualquer outra coisa nos domine a atenção” (WHITE, 2006, p. 302). O estudo do livro
do Ap não visa somente produzir conhecimento sobre as profecias, mas também estimular a
pregação da Palavra de Deus ao mesmo tempo em que deve ser a fonte da mensagem a ser pregada
antes da volta de Jesus: “Precisamos estudar o livro do Apocalipse, especialmente as importantes
mensagens que devem ser apresentadas ao nosso mundo” (WHITE, 2010, p. 328).
O segundo motivo da realização deste presente trabalho é a ausência de materiais
específicos sobre o assunto. O material que mais se aproxima do tema aqui proposto é a tese de
mestrado do coreano Jee Myoung-Hoon, defendida em junho de 2012 no Adventist International
Institute of Advanced Studies, nas Filipinas. O tema dele foi: Faithfulness in the book of
Revelation: Its identification and significance. Ele pesquisou os termos πίστις (pístis, substantivo
“fé”) e πιστός (pistós, adjetivo “fiel”), e seu trabalho é de grande relevância na pesquisa dessas duas
palavras. Porém, no presente trabalho o leitor encontrará uma pesquisa sobre o conceito de
fidelidade, e ainda outras palavras pesquisadas que auxiliarão a encontrar o objeto da pesquisa.
Um terceiro motivo para esta pesquisa é a importância da fidelidade em dias em que o
relativismo e outras filosofias modernas tendem a ser cada vez mais populares, pois
a fidelidade é caracterizada pela firmeza e pela certeza de propósitos, por uma atitude e
uma conduta justas, pela devoção de alguém a uma pessoa ou a uma causa, pela
incorruptibilidade, pela sinceridade, pela confiabilidade, pelo cumprimento das promessas e
votos feitos e pela lealdade sincera (CHAMPLIN, 2008, p. 725).

Portanto mais do que um trabalho descritivo, propõe-se neste trabalho sugestões que
sirvam de orientação práticas para os leitores.

1.2 MARCO TEÓRICO

Os principais dicionários usados nesta pesquisa são o Theological Dictionary of the New
Testament (TDNT), Theological Lexicon of the New Testament (TLNT), e Greek-English
!21

Lexicon of the New Testament (GELNT), além de outros secundários. Esses dicionários serão
usados basicamente nos dois primeiros capítulos em busca do significado das palavras. Porém, vale
ressaltar que para este trabalho o contexto da passagem tem mais peso sobre o significado do que a
definições de dicionários.
Tanto no capítulo 1º quanto no capítulo 2º, o uso de comentários bíblicos auxiliará na
compreensão dos versículos analisados. Entre os principais comentários sobre o Ap usados nestes
capítulos estão: Word Biblical Commentary (AUNE, 1998a, 1998b e 1998c), Baker Exegetical
Commentary on the New Testament (OSBORNE, 2002), The New International Commentary
on the New Testament (MOUNCE, 1997), e The New International Greek Testament
Commentary (BEALE, 1999).
Além desses comentários, o Revelation of Jesus Christ: Commentary on the Book of
Revelation (STEFANOVIC, 2009) será utilizado na análise dos versículos, além de outros autores
adventistas que servirão de parâmetros principalmente para as interpretações escatológicas nos
capítulos 2º e 3º, autores como Jon Paulien, Hans K. LaRondelle, Norman Gulley, William Shea, e
C. Mervin Maxwell.
As principais pressuposições contidas neste trabalho são de que (1) a Bíblia é um livro
inspirado por Deus, e o processo de inspiração usado por Deus é o de inspiração de pensamento,
descrito por Van Bemmelen2 (2011); e (2) que o método mais seguro de interpretação bíblica é o
método gramático histórico, exposto por Davidson (2011), rejeitando-se assim o método crítico-
histórico.
Quanto à interpretação profética propriamente dita, este trabalho usará como ferramenta
principal a abordagem historicista de interpretação profética.
Reconhece-se que o livro do Ap foi escrito para uma comunidade cristã real em cidades da
Ásia Menor no fim do século I, “João, às sete igrejas que se encontram na Ásia, graça e paz a vós
outros” (Ap 1:4, grifo nosso). Porém rejeita-se a interpretação preterista que vê a maioria das
profecias do Ap como aplicáveis apenas àquelas comunidades.
Também se admite que as profecias apocalípticas são para o futuro, para um tempo distante
da época em que o livro foi escrito, “eis que vem com as nuvens, e todo olho o verá” (Ap 1:7), esta
profecia aponta para a volta de Cristo, um evento futuro, mesmo em relação aos dias atuais.
Entretanto, assim como o preterismo não é aceito como método de interpretação profética, o
futurismo também é rejeitado, uma vez que vê as profecias apocalípticas como estando basicamente

2 Cf. Douglass (2001a).


!22

no futuro.
Uma terceira abordagem rejeitada neste trabalho é o idealismo, que vê o livro do Ap
maiormente como aplicável de maneira individual, dando princípios de vida cristã a cada pessoa
que o lê, sem qualquer valor profético. Porém, vale lembrar que tal abordagem tem também o seu
valor, “bem-aventurados aqueles que lêem e aqueles que ouvem as palavras da profecia e guardam
as coisas nelas escritas, pois o tempo está próximo” (Ap 1:3, grifo nosso).
A abordagem historicista é para Paulien (2009, p. 17) “o melhor método porque ela
permite cada texto localizar-se no tempo”, e esta é a abordagem aceita no presente trabalho. Ela é
uma boa ferramenta de interpretação por pelo menos dois motivos: (1) Dn 2 é uma visão profética
da histórica, e seus capítulos 7-12 são paralelos a ele, levando o estudioso da Bíblia a crer que João
deve estar usando as mesmas estruturas de visões e história para transmitir a mensagem divina; e
(2) “Indicadores temporais como advérbios ou numerais (‘depois’, ‘a seguir’ e ‘outro’) sugerem um
continuum histórico nas visões apocalípticas” (JOHNSSON, 2011, p. 884).
Para dar um exemplo da aplicação da interpretação historicista do Ap, Paulien (2007, p.
266) mostra a abrangência histórica do capítulo 12 de Ap. Ele o faz dividindo o capítulo em
“estágios”, que são: o estágio zero, antes do tempo da visão de João (v. 1-4); o estágio um (1), que é
o tempo de Jesus e de João (vv. 5, 7-12); o dois, que fala sobre a serpente que ataca a mulher [Idade
Média] (vv. 6, 13-16); e o três, que é o aspecto escatológico da visão (v. 17). Nem todos concordam
com esta abordagem, há quem discorde, por exemplo, da interpretação historicista das sete igrejas
como sete períodos/fases históricas (DOCKERY, 1992).

1.3 METODOLOGIA

A metodologia está baseada em uma investigação qualitativa, de corte bibliográfico-


exploratório.

1.3.1 Materiais e Métodos

O conceito de fidelidade no Ap será analisado nos dois primeiros capítulos principalmente


através do uso que João faz de palavras como πίστις (pístis, “fé”/”fidelidade”) e πιστός (pistós,
“fiel”), palavras primárias nesta análise, e que podem revelar princípios de fidelidade dentro desse
misterioso livro. Porém, há outras palavras que estão relacionadas tematicamente com estes termos,
como por exemplo: τηρέω (tēréō, “guardar”), κρατέω (kratéō, “conservar”), ὑποµονή (hypomonē,
!23

“perseverança”), νικάω (nikaō, “vencer”), θάνατος (thánatos, “morte”), θλῖψις (thlipsis,


“tribulação”) e ταχύς (tachys, “sem demora”). O terceiro capítulo será uma análise de Ap 13:11-18 e
sua conexão com o tema da fidelidade.
No capítulo 1º será feito primeiramente uma revisão do contexto histórico das sete igrejas
do Ap, principalmente no período do Imperador Domiciano. Os versículos analisados serão
limitados aos três primeiros capítulos do Ap, e seu objetivo primário não é desenvolver uma
teologia de fidelidade, mas refletir sobre o comportamento da igreja cristã primitiva ante a
perseguição romana.
Apesar de este trabalho ter como base a abordagem historicista de interpretação profética,
o primeiro capítulo será limitado a uma interpretação passada e local, pois se entende que as sete
igrejas não eram primariamente símbolos, mas comunidades reais.
As palavras descritas e analisadas no capítulo 1º vêm primeiramente com uma avaliação de
seu significado na Bíblia, observando o original hebraico de onde foi traduzido o termo na LXX.
No caso de passagens do AT, também será feita uma revisão de seu uso no NT. Na investigação de
cada palavra, o autor desse trabalho decidiu ler cada um dos versículos onde o termo grego
analisado tal como aparece na LXX e no NT antes de consultar dicionários bíblicos e léxicos.
Assim, cada uma dessas palavras será analisada em seu contexto, dando importância
primeiramente ao contexto literário imediato, depois à estrutura do livro, ao uso feito das palavras
em outros livros e ao contexto histórico. Osborne (2009, pp. 363-368) apresenta uma série de
motivos para que a hermenêutica bíblica leve em considerações esses aspectos. Sobre interpretação
apocalíptica ele oferece cinco princípios hermenêuticos que serão usados neste trabalho: “1.
Observe o tipo de literatura; 2. Observe a perspectiva da passagem; 3. Observe a estrutura da
passagem; 4. Observe a função e o significado dos símbolos; 5. Enfatize o teológico e observe com
humildade a predição”.
O capítulo 2º iniciará com uma breve análise da Idade Média como escopo dos eventos
finais, e outros dois versículos da seção histórica do Ap ainda serão analisados no capítulo 2º: Ap
6:9 que fala sobre as almas debaixo do altar; e Ap 7:1 que apresenta a grande tribulação. Logo após,
serão analisados os versículos onde aparecem as palavras que são os objetos principais desta
pesquisa.
O capítulo 3º visa aplicar as discussões anteriores a situações práticas, tentado responder
ao como da “fidelidade”. Ele é a apresentação de sugestões de preparo para os eventos finais, a
partir dos textos bíblicos analisados. A pesquisa gira em torno do capítulo 13 do Ap, especialmente
!24

os vv. 11-18, porém não limita-se exegeticamente a esta seção, mas é feito de maneira mais
temática.

1.3.1.1 Da escolha das palavras

As palavras escolhidas não esgotam o conceito de fidelidade no Ap, talvez outras palavras
poderiam ter sido incluídas, mas este é fator que delimita a pesquisa. Contudo, cabe aqui uma
explicação sobre a escolha das palavras. Elas foram selecionadas levando em consideração três
aspectos importantes para a pesquisa:
1. As palavras estão relacionadas de alguma maneira com πίστις e πιστός, palavras estas
que expressam de maneira mais direta o conceito de fidelidade;
2. As palavras estudadas, ou produzem fidelidade, como “guardar a palavra”, ou são
consequências da fidelidade, como “mortos por causa da palavra”; e
3. As palavras podem alterar o comportamento, como, por exemplo, “sem demora”, pode
demandar urgência do leitor.

1.4 OBJETIVO GERAL

O objetivo principal deste trabalho é analisar o conceito de fidelidade no livro do Ap e suas


implicações práticas.

1.4.1 Objetivos específicos

O objetivo geral será alcançado através de outros objetivos mais específicos, que são:
(1) Analisar exegeticamente versículos relacionados à “fidelidade” nas sete igrejas do Ap;
(2) Analisar exegeticamente versículos relacionados à “fidelidade” na segunda parte do
Ap, aqui chamada de “seção escatológica” (12–22);
(3) Identificar conceitos práticos de fidelidade em Ap 13:11-18; e
(4) Propor sugestões que sirvam de recursos práticos à Igreja Adventista do Sétimo Dia. 

!25

2 IDENTIFICANDO FIDELIDADE NAS SETE IGREJAS DO APOCALIPSE

As sete igrejas do Ap sem dúvida ocupam um lugar de destaque no livro (RAMSAY,


1904). Elas podem ensinar muito sobre a vida cristã, de maneira especial sobre fidelidade, pois tais
igrejas viviam sob constante perseguição e pressões de vários tipos. Elas também representam sete
períodos históricos pelas quais a igreja cristã deveria passar. Segundo Maxwell (2008a), João faz
uma descrição nessas cartas que vai desde o seu próprio tempo (Ap 1:9) até o período da revolução
francesa (Ap 11). Este entendimento é reforçado pelo fato de que as sete igrejas da Ásia descritas no
Ap não eram as únicas da região, mas possuíam características que serviam ao propósito de Deus no
sentido de enviar uma carta para solucionar um problema local, mas que posteriormente serviria
para todos os lugares e para todas as épocas. O próprio número de igrejas escolhidas pode indicar
isso (ROTTMANN, 1993).

2.1 O CONTEXTO HISTÓRICO DAS SETE IGREJAS DO APOCALIPSE

A região da Ásia onde estavam essas igrejas era populosa, Éfeso e Esmirna poderiam ter
naquela época cerca de 200.000 habitantes cada uma; e Pérgamo, 150.000 (IBID.). As sete cidades
eram importantes centros; não se deve imaginar tais igrejas vivendo isoladamente em lugar
escondido,

duas delas, Éfeso e Esmirna, eram grandes cidades-portos. Três, Tiatira, Filadélfia e
Laodicéia, sendo centros de indústria e comércio para as áreas em que se achavam
localizadas, desfrutavam de grande prosperidade e importância econômica. Sardes e
Pérgamo, tendo anteriormente sido capitais de poderosos reinos, possuíam ainda grande
preeminência política no tempo de João (Seventh-day adventist Bible commentary
[SDABC], 7:140).

Essas cidades, antes grandes centros pagãos tornaram-se locais de referência para o
cristianismo principalmente por influência do apóstolo Paulo (At 19). Isso trouxe consigo os
problemas de perseguição por parte dos pagãos, em especial por parte do Império Romano que sob
o governo de Domiciano exigia adoração ao imperador como um deus, “do exterior o principal
perigo vinha do Imperio Romano. Ao terminar a era apostólica (ano 100 d.C.), os imperadores
romanos consideraram o cristianismo como bandido. Isto significava a morte para aquele que se
chamasse cristão” (BAKER, 1974, p. 17).
Outro problema enfrentado pelos cristãos primitivos vinha de dentro da própria igreja, que
tinha que lutar contra a apostasia, desânimo e corrupção. Muitas vezes, “dentro do cristianismo o
perigo de corrupção e divisão surgiu de sua íntima relação com os movimentos pagãos e judaicos. O

25
!26

cristianismo era influenciado por seu ambiente. Algumas vezes a reação para combater a heresia era
tão danosa como a corrupção” (BAKER, 1974, p. 17).
Tais problemas eram muito semelhantes aos do cristianismo atual. As cartas às sete igrejas,
revelam, portanto, um pouco da situação das igrejas e a história confirma e acrescenta detalhes das
dificuldades passadas pela igreja primitiva do século I. Os problemas enfrentados pelos cristãos
primitivos e as soluções encontradas por eles lançam luz sobre o conceito que os mesmos tinham a
respeito do recém iniciado cristianismo, religião estranha e misteriosa, até agradável, mas que
exigia muita coragem e determinação de seus seguidores.

2.1.1 Perigos para a fé no século I

Não eram apenas as perseguições que ameaçavam a fé dos crentes do século I, o estilo de
vida nas grandes cidades da Ásia governada por Roma e com uma forte cultura grega, também
poderiam fazê-los sucumbir na fé. A vida dos cristãos nas cidades onde estavam as igrejas do Ap
talvez não fosse, em muitos aspectos, muito diferente da vida das grandes cidades do século 21. As
facilidades e os privilégios dessas cidades podiam ser muitas vezes os maiores motivos para uma
religião apática, ou até mesmo para a apostasia. Além disso, manter-se fiel neste contexto poderia
chamar a atenção dos inimigos da cruz. A seguir está um resumo dos principais motivos que
poderiam levar os cristãos primitivos a uma vida reprovável diante de Deus, tendo como principal
bibliografia Ferguson (2003).
Em Éfeso, a maior cidade da província asiática, estava a sede do procônsul romano, isto
poderia atrair o desejo de render-se politicamente a fim de não sofrer perseguições, principalmente
através de alianças políticas. Em Tiatira havia muitas corporações, uma espécie de sindicatos ou
agremiações; alguns cristãos ainda participavam delas, e muitas vezes envolviam-se em seus
objetivos políticos, esquecendo-se de sua missão cristã.
A vida econômica dessas cidades também poderia ser uma ameaça à vida cristã do
primeiro século. Éfeso por exemplo, era uma cidade portuária de comércio forte, a ágora, ou
mercado público era o centro da vida econômica de Éfeso. Tiatira era conhecida e até afamada por
causa da excelência da sua púrpura, fabricada ali e vendida em todo o Império. Esmirna era também
uma cidade portuária de comércio forte. Esmirna tinha a única ágora de três andares da época, e
Laodicéia era um próspero centro banqueiro (GUNDRY, 2008).
Da mesma forma, a formação educacional também poderia ser uma ameaça à fé. Em
Pérgamo, por exemplo, havia escola de medicina ligada ao templo, conhecida como Esculapião,
!27

onde se praticava medicina séria, porém a escola era dedicada ao deus da mitologia grega Esculápio
(ROTTMANN, 1993). Em Éfeso havia a biblioteca de Celso, o que fazia da cidade um forte centro
de influência e cultura grega. Esmirna era orgulhosa por ser o berço de Homero.
A vida social poderia ser bem agitada no primeiro século, “banquetes populares,
patrocinados por clubes sociais e ligas comerciais, eram realizados frequentemente nos templos
pagãos de Corinto (e certamente o mesmo ocorria em Pérgamo)” (MAXWELL, 2008a, p. 105), e
muitos cristãos curiosos eram atraídos a essas festas. “Os templos eram atrativos e grandes,
possuindo instalações de cozinha apropriadas para preparar refeições para multidões de
considerável tamanho” (IBID.). Em Éfeso, “numerosas festas relacionadas com o culto de Diana
eram celebradas em seus pátios” (SDABC, 7:146), lá também estava o maior teatro da região com
capacidade para 24.500 espectadores sentados, onde constantes apresentações teatrais eram feitas.
Em Tiatira havia corporações que patrocinavam festas, e cristãos que outrora foram membros destas
agremiações, parece que ainda andavam em suas práticas imorais e festas.
Outro problema típico para os cristãos primitivos, especialmente os jovens, era a prática
esportiva e também a frequência a lugares onde havia competições. “Próximo [do Artemisião em
Éfeso] acham-se as ruínas do estádio e as do Ginásio de Vedius - havia vários ginásios […] onde os
jovens treinavam para os jogos atléticos” (SDABC, 7:148). Laodicéia tinha dois teatros romanos e
um amplo estádio.
O paganismo era comum na Ásia Menor, e a chegada do cristianismo foi um golpe muito
forte nele. Porém alguns cristãos eram tentados a voltar para ele, abandonando assim sua fé em
Cristo. Em Éfeso estava o templo Artemisião, dedicado a Artemisa, a quem os romanos chamavam
Diana. Eles achavam que a imagem de Diana que estava dentro do templo tinha caído do céu (At
19:35), e por isso ela era muito venerada.
Pérgamo tinha vários templos pagãos. É dito dessa cidade que lá estava o “trono de
Satanás” (Ap 2:13), talvez uma alusão ao altar de Zeus, que tinha 36m de altura e 12m de largura. O
Esculapião, era dedicado a Esculápio, o deus da cura; servia como uma espécie de hospital, e os
doentes que eram curados ofertavam a este deus.
Além disso, é dito que eles estavam se rendendo às práticas de Jezabel, provavelmente
práticas de imoralidades e o comer sacrifícios aos ídolos. Em Tiatira havia um templo dedicado a
Sambate, em que uma profetiza oficiante dava oráculos. Pode ser a “Jezabel” da carta enviada por
Jesus. Sardes tinha o templo a Cibele, equivalente a Diana dos efésios.
!28

2.1.2 Domiciano e os cristãos

O Império Romano estava sob o governo de Domiciano (Titus Flavius Domicianus) na


ocasião em que o livro do Ap foi escrito (AUNE, 1998a), ele começou a reinar em 81 até seu
assassinato em 96 d.C (CROSS e LIVINGSTONE, 2005).

Durante seu reinado, muitos abusos foram severamente castigados e reprimidos, enquantos
muitas novas leis promulgadas. Determinou-se um limite aos gastos; os banquetes públicos
foram reduzidos só à alimentação; as tabernas, que outrora ofereciam toda a classe de
goluseimas, passaram a vender apenas legumes e verduras cozidas; castigou-se aos cristãos,
sectários que aderiram a uma nova e maléfica supertição; pôs-se freio aos abusos dos
cocheiros que, donos de antiga imunidade, se arrogavam o direirto de usar e abusar de
pessoas, divertindo-se em roubar e defraudar; foram banidas as pantominas e companhias
teatrais (BETTENSON, 2011, p. 28).

A princípio “seu reino foi tão benigno à nova fé como o haviam sido os de seus
antecessores” (GONZÁLEZ, 2011, p. 43), porém, numa tentativa de “purificar” a religião do
Império3, Domiciano começou a executar na parte final de seu reinado os “ateus”, que eram na
verdade aqueles que não acreditavam nele como deus. As perseguições de Domiciano
concentraram-se, geograficamente falando, em áreas específicas, e não no império como um todo
(MOLINA, 2013).
Essas execuções aconteceram até mesmo dentro de sua própria família, “Flavius Clemens e
sua esposa Flavia Domitilla foram executados em 95 [d.C] por ateísmo, uma acusação em que
muitos outros […] judeus foram condenados” (JONES, 1992, p. 222, grifo nosso)4. Porém “é
natural inferir que Flavius Clemens e sua esposa sofreram por sua fé cristã, e que eles não eram de
modo algum as únicas vítimas da hostilidade de Domiciano às formas ‘judaicas’” (SWETE, 1906,
p. LXXXI). Essas acusações logo alcançaram os cristãos que ainda eram considerados por alguns
como membros de uma seita judaica.

Embora a perseguição provavelmente fosse limitada, atingiu seu auge na última parte do
reinado e se reflete no livro de Ap: para Plínio, a adoração à imagem do imperador
distinguia o cristão e não-cristão, e esse era um dispositivo administrativo útil. Mas para o
autor do Ap era um pedido para adorar “a besta e a sua imagem” (Ap 6:9, 7:14, 12:11 e
20:4) (IBID.)

Domiciano se considerava “senhor e deus” (dominus et deus) e isso tornou-se seu título
regular na escrita e na conversação. Imagens dedicadas a Domiciano no Capitólio tinham que ser de
ouro ou prata, e de um determinado peso (BREDIN, 2003, p. 119). Suas perseguições foram por

3“Como no caso de Nero, parece que a perseguição não foi igualmente severa em todo o Império. De fato, é só de
Roma e da Ásia Menor que temos notícias fidedignas acerca da perseguição” (GONZÁLEZ, 2011, p. 43, cf. tb.
HURLBUT, 2007, p. 50).
4 Jerônimo declara que Flavius foi executado mas Flavia foi banida para Pandateria (GREENSLADE, 1956, p. 352).
!29

fome de poder e deificação, o que o tornaram um tirano principalmente na parte final de seu reinado
(IBID). Os seus motivos fúteis levaram Richardson (1956, p. 34) a classificar suas perseguições
como os “caprichosos ataques de Domiciano sobre os cristãos”. Literaturas antigas confirmam as
perseguições de Domiciano contra os cristãos (ROBERTS, DONALDSON e COXE, 1886). “Os
primeiros escritores cristãos Irineu, Tertuliano e Eusébio mencionam a perseguição dos cristãos
durante o governo de Domiciano. Domiciano parece ter sido um perseguidor implacável, perdendo
só para Nero” (KISTEMAKER, 1988, p. 397), ainda que seu pai não tenha nunca intentado contra
os cristãos (EUSÉBIO, 1999), “não somente devia o cristão não praticar a idolatria, ele não deveria
contribuir para a idolatria ajudando de qualquer maneira no fabricar de ídolos. Ele podia ser um
escultor, mas ele não devia esculpir imagens de deuses.” (BAINTON, 1966, p. 59), dessa maneira
Domiciano visava eliminar o cristianismo do coração dos discípulos primitivos.

Por quê, poderia perguntar-se, empreenderia o governo romano a destruição de seus


próprios cidadãos simplesmente porque eram cristãos? A resposta se encontra no conceito
romano de religião. […] os romanos praticavam religião principalmente por razões
políticas. O departamento de religião era uma das dependências do governo.

Assim, vê-se que a perseguição aos cristãos liderada por Domiciano foi diferente de outras
perseguições anteriores feitas por outros imperadores. Ela tem cunho religioso, no contexto de
adoração e fidelidade (LACTANTIUS, 1886), e deve ser vista como um protótipo da perseguição
escatológica contra o remanescente do tempo do fim. Falando sobre a perseguição de Domiciano
aos cristãos primitivos, e em especial ao apóstolo João, White (1999, p. 576) afirma:

Assim será com todos os que se dispuserem a viver piamente em Cristo Jesus. A
perseguição e o reproche esperam todos os que se imbuírem do Espírito de Cristo. O caráter
da perseguição muda com o tempo, mas o princípio – o espírito que a anima – é o mesmo
que tem dado a morte aos escolhidos do Senhor desde os dias de Abel.

E complementa: “O zelo manifestado nesse tempo pelos seguidores de Jesus [as sete
igrejas] foi relatado pela pena da inspiração para encorajamento dos crentes em todos os
séculos” (IBID, p. 578).
Beale (1999, p. 715) e Aune (1998b, p. 768), ao comentarem sobre Ap 13:16 e 17,
mostram que marcas na testa, nas mãos, boicotes econômicos eram parte das perseguições do
primeiro século, além de prisões e morte, é claro. Diante desta situação era necessária uma
fidelidade capaz de enfrentar a própria morte. Este é o plano de fundo das sete igrejas do Ap.
A seguir, será feito a análise de palavras relacionadas à fidelidade encontradas nos três
primeiros capítulos do Ap e relacionadas primariamente com as sete igrejas da Ásia citadas neles.
Esta primeira análise visa lançar bases para o entendimento das ocorrências na seção escatológica
bem como extrair lições da história.
!30

2.2 ANÁLISE DE PALAVRAS

A seguir está a análise dos versículos onde se encontram as palavras as quais este trabalho
tem como objeto de estudo a fim de encontrar conceitos de fidelidade no Ap.

2.2.1 πίστις (pístis, “fé”)

O substantivo πίστις (pístis, “fé”/“fidelidade”) ocorre 60 vezes na LXX como tradução de


hn:Wma/ (ʾemûnāh) e foi traduzido na ARA pelo menos de 11 maneiras, cada uma delas expressando
uma ideia adicional ao sentido da palavra, que notadamente é diferente do uso feito no NT: (1)
“lealdade” (Dt 32:20); (2) “fidelidade” (2Re 12:15; 2Cr 31:15); (3) “cargo” (1Cr 9:22); (4)
“fielmente” (2Cr 31:12; 34:12); (5) “fiel” (Ne 9:38); (6) “verdade” (Pv 12:17); (7) “estabilidade” (Is
33:6); (8) “de fato” (Jr 28:9); (9) “firmemente” (Jr 32:41); (10) “segurança” (Jr 33:6); (11) “fé” (Hc
2:4). Bultmann (1964-) chama os significados de πίστις no AT de “sem importância primordial”
onde a questão teológica é “secundária”, somente os livros apócrifos apresentam de maneira mais
notável a nuança da “fé” propriamente dita.
O NT apresenta um conceito mais espiritual para πίστις. “Fé” é um conceito mais subjetivo
e está relacionado basicamente com confiança. Das 243 ocorrências do NT, 237 delas são traduzidas
pela palavra “fé” na ARA, com exceção de At 17:31 que se traduziu πίστιν (pístin) por “acreditou”,
no sentido de “dar crédito” ou “provar”; Rm 3:3, Gl 5:22, Tt 2:10 e Ap 13:10 onde a tradução foi
feita por “fidelidade”; e 1Tm 5:12 onde traduziu-se por “compromisso”.
Deste modo, o significado da palavra é “o que pode ser totalmente acreditado, o que é
digno de crença, evidência crível, à prova” (LOUW e NIDA, 1996), “o que suscita a
confiança” (BALZ e SCHNEIDER, 1990), ou seja, πίστις tem em geral um significado de “algo
confiável”. Também pode significar “fidelidade” ou mesmo “crer” (BULTMANN, 1964-); usada
como “fidelidade” parece ser um eco do AT, onde seu significado pode ser “estabilidade”, como
visto anteriormente. O vocábulo πίστις pode também referir-se a uma relação pessoal com Cristo,
no sentido de recebimento da salvação e também em relação a Deus (BULTMANN, 1964-).
Em Ap, suas quatro ocorrências (2:13, 19; 13:10, 14:12) podem ser classificadas de
maneiras diferentes quando considerado o contexto de cada uma, porém existe algo em comum em
todas elas, apenas o substantivo é usado, nunca o verbo.
Um fato importante sobre este vocábulo é que “originalmente, o grupo de palavras
!31

[relacionadas a πίστις] significava um contrato ou obrigação. Tinha uma orientação


social...” (MICHEL, 2007, p. 810). Burge (2009, p. 166) expressa bem esse conceito contratual sob
o prisma espiritual nas seguintes palavras:

Na teologia bíblica, portanto, a fidelidade é o coração do relacionamento segundo a aliança.


Deus se compromete a ser concretamente fiel às Suas promessas, e por isso Ele Se expressa
através de alianças. Deus garante um relacionamento duradouro, e somos convidados até
mesmo chamados a dedicarmos nossa vida com uma fidelidade à mesma altura.

A definição de Nicon (2008, p. 791) resume o conceito de πίστις na Bíblia:

O evangelho e as palavras [são] para ser crido e aceito por todos os homens. O kerigma
relata os atos poderosos de Deus e chama os homens ao arrependimento e fé com base na
iniciativa divina. Dessa forma os homens de cada nação, crendo nos fatos da redenção
segundo o testemunho divino, abandonam a si mesmos completamente ao amor e
misericórdia de Deus. Diante da oposição e perseguição, eles permanecem firmes mediante
as realidades inabaláveis do Evangelho e provam nas mais profundas experiências humanas
que Deus sustenta a fé.

O vocábulo πίστις tornou-se um dos termos teológicos centrais para a relação entre Deus e
o homem (BARTH, 1990-), porém, ela não pode ser completamente compreendida sem a leitura de
seus contextos, e cada ocorrência deve ser considerada de maneira individual. Esta análise é o que
será feito no restante do capítulo.

2.2.1.1 Ap 2:13 “a minha fé”

A primeira ocorrência de πίστις no Ap está no contexto da carta aos crentes de Pérgamo,


uma cidade onde estava o “trono de Satanás”5. O texto grego τὴν πίστιν µου (tēn pístin mou), pode
ser traduzido como “a minha fé”, como o faz a ARA, porém, também existe a possibilidade de ser
“fé em mim”, como sugere Beale (1999) e o SDABC (7:749). De qualquer forma, πίστις, aqui é
uma referência à confiança em Deus, em Jesus e na fé cristã, tal como expressas em um conjunto de
doutrinas, conselhos e revelações dadas por Deus aos primeiros cristãos. Os crentes de Pérgamo,
mesmo em face da perseguição satânica, não negaram “o meu nome” e “fé”. As expressões
significam, portanto, nesse texto, o próprio caráter de Deus, Sua causa e Sua palavra.
O sentido de “confiança” é reforçado pelo uso contrário da palavra “negar”, “não negaste”,
“frequentemente os termos ‘confessar’/‘negar’ são usados antiteticamente na literatura cristã
primitiva (Mt 10:32–33; Lc 12:8–9; Jo 1:20; Tt 1:16; 1Jo 2:23)” (AUNE, 1998a). Utley (2001, p.
39), falando sobre a tentação de negar o nome de Jesus e sua fé, declara que “durante esses

5 Para uma discussão sobre as possibilidades de interpretação para “o trono de Satanás” ver AUNE, 1998, pp. 182-184.
!32

primeiros séculos do cristianismo, e até hoje em certas sociedades, houve uma verdadeira tentação
para salvar a prosperidade ou a vida, negando a fé em Cristo durante os testes físicos ou judiciais. A
Igreja sempre lutou com a forma de lidar com esses apóstatas”.

2.2.1.2 Ap 2:19 “a tua fé”

Na carta à igreja de Tiatira, encontra-se a segunda ocorrência apocalíptica de πίστις: σου…


τὴν πίστιν (sou tēn pístin, “a tua fé”). A expressão parece ser a reação à “minha fé” do verso 13, é a
manifestação da aceitação da doutrina, dos conselhos e das revelações dadas por Deus.

Em 2:2, os conceitos de κόπος [kópos], “trabalho, labuta” [“labor” na ARA], e ὑποµονή


[hypomonē], “perseverança”, estão subordinados a τὰ ἔργα [ta erga], e aqui também parece
que ἔργα, “obras”, é um termo geral mais bem definido pelos quatro substantivos na lista
polissindética que se segue. Isso indica que os quatro termos “amor e fé e serviço e
perseverança” são termos que enfatizam diferentes aspectos do comportamento dos cristãos
(AUNE, 1998a, p. 202, grifo nosso).

A palavra πίστις faz parte do conjunto de “obras” nominalmente relacionadas da igreja de


Tiatira, uma vez que aparece um και epexegético (STEFANOVIC, 2009), πίστις está “descrevendo
não apenas confiar em Deus e não neste mundo, mas ainda mais a perseverança fiel no meio da
opressão e da pressão dos pagãos” (OSBORNE, 2002). Por isso, há quem prefira traduzir como
“fiéis” (NTLH), pois o contexto fala de um comportamento esperado em tempos de apostasia, tal
como proposta por Jezabel (v. 20), um claro símbolo de prostituição doutrinária.

2.2.2 πιστός (pistós, “fiel”)

Quanto ao adjetivo πιστός (pistós), ele ocorre 71 vezes na LXX traduzida na ARA por: (1)
“fiel”, seja um homem (Nm 12:7; Ne 13:13), seja Deus (Dt 7:9), seja os preceitos de Deus (Sl
110:7); (2) “duradouras” (Dt 28:59); (3) “fidelidade” (Dt 32:4); (4) “estável” (1Sm 2:35; 1Re
11:38); (5) “confirmado” (1Sm 3:20); (6) “firme” (2Sm 25:28); (7) “sustém” (Sl 144:14); (8)
“verdadeira” (Pv 14:15); e (9) “certas”, no sentido de não faltar (Is 33:16). Ela, assim como
acontece com πίστις, é a tradução da palavra hn:Wma/ (ʾemûnāh) e suas derivadas, e as palavras que
melhor transmitem o significado desta palavra no AT são “firmeza”, “fixidez” e
“estabilidade” (BURGE, 2009, p. 165).
No NT πιστός é traduzido geralmente por “fiel”, exceto em Jo 20:27, At 16:1, 2Co 6:15, Gl
3:9, 1Tm 5:16 e 6:2, Tt 1:6, onde a palavra “crente” foi usada na tradução; em 1Pe 1:21 aparece
“fé”, e em 3Jo 5 há “fielmente” traduzindo πιστός. O adjetivo πιστός é usado para designar: pessoas
!33

fiéis em geral (Mt 24:45), os cristãos (At 10:45), as promessas divinas (At 13:34), o próprio Deus é
chamado de “fiel” (1Co 1:9), a palavra de Deus também é classificada assim (Tt 1:6), além
dos ministros de Cristo (Cl 1:7).
Mas, o que é ser “fiel”? As palavras usadas no AT lançam luz sobre esta questão, ajudando
principalmente na compreensão do seu significado para o livro do Ap. As palavras “estável”,
“firme” e “verdadeiro” dão um sentido de “algo não variável”, que é “indiferente às circunstâncias”,
sejam elas morais, no caso de suborno ou desvio de verba, ou religiosas, no caso de idolatria. Ser
fiel é ser “inabalável”, permanecendo “inalterável” ante as adversidades. Quando João utiliza
πιστός é este o sentido que ele quer apresentar, seja a respeito de Jesus ou dos santos, seja
apresentando uma característica, seja incentivando à fidelidade.
Suas ocorrências no Ap são mais frequentes que πίστις, 1:5; 2:10, 13; 3:14, e estão
relacionadas ao próprio Jesus bem como com as cartas às igrejas de Éfeso, Esmirna e Laodicéia.

2.2.2.1 Ap 1:5 Jesus: a Testemunha fiel

Jesus é o primeiro a ser apresentado como “fiel” no Ap (1:5). Ele é a “Fiel Testemunha”.
Este título parece ser uma alusão a Pv 14:15, onde fala da “testemunha fiel” (µάρτυς πιστóς, martys
pistós, na LXX), ou também pode ser uma frase que ecoa o Sl 89:37. Em qualquer caso, a expressão
ecoa hebraismo (CHARLES, 1994). “A descrição é um resumo do papel de Cristo: Ele perseverou
como uma testemunha fiel ao Pai, em face da perseguição até à morte, que Ele conquistou, e então
Ele se tornou o governante cósmico” (BEALE, 1999).
Levando em consideração que a palavra “fiel” é, antes de tudo, um símbolo de firmeza e
estabilidade no Ap, é possível ver nessas palavras um apelo a confiança em Jesus, Aquele que não
varia nem muda (Tg 1:17). Jesus é apresentado como alguém que é plenamente confiável. Porém, a
palavra usada para “testemunha”, µάρτυς (martys), pode ser uma alusão tanto ao testemunho de
Jesus como revelador da verdade de Deus (cf. Jo 18:37; 1Tm 6:13) quanto à Sua própria morte, Ele
é Aquele que foi fiel até a morte, do mesmo modo que Ele deseja que os Seus seguidores o façam
(cf. 2:10; 12:11). Essa ideia é reforçada pelo segundo título que Ele recebe: “o Primogênito dos
mortos”, “sua vida sem pecado entre os homens e Sua morte sacrificial testemunham da santidade e
amor do Pai” (SDABC, 7:732).

Ele era a fiel testemunha, porque todas as coisas que Ele ouviu do Pai Ele fielmente deu a
conhecer aos seus discípulos. Além disso, porque Ele ensinou o caminho de Deus em
verdade, e não tinha medo dos homens, nem considerava as pessoas de homens. Também,
porque a verdade que Ele ensinou em palavras Ele confirmou por milagres. Também,
!34

porque o testemunho de Si mesmo por parte do Pai, Ele não negou nem mesmo na morte.
Por último, porque Ele dará testemunho verdadeiro das obras de bons e maus no dia do
juízo (JAMIESON, FAUSSET e BROWN, 1997).

