MAPEAMENTO GEOMORFOLÓGICO DO MUNICÍPIO DE CACHOEIRA DE MINAS – MG COMO
SUBSÍDIO PARA DIRETRIZES NO PLANO DIRETOR MUNICIPAL
Caio Faria da Cunha Barbosa Adorno
Universidade Federal de Alfenas
Clibson Alves dos Santos
Universidade Federal de Alfenas
Ricardo Michael Pinheiro Silveira
Instituto Federal do Paraná
Contato: caioadorno31@gmail.com
1. Introdução
Quando a temática do ordenamento territorial emerge na episteme geográfica, a questão de como
os grupos sociais têm se desenvolvido em uma relação dominante com a natureza evidencia a sua
apropriação como produto particular (NUNES, 2012). A transformação da paisagem ilustra um processo
em que os interesses particulares do capital comprometem os recursos naturais (ABREU, 2003). A
insaciável vontade do crescimento econômico junto da chegada dos pacotes tecnológicos delimita uma
relação abusiva da sociedade com o meio em que está inserida. Os diferentes níveis de conexão entre a
organização espacial e o devido planejamento a ela associada ilustram como as apropriações,
ocupações do relevo e distribuição dos núcleos urbanos é resultado de uma realidade carente de
estudos geográficos.
Os mapas geomorfológicos constituem um inventário gráfico das formas de relevo e paisagem
(SILVEIRA, 2019). São ferramentas essenciais que configuram a compreensão evolutiva dos processos
e respostas da superfície terrestre (SILVEIRA, 2019), o que destaca seu potencial de análise e síntese.
Com base no apresentado até então, o presente trabalho elaborou o mapeamento geomorfológico do
município de Cachoeira de Minas, sul de Minas Gerais. Buscou desenvolver um documento de análise
integrada que venha a somar no debate da gestão territorial e da necessidade de novas diretrizes para
elaboração de Planos Diretores Municipais no contexto regional da área.
2. Área de estudo
O município de Cachoeira de Minas (figura 1) se concentra na Microrregião de Santa Rita do
Sapucaí, sul de Minas Gerais. De acordo com o censo realizado pelo IBGE (2010) a população
residente é de aproximadamente 11. 034 habitantes. É válido destacar o Distrito de Itaim, que é habitado
por cerca de mil pessoas.
Figura 1: Mapa de Localização da área de estudo.
As características pedológicas do município de Cachoeira de Minas estão associadas às unidades
LVd2 e LVd9 (latossolos vermelhos distróficos); LVAd1, LVAd17 e LVAd24 (latossolos vermelho-amarelo
distróficos); PVAd2 (argissolos vermelho-amarelo distrófico) e PVd1 (argissolos vermelho distróficos).
A caracterização geológica, realizada pela base cartográfica da Companhia de Pesquisa de
Recursos Minerais (CPRM), de 2014, conta que a área de estudo pertence ao Complexo Varginha
Guaxupé, composto por ortognaisses migmatíticos, piroxênios granulitos, os sedimentos terciários e
quaternários citados anteriormente e diversos tonalitos.
Os aspectos geomorfológicos da área de estudo tem relação direta com a geologia e a pedologia
predominantes. As ações endógenas de intensos soerguimentos e denundações expressivas são
responsáveis pela gênese dos modelados homogêneos de dissecação associados a colinas e morros.
São frequentes os relevos mais acentuados com declividades mais altas, caracterizados por intensa
ação erosiva e as paisagens associadas a intensa deposição de sedimentos, caracterizadas pela
frequente presença de depósitos cenozoicos indiferenciados de idade quaternária e terciária (GASPAR
Jr, 2009).
