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ADVOCACIA CÍVEL & TRABALHISTA

JOSÉ AUGUSTO DE OLIVEIRA AMORIM (OAB/RN 3.472)


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Meritíssimo Juiz de Direito da 4ª. Vara da Fazenda Pública desta Comarca.

Processo no. 001.05.030699-6


Maria Leni Carneiro de Sousa e outros, devidamente
qualificados nos autos da Ação Ordinária em epígrafe, movida em
desfavor do Estado do Rio Grande do Norte, igualmente qualificado, vem,
respeitosamente, perante Vossa Excelência, através de seu
advogado, promover a IMPUGNAÇÃO dos termos argüidos na
contestação de fl. 58/64, fazendo-o de acordo com as razões jurídicas
a seguir aduzidas, porquanto requerendo ao final.

Termos em que
Requerem deferimento.
Natal, 4 de dezembro de 2009.

José Augusto de Oliveira Amorim


OAB/RN 3.472

1
Excelentíssimo Senhor Desembargador Presidente do Egrégio do TJRN.

Apelação cível
Processo 001.05.030699-6/4ª. Vara da Fazenda Pública/Natal
Apelantes: Maria Leni Carneiro de Sousa e outros
Apelado: Estado do Rio Grande do Norte

RAZÕES DOS APELANTES

“A Polícia é uma instituição de direito público


destinada a manter a paz pública e a segurança
individual, sendo (...) judiciária: função auxiliar a
justiça (daí a designação); atua quando os atos
que a polícia administrativa pretendia impedir
não foram evitados. Possui a finalidade de
apurar as infrações penais e suas respectivas
autorias, a fim de fornecer ao titular da ação
penal elementos para propô-la. Cabe a ela a
consecução do primeiro momento da atividade
repressiva do Estado. Atribuída no âmbito
estadual às polícias civis, dirigidas por
delegados de polícia de carreira, sem prejuízo
de outras autoridades” (Fernando Capez)
“O princípio da irredutibilidade de vencimentos
deve ser observado mesmo em face do
entendimento de que não há direito adquirido a
regime jurídico” (STF, Min. Eros Grau)

Eminentes julgadores,
Com a devida e máxima vênia, mas merece reforma
a r. decisão de fl. 77/80, que julgou improcedente o pleito autoral de
restabelecimento do pagamento da gratificação de representação
pelo exercício de função de polícia judiciária ou jurídica, atribuída
originariamente aos apelantes por meio da Lei Estadual nº. 6.051/90, e
suprimida (sob a alegação de incorporação aos vencimentos) mediante
a Lei Estadual nº. 8.012/2001, referendando a quebra do princípio
constitucional da isonomia cometida pelo Estado apelado, além de
manifestamente contrária aos artigos 144, § 4º., da CF, e 4º., do CPP.

1. Com efeito, é de cristalina sabença que não constitui


monopólio dos delegados de polícia – que apenas a dirigem – o
2
exercício da função de polícia judiciária, porquanto a mesma é
exercida igualmente pelos agentes, investigadores e escreventes de
polícia civil, como se infere do escólio do eminente penalista Fernando
Capez:
“Conforme Julio Fabbrini Mirabete (Código de Processo Penal
Interpretado, 2ª. ed., Atlas, 1994, p. 35), ‘a Polícia é uma instituição de
direito público destinada a manter a paz pública e a segurança
individual’, sendo (...) judiciária: função auxiliar a justiça (daí a
designação); atua quando os atos que a polícia administrativa pretendia
impedir não foram evitados. Possui a finalidade de apurar as infrações
penais e suas respectivas autorias, a fim de fornecer ao titular da ação
penal elementos para propô-la. Cabe a ela a consecução do primeiro
momento da atividade repressiva do Estado. Atribuída no âmbito
estadual às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira,
sem prejuízo de outras autoridades (CF, art. 144, § 4º.).” 1