O fato de Ele ser descrito como o “Primogênito dos mortos” dá uma ideia de
encorajamento, como se Ele dissesse aos Seus seguidores que não temessem a própria morte, assim
como Ele confiou no Pai, assim devem Seus seguidores confiar nEle (GAEBELEIN et al., 1981),
pois Ele não é apenas o Primogênito dos mortos, Ele é também “as primícias dos que
dormem” (1Co 15:20), “pela virtude da ressurreição, Ele, o ressucitado e glorificado Cristo, torna-
se o Soberano dos reis da terra” (STEFANOVIC, 2009).

2.2.2.2 Ap 2:10 Incentivo à fidelidade

Em Ap 2:10 há um incentivo à fidelidade. Primeiramente, Jesus diz enfaticamente para Seu


povo não ter medo (µηδὲν φοβοῦ, mēden foboū, “não tenha medo de”). A frase é um pouco
diferente de outras usadas no NT, além de ser mais enfática (OSBORNE, 2002). Mηδὲν (mēden)
pode significar “nada”, pois o verbo está conjugado de maneira a parar uma ação já começada, ou
seja, eles já estavam com medo, seria então “parem de ter medo!”; além disso, a exortação é bem
específica quanto ao que não temer, que neste caso, são os sofrimentos vindouros. As palavras aqui
usadas ecoam o Sl 46:1-3: “Deus é o nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente nas
tribulações. Portanto, não temeremos ainda que a terra se transtorne e os montes se abalem no seio
dos mares; ainda que as águas tumultuem e espumejem e na sua fúria os montes se
estremeçam” (grifo nosso).
Só depois de falar para não ter medo é que vem a sentença γίνου πιστóς (gínou pistós, “sê
fiel”, ARA, “sejam fiéis” NTLH), que está no imperativo, ou médio ou passivo, na segunda pessoa
do singular, e pode ser traduzido por uma ordem ou exortação. Mas, como não se trata de um
mandamento específico, pode-se dizer que tais palavras são na verdade palavras de motivação ou
ainda de exortação. Os crentes são incentivados à fidelidade e a não temer os iminentes testes
porque “suas vidas e destino estão nas mãos do eterno Todo-Poderoso (παντοκράτωρ, pantokratōr,
‘Todo-Poderoso’) da história, que já experimentou perseguição, até a morte, e ainda ressurgiu
através da ressurreição” (BEALE, 1999, pp. 241-242).
Os testes a serem enfrentados pelos crentes não são testes para a derrota, mas para provar
quem verdadeiramente é um seguidor de Jesus, “estes são realmente ‘testes divinos’ para distinguir
genuíno de falsos crentes na igreja (cf. 1 Cor. 11:19)” (IBID.; cf. GAEBELEIN et al., 1981). Cada
prova deve ser vista portanto como uma oportunidade de confirmação da fé, além de uma espécie
!35

de exercício espiritual, onde pequenas batalhas vencidas ajudam no preparo para as batalhas
maiores.

2.2.2.3 Ap 2:13 A fidelidade de Antipas

Além de Jesus outra pessoa é nomeada como “testemunha” e “fiel”. É Antipas,


personagem desconhecido para os dias atuais, mas que era alguém que possivelmente residia em
Pérgamo. A frase ὁ µάρτυς µου ὁ πιστός µου (ho martys mou ho pistós mou, “minha testemunha,
meu fiel”) pode ser também traduzida como “testemunha para mim, fiel para mim”, uma vez que o
genitivo µου (mou) é provavelmente objetivo (BEALE, 1999).
O termo µάρτυς é uma palavra que pode significar tanto “dar um testemunho” como
“morrer como um mártir”,

de acordo com Trites, houve um processo de cinco estágios pelo qual µάρτυς foi
transformado de “testemunho” para “testemunhar através da morte”, ou seja, “mártir”: (1)
em primeiro lugar, tem a sentido forense original testemunha em um tribunal de justiça, (2),
em seguida, é aplicada a alguém que testemunhou a fé em tribunal e é morto em
conseqüência, (3) a morte passa a ser considerado como parte do testemunho, (4) µάρτυς
vem a significar “mártir”, (5) a noção de “testemunha” desaparece e os termos µάρτυς,
µαρτύριον, µαρτυρία e µαρτυρεῖν são usadospara se referir ao martírio. No entanto,
enquanto este desenvolvimento parece bastante lógico, desenvolvimento semântico
raramente é tão puro (AUNE, 1998a, p. 185)

Essa ligação entre Jesus e Antipas, ambos testemunhas fiéis é uma demonstração clara da
possibilidade de martírio aos cristãos. Isso pode denotar que requer-se dos crentes uma resposta de
fidelidade semelhante a de Jesus, ou seja, até a morte, uma vez que “morte/perseguição” e
“testemunho” têm certa ligação no Ap (2:13; 11:7; 17:6; cf. 1:9).
Uma vez que em Pérgamo encontrava-se “o trono de Satanás”, é provável que a questão
chave para a morte de Antipas tenha sido o tema da adoração ao imperador. Como visto no início
deste capítulo, a questão da adoração é um tema chave no Ap, e Antipas torna-se aqui um exemplo
(“testemunha”) da atitude requerida ante tais situações de perseguição por causa do “meu
nome” (de Jesus), ser “contra tudo” (Ἀντι, Anti, contra + πᾶς, pās, tudo) o que for ameaçador à fé
cristã.

2.2.2.4 Ap 3:14 Títulos de Cristo

Mais uma vez Jesus é apresentado como a Testemunha fiel e verdadeira, Sua presença
marca o encerramento das cartas às sete igrejas. Jesus é a “testemunha fiel” de Deus, o Pai (cf. Is
!36

43:10-12). Esses títulos: “Amém”, “Testemunha fiel e verdadeira” e “Princípio da Criação de


Deus”, são uma demonstração de que Jesus é o Messias prometido no AT. Em Sua ressurreição
cumpre-se a promessa de Deus de uma nova criação (BEALE, 1999), pois, no AT há o
“Arquiteto” (do hebraico ’āmôn) (Pv 8:30) em paralelo com o título “Amém”; a “fiel […]
testemunha” (Sl 89:37) em paralelo com “Testemunha Fiel”; e aquele que pertencia à Deus desde o
“Início de Sua Obra” (Pv 8:22) paralelo com “O Princípio da Criação de Deus”; todos esses títulos
dão garantias a todas as promessas feitas nas sete cartas.
Cada um desses títulos revela um prisma do caráter de Cristo no livro do Ap, e esses
aspectos de Seus caráter também são uma garantia de que Aquele que promete cumprirá cabalmente
Suas promessas.

2.2.3 τηρέω (tēreō, “guardar”)

Na LXX τηρέω (tēreō, “guardar”) aparece principalmente como tradução de rmv (šmr) e
rcn (ntsr) e pode, assim como no NT, significar “guardar” (cf. Pv 2:11; 7:5). A palavra τηρέω em
suas diversas formas, aparece 70 vezes no NT; João é o que mais a usa, 36 vezes. Seu significado
básico é “manter em vista”, “tomar nota” e “vigiar” (RIESENFELD, 1964-), podendo ser mais
acertadamente usada no sentido de “vigiar” como ofício do sentinela. O aspecto da vigilância,
portanto, sobressai aos outros significados.
Seu uso no NT faz-se primeiramente no sentido de “cumprir” algo que está escrito (Mt
19:17), porém nota-se em Mt 23:3 que guardar é diferente de “fazer” ou “praticar”. Há o sentido de
“vigiar”, como os soldados que vigiaram Jesus quando estava na cruz (Mt 27:36), ou mesmo pode
ser “os guardas” (Mt 28:4), essas são as ocorrências sinóticas. Lucas usa τηρέω em At como “estar
preso” (At 12:5; 25:4), “vigiar” (At 12:6; 16:23), “observar” a lei (At 15:5). Paulo acrescenta o
sentido de “conservar”/“manter” (1Co 7:37; 1Tm 5:22), “evitar” (2Co 11:9), “preservar” (Ef 4:3;
1Ts 5:23), “guardar” a fé (2Tm 4:7).
João usa τηρέω como “guardar” algo, como no caso do melhor vinho (Jo 2:10); “guardar”
a palavra de Jesus ou Seus mandamentos, como Ele mesmo “guardou” os mandamentos do Pai (Jo
8:51, 52 e 55; 14:15, 21, 23; 15:10). Todas as ocorrências de 1 João, exceto em 5:18, dizem o
mesmo; também é usado para dizer que as palavras dos discípulos seriam guardadas (Jo 15:20);
“guardar” o sábado (9:16); e por último “guardar” no sentido de proteção divina (Jo 17:11, 12, 15;
cf. 1Jo 5:18). Em Ap seu uso ocorre 11 vezes, sendo 6 vezes na porção histórica do livro (1:3; 2:26;
!37

3:3, 8, 10).

2.2.3.1 Ap 1:3 “Bem-aventurados aqueles que […] guardam as coisas nela escrita”

A primeira ocorrência apocalíptica é a respeito daqueles que “guardam” as palavras da


profecia, diz-se que eles são bem-aventurados (1:3), esta é a primeira das sete bem-aventuranças.
Aqui τηρέω pode ser “guardar” tanto no sentido de “memorizar” quanto no sentido de “obedecer”,
este último é preferível. Em grego, há apenas um artigo para os verbos no particípio “ouvir” e
“guardar”, o que indica que a ação deveria ser praticada pelo mesmo grupo. Também poderia
indicar um reforço ao sentido de obedecer, pois “ouvir” na linguagem bíblica também assume o
sentido de obediência (cf. Dt 5:1), e “mesmo embora ele [o leitor] não encontre a chave para sua
interpretação [de guardar], ele encontra um estímulo à fé, esperança e paciência para aguardar a
Cristo” (JAMIESON, FAUSSET e BROWN, 1997).

2.2.3.2 Ap 2:26 “guardar […] as minhas obras”

Além das palavras de Deus, Suas obras também podem ser “guardadas” (2:26). Esta é uma
expressão usada somente no Ap e pode significar pôr em prática as palavras; “aqui ‘guardar minhas
obras’ pode referir-se às obras ordenadas por Jesus’”, isto é, Seus mandamentos (AUNE, 1998a),
portanto essas obras são o fruto do Espírito (VICENT, 1887; cf. Jo 4:47), ou ainda as obras
expressas no v. 19, amor, fé, serviço e perseverança. Essas são obras que refletem o caráter de
Cristo, em contraste com aqueles que praticam as obras de Jezabel (cf. v. 22); que mostra que
fidelidade tem a ver também com um comportamento fiel (NET, 2006), uma crença que leva a uma
ação, e as mesmas devem ser guardadas “até ao fim” (εσχατος, eschatos), ou seja, até a volta de
Jesus.

2.2.3.3 Ap 3:3 Guardar o que foi ouvido

À igreja de Sardes é aconselhado que guarde tudo aquilo que foi aprendido (3:3), e, assim,
venha o µετανοέω (metanoéō, “arrependimento”). O chamado à fidelidade é um chamado à saída de
uma condição espiritual letárgica, para voltar à antiga fé. O verbo µνηµονεύειν (mnēmoneyein,
“lembrar”) usado no início do versículo 3, também aparece em Ap 2:5 para falar da volta ao padrão
moral e espiritual do qual os crentes haviam caído. Trail (2008, pp. 87-88), afirma que “há dois
!38

passos para a restauração: lembrar-se como você recebeu o evangelho e guardar, e fortalecer os que
restam”. “Havia um remanescente fiel (v. 4), mas chegara a hora de a maioria [que estava
dormindo] acordar (v. 2) e arrepender-se (v. 3) ou encarar sérias consequências de Deus” (CABAL
et al., 2007).
Ainda um ponto importante sobre “obras”, é o fato de elas não terem sido achadas
“perfeitas diante do meu Deus”. Isso implica que o padrão espiritual requerido deve ser aprovado
por Deus e não pelos homens, qualquer um que apresente um caráter bom, apenas no padrão
humano, corre sérios riscos de ser reprovado diante de Deus. Isso não é um apelo ao
perfeccionismo, mas um chamado à não hipocrisia (cf. BEALE, 1999, p. 273).

O segundo par de verbos, τήρει καὶ µετανόησον, “guardar e arrepender-se”, estão ambos no
imperativo e são um exemplo do padrão literário histeron-proteron, “último-primeiro” (isto
é, colocando dois eventos em ordem reversa, um fenômeno que ocorre freqüentemente no
Ap: 3:17; 5:5; 6:4; 10:4, 9; 20:4–5, 12–13; 22:14), uma vez que normalmente se espera que
a menção de “arrependimento” antes de “obedecer” (AUNE, 1998a, p. 221).

2.2.3.4 Ap 3:8 “Guardaste a minha palavra”

A respeito da igreja em Filadélfia é dito que Jesus abriu uma porta, a qual Utley (2001)
chama de “maravilhosa porta de oportunidade”, por três motivos: (1) porque ela tinha pouca força;
(2) porque ela “guardou” a “palavra” (λόγος) de Deus; e (3) porque ela não negou o Seu nome. Ao
observar-se 1Jo 2:3-5, nota-se que as frases τηρεῖν τὰς ἐντολάς (tērein tas entolas, “guarda os
mandamentos”) e τηρεῖν τὸν λόγον (tērein ton lógon, “guarda a palavra”) são usadas de maneiras
sinônimas, ou seja, guardar a palavra de Deus é o mesmo que guardar os Seus mandamentos, τηρέω
também significa “obedecer” (LOUW e NIDA, 1996). O próprio termo rb;d' (dāvar, “palavra”)

significa também mandamento; os 10 mandamentos são chamados de “as dez palavras” (Êx 34:28)
(AUNE, 1998a). A frase “não negaste o meu nome” pode ser considerada a mesma afirmação,
porém feita em sentido negativo, pois negar o nome de Jesus é negar a fé cristã. Essa negação pode
ser verbal (Lc12:9) ou comportamental (Tt 1:16); e deixar de manter a doutrina correta a respeito da
cristologia também pode ser interpretada como uma negação ao próprio a Cristo (1 João 2:22).
Como o Ap foi escrito perto do ano 100 d.C., pode-se concluir também que a palavra de Deus eram
também os escritos apostólicos tais como os do NT, assim eles deveriam ser também fiéis “ao
evangelho e ensinamento dos apóstolos mesmo durante a prova de sua fé” (GAEBELEIN et al.,
1981).
Em Ap 3:2 vê-se Sardes quase morrendo, mas a igreja de Deus com “pouca força” e quase
!39

a perecer encontra seu reavivamento na palavra de Deus.

2.2.3.5 Ap 3:10 Deus também guarda

Neste verso a palavra τηρέω aparece por duas vezes. A primeira ocorrência será analisada
mais à frente junto com a palavra ὑποµονή (hypomonē, “perseverança”); por enquanto será
analisada promessa divina de guardar Seu povo fiel “da hora da provação que há de vir sobre o
mundo inteiro” (3:10). Para a igreja em Filadélfia há três promessas: (1) uma porta aberta; (2)
vindicação contra os judeus; e (3) o “guardar” “da hora da provação”. O verbo τηρέω está no futuro
do indicativo ativo, podendo ser tanto no futuro imediato quanto no tempo escatológico; porém a
frase “que há de vir sobre o mundo inteiro” favorece uma interpretação mais escatológica da
promessa.
Essa “hora da provação” pode ser as sete pragas descritas no capítulo 16 (BARRY et al.,
2012). Utley (2001, p. 44) diz: “o versículo 10 refere-se a um juízo de nível mundial de Deus sobre
os descrentes. É fundamental distinguir entre as ‘tribulações’ para os crentes perseverarem na fé e ‘a
ira de Deus’ que cai em um mundo descrente”. O SDABC (7:759) considera que “a ‘hora da
provação’ sem dúvida se refere ao grande tempo de teste que precede a segunda vinda”. Um dos
alvos da fidelidade é suportar a πειρασµός (peirasmós, “provação”), palavra usada 15 vezes na
LXX e traduzida na ARA como “provas” (Dt 4:34), Massá (Dt 6:16), e “trabalhos” (Ec 5:2). No NT
πειρασµός foi traduzida por “tentação” (Mt 6:13) ou “provação” (Lc 8:13).
Neste verso, a preposição ἐκ (ek) pode ser traduzida por “da”; “fora de”; “na”; “através”;
“separado de”; “livre de” e “a parte de” (TRAIL, 2008a). Levando em conta outros textos bíblicos,
é fácil concluir que Deus guardará Seu povo enquanto acontece a “provação” (Sl 23:4; 46:2; Sl
91:7; Dn 3:24-27; 6:22; Jo 17:15), e não sendo a igreja arrebatada antes da tribulação como
sugerido por alguns autores (por exemplo DODD, 2000; WIERSBE, 1992; e BLOOMFIELD,
1981). “Aqueles que guardam o evangelho em tempo de paz, serão guardados por Cristo na hora da
provação, e a mesma graça divina que os fez florescer em tempos de paz, irá torná-los fiéis em
tempos de perseguição” (HENRY, 1994).
Talvez o melhor exemplo de proteção em meio ao castigo divino seja o da primeira páscoa.
Deus pediu que os israelitas que moravam na “terra do Egito” (Êx 11:5, 6; 12:13) matassem para si
um cordeiro como meio de livramento da décima praga. Aqueles que seguiram a ordem divina e
guardaram Sua palavra, foram isentos das pragas e puderam continuar com seus filhos. É
importante notar que o livramento se deu devido à morte do cordeiro e não ao fato de serem
!40

israelitas. Receber a promessa da proteção divina significa o resultado de guardar a palavra da


perseverança (cf. Jo 8:51).

2.2.4 κρατέω (krateō, “conservar”)

Uma palavra usada que pode ser considerada sinônima de τηρέω é κρατέω (krateō,
“conservar”). Ela aparece em Ap 2:1; 2:13, 14, 15, 25; 3:11; 7:1. Em outros livros do NT κρατέω
tem usos bem diferentes daqueles feitos no Ap, mas que podem auxiliar na compreensão do
significado da palavra bem como sua relação com fidelidade.
A palavra κρατέω pode significar: “‘apegar-se (a)’ , ‘segurar’, ‘manter-se verdadeiro a’,
‘manter-se fiel ao’, ‘ser verdadeiro a’, ‘manter-se leal a’, ‘continuar agarrado’…”, e “κρατέω
implica que eles [os fiéis] permanecem estreitamente unidos a Ele [Jesus]” (TRAIL, 2008a, p. 62).
Em Mt 9:25 diz que Jesus ἐκράτησεν (ekratēsen, “tomou”, “segurou”) a mão da filha de
Jairo (cf. Mc 1:31; Mc 9:27). Seu uso em Mt 12:11 porém, é mais elucidativo, na ARA é traduzido
por “fará todo o esforço”, demonstrando que κρατέω tem haver com “segurar com muito cuidado”,
tal como Herodes fez com João Batista, que foi “atado” para não fugir (Mt 14:3; cf. Mt 21:46). Em
Mc 7:3 a tradução é feita usando a palavra “cuidadosamente” como equivalente para κρατέω, dando
um sentido positivo à palavra, e não negativo como é o caso de “agarrar” usado em Mt 18:28 e
22:6, ou “prender” como em Mc 12:12. Em todos os casos, porém, fica evidente que a palavra
denota segurar com certo cuidado ou força, numa tentativa de não deixar escapar o objeto a ser
preso ou protegido.
É bem provável que em Mc 9:10, onde diz que os discípulos “guardaram” a recomendação
de Jesus, a tradução seja equivalente àquelas ocorrências de Ap discutidas aqui. Outras passagens
semelhantes são 2Ts 2:15 onde Paulo aconselha aos irmãos que guardem “as tradições que vos
foram ensinadas”, e Hb 4:14 que fala sobre “conservar firmes nossa confissão”. Resumindo: o NT
(excetuando o Ap) apresenta três significados básicos para κρατέω: o sentido literal de prender, o
sentido metafórico pessoal de guardar a fé e o ensino, além do sentido metafórico coletivo de
guardar os ensinamentos como igreja (SPENCE e JONES, 2004).
Em Ap κρατέω tem quatro sentidos: (1) “guardar algo com cuidado” (2:1); (2) “conservar/
manter a fé” (2:13, 25; 3:11); (3) “conservar/manter a doutrina errada” (2:14, 15); e (4) “manter
algo sob controle” (7:1). As palavras “conservar” ou “manter”, usadas em 2:13 e 25 e também em
3:11, estão diretamente relacionada com a fé, e serão analisados a seguir.
!41

2.2.4.1 Ap 2:1 Jesus, aquele que conserva

Mais uma vez Jesus é o primeiro exemplo no uso de palavras relacionadas à fidelidade.
Isso é no mínimo confortador, pois Ele apresenta-se como exemplo daquilo que espera de Seu povo.
Para compreender o sentido de “conservar” neste versículo, é importante primeiramente avaliar o
que está sendo conservado.
As sete estrelas são os anjos das sete igrejas. A ARA traduziu ἄγγελος (ánghelos) como
“anjo”, porém o sentido é dúbio, pois (1) poderia ser que cada igreja tivesse um “anjo” protetor,
como o traduz a maioria das Bíblias; ou ainda que (2) cada ἄγγελος seja nada mais que um
“mensageiro”, ou “espíritos presidentes” das igrejas, neste caso, os seus bispos.
Em Ap 1:1 ἄγγελος é um mensageiro celestial enviado por Deus. Trail (2008a) apresenta
quatro possibilidades para ἄγγελος nesta passagem, sem porém apresentar qualquer uma delas como
uma solução final: (1) anjos celestiais; (2) as próprias igrejas; (3) mensageiros humanos; e (4)
espíritos que presidem as igrejas. Com relação à possibilidade de os anjos serem pessoas reais,
Lenski (1935) comenta que é possível que os “anjos” aqui sejam mensageiros, ou carteiros que
levavam o recado ditado por Deus; estes poderiam ser mesmo os presbíteros, bispos ou pastores de
cada uma dessas congregações. Isto seria portanto uma demonstração da Soberania e cuidado de
Jesus para com a liderança de Sua recém-formada igreja. Além disso, Seu “passeio” pelos
candeeiros mostra sua constante presença entre o Seu povo em toda a história.

2.2.4.2 Ap 2:13 “Conservas o meu nome”

Na carta à igreja em Pérgamo é onde aparece κρατέω relacionada à fé pela primeira vez no
Ap, ela é usada com a palavra antônima ἀρνεῖν (arneîn, “negar”) reforçando a ideia de que “κρατεῖς
τὸ ὄνοµά µου” (krateîs to onoma mou, “conservas o meu nome”) é uma frase que aponta para a
confissão cristã (cf. Hb 4:14) (AUNE, 1998a). Os crentes de Pérgamo deveriam “agarrar” o nome
de Jesus, apegando-se a fé que a eles foi proclamada, mantendo sempre diante de si o conhecimento
adquirido. “O ‘nome’ conota a essência da pessoa, e na LXX como aqui frequentemente fala sobre
as características básicas da pessoa” (OSBORNE, 2002). Portanto, “conservar o meu nome” é
“viver de acordo com a responsabilidade dessa nova identidade, a de resistir à tentação deste mundo
pagão” (IDEM), ou ainda “ser verdadeiro a, ser fiel e leal à pessoa nomeada” (BRATCHER e
HATTON, 1993).
!42

2.2.4.3 Ap 2:25 “Conservai o que tendes”

Os crentes de Tiatira deveriam se apegar ao que possuíam, que no caso deles eram as “suas
obras”, o “seu amor”, o “seu serviço” e a “sua perseverança”. Essas palavras ensinam uma lição
preciosa sobre como aprender a ser fiel: dar valor ao que realmente é necessário na vida cristã, até
que Cristo volte, o que Swete (1906) chama de um “único esforço decisivo”, mas que poderia ser
um “último esforço decisivo”.
O termo πλήν (plēn) traduzido na ARA por “tão somente” é uma conjunção que serve
como “marcadores de contrastes, implicando na validade de algo, independentemente de outras
considerações” (LOUW e NIDA, 1996), ou seja, tudo o mais deve ser considerado de menor
importância. O “conservar”, portanto, depende muito do que se considera prioritário. Ninguém que
aguarda a vinda de Jesus poderá ser encontrado fiel a menos que reconsidere suas prioridades, mera
profissão de fé não é suficiente diante dAquele “que sonda mentes e coração”, Ele vai retribuir “a
cada um segundo as” suas “obras” (v. 23).
Com certeza este conselho é dado por causa da maneira relaxada com a qual eles lidaram
com as atitudes desta Jezabel do v. 20, a quem foi permitido que seus enganos afetassem os
seguidores de Cristo em suas crenças, em suas condutas e em seus estilos de vida. “Os seguidores
de Cristo devem perseverar (v. 20) em meio a perseguições, heresias e apatia, isto é um
mandamento (aoristo, ativo, imperativo)” (UTLEY, 2001).

2.2.4.4 Ap 3:11 “Para que ninguém tome a tua coroa”

Uma segunda lição pode ser aprendida sobre dar valor ao que é verdadeiro - é que a falta
desta valorização acarreta em perdas. Uma palavra importante neste contexto é λαµβάνω
(lambánō), traduzida na ARA por “tome”; significa “agarrar” (TDNT) no sentido de “lançar
mão” (cf. Mt 21:35), o verbo está no ativo, portanto fala de outra pessoa tomando a coroa do
cristão, como isso é possível?
Antes mesmo de morrer, o apóstolo Paulo tinha a certeza que sua coroa já estava
assegurada, mas também estava ciente de que a receberia apenas por ocasião da segunda Vinda, e,
uma vez que esta é uma questão espiritual na qual há uma guerra sendo travada entre o bem e o mal,
“ninguém” são os seres espirituais, chamados no Ap de anjos (12:9), eles estão sob a ordem do
Satanás, e seu principal objetivo é levar os filhos de Deus a serem infiéis, e assim perderem suas
coroas, porém esses anjos malignos podem ser vencidos (Tg 4:7). A palavra στέφανος (stéfanos,
!43

“coroa”) é usada para as coroas de louro entregues aos corredores vitoriosos nos jogos gregos,
portanto

a noção de λαµβάνειν τὸν στέφανον τινός [lambáneiv ton stéfanon tinós] “tirar a coroa de
flores de alguém”, é uma metáfora para ser desclassificado em um concurso. A forma como
esta exortação é formulada sugere que os filadélfios já têm as suas coroas, mas deve-se
tomar cuidado para que ninguém as leve embora (AUNE, 1998a, p. 241).

2.2.5 ὑποµονή (hypomonē, “perseverança”)

A palavra ὑποµονή (hypomonē, “perseverança”) aparece poucas vezes na LXX, ela é usada
geralmente como a tradução de ‫( קוה‬qwh) e seus derivados. Em 1Cr 29:15 é usada para designar
tempo de permanência. Em Sl 9:19 ela tem o sentido de prevalecer, em outras passagens tem o
sentido de “continuar existindo” (Sl 61:6) ou pode ser “esperança”, como em Je 17:13. Tem uma
conotação de “por quanto tempo ainda existirá”. Suas ocorrências são em geral dramáticas e
denotam desespero.
No NT assume a ideia de “sem parar” (Lc 8:15); ela pode ser tanto um substantivo (Lc
21:9) como um adjetivo (Rm 2:7); sua origem é na “tribulação” (Rm 5:3; cf. Tg 1:3), e quem
persevera fica “experiente”. O Eerdmans Bible Dictionary define ὑποµονὴ como “uma das
virtudes da vida cristã […] produzida durante o sofrimento e a qual ela mesmo produziria o caráter”
(MYERS, 1987). O NT tem vários exemplos de ὑποµονή com o sentido de uma virtude praticada
nas dificuldades (Cl 1:11; 2Ts 1:4; Hb 10:36; Tg 5:11). Em alguns casos, ὑποµονὴ pode ter a
conotação de “paciência” quando usada com a palavra “esperar” (Rm 8:25) e por último, a
perseverança não pode ser incompleta (Tg 1:4). Barclay (1977, p. 109) chama ὑποµονή de “uma das
palavras mais nobres do NT”, ele afirma que “é quase impossível encontrar um vocábulo que
expresse toda a plenitude de ὑποµονή”.
Quanto ao Ap, as sete ocorrências são traduzidas acertadamente na ARA como
“perseverança” (1:9; 2:2; 2:3; 2:19; 3:10; 13:10; 14:12), revelando assim o tipo de virtude
necessária para suportar os eventos finais e as provas que os acompanham. As palavras de Barclay
sobre ὑποµονή são bem aplicáveis ao conceito apocalíptico de perseverança, uma vez que elas
fazem parte de “exortações originadas no conflito com a besta” (FALKENROTH e BROWN,
2000):

Não é a paciência do que se senta e baixa a cabeça com derrotismo, prestes a suportar até
que passe a tormenta que se aproxima sobre ele. É o espírito de pode resistir às cargas por
causa da sua esperança inflamada, não por simples resignação; não é o espírito do que se
senta onde a tragédia lhe prende, disposto a suportar estaticamente, mas o que transpõe a
adversidade porque sabe que está seguindo um caminho que conduz à glória; não é a
!44

paciência do que aguarda tristemente o fim, mas daquele que espera radiante um novo e
melhor amanhecer” (BARCLAY, 1977, p. 111).

No Ap seu significado é profundo, suas cinco ocorrências na porção histórica estão


relacionadas com “aguentar” perseguição (1:9; 2:3) ou “permanecer” firme no que é certo (2:2,19;
3:10).

2.2.5.1 Ap 1:9 João, companheiro na perseverança

Em Ap 1:9 João descreve a si mesmo como perseverante por estar suportando a


perseguição romana. Também é “irmão” daqueles que estavam passando pelas mesmas
dificuldades, que neste caso são as tribulações. Neste contexto, João fala de um “reino”, do qual
todos eles faziam parte. Este é o reino do céu dado àqueles que, passando por meio de uma
perseguição, permanecem firmes sem desfalecer na fé ou voltar atrás com medo das consequências
de sua decisão em seguir a Jesus de maneira fiel. Os judeus queriam a vinda do “reino” de Deus e
do Messias, porém “este é um reino inesperado pela maioria dos judeus. […] Esta é a fórmula para
a realeza: a resistência fiel através da tribulação é o meio pelo qual alguém reina no presente com
Jesus” (BEALE, 1999).

2.2.5.2 Ap 2:2 e 3 Éfeso perseverante

As ocorrências de ὑποµονή na carta à primeira igreja (cap. 2) do Ap são tanto para


“permanecer firme” pelo que é certo (v. 2) quanto para “suportar”/“aguentar” perseguição (v. 3). No
v. 2 ὑποµονή está associada à outra palavra importante, κόπος (kópos, “labor”); ambas fazem parte
do conjunto das “obras” (ἔργον, érgon) dos efésios. Para Osborne (2002, p. 112) “esses dois
substantivos governam a discussão que se segue, com “labor” sendo ampliado no resto do 2:2 e a
perseverança em 2:3”. Essas duas palavras não devem ser consideradas como as obras em si, mas
como palavras que descrevem características das obras, κόπος mostra a dedicação e esforço com a
qual as obras são manifestadas, “refere-se a quão duro eles trabalharam em seus deveres
cristãos” (SWETE, 1906 , p. 158) e ὑποµονή mostra o tempo, ou seja, “sem parar”, ignorando as
circunstâncias.
No v. 3, o apóstolo João fala a respeito de provas suportadas pela igreja de Éfeso e por
todos quantos ela representava. Ele exemplifica a perseverança em ação de duas maneiras: (1)
“suportando provas por causa do meu nome” e (2) não se deixando esmorecer. “Suportar” é a
!45

tradução de βαστάζω (bastázō), uma palavra sinônima de ὑποµονή (mas que no v. 2 foi usada
maneira diferente), e que tem o sentido também de “sofrer pacientemente”, mostrando assim um
lado bastante difícil da fidelidade que é o aspecto do sofrimento. Ser fiel, inabalável, vai além do
aspecto espiritual de não pecar, tem a ver também com não ceder diante das dificuldades, das
provas, ainda que elas sejam de aspectos físicos ou morais, no caso de injúrias e calúnias. E mais
uma vez o “nome” de Jesus é o mais importante.
O verbo κοπιαω (kopiaō, “esmorecer”) está no tempo perfeito do indicativo ativo, aparece
apenas esta vez no Ap, mas é uma palavra bem conhecida em outro versículo da Bíblia, Mt 11:28, lá
ele é traduzido por “estar cansado”, pode significar “estar cansado de uma viagem” (Jo 4:6), ou
mesmo representa “fadiga” (1Co 4:12), representa aquele cansaço que se sente após um dia de
trabalho duro. O elogio feito aos efésios ocorre porque eles não desanimaram na fé e continuaram
trabalhando, mesmo que todo esforço em favor de outros muitas vezes não tenha sido
recompensado.

2.2.5.3 Ap 2:19 Perseverança como parte de um todo

Como citado anteriormente a respeito de “fé”, ὑποµονή faz parte do conjunto de


“diferentes aspectos do comportamento cristão”, junto com o amor e o serviço também. Apenas a
perseverança não é suficiente para enfrentar os desafios da vida cristã, principalmente perseguições.
O “amor” (ἀγάπη, agápē) também é importante. Qualquer que julgue estar vencendo a batalha
cristã odiando homens que são fantoches do verdadeiro inimigo, que é Satanás, não estará
demonstrando uma perseverança amorosa tal qual a de Jesus que, mesmo por ocasião de Sua prisão,
restaurou a orelha de um soldado que viera lhe prender (Lc 22:51).
A “fé” (πίστις), que aqui poderia muito bem ser traduzida por “fidelidade” ou “lealdade”,
é o aspecto das obras que constitui a base da vida cristã, é ela que concede os motivos certos para a
perseverança, a confiança de que Deus está no controle de tudo é o que acalma e dá a certeza de
vitória aos cristãos em tempos de crise.
Também não pode haver perseverança inativa, o “serviço” (διακονία, diakonía,
“ministério” em At 20:24) deve fazer parte da vida de todos quanto aguardam a volta de Jesus. A
espera não é ociosa, mas ativa e principalmente evangelística, trabalhando na seara como obreiro
fiel. Os crentes de Tiatira tinham vários motivos para se escusarem desses quatro aspectos da vida
cristã, pois muitos estavam apostatando tendo acordo com Jezabel (2:20). Mas eles demonstraram
obras “mais numerosas do que as primeiras”, provando assim que a fidelidade verdadeira, bem
!46

como as obras que a acompanham, são demonstradas de fato, sob as circunstâncias mais probantes.
Suas boas obras não foram feitas às escondidas, elas eram evidentes e conhecidas por Jesus e por
todos ao redor.
O SDABC (7:751) classifica as quatro obras como o “amor e fé fornecendo a base interna
para a expressão externa de serviço e paciência” (cf. tb. FOSTER, 1989, p. 53), esta visão é
importante para um aspecto importante da fidelidade no Ap, que é o preparo antes da ação, “o seu
‘serviço’ fala bem por seus motivos, e a ‘perseverança’ revela uma profundidade de sua
dedicação” (IBID.).

2.2.5.4 Ap 3:10 “A palavra da minha perseverança”

Em Ap 3:10 há uma expressão interessante sobre “perseverança”, é τὸν λόγον τῆς


ὑποµονῆς µου, traduzida por “a palavra da minha perseverança” (ARA; cf. Beale, 1999, p. 290) no
caso de se considerar µου como se referindo-se a ὑποµονῆς (hypomonēs). Outra tradução possível é
“a minha palavra de exortação à perseverança”, isso se µου for considerada uma palavra que
modifica toda a oração (NVI; cf. OSBORNE, 2002, p. 192). Porém, de uma ou outra maneira, a
questão mais relevante no verso é a promessa feita por Deus, “as duas ideias são combinadas no
pensamento: ‘Cristo encoraja-nos a sermos perseverantes como ele foi sob provações’” (SDABC,
7:759), prometendo guardar Seus filhos durante as provações vindouras. Sobre esta questão o texto
abaixo adiciona maiores informações:

A questão é se Cristo promete guardar Seu povo fiel de ou durante aquele tempo de prova.
Em Sua oração intercessora Jesus disse: “Não peço que os tires do mundo, e sim que os
guardes do mal” (Jo 17:15). No livro do Ap, a grande hora da provação é o tempo quando
as últimas pragas serão derramadas sobre “aqueles que habitam sobre a terra”, ou seja,
aqueles que aceitaram a marca da besta ao invés do selo de Deus (Ap 16). Este texto parece
sugerir que o povo fiel de Deus não será removido da terra quando os juízos de deus forem
derramados; Cristo promete ser com eles e protegê-los durante aquela hora de provação (cf.
Dn 12:1) (STEFANOVIC, 2009).

2.2.6 νικάω (nikáō, “vencer”)

As ocorrências de νικάω na LXX “não produzem dados muito marcantes em relação” ao


significado da palavra, em alguns casos há até mesmo um desvio do sentido da palavra hebraica
(TDNT). No NT, João é o autor que mais utiliza a palavra νικάω (nikáō, “vencer”) e suas derivadas,
24 da 28 ocorrências são joaninas, 16 só no Ap. Isso mostra o quanto era importante na teologia
!47

joanina o conceito de vencer. A palavra νικάω significa “vitória” ou “superioridade” seja ela no
sentido físico, legal ou metafórico, seja em conflito mortal ou mesmo em uma competição pacífica.
Quando o verbo νικάω é usado no intransitivo, é traduzido por “vencer”; quando usado no
transitivo poderia ser “derrotar” (TDNT). As ocorrências não joaninas limitam-se a três versículos:
Lc 11:22, onde Jesus fala sobre o valente vencido, Rm 3:4 onde Paulo cita o Sl 51:4 (LXX), e em
Rm 12:21 onde encontra-se o conselho: “Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o
bem”.
No evangelho e cartas de João, νικάω tem um sentido espiritual e incentivador por parte de
Jesus: Ele venceu o mundo (Jo 16:13) e incentiva Seus seguidores a fazerem o mesmo; a vitória é
sobre o maligno (1Jo 2:13, 14), os falsos profetas (1Jo 4:4) e o mundo (1Jo 5:4 e 5).
Em 1Jo 5:4 também é encontrada a única ocorrência do substantivo “vitória” (νίκη, níkē).
No livro do Ap as ocorrências da porção histórica (2:7; 2:11; 2:17; 2:26; 3:5; 3:12; 3:21 (2x); 5:5;
6:2 (2x); 11:7) falam sobre os vencedores em cada uma das cartas das sete igrejas, Jesus como
vencedor, e a besta que venceu as duas testemunhas mártires.

