Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
© DIREITOS RESERVADOS
Proibida a reprodução total ou parcial desta publicação sem o prévio consentimento, por escrito, pelos autores.
Direito Tributário
Universidade Anhanguera-Uniderp
Cursos de Pós-Graduação
PÓS-GRADUAÇÃO
Lato Sensu Televirtuais | 2011
Universidade Anhanguera-Uniderp
PÓS-GRADUAÇÃO Unidade de Transmissão
COMPETÊNCIA TRIBUTÁRIA
SUMÁRIO:
1. Introdução
2. Poder e Competência
2.1. O poder de tributar
2.1.1. Poder de tributar e soberania estatal
2.1.2. Tributação e consentimento
2.2. Origem da tributação
2.3. A finalidade do tributo e do Direito Tributário
2.4. Tributo e interesse público
2.5. Relação de poder e relação jurídica
2.6. Distinção entre poder e competência
2.7. Competência como poder juridicamente limitado
3. Competência Tributária
3.1. Conceito e características
3.2. Privatividade
3.3. Indelegabilidade
3.4. Incaducidade
3.5. Inalterabilidade
3.6. Irrenunciabilidade
3.7 Facultatividade
4. Discriminação Constitucional das Rendas Tributárias
4.1. Como exigência da Federação
4.2. Duas técnicas que se completam
4.3. Atribuição constitucional de competência
4.4. Distribuição de receitas
4.5. Considerações de política jurídica
4.5.1. Os conselhos de representantes
4.5.2. Partilha de todos os tributos arrecadados pela União
5. Bibliografia
2
Universidade Anhanguera-Uniderp
PÓS-GRADUAÇÃO Unidade de Transmissão
1. INTRODUÇÃO
O estudo de qualquer tema jurídico exige muito cuidado com os conceitos. Mais do que
em outros domínios da realidade, na Ciência Jurídica os conceitos são de capital importância.
E embora desnecessário é sempre importante insistirmos em que não existem conceitos
exatos. Todos os conceitos oferecem alguma margem de imprecisão, seja porque são
ambíguos, seja porque são vagos. A ambiguidade e a vaguidade ensejam sempre graves
dificuldades na interpretação jurídica e podem ser consideradas as causas mais frequentes de
controvérsias em Direito.
Por isto mesmo não se pode estudar Direito Tributário sem antes procurar fixar alguns
conceitos importantes da teoria dessa área do Direito. A ideia de que o mais importante é o
conhecimento prático é equivocada. Como ensina Albuquerque Rocha, a teoria é “um corpo
de conceitos sistematizados que nos permite conhecer um dado domínio da realidade. A
teoria não nos dá um conhecimento direto e imediato de uma realidade concreta, mas nos
2
proporciona os meios (os conceitos) que nos permitem conhecê-la.” Assim, para que o
conhecimento seja adequado à coisa conhecida, vale dizer, seja adequado a seu objeto, e em
especial, para que a Ciência do Direito seja adequada ao Direito, devemos cuidar de
esclarecer o significado e o alcance dos diversos conceitos que integram a sua teoria.
2. PODER E COMPETÊNCIA
1
Rafael Bielsa, Los conceptos jurídicos y su terminología, 3ª edición, Depalma, Buenos Aires, 1987,
pág. 9.
2
José de Albuquerque Rocha, Teoria Geral do Processo, 6ª edição, Malheiros, São Paulo, 2002, pág. 17.
3
Universidade Anhanguera-Uniderp
PÓS-GRADUAÇÃO Unidade de Transmissão
A tributação tem sua origem remota na imposição do vencedor sobre o vencido. Uma
relação de escravidão, portanto. E essa origem espúria, infelizmente, às vezes ainda se
3
Aliomar Baleeiro, Limitações Constitucionais ao Poder de Tributar, 7ª edição, Forense, Rio de
Janeiro, 1997, p. 1.
