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UNIVERSIOADE DE BRASILIA Institute de Ciéncies Humanes ta de Antropologis 70.910 - Breaiiie - DF Fones: 273-3264 (direto) 274-0022 - remal 2368 Departai SERIE ANTROPOLOGIA Ne 73 A VIDA PRIVADA DE TEMANIA E SEUS FILHOS: Freguentos de um Discurso Politico Para Compreender o Brasil Rito Leuro Segato A VIDA PRIVADA DE TEMANIA E SEUS FILHOSt FRAGMENTOS DE UM DISGURSO POLETICO PARA COMPREENDER 0. BRASIL ENTRADUGAG © presente trebelho pretende iluminar a contedde pois tico do repertério mitolégico préprio da tradigao afro-brasilei ) re de Recife’), Analisare’ ease repartério onquanta une série de feales que séo tani politicas. Em primeira luger, trete-se de falas porque, como tentarei mostrar na segunda parte de arti 90, 0 elemento de crenga se confunde, eos olhos dos membros do cults, com a sus capscidade de dizer, com sua eficdcia ostensi- va de uma série de proposigées elementeres sobre o mundo que a comunidade do culto habite. Assim, estes mitos sio falas porque constituem em objetos de crencs na mesma medida em que se conatituem em meioe expreesivos pare faler da verdade. Neste ti po de mitologis, © verdade divins se realiza sé na medida em que els 6 verdads sobre o mundo. Argumenterei que fé @ conheci- manta se confundem, tautologicenente Em segundo luger, 0 conteddo dastes mitos 6, entre ou~ tros possiveis, também politico, porque, a0 descrever um conjun- ta de relacdes entre divindades enquanto membros de ums familie oe materieie que aqui spresento cio resuilteds de tide perfados de tre balho de campo por um total de 18 meses entre 1976 @ 1980, 9 qual tem- bém deu origem a minha tese de doutarado (Segato 1984). A pesquisa teve luger nos suburbias pobres da cidade do Recife, junto d4quelas cases de culto Xanga que se caracterizam pela intengao de fidelidade e herangs africena @ perticulernente 8 tradige Nego. Agradaga a José Jorge de Garvelha @ Alcide Rite Ramos seus cosentérios durante o provseea de es erita. ne 02, mitice, faz eecolhas, prevé destinos © arriscs apostes, a0 mes- mo tempo que toma posigda sobre o papel de cada uma das entida- dee no seio destas relagdes familiares. Por trés destas opsdes ha manifesta uma hiererquis valorativa, uma escolha de estraté gias © um posicionamenta face @ aspectos da vida sociel como: a- caseo ao poder © eo prestigio, acesea & riqueze, valor relative do trabalho @ do senso de justiga, papel des instituigdes e nar- mas, etc. Portento, seré possivel afirmar: 1) que crenge 2 conhecimenta aa aepactos ind: veie do mita na Xangé de Recife. 2) que s vigéncia de mito radica ns sue capacidade cong. tentemente stuslizeds de fozer ostensivas certes afirmagses s0- bre o mundo, @ 3) que 6 possivel identificar o sspecta politico de um conjunta de relacdes que se spresentam am principio como perten- centes 3 orden privads, particulermente a pertir dss opinides que 880 dedes sobre o desempenho dos personagens nos saus papéis familiares. Asein, os temas do poder, de justice, do legitimida- de, do mérite © da riquaze, que identificomos como essencialmen- te politicos, constituem também 5 matéris prima de que esté com- posto o discurao sabre @ vida orivada. Entre 98 membras das casas de cults Xangé do Recife que pertencem 4 tradicgéo Negd, circule um repertério de.wstéries ni- tices, Estas estdries, chamadas geralmente de "passagens da vide dos santos", nercam episédios protegonizedos pelos orixés africe- 03. nes de orige iorubé cultuados locolmente, descrevends suas per- sonalidades ¢ 3° caréter das relag3es que mant3m entre si. 0 ingresso a0 cults de cada nove membro nda 23 inplics qua ests pesss s formar parte de uma "familie c= santo" (tal ca- mc daserita para s Bahie.perticularmate por Silverstein 1979, # ver também Segato 1984 2 1985), mas também que 9 nova "Filho d= santa" teré que subordinsr-se a uma orix4 desde aagore investide como o-seu "done do sri", "dona da cabega" ou "guie", = 8 ua se- gund arixé, patrana secundéris su ‘“ajunté". Estes ssatos stuan de feta cona descritor2s da parsanalidede do filha ¢ se conside ra que existe uma equivalSnciea ou similitude entre 98 fragos de camportamants da orixé dana do ori 2 aquele, enquents 9 ajuntd a completar 9 quadr> de sua identideds pessoal. fF par’ isso ' que se torna fundementel cantar com estérias miticas que carect2 rizem 9 comportamento dos orixés por meio do releto dos econteci. mentas por eles vividas, 0 perfil veiculsds par estes mitos é complementado por outras recursos expreseivos tais como 9 repar~ téria ospecifice de taadae ritusis e de toques de tambor associa dos 2 ceda um dos santos, 9 canjunta de gestos corsogréficas que manifastam sua presenga etesvés da possessao, uma ceracterizagso fisics ou visualizag3o feite por meio da dsscrigés ds viedes 5 aparigses doe mgemos 2m sonhas, as cores dos santas, ¢ 95 sabs~ ros por ales preferidos pars suas "comidas* 2u oferandas ritu- ais. Nia s3z tadas as orixés canhacidas a5 Brasil que, 72 tredigo ortodoxe do lisgd de Recife, setabelecem com seue filhas tote tips de ralegio de petrocinis 2 identidads. 9 quedrs seauin en de idade 2 a8 classi te anumers estas dltinis por or: an mesculinos.e famininos. +04, “gente sonen" Deixels (0 pai,tembém chansdo| Lemania (= mae) Oxalé au Obstela) Ians@ (a mulher dz Xang3, Qgum (3 primogénits) tembdm chamada de 014) Kana§ (2 filhs meis nava) Qxun-(2 filha neis nove) Alm dos mencionadas que, cama j§ disse, tém 9 denaminador co- mum de aceitar 9 papel de danos da ori, hé tembéw, 19 pantedo recifenss, outros santos que, embora canhecidos, nao tém, por forge do hébite, filnos dedicadas a eles nas casas mais tradici. anais. Alguns destes tiveram mais vitelidade no pessade @ hoje, como muito, desempenham o papel de comporta ~ mento de Exi 3, uc mais das vezes, traicosiro = gratescs, s2 considera que seria sxtromamente prejudiciel para una pessoa té-1a camo dana do ori. Por sutra lado, no plano sabrenatural, cada um dos orixie ten vé~ rise Exide pera szrvir-lhe 2, no plana hunans, cads pessae pods atusr cou ma um Ex dads 2 situacdo, No caso de Orumili, 2sts $ situeds num nivel msis alto que os outros orixés, por cima da qualquer reoressntegs2 sntra pomdcfice, numa dinsnsda setrituments espirituel. Nani é, na Recif2, a- lam de v3 das auteas orixds, 3 morte mesna, @ a2 deacer num filha, este morreria. Par Gltins, Ibeje ¢ un par d2 gmass mais camuments dsnamine- doe Cosme e Demiga, criangas ainda. +05. £ 86 acerce daqueles que tém filbas de.sente que se tem descrigées mais precises nos mitos, e ¢ precisamente am tor no da figure deles que o presente trabalho de interpretacdo vai ser desenvolvido. Cebe aclarar qu os membros de panteso esto ligadas por tracos de parentesco e que, portanto, sao tides co~ mo ume familie, embora bastante idiossincrética.A pertir disto, Q8 mitos apontam @ dois aspectos na sus ceracterizagée: par um lado, descrevem a relegdo formal de parentesco que os une entre sie, por outro, @ maneira peculiar com que cada um deles deoem Penha o papel que lhe corresponds em fungéo de sus posicgéo na familie, Assim fezendo, a9 passagens da vide dos santos do ori entagdo para o compartamento ritual, pare a comportamento pes- s0al, ¢ finalmente, pare a compartamento social ¢ politico. £ deste ditimo sepecto que o presente trabalho viré e acupar-se, Nele, tenterei mootrer como na figura dos santos se exibe um conjunta de idéies e valores fundamanteis que conformem s cons- ciéncie compartilheds da comunidade do culto Naga. Minha anélise se centraré nas relegdes dos orixés an- © nes caracteristicas atribufdas a sles (parte 2), assia como também na maneirs em que se relacionem com eles of seguida res do culto (parte 3), visando extrair de leiture interpretati, va do mito uma vis30 de mentalidade sustentada pelo Xanga tredi ional, Apeser do j dito, @ 3 mansire de ponto da partide pa Ta a anélise, devo acrescenter que, quendo inicielmente inter- Fagados om relag&o sce seus mitos, os membros des cases mais or, tadoxss do culto NagS de Recife mostram um certo embarago e deg conversam, sq ponto que o pasquisedor nedfito pode ser As vezes levado a pensar que néo existe género algum de narrative entre 06. alee que posse chamar, sem depois ter que recriminar-sa, de mi- to. Tendo em consideragso esta fats, que serviré de ponto de partida, o presente trabalho poderd também iluminer alguns as- pectos - entre outros muitos possiveis - de atitude de crenca.e partir de ecus schados principsis. 