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O ser humano é absolutamente livre. Mas isso não é tão simples -e agradável- quanto
parece
Segundo o filósofo, antes de tomar qualquer decisão, não somos nada. Vamos nos
moldando a partir das nossas escolhas. Toda essa liberdade resulta em muita angústia.
Essa angústia é ainda maior quando percebemos que nossas ações são um espelho para a
sociedade. Estamos constantemente pintando um quadro de como deveria ser a sociedade
a partir das nossas ações — o curioso é que o próprio Sartre era viciado em anfetaminas,
ou seja, não foi exatamente um exemplo de conduta. Defendia que temos inteira liberdade
para decidir o que queremos nos tornar ou fazer com nossa vida.
A má-fé seria mentir para si mesmo, tentando nos convencer de que não somos livres. O
problema é que nossos projetos pessoais entram em conflito com o projeto de vida dos
outros. Eles, os outros, tiram parte de nossa autonomia. Por isso, temos de refletir sobre
nossas escolhas para não sair por aí agindo sem rumo, deixando de realizar as coisas que
vão definir a existência de cada um.
Ao mesmo tempo, é pelo olhar do outro que reconhecemos a nós mesmos, com erros e
acertos. Já que a convivência expõe nossas fraquezas, os outros são o “inferno” — daí a
origem da célebre frase do pensador francês.
Em uma França devastada, após o final da 2ª Guerra, liberdade não era exatamente a
palavra do momento. Mas as ideias de Sartre inspiraram toda uma geração de ativistas,
como os revolucionários de Paris, em maio de 1968, que ajudaram a derrubar o governo
conservador francês. O filósofo ficou conhecido também pela sua relação com Simone de
Beauvoir, outra ilustre filósofa existencialista. Ela foi sua companheira de toda a vida,
apesar de nunca terem firmado um compromisso....
Sartre morreu como um filósofo pop. Em 15 de abril de 1980, mais de 50 mil pessoas
foram ao seu funeral.
Tatiana Pronin
Ainda que seja inteligente, talentoso e brilhante no que faz, reage como uma criança ao se
relacionar com os outros e com as próprias emoções — o que os psicanalistas chamam de
"ego imaturo". Em muitos casos, o transtorno fica camuflado entre outros, como o bipolar,
a depressão e o uso abusivo de álcool, remédios e drogas ilícitas.
O diagnóstico é bem mais frequente entre as mulheres, mas estudos sugerem que a
incidência seja igual em ambos os sexos. O que acontece é que elas tendem a pedir mais
socorro, enquanto os homens são mais propensos a se meter em encrencas, ir para a
cadeira ou até morrer mais precocemente por causa de comportamentos de risco. Quase
sempre o transtorno é identificado em adultos jovens e os sintomas tendem a se tornar
atenuados com o passar da idade.
A personalidade envolve não só aspectos herdados, mas também aprendidos, por isso a
melhora é possível, ainda que seja difícil de acreditar no início. Se a psicoterapia é
importante para ajudar o bipolar a identificar uma virada e evitar perdas, no transtorno de
personalidade ela é o carro-chefe do tratamento.
TÉDIO: A MISSÃO
Se você está lendo essa revista agora é só porque seus antepassados sentiram medo,
muito medo. Não fosse por isso, a espécie humana já teria desaparecido da face da Terra
há muito tempo. É o medo, dizem os cientistas, que nos coloca em estado de alerta e nos
prepara para lutar ou fugir diante de uma ameaça, seja ela real ou imaginária. Mas e o
tédio? Para que serve? Onde vive? Do que se alimenta? “Se o medo nos ajuda a evitar o
perigo, o tédio nos encoraja a explorar novos territórios”, explica a psicóloga britânica
Sandi Mann, da Universidade de Lancashire, no Reino Unido, uma das poucas cientistas
especialistas no assunto: “Se nossos antepassados não tivessem sentido tédio, a
humanidade não teria realizado inúmeras façanhas”.
Sandi prova o que diz no estudo Being Bored at Work Can Make Us More Creative (Sentir-
se Entediado no Trabalho Pode nos Tornar Mais Criativos, livre tradução), publicado na
revista British Psychological Society. Primeiro, ela submeteu um grupo de 40 voluntários a
uma atividade para lá de maçante: copiar, por 15 minutos, uma extensa lista de números
telefônicos. Um segundo grupo, com a mesma quantidade de participantes, foi poupado
dessa tarefa inglória. Depois, Sandi solicitou às duas turmas que bolassem o maior número
possível de usos para dois prosaicos copos plásticos. Resultado: o grupo submetido à
tarefa enfadonha saiu-se melhor no teste. “O tédio é um excelente aliado da criatividade”,
assegura.
