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ESPACIALIZAÇÃO DA Q7,10, Q90% E Q95% VISANDO À GESTÃO DOS RECURSOS

HÍDRICOS: ESTUDO DE CASO PARA A BACIA DO RIO PARAÍBA DO SUL

1 2 3
Luiz Gustavo Nascentes Baena , Demetrius David da Silva , Fernando Falco Pruski , Maria Lúcia
4
Calijuri

RESUMO

A estimativa da disponibilidade hídrica em uma bacia é uma das informações mais importantes no
que diz respeito ao gerenciamento de recursos hídricos. A oferta de água superficial é, normalmente,
estimada através de vazões mínimas de referência, que representam as menores vazões das séries
históricas. Tendo em vista a necessidade de espacialização das vazões mínimas registradas em
postos fluviométricos, desenvolveu-se o presente trabalho, objetivando a determinação e
regionalização da vazão mínima com sete dias de duração e período de retorno de dez anos (Q7,10) e
das vazões associadas às permanências de 90 e 95% (Q90% e Q95%), a fim de disponibilizar
informações básicas para a outorga de uso da água no Rio Paraíba do Sul. A área de drenagem
caracterizou-se como a variável mais importante para a representação das variáveis regionalizadas,
sendo também utilizadas a densidade de drenagem e o comprimento do rio principal para a
regionalização da Q90% e Q95% e da Q7,10, respectivamente.

Palavras-chave: vazões mínimas, hidrologia, regionalização

ABSTRACT

Spatialization of the Q7,10, Q90% and Q95% for Using in the Water Resources Management: a Case
Study to the Paraíba do Sul Basin

The estimative of the water availability is extremely important in the management of the water
resources. The water available in a river is defined by the minimum discharge, which is, usually,
quantified by using historical series. The objective of this paper was to regionalize the seven-day
minimum discharge with a return period of ten years (Q7,10), as well as the discharges associated with
durations of 90 and 95% (Q90% and Q95%), in order to obtain a database to improve the water
management in the Paraíba do Sul basin. The drainage area was the most important variable for
representation of the regionalized variables. The drainage density (Q90% and Q95%) and the length of
the main river (Q7,10) were also significant for regionalization of the minimum discharge.

Keywords: minimum discharge, hydrology, regionalization

1
Doutorando em Engenharia Agrícola, Universidade Federal de Viçosa, UFV, Av. PH Rolfs, s/n, campus universitário,
36570-000, Viçosa, MG, (031) 3899-1904, e-mail: lbaena@ufv.br
2
Prof. Dr. Departamento de Engenharia Agrícola, Universidade Federal de Viçosa, UFV, Av. PH Rolfs, s/n, campus
universitário, 36570-000, Viçosa, MG, (031) 3899-2729, e-mail: david@ufv.br
3
Prof. Dr. Departamento de Engenharia Agrícola, Universidade Federal de Viçosa, UFV, Av. PH Rolfs, s/n, campus
universitário, 36570-000, Viçosa, MG, (031) 3899-1912, e-mail: ffpruski@ufv.br
4
Prof. Dr. Departamento de Engenharia Civil, Universidade Federal de Viçosa, UFV, Av. PH Rolfs, s/n, campus
universitário, 36570-000, Viçosa, MG, (031) 3899-3098, e-mail: calijuri@ufv.br.