1) A METOLOGIA DO XANGO: DESCRENGA EFICIENTE? HS, de fato, elgumee peculizridades no tretemanta dos mitos por perte dos membros do Xangd. Se faz mengdo, nz liters- ture entropoldgice sobre o culto, da dificuldade ds obter aces- so 2 estes mites e coleté-los, de maneirs sistematica, dificul- dade que os autores explicam fazendo referéncia tanto Ss"regres do segredo ritusl" (cf, Motte 1978:XV)"quento 20 caréter ex- trememente esotérico e so zelo cum que os sacerdotes do Reci- fe preservam sau conheimento do culto* (cf. Ribeirs 1978:47), No curea do minha pesquiss eu constetei uma atitude embivelunte perente os mitos ov "histériee e passagens sobre e vide das sen tos" que permits sntender ests dificuldede e feza@-la por sue vez significative. Por um lsdo, 08 mitos s30 invocedos de maneiza espan- ténee no curea dee converses, om contextos 9 situscdes variedas, principalmente com 9 propdsito de deixar clare elgume ceracte- ristices d2 compartamenta de um arixé ov de algum dos seus fi- hos, ou de explicar e prescrever algum procedimanto rituel @ ser sequido. Estes rsletos toman geralmente e forma de citagées breves, fragmentos au aluedes mais ou menos cifrados a fetos da vide de um orixé ou e insténcies de sua relagéo com algum outro 07, membro da pantedo, Gestas = abesrvacies - tanto pos. verte de quer relate quenta por perte doe que ouvem ~ scompenten ss referéncise eos mitos, indicando uma avali: ) do comportemente descrito, se- ja no sentido de eprovecéo, desaprovag3o, admiregéo, condoléncia ou outro, de maneire que sempre hé ume perticipegao afetive mani- feeta perente 9 estérie citade. Por outro lado, come jé méncionei, encontrei dificulde- dee cede vez que solicitei um relate sistemético destes mesmas etérias. Nas casos em que o membro ecedis ao meu pedida, ecampa- nhava 0 eeu releto com expressées de cetic mo. Por muito tempo, estas estérias me forem contedas em voz baixs e com evidente re- ceio e acanhamento. Um ar de culpa cercava qualquer descricgo ex~ tensa ou discussSo roletiva a spisddios da vide dos orixés. Ins- téncies como e guinte erem frequentes:.um menbro me dave uma ex plicagao sobre um dos recadas dados por Iemanjé no oréculo de bi- zios para, a0 mesmo tempo, referir-se @ ums dee predieposicgdas de cerdter dos filhos desee arixé dizendo: “Temanja carrege esse gdu de falsideds porque ele ange- nou (no sentido de ser infiel) Orixelé com Orumilé, Ela fez muite sujeira com o pobre velno". Mas, em sequide, o informante interrompis-se para acla- rer: “Egtou dizende isto, mas ey no goste de falar da vida deles (dos santos)". € possivel intarpretar este tipo de atitude em rele com a conflito qua estes mitos pressupdem com respeito 3 moral ca tdlice, j& que 0 'povo de santo’, sutodenominacgo que se dao os seguidores do culto, considera-se e si mesmo também como catélico sem reconhecer qualquer incompstibilidade entre estas dues religi Ges. No entento, nos reletos miticos, es divindedes que eles cha- nom de ‘sentoe'. sda representedes em atitudes que mais os aprox enclham acs seres de quem fa- mam frequeza. humana do qué as a ls 8 teologia = 5 hegiografie cetélice Av mesmo tempo, a9 nocdes cientificas 9 queis os men- broa do culto tém ecesso fazem que o ceticismo tome conta deles se solicitados © deter-se nestes reletos fora das situegoes as = acleram Ae pi pentaness e hebituais em que sao invocedo’ frequentemente que ndo consideran ae estéries coma verdadaires ou que, no minima, nem dasejam especuler sobra o greu de verdade melas contido. Tat come cles dizemi "Os velhos constumavam fa- ler ... mas ninguém sebe", A aparente contradicgéo entre a neces. sidade de invocer episédios miticos como raferéncias viteis pere a interecig, por um Yado, © as divides sabre 9 verdeda dos acon- tecimentos por. eles narredos, por outro, é gritante nas coloca- gées dos membros. Por exemple, em certe oportunidade, uma filha de Ogum tentave descrever para mim o que ele tinhs em camum com seu orixs, e d: "Segundo es estérias, que hoje nds sabemas que ou néo si0 verdade... mes se fale que Ogum foi um santa guerreiro, um grande lutador, © que Ele sempre genhou nae lutas dele... e eu penso que ev sou tuda ieso. Ele ganhou nes betelhes dele. Eu ganhei « sinds ganho: jamais tented. coies alguma que néa desse certo. Se fale que as fi- ihos de Ogum sée lutedores; eu luto muito... @ nda tre go derrota para a minhe casa". Af@rmagdes coma a seguinte: ‘Eu pesno que dizer a que econteceu na vida priveds dos orixés & dar ume opinige muito precérie. Néo temos ne- Rhuma csrteza... nad padamos té-le. Agare, se vocd ten- te as estérias, vocé vai ver qua’ Xanga tomeu Iansd de Ogum quando ele (Xanga) estave.vivendo com dxum, depois de ter roubedo tembém Oxum da case do pai dela. Eu echo 05. que esta é 4 raz3o pele qual Ela (Ians3) se tornou ur santo guerreiro, um santo agressive (por ter convivi- do com Ogum), = como ele pide tornar-se feminine ao meena tempo: cu penso que foi depois da companhia da Xengé, parque Xangd é um santo cortesdo, um santo mu- Anerenga". Exiatie, aos: meus clhas, uma inconsisténcie aparente entre, por um lado, ter que invocer o mito para, por exewplo,po der descrever o perfil de um orixé e o ceréter do filho'e, por outro ledo, n3o acraditar literalmente no que esteava sendo di-~ to. Mes este cantradicéa n3a era entendida como tal pelds men- bpos meenos. As estérias arom vistes como auténtices,embora nia como verdadeiras. As pessoas adriitiem abertamente que os - fetds narredoe néo econteceram na realideds, moe os relatos erem con- sidarados coma autenticemante tradicionais ¢, portantoa, como evidéncias da exiesténcia de certas idéies fundentes que trens - cendem = dicotomie verdadeiro/falso; eles descraviam o comporta mento humena espelhendo-o no comportemento dos orixés. Estas idgies fundantes no parceiem padér transmitir-s2 eon a recurso de alegoria o de perdbols, lembrando ss palavras de Maurice Lo~ enhardt sobre e necessidede do mito “para suprir s impaténcie afetive de linguagem @ tranéformar em figuras o que nenhum ter- mo genérice pode expreaser" (Leenhardt 1978:235). Um caso extrema que ilumina o significede da crenga e os diferantes tipos ds verdede que uma mesma eacisdade 6 capez de sustentar @ apresontado por Leach no cures de sua polamice com Spiro a respeite do *nascimento virgen". Em sou argunento, Leach defende a posicgao de que grupos austalianos e melandésioe - camo os célebres Trobrisndeses - ‘nag desconhecem' as fates da coneepzéo que declarem ignorar, jé que esta “igneréncis" consti 10. tui outra tipo de verdede diferente dequele "desconhecimento".