2. Também no mesmo sentido é o posicionamento do


insigne publicista Eumir Duclerc:
“Não há, todavia, um dispositivo legal que defina o instituto, razão pela
qual a melhor doutrina costuma partir, na verdade, da combinação
entre os artigos 4º. e 6º. do CPP, resultando daí que o inquérito policial
seria: a atividade desenvolvida pela polícia judiciária com a finalidade
de averiguar o delito e sua autoria. É preciso esclarecer, todavia, o que
se pode entender por polícia judiciária. Inicialmente, observe-se que o
legislador do CPP de forma alguma pretendia – e não poderia mesmo –
atribuir natureza jurisdicional ou judicial à atividade policial. (...) O
termo polícia judiciária, portanto, é utilizado para designar a atividade
mesma, e o conjunto de órgãos do Poder Executivo encarregado
exatamente de reprimir o fato já acontecido, reunindo elementos que
permitam ao Poder Judiciário, no momento oportuno, manifestar-se
definitivamente sobre o conflito, aplicando-lhe a solução devida à luz
das normas de direito penal material.”2

3. No plano constitucional, emergem violados preceitos


que vedam expressamente qualquer espécie de discriminação, seja
ela fator de distinção perante a lei ou constitua critério de limitação
para pagamento de vantagens salariais, conforme asseverado nos
artigos 3º., IV, 5º., caput, e 7º., XXX, da Magna Carta, sendo lição
comezinha do direito pátrio que a quebra da igualdade deve ser
combatida pelo Poder Judiciário, a teor da doutrina do preclaro José
Afonso da Silva:
“O ato discriminatório é inconstitucional. Há duas formas de cometer
essa inconstitucionalidade. Uma consiste em outorgar benefício
legítimo a pessoas ou grupos, discriminando-os favoravelmente em
detrimento de outras pessoas ou grupos em igual situação. Neste caso,
não se estendeu às pessoas ou grupos discriminados o mesmo
tratamento dados aos outros. O ato é inconstitucional, sem dúvida,

1 Curso de Processo Penal, 13ª. ed., Saraiva, São Paulo, 2006, p. 72/73.
2 Curso Básico de Direito Processual Penal, vol. I, Lúmen Júris, Rio de Janeiro, 2005, p. 105/106.
3
porque feriu o princípio da isonomia. Contudo, o ato é constitucional, é
legítimo, ao outorgar o benefício a quem o fez. Declará-lo
inconstitucional, eliminando-o da ordem jurídica, seria retirar direitos
legitimamente conferidos, o que não é função dos tribunais. Como,
então, resolver a inconstitucionalidade da discriminação? Precisamente
estendendo o benefício aos discriminados que o solicitarem perante o
Poder Judiciário, caso por caso.” 3

4. Em sede jurisprudencial, não é outro o entendimento


dos Egrégios Pretórios pátrios:
“Apelação cível. Constitucional e administrativo. Ação ordinária.
Vencimento básico. Exercício das mesmas atribuições. Artigo 39, § 1º da
Constituição Federal. Apelo conhecido e improvido. Decisão unânime. 1-
São devidos aos requerentes, antigos ocupantes dos cargos de
investigador de polícia e de agente de polícia, o vencimento básico dos
atuais agentes de polícia judiciária de 1ª. classe, haja vista que os
primeiros foram reenquadrados neste cargo exercendo as mesmas
atribuições. (art. 39, § 1º da CF e artigo 70 da Lei Estadual nº. 4.133/99).
2-Sentença mantida, por unanimidade.” 4
“Apelação cível. Mandado de segurança. Concurso público para
ingresso na carreira de policial civil de Mato Grosso do Sul. Art. 13, VI,
da Lei nº. 38/89. Exigência de altura mínima de um metro e sessenta
centímetros. Ilegalidade. Impetrante que, por força de liminar, já ocupa o
cargo de policial civil há mais de dois anos. Situação jurídica
consolidada. Teoria do fato consumado. Ordem denegada. Recurso
provido. Se à polícia civil, de acordo com o art. 144, § 4º, da Constituição
Federal, incumbe as funções de polícia judiciária e a apuração de
infrações penais, exceto as militares, ficando a cargo da polícia militar
realizar o policiamento ostensivo e a repressão ao crime, afigura-se
ilegal a exigência prevista no art. 13, VI, da Lei Complementar estadual
nº. 038/89, que prevê, como requisito para o ingresso na carreira da
polícia civil do estado, altura mínima de 1, 60 m (um metro e sessenta
centímetros), pois caracteriza um discrimen desproporcional às
atribuições exigidas para a função, sobretudo diante da situação jurídica
consolidada da impetrante, que já se encontra no cargo de policial civil
há mais de dois anos, demonstrando que tem plenas condições de
exercer, com zelo e competência, a função para a qual foi aprovada por
concurso público de provas e títulos.” 5