4
Universidade Anhanguera-Uniderp
PÓS-GRADUAÇÃO Unidade de Transmissão
Realmente, não é raro que autoridades ainda desprovidas da consciência de que nas
comunidades civilizadas a relação tributária é relação jurídica, exercitem a competência
tributária editando normas jurídicas fora dos limites admitidos pela Constituição, ou
exercitem a capacidade tributária fora dos limites estabelecidos pela lei. Não se justifica que
seja, mas é na verdade assim porque quem exerce o poder tende a abusar dele. É um defeito
dos seres humanos em geral, que torna necessário o controle através do Direito, e que
somente pode ser efetivo se calcado na divisão do próprio poder.
Quando se diz, com razão, que o tributo atende ao interesse público, tal assertiva há
de ser entendida em seus devidos termos. Ela não significa que o tributo, porque atende ao
interesse público, deva ser arrecadado de qualquer forma. Ela não justifica de nenhum modo
as práticas arbitrárias do fisco.
5
Universidade Anhanguera-Uniderp
PÓS-GRADUAÇÃO Unidade de Transmissão
É inegável que o tributo atende ao interesse público, como é inegável também que a
observância da Constituição e das leis constitui o que há de mais importante para o interesse
público. As duas coisas, portanto, devem coexistir sem conflito. E na verdade é assim, porque
o interesse público é atendido na medida em que as pessoas se submetem aos tributos,
pacificamente, e que os governantes cobram apenas os tributos devidos, nos termos da
Constituição e das leis.
Quando a lei estabelece o tributo a ser pago, está atendido o interesse público que se
busca realizar com a tributação. Daí em diante se há de atender ao interesse público no
cumprimento da lei que instituiu o tributo. O contribuinte, promovendo o pagamento das
quantias devidas, e o fisco cobrando as quantias devidas eventualmente não pagas. É
importante, para bem entender-se isto, pensarmos na distinção que há entre relação de
poder e relação jurídica.
A tributação pode ser vista como uma relação de poder, e como uma relação jurídica.
É uma relação de poder no momento pré-jurídico. No momento anterior à organização
jurídica do Estado, que se dá com a edição da Constituição. E ainda no momento da edição da
regra jurídica de tributação, no qual a entidade pública dotada de poder legislativo edita a
norma de tributação. Embora neste segundo momento se tenha já um poder limitado pela
norma jurídica da Constituição, ainda predomina o poder no sentido de que ninguém pode a
ele se opor individualmente. Ninguém pode alegar, contra o seu exercício, que tem direitos,
salvo, é claro, quando há ultrapassagem dos limites fixados pela Constituição, e como estes
são geralmente muito largos entende-se que a relação tributária, ainda nesse momento, é
uma relação de poder.
6
Universidade Anhanguera-Uniderp
PÓS-GRADUAÇÃO Unidade de Transmissão
para designar a aptidão colocada pela norma jurídica. É algo que está no plano do dever ser.
Competência é atribuição para fazer, dada pela lei a alguém. Pode e deve coincidir com o
poder, mas não significa o poder. É poder jurídico, no sentido de poder que deve ser, mas
eventualmente pode não ser. Enquanto o poder é uma expressão da realidade, do fato, a
competência é uma expressão jurídica.
4
Hugo de Brito Machado Segundo, Direito Tributário e Financeiro, Atlas, São Paulo, 2005, pág. 24.
5
Hugo de Brito Machado, Posição Hierárquica da Lei Complementar, Revista Dialética de Direito
Tributário, Dialética, São Paulo, nº 14, novembro/96, pág. 19; e Identidade Específica da Lei
Complementar, Revista Dialética de Direito Tributário, Dialética, São Paulo, nº 117, junho/2005, págs.
51/69.
7
Universidade Anhanguera-Uniderp
PÓS-GRADUAÇÃO Unidade de Transmissão
termos da Constituição Federal de 1988, além do trato de outras matérias que eventualmente
podem ter relevância no que diz respeito à competência tributária, cabe à lei complementar
dispor sobre conflitos de competência, em matéria tributária, entre a União, os Estados, o
Distrito Federal e os Municípios, bem como regular as limitações constitucionais ao poder de
tributar.6
3. COMPETÊNCIA TRIBUTÁRIA
6
Constituição Federal de 1988, art. 146, inciso I e II.
7
Constituição Federal de 1988, art.153, inciso VII.