24 Engenharia na Agricultura, Viçosa, v.12, n.1, 24-31, Jan./Mar., 2004


INTRODUÇÃO hidrologia é espacializar (regionalizar) essa
informação para toda a área de interesse.
O conhecimento da vazão mínima e de Esta regionalização de vazões, por sua vez,
sua distribuição temporal e espacial assume pode ser definida como um conjunto de
papel importante no planejamento regional, ferramentas que exploram, ao máximo, as
em setores como a geração de energia informações existentes, visando a estimativa
elétrica e navegação, bem como em projetos das variáveis hidrológicas (como vazões
setoriais de abastecimento, regularização mínimas), em locais sem dados ou com
artificial, outorga de uso da água, qualidade dados insuficientes (Tucci, 1997).
de água, estudos de autodepuração, na Em trabalho de regionalização para o Alto
diluição de efluentes em corpos d’água, São Francisco, com base em dados de 33
dentre outros. estações fluviométricas, Euclydes et al.
A outorga de direito de uso de recursos (2001) obtiveram resultados razoáveis para
hídricos é, atualmente, indispensável à vazões mínimas (Q7,10), utilizando dois
obtenção de licenciamento de diversas métodos de regionalização: equações de
atividades junto aos órgãos ambientais e regressão regionais e modelos de curva
obtenção de financiamentos. É, ainda, um regional (log-Gumbel). Os valores médios de
documento necessário para obtenção de r2, obtidos para as duas metodologias, foram
certificação de qualidade, quando se trata de 0,94 e 0,80, respectivamente. Silva et al.
empreendimento industrial. (2002a) realizaram estudo de regionalização
Em algumas bacias hidrográficas, de vazões para a bacia do Rio Itapicuru,
situadas na região nordeste do estado de localizada no estado da Bahia, com base no
Minas Gerais, já existem conflitos instalados método de equações de regressão
entre usuários irrigantes, em função da regionais, obtendo valores de r2 acima de
escassez de recursos hídricos em épocas 0,80, nas três regiões homogêneas
de estiagem. Em outras bacias como, por individualizadas na bacia.
exemplo, a bacia do Rio Paracatu, existem Tendo em vista a necessidade de
problemas de construções irregulares de regionalização de vazões mínimas,
barramentos, que impedem o fluxo normal desenvolveu-se o presente trabalho, cujo
das águas para os usuários de jusante. Na objetivo foi proceder à determinação e
maioria desses casos, a outorga de direito regionalização da Q7,10, Q90% e Q95%, visando
de uso tem sido o instrumento utilizado para fornecer informações básicas para a outorga
dirimir as questões, repartindo os recursos de uso da água no Rio Paraíba do Sul.
hídricos disponíveis entre os usuários e
regularizando os barramentos construídos
de forma irregular e clandestina.
MATERIAL E MÉTODOS
A legislação relativa à outorga para
utilização dos recursos hídricos superficiais
em cursos d’água, em alguns estados do A bacia hidrográfica do Rio Paraíba do
Brasil, estabelece como fluxo residual Sul abrange parte dos estados de Minas
mínimo a ser mantido a jusante das Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo, com
derivações uma porcentagem da Q7,10 área de drenagem de aproximadamente
(vazão mínima com sete dias de duração e 57.000 km2. O estudo foi realizado no trecho
período de retorno de 10 anos), da Q90% superior da bacia até às proximidades de
(vazão associada à permanência de 90% no Volta Redonda, cidade localizada no estado
tempo) ou da Q95% (vazão associada à do Rio de Janeiro.
permanência de 95% no tempo). A bacia do Rio Paraíba do Sul foi
Para ser efetiva, a estimativa da oferta de escolhida para realização do estudo, pois,
água superficial deve ser feita em toda a encontra-se numa região estratégica e bem
rede de drenagem da bacia. Entretanto, desenvolvida, cujo uso da água é intensivo.
como as vazões são geralmente medidas, Foram confeccionados 45 mapas digitais
apenas, em alguns pontos específicos na escala 1:50.000, a partir da base de
(postos fluviométricos), um dos desafios em dados do IBGE e do Ministério do Exército,