2.2.6.1 Ap 2-3 Os vencedores nas sete igrejas

As sete cartas apresentam as únicas ocorrências de νικάω relacionada aos fiéis, não são em
geral difíceis de serem compreendidas, são promessas feitas àqueles que permanecerem fiéis à
vontade de Deus. Porém os “objetos” prometidos merecem ser citados nesta análise de νικάω.
Éfeso: que se alimente da árvore da vida (2:7);
Esmirna: de nenhum modo sofrerá dano da segunda morte (2:11);
Pérgamo: maná escondido e pedrinha branca com nome novo (2:17);
Tiatira: autoridade sobre as nações (2:26);
Sardes: vestiduras brancas, nome no Livro da Vida e confissão de Jesus (3:5);
Filadélfia: será coluna com alguns nomes gravados no santuário de Deus (3:12);
Laodicéia: reinará com Jesus (3:21).
Cada uma dessas promessas, com suas características e alusões ao AT, pode ser, uma
reafirmação das promessas feitas desde os tempos de Adão (“árvore da vida”, 2:7) até a volta de
Jesus (“sentar-se comigo no meu trono” 3:21). A promessa final aos crentes de Laodicéia é também
uma garantia de que Aquele que as promete também venceu e também recebeu os frutos da vitória.
Cada um desses “objetos” prometidos servem como um troféu que incentivam os
vencedores, como diz Paulo:
!48

Não sabeis vós que os que correm no estádio, todos, na verdade, correm, mas um só leva o
prêmio? Correi de tal maneira que o alcanceis. Todo atleta em tudo se domina; aqueles,
para alcançar uma coroa corruptível; nós, porém, a incorruptível. Assim corro também eu,
não sem meta; assim luto, não como desferindo golpes no ar. Mas esmurro o meu corpo e o
reduzo à escravidão, para que, tendo pregado a outros, não venha eu mesmo a ser
desqualificado (1Co 9:23-27).

Assim, o Ap é tanto um manual de instruções para a vitória, como também um livro de


incentivo à vitória, Jesus aparece como aquele que está diante do Seu povo, como um técnico de um
time lembrando-lhes dos prêmios que o esperam.

2.2.7 θάνατος, σφάζω e νεκρός (thánatos, sfázō e nekrós, “morte”)

Na LXX, θάνατος (thánatos, “morte”) é basicamente a tradução de palavras do grupo de


tw<m' (māwēt) e rb,D,, (dēvēr) e a ARA traduziu por “morrer” (Gn 2:17); “peste”, no sentido de
“mortalidade” (2Sm 24:13); “sombra da morte” (Sl 23:4); “matar” (v. ativo, cf. 2Cr 23:17); “ser
morto” (v. passivo, cf. Êx 21:12); “merecer ou dever morrer” (1Sm 26:16), ou seja, em geral a
tradução é a ausência da vida. No NT a palavra ocorre 120 vezes e é traduzida como “morte”
mesmo, mas nem sempre significa necessariamente a ausência da vida, eis alguns exemplos de uso
diferente de “morte”: em Mt 26:38 (o tipo de tristeza de Jesus), At 25:25 (a sentença de morte), Rm
5:5; 6:23 (consequência do pecado), 1Co 15:26 (inimigo do homem), 2Co 4:12 (vida escrava do
pecado), 2Tm 1:10 (o poder da morte), e 1Jo 3:14 (condição espiritual do perdido). Por 19 vezes a
palavra aprece no Ap e está intimamente relacionada com o conceito de fidelidade, pois ela é em
geral o destino dos fiéis, como em 2:10 por exemplo. “O tema da morte é tratado de frente e
amplamente no Ap” (AZEVEDO, 2011, p. 150).
A ARA também traduziu como “morte” a palavra σφάζω, uma palavra que na LXX aparece
56 como tradução de jxv, (ścht) e que, em 36 dessas ocorrências são do livro de Lv onde foi

traduzida por “imolar”, relacionada aos animais sacrificados no templo, e diferente de θάνατος ela
tem uma “implicação de violência e impiedade” (LOUW e NIDA, 1996). Segundo o TDNT a
palavra é derivada da raiz σφαγ-, de onde procede, por exemplo, a palavra φάσγανον (fásganon), que
significa “faca” ou “espada”. No NT apenas João a usa quando fala do assassinato de Abel (1Jo 3:12),

e em Ap (5:6, 9, 12; 6:4, 9).


Uma terceira palavra aparece para morte no Ap, é νεκρός (nekrós), ela está relacionada ao
fato de “estar morto”. Ela refere-se a Jesus (1:5), à condição de Sardes (3:1), e aos “mortos” do
!49

Senhor, que seriam julgados (11:18). Resumindo, as três palavras são um sustantivo, um verbo e um
adjetivo.
Nesta seção serão analisados apenas versículos relacionados à fidelidade dos santos, na
ordem numérica dos versículos, independente de qual palavra grega é usada para “morte”.

2.2.7.1 Ap 1:18 Jesus, o ressuscitado

Duas das três palavras desta seção aparecem neste versículo: Jesus esteve “morto” e é
aquele que tem as chaves da “morte” e do inferno. A soberania de Jesus sobre a morte é um tema
importante no cristianismo, Paulo chega mesmo a considerar a crença na ressurreição de Jesus
como vital à fé cristã (cf. 1Co 15:14), e que é Sua ressurreição que garante a vida eterna a cada
crente (v. 18), ele conclui seu pensamento a respeito deste assunto afirmando que “se a nossa
esperança em Cristo se limita apenas a esta vida, somos os mais infelizes de todos os homens” (v.
19).
Jesus se apresenta então em uma linguagem provavelmente conhecida para aqueles cristãos
atribulados, temerosos e cheios de incertezas, Ele queria mostrar-lhes que as palavras outrora
escritas por Paulo eram verdadeiras e que Ele, Soberano sobre todas as coisas já tinha vencido a
morte, que “Ele é habilitado a controlar mesmo as forças histórica a morte” (BEALE, 1999, p. 214).
O SDABC (7:740) declara que a expressão “estive morto” é “uma referência a crucifixão. Aqui está
uma clara indicação que Aquele que aparece para João em visão era Cristo”. Além disso, em Ap
1:18 “duas figuras do AT, o Filho do Homem, que ‘vem com as nuvens’ (Dn 7:13) como um rei
andando de carruagem (cf. Is 19:1; Sl 104:3) e o mensageiro de Deus, que é perfurado e rejeitado
por Israel (Zc 12:10) estão agora revelados como sendo a mesma pessoa” (BURGE e HILL, 2012).

2.2.7.2 Ap 2:10 Fiel até a morte

Talvez a palavra chave nesta frase seja “até” (ἄχρι, áchri), um vocábulo que expressa a
“medida em contínuo de tempo [de um ponto] até um [outro] ponto” (LOUW e NIDA, 1996),
“assim, permanece normalmente na ligação com as palavras de tempo (BALZ e SCHNEIDER,
1990), o que implicaria no verso que “morte” pode ser considerado “até o tempo da morte”, seja
natural ou por perseguições, esta segunda opção parece estar mais dentro do contexto. Testemunhar
de maneira fiel ao ponto de derramar o sangue é um tema recorrente nas visões do Ap, nem todos
!50

são chamados a serem mártires, mas todos são chamados a serem fiéis e se preciso for, opostos ao
mundo e a cultura circundante (BOXALL, 2006).

2.2.7.3 Ap 2:11 A segunda morte

O tema da segunda morte descrito em Ap 2:11 revela que não há um problema que Jesus
não possa resolver, pois a morte, sendo o pior deles, é descrita como algo já vencido por Cristo, e
Seus seguidores não sofrerão o dano da segunda morte, “a continuação da promessa em v. 11b
mostra claramente que a ‘coroa da vida’ é uma metáfora para a vida eterna” (BEALE, 1999, p. 244).
Por outro lado, revela também que Jesus não ressuscitará alguém que voluntária e deliberadamente
rejeitou o plano da salvação (cf. Hb 10:26-29). No Ap, Cristo não promete que a vida cristã será
sem dificuldades ou tristezas; pelo contrário, Ele deixa claro Seu interesse pela igreja andando pelo
meio dos candeeiros (Ap 1:13; cf. MAXWELL, 2008a, p. 98), para dar confiança em meio as
dificuldades.
Sendo que nesta vida a primeira morte é a morte natural, a segunda morte é a morte eterna,
depois do milênio por ocasião do juízo final. O martírio pode acabar nesta vida, mas não haverá
“segunda morte” para quem “vencer” este mundo. A segunda morte é a extinção final do pecado e
os pecadores, e dela não pode haver ressurreição.

2.2.8 θλῖψις (thlipsis, “tribulação”)

Na ARA θλῖψις (thlipsis) foi traduzida da LXX como segue: “angústia” (Gn 35:3);
“ansiedade” (Gn 42:21); “aflição” (Êx 4:31); “aperto” (Jz 10:14); “tribulação” (1Re 26:24);
“calamidade” (2Sm 22:19); e “opressão” (Sl 44:24). Seu uso no NT é parecido com o que é feito no
AT, “angústia” (Mt 13:21), “tribulação” (Mt 24:21), “aflição” (Jo 16:21), e “sobrecarga” (2Co 8:13)
são as quatro traduções encontradas na ARA. Battistone sugere que esta palavra tenha a ideia de
“um peso de esmagamento” (BATTISTONE, 1989, p. 36).
Três passagens de Romanos contêm informações que ajudarão no entendimento da relação
de θλῖψις com πίστις e πιστός. Rm 5:3 diz que “a tribulação produz perseverança” (ἡ θλῖψις
ὑποµονὴν κατεργάζεται, ē thlipsis hupomonēn katergázetai), ou seja, perseverança é algo que se
mostra apenas nas situações mais adversas, ela é a demonstração externa da fidelidade, que é a
escolha pessoal de lealdade a Deus e Sua causa. Rm 8:35-37 mostra que o amor a Deus é o objeto
de ataque primário na tribulação, e que é esse mesmo amor que transforma os cristãos em “mais que
!51

vencedores”. Em Rm 12:12 Paulo aconselha que os crentes sejam “pacientes na tribulação” (τῇ
θλίψει ὑποµένοντες, tē thlípsei hupoménontes), mostrando assim a necessidade de constância nas
aflições.
Assim como πειρασµός, θλῖψις também apenas aparece na seção histórica do Ap (1:9; 2:9;
2:10; 2:22; 7:14), e é traduzida sempre por “tribulação”.

2.2.8.1 Ap 1:9 João, “companheiro na tribulação”

A “tribulação”, a qual a Bíblia se refere e a qual João faz constantes alusões, são as
perseguições sofridas por causa de Cristo e também o sentimento de angústia provocada por elas.
João experimentou isso na própria pele, e nisto cumpriu-se a predição de Cristo de que os próprios
discípulos passariam por “tribulação”. Jesus disse: “Então sereis atribulados e vos matarão. Sereis
odiados de todas as nações, por causa do meu nome” (Mt 24:9, grifo nosso). Beale (1999, p. 201)
considera θλῖψις como “uma fórmula para a realeza”, ele ressalta: “a resistência fiel através da
tribulação é o meio pelo qual alguém reina no presente com Jesus. Os crentes não são meros súditos
do reino de Cristo”.
João também afirma ser συγκοινωνός (sygkoinōnós, “companheiro”) na tribulação, esta
palavra vem da raiz κοινος (koinos) e significa “aquele que participa com outro em alguma empresa
ou questão de interesse comum, ‘sócio’, ‘associado’, ‘aquele que se junta com’” (LOUW e NIDA,
1996), ou ainda “aquele que age em conjunto com outra pessoa em uma posse ou relacionamento,
com ênfase sobre o que está em comum, ‘participante’, ‘parceiro’, ‘aquele que age
dentro’” (IDEM). Essa palavra ressalta o valor da irmandade cristã como comunidade que se apóia
em meio a perseguição.

2.2.8.2 Ap 2:9 A tribulação de Esmirna

Assim como os próprios discípulos deveriam sofrer tribulação, a igreja de Ermirna também
enfrentaria uma situação difícil, sua tribulação consistia em dois aspectos: “pobreza” e “blasfêmia”.
Os crentes de Esmirna tinham “pobreza”, provavelmente literal (VINCENT, 1887), mas Jesus lhes
promete a riqueza escatológica da “coroa da vida”. Também tinham de enfrentar “a blasfêmia dos
que a si mesmo se declaram judeus e não são, sendo, antes, sinagoga de Satanás”, pois assim como
Jesus foi condenado com o uso de testemunhas falsas, os crentes de Esmirna provavelmente
!52

enfrentaram também episódio semelhante. Certamente apoiados por autoridades romanas, muitos
judeus acusaram os cristãos de crimes contra o império (ECKLEY, 2006).

2.2.8.3 Ap 2:10 “Tribulação de 10 dias”

Alguns comentaristas consideram estes “dez dias” como uma representação da limitação
de tempo imposta por Deus para que a igreja soubesse que logo sua tribulação teria fim (cf.
BEALE, 1999; AUNE, 1998; MOUNCE, 1997; OSBORNE, 2002). A citação a seguir exemplifica
o pensamento dos comentaristas evangélicos em geral.

(1) É um número pequeno, mas redondo, talvez um semitismo que significa um período
completo ainda breve de tempo […] (2) que remete para o teste de dez dias de Daniel em
Daniel. 1:12-14, portanto, a um período limitado […] (3), enquanto limitado, é também
longo o suficiente para designar perseguição graves […] (4), estes são dez períodos
históricos de perseguição, provavelmente menos de dez imperadores romanos […] (5), este
é um período de dez dias literal, um breve, mas grave surto de perseguição que ocorre logo
após a carta aparecer […] (6) é a linguagem da arena, semelhante às inscrições celebrando
os combates de gladiadores; os jogos de Esmirna seriam muitas vezes, especialmente
perigosos, de sentimento anti-cristão, e isso pode se referir a um curto período de tempo em
que o perigo de morte iminente foi ótimo. […] O principal aspecto é a duração, mas
bastante grave limitado de tempo, simbolizado no “por dez dias”. Deus está no controle e
vai ter certeza de o período não é muito grande, mas vai ser um momento terrível, no
entanto (OSBORNE, 2002, p. 134).

Por outro lado, há na interpretação historicista a visão de que esses “dez dias” refiram-se
ao período de dez anos de perseguição promovido pelo imperador Diocleciano nos anos de 303 d.C.
até 310 d.C. (SDABC, 7:747). O fato é que o período seria curto e Jesus incentiva-os a
permanecerem firmes.

2.2.9 ταχύς (tachys, “sem demora”)

Os cristão primitivos viviam para a volta do Senhor. Na primeira carta aos tessalonicenses,
Paulo diz “nós, os vivos, os que ficarmos” (1Ts 4:17), ele aconselha que os irmãos não estejam em
“trevas” para que “esse dia como ladrão vos apanhe”.
No AT (LXX) ταχύς (tachys, “sem demora”) é usada de diferentes formas: Isaque ficou
impressionado porque Jacó (disfarçado de Esaú) achou a caça tão “depressa” (Gn 27:20). O povo de
Israel “cedo” se desviou do caminho do Senhor (Dt 9:12); a emboscada contra a cidade de Ai
levantou-se “apressadamente” (Js 8:19), os malfeitores do Sl 37:1 “dentro em breve” definharão (v.
2), “dá-te pressa” é o pedido de socorro do salmista Davi (Sl 141:1); ταχύς é também o homem
“precipitado” em suas palavras (Pv 29:20), o grande dia do Senhor muito se “apressa” (Sf 1:14), e
!53

Ml 3:5 apresenta a testemunha “veloz”. Esses exemplos esclarecem de forma geral que ταχύς é
“ter” ou “fazer” algo de maneira “rápida” ou “apressada”, geralmente num contexto de urgência.
Seu uso no NT se limita a 13 ocorrências dividas em: três vezes em Mateus (5:25 “sem
demora”; 28:7, 8 “depressa” e “apressadamente”); uma vez em Marcos (9:39 “logo a seguir”); uma
vez em Lc (15:22 “depressa”); uma vez em João (11:29 “depressa”); e uma vez em Tg (1:19
“pronto”); essas são as ocorrências fora do Ap, que por sua vez apresenta ταχύς em seis ocorrências:
2:16; 3:11; 11:14; 22:7; 22:12; e 22:20, sendo que as de 2:16 e 11:14 não estão relacionadas
diretamente com a volta de Jesus.

2.2.9.1 Ap 3:11 A promessa na seção histórica

O senso da urgência é algo essencial no conceito de fidelidade no Ap; estudar a palavra


ταχύς é importante para valorizar ainda mais as palavras já estudadas anteriormente.
A promessa da volta do Senhor “sem demora” ocorre à igreja da Filadélfia, e, junto com
este aviso vem a advertência para que eles conservassem o que tinham, para que ninguém lhes
roubasse sua coroa. O tema da urgência é apresentado em Mt 24, quando Jesus apresenta aos Seus
discípulos o sermão profético de Sua Vinda. Maxwell (2008a) descreve como alguns “sinais” da
vinda do Senhor cumpriram-se ainda no primeiro século, isso deve ter deixado os apóstolos ainda
mais apreensivos com relação a este assunto. O “quando” de Sua vinda é menos importante do que
o preparo para ela, Ele disse: “Não vos compete conhecer tempos ou épocas que o Pai reservou pela
Sua exclusiva autoridade” (At 1:7).
Ao alertar sobre esse assunto, Jesus tem como principal interesse ajudar Seus seguidores a
ficarem alertas, “para que ninguém tome a tua coroa”. Seu interesse é que haja uma busca espiritual
pessoal e diária por parte de Seus discípulos, para que, quando Ele voltar, não seja visto como um
estranho que chegou de surpresa, “é necessário ter sempre em mente o fato da vinda de Jesus ‘sem
demora’, porque, para que esta vinda de Jesus seja uma bênção para nós” (ROTTMANN, 1993, p.
128).
!54

3 IDENTIFICANDO FIDELIDADE EM AP 12-22

Antes de prosseguir com a análise das palavras em Ap 12-22, há ainda dois versículos que
devem ser analisados, eles estão localizados entre as sete igrejas e a segunda parte do Ap. Eles
contém as palavras θλῖψις (thlipsis, “tribulação”) e σφάζω (sfázō, “morto”), que é uma outra palavra
para morte. Ambos os versículos devem ser interpretados tendo em vista a Idade Média, época em
que provavelmente aconteceu seu cumprimento.

3.1 A IDADE MÉDIA NA PROFECIA

Começando por 538 d.C. e indo até 1798 d.C., há o período da supremacia papal (TIMM,
2005), dentro deste período a Igreja Católica Romana perseguiu a quantos não fossem a favor de
sua teologia, eles eram chamados de “hereges”. Na verdade quem executava os condenados era a
justiça comum e não a Igreja em si (PERES, 1998). “O estado aplicava a pena que achava mais
conveniente, porém na maioria das vezes, representava a fogueira. Em certas ocasiões, empregava
outros recursos para que o condenado não morresse imediatamente” (IDEM, 1998, p. 52). As
formas de tortura de execuções capitais eram as mais criativas possíveis. Peres (1998) descreve
inúmeros instrumentos de torturas usados na chamada “Santa Inquisição”.
Green (2007, p. 37) resume a Santa Inquisição nas seguintes palavras:

Como esta história demonstra, para compreender a natureza da Inquisição não são
necessárias lendas negras ou brancas. De fato, há um enorme arquivo de registros. Muitas
vezes, ao lê-los, a reação pode ser tanto de alegria quanto de tristeza. Às vezes, a alegria é
causada pelos diversos exemplos de pessoas que não se deixara acovardar pelo medo; em
outras, é temperada com admiração pela perspicácia dos prisioneiros diante da adversidade.

Um fato curioso sobre este período, apenas pra citar uma das aberrações da época, é que
era proibido aos funcionários da igreja derramar sangue, então se fabricaram instrumentos
“idealizados para causar o máximo de dor e o mínimo de sujeira”; o fogo foi “o instrumento
supremo da Inquisição” por esse motivo (BAIGENT e LEIGH, 2001, p. 45). “Por meio do martírio,
da auto-mortificação, da meditação e contemplação, da solidão do ritual, da penitência da,
comunhão, dos sacramentos – por todas essas vias, dizia-se que o Reino dos Céus se abria para os
crentes” (IDEM, p. 19). Eles ainda ironizam a situação, dizendo que as indulgências e cruzadas
eram “um pacote cujo vulto e valor de mercado bem poderiam ser invejados pelo vendedor de
seguros hoje” (IDEM, p. 21).
Este período é apresentado na Bíblia como a “grande tribulação” (ver 3. 1. 1. 1 neste
54
!55

trabalho), e é caracterizado principalmente por apostasia da igreja cristã e perseguição àqueles que
se mantiveram fiéis.

3.1.1 θλῖψις (thlipsis, “tribulação”)

3.1.1.1 Ap 7:1 “A grande tribulação”

Um dos anciãos declara a João quem são e de onde vieram aqueles “que se vestem de
vestiduras brancas”: são “os que vieram da grande tribulação”, diz ele (Ap 7:14). A alusão a Dn
12:1 é muito provável aqui, “na tribulação de Daniel, o adversário escatológico persegue os santos
por causa da sua lealdade à aliança com Deus (cf. Dan. 11:30–39, 44; 12:10)” (BEALE, 1999, p.
433). No NT Mt 24:21 é o único versículo que usa tal expressão. Talvez a palavra µεγάλης
(megálēs, “grande”) seja usada para diferenciar da pequena tribulação de “dez dias” pela qual
deveriam passar os crentes de Esmirna.
Maxwell (2008a, p. 36) considera a “grande tribulação” como a tribulação passada pela
igreja cristã durante a idade média, principalmente entre os anos de 538 d.C. e 1798 d.C., quando o
poder papal da igreja Católica atuava com grandes perseguições aos “hereges”. Este foi um período
longo e de grande alcance geográfico. De fato, nenhuma outra perseguição religiosa poderia ser
chamada de “grande tribulação”, quando comparada com a Idade Média.
Porém, tais acontecimentos mostraram também que sempre Deus mantém um
remanescente fiel. Estes homens e mulheres provaram que, mesmo distantes cronologicamente da
época dos apóstolos, é possível permanecer fiel àquilo que Deus deseja. Ensinaram por suas vidas e
mesmo mortes que fidelidade não era um tema apenas para igreja cristã primitiva, mas deveria ser
uma característica sempre presente na igreja até a volta do Senhor.

3.1.2 σφάζω (sfázō, “morto”)

3.1.2.1 Ap 6:9 Mortos por causa da Palavra de Deus e por causa do Testemunho de Jesus

Nesta passagem, a palavra usada para “morte” é σφάζω (sfázō), que também poderia ser
traduzida por “imolado”, como cordeiros oferecidos neste “altar”. Dois esclarecimentos são
importantes neste verso, antes de se ver o aspecto da fidelidade: o selo e as almas.
Para explicar os sete selos, LaRondelle (1999b), usa o conceito exposto por outros
!56

comentaristas de que os selos são um desdobramento do discurso apocalíptico de Jesus de Mc 13


(ver Quadro 1), significando um panorama de acontecimentos mundiais, assim como as sete igrejas
são um desdobramento da história interna da igreja.

Quadro 1. Comparação entre Marcos 13 e Apocalipse 6


Mc 13 (e paralelos) Ap 6

1. Guerras v. 7; Mt 24:6 Guerra v. 2

2. Luta internacional v. 8; Mt 24:7 Luta v. 4

3. Terremotos v. 8; Mt 24:7 Fome vv. 5, 6

4. Fomes v. 8; Mt 24:7 Pestilência v. 8

5. Perseguição vv. 9, 11; Mt 24:9 Perseguições vv. 9, 10

6. Pregação do Evangelho vv. 10, 13; Mt 24:14 Tempo de espera v. 11

7. Eclipse, queda das vv. 24, 25; Mt 24:29 Eclipse, queda das estrelas vv. 12, 13
estrelas
8. Temor pela vinda de v. 19; Lc 21:25, 26; Mt 24:30 Temor pela ira do Cordeiro vv. 15-17
Cristo

Fonte: LaRondelle (1999b).

O quinto selo é, portanto, uma descrição de grande perseguição histórica, que haveria
contra o povo de Deus. Ap 6:9 pode ser a demonstração histórica do destino daqueles que seriam
fiéis nesta ocasião; pode representar em especial a perseguição feita pela igreja romana da Idade
Média, onde milhares de cristãos foram mortos porque foram fiéis até as últimas consequências,
não se importando nem mesmo com a própria vida. Porém, seu clamor por vingança não ficará sem
resposta, em Ap 11:18 encontra-se a promessa de que cada um será julgado e receberá sua
recompensa. Neste ponto, nota-se mais uma que no livro do Ap a morte não é um problema para
Deus, ela deve ser encarada como a prova máxima de teste de fidelidade.
Quanto às “almas” debaixo do altar, não se deve pensar de modo algum que a Bíblia é a
favor da doutrina onde as almas dos seres humanos vagam conscientemente pela Terra, elas
representam todos os mártires sacrificados no altar do martírio, foram fiéis até a morte, foram
oferecidos como sacrifícios a Deus; sobre este tema a citação abaixo, é bastante reveladora:

Uma vez que estas almas foram martirizados e seu sangue, em que suas vidas residia, foi
derramado, eles são representados como estando sob o altar no céu. Isto não indica seu
estado ou localização no estado intermediário. É apenas uma maneira vívida de retratar o
seu martírio. Ele pode estar em consonância com o fato de que quando os sacrifícios eram
feitos no AT, o sangue foi derramado ao redor da base do altar (Lv 4:7, Êx 29:12). O sangue
clama por vingança de lá. Mártires são pensados como sacrifícios oferecidos a Deus (2Tm
4:6, Fp 2:17). […]. As almas estão sob o altar, porque eles têm sido sacrificado nele. Esta é
uma maneira de dizer que do ponto de vista de Deus, o seu martírio é visto como um
sacrifício no altar do céu (TRAIL, 2008a, p.158).
!57

3.2 ANÁLISE DE PALAVRAS NA SEÇÃO ESCATOLÓGICA

Neste capítulo será feito novamente análise de palavras, porém contextualizando-as na


seção escatológica. O quadro abaixo compara as ocorrências das palavras nas cartas às sete igrejas e
sua ênfase escatológica.

Quadro 2. Comparação entre o uso de palavras no livro do Apocalipse


Palavra grega Tradução Sete Igrejas Ênfase Escatológica

πίστις fé/fidelidade 2:13, 19 13:10; 14:12

πιστός fiel 1:5; 2:10, 13; 3:14 17:14; 19:11; 21:5; 22:6

τηρέω guardar 1:3; 2:26; 3:3, 8 e 10 12:17; 14:12; 16:15; 22:7

κρατέω conservar 2:1, 13 e 25; 3:11 -

ὑποµονή perseverança 1:9; 2:2, 3 e 19; 3:10 13:10; 14:12

2:7; 2:11; 2:17; 2:26; 3:5; 12:11; 15:2; 21:7


νικάω vencer 3:12; 3:21

θάνατος morte 1:18; 2:10, 11; 6:9 12:11; 14:13; 18:24

νεκρός morto 1:18 14:13

σφάζω decapitar (6:9) 18:24

ἀποκτείνω matar com violência - 13:15

θλῖψις tribulação 1:9; 2:9, 10. (7:14) -

ταχύς sem demora 3:11 22:7, 12 e 20

Fonte: O próprio autor.

Em relação ao tempo de cumprimento das profecias apocalípticas e o tempo atual, em que


altura está o desenrolar das profecias? Maxwell (2008a, p. 61, grifo nosso) crê que

o quiasma que estrutura o Apocalipse, divide as profecias do livro em dois grandes grupos
principais: aquelas que tratam quase exclusivamente dos eventos dos últimos dias (a
segunda metade do livro) e aquelas que se relacionam com a experiência do povo de Deus
durante a era cristã (a primeira metade do livro). A primeira metade podemos designar
como “porção histórica”, e a segunda como “porção escatológica”.

Ele também afirma que “nem tudo aquilo que tem a ver com a porção histórica aconteceu”,
e que principalmente o clímax de cada divisão pode encontrar-se ainda no futuro em relação à era
atual (Ibid.), ainda conclui seu pensamento declarando: “Quanto do Apocalipse ainda está no
futuro? Virtualmente toda a segunda metade, a escatológica, está por ser cumprida” (IDEM, p. 62,
!58

grifo nosso). Porém, o que Maxwell (2008a) ignora é que se o “clímax” das seções na porção
histórica são fatos ou acontecimentos escatológicos, pode-se se dizer também que as introduções
das seções na porção escatológicas são históricas, e estão no passado, ou seja, o Ap não está
necessariamente em uma ordem estritamente cronológica, apesar da possibilidade de indentificá-la
em linhas gerais.
O entendimento deste aspecto histórico/cronológico do Ap é importante para a
compreensão de que em um futuro breve, será exigida do remanescente dos últimos dias, a mesma
qualidade de fidelidade que a dos cristãos apresentados nas sete igrejas e no decorrer da história,
isto quer dizer que a perseguição mais antiga serve de protótipo do que viria acontecer no tempo do
fim (LARONDELLE, 1989). LaRondelle (1989, p. 350) ainda diz que “[...] o propósito do Ap de
João é encorajar a Igreja universal através das eras até o fim [dos tempos] a resistir ao poder
enganador e perseguidor do anticristo-besta e de seu aliado, o falso profeta, e a superar a marca
escatológica da besta quando ela for imposta sobre as nações”. Por isso, tão importante quanto o
entendimento registro histórico/cronológico é a compreensão de que os capítulos 12-18 em especial
são uma descrição de um teste futuro pelo qual será provada a fidelidade dos santos; e a adoração à
besta e à sua imagem são fatores significantes neste teste (GULLEY, outono, 1994). Assim, existe
na porção escatológica mais do que uma descrição do que ocorrerá no futuro, ela é um manual de
instrução para aqueles que vivem no tempo do fim. “Um subtítulo para o livro do Ap poderia ser
‘Um Manual para Mártires’. O propósito básico do livro é encorajar os cristãos perseguidos e as
igrejas perseguidas nas últimas décadas do primeiro século cristão” (RAMM, 1972, pp. 114-145).
Há uma interessante ilustração que pode ajudar na compreensão do objetivo das
advertências e incentivos à fidelidade na porção escatológica:

Na Primeira Guerra Mundial milhares de soldados contraíram sífilis através de prostitutas,


mesmo eles estando advertidos contra isso. Foram os seus comandantes responsabilizados
quando a doença arruinou a vida deles? Deveria os oficiais ser presos pela desobediência de
seus soldados? O modelo do grande conflito mostra-nos que Deus tem colocado
advertências: “Entre por seu próprio risco.” Ele tem nos dado um código de conduta militar,
um manual de treinamento, um guia de estratégia, um mapa das áreas minadas e das
estradas e pontes seguras. Estamos lendo ele? (IDEM, 1999, p. 94).

A seguir serão analisadas sete das nove palavras estudadas no capítulo 1, dando especial
atenção a πίστις em Ap 13:10. As análises feitas neste capítulo visam mostrar a repetição das
palavras na segunda parte do livro do Ap, sugerindo principalmente que as atitudes de fidelidade
dos cristãos do I século devem repetir-se na vida do remanescente escatológico. A imagens neste
caso são mais ricas no aspecto profético, porém sugerem lições igualmente práticas.
!59

3.2.1 πίστις (pístis, “fé”)

As duas ocorrências de πίστις na porção escatológica são traduzidas de maneira diferentes


na ARA, em 13:10 foi usada a palavra “fidelidade”, e em 14:12 foi a palavra “fé”, cada uma delas
em seu contexto é traduzida com o propósito de expressar a lealdade a Deus por parte do
remanescente fiel.

3.2.1.1 Ap 13:10 “a fidelidade dos santos”

Nenhuma ocorrência de πίστις ou πιστός acontece dentro de um contexto tão dramático e


usado em uma hora tão propícia quanto a ocorrência de Ap 13:10 (cf. HOLMES, 1997, p. 6). Ap 13
contém a visão das duas bestas e é rico em imagens e alusões ao AT, especialmente do livro de
Daniel. A primeira besta reflete claramente Dn 7, com seus animais simbolizando reinos (Dn 7:17),
incluindo o chifre pequeno. A segunda besta faz claras referências a Daniel 3 e 6, onde são
encontradas palavras como “imagem”, “decreto”, “adoração” e “morte”. Os vv. 9 e 10 formam o
centro do cap. 13, posicionando-se entre as duas bestas, sendo um interlúdio.
Esse trecho (vv. 9 e 10) pode ser dividido em: (1) v. 9: “Uma chamada de atenção”; (2) v.
10a: “O cativeiro”; (3) v. 10b: “A espada”; (4) v. 10c: “Aqui está”. As linhas a e b do v. 10 são uma
referência à Je 15:2, descritas em poesia, tal como aparecem no AT, porém usada de forma
diferente, “reciclada” (STUART e FEE, 2008). O v. 10 tem um papel importante para esta pesquisa
porque (1) algumas versões (NVI e ARA por exemplo) traduzem πίστις como “fidelidade” e não
“fé”; (2) diferente de Ap 14:12, a ênfase em Ap 13:10c parece estar mais sobre a “perseverança e a
fidelidade” do que sobre os “santos”; e (3) ele é um vocativo direto à fidelidade, “um convite a
perseverar e a vencer” (ARENS e MATEOS, 2004, p. 221), apesar de que alguns preferem vê-lo
como uma frase que “é um chamado à paz, um chamado a deixar o julgamento de nossos inimigos
nas mãos de Deus e do Cordeiro”. (MICHAELS, 1997). O fato é que “o ponto focal desta seção [Ap
13] deve ser reconhecido no verso 10, uma ordem aos cristãos para terem paciência e fé em face da
predominância do mal” (KIDDLE, 1940, p. 248). Aune (1998b) diz as seguintes palavras sobre esta
seção: “Estes dois versos tem um caráter todo diferente quando comparado com a visão narrada em
13:1–8, pois eles servem como comentário sobre o significado da visão. É como se o texto fosse
uma seção hermenêutica, é uma adição redacional feita pelo autor”.
Ouvir (Ap 13:9). Em Ap, o chamado para “ouvir” aparece primeiramente nas cartas às
sete igrejas. A expressão usada nas cartas é “ὁ ἔχων οὖς ἀκουσάτω” (cf. 2:7, 11,17, 29; 3:6, 13, 22),
!60

e ela parece proceder do uso feito pelo próprio Jesus nos evangelhos sinóticos. Em todas as
ocorrências sinóticas, a expressão usada por Jesus refere-se ao Reino de Deus, seja um convite à
aceitação (Mc 4:9; Lc 8:8), seja um convite à compreensão (Mc 4:23), seja uma advertência (Mt
11:15) ou seja para admoestação (Lc 15:35). João pode ter utilizado esta expressão nas cartas para
associá-las a Jesus, uma vez que Ele é o autor primário de cada uma delas.
A expressão significa um chamado para prestar atenção, e junto com o v. 10 forma um
parêntesis na descrição das bestas. “Aqui este dizer provavelmente funciona como uma transição
exortando o leitor especialmente a atender a ordem de 13:10 bem como ouvir cuidadosamente a
mensagem de 13:1–8” (OSBORNE, 2002, p. 504). Porém, diferentemente dos cap. 2 e 3, em Ap
13:9 a expressão que aparece é “εἴ τις ἔχει οὖς ἀκουσάτω”. A diferença básica entre a expressão
usada nas cartas e esta do capítulo 13 é o uso da conjunção εἴ (se), que é uma conjunção adverbial
condicional, εἴ pode ser “um marcador de uma condição, real, hipotética, atual ou contrária ao
fato” (SWANSON, 1997). O texto não deixa claro o motivo da diferença, porém, dadas as
condições aterradoras do capítulo, é bem possível que João esteja pondo em dúvida a atenção dos
crentes. A palavra εἴ assume mais do que simplesmente o papel de condição, mas o de deixar claro
que existe a possibilidade de uma perda de compromisso por parte do povo de Deus; εἴ faz cada
crente lembrar a advertência: “Aquele, pois, que pensa estar em pé veja que não caia” (1Co 10:12).
O verbo “ouvir” encontra-se no tempo aoristo, modo imperativo, voz ativa, o “imperativo
aoristo denota um comando ou súplica simplesmente para fazer uma ação sem qualquer respeito à
sua continuidade ou freqüência” (NUNN, 1923, p. 48), ou seja, é uma ordem expressa. Ouvir
significa mais do que simplesmente escutar, é uma ordem dada por Jesus aos “santos” para que
dediquem tempo para meditar sobre os acontecimentos descritos nos vv. 1-8 e 11-18, que
descrevem as bestas e a perseguição sofrida pelo povo de Deus, pois alguém que decida enfrentar a
crise final deverá primeiramente compreendê-la. Também é um apelo para dar-se atenção à
mensagem do versículo 10, onde fica claro que a perseguição é descrita como real e mortal. Essas
são verdades do Reino de Deus também, e o entendimento delas é uma questão de vida ou morte
eternas (Ap 13:15).
É importante lembrar que cada convite a “ouvir” nas cartas é acompanhado por uma
promessa (SDABC, 7:745). Cada um que preste atenção no verso 10, encontrará um eco de
esperança e de certeza de que tudo terminará bem.
Jeremias 15:2, a passagem em seu contexto original. O v. 10ab é uma alusão à Je 15:2.
Entender o uso que o NT faz do AT é muito importante para compreender o significado desta
passagem. Esta é uma ciência interessante que vale a pena ser discutida antes da análise do texto.
!61

Segundo uma classificação do uso do AT no NT feita ainda no primeiro século, os estilos de uso são
divididos basicamente em três: (1) midrash, uma explanação; (2) pesher, textos do AT conectados
com eventos do NT; e (3) gezerah shawa, onde dois ou mais versos usando as mesmas palavras em
diferentes partes da Bíblia são interpretados à luz de cada um (BOA e KRUIDENIER, 2000).
Osborne (2002) fala a respeito de três possíveis usos do AT no livro do Ap: citação, alusão e eco, ele
classifica (em OSBORNE, 2009) citação como algo próximo da tradução literal de uma passagem;
alusão como o uso de várias palavras ou expressões e um eco como o uso de um tema ou de alguns
termos de uma passagem, e o autor pode usar um eco de forma consciente ou não. Paulien (1992, p.
90) sugere uma classificação em “categorias” para as alusões em potencial: “alusões certas,
prováveis alusões, possíveis alusões, alusões incertas e não alusões”.
O versículo 2 de Jeremias pode ser divido da seguinte maneira:
(1) O diálogo entre Deus e Jeremias comparável ao diálogo entre Deus e Moisés na sarça
ardente;
(2) A frase determinante de proclamação “Assim diz o Senhor”; e
(3) A poesia condenatória, a qual provavelmente João fez uso no Ap.
O texto hebraico traz a seguinte inscrição de Jeremias 15:2:

~h,ylea] T'r.m;a'w> acenE hn"a' ^yl,ae Wrm.ay-yKi hy"h'w>


hw"hy> rm;a'-hKo
ybiV,l; ybiV.l; rV,a]w: b['r'l; b['r'l; rv,a]w: br,x,l; br,x,l; rv,a]w: tw<M'l; tw<M'l; rv,a]

O texto grego de Je 15:2 tem algumas semelhanças com Ap 13:10, o que leva muitos
comentaristas à conclusão de que João realmente fez uso do texto. Na LXX diz:

καὶ ἔσται ἐὰν εἴπωσιν πρὸς σὲ Ποῦ ἐξελευσόµεθα;


καὶ ἐρεῖς πρὸς αὐτούς Τάδε λέγει Κύριος Ὅσοι εἰς θάνατον, εἰς θάνατον·
καὶ ὅσοι εἰς µάχαιραν, εἰς µάχαιραν·
καὶ ὅσοι εἰς λιµόν, εἰς λιµόν·
καὶ ὅσοι εἰς αἰχµαλωσίαν, εἰς αἰχµαλωσίαν.