Zuenir Ventura – Eu acho tudo isso melhor do que não escrever e melhor do que não ler,
mesmo sabendo da precariedade do texto. É melhor porque você se habitua a ler e
amanhã lerá outras coisas. Recentemente, li sobre o episódio de um jovem que mal sabia
escrever e começou a ficar isolado de sua turma porque todo mundo se comunicava via e-
mail. Ele ficou desesperado e aprendeu a escrever para passar e-mails para os colegas da
turma. Então, é melhor assim do que se não houvesse nada. Mas é claro que isso não pode
ser um processo pernicioso, ou seja, a gente não pode reduzir o mundo a 140 toques. Tem
coisa que pode ser escrita em 140 toques, outras não. Eu também acho que a grande
reportagem não é necessariamente uma reportagem grande, mas apenas há assuntos que
necessitam de mais espaço, de mais tempo, de mais apuração, ou seja, a diferença de uma
matéria está em como foi feita a pesquisa, a apuração, o trabalho com o texto. Por que as
matérias de jornalismo literário são melhores? Porque se tem mais tempo para trabalhar,
mais espaço e isso exige uma qualidade maior na feitura do texto.
Adaptado de: https://revistacult.uol.com.br/home/o-jornalismo-doseculo- 21/. Acesso em:
16 jan. 2021.
DOCE
___Lembrasse antes quanto tempo gastaria na beira do fogão mexendo o doce de abóbora
e Maria talvez nem tivesse começado. Mas não é assim que funciona, a coisa vem de trás
pra frente: primeiro o gosto no fundo da lembrança, na garganta, daí a saliva na língua.
Depois, o cheiro de algo que nem recordava parece que está aqui, dentro das narinas. Os
ingredientes, todos comprados, a panela na mão. Só na hora de mexer o doce é que a
gente lembra, com esse misto de cansaço e tristeza, que o doce é feito de mexer o doce. É
feito do braço girando, girando, o outro braço solto escorado na anca, o peso do corpo
passando da perna de cá pra de lá.
___O doce já começado é doce inteiro na imaginação, não tem volta. E Maria nunca foi de
voltar atrás, mesmo com o que era bom só na primeira mordida e depois deixava um
retrogosto amargo – na boca ou no jeito de olhar. Maria que nem puxa-puxa, presa às
escolhas e caminhos e ao que por vezes não foi tão escolha quanto foi acaso.
___Bem que às vezes queria ser pássaro solto, escolher caminhos. A cozinha fica pequena
da falta que voar livre faz, as paredes suam. Tudo o que é sonho vai evaporando do seu
corpo, a pele fica grossa, dura. O açúcar carameliza angústias. E Maria pensa se não seria
melhor ter virado cambalhota por sobre um ou outro acontecimento, em vez de vivê-los
todinhos.
___O marido mesmo. Ela cansava de topar com ele encostado no sofá, vendo TV. Ia de um
canal para o outro, como se não estivesse ali. Queria que estivesse. Que contasse uma
bobagem que aconteceu no trabalho ou na rua, que atentasse ao gosto novo no doce que
ela fez, “cê colocou coco?”, “que cheiro diferente, que foi que cê botou aí?”, qualquer coisa.
Qualquer coisa que fizesse com que os dois parecessem vivos, que parecessem ligados,
nem que pelo diferente do hoje no doce sempre igual.
___Tomasse uma atitude agora, talvez a coisa toda desembrulhasse diferente. Ela botaria
uma roupa bonita e dançaria pela casa, pintaria a cara toda faceira e vibrante e mostraria
para ele que ainda era mulher, poxa vida, ainda sou bem mulher! [...]
___Também podia ir embora, pegar as meninas e as próprias coisas e voltar para a casa da
mãe. Ou podia queimar esse doce, derrubar panela, fazer escândalo. Pedir tenência, uma
mudança, alguma coisa que mostrasse que ainda estava viva, viva! Vibrante como esse
cor-de-laranja borbulhando na panela. [...]