8
Constituição Federal de 1988, art.156, inciso III
9
Constituição Federal de 1988, art.146, inciso III, alínea “a”.
10
Constituição Federal de 1988, art.154, inciso I.
8
Universidade Anhanguera-Uniderp
PÓS-GRADUAÇÃO Unidade de Transmissão
3.2. Privatividade
A Constituição Federal não alberga norma determinando quais são as taxas que podem
ser instituídas pela União, pelos Estados e pelo Distrito Federal, ou pelos Municípios. Em
relação à contribuição de melhoria também não se faz necessária regra atributiva de
competência específica. Esses tributos têm fato gerador que é, ou se liga a atividade estatal
específica relativa ao contribuinte, de sorte que competente para instituí-los é a pessoa
jurídica que desenvolve a atividade correspondente.
Nos termos do art. 145, incisos I e II, da vigente Constituição Federal, compete à
União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios instituir (a) taxas, em razão do
exercício do poder de polícia ou pela utilização, efetiva ou potencial, de serviços públicos
específicos e divisíveis, prestados ao contribuinte ou postos à sua disposição; e (b)
contribuição de melhoria decorrente de obras públicas.
9
Universidade Anhanguera-Uniderp
PÓS-GRADUAÇÃO Unidade de Transmissão
Diz-se, então, que a competência para instituir tais espécies de tributos é comum.
Preferimos, porém, dizer que a questão das competências para instituição desses tributos não
constitui matéria de Direito Tributário.
Só a pessoa jurídica de Direito público que exercita a atividade estatal específica pode
instituir o tributo vinculado a essa atividade. A competência tributária, assim, é privativa do
ente estatal que exercita a atividade respectiva. Indicar-se como de competência comum os
tributos vinculados não nos parece adequado. Preferimos dizer que esses tributos são
privativos de quem exerce a atividade estatal a que se ligam, sendo a competência para o
exercício dessa atividade estatal matéria estranha ao Direito Tributário.11
O art. 153 da Constituição de 1988 enumera os impostos que a União Federal pode
instituir, enquanto o art. 154, inciso I, estabelece que, além daqueles, a União pode instituir,
mediante lei complementar, impostos ali não previstos, desde que sejam não cumulativos e
não tenham fato gerador e base de cálculo próprios dos impostos nela discriminados.
11
Hugo de Brito Machado, Curso de Direito Tributário, 27ª edição, Malheiros, São Paulo, 2006, págs.
308/309.
10
Universidade Anhanguera-Uniderp
PÓS-GRADUAÇÃO Unidade de Transmissão
Não pode a União, invocando a competência residual, instituir adicionais aos impostos
discriminados na Constituição. A vedação está expressa no art. 154, inciso I, e não admite
qualquer dúvida.
Recorde-se que o imposto é considerado adicional quando tem o mesmo fato gerador
de outro existente no sistema. Os adicionais possíveis, entre nós, são apenas aqueles
expressamente previstos como outras espécies tributárias, como ocorre, por exemplo, com as
contribuições sociais. A contribuição social sobre o lucro é um adicional do imposto de renda,
e a COFINS é um adicional dos impostos sobre a produção (IPI) e a circulação (ICMS).
3.3. Indelegabilidade
A competência tributária não pode ser por seu titular transferida a outra entidade.
Ainda que não exercitada subsiste tal como foi atribuída pela Constituição. Neste sentido
ensina Hugo de Brito Machado Segundo: “A competência tributária é indelegável e o fato de
não ser exercida não a transfere para outra pessoa jurídica de direito público.” 12
Outra não é a razão pela qual a União, não obstante competente para instituir o
Imposto sobre Grandes Fortunas, nos termos do art. 153, inciso I, da Constituição Federal de
1988, até hoje não exercitou essa competência. Cuida-se de atitude política. Os titulares do
poder político no País entendem não ser conveniente a instituição de um imposto que
somente seria gravoso para os mais ricos.
12
Hugo de Brito Machado Segundo, Direito Tributário e Financeiro, Atlas, São Paulo, 2005, pág. 144.
