Você está na página 1de 5

Teorias acerca da natureza da arte: arte como mimesis, arte como expressão, arte

como forma significante, teoria da indefinibilidade da arte e teoria institucional da


arte

O que são as Belas -Artes?

Tese: uma obra é arte quando é produzida pelo ser humano como imitação da natureza e da
ação.
Principais defensores: Platão e Aristóteles

Platão, arte = imitação = criação de imagens. A verdadeira essência do objecto encontra-se no


mundo inteligível. O artista, ao imitar a natureza, está a imitar uma imitação. Platão encarava
a arte de forma negativa, achava que qualquer imitação deveria ser censurada porque não
mostrava a verdade – substituir o modelo pela sua cópia é fechar os olhos à verdade. A
realidade que os artistas imitavam era uma imitação da realidade suprema, que só existia para
lá do mundo dos sentidos.

Aristóteles, arte = representação do mundo real. Representar é diferente de imitar. Por


exemplo: uma pomba branca com um ramo de oliveira no bico representa a paz mas não imita
a paz; as cinco quinas representam Portugal assim como a águia representa o Benfica mas
nenhuma delas imita seja o que for – “representar” é “estar em vez de”.
Existem critérios, regras, cânones para definir a beleza do objeto estético

Comentário crítico:
 Será que todas as obras de arte imitam alguma coisa?
 O que é que a pintura abstrata imita?
 E a música e a literatura também podem considerar-se uma imitação?
 Para muitos autores, a verdadeira arte é sempre uma transfiguração do real – através
da sua imaginação, sensibilidade, inteligência, o artista deforma o real, transforma a
sua percepção imediata, criando novas formas.
 Na arte, não há uma realidade em bruto, imediata, mas com a marca pessoal do
artista.

1. Arte como expressão

Desenvolveu-se a partir do Romantismo (séc. XIX).


O Romantismo na Arte defendia:
 A interioridade, o mundo complexo dos sentimentos, das emoções, dos sonhos e
fantasias
 As viagens dentro de si mesmo, procurando fugir ao real (que desilude e magoa)
 A exaltação do mundo simples
 A arte é essencialmente inspiração e criação – expressão de sentimentos humanos
 O artista não representa as coisas tal como são mas o modo como as vê, como as
imagina ou como gostaria que fossem – quando pinta uma paisagem, o que procura
exprimir não é a paisagem mas o sentimento que esta lhe provoca.
Tolstoi:
 Só é arte a obra que expressa uma emoção sentida pelo artista e que é partilhada pelo
público;
 Não há arte se o público não sente qualquer emoção ou quando as emoções do artista
e do público não são idênticas.
Comentário crítico:
 Há obras de arte que podiam ser excluídas do mundo da arte à luz do expressionismo
– por exemplo Mondrian e grande parte das obras arquitectónicas
 E quando a intenção do artista não é comunicar, não pode criar obras de arte?
 Todas as obras de arte criadas num momento de tristeza serão necessariamente
tristes?
 Não será possível expressar numa obra um sentimento e uma emoção diferentes das
que estamos a sentir?
 Se o público estiver alegre, não poderá perceber a tristeza que o artista expressou na
obra?
 O valor da arte não será, antes, a capacidade de imaginar uma emoção e o talento no
uso dos meios para expressá-la?

2. Arte como forma significante (Formalismo)


1914 – o crítico de arte Clive Bell propõe a teoria da forma significante.
Para C. Bell, a obra de arte é um objecto que provoca emoções estéticas no seu público. Mas,
para produzir emoções estéticas, a obra de arte tem de ter uma característica especial – essa
característica é a forma significante.
A forma significante é uma característica da estrutura da obra que resulta da relação
estabelecida entre as partes que a constituem.
A teoria formalista é sobretudo aplicada à pintura, onde a forma significante é definida como
uma certa combinação de formas, linhas e cores. O que torna singular (única) a pintura de
Mondrian é a harmonia entre as cores puras, as formas e dimensões dos seus rectângulos – é
isso a sua forma significante.
Comentário crítico:
 Não esclarece com rigor o conceito de «forma significante» (define a forma
significante a partir da emoção estética e a emoção estética a partir da forma
significante – raciocínio circular ou petição de princípio)
 Não apresenta um critério aceitável para distinguir o que é e o que não é arte
 Faz depender esta distinção da sensibilidade dos críticos, logo, entra-se no domínio da
subjetividade do crítico – se um objecto a que chamamos obra de arte não desperta
emoção estética ao crítico, diz-se que esse objecto não é uma verdadeira obra de arte.
 A obra de arte corre o risco de se tornar decorativa

3. Teoria da indefinibilidade da arte


Será possível definir a arte?
Há autores que consideram a arte como um conceito aberto.
Conceito aberto é um conceito cujo significado vai sendo alargado passando a integrar novas
características de modo a incluir na sua extensão novos objetos. O conceito de arte terá de ir
integrando novas significações, ajustando-se à evolução da própria arte.
Para os defensores desta teoria, a arte é uma criação humana que não pode ser definida
(definir é pôr limites) pois não podemos pôr limites à criação. A arte é indefinível porque é um
conceito aberto.
Comentário crítico: esta teoria só se aplica àquelas outras teorias que apresentam definições
essencialistas da arte. Há outras formas de definir a arte – teoria institucional.
4. Teoria institucional da arte
Considera que há dois aspectos comuns a toda a obra de arte:
1. São artefactos, i.e., sofreram uma manipulação por parte de alguém – a exposição,
numa galeria de arte, de uma pedra, um sinal de trânsito, um vaso …é já um passo
para que esse artefacto venha a ser considerado uma obra de arte.
2. Todas as obras de arte têm o estatuto de obras de arte porque este lhes é conferido
por pessoas que, estando ligadas às artes, têm autoridade suficiente para o fazer
(artistas, críticos de arte, galeristas, diretores de museus…). Essas pessoas
transformam os artefactos em obras de arte (ação de baptismo), através de processos
como: exibição, representação, publicação ou o simples facto de lhes chamarem arte.
Comentário crítico: nesta teoria, quase tudo se pode transformar numa obra de arte,
bastando o parecer de pessoas avalizadas nessa matéria. Assim, esta teoria não permite
distinguir a boa da má arte (quais são as razões para se escolher uns artefactos e outros não? –
nesta teoria, não existem). Contudo, chama a atenção para a importância dos critérios
relacionados com a cultura e a época histórica com que a obra de arte está relacionada.

Você também pode gostar