Textos para orientarem o Estudo Dirigido: As neuropsicoses de defesa”, “Neurose e
psicose”, “A perda da realidade na neurose e na psicose”, “O caso Schreber”.
Estudo dirigido - Como elaborar?
Estudo Dirigido é, na verdade, um entendimento do texto. Por isso, exige do aluno
leitura prévia – com atenção – de todo texto. Tendo como base o Caso Schreber e os textos de Freud sobre neurose e psicose, o aluno deverá escrever o ESTUDO DIRIGIDO, a partir dos tópicos abaixo. Tamanho do estudo dirigido: mínimo de 2 e máximo de 4 laudas.
1 - Quais as diferenças, apontadas por Freud, nos mecanismos de defesa
encontrados na neurose e na psicose?
Segundo Freud, na neurose, o Ego suprime o Id por influência da realidade,
assim, há o recalque e o fracasso do mesmo, onde ocorre um afrouxamento da relação com a realidade. Dessa forma, a neurose não repudia essa realidade, apenas a ignora através da fantasia, em busca de uma forma proteção.
Por outro lado, na psicose, o Ego é afastado de um fragmento da realidade e,
para reparação desse dano, é criada uma nova realidade que se apresenta através dos delírios e alucinações. Com isso, a psicose repudia a realidade e tenta substituí-la.
2 - Quais as diferenças entre neurose e psicose, no que diz respeito à realidade?
A neurose e a psicose se diferenciam mais na sua primeira reação introdutória.
Em primeira instância, na neurose, o fator que predomina é a realidade, podendo haver uma perda desta. Aqui o Eu, dependente e a serviço da realidade, suprime uma parte da satisfação a recalcando, sendo assim, compreendemos que a neurose não repudia a realidade, ela a ignora. Dessa maneira, percebe-se que abre mão da satisfação/desejo pela realidade, já que depende dela. Já na psicose, o fator que predomina é a pulsão, o Eu a serviço da satisfação, se afasta de um fragmento da realidade e assim evita a perda, quando esse fragmento da realidade é remodelado, a psicose a repudia, tentando substituí-la de alguma forma.
Em segunda instância, a neurose e a psicose expressam uma rebelião por meio do
Id contra o mundo externo, colocando em pauta sua indisposição ou até incapacidade de se adaptar ao que a realidade exige. A psicose se destina a reparar a perda da realidade, por meio da criação de uma nova que se difere da antiga, a qual foi abandonada, essa podendo ser por forma de delírios e/ou alucinações, sendo uma tentativa de cura. Esse processo da neurose e da psicose é muito parecido e está apoiado pelas mesmas tendências.
3- Localize, no caso Schreber, o desencadeamento da psicose, destacando os
fenômenos de automatismo mental, automatismo corporal e os fenômenos concernentes ao sentido e à verdade.
No caso abordado, Schreber foi nomeado como juiz presidente do Tribunal de
Apelação no mês de junho, tomando posse de seu cargo em outubro e no mês seguinte foi internado na clínica de Leipzing. O desencadeamento da psicose se dá a partir da apresentação de Schreber como candidato à eleição, tendo em vista que para ele foi algo insuportável. O fenômeno elementar ocorre após um sonho que ele teve, em que ele pensa: “como deve ser bom ser uma mulher no ato da cópula”. Esse sonho o levou a uma ideia de rejeição e indignação, como se estivesse com plena consciência.
Dessa forma, o fenômeno de automatismo mental é a irrupção de vozes, de
discursos alheios na mais íntima esfera psíquica, ficando mais evidente quando a psicose já desencadeou. Provém de influência externa sobre o sujeito (alucinações e/ou delírios). No caso Schreber é possível perceber algumas ideações de perseguição, alucinações visuais e auditivas. Isso ocorre em: “Raios de Deus não raramente julgaram-se no direito de zombar de mim, chamando-me de ‘Miss Schreber’, em alusão à emasculação que, segundo se afirmava, achava-me a ponto de sofrer.’ Ou então diziam: ‘Então isso declara ter sido um Senatspräsident, essa pessoa que se deixa ser f.… a!’ Ou, ainda: ‘Não se sente envergonhado, na frente de sua mulher?” (FREUD, p.14, 1911). O chamado fenômeno de automatismo corporal é a sensação de decomposição, desmembramento e estranheza do próprio corpo, além da distorção temporal. No caso Schreber, pode-se perceber nas idéias hipocondríacas, e também na ideia de que seu cérebro estava amolecendo, que morreria cedo ou que já estava morto e em decomposição, como é retratado em “considerando o enorme número de idéias delirantes de natureza hipocondríaca que o paciente desenvolveu, talvez não se deva dar grande importância ao fato de algumas delas coincidirem, palavra por palavra, com os temores hipocondríacos dos masturbadores.” (FREUD, p.35, 1911).
Para concluir, quanto aos fenômenos concernentes ao sentido e a verdade é o que
se chama de expressões de sentido ou significação pessoal, ou seja, é quando o sujeito diz que pode ler, no mundo, signos que eles são destinados, e que trazem uma significação que não pode precisar. No caso Schreber é possível perceber esse fenômeno em: “A parte mais essencial de sua missão redentora é ela ter de ser procedida por sua transformação em mulher. Não se deve supor que ele deseje ser transformado em mulher; trata-se antes de um ‘dever’ baseado na Ordem das Coisas, ao qual não há possibilidade de fugir, por mais que, pessoalmente, preferisse permanecer em sua própria honorável e masculina posição na vida. Mas nem ele nem o resto da humanidade podem reconquistar a vida do além, a não ser mediante a transformação em mulher (processo que pode ocupar muitos anos ou mesmo décadas), por meio de milagres divinos.” (FREUD, p.10, 1911).
REFERÊNCIA
FREUD, Sigmund. NOTAS PSICANALÍTICAS SOBRE UM RELATO
AUTOBIOGRÁFICO DE UM CASO DE PARANÓIA (DEMENTIA PARANOIDES). In: FREUD, Sigmund. O caso Schreber, Artigos sobre Técnica e outros trabalhos. 1911. Disponível em: https://conexoesclinicas.com.br/wp- content/uploads/2015/01/freud-sigmund-obras-completas-imago-vol-12-1911-1913.pdf. Acesso em: 29 mar. 2022.