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Grupo de Estudos em Qualidade da Energia Elétrica - GQEE

Instituto de Sistemas Elétricos e Energia - ISEE


Universidade Federal de Itajubá GQEE

SENSIBILIDADE DE CARGAS E PROCESSOS INDUSTRIAIS FRENTE A


AFUNDAMENTOS DE TENSÃO

Elaborado: Prof. José Maria de Carvalho Filho

1 Considerações Iniciais

Neste documento são analisados os efeitos dos afundamentos de tensão


sobre os processos industriais. É analisada de forma detalhada a sensibilidade
dos principais componentes e cargas presentes nos processos, tais como
contatores, acionamentos de velocidade variável, motores de indução, e outros
dispositivos.

2 Efeitos Sobre Processos Industriais

O impacto dos afundamentos de tensão sobre os consumidores industriais


ocorre de forma diferenciada em função da sensibilidade dos equipamentos
eletroeletrônicos instalados, das particularidades inerentes a cada processo
industrial (industrias têxteis, alumínio, plástico, cimento, papel, metalúrgica,
siderurgia, química, etc.) e também dos sistemas de controle de processo
envolvidos. Logo, pode-se dizer que a sensibilidade da carga do consumidor é
uma combinação da sensibilidade dos equipamentos eletro-eletrônicos instalados
com a sensibilidade do processo industrial [1].
Normalmente, o efeito dos afundamentos de tensão em consumidores
industriais dá-se sob a forma de interrupção parcial ou total de processos
produtivos, com os conseqüentes prejuízos associados a paradas de produção,
perdas de produtividade, perdas de insumos, reparo e reposição de equipamentos
danificados. Os efeitos dos afundamentos de tensão sobre os principais
equipamentos eletro-eletrônicos utilizados nas indústrias manifestam-se sob a
forma de:

• Perda de programação de microprocessadores; Desatracamento das


bobinas de contatores e relés auxiliares, com conseqüentes desligamentos
de cargas e equipamentos via lógica do sistema de controle;

• Desligamento de lâmpadas de descarga, como as de vapor de mercúrio,


que levam cerca de alguns minutos para reacenderem;

• Variação de velocidade dos acionamentos CA e CC (motor e carga


mecânica), que dependendo do tipo de processo, poderá comprometer a
qualidade do produto ou até provocar a parada de produção;

• Variação de torque do motor (CA e CC) com as mesmas implicações


citadas anteriormente;

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• Desligamento de acionamentos devido à atuação de dispositivos de


proteção associados, que quando detectam condições de risco, promovem o
bloqueio do disparo de tiristores ou até mesmo o desligamento imediato da
fonte de alimentação;

• Falhas de comutação em pontes controladas, afetando os disparos dos


gatilhos de tiristores;

• Queima de fusíveis e outros componentes, principalmente, nos


acionamentos CC operando no modo regenerativo.

Em consumidores domésticos os efeitos dos afundamentos de tensão são


percebidos pela perda de memória e perda de programação de relógios digitais,
fornos de microondas, videocassetes, desligamento de microcomputadores, etc.
Normalmente, estes problemas não estão associados a prejuízos financeiros,
mas sim à satisfação dos consumidores e à imagem das empresas de energia
elétrica.

3 Efeitos Sobre Computadores

A representação clássica da tolerância das cargas frente a afundamentos de


tensão é normalmente realizada através de uma curva cujos eixos representam
a intensidade e a duração dos afundamentos de tensão.
A sensibilidade dos computadores é retratada pela Curva CBEMA, publicada
na norma IEEE-446, apresentada na Figura 1.
Apesar da curva CBEMA ter sido originalmente proposta para caracterizar a
sensibilidade de computadores mainframe, atualmente ela também tem sido
utilizada para outros componentes eletro-eletrônicos como: microcomputadores
(PCs), equipamentos microprocessados, etc.

Figura 1 - Curva de tolerância CBEMA.

