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ADVOCACIA CÍVEL & TRABALHISTA

JOSÉ AUGUSTO DE OLIVEIRA AMORIM (OAB/RN 3.472)


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joseaugustoamorim@yahoo.com.br

Meritíssima Juíza de Direito da 2a. Vara da Fazenda Pública desta Comarca.

Processo nº. 001.00.016948-0


Jefferson Ferreira da Câmara, devidamente qualificado nos
termos da Ação de Manutenção de Posse em epígrafe, movida em desfavor
do Município do Natal, igualmente qualificado, vem, respeitosamente, perante
Vossa Excelência, por intermédio de seu advogado, interpor a presente
APELAÇÃO CÍVEL, com fulcro nos artigos 514 e seguintes, do CPC, e de
acordo com as razões lançadas em apenso, porquanto pugnando pelo
regular processamento do presente recurso, com a remessa dos autos ao
Egrégio TJRN (dispensado o preparo recursal nos moldes deferidos às fl.
155), para a apreciação que entender pertinente.
Termos em que
Requer deferimento.
Natal, 4 de novembro de 2008.

José Augusto de Oliveira Amorim


OAB/RN 3.472

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Excelentíssimo Desembargador Presidente do Egrégio Tribunal de Justiça.

Apelação Cível
Processo 001.00.016948-0/2ª. VFP/Natal
Apelante: Jefferson Ferreira da Câmara
Apelado: Município do Natal

RAZÕES DO APELO

“A interpretação das leis não deve ser formal,


mas, antes de tudo, real, humana, socialmente
útil, pois se o juiz não pode tomar liberdades
inadmissíveis com a lei, julgando 'contra legem',
pode e deve, por outro lado, optar pela
interpretação que mais atenda às aspirações da
Justiça e do bem comum” (STJ, Min. Sálvio de
Figueiredo Teixeira)
“Não se pode, salvo em caso de fato
consumado e irreversível, compelir o Estado a
efetivar a desapropriação, se ele não a quer,
pois se trata de ato informado pelos princípios
da conveniência e da oportunidade” (STJ, Min.
Teori Albino Zavascki)