Na primeira parte do versículo, Deus estava dando a Jeremias uma resposta a uma pergunta
que ainda não existia, mas, que poderia vir a existir. Esta parte do discurso é muito semelhante a
conversa entre Deus e Moisés por ocasião do episódio da sarça ardente (Êx 3:13-15), naquela
ocasião Deus chama um homem para levar uma mensagem de libertação ao povo de Israel que se
encontrava no cativeiro egípcio, porém em Jeremias é apresentado em um movimento anti-êxodo,
onde um homem é chamado para levar uma mensagem de prisão, encaminhando o povo de novo
!62

para o cativeiro. Outra semelhança entre Moisés e Jeremias é o fato de “ambos sentirem [-se]
inaptos para a tarefa” (cf. Êx 3:11; Je 1:6).
Jeremias apresenta a fala de Deus como uma poesia e está divida em quatro frases bastante
contundentes que, sem dúvida, foram projetadas “para impressionar [...] sobre a impossibilidade de
escape” (SDABC, 4:416), o quadro abaixo compara os textos hebraico (AT) e grego (NT) das
palavras em questão:

Quadro 3. Comparação entre Jeremias 15:2 e Apocalipse 13:10


Hebraico Grego na LXX Uso feito no Ap UBS

^yl,ae Wrm.ay-yKi καὶ ἔσται ἐὰν εἴπωσιν πρὸς σὲ -


acenE hn"a Ποῦ ἐξελευσόµεθα;
-
~h,ylea] T'r.m;a'w> καὶ ἐρεῖς πρὸς αὐτούς
-
hw"hy> rm;a'-hKo Τάδε λέγει Κύριος
-
tw<M'l; tw<M'l; rv,a] Ὅσοι εἰς θάνατον, εἰς θάνατον· (João usa ἀποκτείνω em substituição a θάνατος
usado na LXX)

br,x,l; br,x,l; rv,a]w: καὶ ὅσοι εἰς µάχαιραν, εἴ τις ἐν µαχαίρῃ ἀποκτανθῆναι
εἰς µάχαιραν· αὐτὸν ἐν µαχαίρῃ ἀποκτανθῆναι.

b['r'l; b['r'l; rv,a]w: καὶ ὅσοι εἰς λιµόν, εἰς λιµόν· (João não faz o uso da palavra λιµόν em seu texto)

ybiV,l; ybiV.l; rV,a]w: καὶ ὅσοι εἰς αἰχµαλωσίαν, εἴ τις εἰς αἰχµαλωσίαν,
εἰς αἰχµαλωσίαν. εἰς αἰχµαλωσίαν ὑπάγει·

Fonte: O próprio autor.

A preposição l. “para” junto com cada um dos quatro substantivos assume a função de

predicativo do sujeito, caso seja admitida a suposição de que o verbo ser é o melhor verbo de
ligação a ser usado na tradução, situando-o entre o sujeito rv,a] (ʾasher, “o qual”) e o objeto da

oração. Porém, se for levada em consideração a ordem de Deus no verso 1, onde diz “lança-os de
diante de Mim” (ARA), cada uma das quatro sentenças poderia receber o verbo ir, mostrando assim
o destino de cada grupo. Deste modo, as sentenças teriam adjuntos adverbiais diferentes, “morte” e
“fome” adj. adverbial de causa, “espada” adj. adverbial de instrumento e “cativeiro” adj. adverbial
de lugar. Keil e Delitzsch (2002) dizem que cada uma das frases “devem ser plenamente
compreendias a partir de uma analogia de 2Sm 15:20, 2Re 8:1, assim, antes de cada segunda
‘morte’, ‘espada’, etc., nós deveríamos acrescentar o verbo [conjunção verbal] ‘deve ir’”. Essa
explicação favorece em muito o Códice A que tem uma redação diferente do Textus Receptus de Ap
13:10, levando a conclusão de que verso seria realmente uma advertência divina sobre o destino dos
!63

fiéis e um incentivo à fidelidade (FRUTUOSO DE SOUZA, 2013).


A NET Bible chama a atenção para o fato de que morte, espada e fome são os castigos
naturais para aqueles que abandonassem a aliança divina (Lv 26:23-26). O tríade castigo aparece
como um padrão no livro de Jeremias (14:12: 21:7, 9; 24:10; 27:8, 13; 29:17, 18; 32:24; 36; 34:17;
38:2; 42:17, 22: 44:13; além de outras passagens com padrões variados), e em 15:2 em especial, é
adicionado o cativeiro, talvez como uma nota de esperança indicando que haveria um remanescente.
Supondo que Jeremias 15:2 é uma mensagem para o ano de 616 a.C., época do rei Josias,
porém seis anos apenas anteriores à sua morte, é compreensível a ameaça de um guerra vinda de
Babilônia, usada neste caso como instrumento de Deus para cumprir o castigo referente ao não
cumprimento da aliança por parte de Judá que acompanhou o rei Manassés em sua idolatria e
desobediência. Comentando sobre a morte em guerras, Wiersbe (2006, p. 961) diz: “uma mulher
com sete filhos era considerada especialmente abençoada, mas se todos fossem mortos na batalha,
seria como se o sol tivesse se posto antes da tarde, interrompendo o dia”.
Concluindo, Jeremias está falando de um castigo que seria aplicado ao povo de Israel por
sua desobediência ao concerto deuteronômico, e seu objetivo não é incentivar o povo de Israel a
fidelidade, como faz João no Ap.
Cativeiro. No AT αἰχµαλωσίαν (aichmalōsían, “cativeiro”) é usado apenas em sentido
literal. Ele acontece basicamente pelos seguintes motivos: cidadãos israelitas levados em cativeiro
como resultado de guerra (cf. Nm 21:1); estrangeiros feitos cativos em guerra (Nm 31:12); ameaça
de maldição em descumprir os mandamentos de Deus (Dt 28:41); em Crônicas e Esdras aparece
principalmente como o cumprimento desta ameaça (2Cr 6:37); vingança de Deus pelos filhos de
Israel (Am 1:15). Em Jeremias, ele é especialmente usado para falar dessas ameaças e vinganças
contra o rebelde Israel e seus reis desviados.
Na poesia de Jeremias, o quarto grupo deveria seguir para o cativeiro. Porém como dito
anteriormente, existe um padrão tríade de castigo no livro de Jeremias. Fazem parte desta tríade (1)
a morte/praga/peste/doença, (2) a espada/guerra e (3) a fome6. Porém a poesia profética de Jeremias
acrescenta um quarto elemento, o ybiv., traduzido geralmente como “cativeiro” (STRONG, 1996).

Paschall e Hobbs (1972, p. 448), chamam o cativeiro de “a maior calamidade nacional” para Israel.
Esse cativeiro é identificado pela maioria dos comentaristas como a primeira invasão babilônica em
605 a.C. (cf. SDABC, 4:544), no terceiro ano do reinado de Jeoaquim, onde grupos de judeus foram
levados presos (Dn 1:1-3).

6 “Fome” não é apenas a vontade de comer, mas um profundo desespero por comida. Em inglês a palavra “starvation”
traduz bem a palavra “fome” usada aqui. Seria como “morrer pela fome”.
!64

A palavra αἰχµαλωσίαν (aichmalōsían) aparece apenas em dois textos no NT, em Ap 13:10


e Ef 4:8, e seu significado básico é “cativeiro” (em guerra) (BALZ e SCHNEIDER, 1990), “uma
pessoa miserável que fica em especial necessidade da ajuda de Deus” (KITTEL, FRIEDRICH e
BROMILEY, 1985). O sentido figurado de αἰχµαλωσίαν aparece no NT e é usado principalmente
por Paulo no sentido de “interior moral e luta religiosa de um homem e por um homem” cativo.
Certamente esse não é o sentido usado por João no Ap. João refere-se diretamente à
cativeiros no Ap: (1) o seu próprio (1:9); a prisão dos crentes de Esmirna (2:10); e (3) a perseguição
dos santos (13:7). “Cativeiro” no Ap é resultado de uma guerra, assim como no AT, porém os
motivos da guerra são de dimensões muito maiores e profundas do que das guerras do AT, isso
implica também que o próprio conceito da palavra deve ir além de simples encarceramento, pois
toda e qualquer privação passada por causa da Palavra de Deus e do Testemunho de Jesus é uma
forma de cativeiro.
Espada. O mesmo acontece com µάχαιρα (máchaira, “espada”), no AT a palavra pode
referir-se ao objeto de metal, ou pode ser um símbolo para guerra (como em Je 15). O Ap apresenta
diferentes tipos de espada: a espada que sai da boca de Jesus glorificado (1:16; 2:12, cf. Ap 19:15,
21); o instrumento do segundo cavaleiro (6:4); o resultado da atuação do terceiro cavaleiro (6:8); o
instrumento de perseguição e a maneira como a besta será destruída (13:10); a maneira pela qual a
besta recebeu a ferida mortal (13:14, cf. 13: 3); o instrumento para a vingança final de Deus (19:15,
21). Todas essas “espadas” têm duas características comuns: guerra e morte. “Espada” no Ap não é
simbolo de dificuldades vindouras, isso já acontece rotineiramente na vida dos fiéis, ela é símbolo
de morte mesmo. O mais extremo da fidelidade é perder a própria vida em favor de Jesus (12:11).
Jeremias forma quatro grupos destinados ao castigo, o segundo grupo deveria “ir” para a

br,x,. A palavra original é traduzida por “espada”, “faca” e as vezes “picaretas” (STRONG, 1996).
Porém, dentro do contexto de Jeremias ela assume principalmente a ideia de guerra. “A ‘espada’ é
descrita [na Bíblia] como agente de Deus, foi usada não apenas para salvaguardar o jardim do Éden,
mas simboliza o julgamento de Deus executado em seus inimigos” (VINE, UNGER e WHITE,
2006), ou, no caso do livro de Jeremias, executado sobre Seu próprio povo. A imagem da espada é
utilizada desde o uso militar metafórico relacionado a Deus, como em Ap, até o uso normal
humano.
“Espada” no NT pode ser espada mesmo (Mt 26:47); pode ser dissensão familiar trazida
por causa do evangelho (Mt 10:34); castigo das autoridades (Rm 13:4) ou ainda a “palavra de Deus
viva” (Hb 4:12). No Ap assume o sentido metafórico de guerra (Ap 6:4) e perseguição (13:10, 14).
!65

Portanto João está falando sobre uma ação perseguidora contra os fiéis.
“Aqui”. Toda a discussão anterior leva ao verso 10c: “Aqui está a perseverança e a
fidelidade dos santos” (ARA). Levando em consideração todo o capítulo 13 de Ap, nota-se que a
frase “aqui está” é uma introdução a um comentário implícito do autor, da mesma maneira que ele o
faz nas outras ocorrências (13:10, 18; 14:12; 17:9), é uma “narrativa explicativa à parte” (AUNE,
1998b). A explicação neste caso é sobre como suportar a perseguição, no caso de uma tradução
seguindo o Códice A (cf. FRUTUOSO DE SOUZA, 2013).
O verso 10c começa com a palavra ὧδέ (hodé), traduzida como “aqui” na ARA. Além de
“aqui”, ὧδέ também é traduzida na ARA como “eis aqui” (Mt 24:23), “além disso” (1Co 4:2). A
palavra também pode ser “uma referência a um objeto presente, evento, ou estado em termos de sua
relevância para o discurso - ‘nisto, neste caso, no caso de’” (LOUW e NIDA, 1996). Como é o caso
de Hb 7:8, onde ὧδέ é traduzido por “neste caso” como na The New American Standard Version.
Mas geralmente é um advérbio de lugar mesmo.
Porém, desde Ap 12:1 até 13:18, onde são descritos os inimigos de Deus e suas atividades
perseguidoras, não há nenhuma referência a um local geográfico, e seria fora de contexto procurar
um local real dentro de uma profecia tão rica em símbolos. Em nenhuma do Ap ὧδέ refere-se a um
ponto geográfico terrestre, eles referem-se basicamente a um chamado para ir ao céu (4:1; 11:12) e
uma chamada de atenção (13:10, 18; 14:12; 17:9). Por isso é importante fazer uma tradução correta
da palavra para o português, usar um advérbio de lugar onde não há referências geográficas é não
dar o verdadeiro sentido ao texto. Mais do que uma simples tradução, a passagem requer que seu
contexto literário seja levado em consideração. Berger (1998, p. 212) aponta para o uso não local da
palavra “aqui”, ele diz que nos casos de Ap ὧδέ deve ser em sentido temporal e não local, servindo
assim para chamar a atenção do leitor, podendo ser traduzido como “por este tempo”, como algo
que “aponta diretamente para uma situação”, e não para um tempo específico. Richard (1999)
propõe uma função “exortativa” para ὧδέ em Ap.
Ap 13 fala sobre duas bestas. Ambas perseguem o povo de Deus, a ponto de matá-lo. João
está dizendo que, diante desta situação, é requerido que o remanescente esteja fiel e perseverante. A
definição de que mais se aproxima do contexto é a de Newman (1993), “sob estas circunstâncias”,
pois é exatamente a situação do remanescente, sob as circunstâncias de cativeiro e morte que
deveria continuar sendo fiel a Deus. Newman aplica sua definição para 1Co 4:2, onde ὧδέ na ARA
é traduzido por “ora, além disso”, assim como outros autores o fazem para definir outras
possibilidades de tradução para ὧδέ. Porém sua definição é perfeitamente aplicável a Ap 13:10 se
levado em consideração o contexto da passagem de 1Co 4:2, onde Paulo está falando sobre uma
!66

situação, e não sobre um lugar. Assim conclui-se que a melhor tradução de ὧδέ em Ap 13:10 é
aquela que o fizer por uma palavra que descreva circunstâncias, e não advérbio de local, como a
definição de Newman: “sob estas circunstâncias”.
“Está”. Apesar de o verbo εἰµί ser geralmente traduzido como ser, ele também é traduzido
de outras formas na ARA, entre elas se encontram: “vem” (Mt 5:37), “significa” (Mt 9:13),
“tornando-se” (Mt 19:5) e “tinha” (Fp 2:26). Porém mais uma vez, o contexto da passagem pode
ajudar em uma compreensão mais aprofundada do significado desta palavra em Ap 13:10. A Bíblia
de Estudo Almeida (SBB, 2005) sugere “se verá” no lugar de “está” em sua nota a respeito deste
verso, dando a entender que o significado correto da passagem é que ela refere-se mesmo a um
chamado à fidelidade e perseverança, e não a um local em si, como no caso de ὧδέ.
Compromisso. Olhando a tradução de 1Tm 5:12: “tornando-se condenáveis por anularem
o seu primeiro compromisso (πίστις)”, é fácil perceber que πίστις, como qualquer outra palavra
grega deve ser traduzida conforme o seu contexto, e a fé aqui descrita certamente refere-se ao
compromisso firmado entre o crente e Deus, no qual cada cristão demonstra seu amor a Deus
demonstrando estabilidade espiritual, não aceitando outra adoração, sendo enfim, firme em seu
compromisso com Aquele com quem fizera uma aliança.
É inegável o fato de que a conveniência espiritual torna os crentes mais propensos a
cederem ao mal e à perseguição, por isso, não seria estranho que após descrever a primeira besta e
antes de descrever a segunda João declarasse: “Sob estas circunstâncias” ou “por este tempo” “se
verá a fidelidade e a perseverança dos santos”, o que seria uma frase muito mais compatível com o
contexto do que simplesmente “aqui está”, o quadro abaixo tem como objetivo dar uma visão
melhor do contexto que pesa sobre a tradução deste vocábulo em 13:10:

Quadro 4. Aplicação da frase “sob estas circunstâncias” em Apocalipse 13

13:1-8 (Idade Média) 13:9 e 10 (interlúdio homilético) 13:11-18 (Tempo do Fim)

Boca para blasfêmia; Cativeiro e espada. Falava como dragão;


Boca para arrogâncias; Autoridade da primeira besta;
Agiu por 42 meses; Grandes sinais;
Difamou Deus e seu tabernáculo; Seduz os homens a fazerem uma
Pelejou contra os santos e os venceu; imagem à primeira besta;
Autoridade sobre cada tribo, povo, A imagem fala (boca);
língua e nação; A imagem forçará a adoração e
Forçados a adorar; matará quem não o fizer;
Imporá uma marca;
Instituirá um boicote econômico;

Sob estas circustâncias se verá a Sob estas circustâncias se verá a Sob estas circustâncias se verá a
fidelidade dos santos fidelidade dos santos fidelidade dos santos

Fonte. O próprio autor.


!67

Este conselho serve para todos os tempos, pois o poder perseguidor que operava nos dias
de João (Ap 1:9) será o mesmo nos dias do tempo do fim (Ap 13:15), e “à luz da vinda do
aprisionamento e morte de mais cristãos, os leitores [do livro do Ap] devem manter-se pacientes e
fiéis” (EASLEY, 1998, p. 230). Mais do que entender o significado de fé/fidelidade em Ap 13:10,
os cristãos devem estar preparados para tais eventos, Moore (2013) sugere três conselhos como
preparo para manter-se fiel no tempo do fim, no contexto de Ap 13: preparo espiritual, vencer os
defeitos de caráter e preparo físico. Esses conselhos, visam aumentar a estabilidade da confiança em
Deus e ajudar a encarar os eventos finais sem medo.

3.2.1.2 Ap 14:12 “a fé em Jesus” ou “a fé de Jesus”

O livro do Ap possui paralelos que, se comparados, podem ajudar a esclarecer certos


pontos, como é o caso da “fé” em Jesus de 14:12. LaRondelle (1999b) defende a ideia de que o
remanescente possui uma marca permanente. Esta marca, baseada em Is 8:20 é a aceitação da
palavra de Deus como autoridade final em Israel: “À lei e ao testemunho! Se eles não falarem desta
maneira, jamais verão a alva”. Tanto Jesus (Mt 5:17) quantos escritores do NT aceitaram este
padrão de autoridade, portanto seria natural que na continuação da igreja cristã primitiva até a volta
do Senhor fosse encontrada o mesmo padrão de dedicação, aceitação de autoridade e submissão “à
lei e ao testemunho”. No livro do Ap este padrão repete-se por cinco vezes, e em cada um deles o
contexto é completamente diferente, e cronologicamente separados quando considerada a
interpretação historicista. A tabela abaixo, faz uma comparação entre os versículos onde aparece a
fórmula “palavra/mandamento + testemunho”, ela ajudará na compreensão da palavra πίστις usada
em 14:12 em relação ao livro como um todo:

Quadro 5. Palavra de Deus e Testemunho de Jesus em Apocalipse


1:9 6:9 12:17 14:12 20:4

Eu, João, irmão Quando ele abriu o Irou-se o dragão Aqui está a [...]Vi ainda as almas
vosso e companheiro quinto selo, vi, contra a mulher e foi perseverança dos dos decapitados por
na tribulação, no debaixo do altar, as pelejar com os santos, os que causa do testemunho
reino e na almas daqueles que restantes da sua guardam os de Jesus, bem como
perseverança, em tinham sido mortos descendência, os que mandamentos de por causa da palavra de
Jesus, achei-me na por causa da palavra guardam os Deus e a fé em Deus, tantos quantos
ilha chamada Patmos, de Deus e por causa mandamentos de Jesus. não adoraram a besta,
por causa da palavra do testemunho que Deus e têm o nem tampouco a sua
de Deus e do sustentavam. testemunho de imagem, e não
testemunho de Jesus. Jesus; e se pôs em pé receberam a marca na
sobre a areia do mar. fronte e na mão; [...]

Fonte: O próprio autor.


!68

Como notado acima, Ap 14:12 faz parte de um padrão de linguagem usado por João para
identificar quem são os fiéis, ou para explicar os motivos das perseguições. Esses versículos tendem
a mostrar que “palavra/mandamento + testemunho” deveria ser a característica principal de
fidelidade para o povo de Deus, inclusive no tempo do fim, pois Ap 20:4 diz que esses
“decapitados” que possuem a “palavra/mandamento + testemunho” são aqueles que não adoraram a
“besta, nem tampouco a sua imagem, e não receberam a marca na fronte e na mão”, citando Ap
13:15 e 16. LaRondelle chama essa amostra de fidelidade à “palavra/mandamento + testemunho”
por parte dos fiéis do tempo do fim de “demonstra[ção de] sua verdadeira sucessão
apostólica” (IDEM, p. 3).
Também há uma dúvida sobre a tradução do termo τὴν πίστιν Ἰησοῦ, pois ele é traduzido
tanto como (1) “fé em Jesus” (ARA), assim Jesus é o objeto da “fé”, como diz Aune (1999b, p. 838)
aqui é “sua [do povo] lealdade a Jesus”; (2a) “fé de Jesus”, aqui Jesus ou a fonte da “fé” (LENSKI,
1935, p. 439) ou (2b) a “fé” aqui “refere-se ao conteúdo doutrinal da fé cristã” (BEALE, 1999, p.
766), o próprio LaRondelle (1999c, p. 5) conclui: “a expressão ‘fé de Jesus’ em Ap 14:12 esclarece
o testemunho de Jesus em 12:17 e não acrescenta necessariamente uma terceira característica da
igreja remanescente”, portanto “esta ‘fé de Jesus’ a qual os seguidores ‘guardam’ não é
simplesmente a fé subjetiva deles em Jesus, mas a fé objetiva dos ensinamentos de Jesus, que os
apóstolos ensinaram e guardaram fielmente (At 2:42; 2Tm 4:7)”; isto significa portanto que a “fé”
de Ap 14:12 é equivalente a “fé” de Ap 12:17 e outros paralelos mostrados no quadro acima.

3.2.2 πιστός (pistós, “fiel”)

Como visto no capítulo anterior, a palavra πιστός significa “fiel”, uma leitura de seu uso na
LXX aponta principalmente para a ideia de “estável”. Esta mesma estabilidade é requerida nos
versículos da porção escatológica.

3.1.2.1 Ap 17:14 A vitória dos fiéis

A vitória de Cristo sobre os “reis” que contra Ele farão guerra é uma promessa e uma
garantia aos que foram recrutados para lutar ao lado do Cordeiro na última batalha deste mundo. Ele
é “Senhor dos Senhores e Rei dos Reis” como dito em Dt 10:17. Seus seguidores, aqui
denominados de κλητός (klētós, “chamados”), ἐκλεκτός (eklektós, “eleitos”) e πιστός (pistós,
“fiéis”), são os que vencerão juntamente com Ele. Essas três palavras falam de três aspectos
!69

importantes do compromisso, que deve ter os santos no tempo fim.


Chamados. Trail (2008b) diz primeiramente que o autor implícito do chamado é o próprio
Deus, e a Bíblia apresenta alguns chamados feitos por Ele aos Seus filhos: chamados “das trevas
para sua maravilhosa luz” (1Pe 2:9), “para serdes de Jesus Cristo” (Rm 1:6), “para serdes
santos” (Rm 1:7); para ser um “apóstolo” (Rm 1:1), segundo o propósito de Deus (Rm 8:28), um
chamado universal (1Co 1:24), mas não aceito por todos (Mt 22:14). Pertencer ao povo de Deus é
antes de tudo aceitar um chamado, reconhecendo assim o privilégio de participar da luta cristã,
qualquer um que entra para a igreja de Cristo não faz por sua vontade própria, mas vai atendendo
aos apelos do Espírito Santo. A participação dos santos na vitória do Cordeiro é quase nula, eles são
apenas chamados a participar desta vitória, sua parte foi aceitar este chamado e ser fiel
(CEVALLOS, 2009).
Eleitos. O vocábulo “eleitos” (ἐκλεκτός, eklektós, “escolhidos” em outras passagens)
aparece como um complemento a “chamados” (Mt 22:14), ele parece ser um nível a mais, o mal
pode até derrubar alguns, mas isso é duvidoso em relação aos eleitos (Mc 13:22; Rm 8:33). Esses
“eleitos” são o povo de Deus (1Pe 2:9); são os eleitos que serão recolhidos pelos anjos (Mt 24:31);
suas características são descritas em Cl 3:12. O próprio Senhor Jesus foi chamado de
“escolhido” (Lc 23:35; cf. 1Pe 2:4, 6), um termo usado ao Messias; e os anjos também são
designados assim (1Tm 5:21). Uma pessoa que tenha sido chamada por Deus e não cresce
espiritualmente, e não tem um aprofundamento em seu relacionamento com Cristo, corre sérios
perigos de cair (1Co 10:12), ele foi chamado, mas pode ser também do grupo dos escolhidos.
Fiel. Finalmente, o “fiel” é aquele que tendo aceitado o chamado para seguir o Mestre,
cresceu em no conhecimento e na graça de Deus, porém sua vida de comunhão o impulsiona a não
ceder nem ao pecado, nem a perseguição e muito menos às ameaças de morte. São vencedores com
o Cordeiro porque agiram como o Cordeiro, e “mesmo em face da morte, não amaram a própria”.
Os três termos não são excludentes entre si, apenas apresentam um padrão crescente na
vida do cristão, também não são um meio de salvação, pois esta já é dada na aceitação do chamado.
Spence e Jones (2004, p. 418) concordam com ideia de palavras em progressão quando diz:

Os três epítetos descrevem a vida progressiva daqueles que compartilham a vitória de


Cristo. Eles são chamados, como todos os homens o são a servi-lo, tendo ouvido o
chamado, dedicam suas vidas ao seu serviço, e se tornam seus servos escolhidos,
finalmente, depois de ter permanecido fiéis a Ele, eles compartilham de sua vitória.

O SDABC (7:180) faz uma importante declaração a este respeito:

Adicionalmente aqui, a palavra “fiel” implica que não é suficiente ser “chamado” e
“escolhido”. Em outras palavras, aqueles que uma vez entram na experiência da graça
!70

mediante a fé em Cristo deve “permanecer” em graça se eles são para eles terem o direito
de entrar no reino de glória.

O quadro a seguir visa sintetizar a ideia expressa sobre os santos em Ap 17:14:

Quadro 6. Chamado, Eleito e Fiel

Chamado Eleito Fiel

Aceitou o desafio de aprofundar-se Aceitou e desafio de ser leal a Cristo,


Aceitou o convite para ser um cristão na carreira cristã arriscando tudo em favor da causa

1Co 1:14 Cl 3:12-17 Ap 6:9

Fonte: O próprio autor.

3.2.2.2 Ap 19:11 Jesus: Fiel e Verdadeiro

Assim como Jesus se apresentou a João no começo do livro como “Fiel e


Verdadeiro” (1:5), Ele reaparece com o mesmo título em 19:11, em Seu cavalo branco. Ele é aquele
que “julga e peleja com justiça”. Em Ap 19 a última guerra é vencida, o último ato de Deus na
história deste mundo é realizado: a volta de Jesus. Ela é registrada com louvor (1-8) e com convites
(9). João fica tão emocionado que quase adora um anjo, mas foi impedido (10). Aune (1998c, p.
1052) ressalta que “a frase ‘κρίνειν ἐν δικαιοσύνῃ’ [krínein en dikaiosynē], ‘para julgar com
justiça’, não é usado aqui exclusivamente em conexão com a destruição dos inimigos do cavaleiro,
mas também tem a conotação positiva da ação salvífica de Cristo para o seu povo, isto é, como juiz
da sua Igreja”.
João vê a vitória final de Seu Mestre. Ele é o mesmo que tem os “olhos de fogo” na
primeira visão (Ap 1:14), o Onisciente Jesus, que julga com justiça; na sua cabeça há muitos
diademas, “um tipo de coroa empregada como um símbolo do maior poder de decisão em uma
determinada área e, portanto, muitas vezes associada com a realeza” (LOUW e NIDA, 1996),
mostrando assim a realeza e soberania de Jesus. Sua roupa está manchada de sangue, uma
lembrança de Seu sangue derramado na cruz; Ele é o verbo de Deus (v. 13) e tem uma espada afiada
que sai da Sua boca para ferir as nações (v. 15; cf. 1:16), com essa espada Ele cumprirá a promessa
de Deus de fazer justiça aos santos (Dn 7:26), destruirá primeiramente a besta e o falso profeta (v.
20), ainda por ocasião da Sua volta, mas deixará o dragão ainda para mil anos mais tarde (20:2); e
todos os ímpios serão mortos por ocasião da Sua vinda.
!71

Em toda a riqueza de detalhes do capítulo, Jesus é apresentado como “Fiel e Verdadeiro”,


Suas promessas são agora concretizadas, a vitória foi conquistada e Seu título parece ecoar algo
como se Ele dissesse: “Eu prometi, e estou cumprindo”.
Mais uma vez o livro do Ap parece apresentar como tema principal a vitória final do
Cordeiro. Um quê de alívio pode ser visto nestas palavras.

3.2.2.3 Ap 21:5; 22:6 Palavras fiéis e verdadeiras

Além do uso pessoal de πιστός, onde pessoas são o objeto, também há um uso impessoal,
quando João qualifica as palavras do Ap (21:5; 22:6) como “fiéis e verdadeiras” “πιστοὶ … καὶ
ἀληθινοί”. Em 21:5 πιστός é usada para reforçar a promessa divina de um novo céu e uma nova
terra, serve para mostrar que tal promessa não falhará (Is 65:17; cf. 43:19).
Em 22:6 πιστός mostra que as coisas do futuro relatadas em Ap acontecerão porque o Deus
que as disse é soberano e confiável. Ambos os versos relembram aos leitores do Ap que fidelidade é
uma questão mútua entre Deus e o homem, mostra que Ele não falhará no que se propôs, e que
espera que os homens confiem nEle, recordando assim o aspecto da aliança mencionado
anteriormente.

3.2.3 τηρέω (tēréō, “guardar”)

Como já visto, τηρέω (tēréō) significa “cumprir” algo que está escrito (Mt 19:17).
Enfatizou-se também o fato de que “guardar” e “fazer” são duas atitudes diferentes (Mt 23:3). Há
em “guardar” um sentido de expressão exterior do que está guardado no coração (cf. Lc 2:51),
enquanto que “fazer” ou “praticar” pode ser apenas exterior. Na porção escatológica do Ap
encontram-se características e apelos relacionados a τηρέω, que serão analisados e relacionados ao
tema da fidelidade.

3.2.3.1 Ap 12:17 Guardam os Mandamentos de Deus e têm o Testemunho de Jesus

Os personagens deste versículo são: (1) um dragão irado; (2) uma mulher perseguida; e (3)
um remanescente. Identificar os três é importante, antes de analisar o sentido de τηρέω. O dragão é
identificado em 12:9 como “a antiga serpente, que se chama Diabo e Satanás, o sedutor de todo o
mundo”, é o mesmo anjo que se rebelou no Céu e foi atirado para a terra, e com ele os seus anjos
!72

(12:3, 4, 7-9). A mulher pura é símbolo da igreja, a “noiva de Cristo”. Este é um símbolo usado
desde o AT, onde os profetas falavam de Israel como noiva/esposa de Deus, como por exemplo o
todo o livro de Oséias. No NT Paulo deseja preparar a igreja como uma noiva para Cristo (2Co
11:2), e Jesus por fim se casará com ela (Ap 21:2). Sobre a mulher como símbolo da igreja, são
relevantes as seguintes palavras:

O remanescente escatológico não é simplesmente aquele que passa por perseguição. A


igreja, simbolizada pela mulher, teve a mesma experiência. Existe uma continuidade entre a
mulher e o remanescente. Portanto, pode-se sugerir que, de um ponto de vista histórico a
igreja perseguida parece ser identificada como um remanescente histórico e fiel, ao se
esconder durante 1.260 dias (LEHMANN, 2012, p. 103).

Assim, as características citadas em Ap 12:17, representam uma mostra de que o


remanescente é descendente direto da igreja primitiva, guardando a palavra de Deus e tendo o
testemunho de Jesus, que no contexto escatológico pode muito bem significar o “testemunho do que
Ele [Deus] revelou (os mandamentos) e do que Jesus revelou por meio dos “profetas” [cf. Ap 19:10]
(LEHMANN, 2012, p. 95).

Mas o que significa o Espírito de Profecia? Certamente abrange muito mais do que
simplesmente o dom profético que se manifestaria no tempo do fim na pessoa de Ellen G.
White. Inclui isso também é claro. Mas, também, é o dom de profecia inteiro encontrado
nas Escrituras. É evidente que inclui as mensagens dadas por Jesus (GULLEY, 2004, p.
193-194).

Neste caso τηρέω significa mais do que ter no corpo de declarações de uma igreja a
afirmação de que se crê que os 10 mandamentos ainda estão valendo, mas é “andar assim como Ele
andou” (1Jo 2:6), manifestando na vida diária o caráter de Jesus, pelos mesmos motivos de Jesus,
glorificar a Deus (Mt 5:16; 9:8).
Conhecer os escritos proféticos é tão importante quanto praticá-los, pois nem João, nem os
fiéis da Idade Média foram perseguidos porque conheciam escritos sagrados, mas porque os
praticavam, ou seja, os “guardavam”.
Um jovem rico certa vez perguntou de Jesus: “Mestre, o que farei de bom, alcançar a vida
eterna?”, Jesus respondeu a essa pergunta assim: “Guarda (τηρέω) os mandamentos”, e ele disse:
“tudo isso tenho observado” (φυλάσσω, fylássō, que significa “guardar com cuidado”, palavra que
até ser considerada sinônima a τηρέω, mas que por sua vez não foi usada pelo jovem rico, ou seja, o
jovem guardava, mas do jeito dele).
Assim o remanescente escatológico será perseguido pelo mesmo motivo que o
remanescente histórico, “por causa da palavra de Deus e por causa do testemunho que
sustentavam” (6:9), e não pelo que apenas conheciam.
!73

3.2.3.2 Ap 14:12 Guardam os Mandamentos de Deus e a fé em Jesus

Tanto a expressão “guardam os mandamentos” quanto “fé em Jesus” já foram discutidas


neste trabalho, porém, um aspecto é relevante nesta passagem e que é diferente das passagens
paralelas, é o contexto de proclamação (GINGRICH, 2001). Em Ap 14:6-12 encontra-se a descrição
de três anjos que voam pelo meio do céu com um evangelho eterno7, isso mostra que o
remanescente escatólogico é ativo também na proclamação das verdades que ele vive e pelas quais
está disposto a morrer, não um povo que espera perseverante, mas são perseverantes enquanto
esperam, assim como remanescente histórico em seu “labor” (κόπος, kópos).

3.2.3.3 Ap 16:15 Guardar a veste para não andar nu

Dentro da descrição do sexto flagelo, encontra-se a advertência divina sobre a surpresa de


Sua vinda, e o conselho para guardar “as suas vestes”, por dois motivos: para que (1) não ande nu, e
(2) não se veja a sua vergonha. Ambas as frase querem dizer a mesma coisa, isto é apenas um
recurso da linguagem para reforçar a ideia. “Isso sugere que a súbita e inesperada vinda de Cristo
traz salvação e juízo, a salvação para aqueles que estão preparados, o julgamento para aqueles que
não são” (AUNE, 1998c, p. 897).
Em Ap 3:11 Cristo já havia advertido sobre a brevidade de Seu retorno, e também advertira
os crente de Filadélfia a que conservassem o que eles tinham, para que ninguém lhes roubasse a
coroa. A mensagem parece ser a mesma aqui, porém usando palavras diferentes, “a imagem deve
ser do homem que fica acordado, completamente vestido, em contraste com o homem que dorme e
vai, portanto, ser pego nu quando surpreendido no meio da noite” (BEALE, 1999, p. 837).
Os capítulos 15 e 16 de Ap são paralelos em linguagem aos capítulos 8:2–11:18. As sete
trombetas são advertências de Deus ao mundo, e as sete pragas são juízos de Deus sendo
executados sobre os ímpios.
LaRondelle (1992) considera as sete pragas como uma representação, do êxodo
escatológico, onde o Cordeiro Jesus é o libertador, ele sugere:

O tema das últimas pragas é basicamente o mesmo daquele das dez primeiras pragas [as do
Egito] – o fim da perseguição pela remoção do perseguidor. Como Iavé vindicou Seu
concerto e libertou Israel da casa da servidão por meio de uma série de pragas, assim Cristo

7 Para uma apresentação sobre o significado das três mensagens angélicas ver LARONDELLE. O remanescente e as
três mensagens angélicas. Em Dederen. Tratado de teologia adventista do sétimo dia. Tatuí, SP: Casa Publicadora
Brasielira, 2001.
!74

trará o livramento final de Seu povo fiel e enviará novamente uma série de pragas nas quais
a ira de Deus é completa.

O quadro abaixo provê uma comparação entre as pragas do Egito, as sete trombetas e as
sete pragas.