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A Figura 1 mostra três regiões distintas de operação, onde estão associadas


às letras A, B, e C, que representam:
• Região A - região de imunidade;

• Região B - região de susceptibilidade, com possibilidade de ruptura da


isolação dos equipamentos (perda de hardware), devido à ocorrência de
sobretensões transitórias e elevações de tensão;

• Região C - região de sensibilidade, com possibilidade de parada de


operação dos equipamentos, em virtude da ocorrência de afundamentos de
tensão, juntamente com as interrupções momentâneas. No contexto deste
trabalho, esta é a região de interesse.

Recentemente a curva CBEMA foi modificada para melhor caracterizar a


sensibilidade dos computadores e demais equipamentos, a fim de acomodar
mais adequadamente a diversidade dos modernos dispositivos eletrônicos. Esta
curva é a ITIC, apresentada na Figura 2. As regiões A, B e C são classificadas
segundo os mesmos princípios da curva CBEMA.

Figura 2 - Curva de tolerância ITIC.

Estudos recentes [2] ratificam que os microcomputadores (PCs) assim como


outros equipamentos controlados por microprocessadores apresentam um alto
grau de sensibilidade frente aos afundamentos de tensão. Estas pesquisas
relatam como principais falhas às perdas de dados e a diminuição do
desempenho provocando a necessidade de “re-start” do processo, assim como
os microcomputadores devem ser reiniciados após a ocorrência de uma
interrupção. Na prática, o efeito de um afundamento de tensão severo equivale
ao efeito de uma interrupção.
Neste estudo [2] foram testados somente microcomputadores, mas os
resultados podem ser generalizados para PLCs e outros dispositivos
controlados por microprocessadores. No total foram testados sete PCs de
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diversos fornecedores, fabricados entre 1996 e 2002. Todos os PCs possuíam


um hardware básico: disco rígido, CD-ROM drive, placa de rede, etc. As fontes
dos PCs foram ligadas na fonte geradora de distúrbios, sendo que foi
considerado estado de falha do PC quando ocorria reinicialização do
equipamento como conseqüência do distúrbio.
A Figura 3 mostra as curvas de sensibilidade obtidas para os sete PCs
juntamente com a curva de referência ITIC. Somente um dos PCs possui
tolerância inferior à recomendada pela curva ITIC. Os demais PCs apresentam
tolerância superior à curva ITIC e são imunes a afundamentos cuja duração é
menor do que 100 ms. A maioria dos PCs tolera afundamentos de intensidade
até 0,60 p.u.. Deste estudo pode-se concluir que não há nenhuma correlação
entre o ano de fabricação dos PCs com a sensibilidade a afundamentos de
tensão.

Figura 3 – Curva de sensibilidade para os PCs analisados [2].

4 Sensibilidade de Contatores

Contatores e relés auxiliares são os principais componentes utilizados nos


circuitos de força e de comando dos motores instalados nos processos
industriais. A falha de qualquer um destes componentes pode levar a parada
total ou parcial de um processo, sendo que a retomada plena de produção
poderá levar várias horas e até dias. Na pesquisa relatada em [2] foram
testados 28 contatores de 5 marcas diferentes com correntes nominais entre 9
e 900 A. Foram utilizados nos testes contatores novos, usados e outros com
data de fabricação antiga, porém, sem uso.
Cada contator após um período de 2 minutos de funcionamento normal foi
submetido a afundamentos de tensão. Cada afundamento, caracterizado por

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uma intensidade e duração, foi aplicado várias vezes e foi considerado severo
aquele evento que provocou falha no contator em pelo menos 50% dos testes.
Foram gerados afundamentos de intensidade entre 0,05 a 0,90 p.u., de
duração de 1 ciclo até 1 s. Com o objetivo de analisar a influência do ângulo de
fase da tensão no inicio do afundamento, na sensibilidade dos contatores,
foram aplicados distúrbios começando em 0 e 90 °, da onda de tensão.
A Figura 4 mostra as curvas máxima, mínima e média de sensibilidade dos
contatores ensaiados para afundamentos com ângulo de inicio de 0 e 90°,
respectivamente. No gráfico estão representadas: a curva do contator mais
sensível, curva à esquerda; do contator menos sensível, curva à direita; e de
um contator de sensibilidade média.
Pode-se observar que para eventos que começam no ângulo de fase 0°
contator de sensibilidade média tolera interrupções da ordem de 200 ms,
enquanto, falha quando submetido a afundamentos de intensidade 0,5 p.u. e
duração da ordem de 50 ms. Na prática, por segurança, deve-se prever o efeito
do pior caso, ou seja, afundamentos começando em 90°da onda de tensão.