£s tos verdades estariem epantanda, de fato, a campos de significa- glo diferentes. Estes paves, diz ieach, néa 86 "recanheciam a in portaéncie da cépule em animsia" (1966:40), sendo que também "nao vivem em solitério isolemento... mas sao grupos que tam estrei- tos vinculos politicos e econgmicos com autres povas que no ig- noran a paternidede fisioldgice" (Ibidem: 41). Em toda caso, ele efirms, a diferenge é "de doutrine @ no da conhechnento" (Ibi - dem: 48). Os masmos Trobriendeses, interrogadss por Fowell(1956: 277-278), citada por Leach), colacaram em evidancis @ presence si multénea de ambes viedes de questéo entra ales (uma reconhecenda @ necessidade de cépule pera a cancepsé0 e « outre explicando-a pela entrada do aspirito-crienge ou belone ne mae) © explicarem a cantradicgaéa dizenda que "ambes visées eram ‘verdadeiras' embo- rs ‘diferentes’ (Ibidem: 48). Pere sustentar o argumenta contra a tese da "dasconhe- cimento”, Lesch compara as crengas trabriandesas a sustrelianas com a dogmo eristéa da Virgem Marie: "0 mito - ele diz - como o tito, n8o distingue entre conhecimento e ignoraneia. Ele estabs- lece cetegories © efirme relagdes" (Ibidem:42); portanto, tudo o que pode ser feito &, por exemplo, analiser "o qua saja que ° dogma da nescimento virgam ‘diz’ sobre a sociedade em que é afi mado" (Ibidem: 3). No eee dos Trobriendeses, através do sau de- elerada ‘desconhecimanto', eles virien a expresser positivamente @ irrelevancia do pai em metéria de deacendéncia e herenga. A a- nélise que co citedo autar fez da, figura mitica da Virgen Marie se torna ainda neis seclerecedora. No mundo cristéo, dois gtupos de: intereess: encontram expreseés par meic deste meena figuto mitica. Entre oe eetdlicos,. perticular- alle mente em socieda 8 ondé houve uma aberts.tendancie pars a Nerig latria como Sizéncio, o Brasil do século XVIII e-outres colénias dependent: de negdes cetélitas, se deram sociedades patriar- cais "onde os senhords jamais se vinculerem por casamento com as classes baixas, ‘mas ‘onde sles 9@ dignarem benignamente © tomar concubines escravas @ a éldvar seus filhoo com estas de classes de elite” (Ibidem:43). Muito pelo contrério, "os cplonizadores ' protestantas, quan em termos gereis tendan a,rejeiter o mito da nascimento Virgam, sempre empurraran,seus besterdos para as classes de baixo, ineistinda.em que o status de . governante-deus 6 exclusive daqueles que edo de. puro-sengua. Deus e Jeaue ae sjustem bem a0 ethos de Public School inglese; 9 Mde-Virgen no tem ali-nenhum lugar" (Ibidem:43),.€ om um qué de humor, Leach extende seu srgumefito eos entropélogos evyolucionistas briténicas que precederem Malinouski em feler na crenge no naecimanto , vir- gem, tanto em Australie camo na Malanésis: -- ., . "Suse teorias revelam um mundo de fentesia povoade de homens dominadores que copulavam indiscrininadamente com sues escravas mulheres, de quem entéo tiveram f Ihgg. que reconheciem sues maze mae née seus pais... (e onde) ‘embara os honiens doninan ¢ sétisfazen sue 1u- xdria pele violbncie, © tnice-forma de. perentesca reco nhecide é@ consanguineidade baseads noe vinculos de descendaéncia através dee mulheres. 0 resultado foi ume _tearie spropriede « imperislistas protestentes 2 nae 243). catélicas”. (Ibide “Em suma, com ost@ exemplo, Leach revela como. tanto o mito quanto e teorie proclassm vdrdades estratégicas. Nio 22 trate de "verdede factual” (cf. conceite @efinids © por “Sperber 1962: 171), no sentido da descrigdo dé fdtos tealmente aconteci- dos ou dos fetos de netureze, mas una "verdade representadionsl" 12. (Ibidem), relative & sociedade e relevente &-interegéo entre seus mambros, Poderie se faler de sociedades ou de. grupos inciufdos dentro de sociedede mais ebrangentes que eceiten a coexisténcia destes dois tipos de verdedi sem que eles signifiquem necessaria mente uma disjuntiva (Ver também Berstein 19@3:101-103), Esea dis juntive lembra o problema que uma ‘crianga apresente 2 um adulto quando, depois de ter escutads uma estéria de monstros ou fentes mas, lhe pergunte: "é verdade que monstros? & verdads que hd fentasmas?". Se 0 adulto lhe responder catagoricanenta: "nao, néo né", estaré intoduzinda-a de maneire definitiva e sem volta num mundo de verdades exclusivas onde 8 auséneis de monetros 6 fantag mes exclui pare sempre s sus presenga; onde a ausancie e a prasen ga eimulténea destes efim de dar conte do netural e do social en- tento dimenedas diferent: do real fics proecrita. De agora om diente, um mesmo instrumento racional com sues figures teré que der conte de ambos tipos de experianeis. A expresso do que exie- te ficaré restrita @ um nico registro. Enfim, através do processes descrito nos deparanos com um mundo onde c logos despreze o mite na sua qualidade de instru mento, de estratégie idiossincrétice pare exibir verdad Mas no se trate simpleemente da substituicas de um discurso pela ou- tro; é dizer, néo se trate exclusivamente de uma permuta de recur 0s expressives. 0 fato de que @ mensegem que o mito veicule uma meneagem cifrade no cédigo da-cultura, inacessivel sem refe réncia a este cédigo, é parts astrutural e significetiva da mense gem meema, @ “nao seu ornamenta. Como Vernant. destaca, apeser de que é posefvel fazer ume “exegese alecérica" do mito (Vernant 19821165) treduzindo o mito pare. © linguagem conceitual prépria do logos, nio é —poe~ 13. sivel substituir o mito no sau.papel espatifice. Este papel es pecifico consists em exibir de maneire imediste (sem madiegdes os preesupostos de ums.mentslidade "até para ume crienge", que eprende uma cultura "sem aperceber-se disto, escutendo-a repe - tindo a tradicaao como eprende sue 1ingue materna” (Vernant, 1962:188). O mito é capaz de encerner, de-dramatizar mums nar- retiva um leque de verdades releventes ou possiveis que, mais do que expressar, revela, torna patente o horizonte.masma sobre © qual uma sociedade constréi » sua existancias "€ necessdrio. ester. dietante, fora ds uma cultura, hé que experimenter com respeito 3. sue mitologia ume im- pressie de estranh=mente total, sentir-se desorients- do perente o cerdter insdlito deste tipo de fébula pare que’se fags sentir a necossidade de um radeio, de uma vie de acesso menos direta, passends do texto superficiel ace cimentas que sustentam sua orgenize- g50 estrutural... © que permite assim = decadificag3o de um verdadeiro sisteme de pensaments que néo é ime- diatamente acessivel em todos seus niveis pare as nog 808 hébites de pensemento" (Ibidem: 188-189)". Fice coma mensagem principal «: importancie da relagdo que exis- te entre as afirmagdes que o mitc-contém e.a maneire- idioasin- “erétice om quo o faz: Tal.relagie dave eer vista também . como significative. € um doe propésitos ds axposigéo que se segue mostrar que, no Xangd, 9 mito enuncia uma verdade que, embora conetitus 9 maral dominante no meio do Xengd e, possivelmente , tembém en outros grupos de sociedade brasileira, resulteria ina seitéwel se proclemada 8 meneire.da um diseursa:racionsl expli- cito ,j4 que sa encontra em flagrente opsaicgsa-e0 discursa d= &tice moderna e ocidental da quel o Brasil, enquanto nagdo, se diz. oficielmente parta. lhe A FAMELIA MITICA € SEUS INTEGRANTES Nao & posefvel agora seguir en frente com 6 mau srgu~ mento sem fazer une suscinte descrigéo do comportamento dos ord , tal como ele emerge de citacden das relatos aiticos feites eoponténeamenta por membroe do culto no curso da intsragéo so- ciel. De acordo com ista, todos os quelificativos e © stributos que usarei na dascrigéo forem extreidos da dieturea das mem- bros. Mencionarei a6 aqueles tracos de caréter das santas que virdo e oer relevantes pase minhe andlies posterior, comegando pele posiclo relative de cada um deles ne familie aitica. € importante resseltar que o stetus relative de um santo, dentro do pantedo,depende da eue idade, mas dizer 24 is- to @ fazer uma descrigéo formaliste « saperficiel. 0 que de fa- to acontece & que cada ume destes divindades pode exercer sau poder ou sua influéncia sobre ee cutres per maio de um talento ou stributo que lhe é especifico. 