Augusta Câmara,
Em que pese o notório brilhantismo que caracteriza os
julgados oriundos da 2ª. Vara da Fazenda Pública da comarca desta
Capital, impende serem reformada as r. sentenças de fl. 150/155 e 157/159,
que deixaram de levar em conta a teoria do fato consumado, afrontando
iterativa jurisprudência do Colendo STJ, como ver-se-á adiante.
1. Com efeito, infere-se que antes de ser sentenciado em
10.09.2008 (fl. 155), o feito se encontrava concluso desde 30.12.2002 (fl.
149v), razão pela qual não poderia o douto juízo a quo ter decidido a liça
sem ou empreender ao menos a realização de uma inspeção judicial no
local sub judice, ou, independentemente daquela, tomar em consideração
a ocorrência do fato consolidado.
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2. No entanto, mesmo sem a primeira das medidas acima
apontadas, se o douto juízo a quo tivesse promovido o exame das provas
documentais constantes destes autos, notadamente as fotografias de fl.
33/35, 77/79 e 137/138 (sendo estas duas últimas de juntada da parte do
ente público apelado).
3. Ora, tais fotografias propiciam a ilação de que, à data
em que o feito foi feito concluso para julgamento (30.12.2002), as obras de
construção da lagoa de captação da Cidade da Esperança já estavam
devida e inteiramente concluídas, sem que a cigarreira do apelante tivesse
se constituísse em obstáculo.
4. Ao contrário, sua remoção, agora, determinada pelo r.
decisum recorrido, após decorrido quase uma década, implicará em
despesas de monta para a edilidade recorrida, razão pela qual impunha-se
a incidência do princípio de supradireito que determina a aplicação da
norma aos fins sociais a que se destina, inscrito no artigo 5º. da LICC:
“A interpretação das leis não deve ser formal, mas, antes de tudo, real,
humana, socialmente útil. (...) Se o juiz não pode tomar liberdades
inadmissíveis com a lei, julgando 'contra legem', pode e deve, por outro
lado, optar pela interpretação que mais atenda às aspirações da Justiça
e do bem comum.” (STJ, Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, RSTJ 26:378)
5. Assim, a despeito da suposta precariedade do título de
posse que embasaria a pretensão do apelante, impunha-se ao douto juízo
a quo verificar a incidência da teoria do fato consumado sobre a espécie,
ou analisando detidamente as fotografias de fl. 33/35, 77/79 e 137/138, ou
promovendo inspeção ou perícia técnica para a própria atualização do
estado de fato da lide:
“Administrativo. Ação demolitória intentada, tendo em vista a edificação
de obra irregular. Ação julgada procedente, com cominação de pena
pecuniária caso não cumprido o julgado. Sentença confirmada pela corte
de origem. Pretendido pagamento das astreintes. emissão posterior de
alvará a considera como regular a obra realizada. Incidência do ius
superveniens. Recurso especial. Não se pode desprezar que a
ocorrência do fato superveniente - consubstanciado no reconhecimento
de que a edificação está adequada ao Plano Diretor -, se existente ao
tempo do ajuizamento da ação, não haveria imposição de qualquer meio
coercitivo para que o devedor cumprisse a obrigação. Dessa forma, não
subsiste a incidência das astreintes. Aplicação da teoria do fato
consumado. Recurso Especial não conhecido.” (STJ, RESP 445905–DF, 2ª.
T., Rel. Min. Franciulli Netto, DJU 08.09.2003, p. 00286)
“Administrativo. Criação de área de proteção ambiental (Decreto
Estadual 37.536/93). Desapropriação indireta. Pressupostos:
apossamento, afetação à utilização pública, irreversibilidade. Não-
caracterização. 1.A chamada ‘desapropriação indireta’ é construção
pretoriana criada para dirimir conflitos concretos entre o direito de
propriedade e o princípio da função social das propriedades, nas
hipóteses em que a Administração ocupa propriedade privada, sem
observância de prévio processo de desapropriação, para implantar obra
ou serviço público. 2.Para que se tenha por caracterizada situação que
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imponha ao particular a substituição da prestação específica (restituir a
coisa vindicada) por prestação alternativa (indenizá-la em dinheiro), com
a conseqüente transferência compulsória do domínio ao Estado, é
preciso que se verifiquem, cumulativamente, as seguintes
circunstâncias: (a) o apossamento do bem pelo Estado, sem prévia
observância do devido processo de desapropriação; (b) a afetação do
bem, isto é, sua destinação à utilização pública; e (c) a impossibilidade
material da outorga da tutela específica ao proprietário, isto é, a
irreversibilidade da situação fática resultante do indevido apossamento e
da afetação. 3.No caso concreto, não está satisfeito qualquer dos
requisitos acima aludidos, porque (a) a mera edição do Decreto
37.536/93 não configura tomada de posse, a qual pressupõe
necessariamente a prática de atos materiais; (b) a plena reversibilidade
da situação fática permite aos autores a utilização, se for o caso, dos
interditos possessórios, com indubitável possibilidade de obtenção da
tutela específica. 4.Não se pode, salvo em caso de fato consumado e
irreversível, compelir o Estado a efetivar a desapropriação, se ele não a
quer, pois se trata de ato informado pelos princípios da conveniência e
da oportunidade. 5.Recurso Especial a que se nega provimento.” (STJ,
RESP 200400047027, Reg. 628588-SP, 1ª. T., Rel. Min. Teori Albino Zavascki, DJU
01.08.2005, p. 00327)

6. Dessarte, a reforma da r. sentença é medida que se


impõe em face do decurso do tempo, que proporcionou à edilidade findar
sua obra sem a necessidade de remoção da cigarreira do apelante.
Nestas condições, requer-se de Vossas Excelências sejam
as presentes razões conhecidas para o fim de dar provimento ao apelo ora
interposto e reformar integralmente as r. decisões recorridas, reconhecendo
a incidência não apenas dos fins sociais da lei, mas, principalmente, da
teoria do fato consumado, com a inversão e o agravamento dos encargos
da sucumbência em favor do recorrente.
Termos em que
Requer deferimento.
Natal, 4 de novembro de 2008.

José Augusto de Oliveira Amorim


OAB/RN 3.472

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