Quadro 7. Relação entre as Dez Pragas do Egito e as Sete Trombetas e Sete Pragas do Apocalipse
Objetivo Êx Ap

Advertência Primeiras 9 pragas Sete Trombetas

Punição Última praga Sete Pragas

Fonte: O próprio autor.

Por isso eles cantarão o “cântico de Moisés” (15:3), pois chegará o seu livramento através
dAquele que é a Páscoa cristã, isto é, o próprio Jesus Cristo (1Co 5:7).
Assim, a advertência para “guardar” a roupa é um alerta para estar pronto para a Canaã
celestial. As vestes, símbolo do caráter individual (Zc 6:9-15), deve ser comprada de Cristo (Ap
3:18), lavada no sangue do Cordeiro (22:14), e vigiada constantemente para que seu usuário não
fique nu e seja envergonhado. Ela representa fidelidade total a Cristo, em contraste com a nudez
idolátrica da Babilônia (cf. Ez 16:36; Na 3:5). Para Beale (1999, p. 837) as vestes são o “não
compromisso [com o mal] ou ‘os atos de justiça dos santos’, que são necessários para a admissão ‘a
ceia das bodas do Cordeiro’ (19:8-9), enquanto a que ‘nudez’ significa a falta de justiça”.

3.2.3.4 Ap 22:7 e 9 Guardar as palavras da profecia deste livro

Nesses dois versículos encontra-se mais uma vez a palavra τηρέω relacionada à palavra de
Deus, aqui chamada de “palavras da profecia deste livro” e “palavras deste livro”, estes termos
referem-se a tudo o que foi escrito no livro do Ap. Beale (1999) chama as perícopes 22:6-7, 8-9,
10-11, 12-17, e 18-20 de “exortações à santidade”, em todas essas cinco exortações há a presença
do “livro”, o que significa que não há santidade sem o “livro”.
No AT Deus concedeu a Israel o “Livro da Lei” através de Moisés (Dt 31:24-29), Josué
deveria ler o livro, meditar nele, e usá-lo para dirigir o povo (Js 1:7 e 8). Quando Israel se esqueceu
do Senhor, foi através da leitura do livro que o rei Josias reconstruiu a religião verdadeira (2Re 22 e
23). Esdras, após o cativeiro, leu o livro diante do povo para que uma reforma espiritual
recomeçasse (Ne 8:1-12). Jesus disse que os saduceus erravam por não conhecer as Escrituras (Mt
22:29), Paulo exortou a Timóteo que conhecessem bem a “palavra da verdade” (2Tm 2:15), e
estudava-o até mesmo sabendo que pouco tempo lhe restava (2Tm 4:13).
!75

O Ap, é o último livro da Bíblia, nele cerca de 270 dos 404 versículos são citações diretas
ou indiretas do AT, não foi selado (Ap 22:10), e suas profecias devem ser estudadas como se fossem
alimento (cf. Je 15:16). Há neste livro mais do que imagens, ele é o manual de instrução de
sobrevivência para o tempo do fim. Falando sobre este tema, a escritora EGW diz:

O livro do Apocalipse abre com uma ordem para compreendermos a instrução que ele
contém. […] Quando nós, como um povo, compreendermos o que este livro para nós
significa, ver-se-á entre nós um grande reavivamento. Não compreendemos plenamente as
lições que ele ensina, não obstante a ordem que nos é dada é de examiná-lo e estudá-lo.
(WHITE, 2008d, p. 113).

Há no início do livro uma bem-aventurança aos se dedicam à leitura deste livro, tal bênção
serve como um incentivo à leitura do livro que é a “revelação de Jesus Cristo”.

3.1.4 ὑποµονή (hypomonē, “perseverança”)

A ideia de ὑποµονή como avançar “sem parar”, fica ainda mais evidente na porção
escatológica. Suas duas ocorrências estão na parte crítica do livro chamada de “O Grande
Conflito” (MAXWELL, 2008a), e uma delas encontra-se exatamente no capítulo 13, cenário de
perseguição, morte, crise financeira e de lealdade. A outra ocorre logo após o anúncio do três anjos
de Ap 14, onde pode se apresentar uma interpretação plausível para o objeto da perseverança, como
será visto a seguir.

3.2.4.1 Ap 13:10 Aqui está a perseverança dos santos

Junto com πίστις, a palavra ὑποµονή forma a dupla característica dos “santos” de Ap
13:10, versículo já analisado anteriormente neste trabalho e que apresenta um quadro onde duas
bestas, em momentos diferentes, fizeram e farão perseguição ao povo de Deus, levando-o à prisão e
às vezes até a morte. Neste contexto, ὑποµονή parece alcançar o máximo da sua utilidade na Bíblia,
em nenhum outro contexto seu uso é tão apropriado quanto em Ap 13:10, por pelo menos cinco
motivos:
1. Ela é a frase conclusiva dos vv. 1-8, que referem-se à perseguição da primeira besta, a
qual pelejaria contra os “santos” e os venceria, Beale (1999, p. 705) concorda que o texto seja
conclusivo;
2. Ela também pode ser considerada a frase de abertura dos vv. 11-18, neste caso, ela
estaria sugerindo uma situação de expectativa em relação aos “santos” escatológicos, uma
!76

expectativa do tipo: “Vejamos se os santos serão fiéis até o fim”, Walvoord (1985, p. 961) diz que o
“Ap, em vez de ser interpretado como dirigido apenas aos cristãos da primeira geração
[remanescente histórico] que enfrentam a perseguição é melhor compreendido como uma exortação
aos crentes de todas as gerações, mas especialmente aqueles que estarão vivendo no tempo do fim
[remanescente escatológico]”.
3. Outro ponto é que “cativeiro” e “espada” (morte) são apresentados como destino certos
dos fiéis, por isso eles precisarão de fé (confiança) e perseverança (paciência);
4. O termo ὑποµονή é a parte visível da fé, assim, a expressão máxima da “perseverança” é
demonstrada na crise final descrita em Ap 13:11-18, quando o conflito entre o mal e a igreja de
Cristo alcançará seu clímax (ver SDABC 7:751 e FOSTER, 1989, p. 53);
5. A frase está no centro do capítulo 13, e, se vista como organizada em uma estrutura
quiástica, é o centro do capítulo.
Como πίστις, a palavra ὑποµονή não poderia ser usada em um contexto mais propício e
como elas fazem parte do mesmo conjunto de “obras” do povo de Deus, elas não podem ser
consideradas separadamente, mas um conjunto de características que ajudarão o remanescente
escatológico a vencer a crise espiritual imposta pela segunda besta e a imagem da besta, assim
como remanescente histórico venceu a primeira besta.

3.2.4.2 Ap 14:12 Aqui está a perseverança dos santos

Esta é a última ocorrência de ὑποµονή que será analisada neste trabalho, o significado do
termo parece estar claro, e, mesmo em Ap 14:12, a palavra é um chamado à paciência e
perseverança. Porém até quando? Qual é o limite de tempo da perseverança?
A fidelidade deve ser até a morte, e o mesmo acontece com a perseverança (Mt 10:22; 24:
13; Mc 13:13). No entanto, no caso de ὑποµονή, seu fim está mais ligado a um evento aguardado do
que ao fim de cada pessoa individualmente, isto quer dizer que o objeto da paciência o para o qual o
significado de ὑποµονή aponta é a Parousia, ou seja, o retorno de Jesus como o ponto final da
história desse mundo, pois tanto aqui como em 13:10 ela está relacionada com “vigilância”, e não
apenas com suportar (cf. BEALE, 1999, p. 767).
Assim, a “perseverança dos santos” em Ap 14 pode ser interpretada como a segunda vinda
de Jesus, pois ela está inserida em um contexto de apresentação dos 144.00, está logo após pregação
do evangelho a cada “nação, e tribo e língua e povo”, onde os mortos são bem-aventurados
!77

certamente porque a hora de sua ressurreição se aproxima, e onde a “ceifa” e “vindima” estão às
portas.

3.2.5 νικάω (nikáō, “vencer”)

A palavra νικάω, um termo genuinamente joanino, apresenta na porção escatológica (1) o


Cordeiro como vencedor final, (2) a besta que vence os santos e (3) os santos vencedores sobre a
besta junto com o Cordeiro. Também apresenta os santos como vencedores que recebem seu prêmio
final.
Essa apresentação visa dar esperança ao leitor do livro. Mostra principalmente que o livro
do Ap não é um livro que tem como tema principal bestas ferozes, morte e terror, mas é um livro
que descreve vitória final de Deus na história deste mundo.

3.2.5.1 Ap 12:11 Uma mensagem muito importante

O verso a ser analisado agora pode ser considerado um dos principais versos do Ap. Nele
se encontra a declaração de vitória do Cordeiro que permeia todo o livro e que serve como uma
bandeira que guia os santos até a sua própria vitória.
A respeito da estrutura do livro, Stefanovic (2009) propõe um quiasma onde o centro é o
“Grande Conflito entre Cristo e Satanás (11:19–13:18)” (cf. Introdução deste trabalho).
Diferentemente de como o faz Maxwell (2008a), que coloca duas seções ao centro, ele diz que os
“capítulos 12 e 13, definem o cenário para o grande clímax da história da Terra, que introduzem os
atores que interpretam os papéis principais na batalha final” (STEFANOVIC, 2009, p. 385).
Quanto ao centro do centro, Frey (2012) segue Paulien (2004) ao dizer que o capítulo 14
cumpre este papel. Seus principais argumentos são em favor da mensagem dos três anjos como
mensagem central do livro como um último apelo de Deus à humanidade, principalmente um
chamado à guardar o sábado. Porém, a estrutura do capítulo 12, sua abrangência histórica, sua
universalidade, seu enredo, seu tema central, que é a vitória do Cordeiro, fazem-no parecer mais
com um centro do que o capítulo 14, apesar da importância deste último dentro do contexto
apocalíptico. Mounce (1997, p. 229) concorda com esta posição quando declara que “o capítulo 12
representa a principal divisão no livro do Apocalipse”.
Uma vez entendido que o capítulo 12 é o centro do livro, é preciso compreender sua
divisão e organização. O capítulo está divido em três cenas que podem ser organizadas na seguinte
!78

estrutura quiástica:

Ilustração 2. Quiasma de Apocalipse 12


A Ap 12:1-6 A mulher, o dragão, o filho e a perseguição de 1.260 dias
B Ap 12:7-12 A expulsão do dragão e a vitória do Cordeiro
A’Ap 12:13-17 A mulher, o dragão, o remanescente e a perseguição de tempo, tempos e metade
deu um tempo

Fonte: O próprio autor.

O centro do capítulo 12 pode ser considerado uma síntese de toda a história contada na
Bíblia. Nele se encontram céus que tinham paz e onde “houve peleja” (v. 7); esta peleja (guerra) foi
feita por um ser que era um “anjo” e que estava liderando “anjos” (v. 9); ele fora “expulso” do céu e
“atirado para a terra”; aqui, “cheio de cólera, sabendo que pouco tempo lhe resta”, transformou-se
em uma “serpente” e tentou o primeiro homem que veio cair; tornou-se o “acusador de nossos
irmãos” “diante do nosso Deus”, porém o “Cordeiro” derramou Seu “sangue” para que o homem
obtivesse vitória sobre este “Satanás”, que é inimigo de Deus.
Os cristãos das sete igrejas sentiram-se motivados a vencer Roma e sua perseguição
quando viram que o próprio Satanás poderia ser derrotado, usando-se as mesmas armas as quais
eles já faziam uso: “O conhecimento de que Satanás poderia ser derrotado pela fé, testemunho e
perseverança teria sido um tremendo incentivo para os membros das sete igrejas, e outros sendo
pressionados por Roma para comprometer espiritualmente” (BARRY et al., 2012, Ap 12:11). Esta
perícope pode ser dividida como na ilustração abaixo:

Ilustração 3. Quiasma de Apocalipse 12:7-12


A 12:7-10 O dragão foi expulso do céu
B v. 11 Vitória do Cordeiro e Seus seguidores
A’ 12:12 Festa no céu porque o dragão foi expulso
Fonte: O próprio autor.

Este verso 11 tem três importantes lições a ensinar para o remanescente escatológico do
tempo do fim:
1. A vitória é obtida através sangue do Cordeiro (διὰ τὸ αἷµα τοῦ ἀρνίου, diá tó haima tou
arniou, “por causa do sangue do Cordeiro”), a preposição διά é “um marcador de o instrumento
pelo qual algo é realizado” (LOUW e NIDA, 1996), sua tradução pode ser “por”, “através”, “por
causa de” e “em virtude de” (TRAIL, 2008b). Jo 12:27-32 fala da “hora” da morte e ressurreição
como o momento definitivo em que o príncipe deste mundo será lançado para longe de Cristo. Isso
leva à conclusão de que o primeiro passo para a vitória sobre Satanás é a aceitação de Jesus como
!79

Salvador, e a permanência nEle. “Parece que não só Miguel e seus anjos derrotaram Satanás, mas
também que os verdadeiros crentes o tem derrotado. Claro, a principal causa de infligir esta derrota
é o sangue do Cordeiro” (CEVALLOS, 2009, p. 241).
2. A “palavra” e o “testemunho” são fundamentais na vitória (ver capítulo 3 deste
trabalho); e
3. A fidelidade é até a morte.
A centralidade desta mensagem é de suma importância para a compreensão geral do livro,
nela está perceptível a mensagem de que não importam as aparências, o Cordeiro é vitorioso contra
Satanás, e quem estiver com Ele também será vencedor, apesar de tudo o que sofreram, até mesmo
a morte. Chaij (1979, p. 33) diz que “no vocabulário cristão, ‘vitória’ é a grande palavra. Não se
trata somente de um conceito filosófico, de um mero desejo ou de uma vaga possibilidade”. É uma
palavra confortadora e também cheia de esperança para aqueles que enfrentam a luta espiritual sem
às vezes conseguir enxergar a mão de Deus na história.

3.2.5.2 Ap 15:2 Vencedores sobre a besta

O “cântico de Moisés” será cantado pelos “vencedores da besta”, provavelmente referindo-


se a segunda besta, uma vez que se complementa a identificação deles como vencedores “da sua
imagem e o número do seu nome” (cf. Ap 13:11-18). Este cântico marca a saída do novo Israel,
chamados aqui de os 144.000 “seguidores do Cordeiro por onde quer que vá” (14:4), eles estão de
partida para a Nova Terra, e as pragas estão vindo para garantir-lhes a liberdade.
Esta passagem serve para lembrar que apesar de a primeira besta ter vencido os
“santos” (13:7), a segunda besta, a imagem da besta e o número do seu nome não terão o mesmo
êxito, como visto também em Ap 17:14.

3.2.5.3 Ap 21:7 O vencedor é herdeiro

O último texto onde aparece νικάω é Ap 21:7. Nele é dito que “o vencedor herdará todas
essas coisas, e eu lhe serei Deus, e ele me será filho”. A promessa soa como um resumo de todas as
promessas feitas anteriormente aos vencedores no Ap. É como uma última confirmação. Ela se
encontra na descrição do novo céu e da nova terra e “todas essas coisas” pode ser cada objeto
descrito nos capítulos 21 e 22.
!80

A palavra κληρονόµος (klēronómos, “herdeiro”) “denota especificamente o herdeiro de


bens imóveis ou bens” (TDNT). Quem recebe bens ou imovéis sem ser um herdeiro, como um
presente apenas, por exemplo, nunca é chamado por este nome na Bíblia. Em Ap 21:4 o verbo
κληρονοµέω (klēronoméō, “herdará”) denota, portanto, que não é um presente que o vencedor está
recebendo, mas aquilo que lhe pertence por direito como filho de Deus.
Tal promessa ecoa àquela que Deus fez a Davi: “Eu lhe serei por pai, e ele me será por
filho” (2Sm 7:14). No NT o κληρονόµος conquista sua herança “pela fé” (Hb 6: 12) ele é
“manso” (Mt 5:5), e deixa tudo por amor de Jesus (Mt 19:29), os anjos o protegem (Hb 1:14), e sua
herança está preparada desde a “fundação do mundo” (Mt 25:34).
A maneira de tornar-se herdeiro é descrita por Paulo em Gl 4:1-7. Ele descreve a Deus
como alguém que resolve adotar os homens como Seus filhos, e dar-lhes o direito de receberem
Suas promessas tal como Jesus o teve (Hb 1:2), pois eles são co-herdeiros com Cristo (Gl 4:7).
Outro aspecto de vital importância é que o relacionamento dos filhos de Deus com o seu Pai
Celestial vai além de um relacionamento escravo/Senhor. Aos filhos adotados é dado o direito de
chamar a Deus de “Aba” (Rm 8:15), palavra aramaica que expressa uma intimidade com Deus, a
qual apenas o próprio Jesus utilizou (Mc 14:36). Em nenhum outro texto bíblico um personagem
das Escrituras chama Deus de “Aba”. Tal descrição (de pai e filho) é de uma beleza ímpar, e João a
usa para concluir suas referências ao vencedor, assim, o vencedor é também um herdeiro, por isso o
versículo conclui assim: “Eu lhe serei Deus, e ele me será filho”.

3.2.6 θάνατος, ἀποκτείνω , σφάζω e νεκρός (thánatos, apokteinō, sfazō e nekrós)

Os vocábulos θάνατος, ἀποκτείνω, σφάζω e νεκρός têm uma relação íntima com πίστις,
pois algumas vezes aqueles que são fiéis ou são mortos ou ameaçados de morte. Na porção
escatológica do livro encontram-se anúncios e alertas de morte aos fiéis, as palavras desta porção
dão ao leitor do Ap a visão correta das consequências terrestres de se seguir a Jesus, assim, ninguém
está sendo enganado. Em Lc 14:28-33 Cristo faz um convite a todos quantos queiram seguir-Lhe,
eles devem avaliar os “custos” do discipulado. No contexto do Ap este “custo” inclui a morte.

3.2.6.1 Ap 12:11 Não amaram à própria vida

Em Ap 12:11, o cântico de vitória inclui um elogio ao remanescente fiel, seja ele histórico,
seja ele escatológico: mesmo tendo que encarar a morte, eles não amaram sua própria vida. A
!81

palavra que pode ajudar na compreensão deste versículo é o verbo usado aqui para amaram,
ἀγαπάω (agapaō), que significa “ter amor por alguém ou algo, com base em apreciação sincera e
grande respeito, de amar, de considerar com carinho, preocupação amorosa, o amor” (LOUW e
NIDA, 1996, pp. 292-293), e “gostar ou amar algo com base em um grande respeito por seu valor
ou importância, de amar a, gostar de, a ter prazer dentro” (IDEM, p. 300). Essas definições dizem
muito a respeito de como os fiéis devem encarar a vida aqui nesta terra.
A Bíblia revela três níveis de amor em relação ao mundo e a Deus:
1. Amar o mundo e não amar a Deus (cf. 1Jo 2:15-17);
2. Amar o mundo e amar a Deus em uma luta (cf. Rm 7:15, 19 e 20);
3. Não amar o mundo e amar a Deus fazendo dEle o único objeto de afeição (cf. Mt 6:33).
Este terceiro nível, onde “todas estas coisas” não são uma preocupação para o cristão, e
onde “todas estas coisas” também incluem a vida de cada um, é o nível apresentado e requerido no
Ap. Alguns exemplos do livro do Ap demonstram esta ideia, e ela é ainda muito mais necessária ao
remanescente escatológico, que vive no tempo do fim.
A questão básica deste tema, neste versículo, não é se eles amam a Deus, mas se eles não
amam sua própria “vida”, aqui ψυχή (psichē), que significa “a si mesmo, vida interior, algo do
íntimo; a vida (física), o que tem vida, criatura vivente, pessoa, ser humano” (NEWMAN, 1993, p.
201), Louw e Nida (1996, p. 320) ainda acrescentam: “também é possível tornar ψυχή em Fp 1:27
como propósito ou desejo, pois ψυχή incide sobre o ser total psicológico envolvido na luta pela fé”;
ou seja, eles não amaram sua própria vontade de viver, ignoraram seus desejos de felicidade e
conforto, disseram não até mesmo àquilo que não era pecado, mas que poderia ser um empecilho à
sua própria salvação, deste modo, obtiveram forças para encarar a morte. Não é suficiente amar a
Deus, é necessário fazer como Jesus, desprender-se de si mesmo para servir à causa (cf. Fp 2:7).

3.2.6.2 Ap 13:15 Um decreto de morte

Este versículo será analisado no capítulo 4 deste trabalho.

3.2.6.3 Ap 14:13 Bem-aventurados

É compreensível e até desejoso ser bem-aventurado em outras partes da Bíblia, porém


dificilmente se encontrará alguém que quer ser “bem-aventurado” por morrer. Paulo, porém, diz que
para ele “o viver é Cristo, e o morrer é lucro” (Fp 1:12). Tais palavras ajudam a compreender o
!82

sentido desta bem-aventurança. Cada cristão morto é um troféu do Reino do Céu, não corre mais
riscos e nem sofre mais as agruras deste mundo perdido. É “bem-aventurado” porque sua morte sela
seu destino com Cristo, e é a certeza do poder de Cristo sobre a morte que garante que “todos os
que foram ‘mortos’ (σφάζω, sfázō, decapitados, mortos violentamente)” (Ap 18:24) ressuscitarão no
último dia.

3.2.7 ταχύς (tachys, “sem demora”)

Assim como na porção histórica, o senso da urgência é reafirmado na porção escatológica.


“Sem demora” é “rapidamente”, e por três vezes a advertência é dita, e em todas elas é o próprio
Jesus quem as faz. Uma vez que cronologicamente a a segunda parte do livro está mais perto do fim
dos tempos, essas advertência se tornam ainda mais necessárias.
3.2.7.1 Ap 22:7, 12 e 20 Jesus vem “sem demora”
A três ocorrências de ταχύς são feitas justamente no último capítulo do livro, elas servem
como advertências ou promessas e o contexto imediato de cada uma é diferente da outra. A primeira
ocorrência tem como contexto o preparo, e as palavras usadas são semelhantes as do início do livro
(1:3). A segunda ocorrência tem, em seu contexto, a garantia de cumprimento das promessas feitas
durante todo o livro, como uma confirmação final.
A terceira ocorrência é a mais direta das promessas feitas por Jesus em relação a sua
própria vinda. Ele é apresentado como o autor geral da carta, é “aquele que dá testemunho destas
coisas”, pessoalmente e diretamente promete: “Certamente, venho sem demora”. A conclusão geral
do livro não poderia ser diferente, Cristo promete que voltará a esta terra, Ele, na verdade, reafirma
uma promessa feita por várias vezes em toda a Bíblia, Ele garante que a história deste mundo está
em suas mãos. Ele se apresenta como líder de Sua igreja, apresentando a ela qual deve ser sua meta
final: encontrar-se com Ele.
Rodríguez (2004, pp. 157-158) diz que

a esperança escatológica desempenha uma função significativa na vida atual do crente. Essa
esperança está sempre acompanhada pela disposição de esperar, em suportar as
circunstâncias mais difíceis que ameaçam a dedicação do crente a seu Senhor, e a crescer
na graça santificadora de Deus (I Jo 3:3 e II Pe 3:14). A esperança reconhece a presença do
mal, mas também reconhece que o mal não pode determinar a natureza da realidade
suprema, pois é um fenômeno passageiro, destinado à extinção [...] Portanto, a esperança
está por natureza acompanhada da expectativa, do suportar e da disposição de guardar, sob
qualquer circunstância, a intervenção divina.
!83

4 AP 13:11-18 E SUA RELAÇÃO COM A FIDELIDADE

Ap 13:11-18 deve receber especial atenção no estudo da fidelidade, porque parece ser a
seção de maior pressão sobre os “santos”. Em todo o capítulo 13, os santos são vencidos pela besta
do mar (v. 7), submetidos à sua autoridade (v. 8), levados ao cativeiro (v. 10), são mortos à espada
(v. 10), ameaçados de morte pela imagem da besta (v. 15) e boicotados financeiramente (v. 17).
Todas essas circunstâncias demandaram e demandarão fidelidade por parte dos seguidores de Jesus.
O cenário dos vv. 11-18 pode ser considerado o quadro principal de perseguição aos santos de Deus
no livro do Ap. Nestes versos estão descritos os ataques da besta da terra, em impor a adoração à
primeira besta e seu sistema religioso falsificado por meio de ameaças de morte.
As duas bestas claramente refletem o mito judaico de Leviatã, o monstro fêmea do mar, e
Beemote8, o monstro macho da terra (AUNE, 1998b, p. 798), ambos os monstros seriam mortos no
tempo do fim quando o Messias viesse (REDDISH, 2001).
O plano de fundo de Ap 13 é o primeiro século e a adoração ao imperador Domiciano e sua
tentativa de forçar os cristãos a negarem sua fé em Cristo. Trajano também foi intolerante quanto à
questão da adoração e tratava com rigor os cristãos traidores da religião pagã romana.

Vê-se que o culto a César era basicamente um teste de lealdade política, que permitia saber
se um homem era ou não um bom cidadão. Se alguém se recusasse a participar da
cerimônia de reconhecimento de César, era automaticamente rotulado de traidor e
revolucionário. A exaltação do imperador, portanto, criou um problema para os cristãos.
(SHELLEY, 2004, p. 50).

As cartas de Plínio, o Jovem, ao imperador Trajano revelam muito sobre o tratamento


recebido pelos cristãos primitivos. Ele disse que perguntava a um cristão três vezes se o acusado era
um cristão, em caso afirmativo o acusado era morto (BETTENSON, 2011, p. 29). Ele declara algo
em sua carta que é de grande importância sobre seus métodos e sobre a questão da fidelidade dos
primeiros cristãos: “Os que negaram ser cristãos, considerei-os como merecedores de absolvição.
De fato, sob minha pressão, devotaram-se aos deuses e reverenciaram com incenso e libações vossa
[do imperador] imagem colocada, para este propósito”. Plínio forçava-os a amaldiçoar a Cristo
como parte do processo de fidelização à Roma (BETTESON, 2011, p. 29, grifo nosso). Trajano
elogia Plínio pela maneira “acertada” com que tratou os cristãos (IDEM, p. 31).
No contexto escatológico, as duas bestas representam poderes religiosos e civis que
trabalharão juntos a fim de implantar um falso sistema de adoração, que vem a ser o principal tema
da seção, e, por conseguinte, o principal tema de todo conflito escatológico. A implantação de tal

8 Em Jó 40:15 Beemote aparece como “hipopótamo”


83
!84

sistema vem através de uma proibição de “comprar” e “vender”, que é o método adotado pela besta
para alcançar o seu objetivo final. O objetivo deste último capítulo é abordar conceitos práticos
sobre fidelidade a partir de uma análise de Ap 13:11-18.

4.1 ESTRUTURA DA PASSAGEM

A seção 13:11-18 é uma continuação de uma série de visões, que vêm desde o capítulo
11:19 ou 12:1 (dependendo do autor consultado). Essas visões devem ser vistas como uma parte
importante na discussão da fidelidade, pois os poderes antagônicos, Cristo e o Anticristo, estão em
guerra, e ambos querem arregimentar seguidores, essas visões vão até o capítulo 14:20, e tratam do
“Grande Conflito entre Cristo e Satanás” (STEFANOVIC, 2009; MOUNCE, 1997).
A seção 13:11-18 pode ser dividida em três partes, onde a “segunda besta”, também
chamada de “besta da terra” parece ser o personagem principal, e seu papel é basicamente servir de
apoio à primeira besta. A “Imagem da Besta” entra em cena no verso 5, e a tão discutida “marca da
besta” aparece na parte final desta seção.
Aune (1998) sugere uma estrutura para a seção, aqui apresentada com adaptações:

Ilustração 4. Estrutura da seção Apocalipse 13:11-18


(1) Fórmula introdutória da visão: “Vi ainda” (v. 11a)
(2) Sujeito da visão: outra besta que surge da terra (v. 11a)
(3) Descrição da segunda besta (v. 11b): (a) Dois chifres como um cordeiro; (b) Falava como
dragão.
(4) Relação com a primeira besta (v. 12a): (a) Exerce toda a autoridade da primeira besta; (b) Age
sobre seu interesse.
(5) O programa de promoção da adoração da primeira besta (vv. 12b–17): (a) Ela força a
adoração à primeira besta (vv. 12b–13); (b) Ela seduz o povo (v. 14); (c) O culto à imagem da primeira
besta (v. 15); (d) A segunda besta compele à todos a serem marcados (v. 16); (e) O que acontece com quem
não é marcado (v. 17a); (f) o conteúdo da marca (v. 17b).
(6) Conclusão numérica enigmática (v. 18): (a) Introdução: “Aqui está a sabedoria” (v. 18a); (b)
desafio a decodificar o número da besta (v. 18b).

Fonte: Adaptado de Aune (1998b).

A linguagem de Ap 13:11-18 também parece ser um reflexo de Dn capítulos 3 e 6. Neles se


encontram duas histórias de pessoas fiéis, que foram perseguidas por se manterem firmes ao lado de
Deus e de Sua palavra, e, nos dois casos, o teste envolveu a questão da adoração. O episódio dos
companheiros de Daniel mostra a fidelidade em não praticar adoração falsa, e o de Daniel em
!85

continuar praticando a adoração verdadeira, mostrando assim que não fazer aquilo que é errado
deve ser acompanhado pela atitude de fazer o que é certo.
Nas duas situações, Deus livrou Seus filhos da morte em meio à sentença já dada pelos
governantes de Babilônia; em ambas as histórias foi usado um decreto de morte, e Deus não livrou
Seus filhos de serem condenados. Qualquer um que deseje ser fiel a Deus deve estar ciente que, em
caso de rejeição da adoração falsa no momento em que esta for imposta, Deus não livrará Seu povo
de perseguição e talvez não o livrará de serem condenados por leis humanas que lhes tirem a vida.
Porém, se Ele achar por bem que alguém deva ser libertado, como o foram Daniel e seus
companheiros, Ele o fará.
O quadro abaixo mostra as semelhanças entre as palavras usadas entre Dn e Ap.:

Quadro 8. Paralelos entre Daniel 3 e 6 e Apocalipse 13:11-18

Elemento em Ap 13 Paralelo em Dn 3 e 6
Imagem da Besta (v. 14) Imagem de Nabucodonosor (Dn 3)

Decreto de morte (v. 15) Decreto de morte (Dn 3 e 6)

Adoração à besta (v. 15) Adorar a imagem (Dn 3) e Rejeitar a adoração a Deus
(Dn 6)

“A todos, os pequenos e os grandes, os ricos e os pobres, “Os sátapras, os prefeitos, os governadores, os juízos, os
os livres e os escravos” (v. 16) tesoureiros, os magistrados os conselheiros e todos os
oficiais da província” (Dn 3) e “todo homem” (Dn 6)

666 (v. 18) “Sessenta côvados de altura e seis de largura” (Dn 3)

Fonte: o próprio autor.


!

Os amigos de Daniel não estavam cientes de que seriam livres, apenas foram fiéis a Deus
porque este era o correto a ser feito, eles estavam dispostos a sofrer as consequências: “Se o nosso
Deus a quem servimos, quer livrar-nos, ele nos livrará da fornalha de fogo ardente e das tuas mãos,
ó rei. Se não, fica sabendo ó rei, que não serviremos a teus deuses, nem adoraremos a imagem de
ouro que levantaste” (Dn 3:17 e 18, grifo nosso). Tal resposta requer uma fé sem interesses, a qual
confia em Deus, e não necessariamente em Seu livramento, que entende que Deus dá especial
atenção aos resultados da fidelidade, ou livrando Seu povo, ou dando forças a ele.
A escolha da alusão aos dois episódios de Dn é uma evidência de que o autor está
retratando um contexto de idolatria. É importante lembrar que a “idolatria” e o adultério espiritual
podem ser demonstrados de maneiras diversas, especialmente através da adoração daquilo que não
é o Deus verdadeiro. É certo que os primeiros cristãos reconheceram nestas palavras a história, bem
conhecida por eles, de Daniel e seus companheiros. Tais palavras serviram para que eles mesmos
!86

tivessem ânimo para enfrentar suas próprias “fornalhas”, que no caso seriam os métodos de
perseguições romanos do primeiro século, relatados no capítulo 1º deste trabalho.
Essas informações ajudam a ver o uso de Dn 3 e 6 como uma espécie de incentivo à
fidelidade, como se Jesus dissesse a eles: “Eu estava com eles, estarei com vocês também, apenas
sejam fiéis”.

4.2 CRONOLOGIA DO TEXTO

O mundo de hoje vive além da última profecia de tempo (RODRÍGUEZ, 2011), que no
caso são as 2.300 tardes e manhãs de Dn 8:14, iniciadas em 457 a.C. e finalizadas em 1844. Em
uma perspectiva profética, seria adequado dizer que já se vive no tempo do fim - e os versículos
11-18 de Ap 13 são vistos como ainda no futuro; que a segunda metade do Ap descreve os últimos
anos da história desta terra, ou até mesmo os últimos meses (MOORE, 2013).
Situar o texto cronologicamente depende de alguns fatores: “É importante estudar Ap 13
no seu contexto bíblico e entender o todo, em vez de somente parte dele” (GULLEY, 2004, p. 190).
É vital conhecer o método de interpretação profética, a própria interpretação dos personagens, e o
próprio texto apocalíptico que dá evidências suficientes para crer que a seção 11-18 ainda está no
futuro:
1. A segunda besta é posterior à primeira besta, portanto posterior ao período de
perseguição de “quarenta e dois meses” finalizado em 1798 (13:5);
2. É um evento mundial, que afeta “a todos, os pequenos e os grandes, os ricos e os pobres,
os livres e os escravos” (13:16); essa é uma expressão usada para mostrar o alcance de algo no
Ap, um evento assim não pode ser comprovado historicamente entre o período de 1798 e hoje; e
3. Esse evento desencadeará as “pragas”, e portanto, o fim de tudo (Ap 14:10).

4.3 IDENTIFICANDO A SEGUNDA BESTA E SUA IMAGEM

Antes de prosseguir, é importante identificar quem é a segunda besta de Ap 13 e também a


sua imagem. Isso é importante para poder definir que tipo de fidelidade é requerida do povo de
Deus no fim dos tempos. O tema da fidelidade e sua relação com a segunda besta, começa com a
própria identificação da segunda besta. Suas três características apresentadas fazem das palavras de
Jesus um alerta no momento da apresentação: “porque surgirão falsos cristos e falsos profetas
operando grandes sinais e prodígios para enganar, se possível, os próprios eleitos” (Mt 24:24). “A
!87

aparição do cordeiro não é uma mera paródia do Cordeiro de Deus; aparece também como a
incorporação da fraude – inofensivo, louvável e atraente” (KISTEMAKER, 2004, p. 492). Jesus
também advertiu seus discípulos sobre a necessidade de reconhecer ovelhas disfarçadas:
“Acautelai-vos dos falsos profetas, que se vos apresentam disfarçados em ovelhas, mas por dentro
são lobos roubadores” (Mt 7:15). A segunda besta apenas parece uma ovelha, mas “ela fala como
dragão, isto é, ardilosamente e sutilmente” (BULLINGER, 1984, p. 432); além disso, “ela é uma
imitação de Cristo – religião prostituída com finalidade maligna” (LADD, 2011 p. 136).
A identificação da segunda besta no meio protestante está divida basicamente em dois
grupos de opiniões: de um lado estão os evangélicos em geral, e de outro lado, estão os Adventistas
do Sétimo Dia. Aune (1998b, p. 756), por exemplo, acha que a identificação da segunda besta a
partir do texto bíblico é “problemática”. Ladd (2011, p. 136) diz que é impossível encontrar uma
personagem da história antiga que pudesse ser identificada com a segunda besta”, porém admite
“que o quadro é altamente profético”.
A interpretação em si varia de autor para autor no meio protestante, tendo apenas o
consenso de que a primeira besta é um poder político e a segunda é um poder religioso. Beale
(1999, p. 707) diz que a segunda besta tem “um papel primariamente religioso”, aceitando a antiga
interpretação da Reforma Protestante de que a segunda é Roma Papal (ROBERTSON, 1933); Aune
(1998b, p. 756) apresenta-se confuso quanto à interpretação, mas arrisca dizer que “a solução mais
provável é que a besta da terra representa o sacerdócio imperial, o qual estava principalmente
preocupado com a promoção do culto imperial”, porém sua explicação não define quem seja a
besta. Osborne (2002, p. 512) acredita que “este último ‘falso profeta’ é provavelmente aquele que
vai surgir de dentro da igreja e levar à ‘grande apostasia’ de 2 Tessalonicenses 2:3”, ele conclui seu
pensamento dizendo que em “1 João 2:18 e 4:1-3 falam dos ‘muitos anticristos’ ou falsos mestres
que surgiram para espalhar heresia na igreja. Esta segunda besta será o último ‘falso profeta’, que
vai resumir todas as outras”; e Mounce (1999, p. 256) alega que o “papel sacerdotal identifica a
segunda besta como um poder religioso”.
Os Adventistas do Sétimo Dia têm interpretado, desde o início de seu movimento, a
segunda besta como sendo os Estados Unidos da América. Andrews (1851) assim já interpretava
desde o início da década de 1850; Smith (1897, p. 580) escreveu em seu clássico Daniel and
Revelation “que este símbolo [da segunda besta] deve ser aplicado aos Estados Unidos da
América”; E. G. W. corroborou a interpretação de que os E.U.A. é a segunda besta em 1870, no
quarto volume de The Spirit of Prophecy, que se tornaria mais tarde parte do livro O Grande
Conflito, onde ela diz claramente:
!88

Aqui há uma figura marcante da ascensão e crescimento da nossa própria nação. E a


semelhança a um cordeiro de dois chifres, emblemas da gentileza inocente, muito bem
representam o caráter de nosso governo, como expresso em seus dois princípios
fundamentais, o republicanismo e protestantismo. Os exilados cristãos que primeiro
fugiram para a América, buscaram asilo contra a opressão real e a intolerância dos
sacerdotes, e eles decidiram a estabelecer um governo sobre o amplo fundamento da
liberdade civil e religiosa. Estes princípios são o segredo de nosso poder e prosperidade
como nação. Milhões de outras terras procurado abrigar-se em nossas costas, e os Estados
Unidos sobem para um lugar entre as nações mais poderosas da terra (WHITE, 1870, p.
277).

