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Frei Luís de Sousa de Almeida Garrett

- O Romantismo –

Texto dramático

 Assente nas falas das personagens

 Poucas descrições

 Suporta-se na 2ª pessoa

 Tem como objetivo ser representado

Espaço

 Ato 1º

 Palácio de Manuel de Sousa Coutinho, em Almada.

 Câmara antiga, ornada com todo o luxo e caprichosa elegância portuguesa dos princípios do século XII. É,

pois, um espaço sem grades, amplamente aberto para o exterior, onde as personagens ainda gozam a

liberdade de se movimentarem guiadas pela sua vontade própria. Através das grandes janelas rasgadas

domina-se uma paisagem vasta. É o fim da tarde.

 Ato 2º

 Palácio que fora de D. João de Portugal, em Almada, que agora pertence a D. Madalena.

Salão antigo de gosto melancólico e pesado, com grandes retratos de família, muitos de corpo inteiro; estão

em lugar de destaque o de el-rei D. Sebastião, o de Camões e o de D. João de Portugal. Portas do lado

direito para o exterior, do esquerdo para o interior, cobertas de reposteiros com as armas dos Condes de

Vimioso. Deixa de haver janelas e as portas para o exterior; são agora mais destinadas a cercar as

personagens que a deixá-las escapar.

 Ato 3º

 Parte baixa do Palácio de D. João de Portugal, comunicando pela porta à esquerda do espectador, com a

capela da Senhora da Piedade na Igreja de S. Paulo dos Domínicos de Almada: é um casarão sem ornato

algum. Arrumadas às paredes, em diversos pontos, escadas, tocheiras, cruzes e outros objetos próprios

para uso religioso. É alta noite.

Qual é o tratamento dado ao espaço na obra Frei Luís de Sousa?

Progressão em termos negativos. Há um afunilamento quer a nível de luz, decoração ou amplitude. O espaço

vai evoluindo no sentido da ação: vão surgindo acontecimentos que afetam a vida normal familiar e que

culmina com a morte de Maria. A ação caminha no sentido da destruição, a par do tratamento que vai sendo

dado ao espaço.

Espaço social

Costumes e mentalidades que definem uma época

 Características do palácio de D. Manuel - família da aristocracia.

 Madalena lendo. Sendo mulher, usufrui de educação.

 A existência de Telmo, Doroteia, Miranda.

 Maria lendo Menina e Moça de Bernardim Ribeiro.


 D. João servia ao lado de D. Sebastião.

 Peste e más condições da população; a Almada não chega a peste.

 Os casamentos não eram feitos por amor. D. Madalena casa com D. João por obrigação.

 D. Madalena fica com tudo o que era de D. João. Os casamentos eram feitos com base na partilha.

 Maria é uma filha ilegítima por ser filha de um segundo casamento.

 Más comunicações: um cativo na terra santa não consegue fazer saber-se que está vivo e a família também

não o encontra.

Tempo

 Período vasto de tempo (21 anos), mas a ação representada tem apenas uma semana.

 Batalha de Alcácer Quibir (1578) + 7 anos + 14 anos

Personagens

 Manuel de Sousa Coutinho

 Nobre, cavaleiro de Malta

 Construído segundo os parâmetros do ideal da época clássica

 Racional

 Bom marido e pai terno

 Corajoso, audaz, decidido, patriota, nacionalista

 Valores: pátria, família e honra

 Exceções ao equilíbrio (momentos em que Manuel foge ao modelo clássico e tende para o romântico:

espetáculo excessivo do incêndio)

 D. João de Portugal
 Nobre (família dos Vimiosos)

 Cavaleiro

 Ama a pátria e o seu rei

 Imagem da pátria cativa

 Ligado à lenda de D. Sebastião

 Nunca assume a sua identidade

 Exemplo de paradoxo/contradição: personagem ausente mas que, no desenrolar da ação, está sempre

presente.

 Telmo Pais
 Escudeiro e aio de Maria

 Tem dois amos: D. João e Maria

 Confidente de D. Madalena

 Chama viva do passado (alimenta os terrores de D. Madalena)

 Provoca a confidência das três personagens principais

 Considerado personagem modelada num momento: durante anos, Telmo rezou para que D. João

regressasse, mas quando este voltou quase que desejou que se fosse embora.