Figura 4 – Curva de sensibilidade de contatores [2].

Ainda, observando a Figura 4 pode se inferir que a tolerância dos contatores


se mantêm constante quando a duração dos eventos ultrapassa 1 segundo.
Estes valores podem ser considerados como valores de tolerância frente a
subtensões de regime permanente, obtidos para todos os contatores testados,
resultando na distribuição de tolerâncias, mostrada no gráfico da Figura 5.
Os valores de tolerância obtidos estão de acordo com os limites
estabelecidos na norma IEC 60947-4-1 [39], e também com valores obtidos em
trabalhos semelhantes [3].
Analisando-se o gráfico da Figura 5 pode se concluir que a probabilidade de
falha de um contator frente a um afundamento de intensidade 0.45 p.u. é de
50%. Quando se deseja evitar a parada de um processo devido a
desatracamento de contatores, deveriam ser mitigados os afundamentos cujas
intensidades sejam inferiores a 0,70 p.u..
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Figura 5 – Gráfico de distribuição de valores de tolerância de contatores [2].

Num outro estudo [4] foi desenvolvido um modelo matemático que permitiu
realizar uma analise dinâmica do contator frente a fundamentos de tensão. Os
resultados obtidos neste trabalho de simulação são coerentes com os
resultados experimentais descritos anteriormente [2].

5 Sensibilidade dos Acionamentos de Velocidade Variável

Conforme citado no item 3 a sensibilidade dos equipamentos é geralmente


representada a dois parâmetros (magnitude e duração) no plano cartesiano.
Logo, a sensibilidade dos acionamentos de velocidade variável (AVVs), assim
como todos os demais equipamentos eletro-eletrônicos, pode ser caracterizada
por uma região dentro do plano tensão versus tempo, conforme mostra a
Figura 6.

Figura 6 - Sensibilidade dos AVVs [1].


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A região denominada de disrupção é onde o equipamento certamente irá


falhar, independentemente do modelo ou fabricante; a área sombreada
representa a região de incerteza, em que o equipamento poderá falhar ou não, e
finalmente, a região à esquerda e acima da área sombreada é considerada
como sendo uma região normal de operação, também denominada de
imunidade. Nesta última região, os equipamentos não apresentam
sensibilidade a afundamentos de tensão.
Vale ressaltar que é difícil estabelecer um padrão de comportamento para os
equipamentos eletro-eletrônicos devido à diversidade de modelos e fabricantes.
Contudo, a título de informação, a Tabela 1 apresenta as faixas de
sensibilidade dos principais equipamentos utilizados em ambientes industriais
[1].

Tabela 1- Região de sensibilidade dos equipamentos eletro-eletrônicos [1].

Um fato a ser observado nos acionamentos de velocidade variável é que


geralmente os acionamentos de corrente contínua (CC) são mais sensíveis a
afundamentos de tensão que os acionamentos de corrente alternada (CA) [5].
Isto ocorre devido aos seguintes fatores:

• Os acionamentos CC são normalmente desprovidos de dispositivos de


armazenamento de energia (capacitor no lado CC);

• Os sistemas de comando bloqueiam o sistema de disparo da ponte


controlada devido ao desequilíbrio e assimetria detectados nos fasores da
tensão.

Já, o impacto dos afundamentos de tensão sobre acionamentos de corrente


alternada pode-se manifestar de duas maneiras, ambas resultando em parada
do acionamento [1]:

• Primeira, quando o capacitor no barramento CC não consegue manter a


tensão mínima nos terminais do inversor durante o período de permanência
do afundamento de tensão;

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• Segunda, quando é violada a capacidade da eletrônica de controle de


operar com níveis reduzidos de tensão.