PRETTI, Thays. A mulher que ri. São Paulo: Editora Patuá, 2019.
Saúde mental em tempos de pandemia
O ser humano tende a buscar prazer em todas as suas vivências. No entanto, momentos
ruins fazem parte da vida e precisam ser vividos. Vivências negativas não são totalmente
deletérias: pessoas que estão passando por momentos de estresse tendem a ajudar mais
os outros e valorizam muito mais as relações interpessoais. Essas relações sociais podem
contribuir para que a prevenção do adoecimento mental aconteça, podendo fazer parte de
um mecanismo chamado resiliência.
Considerando o contexto atual de pandemia, essa relação, que é tão importante, para o
ser humano pode ser fragilizada pela mudança abrupta da rotina e por reações emocionais
inerentes ao momento. Dessa forma, a qualidade dos relacionamentos precisa ser
valorizada. Problemas individuais devem ser levados em consideração, uma vez que
respostas afetivas como a ansiedade e o medo podem nos tornar mais irritáveis e
impulsivos.
Agressividade
Todavia, o estado emocional do outro também precisa ser levado em consideração, por
isso a leitura do ambiente é fundamental. Sinais de estresse podem ser expressos pela
pessoa com quem dividimos o convívio como alterações de sono, apetite, irritabilidade e
tristeza.
Diálogo
A abordagem não empática desse sofrimento pode desgastar ainda mais as relações
interpessoais, justamente quando mais precisamos delas. Oferecer ajuda com diálogo
aberto e uma visão menos estigmatizada do sofrimento mental, pode ser um grande passo
para uma relação saudável.
Em virtude dos fatos mencionados, entende-se que a relação familiar é um elemento
importante em tempos de pandemia, todavia, estratégias de cuidado e leitura emocional
do outro e de si mesmo podem determinar a qualidade e a força dessa relação como um
aspecto estrutural da saúde mental. Afinal, saúde mental pode começar pelo olhar
acolhedor daqueles que tanto amamos.
Disponível em: https://www.otempo.com.br/opiniao/artigos/saudemental- em-tempos-de-
pandemia-1.234535. Acesso em: 04 dez. 2020.
Ricardo Moreno – Depressão é uma doença que tem como base uma disfunção química
do cérebro, ou seja, os sistemas de neurotransmissão são comprometidos. Ela se
caracteriza por uma série de sinais e sintomas. Ela tende a recorrer ao longo da vida e tem
uma série de prejuízos em vários níveis. Depressão não é tristeza, não é uma reação
emocional a um evento qualquer.
Ricardo Moreno – Não. Isso é uma coisa que se fala há muito tempo, principalmente
algumas vertentes interpretativas, mas a depressão não pode ser causada por fatores
sociais. O que nós sabemos das causas da depressão: primeiro, há uma causa genética –
40% dos pacientes com depressão têm um fator genético envolvido. Mas não é somente o
componente genético, tem de haver um componente psicossocial e psicológico. O que se
sabe é que indivíduos que têm predisposição a ter depressão, quando submetidos a
estresse, físico ou psicológico, podem ou não desenvolver a doença, dependendo da
vulnerabilidade genética que eles têm e a capacidade psicológica de lidar com o estresse.
Porque elas evoluíram para fugir com eficácia – não fique triste, o seu fracasso está dentro
da média. O primeiro trunfo da mosca é a facilidade com que identifica uma ameaça se
aproximar: seus olhos são formados por cerca de 3 mil pequenos componentes chamados
omatídeos, que lhe dão quase 360° de visão periférica. Além disso, o inseto tem sensores
que detectam pequenas perturbações no ar ao seu redor. Aí é só pôr em prática o plano
de fuga: em 100 milissegundos – o tempo de um piscar de olhos –, o bichinho identifica a
direção da qual vem o tapão e move suas pernas de modo a decolar na direção oposta.
Uma vez no ar, a mosca bate as asas 220 vezes por segundo, e usa estruturas peculiares no
tórax – chamadas de halteres ou balancins – para mudar de direção rapidamente sem
perder estabilidade. Da perspectiva dela, um sapiens é grande (e lento) demais para
alcançar a mesma agilidade.
Fonte: VAIANO, Bruno. Oráculo. Revista Super Interessante, n. 424, p. 58, fev/2021.
Vivemos numa sociedade que cobra perfeição na vida pessoal e profissional, e as pessoas
se sentem cada vez mais exigidas.