0 aspacto petriercel que 5 fe milie mitice parece ter & primeira viets (ver meu ertigo de 1985) n3o resiste um escrutinio m: 2 demarada, Do pei, Orixelé, 4 dito que tem o status deis alto, mus é deecrito como ume di- vindade benevolente que rere vez uss o deu poder. A ade, Iemen- 38, & tembém considerads formalmente como um orixé de maior ste tue que oe outros; contudo, ele &, em gerel, apética. 0 filho primoganito, Ogua, deveria tornar-se rei, mas seu irm mais novo, Xangé, usurpou seu direito por meio de um truque érgenbo- ao. O stetiie reletiva dos outros orixdés femininos, Oxum e Lansé, néo 6 muito clero 2 néo hd acardo entre os membros:sobre o apéunto De qualquer maneire, ainda que Iensé & uma estrengeirs, ele é meia velhe do qua Oxum e tem o titulo de reinha porque comende 15. as espiritos dos martes, por um lado, 2 porter cesade com Xan g8, por sutro. Outros dizem que é. Oxum que correspande este titulo, por ser s rainhe do curse @ filha preferide do seu pai "legitimo" (ver meu artigo de 1985 pera o significado deste ter mo), Otumilé, e de seu pai de adogdo, Orixeld. Ainda que Ogum, Xangd @ Oxum eao filhas de Iemanjé(ed os dois prineiros s80 tembém filhos de.Orixelé), Ogum @ Xangd nao ado vistoe como irmdos de Oxum sando como possiveie parced ros sexuais dasta..Por outro ledo, néo.é muito claro, nos rela- tos sobre os sentos, o numero total de filhos que lemenjé o Ori. xalé tiverem, Nenhum mito de criagao é invacado, excato elguns frog mentos scercé ds: "separagéo das 4guas", que me foram. mencione- dos por umas poucas pessoss, com o propésite de argumentar con- tra o supasto status meis salto de Iemenjé (gue salgeds) em re- lagSo @ Oxum (gue doce). Devido a que se égues docee aparece- rem primeiro no. principio do mundo, Oxum & - neste versio - de- clereda mais velha que Iemanjé @ portants de ume “patente” meior, epeser de que a princirs é comumente considerede como © Depois destas acleragdes de ordem geral,pssso a rele- ter o@ episddios miticos nos quais se descreve » rela das orixés entre ei e¢ a8 contrastes de personslidade entre ales. A partir destes episddios, a pave do culto constréi as deselhades cerecterizagées dos sentos que intercalo como as narratives pra priamente miticss. Nestes discursos, ceda orixé @ retratedo co- mo sendo portedor de ceracteristices positives @ negatives 06 que, como mostrared na parte 3.deste artigo, a parte desta ave- liagéo objetive @ ayuanime, 2 povo do Xangd exprar ja suas pre- +16. feraéncias arbitrézias fundamentadé no gosto peesoal ou nah: rerquia de valores consensualmente endassade pelos membros. As descricies dos arixée com as queis completo os rele toe propriamante miticos odo citecdes extrefdas de conentérios eeponténeos proferidos por mambros do culto em circunsténcies ‘va~ riedas, que via desde alusies a passagens miticas e converses in- formais em grupo @ explicagées @labarsdas pare responder @ per- guntas colacedas por mim no ¢urso de entrevistes. flas represen - tam a leiture - ou interpretagdo - que os membros do culto fazem do mita. Chamo-e stencao pera o feto de que, como fiz questao de mostrar no texto que segue, os infarmantes carecterizam « iddie ou 0 conjunte de idéies que ceda santo encerna felendo ds vezes do orixé © &s vezes dos seus filhos genericementa, « percebe- xem @ oscilecéa dos sujeitos. Peco aa leitor que aprecie o valor etnografico das descricgdes em ques: a, 08 tipos encernados pelos orix na tredicgéo efro-bresileira foram muites vezes objeto de publicegdes pseudo-cientificas ou de divulgagéo que acabaram por ameacar a originalidade © sofieticagia deste tipologia. A dife- rence daqueles textos, n3o se trata aqui de goneralizagoes de ov tora basesdes em suas impressdes globais, nem de esquemes simpli. ficadores do que cada orixé significe, sen’o que é feits ume re- cepitulagéo minuciosa de um discurso nativo particular tentando capter as nuances ¢‘sutilezas deste saber complexo. Teis sutile~ 8 foram usuelmerite deixadas de lado nes caracterizecdes canhe- cidas, mas reaultem indispenséveis, nd presente trabalho, pare sustentsr a andliss que desenvolverei. Com relegdo @ forme-que escolhi para expor os materi eis que servem 4 andlies, trate-se de um entralagemento de trés vozes - 2 minha, a do mito e@ a do povo do Xengd ~, 2 maneira de oe uma polifonia cuja resultada final $ 3 fueSo de todse alas. Es- tes discursas superpistss, scsnd2 juntos; retreten 2 tentam fa~ 2 participsr 29 leitur aun transits possivel aslo parcurss que vai do mits ao cotidisno, mostranda coma cates duas dimens3ss so perte de uma teia comum, Cantudo, flo aqui de tris vozes - a fala vitics, s exegase cotitians dessa fala pels nova 4a Xangd 2 a minhs prdoria egess ~ 2 939 de duss asrque 4 possfvel afin met, com Ricozue, qua s voz dos afaboloa $ uma voz primaire: "symbais giv ant ... First Zane symbois" (RE Soeur 1969219; anfssx do sutor). O nits, aor sua vez, om continu dade com 2 its, $ a farms (de nareitive) sis prdxiina $3 onde prio simbala ofivéria, o3.fundinde-sy com ele na eeu aspal de analagan" (Ibis, 166-157), 0 exegeta sx ancontra com eles a= través de uma “contingincie" que redinz, suns sanvergincis fartui ta, 9 tempo origivirio 2 3 presenta histSrico (Ibidem 24), No cess qua me acuns, sor tratee-se a2 uma tredigdo nao acidentel de seasensats 2, orircizelnents, o39 crista, deve rei passar prinsies sels interaretogi2 cristive que 38 pripriss mambras do Xeag3 fuzee, -la3 mesno35 ji "faithful ts the pul- sion, tothe gift of moaning from the symbol" (Ibiden 348), sob 3 farma de fales coloquiszis sm taras ke narregdes aiticss. Dastas false socundétiss partirei, gor winhs vez, para produzir, final- mente, mou discurs; d= teresiza gray, t32 cantingente aa arSprio glyer HistSrics quz lange sobrs aste pyvo quenta > que ele prd- pric Lange sabre seus nits, Meus comentirins, contuso, nso sao arisntedas 33 palo dissurss suramants vecbel qua squi-soere gistreda, sen32 qu si3 > arsduts de ume enorme quaatidad: de farmagé2 arzprismeats stargréfies qu> adquiri a partic da plane caqivancis ¢ participegaa ar cotidians ds cults. 18. Finalmente, cabe ecrescenter.que, no-casa particuler do Xongd, mois que uma coamolagis au’ ume histérie, o mito~se constitui no horizonte sobrs.a quel os contornes de paisagem hy mana edquirem forma e significado. Porque, dito de outre meneix ta, 0 pava do Xengé, de fato, hebita ume paisagem populeda por ca racteres humenos cujos perfie emargem do horizonte do mito. Por esta Fazéo, possivelmente, as fraquentes inconsisténcias nes aces © scontecimentos narrados sao esquecidas facilmante, pera dei- zer lugar & captegéo de consisténcia ne conetrugo das persone gens protegénicas. Deste maneire, & possivel afirmar, coma Otto a fizere pare @ caso da religiao grega, que, no Xangé, "o que... 8 devo~ go veners... (6) 9 feculdsde de ver o munda & luz ds divindade, @ nc o mundo eneledo, o mundo # que se aspire... mas a mundo ma qual somoe nascidas @ do qual formemos parte" (0tts 1954:11). "Pers o naturalismo piedoso muites coisese sao verdedei @ importantes, enquanto podem parecer ridicules ou r pernicioses sos tearistas ¢ moralizedores" (Ibidem:10) i. 0 Ciclo de Coroscie ec a meternidede de Zenanis’*) No cerne das relecSes entre os membros do penteda do 7 Lenore 20 Leitor que, nalgumes des descricies do comportamento dos santos que seguen, ¢ possivelmente davida 8 inércia proprie de iingua, quenda eg te & mulher ee fez referéncia “as filhas" do orixé em questso, @ vice-ver 88 quando 6 © caso de sento-honem. Contudo, os filhos iniciados sob a tu- tele de um orixé podem ser homens ou milheres indistintamente, @ os atri- butos da personalidad do orixd lhe edo igualmente extensivos. culto se encontrs un evento que, relatedo om divers: worsdes, déixa estebelecids a releg3o entre os dois.filhos homens. Trata- se do cicla da usurpag3o do trano de Ogum por parte de Xangé, @ & 2 partir deste episédio que podem aor compresndidas com maior facilidade es ‘restantes articulagées