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Universidade Católica de Moçambique

Faculdade de Gestão de recursos naturais e mineralogia

Curso de Engenharia de Minas

AVALIAÇÃO DA DEPOSIÇÃO DO ESTÉRIL E REJEITO DA EMPRESA


JSPL MOZAMBIQUE MINERAIS LDA, NA REGIÃO DE CHIRODZI,
DISTRITO DE MARARA, PROVÍNCIA DE TETE

Hélio Samuel Hoguane

Tete
Julho de 2020
UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MOÇAMBIQUE

Faculdade de Gestão dos Recursos Naturais e Mineralogia

Curso de Engenharia de Minas

AVALIAÇÃO DA DEPOSIÇÃO DO ESTÉRIL E REJEITO DA EMPRESA JSPL


MOZAMBIQUE MINERAIS LDA, NA REGIÃO DE CHIRODZI, DISTRITO DE
MARARA, PROVÍNCIA DE TETE

Hélio Samuel Hoguane

Monografia científica apresentada ao


departamento de Mineralogia, da Faculdade de
Gestão de Recursos Naturais e Mineralogia da
Universidade Católica de Moçambique –
FRAGNEM, departamento de mineralogia, para a
obtenção do grau académico de licenciatura em
Engenharia de Mina, sob supervisão do Msc.
Lucas Simoco.

Tete

Julho de 2020
DECLARAÇÃO DE AUTENTICIDADE

Eu, Hélio Samuel Hoguane declaro por minha honra, que a presente monografia é o
resultado do trabalho por mim realizado, e fruto de investigação pessoal com a ajuda e a
orientação do supervisor. Declaro ainda que este trabalho é original e obedece todas as
regras metodológicas universais e específicas em vigor na Faculdade de Gestão de
Recursos Naturais e Mineralogia da Universidade Católica de Moçambique.
Declaro também que todas as fontes consultadas estão devidamente citadas no texto e
mencionadas nas referências bibliográficas. Declaro, por fim, que este trabalho nunca foi
apresentado em alguma outra instituição para obtenção de qualquer grau académico e,
por isso, nenhuma parte deste trabalho pode ou poderá ser reproduzida sem a autorização
do autor ou da Universidade Católica de Moçambique.

_______________________________________________

(Hélio Samuel Hoguane)

Supervisor

______________________________________________

(Lucas Jordão Simoco)

3
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho, Sr. Samuel Sebastião Hoguane Deus o tenha, e Minha Mãe
Filomena Basilio Langa, eles que sempre lutaram para que nada falte a Família.

4
AGRADECIMENTOS

À Deus, por ser tão abençoado e pela graça de estar vivo e com saúde para realização
deste trabalho.

A minha mãe Filomena Basílio Langa por ter me dado a oportunidade de estudar e me
proporcionar uma boa educação (espero ter correspondido às expectativas), agradecer
minha irmã Clésia Hoguane pelos ensinamentos e conselhos e a minha amada namorada
Florentina Ricardo Chivambo pelo carinho, amor, paciência e pelo apoio nos momentos
ruins, amizade e pela compreensão, minha tia Ana Cardoso Leitão pelo apoio;

Agradecer ao meu supervisor pela paciência, força e dedicação para a realização deste
trabalho;

À JSPL Mozambique Minerals, Lda, por me oferecer a oportunidade de estágio, aos meus
instrutores de campo: Técnico em Geologia Fernando Armando Tembo; Auxiliar de
Topografia Richard Marcos Guídion; Técnico em Topografia Waisson Alberto Escova
pelo apoio técnico e científico.

À Universidade Católica de Moçambique (UCM), a todo o corpo de docentes da UCM,


pelo acompanhamento e pela formação profissional especialmente ao Director da
Faculdade Nelson Amade por todo ensinamento, amizade, conselhos e incentivos.

Agradeço a vocês com a mais profunda admiração e respeito.