Será que todos os que se manifestam sobre qualquer assunto estão devidamente
preparados para utilizar devidamente os modernos canais de comunicação?
Danillo Saes
De meros mortais que até então era como éramos tratados pela grande mídia, como
depósitos de informações – certas ou erradas, boas ou ruins, favoráveis ou contrárias –,
passamos a ser também protagonistas através do “poder” que a tela de um dispositivo
móvel nos dá. É incrível e, ao mesmo tempo, muito preocupante. Será que todos os que se
manifestam sobre qualquer tipo de assunto estão devidamente preparados para isso? Será
que têm bagagem suficiente para criticar? Os ditos “influenciadores” realmente têm o
espírito crítico necessário unido à sua responsabilidade de “influenciar” ao publicar seus
posicionamentos? São provocações, indagações, não afirmações.
Quando nos deparamos com as famosas fake news, por sermos ativos através das
plataformas sociais, assumimos uma parcela (grande) de responsabilidade ao disseminá-
las. Ao receber aquela notícia através do WhatsApp, ou aquele áudio que afirmam ser de
uma determinada figura pública e, com nosso “dedinho ansioso”, compartilhamos o
conteúdo em grupos com o intuito de dar “furos de reportagem” que até então eram coisa
apenas de jornalistas, damos nosso aval àquela informação.
As pessoas que criam as fake news não estão isentas de responsabilidades – pelo
contrário. O que desejo é provocar o leitor a desenvolver seu senso crítico diante da
informação que se consome e, com isso, não tomar como verdade tudo aquilo que o
impacta. O mesmo “poder” que a tecnologia nos dá para disseminar informações também
nos proporciona a possibilidade de investigá-las, contestá-las, analisá-las. No entanto,
investigar, contestar e analisar é trabalhoso, exige esforço de pensamento e queima de
fosfato.
Junto às fantasias prometidas pela tecnologia, vieram os efeitos colaterais. No fim de 2016,
a American Academy of Pediatrics divulgou um estudo bem amplo sobre os efeitos das
mídias digitais (frequentemente difundidas por meio de smartphones) sobre crianças e
adolescentes.
Na longa lista de problemas, velhos conhecidos de pais e mães: efeitos negativos sobre o
sono, a atenção e o aprendizado; relação preocupante com a obesidade e a depressão;
exposição a conteúdos inadequados; e riscos relacionados à privacidade.
Diversos outros estudos revelam que o uso dos smartphones rouba horas do dia de
trabalho. Seus sinais visuais e sonoros constantes interrompem fluxos de raciocínio e
prolongam desnecessariamente o tempo de realização de atividades.
Janeiro branco: campanha chama atenção para saúde mental dos brasileiros
Projeto de psicólogo pega carona no começo do ano para estimular pessoas a
refletirem sobre seu bem-estar emociona
Marilia Marasciulo
O Brasil está no 11º lugar do ranking de países mais ansiosos do mundo: são 13,2 milhões
de pessoas com algum transtorno de ansiedade por aqui. E nós já fomos os primeiros
dessa lista. Dá para entender, portanto, porque o psicólogo mineiro Leonardo Abrahão
decidiu criar, em 2014, a campanha Janeiro Branco. O objetivo é chamar atenção para a
saúde mental e promover conhecimento e compreensão sobre temas como depressão,
ansiedade e fobias.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), uma a cada quatro pessoas vai sofrer
com algum transtorno mental durante a vida. Só a depressão afeta mais de 300 milhões de
pessoas em todo mundo e é a principal causa de incapacidade. Mesmo assim, ainda de
acordo com a OMS, os investimentos dos países no tratamento não correspondem à alta
demanda.
Um dos principais focos da campanha — que conta com palestras, rodas de conversa,
distribuição de folhetos informativos, entre outras ações em diferentes estados brasileiros
— são os jovens. De acordo com os idealizadores, nos últimos três anos o número de
atendimentos no SUS a jovens com depressão aumentou 118%.
A escolha do mês de janeiro não é por acaso: o período de fim de ano e início de um novo
pode causar ou aumentar a ansiedade pela frustração de não ter cumprido metas ou
anseio por mudanças. Embora seja liderada por psicólogos e outros profissionais da área, a
ideia é que, aos poucos, uma cultura da saúde mental seja fortalecida e disseminada na
sociedade brasileira, com desmistificação de crenças populares sobre o assunto.