de hermania e¢ conflito, se- molhange @.ahtagonismo. & tembém a partir dele que emerge com ni tidez um primeiro contrasta entre dois perfis comportamenteis, dues escolhas valorstivas e duas estratégies civices opastas en- cornades nas figures de Ogum « Xengo. ''Primeiro Epieédio: verso a). Onde sa ralets como o filho mais novo, Xangé, por ser astute, usurpou 8 cores de Ogum, o prinogé- nito e herdeiro legitimo. "Xangé 2 Ogum 930 rivais. Eles so irmaos mas nao sto unidos porque Xengd tomou.o trono dela. lei nga néo queria que XangS so torneese rei porque Xengé era mui- to traquino e muito violento. Ele causave muite pertur begao. Ele batizave e@ vendia. Entdo, Iemenja queria 0- gum como rei, porque Ogum era um sento de mais idade, mais celmo,. mais confiavel e mais reepansével. Ogun era também o primogénito de Iemanjé e Orixaid. Por au- tro lado, XangS era moame o Filho preferids de Temenié 2 Grixelé, o filho mimado, mes lemanjé pensava que ele ere trevesso demais pera nomeé-lo rai e escolheu Ogum. Mas Xang& troiu Ogum. Aconteceu que Iemanjé urganizou 2 cerinénia eno die da festa, quando a corosgao de 0- gum is ser feite, eles aetevem todos 14 @ Xengo disse pera ei: “de meneira nenhuma posso eu deixar de ser rei". Ente, ele preperou une "coisa". (mégica), misty rou no café de gum, @ quendo Ogum bebeu darmiu a noi- ‘te toda. Além dieto, como Ogun ara muito cabeludo (0 primeira filho dos progenitores miticos é imaginado co mo um hamam prahistorico) a Xangé néo, cate apanhou ume pele de cordeiro e se cobriu com ela. Aesim, ne ho re da cariménia, quando apageram as luzes, Xengd cha- +20. gou, subiu em siléncio e se santou no trono pera ser caroada por Iemanjé. Todo mundo pensou que exe Ogum, mas Ogum dormie e néo soube de nada. Eles fizerem tudo © que tinhém es fezer na cabeca dele (alusio acs ritueis de inicisg3o) e, uma vaz que a coroagas acebau e as ly zes voltaram, eles virem que era Xengé @ néo Ogum quem estava ali, Ele é realmente muito eeperte e@ faz mui- toe truquee". Neste mito 44 estéo presentes a antretecides na sua trs- ms ume série de efirmagdes eabre as figuras protagdnices que, fo re do contexto de eue nerrative, ede esporédica mas constante - ments etualizedae em forma de slusdes no cotidieno do Xanga. Em primeiro lugar, 8 faganhs do rei Xangd que,insscru, pulbsamente, genhou o trons com um truque, 3 descrita com sdmira sao @ simpatie polo pava do eento: Xengé é 0 sente mais forte do culto. Xanga pode lhe e- judar a alcanger qualquer coiss que vacé deseja na vide. Ele pop sa por cima de tades es dificuldedes. Ele tome até as coses dos outros orixés. Ele gosta de tomar os filhos doe outros arixés pg re Ele ("passer 4 frente", "tomar a cabege"), ainds que eles se- jem filnoe complotemante "foitas" (iniciedoa). Ele fica da 1ado do filha sté tamé-1o. Xangé é muito oxigente, Ele eampre quer meis. Ele sabe como conseguir o que ele quer, como impor 28 sus vontade. Ele quer ser maior que todo mundo, por que 6 o rei dos orixés. Us filtos. de Xanga s3q muito ardilosos o hébeis. Xengd @ encantador @ muito eatuto, @ ee tornou rei justamante por meio: de sus asticia. Ele roubow a corae de Ogum com um de seus tru- ques. Xanga é rei sem ter sr de rei, sem ter s poee de um rei. Xengd @ um rei vestido de tires (de farrepos, de restos de = pa- nos), @ @ red brincalhéo. Xangé néo tem orgulno: ele é o "rei bobo". Ele é vul- ger, um charlatéao, um zombeteiro, um vigerista, um mentiraso. Gs filhoe de Xangd edo abertos, espontaneos, extrover- estao tidos, expensivos, brincalna: mpre alegr! Xanga 0 21. ea desopercebide. Os filnos de Xanga gostan de anarquizar, de sa divertir. Se sentem 4 von "Wagdo", ele *Cheguei*: nunce p tede em qualquer situagio e nao se inportan com a aparéncia . S30 gente muita segura, muita descomplexade, muito pare 9 fren- te, N3o eequenten a cabege facilmente, so déspreocupadis. Ds filhos de Xangé néo tan dispasigéo para gastar sy + EL quilo que podem ebter facilmante gragas ao engenho. Elea sie ea energies trabethands nem séo previeore sé aleencem 3 indolentes, néo tn *coragen" para anfrenter a vids (na senti- do de force de vontade pera se propor ¢ realizar terefas difi- ceis, penosas). - primeira Coisédio: b). Uma versio complementer dequeie episédio ilumine sinda uma outre, facete do herdi: "Wend, “8 avé dos orixée, cootumava fazer renda a ves. tir boneces. Ele tinhe @ ceste de costure dele. Um dis Xengd chegou danedo de vida dizendo que queria ir a uma feste muita importante mas nao tinha roupa apropriedé pera vestir. Ela jé tinha feito 9 roupe de todos os autros orixés, ent&o pagou os restos de fezendo @ preparou o mative (saiote de Xengd, feito de tires). € & por isso que o mariué pode ser de to- des es cores, justemente porque foi faite des restos dee roufae de todos os outros orixds. €, de fato ape ser dista, o marivé ficou ta bonito que, quando ele chegou & festa, fai muito eclemado @ escolhido rei. £ wee le se sentou antda, tée bonito, tio graciosamente,na eadaire de Ogum, que ganhou o trono sem ter e primo- genitura, 86 por conta da sau cherme, Aquele tron pertencia de feto a Ogum, mas Xangd se epressuu,~ se sentou, @ ninguém foi capaz de tiré-lo dali nunca mais" be fato, os membras dizem: Be filhas de Xangd ef0 mite “inteligentes", muito es- pertas. Sebem se virar em qualquer situscac 2 dao conte de quel quer recedo, grages & engenhosidede delés. Xengd € 0 santo asie forte: Ele resolve os problemas de todo mundo. +22. Xango é torpe, desejeitedo. Nao lige pare sparéncia fem para roupae; & simples, néo gosta de veidade. Anda vestido de ferrepos, mas ainda eseim & ssdutor. Um filho de Xangd po- de seir pere a rus com as roupas resgadas, pode concertar um sepato com um prego e sair: eles realmente naa ligem pera e e- peréncis, Oe filnos de Kengé podem passer por situecdees de po- breza miserével, padem ficer pobras de néo ter sbsclutemants ng dee, a ' riquezas com um truque, com seu charme, ou com um golpe de sorte ou de magia. Mes, tem- bém, elas podem perder tudo repidemente, de um dia pas outro , com toda facilidsde, 2 ficer ne pior. € néo se magoam nom ficam aflitos por perder es riquezes que tinhem: sempre encontrem um jeito de té-lae de volta. Xangé @ popular. 0 povo adore ele. Ele é "quente", s- ime tudo, podem fenhar anorm nimado, entusiasmada, Os filhos da Xenga sao os mais féceis de raconhecer pelos olhos bem abertos, vives, flees sao exibicionis tes, amostradas, cativentes. NSo ego mesquinhos. Eles tém um jeito, um charme para tudo. Eles sfa bone convereadores, a con versa delee 6 animada. Tem elguma coisa nales que encents a to- da mundo, o pavo gosta delee dprimeire vista. Se diz qua eles tém um feitico no olhar. Xangé ten muita forge, muita energie. Quonte ele che- ge (am possasedo), Ele eebanje snergis, ie arresa; toda mundo 2a sente trensportada de felicidede. Ele toma conta de tuda;Ele thega e toma conte de festa. Ele, domine tudo. Xangé 6 sempre ré pido, sempre "quente". Em flagrante opesicao com o bem sucedido = - ebore freudulento - rei, emerge a figura de seu direito - mas desafor tunado - irmio mais velha. Ela é epreeddide frequentements 8 partir de suss projegdes sobre os filhos de santa iniciadoes sob sua tutele. Qs filhos de Ogua edo severos, carrencudos, sizudos. Perecem mais velhoe do que .9éo. Séo de uma palavra sd. Com ele no hé divides nem ambigiiidedes. Eles tém um rosto desegradével, duro, rigido, com es 123, eobrencelhes frenzidas. Eles gostem de dar ordens. Ogum é exces sivemente conservador e circunspecta: Fle perdeu es coroa por um truque de Xengé, mas pressrvou o porte solee, seu ar de rei,por que Ele era o legitimo primogénita. Nunca perdeus a dignidade, a formolideds, e pereimdnie de um rei. . Eles no sfo sleyjres nem extrovertidos. Podem ser saci Sveie, mas nunca ade espontaneos. Néo se fazem goster & primeira vista. Séo0 rudes, grosseiros, fechados, podem magoar sem querer fezé-1o © nuncs voltam atrés pare reconsiderer: vao 8 frente co- mo se nada tivesss econtacids. Ainde, no panc de fundo de historia, emerge « figura de Iemanjé, que tem s seu cargo 9 prépria corosgso <, portanta , aparece no papel de quen administra es atribuigées corresponden- tes a cada orixé. 