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sendo digitalizadas as curvas de nível e a densidade de drenagem (Dd). Foram,
hidrografia. Por meio da interpolação das também, utilizadas as seguintes
curvas de nível, realizada pelo software características de precipitação média: total
ArcInfo, obteve-se modelo digital de anual (Pa), semestre e trimestre mais secos
elevação hidrologicamente consistente (Pss e Pts).
(MDEHC), com resolução de 30 x 30 metros. A delimitação das bacias de drenagem de
A utilização do MDEHC visou à cada estação fluviométrica foi feita,
automatização na determinação das automáticamente, com base no MDEHC
características físicas, utilizadas no estudo obtido, bastando para isto a localização
de regionalização. exata de cada uma das estações. De posse
Para a realização do estudo, foram da delimitação da área de cada bacia,
utilizados dados fluviométricos e passou-se à determinação das diferentes
pluviométricos, pertencentes às redes da características físicas, usadas no estudo de
Agência Nacional de Águas (ANA) do regionalização. O cálculo da densidade de
Departamento de Águas e Energia Elétrica drenagem foi realizado, a partir da
do Estado de São Paulo (DAEE-SP) e da estimativa de variáveis primárias como a
Light Serviços de Eletricidade S.A. (LIGHT). área da bacia e o comprimento total dos
Após a obtenção dos dados, foi elaborado cursos d’água (Ltotal). Os cursos d’água
um diagrama de barras para as estações principais foram identificados como aqueles
fluviométricas e pluviométricas. Com base que drenavam a maior área, em suas
nas coordenadas geográficas de cada uma respectivas bacias. Para o cálculo da
das 41 estações fluviométricas disponíveis precipitação média sobre a bacia (no estudo
elaborou-se um mapa de localização das de regionalização, entende-se por bacia a
respectivas estações. área de drenagem de cada uma das
Na regionalização, utilizou-se o período estações fluviométricas) foi utilizado o
base de 1978 a 1997 sendo que, com base método do Polígono de Thiessen.
na análise do diagrama de barras e do mapa Foram utilizados dois critérios para
de localização, foram efetivamente identificação das regiões homogêneas:
selecionadas 30 estações fluviométricas. Os a) Critério baseado na análise da distribuição
dados fluviométricos de cada uma dessas de freqüência das vazões adimensionalizadas
estações foram analisados, quanto à de cada estação. Este princípio baseia-se no
continuidade entre as vazões de cada critério que as distribuições de freqüência
estação com as estações localizadas a das vazões mínimas das estações, em uma
montante e a jusante. região hidrologicamente homogênea,
O período-base adotado para os dados seguem uma mesma tendência, sendo as
pluviométricos foi o mesmo dos dados diferenças proporcionais à média das séries
fluviométricos, ou seja, 1978 a 1997. de vazões consideradas. Esta característica
Analisou-se, então, o diagrama de barras e permite que, ao obter séries transformadas
o mapa com a distribuição das 43 estações de vazões, por meio da divisão de seus
pluviométricas disponíveis, selecionando-se valores pelas respectivas médias, as
37 estações pluviométricas para o estudo de distribuições de freqüência dessas séries
regionalização. transformadas sejam idênticas.
Após a análise dos dados hidrológicos, b) Critério estatístico baseado na análise
àqueles inexistentes ou considerados do ajuste de modelo de regressão múltipla.
inconsistentes foram atribuídas falhas para Estabeleceram-se regressões múltiplas
posterior preenchimento. O preenchimento entre as séries de vazões mínimas e as
de falhas, tanto dos dados de vazão quanto diferentes características físicas e climáticas
de precipitação, foi realizado por meio de das bacias. As regiões hidrologicamente
correlações, segundo critérios consagrados homogêneas foram definidas em função da
de escolha de bases para regressões. distribuição geográfica das estações e da
As características físicas, utilizadas na combinação de estações, que apresentou o
regionalização, foram a área de drenagem melhor ajuste, avaliado por intermédio do
(A), o comprimento do rio principal (L) e a teste da função F, do coeficiente de