Estudos realizados em AVVs de corrente alternada que utilizam sistema de


controle do tipo PWM-VSI mostram o efeito de diversos afundamentos de
tensão no funcionamento do conversor [6]. Tal pesquisa consistiu em submeter
os acionamentos a diversos tipos de afundamentos equilibrados e
desequilibrados. Estas experiências mostraram, como esperado, que os
afundamentos trifásicos são os mais severos. Enquanto que afundamentos com
a mesma intensidade e duração que os supracitados, mas devido às faltas
monofásicas ou bifásicas, não apresentaram o mesmo grau de severidade.
Portanto, para estudar a tolerância destes equipamentos frente a
afundamentos de tensão é necessário considerar outras variáveis de influência
já que somente os parâmetros intensidade e duração são insuficientes para
caracterizar a sensibilidade dos AVVs trifásicos.
Usualmente, quando se estudam afundamentos de tensão, todo o raciocínio
é conduzido tomando-se como premissa básica que tais distúrbios apresentam
forma de onda retangular. Desta maneira, pode-se estabelecer uma relação de
causa e efeito quanto à expectativa de interrupção da carga ou processo
industrial. No entanto, sabe-se que, na prática, os afundamentos de tensão
podem apresentar formas de onda não retangulares e semelhantes àquelas
mostradas na Figura 7 e Figura 8, obtidas de medições reais na baixa tensão
numa planta industrial.

Figura 7 - Registro de afundamento de tensão não retangular-1.

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Figura 8 - Registro de afundamento de tensão não retangular-2.

Observando tais figuras, o leitor se depara com algumas dificuldades para


identificar os parâmetros característicos associados e conduzir as análises
necessárias. Estas dificuldades são atribuídas aos seguintes aspectos, dentre
outros:

• A intensidade do afundamento de tensão nas três fases é variável no


tempo;

• A duração do afundamento de tensão em cada uma das fases é diferente.

Tendo em vista o que foi exposto, torna-se difícil determinar os parâmetros


característicos dos afundamentos de tensão e apontar qual deles foi o fator
determinante para promover o desligamento da carga.
No entanto, visando melhor caracterizar os afundamentos de tensão
trifásicos para situações como as mostradas nas Figuras 7 e 8, utiliza-se do
procedimento chamado de agregação de fases.
Somadas ao cenário já exposto, sabe-se que, dependendo do tipo de
acionamento e sistema de controle utilizado, o desequilíbrio e assimetria
angular presentes no afundamento também podem promover o desligamento
dos acionamentos. Situações como estas podem até mesmo provocar danos
permanentes nos conversores, dependendo do ajuste da proteção do
acionamento, e da categoria dos componentes de eletrônica de potência
utilizados.
A título de exemplo, a Figura 9 mostra o diagrama fasorial das tensões
durante a ocorrência de um defeito fase-terra em um sistema elétrico real,
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obtido via simulação. Observa-se claramente que as tensões ficam


desequilibradas e assimétricas.

Figura 9 - Diagrama fasorial de um afundamento de tensão assimétrico [1].

6 Sensibilidade de Motores de Indução

Tanto motores de indução quanto motores síncronos podem suportar um


afundamento de tensão durante um certo tempo [7]. Logo, é desejável
temporizar a operação da proteção de subtensão para evitar desligamentos
desnecesários do motor com conseqüentes paradas de processo.
Diante da ocorrência de um afundamento de tensão, o motor de indução
pode travar, não conseguindo reacelerar após a restauração da tensão ou
somente perder velocidade reacelerando logo após o desaparecimento do
distúrbio. O comportamento do motor, diante da ocorrência de um
afundamento de tensão, depende dos fatores abordados nos itens
subseqüentes.

6.1 Características do Afundamento

A localização da falta no sistema elétrico, o tipo de falta, o tempo de atuação


da proteção de sobrecorrente e a configuração do sistema elétrico vão
determinar a intensidade e a duração do afundamento e a recuperação da
tensão após a falta.
Conforme já abordado, a condição de falta mais severa é a trifásica, a qual
poderá comprometer o funcionamento do motor.
As fontes co-geradoras, as respostas das excitações e / ou reguladores de
tensão, assim como, as características dinâmicas do comportamento da carga
também afetam tanto a intensidade do afundamento como a recuperação da
tensão. Após a eliminação da falta a tensão poderá oscilar durante um tempo
maior que a própria duração do afundamento, como pode-se observar na

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Figura 10 para uma condição de falta trifásica eliminada em 8 e 24 ciclos,


respectivamente.