0 estilo particular que cerecterizn o desempe= nha de Temanjé nesse pape) @ elaborado na saguinte versdo abrevi ada do episédi Pringizo episédio: vers3o.c). Onde sa exibe o legslismo formal 2 vezio de Iemanja, © mée-que, no desempanho de ume autoridede me- ramente convencionsl, ¢ seduzide pols eatiicie e simpatia do fi- Iho meds nove e acaba por dquiescer 3 sua vontade ceprichase em detrisento das sepiragées lagitimas da eau filha meia velho. Io- nanjé dé prioridade 8 composture, 3 polidez, 3 continuideds da orden setabelecids, ainda que ele encubre um privildgio imereci- do. "Os filhos de Temanjé se preocupam mais com 7% apa~ rGncias que com a verdada, msis com a orden do que com a justiga:Sendo mge e rainha, Iemenjé preparau dois tronos para corosr Xengé como principe 2 Ogun, por ser o logitime primogSnito, come rei. Tembém or genizou uma festa pere celebrer 6 coroagéo. Yes Xan gi n3o estava satisfeito como titulo de principa, fez um truqué e fez Iamanjé colocar e coroe ne ue cabega. Quando Iemenjé descobriu j4 era tords de- mai: e, pars eviter a deserédite, Ele deixou Xango 2h ter a coroa embora, par direito, lne tivesse cor- respondida 3 Ogun". Dele se deeprende ume profusa, sequéncia de elaboragées so bre = parcimoniosa figure de mae dos orixée e dos seus filhos de santo, cujos motives mais releventes sao tretedas da mensira se~ quinte: Todos os orixés ado obrigedcs @ render homenagen = Teman 38, ainda sem gostear dels, porque Ela & um santo poderoso: Ele & mee, @ portento Ela tem influéncie e sutoridade. Iemanjé ten o privilégio e o prestigio de ser mée, 2 eles devem vir a Ele @ ren der-1he homenagem por esse rezéo 96, ainde que Ele no tenhe fei- to nads para merecé-1lo. Temanjé & @ santa que tome conta da “cabega",que"sustente a cabega", que nos protege de “perder = cabece" por qualquer ra- zo. A gente sa encomenda e Iemanjé para néo enleuquecer por bes- teiras. fle protege as peesoss de ceir no desespero c comegar a beber demeis, mantém as pessons equilibrades, capszes de se con- trolerem, Ele & a protetora do bom sanso e do sasségo de sspirito. Os filhce da Iomanjé jsmsis sa rebaleam; eles 830 calmos,paciantes. Os filhos de Iemanjé so escrupulosos,responséveis,earios, farmais, diecretos, embora 3s vezes possem ter uma reagdo bruece. Os filhos de Temanjé so quietos, seguem sampre 2 meome ro tina, todos os dias igual. Séo respeitosos e confidveis no cumpri- mento de seus deveres. 830 moderadoe em tudo 2 nunce perdem.a composture. Qs filhos de Temanjé nunce anerquizem, nunca s2 descontro~ 1sm em expresedes de alegris nem em brigas. Eles néa gostam de ex- travagéncias nem de desordem, Eles nda sfo vivazes, mas sda astu~ toe, erdilosos, Qe filhos de Iemanjé hasitem largemente entes de decidir qualquer coisa: nic gostam de ter que tomar deciedee @ se, antic, eiguma coise ruim lhee sobrevém, permanecem inibidos por avita tsmpo. Por outra ledc, quando tomem uma posigao, se spegam a ele por muito tempo, mes runes se empolgen ao ponto ds defender apsixonedamente o que ecreditem ser jus ta @ ecertado. Evitam tomar dacisGea drésticas. Sao exageradamente ‘cautos: © prudentes; jamais oe precipitan. Qs filhos de Temanié tém uma mente estreite, convencional, quedrede. Eles tam falsos escripulos, séo ecanhsdos, mas nao hesi- teariem em cometer uma acéo deeoneste ou treir elguém pe- +25, Ta conseguir o que querem, Eles sé0 coverdes, confarmistas © fal tas de engenha. Os filhos de lemanja4 tém reacées lent tempo pere conseguir a que querem. Iemanjé faz 2 néo agen em coisas, mes es faz devéger, meticulesamente. Os filnos de Iemanjé sao plécidos, desceneadas, muito lentos. Parecem sempre cansados, e 840 geralments apéticos e de- sanimados. Eles ndo tém brilho, empelganento. S50 csalaos co mao mer: nao & possivel saber o que se pases embaixa da euperfi cia. O pova diz que Iemanjé é faisa e que Ela é a rainha do mar: née sebemas que, enquants o war parece calmo 2 primeira vis te, por beixo da superficie pode ester errastanda vocd pere as profundezes; quando vacé ve ume onda vindo na suparficie, hé une outre por baixo cerregando vocé para o funda. € provavelmentspor isto qua Lemanjé dé com uma mao @ tira com e outra. Hé, por Gitimo, naste mito, ume auséncie significative que merece ser explorade, a ausancia do pai, Orixelé. € possival inicier esse explorec3s com uma inversdo das termas. De feto, ee trets de presanga de um pai ausente, que née langa maa da sue ay toridede pore restaurar a justice essencial que fora lesads por Xengd, favorscida pela naa. Quendo sa canta pets Oxe1S (durante 9 "toque", 9 ritu- al ptiblico), todas os orixés tém que curver-se, porque Ele 4 oo pei. .€le é um santo de caréter firme, confi4vel, mas é um santo velho @ censado!*) . ae Yexdstom, om renlidede, duas quelidades principsis de Orixelé: Orixeciuté © Orixeogiid, No assencial da cordter clas s40 identices, mas o exterior, = eperancia é diferente. Orixsoluts é velho e, portento, meis lento e 3 celmo om geral. Os filhos de Orixaoguia so maie jovens s se compartom 2 forma mais energétice @ ativa podendo paracer, exteriorments, cuese tao agitados o traquinos coma:os filhos da Xango. Contudo, eles sao sé variedg, dee de Oxald e, no fundementel, 2 oriantegao de personelidads 3 s neema. +26. Qe filhos de Orixeld tém um caréter sempre igual, cea- mo, décil, lento, demorado pare fazer as coises, pera der apini da. . Ele é maie humilde ¢ bondoso dos orixés. Ele se conten ta com um pouco de arroz (como oferenda ritual}. Néo é pretancio 80 nem interesseiro. Se vocé olhe @ cera de um filbo de Orixelé, voi ver uma gerta monotonis, um ar insipido. Os filhos de Orixalé sia indiferentes, desanimados, naa tém antueiseno pera neds, néo pode tém vontade nem de feler. No sa empolgam por nade. Tém uma pre- senge grave, pasade. € justamante o perfil de um pai benevolente e discreto, um psi que nao se impds, que é passeda adiente pelo seguinte am: to de maternidede da Iemanjé: s isduio: “Iemanjé carrege esse ody (mensagem do jogo de bi~ zios @ também destino) de faleidede porque Ela foi falsa. com Orixeld. Ela enganou o velhe com Orumi- 14: a8 filhos de Iemanjé, em geral, costumem oor infiéie, e 0 velho teve que eefrer muitas ofenase no vide dele. Ele costumava ardenar ume galinhs ps- reo janter, comia « carne, e deixava os osscs pare Ele comer. € Orixalé agiientou tudo isso dela. Iemen 48 tembén nunce foi dedicada eos filhos. Teves eles mes Oxum foi quen crigu. Oxum nssceu da relaséa de Temsnjé com Orumila, mas Orixelé aceitou ests filhe como se foese dele © Oxum tornou: sua filha prefa ride e foi quem cuidou da velhice dele. £ Ele enpre perdoou Iemanjé. Apasar de tudo iste, Iemanjé tem gue ser respeiteds por tode mundo parque Ela & ° santo que “sustents noses cabeca” (sustenta o ban senso, 0 autocontrole das pessces). Ela toma conte "da cebeca" dos filhos de tados os santos". Imagem do pei que é refarceda por definicgdes que seii. entem o cerater indcuo, embora louvavel, de suas muites virtudes: Os filhos de.Orixelé eGo reservados, néo sao extrover- 2? tidos. Elea néo so gente conunicativa. Séo prudentes, ceutos,ma, tédicos @ reflexivos; preferem pensar as coisas cuidadosamente ! antes de tomar qualquer deciséo. Séo gante sdbia: campreendan es coisas. Os filhos de Orixeté suportem tudo. Orixelé é un santo muito submisso, muito obediente. € um sofredor 2 una vitine so- fre muito maltrato