No livro O Grande Conflito ela afirma categoricamente: “A aplicação do símbolo não


admite dúvidas. Uma nação, e apenas uma, satisfaz às especificações dessa profecia; essa aponta
claramente para os Estados Unidos da América” (WHITE, 2008b, p. 440).
Outros autores adventistas seguem a mesma interpretação, porém poucos estudos têm
demonstrado a validade da interpretação. Maxwell (1992), Dorneles (2012) e Moore (2013) fazem
parte daqueles que mais recentemente tentam mostrar a validade da interpretação adventista de Ap
13, principalmente a apresentação dos Estados Unidos como a segunda besta.
A identificação dos EUA como a segunda besta pode ser, de maneira resumida, apoiada
pelos seguintes argumentos:
1. Argumentos exegéticos: O versículo 11 apresenta o seguinte texto: “vi ainda outra besta
emergir da terra; possuía dois chifres, parecendo cordeiro, mas falava como dragão”. Na ARA a
conjunção “καὶ” foi traduzida como “ainda”, colocada depois do verbo, “quando a sentença é
dividida em várias cláusulas independentes que são unidas por conjunções; as partes individuais são
referidas como segmentos sentenciais” (LUKASZEWSKI, 2007). Isso quer dizer que καὶ εἶδον (kai
eidon) mostra que esta seção faz parte da série de visões iniciadas em 12:1 (THOMAS, 1995, p.
171), continuada em 13:1, formando assim a tríplice aliança satânica: o dragão, a besta, e o falso
profeta, o que Bullinger (1984, p. 432) chama de “disfarce do diabo em Santa Trindade”.
É importante notar que os autores em geral concordam que uma das bestas é um poder
político e a outra é um poder religioso, o que também é apoiado neste trabalho, pois o pronome
demonstrativo ἄλλο (állo, “outra”), “funciona adjetivamente com relação ao seu antecedente. Na
posição, que ocorre com a posição de um adjetivo atributivo” (LUKASZEWSKI, 2007), porém a
ordem pode ser justamente o inverso, pois a primeira besta é blasfema, e seus ataques são
diretamente contra Deus (13:5 e 6), e o papel da segunda besta é dar apoio para que isso aconteça
novamente no tempo do fim (13:14). Ela é o “falso profeta” (Ap 16:13; 19:20; 20:10). “Religião é,
de fato, uma descrição muito restrita para caracterizar esta segunda besta. Ela é, na forma hodierna
de expressão, a ideologia, seja religiosa, filosófica ou política - que ‘dá vida’ a toda estrutura social
humana organizada independentemente de Deus” (WILCOCK, 1986, p. 100, grifo nosso).
!89

O vocábulo θηρίον (thēríon, “besta”) certamente representa reinos e reis (Dn 7:17, 23, 24),
o que leva à conclusão de que esta segunda besta, Beemote, é um reino ou poder, neste caso um
poder político.
2. Argumentos teológicos: O próprio texto bíblico oferece sinais para identificação da
primeira besta como poder religioso e da segunda besta como poder político: A primeira besta é um
paralelo do chifre pequeno de Dn 7 e 8; A primeira besta é blasfema; A primeira besta atua no
mesmo período de tempo que o chifre pequeno; A segunda besta cria o ambiente para a
perseguição; A segunda besta é cronologicamente posterior à primeira, isto é, sua atuação como
promotora da falsa adoração é posterior aos 1260 dias/anos; A segunda besta deverá criar leis que
possibilitem sua ação perseguidora.
3. Argumentos geográficos: Andrews (1851) chamou a atenção para o fato de que os
impérios perseguidores vão tomando seu lugar cada vez mais ao ocidente (DORNELES, 2012),
descartando assim a possibilidade de ser esta uma “entidade europeia”. De fato, a expressão
“emergir da terra”, deve ser contrastada com o “emergir do mar” do v. 1, levando assim à conclusão
de que este poder deveria surgir em um lugar pouco habitado por ocasião de seu estabelecimento,
uma vez que água é símbolo de “povos, multidões, nações e línguas” (Ap 17:5).
4. Argumentos históricos: Dorneles (2012) mostra que através de três momentos especiais
os EUA foram moldados como segunda besta: (1) no descobrimento feito por Colombo de uma
nova terra, (2) na imigração dos ingleses protestantes para a América no início do século 17 e (3) na
declaração de independência dos EUA. Estes três momentos mostram, de forma clara, como a
compreensão mitológica do novo céu e da nova terra fazem dos EUA o messias para este mundo
conturbado no século 21. Além disso, os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001 abrem as
portas para um novo tipo de intolerância, a religiosa fundamentalista, da qual os adventistas com
suas crenças sobre a criação e o dilúvio fazem parte.
Imagem da Besta. Moore (2013) faz uma análise dos três personagens do capítulo 13 de
Ap e conclui que a besta do mar é a Igreja Católica Romana, a Besta da Terra são os Estados
Unidos da América (cf. tb. ANDERSON, 1988) e a Imagem da Besta é o Protestantismo
Apostatado. Quanto à primeira e segunda bestas ele parece estar certo, porém a imagem da besta
não é necessariamente um poder, mas a imagem de um poder. Essa imagem é uma cópia, uma
imitação. A frase εἰκόνα τῷ θηρίῳ (eikóna tō thēríō, “imagem à besta”) está no dativo, este é o
“caso que é regularmente utilizado para objetos indiretos e os objetos de algumas preposições. O
dativo refere-se à pessoa ou coisa a que algo é dado ou para quem algo é feito” (HEISER, 2005). As
possibilidades de tradução são: “para a besta”; “da besta”; “em honra a besta”; “em honra da besta”;
!90

“(um ídolo) na forma da besta” (TRAIL, 2008B, p. 51). Essas possíveis traduções clareiam mais a
natureza desta imagem, mostrando que ela não é um terceiro poder, apesar de receber fôlego, fala e
poder (v. 15). Ela é semelhante à besta do mar, que segundo a interpretação tradicional adventista é
a Igreja Católica Romana. Portanto a imagem tem características religiosas semelhantes a esta
igreja; tem poder para matar, é um poder também político.
Então, são as bestas que movimentam a imagem. Ela recebe fôlego da segunda besta e sua
missão é forçar os moradores da terra a adorarem a primeira besta. “A besta é blasfema porque
procura ser Deus, com todas as prerrogativas e adoração concedidas a Deus. Esta procura de ser
Deus é o mais importante indício interpretativo para o sentido em Apocalipse 13” (NADEN, 1996,
p. 196), esta característica apontada por Naden (1996) é semelhante a Domiciano no primeiro
século que, em seu desespero por adoração e divindade, matou aqueles que ele considerava “ateus”.
A interpretação do SDABC parece ser a mais acertada neste ponto:

Uma imagem da primeira besta seria uma organização funcionando em muitos dos mesmos
princípios que a organização da besta. Entre os princípios pelos quais a primeira besta
operou foi o uso do braço secular para apoiar as instituições religiosas. Em imitação, a
segunda besta irá repudiar seus princípios de liberdade. A igreja vai prevalecer sobre o
Estado para impor seus dogmas. O Estado e a Igreja se unirão, e o resultado será a perda da
liberdade religiosa e da perseguição de minorias dissidentes (SDABC, 7:821-822).

O verbo λαλέω (laléō, “falar”) é usado em outras duas passagens que podem ajudar na
interpretação de Ap 13:15. Primeiramente em 13:6 e 7 é dito que a primeira besta recebeu uma
“boca que proferia arrogâncias e blasfêmias”; essas blasfêmias eram “contra Deus”; Seu nome era
difamado, bem como o Seu tabernáculo. Outra passagem é Dn 7:8, que fala do chifre pequeno com
“uma boca que falava com insolência”. Ambas as passagens falam do poder romano religioso e sua
presunção de agir como Deus, em especial de sua característica perseguidora contra os santos de
Deus. Portanto, a imagem falante é a repetição escatológica desta característica que foi
predominante especialmente na Idade Média. “A explicação sugerida para a capacidade de falar da
imagem como resultado de ventriloquismo, e faz uma analogia com um truque semelhante de ao
praticado na magia contemporânea durante o primeiro século” (THOMAS 1995, p. 178).
Gulley (2004, p. 195) chama a igreja cristã apostatada de “cristianismo sequestrado pelo
inimigo. É cristianismo somente pelo nome, mas na realidade é um caminho livre através do qual o
diabo trabalha”. Essa insolência no falar mostra claramente o tipo de pensamento que o poder
religioso falso tem a respeito de Deus e de Seu povo. Assim a imagem da besta é a volta dos
métodos de perseguição usados na Idade Média para violentar o direito de liberdade religiosa dos
fiéis cristãos, que queriam seguir a Bíblia e não os mandamentos dos homens. Esta compreensão da
!91

imagem da besta é que torna o tema da fidelidade relevante no capítulo 13 de Ap, pois ainda mais
uma vez, os santos terão que mostrar, sob circunstâncias de perseguição e intolerância religiosa, sua
perseverança e fidelidade. Perseverança para manterem-se firmes na Palavra de Deus, não crendo
nos prodígios operados pelas bestas, pois não passam de imitações fraudulentas do verdadeiro poder
de Deus (Ex 7:11; 2Tm 3:8; At 13:6-8); e fidelidade para não deixarem de agir como verdadeiros
discípulos de Cristo em meio à crise final (1Tm 4:1-3).

4.4 ASPECTOS DE FIDELIDADE EM APOCALIPSE 13:11-18

4.4.1 O princípio do exercício da fidelidade (cf. Lc 16:10)

As palavras de Lc 16:10 são essenciais no entendimento da prática da fidelidade: “Quem é


fiel no pouco também é fiel no muito; e quem é injusto no pouco também é injusto no muito”. Essas
palavras mostram que ser fiel é uma questão de exercício, o texto ensina que fidelidade é algo que
se pratica. Dentro do contexto escatológico, isso quer dizer que os crentes serão fiéis a ponto de
entregarem a sua vida, porque aprenderam a renunciar coisas menores no cotidiano da vida diária
Ninguém será fiel instantaneamente, tal característica será adquirida durante uma vida de
negações de si mesmo e também de uma prática da confiança em Deus (WHITE, 2007c, p. 213). O
exemplo de Daniel e seus amigos neste assunto é importante, pois eles, desde o princípio, já
estavam arriscando algo. No início do livro (Dn 1), eles aparecem dispostos a passar fome, caso não
lhes fosse permitido comer aquilo que achavam que era melhor para sua saúde, e então mais tarde
são encontrados arriscando sua vida pelo Deus a quem serviam.
São encontradas, nos escritos de Ellen G. White, algumas palavras sobre o
desenvolvimento da fidelidade, textos como o de Mensagens Escolhidas, vol. 2 falam sobre o
assunto:
A perfeição de caráter é atingida mediante o exercício das faculdades da mente, em tempos
de suprema prova, pela obediência a toda reivindicação da lei de Deus. Homens em
posições de confiança devem ser instrumentos nas mãos de Deus para promover-Lhe a
glória, e no cumprimento de seus deveres com a máxima fidelidade, eles podem atingir a
perfeição de caráter (WHITE, 2008a, p. 161, grifo nosso).

No mesmo livro ela indica que Deus é quem permite essas provas, para que o caráter de
Jesus seja impresso na vida de Seus filhos e que

sem essas provações haveria um contínuo afastamento da semelhança com Cristo, e


homens ficariam possuídos de um espírito de filosofia científica, fantasiosa e humana, que
!92

os levaria a unirem-se com os seguidores de Satanás (WHITE, 2008a, p. 160, grifo nosso).

Chaij (1990, pp. 28-29) apresenta “benefícios das provas”:


1. As provas e asperezas da vida fortalecessem a nossa fé em Deus, já que essa fé se
acrescenta por meio do exercício;
2. As provas produzem um estado mental no qual nos sentimos mais dispostos a orar;

3. As provas nos obrigam a examinar nosso próprio coração;

4. As tribulações e provas preparam nosso caráter para o Céu;

5. Capacitam-nos para entender e consolar aos que enfrentam tribulação.


Cada prova vivida deve ser vencida a fim de preparar o caráter para a prova final… assim
como cada queda fortalece o mau caráter,

a coragem seria desnecessária sem a presença do mal ou do perigo. Consequentemente, o


bem maior desenvolvido da virtude é impossível sem a presença do mal. Pode parecer um
preço alto para pagar, mas quando o produto final surge em forma de integridade pessoal e
de caráter, vale a pena o preço da dor suportada (GEISLER e BOCCINO, 2003, p. 256).

Essa mesma regra aplica-se à pratica do mal: “o sofisma de que pequenos pecados não
afetam o caráter é absolutamente falso. Faz dormir a consciência, enquanto pela entrada
desprotegida do coração o inimigo introduz seus dardos traiçoeiros” (SCHWANTES, 1983, p. 115).
Wright (2012) falando sobre a transformação do caráter, propõe o que ele chama de
“padrão triplo de transformação do caráter”: determinar o alvo, passos para alcançá-lo e processo de
treinamento moral.

4.4.2 A questão da adoração

A palavra προσκυνέω (proskyneō, “adorar”) utilizada em Ap 13:15, é usada sessenta vezes


no NT, e é traduzida pelo verbo “adorar” na ARA na maioria das vezes. Na LXX a palavra tem o
sentido de “venerar” uma divindade verdadeira ou falsa (TDNT), como Abraão foi “adorar” a Deus
com seu filho Isaque (22:5), ou mesmo simplesmente prostrar-se reverentemente diante de alguém
(Gn 23:12); o significado mais primitivo era “beijar”, como se estivesse beijando o chão em honra
ao deus homenageado.
No NT (Mt 2:11; 4:9; 18:26; Mc 15:19; Lc 4:7; At 10:25; 1Co 14:25), às vezes uma outra
palavra (πίπτω, piptō, “prostrar-se”) é usada juntamente para dar o sentido de inclinação, ao passo
que προσκυνέω fica somente com o sentido de adorar, por exemplo Gn 24:26 e 48. Esse padrão
!93

“prostrar-se e adorar” aparece algumas vezes no NT, mostrando assim que προσκυνέω deve ser
entendido como muito mais do que simplesmente se inclinar, “adoração, reverência; adoraram;
prostrou-se honrado; reverência, curvou-se, adorando, prostraram-se” (LOGOS, 2012), ou seja, é a
entrega do coração ao objeto da adoração, que se refletirá nas atitudes, que neste caso pode ser a
reverência ajoelhado ou com rosto em terra, que era apenas uma demonstração daquilo que ia no
íntimo daquele adorador. Assim, também é possível prostrar-se sem adorar, “Satanás quer ser
adorado. Ele que roubar a adoração que pertence a Cristo e recebê-la para si. É por esse motivo que
a batalha do tempo do fim se dá no campo da adoração” (GULLEY, 2004, p. 191).
O tema da adoração é crucial no contexto escatológico. O interesse da segunda besta é de
forçar os habitantes da terra a uma falsa adoração, assim como no primeiro século os cristãos foram
forçados a adorar o imperador, como diz Ladd (2011, 136): “o simbolismo da adoração ao
imperador forma somente o pano de fundo para a visão da segunda besta, que terá muito mais poder
e influência que qualquer coisa conhecida do mundo antigo”. Essa ideia do aspecto escatológico da
adoração é reforçada nas seguintes palavras:

Na verdade, a mesma igreja cristã se concebe como um fenômeno escatológico, e a


adoração da igreja do tempo do fim se concebe também um fenômeno escatológico. A
igreja adora no intervalo entre a ascensão e o retorno de Cristo. Assim a adoração cristã
pode celebrar o reino da graça e ao mesmo tempo celebrar o reino da glória. A igreja não
deveria esquecer que “a adoração cristã é escatológica” (PLENC, 2004, p. 173).

O centro da estrutura literária do grande conflito (Ap 11:19–15:8), é, segundo Shea (2000),
o Cordeiro e os 144.000 sobre o Monte Sião, ou seja, a vitória final é de Jesus e Seus seguidores. E
Ap 12 é o sumário do grande conflito (CHRISTIAN, 1999). Nestes capítulos (12-18), encontra-se a
maior de todas as guerras, a luta pela adoração, Satanás usará todas as suas forças para conseguir a
adoração de todos na terra, “o grande conflito entre Cristo e Satanás é uma guerra real” (IBID.), e
Deus adverte Seu povo hoje através da porção escatológica a ser fiel na adoração a Ele. Essa guerra
será feita principalmente através da aceitação ou rejeição do selo de Deus ou da marca da besta, ou
seja, uma guerra sobre a verdadeira e a falsa adoração.
LaRondelle (2004), Macpherson (2005), Gulley (1994), Paulien (1999), Reid (1998)
afirmam que a questão central sobre a adoração é a guarda do sábado bíblico como sinal de
fidelidade entre o povo de Deus e Ele. Heschel (2004), fala do sábado como um “Palácio no
Tempo” e também apresenta-o como um fator de fidelidade. Paulien (1998a, p. 185) confirma isso
dizendo que “no coração do tema está o fato que o sábado é um modo ideal para testar se o povo é
verdadeiramente leal a Deus”, ou seja, essa guerra pela adoração é o tema central do Ap.
O remanescente apocalíptico possui quatro principais características segundo Mueller
!94

(2000): a guarda dos mandamentos, o testemunho de Jesus, paciência e fé. Por que é tão necessário
que o remanescente seja assim tão fiel? Por que Deus deseja uma obediência tão estrita? “É porque
parece que algo do ‘evangelho’ foi modificado ou mudado em algum tempo antes dos eventos
vistos em Ap 14” (DOUGLASS, 2001b, p. 146), ou seja, Seu povo fiel deve estar atento para não
ser enganado, e assim prestar um culto falso a Deus pensando que está no caminho certo. Essa é a
marca da besta: a aceitação de um sistema falso de adoração; e a profecia prevê ainda que alguns
serão mortos por manterem-se fiéis a Deus e à Sua palavra (Ap 20:4).

É difícil imaginar uma situação mais crítica e decisiva do que a descrita no capítulo 13, a
qual se localiza próximo a uma cena de eventos igualmente cruciais e dramáticos descritos
no capítulo 14. Um sistema religioso blasfemo unido com um poder político influente [...]
está pregando um falso evangelho que é bem-sucedido em fazer com que as pessoas de
todo mundo adore um deus falso. Além do quê, é um ministério coercivo, porque a morte é
a consequência para aqueles que se negam a adorar o deus falso (HOLMES, 1997, p. 6).

Paulien (1999, p.182) complementa:


Qual é a questão básica neste ataque [do diabo ao povo de Deus]? Ap 13 e 14 não deixa-nos
qualquer dúvida. (Ap 13:4, 8, 12, 15; 14:9, 11) Em sete ocasiões diferentes, os textos destes
capítulos falam sobre adoração ao dragão, adoração a besta do mar ou a imagem da besta. A
questão na crise final da história da terra é claramente adoração.

Portanto, a síntese do conflito entre Deus e o dragão é adoração, que por sua vez reflete-se
na obediência, por isso o chamado do primeiro anjo diz: “Temei a Deus e dai-Lhe glória” (Ap 14:7).
Isso é percebido nos ataques feitos no capítulo 13 de Ap à primeira tábua do Décalogo, onde Deus
requer adoração apenas para Ele. Neste ponto fica claro que adoração e obediência são os temas
principais da controvérsia escatológica.

Quadro 9. Ataques feitos à 1ª Tábua do Decálogo em Apocalipse 13

1ª Tábua da do Decálogo em Êx 20 Ataque à 1ª Tábua do Decálogo em Ap 13


(1) “Não terás outros deuses diante de Mim” (20:3) “eles adoraram o dragão... besta” (13:4, 8)

(2) “Não farás para ti imagem de escultura, não as “façam uma imagem à besta... adorassem a imagem da
adorarás nem lhes prestarás culto” (20:4-5) besta” (13:14, 15)

(3) “Não tomarás o nome do Senhor teu Deus em vão” “abriu a boca em blasfêmias contra Deus, para lhe
difamar o nome” (13:6)

(4) “Lembra-te do dia de sábado para o santificar... o “a marca, o nome da besta ou o número do seu
sétimo dia é o sábado do Senhor teu Deus” nome” (13:17)

Seis dias trabalharás e farás toda tua obra, mas o sétimo “para que ninguém possa compra ou vender, senão aquele
dia... não farás nenhum trabalho” que tem a marca”

“Nem tu, nem teu filho, nem tua filha, nem teu servo, “A todos, os pequenos, os grandes, os ricos e os pobres,
nem tua serva, nem teu animal, nem o forasteiro das tuas os livres e os escravos”
portas para dentro”

Fonte: MacPherson (2005).


!95

Essa obediência incondicional ao Senhor é fidelidade, que é demonstrada apenas sob


condições adversas, ou seja, ninguém é inteiramente fiel quando tudo está a seu favor. “Os cristãos
devem obedecer às autoridades enquanto não houver conflito com os ensinos de
Cristo” (KISTEMAKER, 2004, p. 497). Dentro destes primeiros mandamentos, apenas o sábado
caracteriza assunto de controvérsia até mesmo entre igrejas cristãs. Será visto a seguir como a
guarda do sábado pode influenciar na questão da adoração do conflito final.
Em contraste com o selo de Deus está a marca da besta, o qual a Bíblia chama de “número
de homem” e nomeia: “seiscentos e sessenta e seis”. Este número de ser primeiramente entendido
como um “número representativo da maior encarnação concebível da depravação e do
mal” (LOPES, p. 279). Esta é uma imagem tirada primariamente de Daniel 3. Essa marca é o oposto
do selo de Deus, ou como declara Ladd (2011, p. 138) é “uma imitação da marca de Deus”, que,
como visto é a aceitação do sábado como sinal entre Deus e o homem. Portanto, apesar das teorias
mais fantasiosas a respeito da marca da besta, tais como microchips e códigos de barras (WATSON,
1972; RELFE, 1982), ou mesmo de que a marca é o uso da moeda certa (TAYLOR, s/d).
Kistemaker (2004, pp. 498 e 499) afirma que “ter a marca da besta conduz a atos de culto e o porte
de seu [da besta] nome”, diz ainda que “a marca na fronte implica que tais pessoas são
influenciadas pela mesma filosofia e padrões de pensamento”, isso quer dizer que a marca da besta
tem a ver com adoração, e assim como a guarda do sábado é o sinal de fidelidade por parte dos
santos de Deus, “a marca da besta é sinal de fidelidade por parte dos que a recebem, identificando-
os como adoradores da besta” (LADD, 2011 p. 138). Os adventistas têm interpretado o domingo
como a marca da besta desde seus primórdios. José Bates foi o primeiro a fazer este tipo de
abordagem (BATES, 1847).
Mais uma vez, a história comprova que o livro do Ap é um livro de preparo para os eventos
finais com base em acontecimentos do primeiro século:

A marca é claramente figurativa das formas as quais o estado [Império] verificava se as


pessoas se submetiam à adoração dos ídolos obrigatórios. Possivelmente, como nas
perseguições posteriores, sob Diocleciano e Décio, os certificados foram emitidos para
aqueles leais ao imperador e participação do ritual obrigatório da religião imperial. A
descrição aqui é de qualquer uma prática começando a tomar forma ainda no final do
primeiro século ou um retrato de uma política que John antecipou que irá ocorrer em algum
ponto no futuro (BEALE, 1999, p. 715).

Pallister, um teólogo que não guarda o sábado, admite que o sábado tem tanto a função de
“providenciar descanso” quanto de “ser uma maneira das famílias se concentrarem na adoração ao
Senhor” (PALLISTER, 2005, p. 80). Para pessoas como Pallister, o dia não tem basicamente
nenhuma importância: “o grande entusiasmo e convicção manifestados tanto pelos adeptos do
!96

sábado como pelos do domingo parece sugerir que tanto um dia como o outro, se for observado
com amor e convicção diante de Deus, será do agrado de Deus” (PALLISTER, 2005, p. 86). Após
essa declaração quase ecumênica ele pede ainda um pouco de atenção ao assunto e tenta provar que
o domingo é o dia do Senhor e não o sábado. Além disso, Pallister (2005, pp. 96 e 97) mostra
ignorar o julgamento de Deus a respeito do assunto da observância do sábado quando declara:
“achamos lamentável a intensa reprovação dos Adventistas do Sétimo Dia a todo tipo de
observância dominical; em última análise, sua doutrina do ‘juízo de investigação’ não deixa aberta a
possibilidade de salvação para ninguém que não seja rigorosamente sabatista”.
Seria de fato o dia de guarda algo sem importância? Dorneles (2012) mostra como o
chamado à adoração feito em Ap 14:6 e 7 está intimamente relacionado com a questão do sétimo
dia como dia especial de adoração e como um sinal de identificação entre Deus e Seus filhos. Ele
considera que a crença na criação e consequentemente a guarda do sábado como memorial deste ato
divino, e ainda a recusa em observar outro dia de guarda, é que caracterizará o remanescente
escatológico como “fundamentalista” e assim desencadeará uma perseguição, uma vez que a Teoria
da Evolução tem suplantado o lugar do relato bíblico a respeito da origem da Terra, tirando assim o
direito de Deus à adoração, com leis como as “Leis Azuis”9. Assim, a guarda do sábado torna-se a
questão crucial no conflito.

4.4.3 A questão da adoração e o zelo na guarda do sábado

A aceitação do sábado como dia do Senhor é o selo de Deus escatológico


(LARONDELLE, 2004, p. 148), e sua observância como prova de lealdade a Deus será a principal
prova de teste para o remanescente escatológico. Reid (1998) afirma que “uma revisão da
experiência dos guardadores do sábado no passado nos ajuda a entender o que está no futuro, e não
apenas com relação ao sábado, mas outras verdades também”. Gulley (1994) diz que interpretar o
sábado como selo de Deus não rouba o lugar do evangelho de Cristo como ponto primordial da vida
do cristão, pois “não há evangelho sem sábado, e não há sábado sem evangelho”. Autores que
argumentam contra o sábado como selo de Deus, não compreendem o papel do sábado no
evangelho, ele esclarece mais sobre isso nas seguintes palavras:

9 A lei azul é um tipo de lei destinada a restringir ou proibir alguma ou todas as compras de domingo por normas
religiosas, particularmente a observância de um dia de adoração ou descanso. Leis azuis também podem restringir ou
proibir a venda de determinados itens em dias específicos, na maioria das vezes, aos domingos, no mundo ocidental.
Leis azuis são aplicadas em partes dos Estados Unidos. Elas são chamadas de Leis Azuis porque são escritas em papel
de cor azul.
!97

Quando os observadores do sábado estiverem frente a fome por não poder comprar nem
vender (Ap 13:16, 17), e quando forem ameaçados de morte por meio de um decreto
universal (Ap 13:15), o que fará com que se mantenham fiéis ao sábado? O que é que os
comprometerá a morrer a transgredir o sábado? Muito mais do que saber exatamente que
dia da semana é. Não estarão dispostos a morrer pelo sábado até que considerem que
abandonar o sábado é rejeitar a Cristo (GULLEY, 1998, p. 393).

Note-se que o dia de sábado em si não é o selo, mas a aceitação dele como dia a ser
guardado e a prática de uma adoração especial neste dia, “ainda que seja importante observar o dia
correto, é ainda mais importante ter a experiência correta” (GULLEY, 1998, p. 392). Jon Paulien
(1998b) concorda que a questão vai além de sábado versus domingo, ele diz que é uma questão de
adoração. Ellen G. White reforça essa ideia dizendo que “nem todos os que professam guardar o
sábado serão selados. Muitos há, mesmo entre os que ensinam a verdade a outros, que não
receberão na testa o selo de Deus” (WHITE, 2007c, p. 213). Assim, os motivos para a guarda
do sábado e a maneira como isso é feito é que determinarão se ele terá efeito como selo de Deus.

4.4.4 Boicote financeiro

Beale vê em Ap 2:9 um boicote financeiro que prefigurava o boicote futuro da segunda


besta e da imagem da besta, ele declara: “em [Ap] 2:9 os cristãos são considerados materialmente
‘pobres’ por causa de sua recusa em prestar homenagem e alianças a divindades e à imagem de
César” (BEALE, 1999, p. 715).

4.4.4.1 O boicote financeiro e sua relação com o dízimo

A fidelidade nos dízimo pode ser considerada como o exercício de fidelidade financeira
para o tempo em que os santos de Deus não poderão comprar e nem vender. Ele é um
reconhecimento de que Deus é dono de tudo, mas também é um instrumento divino que ajuda o
crente a confiar que Ele está cuidando das provisões diárias na sua vida.
Reid (1994) fala de quatro problemas relacionados a finanças e tempo do fim:
1. Pode-se perder tudo o que ele salvou (acumulou) se a economia quebrar;
2. Alguns vão segurar tanto seu dinheiro que ele não poderá ser usado para beneficiar a
causa de Deus;
3. O cenário de Ap 13:17 é uma ameaça às finanças; e
4. Nossa economia será prova do nosso egoísmo e será uma testemunha contra nós no
julgamento.
!98

Sobre o uso do dinheiro no presente e no fim dos tempos, EGW faz um comentário em
Conselhos sobre mordomia que mostra claramente a fidelidade atual como preparação para os
eventos finais:

Bem no fim, antes que esta obra termine, milhares de dólares serão alegremente
depositados sobre o altar. Homens e mulheres sentirão ser um bendito privilégio participar
da obra de preparar almas para subsistirem no grande dia de Deus, e darão centenas de
dólares com a mesma liberalidade com que agora são doadas quantias menores (WHITE,
2007a, p. 40, grifo nosso).

George W. Reid confirma esta posição de preparo financeiro nas seguintes palavras:

O quadro financeiro e de rotina um pouco descuidada que todos nós estamos acostumados,
em breve tomará um rumo de grave para o pior. Aqueles que têm mantido a sua relação de
aliança com Deus utilizarão seus bens para o avanço da obra de Deus e estarão em
condições de confiar nEle para prover suas necessidades quando não puderem comprar ou
vender (REID, 1994, p. 84).

Sobre este assunto de não poder nem comprar e nem vender, tendo que confiar em Deus,
EGW faz um interessante comentário:

O povo de Deus não estará livre de sofrimento; mas conquanto perseguidos e angustiados,
conquanto suportem privações, e sofram pela falta de alimento, não serão abandonados a
perecer. O Deus que cuidou de Elias, não desamparará nenhum de Seus abnegados filhos.
Aquele que conta os cabelos de sua cabeça, deles cuidará; e no tempo de fome serão
alimentados. Enquanto os ímpios estão a morrer de fome e pestilências, os anjos
protegerão os justos, suprindo-lhes as necessidades. Para aquele que “anda em justiça” é
esta promessa: “O seu pão lhe será dado, as suas águas serão certas. Os aflitos e
necessitados buscam águas, e não as há, e a sua língua se seca de sede; mas Eu, o Senhor os
ouvirei, Eu o Deus de Israel, os não desampararei.” Isa. 33:16; 41:17 (WHITE, 2008b, p.
629, grifo nosso).

Portanto, além de o dízimo ser um reconhecimento pelas dádivas concedidas por Deus, é
também um meio de exercício para as provações futuras. Isso deve levar cada cristão a repensar sua
maneira como administra sua vida financeira. Cada dízimo doado de coração e independente da
circunstância mostra a disposição em reservar a Deus aquilo que Lhe pertence por direito. Cada
dízimo retido ajuda a desrespeitar às exigências de Deus como algo de pequena importância,
preparando assim o crente (ou descrente, no caso), para receber a marca da besta por motivos que
aos seus olhos são justos.
A visão correta sobre o que é o dinheiro e como se deve agir com ele é exemplificada na
vida de Davi, quando em uma oração de dedicação a Deus diz: “Porque tudo vem de ti, e das tuas
mãos to damos” (1Cr 29:14). Em Ml 1:6-14 Deus questiona os sacerdotes sobre a maneira
descuidada com que ofereciam os sacrifícios no templo, e nesta passagem Deus deixa claro que
nem toda oferta dada a Ele é aceita por Ele, e a diferença está na maneira como isso é feito, Deus
!99

não aceita ofertas feitas “com tristeza ou por necessidade; porque Deus ama a quem dá com alegria”
(2Co 9:7).

4.4.5 Decreto de morte

O uso do termo ἀποκτείνω (apokteínō, “morrer”) em Ap 13:15 pode ser considerado a


síntese da relação entre “morte” e “fidelidade” no último livro da Bíblia, o vocábulo significa
“causar a morte de alguém, normalmente por meios violentos” (LOUW e NIDA, 1996, p. 234).
A Bíblia apresenta pelo menos seis decretos de mortes: o do Egito sobre os bebês, com o
objetivo de destruir Israel (Êx 1:15 e 16); o decreto instigado por Hamã, também com o fim de
eliminar o povo de Deus (Et 3:12-15); o de Daniel 3, promulgado como resultado da desobediência
à ordem para adorar a imagem de Nabucodonosor; em Daniel 6 encontra-se, instigado pelos
inimigos do fiel Daniel; e o decreto de Herodes (Mt 2:16), o qual visava exterminar o próprio
Cristo. Portanto o tema não é desconhecido para o autor bíblico, o qual afirma que este tipo de
recurso será usado novamente. “João indiretamente quer dizer que pode chegar um tempo ‘quando a
recusa de cometer alta traição contra Cristo será interpretado como traição contra o
Anticristo” (KISTEMAKER, 2004, p. 497). “A perseguição e as provas na vida do cristão
apresentam um dos mais intrigantes problemas para a mente humana” (CHAIJ, 1990, p. 27)
A mensagem de Ap 13:15 portanto pode ser resumida da seguinte maneira: A fidelidade
gera a perseguição, a perseguição precede o livramento, e o fiel cristão sabe que pode não ser
libertado. Daniel e seus companheiros servem de exemplos para o remanescente escatológico. O
uso que João faz de tais imagens e palavras é justamente para trazer ambas as histórias à mente do
leitor moderno, que será pressionado pela Babilônia moderna a aceitar um falso sistema de
adoração, chamado aqui de “imagem da besta”, tal “imagem” “não é uma mera cópia, mas participa
de sua realidade e de fato constitui a sua realidade” (GAEBELEIN et al., 1981, p. 531). A morte
aqui imposta pela segunda besta não deve interferir na fidelidade dos crentes, ela deve ser encarada
como algo ínfimo, pois o Aquele que tem as chaves da morte está no controle de tudo.
Decretos dominicais foram comuns na época Colonial e pós colonial da história americana
(KAPLAN, 1989; cf. tb. JOHNS, 2012). Essas leis variavam entre proibir o trabalho no domingo e
obrigar a frequentar a igreja no domingo, entre as penas estavam multas e chicotadas. No século 18,
houve uma perseguição específica contra os judeus guardadores do sábado na Virgínia. Kaplan
relata vários casos de intolerância religiosa, inclusive no século 19, época em que viviam os
pioneiros adventistas.
!100

Como no início do cristianismo, a morte será a prova final no fim dos tempos. Ap 13:15
prediz isso, porém “o texto não diz que todos os seguidores de Cristo serão mortos, mas que
quantos deixarem de adorar poderão ser executados” (KISTEMAKER, 2004, p. 497). O motivo do
decreto de morte será pela adoração, a imagem da besta forçará os homens a uma falsa adoração por
meio deste decreto. O quando deste decreto será analisado a seguir.
Ap 13:15 fala de um decreto que tem como objetivo forçar o fiel povo de Deus à adoração
da Imagem da Besta (o que ocorrerá quando um decreto mundial for emitido forçando os habitantes
da terra à guardar o domingo como dia do Senhor). Alguns adventistas têm interpretado este como o
decreto de morte que será emitido após o fechamento da porta da graça (CHAIJ, 1990, p. 18). Tal
posição tornou-se de certa forma popular em meios oficiais da Igreja e até entre a membresia
(BORGES, 2009; DOS SANTOS s/d).
Tal questão é importante para este trabalho, pois, se o decreto de morte vier apenas quando
não haverá mais mártires, que tipo de fidelidade é esta que se apresenta em Ap 13? Não foi assim na
igreja primitiva, não foi assim na idade Média e não será assim nos eventos finais. Quando se diz
que a autoridade concedida à imagem da besta fosse para que “fizesse morrer quantos não
adorassem a imagem da besta”, deve-se compreender que esta declaração é de fato, uma afirmação
de que junto com o decreto dominical haverá um decreto de morte. Pfandl (2004, pp. 316-318) traz
uma interessante discussão sobre este tema.
Neste trabalho, aceita-se a primeira solução sugerida por Pfandl (2004) para a possível
contradição entre os textos bíblicos (Ap 13:5 e Ap 20:410) e EGW: a de que ela fala de dois decretos
de morte em textos diferentes, um antes do fechamento da porta da graça e um outro depois.
Um exemplo de decreto de morte antes do fechamento da porta da graça encontra-se nas
seguintes palavras:

Não vai longe o tempo em que a prova envolverá a todos. A marca da besta nos será
recomendada com insistência. Os que, passo a passo, cederam às exigências do mundo e se
sujeitaram a costumes mundanos não acharão difícil submeter-se aos poderes dominantes,
de preferência a expor-se a escárnio, insultos, ameaças de prisão e morte. O conflito é entre
os mandamentos de Deus [sábado] e os mandamentos de homens [domingo]. (WHITE,
2007c, 81, grifo nosso).

Ela ainda salienta: “O Senhor mostrou-me claramente que a imagem da besta será
formada antes que termine o tempo de graça, pois este é o grande teste para o povo de Deus, pelo
qual o seu destino eterno será decidido” (SDABC, 7:976, grifo nosso).

10 Diferente de outras ocorrências de morte, aqui a palavra é πεπελεκισµένων, pepelekisménōn, “ser decapitado”.
!101

Em outro momento, ela ressalta que os justos serão protegidos de um decreto de morte,
este por sua vez, depois do fechamento da porta da graça, uma vez que o martírio não produziria
mas os devido frutos (WHITE, 2008b, p. 634).
Portanto, tanto a Bíblia quanto EGW falam de um decreto de morte antes do fechamento
da porta da graça, isto é, por ocasião do decreto dominical. No primeiro haverá mártires
(testemunhas), no segundo Deus protegerá Seu povo dos ataques furiosos do povo, e uma vez que a
porta da graça esteja fechada, o testemunho será desnecessário.
A Ilustração 5 é uma proposta para conciliar, de forma cronológica, o texto bíblico de Ap
13:15 e 20:4 e os textos de EGW onde sobre o decreto de morte.

Ilustração 5. Proposta de ordem cronológica para o decreto de morte

Decreto Dominical + Início das Pragas +


Decreto de Morte Fechamento da Decreto de Morte
sem livramento Porta da Graça com livramento

Fonte. O próprio autor.