Figura 10 - Comportamento da tensão durante o afundamento [7].

Pode-se observar, que quanto maior for a permanência da falta, mais severo
será o afundamento de tensão, comprometendo ainda mais o funcionamento
da carga.

6.2 Perda de Velocidade do Motor

Em regime permanente, a diminuição do torque é proporcional ao quadrado


da diminuição da tensão nos terminais do motor. Com a diminuição da tensão
o escorregamento aumenta elevando também a corrente absorvida pelo motor.
Cargas com baixa inércia irão desacelerar rapidamente com o motor
podendo ocasionar a parada do processo. Em contrapartida, uma carga de
maior inércia irá desacelerar mais lentamente, podendo manter o processo em
operação.
A perda de velocidade do conjunto rotativo deve ser limitada àquela que o
motor consegue reacelerar quando a tensão na rede é restabelecida.
Desacelerações mais acentuadas deveriam promover o desligamento do motor
como forma de prevenção.

6.3 Reaceleração do Motor

A possibilidade de reaceleração do motor vai depender de quanto ele tenha


desacelerado e do valor da tensão pós-falta. A corrente de reaceleração é
função da corrente de partida do motor e da velocidade do mesmo no momento
que a tensão é restaurada. As correntes de aceleração de todos os motores
fluindo pela rede vão gerar um retardo na recuperação da tensão do sistema.
Quanto mais forte é a rede em relação à carga, mais rápida será a recuperação

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da tensão. Dado que o tempo de reaceleração é diferente para cada motor, a


recuperação da tensão ocorrerá por estágios.

6.4 Comportamento do Transitório

Diante de uma queda abrupta da tensão ocorrem fenômenos subtransitórios


e transitórios no motor de indução cuja duração é menor que os transitórios
observados nos motores síncronos [7].
Quando da ocorrência de um curto-circuito no sistema o motor contribuirá
para a corrente de falta com um valor bastante elevado. Ao mesmo tempo o
motor, que nestes instantes atua como gerador, sofre um torque negativo de
aproximadamente 5 p.u.. Esta condição produz um desgaste no motor
equivalente a uma partida direta, ou seja, se o motor possui dispositivos de
partida indireta sofrerá maior desgaste no processo de desaceleração e
reaceleração que nas partidas programadas.

6.5 Estabilidade Durante o Afundamento de Tensão

Os estudos realizados [7] mostram que a perda de estabilidade ocorre para


afundamentos severos com duração maior que 500 ms e intensidade da ordem
de 0,10 p.u.. Para afundamentos menos severos os motores apresentam
estabilidade inclusive para eventos cuja duração supera 500 ms, como pode
ser observado na Figura 11.
Características dos motores: (1) 2000 hp / H=3,6 / Tp=150%; (2) 1000 hp /
H=3,3 / Tp=200%; (3) 2000 hp / H=7,2 / Tp=150%; (4) 1000 hp / H=6,6 /
Tp=200%. As curvas (1) e (2) referem-se a motores carregados com uma carga
de inércia segundo a norma NEMA [8]. E as curvas (3) e (4) referem-se a
motores cujas cargas possuem uma inércia duas vezes maior à indicada na
norma NEMA.

Figura 11 - Estabilidade do motor de indução frente a afundamentos de tensão.

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O gráfico da Figura 11 mostra a curva de estabilidade para 4 motores em


função da intensidade e a duração do afundamento de tensão, quando a perda
de velocidade está limitada a um escorregamento máximo de 10%. Limitando-
se o escorregamento a um valor máximo de 10%, as correntes de reaceleração
ficam limitadas a valores aceitáveis para o motor.