e sgiiente todo sofrinento con resignagao, O correleto deste pei ¢ uma mie hipécrite, que ueufrud dos privilégios conferidos pele maternidede, mas proenche seu pa pel de meneire puramante formular. Ele suscita um.fascinio ombi- valente entre os membros do culto. Prove dasse fescinagéo, mistu ta da admiragée @ raiva, é 0 empolgemanto com que ac eplicam a gemiucgar, em suas converses, @ complexa da personalidade de Ie~- manga. Os filhos de Temsnj4 podem ser falsos,deslesis pars com sous cénjuges. Elos podem estar engsnanda o marido mas perng mecem juntos. Padem enganar , mas née $e saparam: e30 conformi tas em relegéo 48 convencées sociais. Temanjé tem e999 posigso superior porquo Ele é nge.Con tudo, hd uites a3ee que d3o 8 luz @ ebandonom os’ filhoa ne por- ta dos outros. Os filhos de Temanj& nunca sac totalmente generosos , fem muito prestativos, nem com seus préprios filhos. Embors Ie- monjé 6 mie, nao so interessan muito pelos filnos, n3s fazeo mcs muito dedicadas. Qs’ files de Temenjé ef0 mio fechada, n3o gosten de gaster, nia asbenjem om jéine ou coisss eetravmgantes. Alguns fi hos de Ismanjé si0 terrivelmente interesseiros a embiciosos « coi, ses podem trazer peraceles préprios: eem preocupar-se palos — ou- querem tudo para ei meamos: 96 Pensam.: no beneficio quo tros. Apesar ds sparente ternire, oles eda distantes, frios, controlem completamente suas emocgdes eam déixé-les extravesar. N3o 8a envalvem. € muito diffcil perceber os erros da um Filho de Teman 434 eles etuan do une manoire muite prudente, quito discrota,mui to dissimuleds. Wo deixam transparecer nada. +28. be filhos de Iemonjé costusam ter juas cores © ser trod goeiros, les podem setar felande com vec8 e, no entanto, ter ail pensementos treigneires na cabege. Tudo o que eles eetéa dizende pode ser falso. Elos poden ter muito boss qualidades, mes 0 prin- cipal & isto: eles nao sf0 francos. Sao amévais com todo mundo, nos néo ao leais © ninguém. A emizade deles nao é confidvel. Téa nuite fecilidede pare. estabelecar relagées, sia muito socidveis, mee es relsgées qua eatebelocem 80 superficieis. Naa ebram o jo- go totalmente com ninguém. Eles podem parecer ser extremamente bendosos, devote~ dos, mes com eles as aparanciae s30 engonseas. Eles podem lhe 3fe recer mil coisss, podem fazer vocé ecraditer que 8&0 generosos, pa ra pouca depois decspcioné-lo ente vocé percebeu que a primed re impressio cre falea, que eles 94 pracuravam sacar elgume: vanta gem. Eles ef0 maquinsdoree, ardilosos, encobertos, fazam as coi- eee por baixe do pena. ts filhos da Temanjé va desagradecidas: eles nao reco- nhecem o favor recebido. Eles parecem confidveis, mes elee podem ter uma falsidede inespereda. A queetdo central com os filhos de Iemsnjé 6 que eles punes mestrea-o gue sSo na eparéncia. A eparéncia deles & engana- es. Eles podem ser bons ou ruins, mes vacé nunce sebe,porque eles se autocontrolam para perecer sempre améveis. Voc nunca pode sc- ber coma eles realmente edo porque © comportamento dales nao 4 trensparente. um filho de Temanjé que é falso é um verdadeire perigo porque eles parecea tio amigéveis: dando-ec bem com voce, beijon- do vocé, sendo efetuoso com vocd, enquanta podem estar culminando voc’ por trée des costes, Vocs realmente nunce consegue secer =o que eles tem em mente. Eles 930 oparentamente sempre igual,sempro aquele mesmo maiguice, aquela docilidade, squeles maneires auc- ves. Os filhos da temenjé tam mudanges bruscas de humor, roa cdes impreviaiveie, Padem surpreender con uma pencads bruata, incaperade, como o tombe do mar. Eles podem ear amdveis com vocé e tornar-s¢ subitemente grossos. Maa nao sda vingetivas, imedietamente depois voltem a0 normal e esquecem tudo. Qs filhos de Iemanja perdoam faciimente. Perdaem,mae eg the sempre prontos e cobrar novamenta de vecé 0 seu erro, a vol~ 129, ter & questéa, mas nfo de menaira dirata, frontal, sen3o indire- tamenta. Us Filhos de Iemanjé s&o aparentemente serenos, mas na realidade n3o o saa. Vaca pode penser que ego. mansos até que vo- cé perturbs slee. Vocé va elee colmos, em frente da vocé, mas no momento que voc& vai e fez algo -que desagrada eles, aquele caima se transforma em torments, em maré, em mar tormantaso. Os filhas de Iemenjé nfo deixam passar nenhum ineulto, & encial para e~ les desebafar com o ofensar’ antes de-poder esquecer. Us filhos de Temanjé nfo sic diretos: podem sex rudes © desagradaveis no momenta que vocé menos espera. So calmos e Chorosos. Mas, quando perturbedas, ssbem dizer e palavra que des trdi, dizem coisas terriveis, sabem insultar @ repreender dura- mente. Sabem censurar e ferir com pslavras fsperas, sabem ser du ros = dar um fora pera, imedistamente depois, ficar como se nada tivesse scontecids, A lingua de Iemanjé é ferinte: eles fersm com 2 pelavre. Os filhos de Temenj4 sic incepazes de guarder um segre do; sé0 incapezas de manter ume emizade até o fin; e30 incapazes de ajuder-lhe e@ acompenhar vocd incondicionelmente ¢ até as Gti mes consequéncias. Temenjé & melancdlica, mss pode ser feroz também: ume mulher coma Ela, uma mulhar-peixe, que habita ne fundo do mer,dz ve eer feroz, pera que.os peixes néo e davorem, Ele @ uma sere um ser mistot matede mulher, metade peixe, mas Ele sobreviveupor centos de anos porque tem autoridede, Neste sentido, Ela por um lado tem beleze, mae por outro Ele domina. Ele é @ reinhe do mar: governa sobre os peixes. Ele tem esse porsonslidade forte @ domi nadara, mae 20 asamo tempo montém sue maneira suave de ser, sou jeite feminina, Os filhos de Iemanjé taa meneiras etragntes, 830 mimasos, bajuledores, sabem persuadir. Em alguns momentos tam u- ma personslidsds brusce e, em outros, podem sor maie — humildes que ninguém, A folsidade da Iemanjé vem do fato de que tem - ums eparéncis pacifice mas também tam um génio ruim, de talforms que podem enganar: por tréa do seu comportements obediente (no seu cumprimento do dever, ene sua relagSs com as instituigdes e com 93 mormas em geral), ninguém suapeite que se esconde ume passsa etrovesseda, violenta. Porque eles no vivem exibindo sus forga, sua firia; pelo contrério, a sscondem por trés de uma eparéncia. humilde, emével e terns. 30. Os filhos de Iemanjé sao "covardes". Séo ambiciosos e podem ser invajoeaa, mas nao esquentem « cabega com nade, nao se ddo-eo-trabelho de betalher por nada, 2 néo ca incomodem por S80 apaéticas. S80 preguigoses. Eles podem trebalher e manter um servigo estével, ra- ningué tineiro, toda e vida, mas eles-séo em geral preguigosss, sstéo senpre censedos. $6 fazem cunprir com squilo, e é aquilo meena Os filhas de Iemanjé sto pregaigosos, no sentido de que podem ter um emprego e ir 8 trabalher todo dia, mas nia es- to dispostos de fazer nenhum esforca a mais, no se etreven = fazer nada além daquilo que ado obrigedos. Qs filhos de-Temanjé sia muito apegedos 4s suas ‘memd- rias; ss coisas que acanteceram com eles, sejam agredéveis ' ou dolorosas, sempre permanecen em sue momérie. Esto sempre lembrenda, olhendo pera trés, pare o passada, pensande em coi- sae distentes. Sentem que as coisas que ficares ange = eet do perto deles. £ = melencolia (e@ » treicgéo) do mar que seperou os antigos de Africe ¢ os trouxe pére cé, 6 a melancolis pele tex re originaris. Qs filhos de Iemen§é sdo' compassivos. Sia emotivos @ choram facilments. Se -apegam muito 4s pessces. Mas também & possivel,que, ainda quendo psarecem compartilher sus tristeza,e3 tejam rindo de vocé por trée des costes. Vocé naa pode ler 8 mente doles: so falsoe, ¢ muitos deles sao incepazes de experi, menter sentimentos verdadeiros Um treco fundamental no cerétar de Iemanjé é a tédio. Eles podem animar-se em slguns aomentos, mas em geral s3o enjoe dos, sem vontade de nada, nem de faler. Os filhos de Temanja 880 spéticos:nda & facil