Disponível em:<https://revistagalileu.globo.com/Ciencia/Saude/noticia/2020/01/janeiro-
branco-campanha-chama-atencao-para-saude-mental-dos-brasileiros.html>. Acesso em:
13 jan. 2020.
Se é reversível, se joga!
Aline Gomes
Quem me conhece sabe que eu sou a princesa dos ditados, porque a rainha é minha mãe,
temos um ditado pra maioria das situações, e quando não temos um inventamos um
nosso. E eu vou criar pra gente começar bem nosso colu-papo: Se é reversível vai sem
medo, se não é pensa mais 2 minutos e vai com medo mesmo. Tá, mas por que que tô
dizendo isso?! Senta que lá vem história!
Desde criança sempre gostei de música, eletrônica, natureza e de consertar qualquer coisa,
cantei na igreja, alguma coisa dentro de mim me dizia que seria cantora, escolhi aprender
a tocar violão ao invés de inglês, dentre várias decisões fazer computação foi uma delas. É
interessante como a decisão da sua formação é tratada como um definidor de que tipo de
pessoa você vai ser, é como se isso te colocasse numa caixinha intransferível pra sempre.
No meio desse turbilhão de incertezas que estamos vivendo, tenho acompanhado minha
sobrinha definir qual curso ela vai fazer, eu já disse logo pra ela, amada infelizmente nessa
não posso te ajudar muito, pois quando eu tive que fazer isso o Brasil era outro lá em
2006. Ter que falar isso pra ela no nosso primeiro papo, me fez ficar bem reflexiva sobre
essa parada de escolher um curso/profissão. Foi dai que comecei a pensar e a observar
melhor todas as pessoas com quem trabalho que fizeram migração de carreira e, vou te
falar, com certeza temos muito que aprender com elas, que sangue no olho é o que não
falta. [...]
Já faz um tempo que a tecnologia deixou de ser sobre máquinas. É sobre pessoas e suas
experiências transformadas em produtos de software, e pra mim quanto mais gente vinda
de todas as áreas estiverem envolvidas nisso, mais rica, acessível, inclusiva, bonita e
cheirosa será a tecnologia.
E depois de refletir sobre migração de carreira entendi que o dilema de escolher um curso
não precisa ser tão doloroso porque, como diz o meu ditado, se é reversível se joga,
porque enquanto for possível estar aqui, é possível tomar novos caminhos, aprender novas
coisas, carreiras e pessoas. Eu corri pra compartilhar essa minha conclusão com a minha
sobrinha e agora com você, desejo aí coragem e leveza por que o que é reversível a gente
sempre vai dar um jeito. A tecnologia precisa disso tudo que você já sabe.
Primeiro, não devemos confundir nossos sonhos com fantasias. Um sonho é um projeto
que nos anima, como estudar algo novo, comprar um carro ou ter um filho. Pode ser mais
ou menos ambicioso, mas nos impulsiona a nos esforçar para conseguir realizá-lo. Já uma
fantasia é algo que vive em nossa mente, que gostamos de imaginar, mas que, no fundo,
sabemos que nunca vamos dedicar muita energia para alcançá-lo. [...] Dar a volta ao
mundo, viver nas ilhas paradisíacas do Pacífico ou se tornar diretor de cinema em
Hollywood poderiam ser alguns exemplos. Aprender a diferenciar os sonhos das fantasias
nos faz ser honestos conosco mesmos e nos alivia da pressão de conseguir estas últimas,
das quais, insistimos, não necessitamos.
[...] Quando não sabemos o que queremos ou não temos um sonho claro, podemos fazer
várias coisas. Por um lado, podemos recuperar sonhos do passado como forma de
inspiração. A adolescência é uma época muito frutífera de ideias. Valeria a pena lembrar
do que gostávamos ou o que nos animava. O objetivo não é realizar os sonhos ao pé da
letra. Talvez tenham ficado um pouco desatualizados ou, simplesmente, sejam impossíveis
de alcançar, como se queríamos ser astronautas e agora temos 40 anos. Os velhos sonhos
atuam como faróis, não são cartas de navegação, daí a importância de recuperá-los.
Retomando o exemplo anterior do astronauta, obtemos informações sobre nós mesmos.