7 Sensibilidade de Lâmpadas de Descarga

A falha destes componentes geralmente não produz efeitos diretos na


produção. A falta de iluminação pode colocar em risco a segurança das pessoas
que trabalham no ambiente industriais. O principal risco do pessoal devido à
falta de iluminação ocorre em locais onde há grande concentração de pessoas,
como por exemplo, shopping centers, vias públicas, teatros, cinemas, etc.
No trabalho descrito em [2], foram testadas sete lâmpadas com potências
entre 70 e 250 W. O conjunto analisado inclui: lâmpadas de vapor de mercúrio,
de vapor de sódio, e vapor metálico. Todas as lâmpadas foram envelhecidas
100 hs antes do ensaio. Entre a ocorrência de um afundamento e o seguinte,
as lâmpadas foram energizadas normalmente durante alguns minutos. Como
critério de desempenho considerou-se falha da lâmpada quando esta não
reacendia imediatamente após a ocorrência do afundamento de tensão.
A Figura 12 mostra as curvas de sensibilidade das lâmpadas ensaiadas.
Pode-se observar que todas as lâmpadas falham quando são submetidas a
afundamentos de tensão de duração maior que 25 ms. A tensão mínima
tolerada foi de 0.5 p.u., embora varias lâmpadas não suportam afundamentos
de intensidade menor que 0.80 p.u.. As lâmpadas mais sensíveis são as de
vapor de sódio e de mercúrio.

Figura 12 – Curva de sensibilidade de lâmpadas [2].

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8 Considerações Finais

Os métodos convencionais utilizados para a caracterização destes


fenômenos baseiam-se na intensidade e duração do evento, utilizando tensões
fase-terra ou fase-fase. Supõe-se que esta metodologia apresenta limitações,
pois essas duas grandezas não devem refletir plenamente os efeitos dos
afundamentos de tensão sobre os equipamentos trifásicos, considerando que,
na grande maioria dos casos, estes distúrbios são de natureza desequilibrada,
tanto em módulo como em ângulo de fase. Portanto, é necessário estudar
formas alternativas para caracterizar a sensibilidade dos equipamentos de
modo a incluir nesta caracterização outros parâmetros tais como: desequilíbrio,
assimetria, salto de ângulo de fase, etc.

9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] José Maria Carvalho Filho, “Uma Contribuição á Avaliação do


Atendimento a Consumidores com Cargas Sensíveis – Proposta de Novos
Indicadores”, Tese de Doutorado, Escola Federal de Engenharia de Itajubá,
Dezembro de 2000.

[2] P. Pohjanheimo, M. Lehtonen, “Equipment Sensitivity to Voltage Sags –


Test Results for Contactors, PCs and Gas Discharge Lamps”, IEEE – PES –
10th International Conference on Harmonics and Quality of Power, Rio de
Janeiro, Brasil, Outubro 2002.

[3] M. F. McGranaghan, D. R. Mueller, M. J. Samotyj, “Voltage Sags in


industrial Systems”, IEEE Transactions on Industry Applications, Vol.29, No.2,
March/April 1993.

[4] J. Pedra, F. Córcoles, L. Sainz, “Study of AC Contactors During Voltage


Sags”, IEEE – PES – 10th International Conference on Harmonics and Quality
of Power, Rio de Janeiro, Brasil, Outubro 2002.

[5] M. H. J. Bollen, “Characterization of Voltage Sags Experienced by Three-


Phase Adjustable-Speed Drive”, IEEE Transactions on Industry Applications,
Vol.12, No.4, October 1997, pp.1667-1671.

[6] Paulo César Abreu Leão, “Desempenho de Conversores de Freqüência


VSIPWM submetidos a Afundamentos Momentâneos de Tensão”, Tese de
Doutorado, Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, Março de 2002.

[7] J. C. Das, “Effect of Momentary Voltage Dips on the Operation of Induction


and Synchronous Motors”, IEEE Transaction in Industry Applications. Vol.26,
No.4, July/August 1990.

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Grupo de Estudos em Qualidade da Energia Elétrica - GQEE
Instituto de Sistemas Elétricos e Energia - ISEE
Universidade Federal de Itajubá GQEE

[8] NEMA, “Large apparatus-induction motors”, NEMA MG-1, section III, part
20.

[9] Dissertação do Roberto.

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