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determinação ajustado, do desvio padrão fatorial, resultados significativos pelo teste F
dos erros do ajustamento, também e menor número de variáveis independentes.
denominado erro padrão da estimativa, e Visando à regionalização da Q90% e da
dos erros percentuais (%dr) entre os valores Q95%, inicialmente, procedeu-se à obtenção
das vazões observadas e estimadas pelos da curva de permanência para cada uma
modelos de regressão, para cada uma das das 30 estações fluviométricas em estudo. O
regiões homogêneas. procedimento adotado para a obtenção da
Quando os dois critérios apresentaram curva de permanência foi o seguinte:
resultados satisfatórios, ou seja, valores • seleção, para cada estação, dos anos da
adequados para todos os parâmetros série histórica com mais de 95% dos
avaliados, a região foi definida como sendo dados diários de vazão, totalizando um
hidrologicamente homogênea para as mínimo de 347 dias. Os anos com menos
vazões mínimas; entretanto, nos casos em de 95% dos dados foram descartados da
que isso não ocorreu, houve a necessidade análise, para fins de obtenção da curva
de subdividir a região ou reorganizar as de permanência;
estações dentro das regiões e reiniciar o
processo. • definição de 50 intervalos de classe das
vazões diárias, sendo a subdivisão das
A vazão mínima com sete dias de classes feita com base na escala
duração foi regionalizada com um logarítmica, Equação 1, devido à grande
determinado nível de risco, ou seja, variação na magnitude das vazões
associada ao período de retorno (T) de 10 envolvidas. Na seqüência, utilizou-se a
anos. Após a seleção e análise de dados Equação 2 para calcular os limites dos
básicos, as séries anuais de vazões intervalos;
mínimas com sete dias de duração, para
cada estação, foram submetidas à análise
[ln (Q máx ) − ln (Q mín )] (1)
estatística para identificação do modelo ∆X =
50
probabilístico, que melhor se ajustasse aos
dados. Os modelos de distribuição de em que:
eventos mínimos ajustados foram: Log-
Qmáx= vazão máxima da série; e
Normal a dois e três parâmetros, Pearson III,
Log-Pearson III e Weibull. Qmín= vazão mínima da série.
A seleção da distribuição de
probabilidade ajustável a cada série histórica Qi +1 = exp[ln(Qi ) + ∆X ] (2)
foi efetuada, utilizando-se o teste de
aderência de Kolmogorov-Smirnov e o • determinação, com base nos dados de vazão
coeficiente de variação. Após a seleção da da série histórica de cada estação fluviométrica,
distribuição probabilística com melhor ajuste do número de vazões classificadas em cada
aos dados de vazões, foi obtido o valor da intervalo;
vazão mínima com sete dias de duração, • determinação da frequência (fi) associada ao
associada ao período de retorno de 10 anos. limite inferior de cada intervalo
De posse dos dados de vazões mínimas e
das características físicas (A, L, Dd) e de Nqi
fi = 100 (3)
precipitação média pluvial (Pa, Pss, Pts), NT
correspondentes às áreas de drenagem das
diferentes estações fluviométricas pertencentes em que:
a uma mesma região homogênea, foi aplicada a Nqi = número de vazões de cada intervalo; e
regressão múltipla à vazão mínima associada
ao período de retorno de dez anos. NT = número total de vazões.
Os melhores modelos resultantes da • obtenção da curva de permanência,
aplicação da regressão múltipla foram plotando-se, na ordenada, os limites
selecionados, observando-se os maiores inferiores dos intervalos de classe de
valores do coeficiente de determinação vazão e, na abscissa, a freqüência de
ajustado, menores valores de erro padrão ocorrência.