Uma vez que alguns terão que testemunhar com suas próprias vidas (Ap 20:4), é necessário
compreender o preparo para tal situação.
A própria Bíblia provê maneiras de se preparar para as situações adversas. Este preparo
tem características espirituais e deve ser feito de maneira diária.

4.5 OUTRAS IMPLICAÇÕES DE FIDELIDADE EM APOCALIPSE 13:11-18

4.5.1 Perigos para a fé nos dias atuais

No capítulo 1º viram-se perigos que ameaçavam a fé no século I. A lista apresentada lá não


é muito diferente da lista dos perigos do século 21, isto quer dizer também que a maneira
encontrada por eles para a vitória, deve ser imitada por aqueles que vivem nos dias atuais.
Em 2Tm 3:1-7 Paulo fala sobre as dificuldades sociais do últimos dias, ele diz:

Sabe, porém, isto: nos últimos dias, sobrevirão tempos difíceis, pois os homens serão
egoístas, avarentos, jactanciosos, arrogantes, blasfemadores, desobedientes aos pais,
ingratos, irreverentes, desafeiçoados, implacáveis, caluniadores, sem domínio de si, cruéis,
inimigos do bem, traidores, atrevidos, enfatuados, mais amigos dos prazeres que amigos de
Deus, tendo forma de piedade, negando-lhe, entretanto, o poder. Foge também destes. Pois
entre estes se encontram os que penetram sorrateiramente nas casas e conseguem cativar
mulherinhas sobrecarregadas de pecados, conduzidas de várias paixões, que aprendem
sempre e jamais podem chegar ao conhecimento da verdade.
!102

Política. Assim como o envolvimento político era uma ameaça à fé no início do


cristianismo, os problemas sociais do século 21 podem levar o remanescente a perder o foco de sua
missão, tentado por suas próprias forças e por um tempo relativamente pequeno oferecer ao mundo
uma solução para seus problemas (Jo 18:36; Fp 3:20).
Educação. Também a educação moderna, onde o raciocínio lógico é aplicado em tudo,
inclusive na teologia (CANALE, 2007), com suas filosofias críticas ao cristianismo, bem como a
teoria da evolução como proposta da origem humana, tem roubado a fé de muitos jovens cristãos,
que poderiam estar sendo usados como remanescente escatológico para apressar a parousia.
Esportes. Outra ameaça moderna são as inúmeras opções de diversão (FERGUSON,
2003), com certeza bem mais numerosas e perigosas do que as do I século, e também muito mais
corruptoras moralmente do aquelas do passado, e isto inclui práticas esportivas.
Como dito anteriormente, a prática esportiva do primeiro século estava intimamente ligada
às práticas religiosas pagãs, o que tornava tais atividades realmente perigosas para a fé. “De início
os jogos tinham um caráter estritamente religioso, sendo realizados para homenagear as divindades
em troca de proteção”, afirma Machado (2013) em sua dissertação de mestrado. Alvarenga (2013)
faz um paralelo, para citar um exemplo, entre futebol (o qual ele intitula fut-baal) e religião,
mostrando que muitas vezes a devoção ao esporte supera, e em muito, a devoção religiosa.
Falsos Reavivamentos. Dentro do cristianismo, os falsos reavivamentos são também uma
ameaça à existência do remanescente, pois ao buscar um falso reavivamento baseado na
demonstração de sinais (Ap 13:13; 16:14), esquece-se da busca pelos frutos do Espírito, essenciais à
identidade religiosa do povo de Deus. Sobre esses falsos revivamentos EGW declara: “Não se
acham aqui [em Ap 13:13] preditas meras imposturas. Os homens são enganados por sinais que os
agentes de Satanás têm poder para fazer, e não pelo que pretendam realizar” (WHITE, 2008b, p.
553).
Em nenhum outro tempo, a quantidade de atividades e outros fatores tomaram tanto o
tempo quanto na era moderna. Como a busca pela palavra de Deus e do testemunho de Jesus será
possível, em uma época em que não se tem mais tempo e onde as atividades seculares parecem
roubar todo o tempo? Neste ponto cabe as palavras de Cristo: “E, por se multiplicar a iniquidade, o
amor se esfriará de quase todos” (Mt 24:12).
Os cristãos modernos devem aprender sobre fidelidade com aqueles primeiros fiéis do
século I, pois, sendo as circunstâncias as mesmas, as atitudes devem ser as mesmas, e claro que os
resultados serão os mesmos.
!103

4.5.2 “Armas” escatológicas

Uma vez que Ap 13:11-18 é uma guerra espiritual, quais são as armas que devem ser
usadas pelos seguidores de Cristo a fim de obterem a vitória? São as mesmas relatadas em Ef
6:11-18, elas são armas espirituais que devem ser usadas nas lutas “contra as forças espirituais do
mal”. Essas são armas gerais para os cristãos de todas as épocas, porém o Ap oferece também as
armas escatológicas; elas estão inseridas no contexto da igreja de Laodicéia, que historicamente
representa a última fase da igreja de Deus antes da volta de Cristo. Em Ap 3:18 está escrito:
“Aconselho-te que mim compres ouro refinado pelo fogo para te enriqueceres, vestiduras brancas
para que não seja manifesta a vergonha da tua nudez, e colírio para ungires os olhos”. Esses três
remédios são as armas espirituais escatológicas, que devem ser acrescentadas às armas de Ef 6.
Zurcher (1980) talvez seja o autor que apresente uma melhor interpretação desta passagem.

4.5.2.1 Ouro

O primeiro remédio oferecido por Cristo à igreja de Laodicéia é o χρυσίον πεπυρωµένον


ἐκ πυρὸς (chrysíon pepyrōménon ek pyrós, “ouro refinado pelo fogo”). A riqueza de Laodicéia é
famosa,

toda a região era rica, e Laodicéia foi muitas vezes escolhida como o principal exemplo
desta riqueza. Moedas de lá retratam cornucópias, um símbolo de riqueza e fartura. Um
homem chamado Hiero legou dois mil talentos (vários milhões de dólares em termos de
hoje) para a cidade, e a família Zenonid era tão rica e poderosa que vários de seus membros
alcançaram o status de realeza (OSBORNE, 2002, p. 206).

Porém, espiritualmente os crentes laodiceianos eram “pobres” e Jesus pede que eles
comprem o ouro espiritual. Contudo, pobre não tem dinheiro para comprar ouro, o que pode ser
uma alusão a Is 55:1 e 2, onde Deus convida Seu povo a comprar “sem dinheiro e sem preço”. O
significado do ouro em si pode ser esclarecido por outras duas passagens bíblicas, 1Pe 1:7 e Tg 2:5,
nelas o ouro ou o tesouro são a fé e os relacionamentos fraternos de amor.
Em 1Pe 1:7 encontra-se as seguintes palavras: “para que, uma vez confirmado o valor da
vossa fé (πίστεως, písteōs), muito mais preciosa do que ouro perecível, mesmo apurado por fogo,
redunde em louvor, glória e honra na revelação de Jesus Cristo”, a frase em grego é χρυσίου τοῦ
ἀπολλυµένου διὰ πυρὸς (chrisíou tou apollyménou dia pyrós, “ouro passado através do fogo”).
Zurcher (1980) vê nessas palavras a chave para interpretar o “ouro refinado pelo fogo” de Ap 3:18,
afirmando que o ouro é a fé. Este pensamento já havia sido exposto por EGW quando ela declarou:
!104

“O ouro mencionado por Cristo, a Testemunha Fiel e Verdadeira, o qual todos devem possuir, foi-
me mostrado ser a fé e o amor combinados” (WHITE, 2008e, p. 36). Assim, o remanescente
escatológico precisa primeiramente de amor, e também precisa de fé. Essa fé pode ser, como já visto
antes, a fé em Jesus como Salvador, como também fidelidade.
A fé, neste caso, pode ser a confiança em Cristo Jesus como Salvador e em Deus como
autor da história e mantenedor de cada crente que tem fé nEle. Essa fé dá tranquilidade e segurança
em meio às diversidades que serão enfrentadas pelo remanescente escatológico, uma vez que eles
terão que, se for preciso, entregar sua própria vida. A fé também é a fidelidade demonstrada por
cada um em meio às provas; essa demonstração de fidelidade é a conseqüência natural da fé
confiante.
Zurcher (1980) aponta também para Tg 2:5, como um versículo que ajuda a interpretar Ap
3:18 e que serve como base bíblica para a afirmação de EGW. As Escrituras dizem: “Ouvi, meus
amados irmãos. Não escolheu Deus os que para o mundo são pobres, para serem ricos em fé e
herdeiros do reino que ele prometeu aos que o amam?”. A fé, portanto, é algo que enriquece, que
faz com que Laodicéia seja verdadeiramente rica. Deus conta, no fim dos tempos, com um povo que
seja rico em fé, confiando nEle e sendo fiel a Ele. Desse modo poderá Ele cumprir Seus propósitos
para o mundo.

4.5.2.2 Vestiduras brancas

A segunda arma escatológica são as “vestiduras brancas”. O termo aparece primeiramente


em Ap 3:4 e 5, onde os fiéis não contaminaram suas “vestiduras” e por isso serão vestidos de
“vestiduras brancas”. O AT, no livro de Zc, apresenta a visão que teve a respeito do sacerdote Josué,
que, quando acusado por Satanás, é justificado por Deus através da troca de suas roupas sujas por
outras limpas (Zc 3). Essa visão exemplifica aquilo que o NT chama de justificação pela fé em
Cristo Jesus: “concluímos que o homem é justificado pela fé” (Rm 3:24). O próprio Ap confirma
esta ideia, quando diz que: “pois lhe foi dado vestir-se de linho finíssimo, resplandecente e puro.
Porque o linho finíssimo são os atos de justiça dos santos” (Ap 19:8).
As vestiduras brancas são um símbolo da aceitação da justiça de Cristo na vida dos crentes.
Essas obras, relatadas em Ap 19:8, são a manifestação das próprias obras de Cristo na vida deles,
assim como os vinte quatro anciãos, que possuíam um caráter tal que podiam assistir diante de Deus
(Ap 4:4). Todos que aceitarem vestir-se do caráter dEle terão o direito de estar “diante do trono e
diante do Cordeiro” (Ap 7:9).
!105

Em Mt 22:11-14 Jesus contou uma parábola que exemplifica bem a aceitação da justiça de
Cristo. Ao ser convidado para um casamento certo homem foi com suas próprias roupas em vez de
usar as vestes nupciais, provavelmente providas pelo pai do noivo, sendo assim expulso da festa.
Zurcher (1980) vê nesta passagem a explicação para as vestiduras.
O remanescente não pode confiar em si mesmo para a salvação, ele deve compreender bem
esse tema e confiar unicamente em Cristo como seu Salvador. “Este é, obviamente, um chamado ao
arrependimento, um chamado à realidade da vergonha de sua verdadeira nudez espiritual e compra
(sem custo!) do dom (Is 55:1) da justiça em Cristo” (OSBORNE, 2002, p. 210).
A “vergonha da tua nudez”, por sua vez, é falta de justiça do homem diante de Deus. O
primeiro a ser identificado como nu e envergonhado é Adão, que por sua desobediência teve que
encarar o juízo divino e foi expulso do paraíso. A “nudez” é também um símbolo de apostasia e
transgressão (Ez 16:36; 23:29; Na 3:5). Assim, qualquer um que seja desobediente a Deus ou que
confie em sua própria justiça para salvar-se está “nu” diante de Deus. Por isso é importante guardar
as vestes, como já visto anteriormente.

4.5.2.3 Colírio

Zurcher (1980) interpreta o “colírio” a partir de Mt 6:22 e 23 como discernimento


espiritual, tal como o fazem outros autores (BEALE, 1999; OSBORNE, 2002). Os laodiceanos
estavam cegos, apesar de terem uma escola de medicina, cuja principal especialidade era
oftalmologia, precisavam enxergar as coisas espirituais. Jo 9 apresenta um paralelo com esta parte
do versículo. Ali é relatada a história de um homem cego que fora curado por Cristo, ele voltou a
enxergar, mas os líderes religiosos judaicos continuaram cegos. O remanescente escatológico
precisa ter discernimento espiritual para compreender a “palavra de Deus e o testemunho de Jesus”,
eles são mais do que chamados, são eleitos, e os eleitos não são enganados (Mt 24:24).
O tema do exercício da fidelidade está presente em cada uma dessas armas escatológicas, é
o seu uso que determinará a diferença entre meros cristãos, que apenas professam uma religião, dos
verdadeiros discípulos de Cristo. A análise dessas armas comprovam as palavras de EGW:

Ânimo, fortaleza, fé e implícita confiança no poder de Deus para salvar, não nos vêm num
instante. Essas graças celestiais são adquiridas pela experiência dos anos. Por uma vida de
santo esforço e firme apego à retidão, os filhos de Deus estiveram selando seu destino. [...]
Aceitaram avidamente a luz do Céu, como fizeram os primeiros discípulos, dos lábios de
Jesus (WHITE, 2007c, p. 213, grifo nosso).

Mais adiante, no mesmo livro, ela deixa claro que a diferença entre os que receberão o selo
!106

de Deus e os que não receberão, mesmo entre os guardadores do sábado, é a “falta de consagração e
piedade, e por deixarem de alcançar uma norma religiosa elevada” (IDEM, 214).

4.5.3 O Ap e a leitura

As armas apresentadas anteriormente podem ser complementadas por dois “artigos”


usados por todos quanto são fiéis no Ap: a palavra de Deus e o testemunho de Jesus; juntos eles
formam a base de informações que norteiam a vida dos remanescente em todas as épocas.

4.5.3.1 Palavra de Deus

Anteriormente viu-se que a “palavra” tem um papel fundamental na vida dos


remanescentes apresentados no Ap. Nas cartas às igrejas encontra-se Sardes, uma igreja em que
parte de seus membros “estava para morrer”. Jesus a aconselha que se lembre do que recebeu e
ouviu, e assim venha o arrependimento e sua vida espiritual seja renovada. Essa é uma importante
lição para o cristianismo moderno. O reavivamento acontece através das lembranças daquilo que
Deus entregou e falou, isto é, a Sua palavra. Reid (2000) mostra a importância da Bíblia na vida
espiritual, ele chega a comprará-la com um guia que leva o cristão pelos caminhos até a Canaã
celestial.
Em toda a Bíblia, há um apelo de Deus à leitura de Seu livro sagrado. Moisés deixa claro
que aquilo que por ele foi escrito é “palavra de Deus” e se o povo quisesse fazer a vontade dEle,
deveria fazê-lo conhecendo-a através do livro da lei (Dt 31:9-13). Não há fidelidade sem o livro,
não há obediência sem mandamento (Dt 31:26), assim, o ponto inicial da fidelidade e o qual é
mostrado em todo o livro do Ap é o conhecimento da “Palavra de Deus”.
Dois exemplos bíblicos do efeito benéfico da leitura do livro e de disposição em guardar as
suas palavras são de especial valia no estudo da fidelidade no livro do Ap e sua ligação com a
“Palavra de Deus”, como característica do remanescente. Primeiramente, a história do rei Josias.
Tendo o sacerdote entregue o “Livro da Lei” a ele, entregou-o a Safã que o leu diante do rei, “tendo
ouvido as palavras do Livro da Lei, rasgou as suas vestes” (2Re 22:11); logo após, renovou sua
aliança com o Eterno (2Re 23:1-3), purificou o templo (2Re 4-14), derrubou os altares idólatras
(2Re 23:15-20), voltou a celebrar a Páscoa do Senhor (2Re 23:21-23), e tornou-se um homem
piedoso (2Re 23:24-27). Comentando sobre este episódio, EGW diz que “Josias ficou
profundamente impressionado ao ouvir pela primeira vez a leitura das exortações e advertências
!107

registradas neste antigo manuscrito” (WHITE, 1996, p. 393), e, na aceitação daquilo que estava
escrito, ele modificou sua vida e de seu povo.
Outro exemplo é o de Esdras e a leitura do livro em Ne 8. Esse episódio fala do Israel pós-
exílio, desacostumado das palavras de Deus, que reforma a cidade de Jerusalém, mas que precisa
urgentemente reformar sua vida espiritual. Esdras começa esta reforma espiritual através desta
leitura do “Livro da Lei de Moisés”, no primeiro dia do sétimo mês, ou seja, na festa das trombetas,
nove dias antes do Yom Kippur, a festa mais importante do calendário judaico. Após a leitura do
livro o povo chorou (Ne 8:9), e logo após comemoram a festa dos Tabernáculos, e, durante oito dias
houve a leitura do livro. O resultado disso foi uma reconsagração do povo e uma renovação da
aliança, descrita no capítulo 9 de Neemias, onde ao final eles selaram suas decisões por escrito (Ne
9:38). Os principais resultados deste reavivamento espiritual através da leitura do livro foram: (1)
Obediência (Ne 10:29); (2) Casamentos segundo a vontade de Deus (Ne 10:30); (3) Observância
fiel do sábado (Ne 10:31); (4) Fidelidade nos dízimos e ofertas (Ne 10:32-39).
Tais exemplos mostram que qualquer um que queira ser contado como fiel na grande
batalha contra a imagem da besta, deve começar com a leitura do “livro” do Senhor. Sobre o
episódio de Esdras e Neemias, EGW comenta: “Os cristãos devem estar-se preparando para aquilo
que logo irá cair sobre o mundo como terrível surpresa, e esta preparação deve ser feita mediante
diligente estudo da Palavra de Deus e pelo levar a vida em conformidade com os seus
preceitos” (WHITE, 1996, p. 626, grifo nosso).
A Bíblia é uma fonte importante de reavivamento, e ela mesmo contém instruções sobre
seu estudo, como em Sl 5:3 onde o salmista diz que buscava a Deus pela manhã, para que assim
pudesse esperar Suas respostas durante o restante do dia. Essa passagem (cf. Sl 143:8) apresenta o
princípio de que a Palavra de Deus deve ser tomada ainda pela manhã como o alimento de maior
importância. Jesus falou sobre isso quando disse: “Buscai, pois, em primeiro lugar, o Seu reino e a
Sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas (Mt 6:33), Ele mesmo agia assim: “Tendo
se levantado alta madrugada, saiu, foi para um lugar deserto e ali orava” (Mc 1:35). É claro que
Deus abençoará todo o esforço de Seus filhos em buscá-Lo através da leitura do Seu Livro Sagrado,
independentemente do horário; porém ao fazê-lo pela manhã há uma atitude de prioridade, sobre
isso EGW diz: “Consagrai-vos a Deus pela manhã; fazei disto vossa primeira tarefa” (WHITE,
acessado em 2013, grifo nosso), e Jeremias explica o motivo: “As misericórdias do Senhor [...]
renovam-se cada manhã” (Lm 3:22, 23).
Outra instrução é a prática da meditação. Em Sl 119:97-99 (grifo nosso) encontram-se as
seguintes palavras, que clareiam este princípio: “Quanto amo a tua lei! É a minha meditação, todo o
!108

dia! Os teus mandamentos me fazem mais sábio que os meus inimigos; porque, aqueles, eu os tenho
sempre comigo. Compreendo mais do que todos os meus mestres, porque medito nos teus
testemunhos”. As seguintes palavras reforçam a declaração bíblica: “As devoções são momentos em
que nos dedicamos a Cristo. Mais que ler para obter informação, é o entregar-nos de novo
diariamente Àquele que se deu a si mesmo por nós” (GULLEY, 1998, p. 495). EGW completa:

Devemos estudar a Bíblia com reverência, sentindo que estamos na presença de Deus. Toda
leviandade e frivolidade devem ser postas de lado. Embora algumas porções da Palavra
sejam facilmente compreendidas, a verdadeira significação de outras partes não é
discernida com tanta prontidão. Deve haver estudo e meditação pacientes, e oração
fervorosa. Ao abrir as Escrituras deve cada estudante pedir a iluminação do Espírito Santo;
e certa é a promessa de que esta será dada. (WHITE, 2007b, p. 261).

O apóstolo Paulo dá um grande exemplo de dedicação à leitura da Palavra de Deus


quando, perto de sua morte (1Tm 4:6), pede que Timóteo traga consigo “os livros, especialmente os
pergaminhos” (1Tm 4:13). Muitos, sabendo que estaria prestes a morrer, não se interessariam por
livros, mas não Paulo, esse dedicado cristão desejava conhecer cada vez mais a vontade de Deus, e
é desse relacionamento com as Escrituras que nasce o remanescente fiel, segundo as palavras de
Lehmann (2012, pp. 94-95):

O remanescente testifica da validade do conteúdo do livrinho […]. Portanto ele dá


testemunho da Palavra de Deus, conforme registrada nas Escrituras. Após o remanescente
santo escondido no deserto, existe um remanescente escatológico. A ligação possível entre
as duas testemunhas e a mulher, implícita no capítulo 11, ajuda a esclarecer a natureza e
identidade desta, enquanto o capítulo 12 elucida a natureza do remanescente escatológico.
Juntos, eles demonstram que o remanescente não é consequência de uma geração
espontânea. A “semente da mulher” é herdeira de um testemunho profético contido tanto no
Antigo quanto no Novo Testamento, os quais foram preservados ao longo dos séculos pelo
remanescente fiel de Deus.

Ap 22 contém os últimos apelos de Deus ao remanescente. Neste capítulo os vocábulos


“palavras” e “livro” são intercalados nestes apelos. Seu uso mostra a instrução de Deus para a
vitória: “guardar as palavras deste livro”. O remanescente é chamado ao conhecimento do “livro”
do Ap, pois o cumprimento de sua missão deve-se em parte a isto (LARONDELLE, 2011). Knight
(2010) fala sobre a relevância da mensagem apocalíptica por parte do remanescente, mostrando
claramente que não há remanescente escatológico sem mensagem apocalíptica.

4.5.3.2 O Testemunho de Jesus

Há três motivos bíblicos para se crer que o Dom Profético estaria presente na igreja mesmo
após o período apostólico: (1) Joel 2 apresenta o dom de profecia como uma manifestação do
Espírito sobre toda a carne (v. 28); este versículo deve ser entendido como uma profecia
!109

escatológica à luz do “grande e terrível Dia do Senhor” (v. 31); (2) As quatro listas de dons
espirituais trazem o dom de profecia como algo que sempre estaria presente na igreja (Rm 12:6;
1Co 12:10, 28; Ef 4:11); e (3) João, o último profeta do NT, declarou que a igreja deveria “provar”
os espíritos dos profetas, para saberem se procediam de Deus ou não (1Jo 4:1), ora, se não haveria
de ter mais profetas, Deus instruiria Seu povo a rejeitar todo e qualquer um que dissesse que tinha o
Dom de Profecia (TIMM, 2012).
A IASD reconhece no ministério de EGW a manifestação deste dom profético, e vê nisto o
cumprimento das palavras de Ap 12:17 e 19:10, vendo na manifestação do dom de profecia uma das
marcas do remanescente. Isto quer dizer que “‘o espírito de profecia’ de 19:10 não pertence a todos
os membros, de forma geral, mas somente àqueles a quem Deus chamou para ser
profetas” (PFANDL, 2012, pp. 143-144). Wilcox expressa bem a maneira como a IASD vê o dom
profético nas seguintes palavras:

Está o ensino atual da Igreja Adventista do Sétimo Dia quanto aos dons do Espírito, em
particular o dom do Espírito de Profecia, de acordo com os ensinos desta igreja no começo
de sua história? Respondemos sem reservas: Sim. A igreja mantém hoje quanto a esta
doutrina a mesma atitude que sustentava nos anos passados. Ela não podia ser fiel aos
princípios do Cânon Sagrado, e crer de outra maneira, porque a doutrina dos dons
espirituais é claramente salientada no Registro Sagrado, e esse registro é tão verdadeiro no
presente como no princípio do segundo movimento do advento (WILCOX, 1998, pp. 42 e
43).

Apesar de um pouco antiga, tal declaração é tão atual quanto verdadeira. Os adventistas
não têm planos de abrir mão de sua crença no dom profético, tal como manifestado no ministério de
EGW, pois como já dito antes, esta é uma das características da igreja remanescente de Ap 12:17,
apesar de que ela mesmo nunca ter feito essa conexão (RODRÍGUEZ, 2012). Porém, a crença na
manifestação do dom profético apenas não caracterizará alguém como remanescente, mas, tal como
a Bíblia, a sua leitura e prática.
Rice (2012) apresenta cinco funções do dom profético para a igreja remanescente, todas
baseadas na própria opinião de EGW, e cada uma dessas funções só são de fato válidas, à medida
que são aplicadas individualmente: (1) Exaltar a Escritura, “a Sra. White rejeitou completamente a
ideia de que a luz a ela comunicada pelo dom profético devia tomar o lugar da Bíblia” (RICE, 2012,
p. 696); (2) Explicar e Esclarecer a Escritura; (3) Contextualizar a Escritura, “seus [de EGW]
testemunhos não constituem uma nova revelação, mas claras lições de vida conforme apresentadas
nas Escrituras (IBID.); (4) Reprovar e advertir a Igreja, “Ellen White salientou que Deus
considerava as reprovações e adventências uma importante fase da obra profética dela” (IBID.); e
(5) Proteger de Erro doutrinário, “por estarem em harmonia com a Bíblia, as mensagens de Ellen
!110

White ajudam a Igreja Adventista do Sétimo Dia a rejeitar erros doutrinários e a fundamentar seus
membros na verdade bíblica” (IDEM, p. 697).
Portanto, como notado acima, o dom profético só atinge sua razão de existir, quando
usado de maneira individual.
Nix (2004) apresenta um artigo onde mostra que o adventismo seria completamente
diferente caso rejeitasse os conselhos de EGW. Sua lista inclui tanto aspectos teológicos (como o
grande conflito) como organizacionais (como trabalho médico e educacional), “o ministério de
Ellen White e o surgimento da Igreja Adventista do Sétimo Dia são inseparáveis. Tentar entender
um sem o outro tornaria ambos ininteligíveis e inexplicáveis”, reforça Douglass (2001a, p. 182).
Dessa maneira nota-se que um adventista que lê EGW tem características denominacionais
muito mais fortes do que aqueles que não leêm. Nix (2004) também apresenta os benefícios do uso
individual dos escritos de EGW, uma lista de oito itens parecida com a de Rice (2012).
A tabela a seguir mostra os resultados de uma pesquisa feita entre leitores e não leitores do
Espírito de Profecia. Note-se que a diferença é perceptível. Dois aspectos importantes da vida cristã
podem ser claramente notados neste resultado: quem lê EGW lê mais a Bíblia, mostrando assim que
o Espírito de Profecia não é, como alguns alegam, um substituto da Bíblia; e quem lê EGW apoia
de maneira mais efetiva a IASD, tanto financeiramente como através de seus esforços pessoais em
levar o evangelho avante.
Este resultado de pesquisa deveria servir de incentivo para uma mudança nos hábitos de
leitura por parte daqueles que estão aguardando o breve retorno de Cristo.

Quadro 10. Pesquisa feita pela Divisão Norte Americana com leitores e não leitores de Ellen G. White

Não
Assunto Leitores
Leitores
Forte Relacionamento com Cristo 85% 59%

Certeza de estar em paz com Deus 82% 59%

Estudo diário da Bíblia 82% 47%

Apoio financeiro regular para planos missionários 76% 46%

Participação em testemunho no ano anterior 73% 49%

Culto familiar diário 70% 42%

Estudos Bíblicos para não-adventistas no ano anterior 45% 26%

Participação regular em pequenos grupos de estudos 40% 20%

Fonte. Revista Adventista, novembro de 2004.


!111

O quadro acima revela que existe de fato um crescimento espiritual por parte daqueles que
se dedicam a estudar a Bíblia e os escritos que são também o testemunho de Jesus. A identidade do
movimento profético é muito importante no contexto escatológico, pois Babilônia tem suas filhas, e
o mundo precisa identificar o povo de Deus exatamente como ele o é, guardadores dos
mandamentos de Deus e fiéis à luz recebida através do Dom Profético.
A própria EGW advertiu quanto a este assunto. Ela disse: “Uma coisa é certa: os
adventistas do sétimo dia que se colocam sob o estandarte de Satanás abandonarão primeiro sua fé
na advertências e repreensões contidas no Espírito de Deus” (WHITE, 2004, p. 153). Ela indica que
este é um caminho de apostasia progressiva e que “Satanás sabe que as pessoas enganadas não
pararão por aí; e ele redobra os seus esforços até lançá-las em rebelião aberta, que se torne
irremediável e termine em destruição” (IDEM, p. 154).
Assim, se alguém quer tornar-se o remanescente, deve aprender através da leitura da Bíblia
e do Espírito de Profecia como sê-lo. É uma questão de exercício espiritual, o qual deve ser diário e
pessoal.

4.5.4 O santuário aberto de Ap e sua relação com a fidelidade

O tema da oração não aparece abertamente no Ap, porém a compreensão do sacerdócio de


Cristo no santuário celestial deve levar cada pessoa a uma vida de oração, a qual é o recurso
disponibilizado para o contato com o Céu, o trono de Deus, pois deve-se levar em conta que
ninguém pode ser efetivamente fiel se não tem uma vida de oração. Não se pode ignorar os apelos
inspirados feitos por Paulo às igreja primitivas (Fp 4:6; 1Ts 5:17), tal vida de oração era necessária
ante às seduções da época e também importantes para encarar as perseguições.
O Ap apresenta “cenas do santuário”, sete no total (PAULIEN, 2004). Essas cenas de
alguma maneira manifestam o desejo de Deus de permanecer perto do Seu povo (MAXWELL,
2008a). As cenas de Ap 4 e 5 abrem as portas do Céu, em uma descrição do trono de Deus e do
Cordeiro, mostrando assim a acessibilidade de Deus para com Seu povo perseguido; “por meio de
Seu ministério em favor das igrejas, Ele conforta e encoraja os crentes” (RODRÍGUEZ, 2011).
O livro de Hebreus trata a questão da oração a Deus de maneira muito interessante. Nele é
mostrado que a morte de Cristo abre um caminho outrora fechado. Este caminho aberto pela Sua
carne é o livre acesso a Deus através das preces dos santos (Hb 10:19 e 20). Este livro fala também
que é o uso da oração que prepara o crente para a hora da provação (Hb 4:16), ou seja, ninguém é
!112

preparado na hora da provação, mas antes. Os cristão devem fazer uso do direito a um advogado
através do ministério intercessório de Cristo (HOLBROOK, 2002). Maxwell (2008b, p. 169) dedica
toda sua obra para falar sobre a importância da oração. Ele conclui que

Esta bênção [a chuva serôdia], porém, não virá [...] para fazer-nos mais obedientes ou mais
dedicados à oração. Todas essas coisas precisam ser feitas antes que a bênção seja dada. O
derramamento da chuva serôdia só faz amadurecer o fruto já presente nas árvores; ele não
produz fruto onde não existe nenhum.

Assim, a oração é colocada em posição tão importante quanto a leitura da Bíblia no


preparo do remanescente. No contexto escatológico, o principal objeto da oração deve ser o Espírito
Santo em sua plenitude. Essa chuva do Espírito Santo é o cumprimento da profecia de Joel ao falar
sobre a chuva serôdia.

A chuva serôdia não vem para conceder a vida eterna. Todos, ao longo da era cristã, têm
sido salvos sob a chuva temporã, e durante o AT pelo Espírito antes do primeiro
Pentescostes. A chuva serôdia também não vem para preparar os santos. Eles precisam estar
preparados sob a chuva temporã. A chuva serôdia vem para guiá-los através dos eventos
finais, a fim de triunfarem no segundo advento (GULLEY, 2004, p. 230).

Ele acrescenta:

Considere o ataque de Satanás que precede o Pentencostes porvir. Na sua estratégia contra a
chuva serôdia, Satanás tem um ataque duplo. Por um lado ele mantém cristãos ocupados
[…] para que estejam despreparados para receberem a chuva serôdia, e portanto
experimentam o ladrão na noite. A segunda estratégia é mandar uma chuva serôdia falsa
antes da chuva serôdia verdadeira, desta forma os cristãos rejeitarão o verdadeiro dom
porque pensam que já o possuem (GULLEY, 2004, p. 221).

A oração é um direito que precisa ser usufruído de maneira mais constante, com maior
quantidade de tempo, e de maneira mais profunda pelo povo de Deus nos dias que antecedem os
eventos finais, eventos esses que exigirão íntima experiência com Deus.

Nosso Pai celestial está desejoso de derramar sobre nós a plenitude de Suas bênçãos. É
nosso privilégio beber livremente da fonte de Seu ilimitado amor. Como é de admirar, pois,
que oremos tão pouco! Deus está pronto para ouvir a oração sincera do mais humilde de
Seus filhos, e contudo há tanta manifesta relutância de nossa parte, para tornar conhecidas a
Deus nossas necessidades! Que pensarão os anjos do Céu, a respeito dos pobres e
desamparados seres humanos, sujeitos à tentação, quando o coração de Deus, pleno de
infinito amor, se inclina anelante para eles, pronto para lhes dar mais do que sabem pedir ou
pensar, e contudo oram tão pouco, e tão pouca fé exercem! Os anjos têm prazer em
prostrar-se perante Deus; deleitam-se em estar em Sua presença. Consideram a comunhão
com Deus como seu mais alto privilégio; e contudo os filhos da Terra, que tanto precisam
do auxílio que só Deus pode dar parecem satisfeitos com andar sem a luz de Seu Espírito, a
companhia de Sua presença (WHITE, 2013, p. 94).

A oração faz parte deste preparo. E Deus a deixou como um recurso especial àqueles que
desejam ser bem sucedidos em encarar os eventos finais.
!113

4.5.5 As palavras κόπος e διακονία e sua relação com a pregação mundial de Ap 14

A igreja de Éfeso é apresentada como uma igreja cujo κόπος (kópos, “labor”) foi
reconhecido e elogiado por Jesus (Ap 2:2). Essa palavra, já vista no capítulo 1º deste trabalho
juntamente com διακονία (diakonía, serviço), pode esclarecer um ponto importante na atitude do
remanescente enquanto está aguardando o seu Senhor, trata-se do engajamento missionário do
remanescente enquanto aguarda o seu Senhor.
Ambas as palavras mostram uma característica ativa dos santos, que esperam perseverantes
por Cristo, pois compreendem que sua missão é ser salvos e salvar a outros. Essa compreensão
missionária é vista em outras partes da Escritura. O próprio Cristo enviou os Seus discípulos a
pregar (Mt 28:18-20). Este foi o estilo de vida que Paulo levou, e no Ap 18 a terra será iluminada
por um último chamado de Deus ao Seu povo que está na Babilônia, “este ‘alto clamor’ constitui o
último chamado para o povo de Deus se separar da comunhão com Babilônia e [...] é o apelo
decisivo do Céu para que escapem ao derramamento iminente das sete últimas
pragas” (LARONDELLE, 2011, p. 973), e Deus portanto precisará de porta-vozes para
proclamarem tal mensagem.
Com relação ao empenho missionário, no livro Serviço Cristão EGW diz que “é nosso
dever cultivar e exercitar toda a faculdade que nos torne obreiros mais eficientes para
Deus” (WHITE, 2008c, 239, grifo nosso). Portanto, assim como a fidelidade, o empenho
missionário também é algo que se exercita, qualquer um que queira estar pronto para enganjar-se na
grande obra final da pregação do evangelho (quando ser um pregador envolverá prisão e
perseguição como foi no começo do cristianismo), deve agora envolver-se de alguma maneira na
pregação da última mensagem de Deus contida em Ap 14:6-12, o evangelho eterno, deve pedir ao
Espírito Santo que lhe ajude a reconhecer o seu dom espiritual, e trabalhar enquanto aguarda o seu
Senhor.
Outro aspecto muito encontrado em seus escritos é com relação à fidelidade nas pequenas
coisas como preparação para maiores responsabilidade. Um exemplo é esta citação que diz que “nas
mais humildes situações encontrareis oportunidades para o exercício de firme integridade e
fidelidade; e se fordes fiéis em servir a Deus nos lugares mais humildes, ser-vos-ão confiadas
maiores responsabilidades” (WHITE, 2001b, p. 296), e acrescenta: “É essencial que cultiveis a
fidelidade em coisas pequenas, e em assim fazendo adquirireis hábitos de integridade em
responsabilidades maiores” (WHITE, 2001a, p. 270). Isso quer dizer que para receber a plenitude
!114

do Espírito Santo, é essencial desde agora fazer uso das gotas que são concedidas por Deus para o
Seu povo pregar o evangelho.
LaRondelle (2004) traça um interessante paralelo entre Elias, João Batista e o
Remanescente Escatológico, o qual é apresentado de maneira mais sucinta na tabela abaixo:

Quadro 11. Paralelo entre Elias, João Batista e o Remanescente Escatológico


Remanescente
Elias João Batista Escatológico

Preparação para a vinda do Preparação para a segunda


Missão Reforma Espiritual Messias vinda de Cristo

Temei a Deus e dai-lhe


Mensagem Abandonem Baal Arrependam-se glória

Urgência Alta Alta Altíssima

Estilo de Vida Simples Simples Simples

Presença do Dom Profético Sim Sim Sim

Fonte: O próprio autor baseado em LaRondelle (2004).

Esse paralelo visa mostrar o alto grau de importância da missão do remanescente, que é de
preparar o mundo para a Segunda Vinda de Cristo, e tal acontecimento só será possível com o
derramamento da plenitude do Espírito Santo sobre aqueles que, como visto anteriormente, para
isso se prepararam.