13
José Jayme de Macêdo Oliveira, Código Tributário Nacional, Saraiva, São Paulo, 1998, pág. 40
11
Universidade Anhanguera-Uniderp
PÓS-GRADUAÇÃO Unidade de Transmissão
O não exercício da competência tributária por uma pessoa jurídica de direito público
não a defere a pessoa jurídica diversa porque as competências tributárias são privativas.
Embora a Constituição Federal não o diga expressamente, isto decorre da atribuição de
competência feita isoladamente a cada uma das pessoas jurídicas de direito público. Aliás,
assim já havia de ser entendido à luz da Emenda Constitucional nº 18 à Constituição de 1946,
que serviu de fundamento para o Código Tributário Nacional. 14
3.4. Incaducidade
3.5. Inalterabilidade
Art. 110 – A lei tributária não pode alterar a definição, o conteúdo e o alcance de
institutos, conceitos e formas de direito privado, utilizados, expressa ou implicitamente, pela
14
Hugo de Brito Machado, Comentários ao Código Tributário Nacional, Atlas, São Paulo, 2003, vol. I,
pág. 159
15
Código Tributário Nacional, art. 8º.
12
Universidade Anhanguera-Uniderp
PÓS-GRADUAÇÃO Unidade de Transmissão
Constituição Federal, pelas Constituições dos Estados, ou pelas Leis Orgânicas do Distrito
Federal e dos Municípios, para definir ou limitar competências tributárias.
16
Luciano Amaro, Direito Tributário Brasileiro, 12ª edição, Saraiva, São Paulo, 2006, págs. 102/103.
13
Universidade Anhanguera-Uniderp
PÓS-GRADUAÇÃO Unidade de Transmissão
3.6. Irrenunciabilidade
3.7. Facultatividade.
17
Hugo de Brito Machado, Curso de Direito Tributário, 27ª edição, Malheiros, São Paulo, 2006, pág. 54.
18
Código Tributário Nacional, art. 142, parágrafo único.
14
Universidade Anhanguera-Uniderp
PÓS-GRADUAÇÃO Unidade de Transmissão
A autoridade administrativa que tenha a atribuição para lançar o tributo não pode
deixar de fazê-lo. Ocorrido o fato que, em face da lei, gera a obrigação tributária principal, a
autoridade administrativa tem o dever jurídico de lançar.
A rigor, não se pode falar de autonomia política sem autonomia financeira, e como a
Federação caracteriza-se pela autonomia política das entidades que a compõem, pode-se
afirmar que a discriminação constitucional das rendas tributárias é uma exigência da
Federação.
15
Universidade Anhanguera-Uniderp
PÓS-GRADUAÇÃO Unidade de Transmissão
a.2) Impostos residuais, porque não especificamente previstos, que não podem ter
fatos geradores nem bases de cálculo próprios dos especificamente previstos na discriminação
de competências ordinárias.20
19
Constituição Federal, art. 153.
20
Constituição Federal, art. 154, inciso I.
16
Universidade Anhanguera-Uniderp
PÓS-GRADUAÇÃO Unidade de Transmissão
Como existem tributos cuja receita é partilhada, o Código esclareceu também que a
partilha das receitas não implica partilha da competência, que consubstancia partilha do
poder político.
Teria de ser assim ainda que o Código Tributário Nacional não o dissesse. Mas é bom
que o tenha dito, porque a afirmação tem efeitos didáticos. Não é raro, aliás, o
questionamento em torno do assunto, a demonstrar que os desejáveis efeitos didáticos dessa
norma do Código Tributário Nacional ainda não se produziram na extensão desejada.
21
Constituição Federal, art. 155
22
Constituição Federal, art. 156
17
Universidade Anhanguera-Uniderp
PÓS-GRADUAÇÃO Unidade de Transmissão
receitas tributárias mais expressivas, e como está posta, sem abranger a totalidade dos
tributos federais, é burlada pelo poder central com relativa facilidade. Esse inconveniente
poderia ser superado, com a fórmula a que nos vamos em seguida referir, mas isto é apenas
uma consideração de política jurídica.
18
Universidade Anhanguera-Uniderp
PÓS-GRADUAÇÃO Unidade de Transmissão
5. BIBLIOGRAFIA
19