entusiamé-los. Pouces coisas lhes in- teressan, No gepego que.a maternidade puranente formel de Teman- 48 deixe sem ccuper, entre s vocegao meterna de Oxum, “o filha mais nova: Oxum & quem toma conta das necessidedes o providencie ss coises. Oxum é a mia provedars. Ela est4 sempre disposte 5 tomar conte das eriancas. : Oxum é @ verdadeire mae, e mde criadcire, e nde que to me conte dos filhos dos outros arixds. Ela 4 provedora. Ela 5 a31. be cuidar, veler peles necessidades dos outros, Um outro aspects do papel relativa & maternidede de Te manjé @ @ relagio que ala mantém com o seu filho favorito, Xen- Jereeiro Episodio: "Xango foi o filho favorito de Iemanjé. Ele ocultava es erros dele enbaixd de sua seis. Ele ie sempre ag conder-se debaixo da saia de Iemanjé. Xangé era muito eafedo, muito traveseo, e quando ia em casa eperreave muito 9 mda e comie tude 4 que ti- nha 1a. Foi por isto que Ogum proibiu Ele de es e- proximer, de ir visiter » mée. Par isto Ele chegeve 84 quando Ogum seis, © para saber sz Ogum ainda es- tave por perto Ele cantavs o tosda: “oma Ogum t umbelé coejé.:." Se 9 mée respondis, queria dizer que Ogum nao esteve @ entao Ele entrava.Iemanjé sem pre ecobertou todas as traquinsgens de Xangd. Ela ecultava de Ogum e de Orixald tudo o que Ele fazia" Navemente urge aqui a figura de Iemanjé como a me que exerce uma autoridads @ estabelece uma ordem nao fundamante- da no principis da justiga senao no privilégio de poder fazer es colhas erbitrérias. Camo dizem: Temanjé 6 mie, como tudo squilo que a-palavra ren presenta: Eid 48 'e0s seus filhos squeis protegic, aquele cobertu ta que torna eles inflados, hipécrites, dence da verdade, supe- tiores @ todo mundo. Por um lado psrecém muito calmos, muito hu- wildes mas, por trés deese hunildade, sao de uma arrogancie ex- treme. Sao de um jeito que vocé jamais percebe o que eles estao realmente pensando dé vocé, Um filnos de Iemanjé & incapaz de Seixar transparecer seus sentimentos de desgosto par vacd: isto & 0 que significa ser mie, 0 mentelidade de mac. Enquanto, Ogum, ume vez mais, é o bom filho née agrscia do pelog faveras ds mac. Acentece que, segunda 9 pave de Xanga, Qgum néo sabe seduzi-la, feltam 3 ele jovialidede @ jogo de cin- 32. ture: 0 filho de Ogum pode ser bom, celmo, mas se vocé, por azar, o contraris, ele se sfasta definitivemante de vocd; 92 vo- & concordar em tude com ele, ele é seu maior amigo, mas, & me- nor divergaéncia com seu ponto de vista, ale ago quer seber mais de vacé. Ele 4 muito masculine e muito equilibredo. Ele tem a cabegs no lugar. Ele tem maturidede. N&o aceitam desordem nem snerquia, ne case deles hé of dem demais. E, de fata, Iemanjé naa se intaressa muito peios mito- dos que use Xangé pare agradé-in. Ete 86 mostra respeito pele lei que insteure seu prdéprie privilégio. Assim, sd defande o® bons costumes @, pare ista, avita sistematicamente quelquer fonte de confusao ou snarquie. Ele é squiescente com Xengd, sempre que = forma da legalidede seja preservada’ Quarto Epieédd: “Estavs perta do dia do aniversério de Iemsnjé ¢ to dos oe orixée prepararam seus presentes, mas todo mundo sebe coma é Xangd... quando va alga que Ele quer, n30 descanse até conesgui-lo. éxi, qua era o pobre servente, n3o tinhe neds pere.dar 3 rainha 2 Preparau uma plantag3o de inhames parque Iemanjé a- gorava comer inher @ era a Gnica coisa que Ele po- deris lhe dar. Enta, anquanto todos eles prepare - vam seus presentes, Xengd, no sau afobamenta, nao se organizou pare comprer nada,.mas einda lembreve que ie ter o snivaredrio. Quendo © dia chegou, Exi colheu as inhames, os lavou e os deixou s0 eal para secar. Xangd pessou s imediatamente notou, e sua co bica cresceu sinde me: porque sabie quanto Teman- j4 gosteva da inhame. Ento, Ele se sproximoy de Ex e lhe pediu qu? desse os inhames para Ele dd- 108 como presente a Temanjé. Ex disse que era c d- nice presente que tinhs pers Ele, $$ que Ela ers 8 33, “painhe @ Ele sd um pobre servente. Entéo Xangd comg cou 9 preasions-lo, pedinds © pedindo ume 2 autre vez, até que Exi disse: "esta bem, vou te dar os inhames a5 se vocé me deixar senter & mosa e@ ser o primeiro @ comer". Xangd reepondeu: “sin, clara,nao tem problema, me d4 os inhames". Mas Exi, que conhg cia XengS muito bem, sereecentou: "nao § aesin tio simples coma vocS ests pensendo, eu quero sua pals vra por escrito", Portante Xengd, que sé pensave nos inhames, assinou o papel 2 pagou o presente.quen do Temanj4 recebu os inhames do Xangé, Ela diese que ere o melhor presente do mundo @ ficou emecions da. Meis tarde, quando 2 cerimania comegou, = mesa estava pranta ¢ todos os convidedos impartantes 6 tinha chagado, Exd antrou @ n3o teve divid. tou 3 moss. Iemanjé vaio imediatamente até onde Ele ac sen eetave, acompanhads por Orixelé, = mandou Exd leven tar-se: “retire-sa, retire-se, isto equindo 4 para vocé, veel coma dapois, cosa no Ge hora da voce comer, asta comida aqui pore ndsi"Has Ex respon deu “dz jeito nenhum, eu nao saio". & TemanjS dis- se: "VocS vai seir ager mesmo"... "nc, n3o vou, porque Xsng4, 9 rei, disse que eu iris comer pri- meio ns masa". Enta Lemanji disee "nde, voc’ nba pode” © mandou chemar Xangd. € Xangd disse: "néo,va c& vai ee levanter daqui imediatamante Xangd ha via pensads que aquilo njo passaria de conversa da ExG, @ que chegads = hora Ele mandarie 2 Exd shede- carie 9 que Ele dissasse. Mes Exd, entda, mostrando © papel assinado por Xeng3, dises: "nso, porque um roi nfo volte atrés ne sus palavra, olhem o que diz nosse papel!” $4 entSo Iemanjé cedeu 2, dasde entio, xd sompra cone primeirs (nse ritusis) pere sviter confusio; 9, desde entda, o aniversério de Iemanjé & celobrado coma a Fests do Iehame (que inicie o ci clo anual dos ritusis no Recife)". € por estas fetos, © cutros, que diz-se de Iemanjé 2 seus filhos: Bh. Eles Os filhos de Iemanjé tém maneiras muita polidas, mui- minuciosas, moderados, moraiistas. to persuasives e falem muito bem, sebam convencer. Sic muito mg didos, controlados. Pode-se penser que sao celmos ou que sao se guros demeis. Elee tém uma aimpetie especiel porque sabem como user as palavras epropriedas ao falar @ sebem como faler corretamen- te, fazendo vocé confier neles por essa razaa. Contudo, alguns deles, embora nao necessariamente todos, podem treir sua confi- ange. S80 muito servicsis e stentos, 2 isso encoraja as pes- soae a confier nales também. €les conhecem muits gente, fazem relacdes facilmente, mes nao fozem amigas. Quendo a gente olhe para um filho de Iemanjé, a gente suspeite que ele vai desprezar a gente, que ele vai ofender, pi sor om cima de gente, que ale vei sacar vantegem da ganta.A gen te pense que ele responde s6 por obrigacéo, por boss meneiras. Voed se eente incémodo, constrangida. Tem gente que sa retrei totalmente ne presence de um filho de Iemanj4, porque om frente dales & impossivel ser espon- . € diffeil se sentir & vontede; 4 dificil se sentir em confience com eles, porque eles tém "aque- taneo. Eles néo tim vibragi le queda", squele polimento. £ fé041 descobrir os filhos de Temanjé 8 primaire vis ta por sua meiguice. Eles tém boss mensiree e edo gentis, mes no sGo seponténoas. Iemanjé é meiga, mas nde tem verdadeirs ternure, No funds, sles 630 mai-humorados. 0 filhe que ele protege, na entento, nada tem de cui- dada formalidade da nde! Xengé & muite & vontade; nunce perde e oportunidade de enarquizer. Ele € frivolo e@ ngo leve nada = sério. A palavra de Xenga nao é conf: £ use sua asticia,mas nfo seu esfarcgo,pers agradé-la: Os filhos de Xango sa0 desleixades, folgedos, descansz dos, n3o ligam pare neds, nao sao de ir & luta para elcangar =1- guma coise ne vide. S30 covardes 9 avitam terefas ou situasoes complicedas ou perigosss.

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