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Direito Constitucional é o ramo do Direito Público interno que reúne as normas jurídicas
relativas à forma do Estado, à constituição do governo e dos poderes públicos e a participação
dos cidadãos no exercício desses poderes. O Direito Constitucional reúne as normas legais
relativas às instituições, o sistema de normas e as relações entre as normas e os direitos
fundamentais.
Não obstante as definições acima oferecidas, o certo é que são diversas e díspares as
concepções apresentadas pelos autores sobre o que seja exactamente o Direito Constitucional.
Para Esmein, ter-se-ia “a parte fundamental do Direito Público que tem por objecto
determinar a forma do Estado, a forma e os órgãos do Governo e os limites dos direitos do
Estado”.
Para Pontes de Miranda, Direito Constitucional é a parte do Direito Público que “fixa os
fundamentos estruturais do Estado”.
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O Facto político e o Direito
É comum dizer-se que a vida em sociedade é o modo natural em que ocorre a existência
da espécie humana. Os indivíduos mantêm, desde o crescimento até a morte, mútuas relações de
colaboração e de dependência. A divisão do trabalho conduziu a que cada um de nós pudesse
beneficiar a cada momento do esforço de muitos milhões dos nossos semelhantes. Cada um de
nós é, logo ao nascer, herdeiro de uma civilização e de uma cultura que nos foram legadas por
gerações anteriores, proporcionando-nos a utilização de bens, instrumentos e noções de adopção
de um sistema de princípios, convenções e normas já antes experimentados e que norteiam a
nossa conduta. Há vários modos de convivência social, ou seja, os vínculos sociais a que estamos
sujeitos podem assumir várias formas.
Facto político = facto social porque o Homem vive em sociedade, ele não existe
isoladamente e a existência do Homem em sociedade é um facto. Daí a importância do Direito
para vir regular a conduta desse mesmo Homem na sociedade.
O facto político em si não existe, pois temos que perceber que não existe um facto
político que não seja ao mesmo tempo um facto social e que não existe fenómeno social que não
esteja susceptível de ter um carácter político.
O Estado e o Direito
O Estado é uma organização destinada a manter, pela aplicação do Direito, as condições
universais de ordem social. O Direito é o conjunto das condições existenciais da sociedade, que
ao Estado cumpre assegurar.
Para o estudo do fenómeno estatal, tanto quanto para a iniciação na ciência jurídica, o
primeiro problema a ser enfrentado é o das relações entre Estado e Direito. Ambos representam
uma realidade única – São duas realidades distintas e independentes – No programa da ciência
do Estado, este problema não pode passar sem um esclarecimento preliminar, e sendo tão
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importante quanto complexo, faremos um breve resumo das correntes que disputam entre si a
primazia do campo doutrinário.
Teoria Monística
Para os monistas só existe o direito estatal, pois não admitem a ideia de qualquer regra
jurídica fora do Estado. O Estado é a única fonte do Direito, porque quem dá vida ao Direito é o
Estado através da “força coativa” de que só ele dispõe. Regra jurídica sem coação, disse Jhering,
é uma contradição em si, um fogo que não queima, uma luz que não ilumina. Logo, como só
existe o Direito emanado do Estado, ambos se confundem em uma só realidade.
Foram precursores do monismo jurídico Hegel, Hobbes e Jean Bodin. Desenvolvida por
Rudolf Von Jhering e John Austin, alcançou esta teoria a sua máxima expressão com a escola
técnico-jurídica liderada por Jellinek e com a escola vienense de Hans Kelsen.
Teoria Dualística
Também chamada pluralística, que sustenta serem o Estado e o Direito duas realidades
distintas, independentes e inconfundíveis.
Para os dualistas o Estado não é a única fonte do Direito nem com este se confunde. O
que provém do Estado é apenas uma categoria especial do Direito: o direito positivo. Mas
existem também os princípios de direito natural, as normas de direito costumeiro e as regras que
se firmam na consciência colectiva, que tendem a adquirir positividade e que, nos casos omissos,
o Estado deve acolher para lhes dar juridicidade. Além do Direito não-escrito existem o direito
canónico que independe da força coactiva do poder civil, e o direito das associações menores que
o Estado reconhece e ampara.
Afirma esta corrente que o Direito é criação social, não estatal. Ele traduz, no seu
desenvolvimento, as mutações que se operam na vida de cada povo, sob a influência das causas
éticas, psíquicas, biológicas, científicas, económicas, etc. O Direito, assim, é um facto social em
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contínua transformação. A função do Estado é de positivar o Direito, isto é, traduzir em normas
escritas os princípios que se firmam na consciência social.
Teoria do Paralelismo
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Passaremos agora em revista o quadro geral de divisão do Direito, frisando a posição da
Teoria Geral do Estado, já que são duas realidades distintas e interdependentes.
O Direito público é o que regula as coisas do Estado, e o Direito privado é o que diz
respeito aos interesses dos particulares. Nestes termos, é sujeito de Direito público o Estado e do
Direito privado, a pessoa (física e jurídica).
Alguns acreditam que o Estado seja a fonte exclusiva do Direito, no entanto, o Estado
não cria o Direito, apenas verifica os princípios que os usos e costumes consagram, para traduzi-
los em normas escritas e dar-lhes eficácia mediante sanção coercitiva.