 Frei Jorge Coutinho


 Irmão de Manuel de Sousa

 Ordem dos Dominicanos

 Amigo da família

 Confidente nas horas de

angústia

 É quem presencia as fraquezas

de Manuel de Sousa

 D. Madalena de Vilhena
 Nobre e culta

 Sentimental

 Complexo de culpa (nunca gostou de D. João, mas sim de D. Manuel)

 Torturada pelo remorso do passado

 Ligada à lenda dos amores infelizes de Inês de Castro

 Apaixonada, supersticiosa, pessimista, romântica (em termos de época), sensível, frágil

 D. Maria de Noronha
 Nobre: sangue dos Vilhenas e dos Sousas

 Precocemente desenvolvida, física e psicologicamente

 Doente de tuberculose

 Poderosa intuição e dotada do dom da profecia

 Encarnação da Menina e Moça de Bernardim Ribeiro

 Modelo da mulher romântica: a mulher-anjo

 A única vítima inocente

Etapas em Frei Luís de Sousa

· 1ª Etapa: D. João existe apenas no domínio psicológico das personagens (1º ato)

· 2ª Etapa: D. João torna-se visível no retrato (início do segundo ato)

· 3ª Etapa: D. João chega na forma de Romeiro (final do 2º ato)

· 4ª Etapa: Embora não esteja presente é D. João que provoca a morte das 3 personagens (3º ato)

· Em nenhuma altura temos D. João assumido como tal.

Características trágicas em Frei Luís de Sousa

 Existência de personagens com o papel de confidentes (personagens que existem para que as outras

personagens digam o que sentem) e coro (conjunto de pessoas que cantava um cântico pesado que ia

interrompendo a ação para comentar o desenrolar da mesma e profetizar).

 Existência da regra das três unidades: tempo, espaço e acção.

 A tragédia tem como objetivo provocar a piedade (pelas vítimas) e terror (por alguém que há de vir dos

mortos) nos espectadores.

 No desfecho temos a presença do destino como castigo do amor de D. Madalena por D. Manuel.
 Destino: força superior que transcende a vontade das personagens e perante a qual as personagens se

tornam indefesas.

 Presságios: Fogo (destrói a família e destrói o retrato); Leituras (Lusíadas e Menina e Moça)

ELEMENTOS DA TRAGÉDIA CLÁSSICA PRESENTES NA OBRA

· Phatos: crescente de aflição e de angústia que conduz ao clímax da ação através de uma precipitação de

acontecimentos através dos presságios.

· Hybris: desafio lançado aos deuses ou às autoridades (atitude de D. Madalena ao casar com D. Manuel)

· Clímax: auge do sofrimento

· Peripécias: mutação repentina da situação

· Anagnorisis: reconhecimento ou constatação dos motivos trágicos

· Moira ou fatum: força do destino

· Catástrofe: desfecho trágico

 SIMBOLOGIAS em Frei Luís de Sousa:

Tragédia – sexta-feira (dia de azar); a noite (parte do dia propícia a sentimentos de terror e parte escura

do dia); os números:

 7 - Nº de anos de busca

 14 - tempo de casamento (7 reforçado, 14=2x7)

 21 – desaparecimento de D. João de Portugal

 13 - Nº de azar, idade de Maria

 3 - Nº de elementos da família sujeitos à destruição, 3 retratos na sala dos

retratos.

Pátria – atitudes de Manuel de Sousa que se podem resumir num protesto à tirania, defesa dos

valores da pátria.

 Incêndio - símbolo patriótico

 A família pode ser vista como a unidade da pátria, a destruição da família é a

destruição da pátria governada pelos estrangeiros.

 Oposição entre D. Manuel e D. João, ou seja, entre Portugal velho e

ultrapassado e o novo e atual que se pretende (Manuel).

Características românticas em Frei Luís de Sousa

 Narcisismo/ hipertrofia do eu: as personagens são construídas a partir de uma projeção. Almeida

Garrett transporta o seu problema de amor para D. Madalena e transporta o problema da filha ilegítima

para Maria.
 Preferência pelas horas sombrias: o desenrolar da ação passa-se essencialmente à noite ou de

madrugada.

 Culto da mulher-anjo: na personagem de Maria.

 Nacionalismo/ patriotismo: nas atitudes de Manuel de Sousa.

 Preferência por personagens imperfeitas: D. Madalena que se apaixonou ainda casada.

 Religiosidade.

 Mitos/superstição.

 Infração e pecado.

 Individualismo versus sociedade: Manuel de Sousa Coutinho decide incendiar o seu próprio palácio,

sem que a sociedade o esperasse.

 Liberdade versus destino: Ao escolher o amor, D. Madalena comete uma infração à religião e

costumes e o destino castiga essa ação. Será então o homem livre ou será dominado pelo destino?

Tudo o que fará por escolha própria estará sujeito a castigo por parte do destino?

De que forma o tempo e o espaço se relacionam com o desenrolar trágico da ação?

O tempo vai caminhando para uma concentração no momento do clímax.

O espaço é cada vez mais escuro e tem relação direta com o desfecho da ação que será no altar. Caminha-se de

um espaço amplo para um espaço reduzido. Caminha-se de objetos confortáveis para objetos que são alusões cada

vez mais nítidas à catástrofe. Do profano ao religioso/ da vida à morte.

Telmo cada vez faz mais agoiros. As personagens vão anunciando o aparecimento de um terror qualquer. Terrores

e medos de D. Madalena contribuem para um ambiente mais tenso; Maria que conta o que lê, o que sonha, o que

pensa. Vão surgindo previsões do que se irá passar.

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