5
EPÍGRAFE

‟Eu não sou um produto de minhas circunstâncias. Eu sou um produto de minhas


decisões”

Stephen Covey

6
RESUMO

A presente pesquisa se propôs em avaliar a deposição do estéril e rejeito. Esta pesquisa


foi realizada na pilha de estéril e o local de deposição do rejeito de carvão mineral da
JSPL Mozambique Minerals na localidade de Chirodzi-província de Tete. Para
elaboração desta pesquisa recorreu-se a recolha de dados feita na área de estudo,
observação directa e pesquisas bibliográficas de forma a demostrar a situação real em que
a empresa se encontra. A geração de resíduos de mineração de carvão especialmente o
estéril e o rejeito durante a extração e processamento do carvão mineral, a deposição do
estéril e rejeito constitui problema por serem constituídos por compostos tóxicos ao meio
ambiente. O autor busca as causas de uma deposição inadequada ou que não segue
procedimentos corretos para a deposição do estéril e rejeito avaliando os métodos usados
para a deposição destes resíduos. Conclui-se que na tentativa de minimizar os custos, falta
de profissionais qualificados para deposição de estéril e rejeito, fraco planeamento, esses
factores influenciam directamente para que haja uma deposição não correcta.

Palavras Chaves: Deposição, Estéril, Rejeito.

7
ABSTRACT

This research aimed to assess the deposition of waste and tailings. This research was
carried out on the waste dump and the site of deposition of coal waste from JSPL
Mozambique Minerals in the Chirodzi-Tete province. For the elaboration of this research,
analyzes of data collected in the research area, direct observation and bibliographic
research were used in order to demonstrate the real situation in which the company finds
itself. The generation of coal mining residues, especially the sterile and tailings during
the extraction and processing of mineral coal, the deposition of the sterile and tailings is
a problem because they are highly toxic to the environment. It is concluded that in an
attempt to minimize costs, lack of qualified professionals for the disposal of waste and
tailings, poor planning, these factors directly influence for there to be an incorrect
deposition.

Keywords: Deposition, Sterile, Waste.

8
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

g: gramas
cm: centímetro
m: metro
m³: metro cúbico
km²: Quilômetro quadrado
UCM: Universidade Católica de Moçambique
JSPL: Jindal and Power Limited
DAM: Drenagem Ácida da Mina

DMT: Distância Média de Transporte

FAGRENM: Faculdade de Gestão de Recursos Naturais e Mineralogia

m/s: metro por segundo

9
ÍNDICE DE APÊNDICES

Apêndice 1: Estéril depois do desmonte. .................................................................... 65


Apêndice 2: Rejeito com granulometria média e grossa disposto na JSPL. ................. 65

10
ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1: Localização Geográfica da área da área de estudo. ...................................... 19


Figura 2: Parâmetros geométricos de uma pilha de estéril. ......................................... 26
Figura 3: Modos de ruptura em pilhas de estéril, onde a água é o principal................. 28
Figura 4: Exemplo de sistema de drenagem superficial - descidas de água. ................ 30
Figura 5: Modos de ruptura em pilhas de estéril. ........................................................ 32
Figura 6: Método de disposição descendente. ............................................................. 34
Figura 7: Representação do método ascendente de disposição do estéril. .................... 35
Figura 8: Método de deposição de estéril por correia.................................................. 36
Figura 9: Método Montante ....................................................................................... 42
Figura 10: Método Jusante ......................................................................................... 43
Figura 11: Método da linha de Centro ........................................................................ 44
Figura 12: Perfuratriz instalada no Camião. ............................................................... 48
Figura 13: Escavadeira Terex com 16m3 de capacidade da caçamba. ......................... 49
Figura 14: Camiões basculantes usados. ..................................................................... 50
Figura 15: Bacias Hidrográficas da área de estudo. .................................................... 51
Figura 16: Pilha de estéril com materiais finos depositados topo e blocos maiores no pé
................................................................................................................................... 52
Figura 17: Fissuras abertas por agentes de intemperismo na pilha. ............................. 53
Figura 18: Espessador da planta de separação por meio denso.................................... 55
Figura 19: Rejeito produzido e disposto na JSPL Mozambique Minerals.................... 56

11
ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1: Quantidade de estéril movimentada e depositada de agosto a outubro 2019. 50


Tabela 2: Quantidades de rejeito produzido e depositado de agosto a outubro 2019. ... 55

12
Índice
1 INTRODUÇAO ................................................................................................... 16