Entretanto, o Estado não é o único meio exclusivo de revelação das normas jurídicas,
existem outros centros de determinação jurídica relativamente autónomos: as igrejas, as
autarquias, os clubes e associações, revestidos de capacidade de autodeterminação, os quais
actuam como fontes geradoras das normas jurídicas.
Hoje em dia, o Direito em geral se sociabilizou, dando nova forma de equação aos termos
liberdade e autoridade, com o fim de restabelecer o equilíbrio social prejudicado pelo fracasso do
individualismo.
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O Direito Constitucional e a sua posição na Ordem Jurídica do Estado
O Direito Constitucional ocupa uma posição privilegiada na Ordem Jurídica do Estado, pois ele
estuda a base de um Estado, que é a Constituição, ou seja o Direito Constitucional está no topo
da pirâmide dos ramos do Direito por estudar a Lei suprema de um Estado.
Conceito
A Constituição é a lei fundamental e suprema de um Estado, contendo normas e
princípios relativos à estruturação do Estado, à forma de Estado, à forma e ao sistema do
Governo, ao modo de aquisição e exercício do poder, aos direitos e garantias fundamentais da
pessoa humana e aos direitos económicos e sociais. Em decorrência do princípio da supremacia
da Constituição, toda e qualquer norma do ordenamento jurídico deve, obrigatoriamente, ser
compatível com o seu conteúdo.
Classificação
Quanto ao conteúdo:
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Quanto à forma:
Quanto à origem:
Quanto à estabilidade:
➢ Rígidas: aquelas que só podem ser alteradas por um processo legislativo mais solene
e complexo que o previsto para a edição das demais espécies normativas. A própria
Constituição estabelece estas regras diferenciadas, as quais tornam mais difícil a
alteração do texto constitucional.
➢ Flexíveis: em regra são Constituições não escritas que podem ser alteradas pelo
processo legislativo ordinário, ou seja, como qualquer outra norma. Assim, uma lei
ordinária contrária à constituição a revoga.
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➢ Semi-rígidas: algumas regras são alteráveis pelo processo legislativo ordinário e
outras apenas pelo mais solene e dificultoso.
Quanto à extensão:
José Joaquim Gomes Canotilho, assinala que da mesma maneira que se fala em
“multiusos” do conceito de Constituição, é possível falar em “multifunções”.
Manoel Gonçalves Ferreira Filho indica dez funções: a função de garantia, a função
organizativa ou estruturante, a função limitativa, a função procedimental, a função
instrumental, a função conformadora da ordem sociopolítica, a função legitimadora (às
vezes legitimante), a função legalizadora, a função simbólica e a função prospectiva.
Poderiam agregar-se ao (ou desmembrar do) extenso rol outras funções, como a função
social ou prestacional mínima, a função de escolha económica, a função pacificadora ou de
calibração das forças políticas, de judicialização do respeito aos direitos fundamentais e outras
que se poderiam indicar para cada Constituição em particular. Nessa trilha, a ideia de funções da
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Constituição acaba por se aproximar do conceito (subjectivo) de constituição em sentido
material.
O poder constituinte
Georges Burdeau aponta três caracteres essenciais: ser um poder inicial, porque nenhum
outro pode existir acima dele; ser autónomo, porque somente a seu titular cabe decidir qual a
ideia de Direito que se fará presente, e, finalmente, ser incondicionado, por não se subordinar a
qualquer regra. Vale lembrar que o autor reconhece a qualidade de um ser jurídico a essa força.
Já Genaro Carrió vai alinhavar uma série de expressões ou feições em geral dirigidas ao
poder constituinte por quem o descreve. Reproduz-se, doravante, o panorama jurídico esboçado
por Carrió, que compreende o poder constituinte como: 1) inicial, autónomo e incondicionado; 2)
por natureza insubordinado (Burdeau); 3) unitário, indivisível e absolutamente livre (Schmitt); 4)
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aquele que, sendo de forma vaga e imprecisa, forma todas as formas (Schmitt); 5) a autoridade
suprema, livre de toda formalidade, que se funda sobre si mesma e em si mesma (Xifras Heras);
6) permanente e inalienável (Xifras Heras); 7) tendo sua força vital e sua energia inesgotáveis
(Schmitt); 8) uma faculdade ilimitada e incontrolável (Imaz).
O titular do poder constituinte é o povo, isto quer dizer que é o povo que redige a
Constituição por meio dos representantes que foram eleitos por ele, os representantes do poder
constituinte.
Poder constituinte originário- É aquele que cria uma Constituição, ou seja, quando uma
Constituição é redigida pela primeira vez.
Resumindo, poder constituinte derivado é aquele que modifica, adiciona e/ou revoga
algo à Constituição.
Estes dois poderes constituintes têm a mesma natureza, são soberanos. Eles têm a
liberdade de revogar, alterar ou completar disposições de valor constitucional na forma que
considerarem apropriada. A finalidade (o objectivo) dos dois poderes é de elaborar normas de
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valor constitucional. No entanto, os dois poderes são diferentes; o poder constituinte derivado
tem limitações ao passo que o originário não.
O poder constituinte derivado pode ser limitado quanto ao tempo e quanto ao seu objecto;
certas Constituições proíbem uma revisão das mesmas antes de um certo tempo depois de estas
terem entrado em vigor (artigo 301 da CRM), outras proíbem revisões quando o poder está
ameaçado (artigo 302 da CRM).
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