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A metodologia utilizada na regionalização dados das 30 estações fluviométricas
da Q90% e da Q95% compreendeu as apresentaram coeficientes de determinação
seguintes etapas: ajustados (R2a) insatisfatórios, com valores
• determinação da curva de permanência inferiores a 0,7. A bacia foi, então, dividida
de cada posto fluviométrico, conforme em mais regiões, baseando-se na
metodologia apresentada anteriormente; distribuição geográfica das estações, na
homogeneidade das características de
• determinação das vazões associadas a relevo e climáticas, nos coeficientes de
90 e 95% de permanência no tempo, a determinação das equações obtidas para
partir da curva de permanência obtida cada região e na dispersão dos valores
para as diferentes estações. observados, em relação aos estimados,
• estabelecimento das equações de pelos modelos de regressão selecionados
regressão para Q 90 e Q 95, com base para cada região homogênea.
nas características físicas e de Considerando-se todos os critérios
precipitação,correspondentes ao total citados anteriormente, foi necessário
anual, semestre e trimestre mais respeitar um número mínimo de estações
seco, para cada região homogênea. em cada região homogênea, pois, caso
contrário, a utilização de um número maior
de variáveis explicativas nos modelos de
RESULTADOS E DISCUSSÃO regressão múltipla testados seria impossível.
Procurou-se, então, não individualizar
regiões com menos que cinco estações
Com base no MDEHC gerado, verificou- fluviométricas, o que possibilitaria a
se que os valores das áreas de drenagem utilização de, pelo menos, duas variáveis
correspondentes às diferentes estações explicativas nos modelos de regressão.
fluviométricas variaram de 30,46 km 2 até Após diversas tentativas, foram identificadas
15.839,24 km 2, enquanto a densidade de quatro regiões hidrologicamente homogêneas
drenagem variou de 1,96 a 3,43 km km -2 e o para as vazões mínimas, na bacia do Rio
comprimento do rio principal de 15,08 a Paraíba do Sul (Figura 1).
898,31 km. Estes valores são altamente
influenciáveis pela escala dos mapas A distribuição probabilística que melhor
utilizados para a geração do MDEHC, que ajustou-se aos dados de vazão mínima foi
no presente trabalho foi de 1:50.000. a Log-Normal a três parâmetros, para as
Diversos pesquisadores (Silva, 2002a, Silva, quatro regiões homogêneas da bacia em
2002b, Baena, 2002, Euclydes, 2001), estudo, visto que apresentou significância
trabalhando com mapas na escala de a 20% de probabilidade, pelo teste de
1:250.000, obtiveram valores de densidade aderência de Kolmogorov-Smirnov, para
de drenagem variando de 0,17 a 0,88 km todas as estações, além de apresentar
km-2. valores baixos de coeficiente de variação.
As regiões hidrologicamente homogêneas O Quadro 1 apresenta, para o período
foram definidas baseando-se em dois critérios de retorno de dez anos, os modelos de
estatísticos: distribuição de freqüência em papel regressão recomendados para estimativa
probabilístico das vazões adimensionalizadas de da vazão específica mínima com sete dias
cada estação (critério 1) e ajuste de modelos de de duração (q7,10, m 3s-1km -2), em cada
regressão múltipla das vazões com as região homogênea.
características físicas e climáticas das áreas de Analisando os resultados apresentados,
drenagem de cada uma das estações observa-se uma satisfatória representação
fluviométricas (critério 2). da vazão específica mínima com o uso de
Inicialmente fez-se uma tentativa modelos, que contemplam, principalmente,
preliminar no sentido de reunir todas as a área de drenagem e o comprimento do
estações em uma só região. Entretanto, rio principal, além da precipitação do
todos os modelos de regressão resultantes semestre mais seco para a região
da aplicação da regressão múltipla aos homogênea I.

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Figura 1. Delimitação das regiões hidrologicamente homogêneas para vazões mínimas na
bacia do Paraíba do Sul, a montante do município de Volta Redonda.

Quadro 1. Modelos de regressão recomendados para a estimativa da vazão específica


mínima com sete dias de duração e período de retorno de dez anos (q7,10 –
m3s-1km-2) e parâmetros estatísticos a eles associados nas quatro regiões
hidrologicamente homogêneas

Modelos recomendados R2 R2a σF F(%)


Região I
q 7,10 = 5,84 x 10 -11 A 2,424025 L-3,02973 Pss 2,757435 0,97 0,95 1,33 0,170