4.5.6 “Venho sem demora”: o princípio da urgência de Mateus 24:45-51

O objetivo principal do correto senso da urgência pode ser demonstrado em Mt 24:45-51


na parábola do servo bom e do servo mau. “Essa parábola enfatiza que os cristãos têm deveres e
responsabilidades éticas a ser colocadas em prática enquanto esperam e vigiam. Não devem
aguardar na ociosidade” (KNIGHT, 2010, p. 94). A parábola em questão possui elementos que
esclarecem de maneira fácil a palavra ταχύς (tachys) usada em Ap relacionada a volta de Cristo
(3:11; 22:7, 12 , 20), são eles:
1. O senhor da parábola não estava presente, tinha feito uma viagem e confiara seus bens
aos seus servos, assim como Jesus após Seu ministério terrestre confiou aos homens a sua igreja;
2. Os servos bons são bem-aventurados se encontrados sustentando seus conservos de
maneira correta;
!115

3. É o pensamento da demora que faz com que o servo mau espanque os seus
companheiros, além de comer e beber com os ébrios, “a demora pode gerar mau comportamento”
(KNIGHT, 2010, p. 94);
4. O senhor virá, “quando o servo não espera”, porque sua mente está entretida com outros
assuntos de seu próprio interesse;
5. O servo bom e o servo mau são a mesma pessoa em dois exemplos diferentes, note:
“mas, se aquele servo [que era bom no primeiro exemplo], sendo mau…”.
A “urgência” é sem dúvida o elemento com o qual a fidelidade tomará uma maior
proporção na vida de cada cristão. Knight (2010, p. 94) diz que “a ilusão mais perigosa é pensar que
o tempo nunca chegará ao fim. ‘Amanhã’ é uma palavra perigosa. É contra essa atitude que Cristo
nos adverte na [...] parábola”. Mas, como manter acesa a chama da urgência na vida pessoal? EGW
responde: “Precisamos acostumar-nos a pensar e demorar-nos sobre as grandes cenas do julgamento
que se acha precisamente diante de nós, e então, ao mantermos diante de nós as cenas do grande dia
de Deus em que tudo será revelado, isso influirá sobre o nosso caráter” (WHITE, 2004, p. 37). 

!116

CONCLUSÃO

A presente dissertação teve como principal propósito analisar o conceito de fidelidade no


último livro da Bíblia, o Ap, além de abordar implicações a partir desta análise.
Para isso, o autor lançou mão de análise de palavras relacionadas com o tema da
fidelidade, pesquisando seu significado em textos do AT (LXX), comparando-os com o uso feito no
NT e verificando assim seu possível significado no Ap. Isso foi feito no capítulo 1º desse trabalho.
Comparando as ocorrências das palavras com fatos históricos do século I, principalmente a
perseguição de Domiciano contra os cristão e seu desejo de ser adorado como deus, entende-se que
os primeiros três capítulos do Ap são uma descrição de acontecimentos reais, em lugares reais e
com pessoas reais, os quais servem para descrever a história da igreja cristã desde o século I até o
fim dos tempos, e também serve como exemplos de como os cristãos do tempo do fim, encarando
situações similares, devem reagir, isto é, sendo fiéis até a morte.
No capítulo 2º, o autor analisou a ocorrência das palavras relacionadas à fidelidade em
versículos da segunda metade do livro de Ap, chamada de seção escatológica. Constatou-se nesse
capítulo que os mesmos aspectos de fidelidade exigidos dos cristãos primitivos, voltarão a ser
requeridos daqueles que professam o nome de Cristo. Apesar de aparecerem como símbolos
fictícios, os poderes perseguidores do tempo do fim nada mais são do que poderes reais, seja
político, seja religioso. Tais poderes tomarão as mesmas medidas tomadas por Domiciano quando
quis para si adoração, que pertencia somente a Deus. Tais poderes exigirão isso através de decretos
que forcem os cristãos a uma adoração errada, exemplificada principalmente na guarda de um dia
da semana como santo. Levando-se em consideração esses aspectos, nota-se que exigir-se-á uma
fidelidade por parte do remanescente escatológico igual a dos primeiros cristãos, isto é, fidelidade
até a morte (cf. Ap 13:15).
O capítulo 3º visa ser um manual de preparo prático, os temas ali expostos foram extraídos
a partir do episódio de Ap 13:11-18, onde uma besta (EUA) imporá adoração (guarda do domingo)
através de um decreto a todos os habitantes deste planeta. Levando-se em conta o que foi
observado, é preciso que aqueles que julgam estar vivendo nos últimos dias deste mundo (tempo do
fim desde 1798), sejam comprometidos (fiéis) tanto com a “palavra de Deus e o testemunho de
Jesus”, fontes de conhecimento e força para enfrentar os eventos finais. O autor também apresentou
“armas” contidas no próprio Ap para a preparação. São elas: “ouro refinado pelo fogo”, vestiduras
brancas” e “colírio” para os olhos. Tais remédios devem ser levados em alta consideração, pois
foram receitados pelo próprio Cristo à ultima geração de cristãos que viverá nesta Terra, conforme o

116
!117

indica EGW.
O autor entende que seus objetivos iniciais foram alcançados, mas que a análise do tema da
fidelidade no livro do Ap está longe de ser esgotada. Este trabalho limitou-se, intencionalmente, a
um número de palavras, analisando-as dentro de suas ocorrências. Outras palavras foram deixadas
de lado, visto que as que foram analisadas foram suficientes para cumprirem o objetivo da pesquisa.
Além disso, o autor sofreu as limitações naturais de língua estrangeira (limitando-se a inglês e
espanhol), bem como outras limitações que tornam o tema da fidelidade no Ap um campo vasto
para a pesquisa.
É de fato, como julga o autor deste trabalho, o tema da fidelidade no Ap relevante para o
meio acadêmico ou mesmo nas comunidades cristãs locais? A resposta a essa pergunta pode
determinar o tipo de cristão que se espera no fim dos tempos. Em virtude do que foi mencionado, o
autor é levado a acreditar que tal tema é importante, e deve ser explorado sob diferentes aspectos.
Muitas outras pesquisas ainda podem ser realizadas com este tema, como: “O tema da fidelidade e
sua relação com as sete pragas”; “Os prêmios dos vencedores nas sete igrejas do Ap: resultado de
sua fidelidade”; “Aspectos históricos que revelam aspectos futuros da imagem da besta”; “A
fidelidade do Cordeiro no Ap”; entre muitos outros.
Como recomendação, o autor propõe que seja dada uma ênfase escatológica ao tema da
fidelidade no departamento de Mordomia Cristã da IASD. O autor não critica a ênfase atual, porém
acredita que algo pode e deve ser acrescentado à abordagem do tema da fidelidade neste
departamento como em outros. Entende-se por ênfase escatológica abordar o exercício da fidelidade
no presente como preparo para ser fiel no tempo do fim. É também apresentar os temas principais
da mordomia cristã, tempo, saúde, dons espirituais e vida financeira, a partir de estudos das
profecias apocalípticas, principalmente as que estão contidas na seção escatológica do livro.
Semanas de oração, fins de semanas de fidelidade, o dia da Mordomia Cristã, poderiam ser
organizados a partir desta perspectiva, acrescentando assim, àquilo que já existe, uma ênfase mais
profética, típico da abordagem adventista do sétimo dia.
O quadro a seguir (Quadro 12) apresenta de forma resumida tal proposta do autor. Nas
duas primeiras colunas (Passado/Presente) o autor apresenta a forma como é abordado o tema da
fidelidade.
Mais uma vez, é bom ressaltar que esta ênfase atual não está errada, porém parece
incompleta. Nas duas últimas colunas (Presente/Futuro) o autor apresenta uma sugestão de
abordagem com base na presente dissertação. Esta última ênfase é uma proposta de adição à ênfase
já usada pela IASD.
!118

Quadro 12. Proposta de adição da ênfase escatológica na Mordomia Cristã

Tema Ênfase Atual Ênfase Sugerida Neste Trabalho

Passado Presente Presente Futuro

Confiança plena
nos cuidados de
Devolução do Devolução do
Deus abençoou Deus. Rejeição à
dízimo como dízimo como
Vida Financeira com recursos marca da besta,
reconhecimento do reconhecimento do
materiais pois não haverá
cuidado de Deus cuidado de Deus
medo do boicote
financeiro aos fiéis
O remanescente
estará habilitado
para proclamar a
Trabalho Trabalho mensagem do
Dons e Ministérios Deus salvou missionário com o missionário com o terceiro anjo e o
Espirituais através de Cristo fim de levar a fim de levar a chamado para sair
salvação a outros salvação a outros de Babilônia com
toda ousadia

!
Uso do tempo de
maneira que
glorifique a Deus e Preferir-se-á
Uso sábio do guarda do sábado entregar a própria
Deus deu o tempo
Tempo tempo e adoração fielmente em todos vida a adorar a
e o sábado
no sábado os detalhes Satanás e aceitar o
aceitando todas as sábado espúrio
consequências da
obediência
! !
Cuidado do corpo Cuidado do corpo !
através da prática através da prática Um povo que será
Saúde Deus deu o corpo dos princípios de dos princípios de melhor instrumento
saúde, pois o corpo saúde, pois o corpo para Deus no fim
é o templo do é o templo do dos tempos
Espírito Santo! Espírito Santo!

Fonte: O próprio autor.

Além disso, o autor recomenda aos membros da igreja em geral a leitura de livros como O
Grande Conflito (WHITE, 2008b), Apocalipse 13 (MOORE, 2013), O Último Império
(DORNELES, 2012) e Teologia do Remanescente (RODRÍGUEZ, ed., 2012), que podem
enriquecer a pesquisa sobre o tema abordado neste trabalho.
Resumindo, a fidelidade é algo que se exercita, como diz a Bíblia em Lc 16:10: “Quem é
fiel no pouco também é fiel no muito; e quem é injusto no pouco também é injusto no muito”.
Assim, no exercício da fidelidade há uma bênção especial a cada crente, a prática dos princípios
divinos prepara um povo de caráter forte que resista à besta e que testemunhe a mensagem do
!119

terceiro anjo. “Jesus ensinou também que a bênção divina sempre visitará aqueles que são fiéis ao
Senhor. Ele nunca falhará àqueles que põem a confiança nEle” (PIPIM, 1998, p. 136).
Finalmente, o autor salienta que o assunto da fidelidade não é apenas um objeto para
pesquisas acadêmicas, é antes um aspecto a ser vivido na vida cristã, e sem o qual não há
cristianismo verdadeiro.
!120

BIBLIOGRAFIA

ALAND, B. et al. The greek New Testament. 4ª ed. Alemanha: United Bible Societies, 1993.

ALVARENGA, L. G. Fut-baal: a relação entre futebol e religião. Disponível em <http://


www.metodista.br/ppc/correlatio/correlatio12/correlatio12/fut-baal-2013-a-relacao-entre-
futebol-e-religiao/>. Acessado em 19 de novembro de 2013.

ANDERSON, R. A. Revelações do Apocalipse. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1988.

ANDREWS, J. N. Thoughts on Revelation XIII e XIV. Review and Herald, v. 1, n. 11. 19 de maio
de 1851.

ARENS, E.; MATEOS, M. D. O Apocalipse: a força da esperança: estudo, leitura e comentário.


São Paulo: Loyola, 2004.

AUNE, D. E. Revelation 1-5. Dallas: Word, Inc., 1998a. v. 52a.

______. Revelation 6–16. Dallas: Word, Inc., 1998b. v. 52b.

______. Revelation 17-22. Dallas: Word, Inc., 1998c. v. 52c.

AZEVEDO, I. B. D. Tem mensagem pra você: uma abordagem ao livro de Apocalipse. São
Paulo: Hagnos, 2011.

BAIGENT, M.; LEIGH, R. A inquisição. Rio de Janeiro: Imago, 2001.

BAINTON, R. H. Christendom: a short history of christianity and its impact on western


civilization. New York: Haper & Row, Publishers, 1966.

BAKER, R. A. Compendio de la historia cristiana. Barcelona: Casa Bautista de Publicaciones,


1974.

BALZ, H. R.; SCHNEIDER, G. (eds.) Exegetical dictionary of the New Testament. Grand
Rapids, MI: Eerdmans, 1990.

BARCLAY, W. Palabras griegas del Nuevo Testamento: su uso y su significado. El Paso, TX:
Casa Bautista de Publicaciones, 1977.

BARRY, J. D. et al. (eds.) Faithlife Study Bible. Bellingham, WA: Logos Bible Software, 2012.

BARTH, G. πίστις. Em: BALZ, H. R.; SCHNEIDER, G. Exegetical dictionary of the New
Testament. Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1990.

BATES, J. The seventh-day Sabbath, a perpetual sign from beginning, to the entering into
gates ofthe Holy City according to the commandment. Disponível em: <http://
centrowhite.org.br/files/ebooks/apl/all/Bates/The%20Seventh%20Day%20Sabbath,%20A
!121

%20Perpetual%20Sign%20(Sabbath%20Controversy%202).pdf>. Acesso em: 15 de


outubro de 2013.

BATTISTONE, J. J. God’s church in a hostile world. Hagernstown, MD: Review and Herald
Publishig Association, 1989.

BAUCKHAM, R. The theology of the Book of Revelation. Cambridge: Cambridge University


Press, 1993.

BEALE, G. K. The Book of Revelation: a commentary on the greek text. Grand Rapids, MI:
Eerdmans, 1999.

BERGER, K. As formas literárias do Novo Testamento. São Paulo: Loyola, 1998.

BETTENSON, H. Documentos da igreja cristã. São Paulo: ASTE, 2011.

BLOOMFIELD, A. E. Antes da última batalha: Armagedom. Belo Horizonte: Betânia, 1981.

BOA, K.; KRUIDENIER, W. Romans. Nashville, TN: Broadman & Holman Publishers, 2000. v. 6.

BORGES, M. Torrente de esperança. Revista Adventista. Tatuí, SP, Casa Publicadora Brasileira,
novembro de 2009, p. 8-12.

BOXALL, I. The Revelation of Saint John. Black's New Testament Commentary. London:
Continuum, 2006.

BRATCHER, R. G.; HATTON, H. A handbook on the Revelation to John. New York: United
Bible Societies, 1993.

BREDIN, M. Jesus, revolutionary of peace: a nonviolent christology in the Book of Revelation.


Milton Keynes: Paternoster, 2003.

BULLINGER, E. W. Commentary on Revelation. Grand Rapids, MI: Kregel Publications, 1984.

BULTMANN, R. πίστις. Em: KITTEL, G.; BROMILEY, G. W.; FRIEDRICH, G. (eds.)


Theological dictionary of the New Testament. Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1964-.
edição eletrônica.

BURGE, G. Fidelidade. Em: ELWELL, W. A. (ed.) Enciclopédia histórico-teológica igreja cristã.


São Paulo: Vida Nova, 2009.

BURGE, G. M.; HILL, A. E. (eds.) The Baker illustrated bible commentary. Grand Rapids, MI:
Baker Booksed. 2012.

CABAL, T. et al. The apologetics study Bible: real questions, straight answers, stronger faith.
Nashville, TN: Holman Bible Publishers, 2007.
!122

CANALE, F. Absolute theological truth in postmodern times. Andrews University Theological


Studies. Vol. 45, n. 1. p. 87-100, 2007.

CEVALLOS, J. C. Comentario bíblico mundo hispano, tomo 24: 1, 2 y 3 Juan, Apocalipsis. El


Paso, TX: Editorial Mundo Hispano, 2009.

CHAIJ, F. A preparação para a crise final. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1990.

CHAMPLIN, N. R. Fidelidade. Em: Enciclopédia de Bíblia, teologia e filosofia. São Paulo:


Hagnos, 2008.

CHARLES, R. H. A critical and exegetical commentary on Revelation of St. John. Endiburg:


T&T Clark, 1994. v. I/II.

CHRISTIAN, E. The great controversy and human suffering. Journal of the Adventist
Theological Society, v. 10, n. 1-2, p. 90-98, 1999.

CROSS, F. L.; LIVINGSTONE, E. A. (eds.) The Oxford dictionary of the christian church. 3ª
ed. rev. Oxford; New York: Oxford University Press, 2005.

DAVIDSON, R. Interpretação Bíblica. Em: DEDEREN, R. (ed.) Tratado de teologia adventista.


Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2011.

DOCKERY, D. S. (ed.). Holman Bible handbook. Nashville, TN: Holman Bible Publishers, 1992.

DODD, D. C. The Book of Revelation. Nashville, TN: Randall House Publications, 2000.

DORNELES, V. O último império: a nova ordem mundial e a contrafação do reino de Deus.


Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2012.

DOS SANTOS, D. P. Liberte-se, irmãos, dos condutores cegos: material não publicado, s/d.

DOUGLASS, H. E. Mensageira do Senhor: o ministério profético de Ellen G. White. Tatuí, SP:


Casa Publicadora Brasileira, 2001a.

______. What is the “everlasting gospel”? Journal of the Adventist Theological Society. v. 12, n.
2, p. 145-151, 2001b.

DOUKHAN, J. B. Secrets of Revelation: The Apocalypse through hebrew eyes. Hagerstown,


MD: Review and Herald, 2002.

EASLEY, K. H. Revelation. Nashville, TN: Broadman & Holman Publishers, 1998. v. 12.

ECKLEY, R. K. Revelation: a commentary for Bible students. Indianapolis, IN: Wesleyan


Publishing House, 2006.

EUSÉBIO. História eclesiática: os primeiros quatro séculos da igreja cristã. Rio de Janeiro:
Casa Publicadora das Assembleias de Deus, 1999.
!123

FALKENROTH, U.; BROWN, C. ὑποµονή. Em: COENEN, L.; BROWN, C. (eds.) Dicionário
internacional de teologia do Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 2000. v. 2.

FERGUSON, E. Backgrounds of early christianity. 3ª ed. Grand Rapids, MI: William B.


Eerdmans Publishing Company, 2003.

FOSTER, L. Revelation: unlocking the Scriptures for you. Standard Bible studies. Cincinnati,
OH: Standard, 1989.

FREY, M. A teologia do sábado no Apocalipse. Em: RODRÍGUEZ, Á. M. (ed.) Teologia do


Remanescente: uma perspectiva eclesiológica adventista. Tatuí, SP: Casa Publicadora
Brasileira, 2012.

FRUTUOSO DE SOUZA, M. C. Variantes de Ap 13:10 e suas possíveis interpretações.


Disponível em <http://marcusfrutuoso.files.wordpress.com/2013/11/artigo-ap-13-10.pdf>.
Acessado em 21 de novembro de 2013.

GAEBELEIN, F. E. (ed.). The expositor’s Bible commentary, Volume 12: hebrews through
Revelation. Grand Rapids, MI: Zondervan Publishing House, 1981.

GEISLER, N. L.; BOCCINO, P. Fundamentos inabaláveis: respostas aos maiores


questionamentos contemporâneos sobre a fé cristã: clonagem, bioética, aborto,
eutanásia, macroevolução. São Paulo: Editora Vida, 2003.

GINGRICH, R. E. The Book of Revelation. Memphis, TN: Riverside Printing, 2001.

GONZÁLEZ, J. L. História ilustrada do cristianismo: a era dos mártires até a era dos sonhos
frustrados. São Paulo: Vida Nova, 2011.

GREEN, T. Inquisição: o reinado do medo. Rio de Janeiro: Objetiva, 2007.

GREENSLADE, S. L. (ed.) Early latin theology: selections from Tertullian, Cyprian, Ambrose
and Jerome. Philadelphia: Westminster, 1956. v. 5.

GREEVEN, H. προσκυνέω. Em: KITTEL, G.; BROMILEY, G. W.; FRIEDRICH, G. (eds.).


Theological dictionary of the New Testament. (edição eletrônica). Grand Rapids, MI:
Eerdmans., 1964-. v. 6.

GULLEY, N. R. ¡Cristo Viene!: un enfoque cristocéntrico de los eventos de los últimos días.
Buenos Aires: Asociasón Casa Editora Sudamenricana, 1998.

______. O outro segundo advento. Em: RODOR, A.; TIMM, A. R.; DORNELES, V. (eds.) O
futuro: a visão adventista dos últimos acontecimentos. Engenheiro Coelho:
UNASPRESS, 2004. p. 220-221.

______. The battle against the sabbath and its end-time importance. Journal of the Adventist
Theological Society. v. 5, n. n. 2, p. p. 79-115, outono, 1994.
!124

GUNDRY, R. Panorama do Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 2008.

HEISER, M. S. Glossary of Morpho-Syntactic Database Terminology: Logos Bible Software,


2005.

HENRY, M. Matthew Henry’s commentary on the whole Bible: complete and unabridged in
one volume. Peabody: Hendrickson, 1994.

HESCHEL, A. A Palace in Time. Em: BROWN, W. P. (eds.) The ten commandments: the
reciprocity of faithfulness. London: Westminster John Knox Press, 2004.

HOLMES, C. R. Worship in the Book of Revelation. Journal of the Adventist Theological


Society, 8, n. 1–2, p. 1–18, 1997.

HOLBROOK, F. B. O sacerdócio expiatório de Jesus Cristo. Tatuí, SP: Casa Publicadora


Brasileira, 2002.

HURLBUT, J. L. História da igreja cristã. São Paulo: Vida, 2007.

IRENAEUS. Irenæus against Heresies. Em: ROBERTS, A.; DONALDSON, J.; COXE, A. C. (eds.)
The ante-nicene fathers, Volume I: the apostolic fathers with Justin Martyr and
Irenaeus. Buffalo, NY: Christian Literature Company, 1885. v. 5.

JAMIESON, R.; FAUSSET, A. R.; BROWN, D. Commentary critical and explanatory on the
whole Bible. Oak Harbor, WA: Logos Research Systems, Inc., 1997.

MYOUNG-HOON, J. Faifulness in the book of Revelation: its identification and significance.


Filipinas, 2012 (Master of Arts in Religion) - Theology, Adventist International Institute of
Advanced Studies.

JOHNS, W. L. Dateline: Sunday, U.S.A.: the saga of three-and-one-half centuries of sunday


law battles in America. Edição Eletrônica Kindle, 2012.

JOHNSSON, W. G. Apocalíptica bíblica. Em: DEDEREN, R. Tratado de teologia adventista do


sétimo dia. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2011.

JONES, B. W. Domitian (emperor). Em: FREEDMAN, D. N. (ed.) The Anchor Yale Bible
dictionary. New York: Doubleday, 1992. v. 2.

KAPLAN, S. A. Surge uma perseguição religiosa nos Estados Unidos? 2ª ed. Itapecirica da
Serra, SP: Instituto da Herança Judaica, 1989.

KISTEMAKER, S. J. Comentário do Novo Testamento: Apocalipse. SP: Editora Cultura Cristã,


2004.

______. The caesars. Em: ELWELL, W. A.; BEITZEL, B. J. (eds.) Baker encyclopedia of the
Bible. Grand Rapids, MI: Baker Book House, 1988.
!125

KITTEL, G. αἰχµαλωσία. Em: KITTEL, G.; FRIEDRICH, G.; BROMILEY, G. W. (eds.)


Theological Dictionary of the New Testament. Grand Rapids, MI: W.B. Eerdmans, 1985.

KNIGHT, A.; ANGLIN, W. História do cristianismo: dos apóstolos do Senhor Jesus ao século
XX. Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembleias de Deus, 1983.

KNIGHT, G. R. A visão apocalíptica e a neutralização do adventistmo: estamos apagando


nossa relevância. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2010.

LACTANTIUS. The Divine Institutes. Em ROBERTS, A., DONALDSON, J. e COXE A. C.


(Orgs.), FLETCHER, W. (Trad.), The Ante-Nicene Fathers: Fathers of the Third and
Fourth Centuries: Lactantius, Venantius, Asterius, Victorinus, Dionysius, Apostolic
Teaching and Constitutions, Homily, and Liturgies (Vol. 7). Buffalo, NY: Christian
Literature Company, 1886.

LADD, G. Apocalipse: introdução e comentário. São Paulo: Vida Nova, 2011.

LÄPPLE, A. A mensagem do Apocalipse para o nosso tempo. São Paulo: Paulinas, 1971.

LARONDELLE, H. K. A marca permanente da verdadeira igreja. Revista Teológica, Cachoeira,


BA: Salt-IAENE, v. 3, n. 1, p. 1-8, 1999a.

______. Armagedom: o verdadeiro cenário da guerra final. Tatuí, SP: Casa Publicadora
Brasileira, 2004.

______. Contextual Approach to the Seven Last Plagues. Em: HOLBROOK, F. B. (ed.)
Symposium on Revelation. Hagerstown, MD: Review and Herald Publishing Association,
1992. v. 2.

______. Las profecías del fin. Buenos Aires: Asociacón Casa Editora Sudamericana, 1999b.

______. Light for the last days: Jesus’ endtime profecies made plain in the book of Revelation.
Nampa: Pacific Press, 1999c.

______. O Remanescente e as três mensagens angélicas. Em: DEDEREN, R. Tratado de teologia


adventista do sétimo dia. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2011.

______. The middle ages within the scope of apocalyptic profecy. Journal of the Evangelical
Theological Society. 32, n. 3, p. 345-354, 1989.

LEHMANN, R. P. O remanescente no Apocalipse. Em:, RODRÍGUEZ Á. M. (ed.) Teologia do


Remanescente: uma perspectiva Eclesiológica Adventista. Tatuí, SP: Casa Publicadora
Brasileira, 2012.

LENSKI, R. C. H. The interpretation of St. John’s Revelation. Columbus, OH: Lutheran Book
Concern, 1935.
!126

LOGOS. The Lexham analytical lexicon to the Septuagint. Bellinghan, WA: Logos Bible
Software, 2012.

LOUW, J. P.; NIDA, E. A. Greek-english lexicon of the New Testament: based on semantic
domains. Edição eletrônica da 2ª ed. New York: United Bible Societies, 1996.

LUKASZEWSKI, A. L. The Lexham syntactic greek New Testament Glossary: Logos Bible
Software, 2007.

MACHADO. R. P. T. Esporte e religião no imaginário da Grécia antiga. Disponível em <http://


www.teses.usp.br/teses/disponiveis/39/39133/tde-14032007-100902/pt-br.php>. Acessado
em 19 de novembro de 2013.

MACPHERSON, A. The mark of the beast as “sign commandment” and “anti-sabbath” in the
worship crisis of Revelation 12-14. Andrews University Seminary Studies, 2, n. 43, p.
267-283, 2005.

MAXWELL, C. M. Roman Catholicism and the United States. Em: HOLBROOK, F. B. (ed.)
Symposium on Revelation – Book II: Introductory and general studies. Silver Springer,
MD: Biblical Research Institute, 1992. v. 7.

______. Uma nova era segundo as profecias do Apocalipse. Tatuí, SP: Casa Publicadora
Brasileira, 2008a.

MAXWELL, R. Se meu povo orar. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2008b.

MICHAELS, J. R. Revelation. The IVP New Testament commentary series. Downers Grove, IL:
InterVarsity Press, 1997. v. 20.

MICHEL, O. Fé. Em: COENEN, L.; BROWN, C. (eds.). Dicionário internacional de teologia do
Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova,, 2007. v. 2.

MOLINA, C. G. Domitian apotheosis discussion: a historicist Johannine response through the


introductory salutations of the seven churches of Revelation. Revista Hermenêutica,
Cachoeira, BA, v. 13, n. 1, p. 27-44, 2013.

MOORE, M. Apocalipse 13: isso poderia realmente acontecer? Tatuí, SP: Casa Publicadora
Brasileira, 2013.

MOUNCE, R. H. The Book of Revelation. edição revisada. Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1997.

MUELLER, E. The end time remmant in Revelation. Journal of the Adventist Theological
Society, v. 11, n. 1-2, p. 188-204, 2000.

MYERS, A. C. The Eerdmans Bible dictionary. Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1987.

NADEN, R. C. The lamb among the beasts. Hagerstown, MD: Review and Herald Publishing
Association, 1996.
!127

NEWMAN, B. M., JR. A concise greek-english dictionary of the New Testament. Stuttgart,
Germany: Deutsche Bibelgesellschaft; United Bible Societies, 1993.

NICHOL, F. D. (ed.) The seventh-day adventist bible commentary. MD: Review and Herald
Publishing Association, 1980. v. 4.

______. The seventh-day adventist bible commentary. MD: Review and Herald Publishing
Association, 1980. v. 7.

NICON, R. E. Fé e Fidelidade. Em: TENNEY, M. C. (ed.) Enciclopédia da Bíblia cultura cristã.


São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2008. v. v. 2.

NIX, J. A luz ainda brilha: mas por que alguns adventistas querem abandonar Ellen G. White?
Revista Adventista. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, novembro de 2004, p. 8-10.

NUNN, H. P. V. The elements of New Testament greek. Cambridge: Cambridge University Press,
1923.

OSBORNE, G. R. Revelation. Grand Rapids, MI: Baker Academic, 2002.

______. A Espiral Hermenêutica. São Paulo: Vida Nova, 2009.

PALLISTER, A. Ética cristã hoje: vivendo um cristianismo coerente em uma sociedade em


mudança rápida. São Paulo: Shedd Publicações, 2005.

PASCHAL, F. H.; HOBBS, H. H. The teacher’s Bible commentary: A concise, thorough


interpretation of the entire Bible designed especially for sunday school teachers.
Nashville: Broadman and Holman Publishers, 1972.

PAULIEN, J. A hermenêutica da apocalíptica bíblica. Em: REID, G. W. (ed.) Compreendendo as


escrituras: uma abordagem adventista. Engenheiro Coelho, SP: UNASPRESS, 2007.

______. Deep things of God. Hagerstown, MD: Review and Herald, 2004.

______. Interpreting Revelation’s Symbolism. Em: HOLBROOK, F. B. (ed.) Simposium on


Revelation. Silver Spring, MD: Biblical Research Institute, 1992. v. 1.

______. O sábado no livro de Apocalipse. Revista Teológica, Cachoeira, BA: Salt-IAENE, v. 3, n.


1, p. 88-95, 1999.

______. Revisiting the sabbath in the book of Revelation. Journal of the Adventist Theological
Society, v. 9, n. 1-2, p. 179-186, 1998a.

______. Seven keys: unlocking the secrets of Revelation. Nampa, Idaho: Pacific Press, 2009.

______. What the Bible says about the end-time. Hagerstown, MD: Review and Herald
Publishing Association, 1998b.
!128

PERES, A. C. A inquisição e os instrumentos de tortura da Idade Média: a grande perseguição


católica e seus métodos de suplício. Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembléias de
Deus, 1998.

PFANDL, G. Marcas do remanescente de tempo do fim no Apocalipse. Em: RODRÍGUEZ, Á. M.


(ed.) Teologia do remanescente: uma perspectiva eclesiológica adventista. Tatuí, SP:
Casa Publicadora Brasileira, 2012.

______. A escatologia de Ellen G. White. Em: RODOR, A.; TIMM, A. R.; DORNELES, V. (eds.) O
futuro: a visão adventista dos últimos acontecimentos. Engenheiro Coelho, SP:
UNASPRESS, 2004.

PIPIM, Samuel. K. Suffering many things. Journal of the Adventist Theological Society. v. 9, n.
1-2, p. 128-140, 1998.

PLENC, D. O. O significado protológico e escatológico da adoração. Em: TIMM, A. R.; RODOR,


A.; DORNELES, V. (eds.) O futuro: a visão adventista dos últimos acontecimentos.
Engenheiro Coelho, SP: UNASPRESS, 2004.

RAMM, B. L. The God who makes a difference: a christian appeal to reason. Waco, TX: Word
Books, Publisher, 1972.

RAMSAY, W. M. The letters to the seven churches of Asia and their place in the plan of the
Apocalypse. London: Hodder and Stoughton, 1904.

REDDISH, M. G. Reveltion. Macon, GE: Smyth & Helwis Publish, 2001.

REID, G. W. Almost home: hope for the journey. Hagerstown, MD: Review and Herald
Publishing Association, 2000.

______. Even at the door. Hagerstown, MD: Review and Heralds Graphics, 1994.

______. Faith under pressure: the sabbath as case study. Journal of the Adventist Theological
Society. v. 9, n. 1-2, p. 141-149, 1998.

RELFE, M. S. El nuevo sistema monetário “666”. Barcelona: CLIE, 1982.

RICE, G. E. Dons espirituais. Em: DEDEREN, R. (ed.) Tratado de teologia adventista do sétimo
dia. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2011.

RICHARD, P. Apocalipse: reconstrução e esperança. Petrópolis, RJ: Vozes, 1999.

RICHARDSON, C. C. (ed.) Early christian fathers. New York: Westminster, 1956. v. 1.

RIESENFELD, E. H. τηρέω. Em: KITTEL, G.; BROMILEY, G. W.; FRIEDRICH, G. (eds.)


Theological dictionary of the New Testament: Grand Rapids, MI: Eerdmans., 1964-. v. 5.
!129

ROBERTS, A.; DONALDSON, J.; COXE, A. C., (eds.) The ante-nicene fathers, Volume VIII:
fathers of the third and fourth centuries: the twelve patriarchs, excerpts and epistles,
the Clementina, Apocrypha, Decretals, Memoirs of Edessa and syriac documents,
remains of the first ages. Buffalo, NY: Christian Literature Companyed. 1886.

ROBERTSON, A. T. Word pictures in the New Testament. Nashville, TN: Broadman Press, 1933.

RODRÍGUEZ, Á. M. Escatologia: uma teologia adventista da esperança. Em: RODOR, A.; TIMM,
A. R.; DORNELES, V. (eds.) O futuro: a visão adventista dos últimos acontecimentos.
Engenheiro Coelho, SP: UNASPRESS, 2004. p. 155-181.

______. O “testemunho de Jesus” nos escritos de Ellen G. White. Em: RODRÍGUEZ, Á. M. (ed.)
Teologia do Remanescente: uma perspectiva Eclesiológica Adventista. Tatuí, SP: Casa
Publicadora Brasileira, 2012.

______. Santuário. Em: DEDEREN, R. (ed.) Tratado de teologia adventista. Tatuí: Casa
Publicadora Brasileira, 2011.

ROTTMANN, J. H. Vem, Senhor Jesus: comentário bíblico: Apocalipse de s. João. Porto


Alegre, RS: Concórdia, 1993.

SBB. Bíblia de estudo Almeida. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 2005.

SCHWANTES, S. J. Colunas do caráter. Santo André: Casa Publicadora Brasileira, 1983.

SHEA, W. H. The controversy over the commandments in the central chiasm of Revelation.
Journal of the Adventist Theological Society, v. 11, n. 1-2, p. 216- 231, 2000.

SHELLEY, B. L. História do cristianismo ao alcance de todos: uma narrativa do


desenvolvimento da igreja cristã através dos séculos. São Paulo: Shedd Publicações,
2004.

SMITH, U. Daniel and Revelation. Battle Creek: Review and Herald, 1897.

SPENCE; JONES, H. D. M. The pulpit commentary: Revelation. Bellingham, WA: Logos Bible
Software, 2004.

STEFANOVIC, R. Revelation of Jesus Christ: commentary on the Book of Revelation. Berrien


Springs: Andrews University Press, 2009.

STRAND, K. A. Foundational Principles of Interpretation. Em: HOLBROOK, F. B. (ed.)


Simposium on Revelation. Silver Spring, MD: Biblical Research Institute, 1992. v. 1.

STRONG, J. The exhaustive concordance of the Bible: showing every word of the text of the
common english version of the canonical books, and every occurrence of each word in
regular order. Ontario: Woodside Bible Fellowship, 1996.

STUART, D.; FEE, G. D. Manual de exegese bíblica. São Paulo: Vida Nova, 2008.
!130

SWANSON, J. Dictionary of biblical languages with semantic domains: greek (New


Testament). edição eletrônica. Oak Harbor: Logos Research Systems, Inc., 1997.

SWETE, H. B., (ed.) The apocalypse of st. John. New York: The Macmillan Company, 2ª ed.
1906.

SWETE, H. B. The Old Testament in greek: according to the Septuagint (Alternative Texts).
Bellingham, WA: Logos Bible Software, 2009.

TAYLOR, D. F. The monetary crisis in Revelation 13:17 and provance of the Book of
Revelation. s/d.

THOMAS, R. L. Revelation 8-22: an exegetical commentary. Chicago: Moody Press, 1995.

TIMM, A. R. A importância das datas de 508 e 538 d.C. para a supremacia papal. Parousia, n. 1, p.
5-18, 2005.

______. O dom profético. Em: História da Igreja, vol. 1. (DVD). Tatuí, SP: Casa Publicadora
Brasileira, 2012.

TRAIL, R. An exegetical summary of Revelation 1–11. 2ª ed. Dallas, TX: SIL International,
2008a.

______. An exegetical summary of Revelation 12–22. 2ª ed. Dallas, TX: SIL International, 2008b.

UTLEY, R. J. Hope in hard times: the final curtain: Revelation. Marshall, TX: Bible Lessons
International, 2001. v. Volume 12.

VAN BEMMELEN, P. M. Revelação e inspiração. Em: DEDEREN, R. (ed.) Tratado de teologia


adventista. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2011.

VINCENT, M. R. Word studies in the New Testament. New York: Charles Scribner’s Sons, 1887.

VINE, W. E.; UNGER, M. F.; WHITE, W. (eds.) Dicionário Vine: o significado exegético e
expositivo das palavras do Antigo e do Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2006.

WALVOORD, J. F. Revelation. Em: WALVOORD, J. F.; ZUCK, R. B. . The bible knowledge


commentary: an exposition of the Scriptures. Wheaton, IL: Victor Books, 1985.

WATSON, S. The mark of the beast. Endinburg: B. McCall Barbour, 1972.

WHITE, E. G. Atos dos Apóstolos. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1999.

______. Caminho a Cristo. Disponível em <http://ellenwhitebooks.com/>. Acessado em 20 de


novembro de 2013.

______. Conselhos sobre mordomia. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2007a.
!131

______. Eventos finais. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2004.

______. Medicina e salvação. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2010.

______. Mensagens aos jovens. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2007b.

______. Mensagens escolhidas. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2008a. v. 2.

______. Mente, caráter e personalidade. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2001a. v. 1.

______. Nossa alta vocação. Meditação matinal. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2001b
[CD-ROM 2.0].

______. O grande conflito. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2008b.

______. Profetas e reis. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1996.

______. Serviço cristão. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2008c.

______. Testemunhos para ministros. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2008d.

______. Testemunhos para a igreja. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2009. v. 1.

______. Testemunhos para a igreja. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2008e. v. 2.

______. Testemunhos para a igreja. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2007c. v. 5.

______. Testemunhos para a igreja. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2006. v. 8.

______. The spirit of prophecy, Volume 4. Battle Creek: Seventh-day Adventist Publishing
Association, 1870.

WIERSBE, W. W. Wiersbe’s expository outlines on the New Testament. Wheaton, IL: Victor
Books, 1992.

______. Comentário bíblico expositivo. Santo André, SP: Geográfica Editora, 2006.

WILCOCK, M. A mensagem do Apocalipse. São Paulo: ABU Editora, 1986.

WILCOX, F. M. O testemunho de Jesus. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1998.

WRIGHT, N. T. Eu creio. E agora?: por que o caráter cristão é importante. Viçosa, MG:
Editora Ultimato, 2012.

ZURCHER, J. R. Christ of the Revelation: His message to the church and the world.
Nashiville: Southern Publishing Association, 1980.

Você também pode gostar