5. Assim posta a quæstio, depreende-se que o Estado


apelado promoveu, ab initio, ato normativo eivado de discrimen ilegal
e inconstitucional, ao suprimir aos apelantes e destinar tão somente
aos delegados de polícia a referida gratificação, os quais, com dito
acima, constituem tão somente os dirigentes de tal órgão policial e
não os exercentes exclusivos da função, que é desempenhada pelos

3 Curso de Direito Constitucional Positivo, 7ª. ed., RT, São Paulo, 1991, p. 202/203.
4 TJSE, AC 1494/2003 (Proc. 6045/2003), ac. 20041091, 2ª C.Cív., Rel. Des. José Alves Neto, J. 13.04.2004, apud
Júris Síntese, vrs. 164-48, Porto Alegre, jul-ago/2004, em. 15007808.
5 TJMS, AC 2002.007457-8/0000-00/Campo Grande, 1ª. T. Cív., Rel. Des. Hildebrando Coelho Neto, J. 28.10.2003,

apud Júris Síntese, idem, em. 2025013.


4
demais ocupantes das carreiras policiais (agentes, investigadores e
escreventes), razão porque não é o caso de aplicação do preceito
jurisprudencial fixado pelo Excelso STF, às fl. 80, vez que não se trata
de direito adquirido a tal ou qual regime jurídico, mas de violação da
igualdade de atribuições funcionais:
“Agravo regimental no recurso extraordinário. Irredutibilidade de
vencimentos. O princípio da irredutibilidade de vencimentos deve ser
observado mesmo em face do entendimento de que não há direito
adquirido a regime jurídico. Precedentes.” 6
“Administrativo. Quintos. Incorporação. Medidas provisórias não
convertidas em Lei no trintídio. Perda de sua eficácia. Art. 3º da MP 1.160
que transforma quintos em décimos não foi convalidado pela Lei nº
9.527/97. Jurisprudência do STF. Ofensa a direito adquirido de
funcionários que já tenham incorporado tal benefício. (...) Ainda que haja
entendimento corporificado pela Suprema Corte do país, in verbis,
‘inexistência de direito adquirido a Regime Jurídico de servidor público
cuja modificação decorrer de texto constitucional.’ (in RTJ 94/1238), a ele
não se pode atribuir força capaz de revogar princípio constitucional, no
caso o de tornar letra morta o respeito ao direito adquirido no tocante aos
servidores públicos que já tiveram incorporado o benefício que já tenha
ocorrido sob o manto legal.”7

6. Demais disto, a despeito de os apelantes fazerem jus


à incorporação da vantagem a seus respectivos patrimônios salariais
(mesmo que observada a proporcionalidade prevista na Lei Estadual
Complementar nº. 162/99), cumpria ao douto juízo a quo sopesar se o
Estado apelado comprovou insofismavelmente a alegação de que
não teriam os apelantes sofrido qualquer redução vencimental com a
supressão da vantagem sub examine, notadamente em face da
disposição ínsita ao artigo 337 do CPC, circunstância de que não
cuidou a r. sentença recorrida.
Nestas condições, requer-se de Vossas Excelências o
conhecimento e o provimento do presente apelo para reformar a r.
decisão a quo e deferir aos apelantes os títulos deduzidos na exordial,
bem como condenar o Estado apelado nos encargos sucumbenciais
que deverão ser fixados no patamar máximo previsto no artigo 20 do
CPC.

Termos em que
Requerem deferimento.
Natal, 4 de dezembro de 2009.

José Augusto de Oliveira Amorim


OAB/RN 3.472

6 STF, AgRg-RE 227.470-1, Rel. Min. Eros Grau, DJe 19.12.2008, p. 181.
7 TRF 5ª. R., REO 0567963–AL, Reg. 9905366792, 2ª. T., Rel. Des. Fed. Petrúcio Ferreira, DJU 17.11.2000, p. 466.
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