3. Metodologia
O primeiro nível da abordagem taxonômica é considerado como os domínios morfoestruturais, logo, são
grandes estruturas que sustentam as formas de relevo. Este nível permite compreender a gênese
geológica das formas, como, por exemplo, uma bacia sedimentar ou um escudo cristalino. O segundo
nível taxonômico considera as unidades esculturais do relevo formadas ao longo do tempo sobre as
morfoestruturas devido à ação intempérica. O terceiro nível compreende as formas ou ao padrão de
formas semelhantes na paisagem, que são discerníveis no exercício da observação, pelas variações
altimétricas, forma das vertentes, etc. O quarto táxon existe na individualização dos padrões de formas
semelhantes. Enquanto o quinto táxon está associado ao tipo das vertentes junto do sexto táxon, que
considera os processos erosivos ativos.
Percorrida esta sistematização, o presente trabalho consultou o mapeamento geomorfológico do
estado de Minas Gerais e recortou a área de interesse para análises fisiográficas. Foram destacados os
quatro primeiros níveis taxonômicos em produtos cartográficos para a síntese e compreensão das
estruturas, as regiões e unidades geomorfológicas e os padrões de formas semelhantes. Em seguida, o
trabalho destacou o quinto e o sexto táxon no contexto da ocupação urbana e do prognóstico.
Além da classificação taxonômica do relevo do IBGE (2009) o presente trabalho também considerou
os postulados de Tricart (1977) de análise morfodinâmica, já que o objetivo medular da pesquisa é
coincidir o conhecimento da dinâmica fisiográfica da área com os princípios do ordenamento territorial.
4. Resultados
Analisada a mancha urbana do município de Cachoeira de Minas, bem como do distrito de Itaim,
nota-se que ambos estão situados em áreas de altitude inferior à 1000m. Essas áreas são comumente
associadas a vales gerados por intensa ação erosiva e, no caso, caracterizadas por acumulação de
materiais areno-argilosos de rochas ricas em minerais silicáticos e com fragmentos quartzíticos.
A região onde está inserida a área de estudo está associada a movimentos tectônicos do Grupo
Varginha-Guaxupé em tempos proterozoicos, responsáveis pela configuração atual das formas do relevo
(FERREIRA, 2019). As unidades do relevo podem ser identificadas pela análise das declividades, que,
por sua vez, possuem o potencial analítico de guia para orientar o uso e ocupação da terra.
Figuras 2 e 3: Esboço das classes de declividade e altimétrico de Cachoeira de Minas.
Tanto os municípios de Cachoeiro de Minas, quanto o distrito de Itaim, apresentam um padrão de
desenvolvimento urbano em ocupação de encostas e fundos de vale. Identificar os processos
morfodinâmicos associados às áreas urbanas em municípios com padrão de crescimento semelhante
permite a elaboração de um plano de gerenciamento para possíveis fragilidades naturais inerentes ao
sistema habitado, como enchentes e inundações
5. Referências Bibliográficas
ABREU, A. A. Teoria Geomorfológica e sua Edificação: Análise Crítica. Revista Brasileira de Geomorfologia. Ano 4, Nº 2, 2003, p. 51-67.
FERREIRA, Marta Felícia Marujo et al. Geomorfologia da Área de Proteção Ambiental do Rio Machado, Sul de Minas Gerais. Caderno de
Geografia, Campinas, v. 29, n. 1, p.236-257, ago. 2019.
GASPAR JR, L. A., (2009). Investigação das características mineralógicas, químicas, texturais e tecnológicas de coberturas regolíticas argilosas da
região de alfenas (mg) visando sua aplicação industrial. Relatório de Pós-Doutorado em Geociências – Universidade Federal de Ouro Preto -
UFOP, Escola de Minas – Ouro Preto: 2009, 77p
NUNES, L. S. A implementação da política de educação ambiental do município de Florianópolis: novas demandas ao Serviço Social. 2012. 228f.
Dissertação (Mestrado em Serviço Social) – Programa de Pós-Graduação em Serviço Social, Universidade Federal de Santa Catarina,
Florianópolis, 2012a.
SILVEIRA, R. M. P. Cartografia Temática. 1ª ed. Curitiba: Editora Intersaberes, 2019.