Região II
q 7,10 = 0,009068 ln(A) − 0,01181ln(L) 0,93 0,91 0,00 0,049

Região III
q 7,10 = 0,002408 ln(A) − 0,00216 ln(L) 0,84 0,81 0,00 0,322

Região IV

q 7,10 = e (-4,73519 +0,000221 A - 0,00344 L ) 0,90 0,86 1,08 0,929

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O Quadro 2 apresenta os modelos de duas variáveis foi suficiente para um bom
regressão, recomendados para ajuste do modelo de regressão.
representação das vazões correspondentes Ainda assim, esta região apresentou os
aos níveis de permanência de 90 e 95% em menores valores de coeficiente de
cada região. determinação ajustado na regionalização da
Os resultados apresentados mostram curva de permanência (Quadro 2), fato este
que o melhor modelo, para todos os devido a esta região ter apresentado menor
níveis de permanência, foi o potencial, homogeneidade, não podendo ser melhor
utilizando área e densidade de drenagem, delimitada devido ao pequeno número de
sendo que na região homogênea IV, estações situadas na área.
somente a área de drenagem foi Ressalta-se, ainda, que houve a
suficiente para explicar o comportamento necessidade de manter um número mínimo
das vazões associadas a 90 e 95% de de estações, em cada região, para o ajuste
permanência. das equações de regressão múltipla, pois
Verifica-se também que, na Região I, foi uma quantidade pequena de estações em
necessário utilizar três variáveis para que o uma região reduziria o número de variáveis
ajuste se tornasse satisfatório, sendo que, independentes e possíveis de serem
para as outras regiões, o uso de somente inseridas nas equações de regressão.

Quadro 2. Modelos de regressão recomendados para estimativa das vazões


correspondentes a 90 e 95% de permanência (m 3 s-1) e parâmetros estatísticos a
eles associados, nas quatro regiões hidrologicamente homogêneas

2 2
Nível de permanência Modelos recomendados R Ra σF F(%)

Região I
90 Q 90 = 6,04 x 10 -7 A1,198713 Dd 8,896335 0,96 0,95 1,79 0,025
95 Q 95 = 3,58x 10 -7 A1,233528 Dd 9,087540 0,96 0,95 1,87 0,030
Região II

90 Q 90 = 0,000173 A1,183859 Dd 2,769613 0,99 0,99 1,26 0,002


95 Q 95 = 0,000127 A1,203683 Dd 2,807423 0,99 0,99 1,34 0,004
Região III

90 Q 90 = 0,000396 A1,201079 Dd1,712265 0,99 0,99 1,23 0,001


95 Q 95 = 0,000365 A1,210197 Dd1,602552 0,99 0,99 1,27 0,002
Região IV

90 Q 90 = 0,012484 A1,006339 0,99 0,99 1,08 0,000


95 Q 95 = 0,009124 A1,033302 0,99 0,99 1,10 0,000

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CONCLUSÕES Dissertação (Mestrado em Engenharia
Agrícola).
A análise dos resultados permitiu concluir
EUCLYDES, H.P., FERREIRA, P.A., RUBERT,
que:
O.A., SANTOS, R.M. Regionalização hidrológica
• a distribuição Log-Normal a três na bacia do Alto São Francisco a montante da
parâmetros foi a que melhor representou barragem de Três Marias, MG. Revista
as séries de vazões mínimas; Brasileira de Recursos Hídricos, vol. 6 (2): 81-
• a área de drenagem caracterizou-se 105.
como a variável mais expressiva para a
representação da Q7,10, Q90% e Q95%; SILVA, D. D. et al. Regionalização de
vazões para a Sub-Bacia 51. Brasília:
• além da área de drenagem, a densidade
ANEEL; Viçosa: UFV, 2002a. 207p.
de drenagem foi importante para a
regionalização da Q90% e Q95% e o
SILVA, D. D. et al. Regionalização de
comprimento do rio principal para a
regionalização da Q7,10; e vazões para a Sub-Bacia 52. Brasília:
ANEEL; Viçosa: UFV, 2002b. 138p.
• a regionalização permitirá a obtenção de
informações básicas para a outorga de TUCCI, C. E. M. Regionalização de vazões. In:
água, na bacia do Rio Paraíba do Sul. TUCCI, C. E. M. (Org). Hidrologia: ciência e
aplicação. Porto Alegre: Ed da Universidade/
ABRH/EDUSP, 1997, cap.1.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BAENA, L.G.N. Regionalização de vazões


para a bacia do Rio Paraíba do Sul, a
montante de Volta Redonda, a partir de
modelo digital de elevação hidrologicamente
consistente. Viçosa, MG: UFV, 2002. 135 p.

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