Com esse exercício simples, lembramos que gostávamos de aventuras ou de estudar as
estrelas. Dessa forma, podemos nos matricular em um curso de astronomia, comprar um
telescópio ou acessar os recursos da NASA para conhecer mais a respeito. E você, o que
gostava de fazer quando era mais jovem? O que pode extrair daquilo?
Outra forma de nos orientarmos é pensar naquilo que não queremos. Talvez este exercício
não seja tão atraente quanto imaginar a si mesmo no futuro, mas é um passo válido. O
que eu quero parar de fazer? Pode ser no âmbito pessoal ou profissional, como evitar me
irritar por alguma coisa, não continuar neste trabalho ou manter uma amizade.
Quando estamos em uma dúvida profunda sobre o que fazer ou quais são nossos sonhos,
temos outra opção: refletir sobre com quem gostaríamos de parecer, mesmo que seja um
personagem de ficção. Mais uma vez, isso funciona como farol, mas volta a nos dar pistas
sobre nós mesmos. Com este exercício, podemos tirar conclusões que nos ajudem a
aterrissar na realidade e a definir objetivos concretos.
Vida útil dos produtos está cada vez mais curta com a obsolescência programada
Por Luiza Ester
80% dos brasileiros não buscam assistência técnica e 46% preferem comprar novos
aparelhos a consertar os velhos. De acordo com estudo, dentre os aparelhos mais usados
pelos brasileiros, o celular é o que tem menor durabilidade, com uma vida útil de, em
média, três anos.
[...]
Mas como os fabricantes conseguem diminuir a vida útil dos aparelhos? Segundo o
professor Geneflides Silva, 48, mestre em Informática Aplicada, a transformação provém da
crescente evolução tecnológica e, consequentemente, da busca por inovação. “As
pesquisas científicas permitem cada vez mais um conhecimento das propriedades físicas e
químicas dos componentes, ocasionando um controle quase que absoluto do
comportamento desejado de tais substâncias. Desta forma, este domínio permite aplicar
na fabricação e durabilidade dos dispositivos”, afirma.
Nos dias de hoje, quando se fala do trabalho, é de bom-tom considerá-lo a priori como
uma fatalidade. Uma fatalidade socialmente gerada. E, de fato, é preciso reconhecer que a
evolução do mundo do trabalho é bastante preocupante para os médicos, para os
trabalhadores, para as pessoas comuns apreensivas com as condições que serão deixadas
a seus filhos em um mundo de trabalho desencantado.
E, no entanto, no mesmo momento em que devemos denunciar os desgastes psíquicos
causados pelo trabalho contemporâneo, devemos dizer que ele também pode ser usado
como instrumento terapêutico essencial para pessoas que sofrem de problemas
psicopatológicos crônicos. No que concerne à visão negativa, é preciso distinguir o
sofrimento que o trabalho impõe àqueles que têm um emprego do sofrimento daqueles
homens e mulheres que foram demitidos ou que se encontram privados de qualquer
possibilidade de um dia ter um emprego.
Há, portanto, situações de contraste. Surge inevitavelmente a questão de saber se é
possível compreender as diversas contradições que se observam na psicodinâmica e na
psicopatologia do trabalho. Isso só é possível se defendermos a tese da “centralidade do
trabalho”. Essa tese se desdobra em quatro domínios:
• no domínio individual, o trabalho é central para a formação da identidade e para a saúde
mental,
• no domínio das relações entre homens e mulheres, o trabalho permite superar a
desigualdade nas relações de “gênero”. Esclareço que aqui não se deve entender trabalho
apenas como trabalho assalariado, mas também como trabalho doméstico, o que
repercute na economia do amor, inclusive na economia erótica,
• no domínio político, é possível mostrar que o trabalho desempenha um papel central no
que concerne à totalidade da evolução política de uma sociedade,
• no domínio da teoria do conhecimento, o trabalho, afinal, possibilita a produção de
novos conhecimentos. Isso não é óbvio. O estatuto do conhecimento, supostamente
elevado acima das contingências do mundo dos mortais, deve ser revisto profundamente
quando se considera o processo de produção do conhecimento e não apenas o
conhecimento. É o que se chama de “centralidade epistemológica” do trabalho. [...]
Disponível em:
https://revistacult.uol.com.br/home/christophe-dejours-reencantar-o-trabalho/.
Acesso em: 14.dez.2021