1.1 Enquadramento do Tema .............................................................................. 16

1.2 Delimitação do Tema .................................................................................... 16

1.3 Contextualização........................................................................................... 17

1.4 Justificativa ................................................................................................... 17

1.5 Formulação do Problema .............................................................................. 17

1.6 Hipóteses ...................................................................................................... 18

1.7 Objetivos ...................................................................................................... 18

1.7.1 Geral...................................................................................................... 18

1.7.2 Específicos ............................................................................................ 18

1.8 Caracterização Físico – geográfica da área de estudo. ................................... 19

1.8.1 Localização Geográfica da área de estudo .............................................. 19

1.8.2 O Clima e Temperatura .......................................................................... 19

1.8.3 Relevo ................................................................................................... 19

1.8.4 Solos...................................................................................................... 20

1.9 Hidrografia ................................................................................................... 20

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA........................................................................ 21

2.1 Deposição do estéril ...................................................................................... 22

2.1.1 Estudos de alternativas locacionais de pilhas de estéril ........................... 23

2.1.2 Investigação geotécnica ......................................................................... 24

2.1.3 Hidrologia e hidrogeologia da área......................................................... 24

2.1.4 Projecto executivo de depósito de estéril ................................................ 25

2.1.5 Geometria da pilha de estéril .................................................................. 25

2.1.6 Características Hidráulicas ..................................................................... 26

2.1.7 Instabilidade Geotécnica Relacionadas às Condições de Fluxo ............... 27

2.1.8 Vulnerabilidade à Contaminação............................................................ 28

13
2.1.9 Sistemas de drenagem interna ................................................................ 29

2.1.10 Sistemas de drenagem superficial........................................................... 30

2.1.11 Análise da estabilidade de Pilha de Estéril ............................................. 31

2.1.12 Monitoramento de Pilhas de Estéril ........................................................ 33

2.1.13 Metodologias para Deposição de Estéril ................................................. 34

2.1.14 Método descendente .............................................................................. 34

2.1.15 Método Ascendente ............................................................................... 35

2.1.16 Método de deposição por correia............................................................ 36

2.1.17 Operação das Pilhas de Estéril ............................................................... 36

2.2 Deposição de rejeitos .................................................................................... 37

2.2.1 Características do Rejeito ....................................................................... 37

2.2.2 Transporte de rejeitos............................................................................. 38

2.2.3 Planeamento e construção de uma barragem de rejeito ........................... 38

2.2.4 Propriedades geotécnicas dos rejeitos ..................................................... 38

2.2.5 Formas de deposição dos rejeitos ........................................................... 38

2.2.6 Barragem de rejeito ................................................................................ 38

2.2.7 Vida útil de uma barragem de rejeito...................................................... 39

2.2.8 Seleção do local ..................................................................................... 39

2.2.9 Projeto de instalação .............................................................................. 39

2.2.10 Construção da barragem de rejeito ......................................................... 40

2.2.11 Método Montante .................................................................................. 41

2.2.12 Método de jusante .................................................................................. 42

2.2.13 Método de linha de centro ...................................................................... 43

2.2.14 Causas de ruptura de barragens de rejeito ............................................... 44

2.2.15 Inspeções e manutenções de Barragem................................................... 45

3 METODOLOGIA DE INVESTIGAÇÃO ............................................................ 47

3.1 Instrumentos e técnicas de recolha de dados .................................................. 47

14
3.2 Limitações de Estudo .................................................................................... 47

4 APRESENTAÇÃO, ANALISE E DISCUSSÃO DE RESULTADOS .................. 48

4.1 Apresentação de dados .................................................................................. 48

4.1.1 Perfuração.............................................................................................. 48

4.1.2 Desmonte............................................................................................... 49

4.1.3 Carregamento ........................................................................................ 49

4.1.4 Transporte ............................................................................................. 49

4.1.5 Gestão de Estéril na JSPL ...................................................................... 50

4.1.6 Hidrologia e hidrogeologia da área de deposição do esteril .................... 51

4.1.7 Projecto executivo de depósito de estéril ................................................ 52

4.1.8 Planta de Processamento mineral ........................................................... 53

4.1.9 Secção de Salas ...................................................................................... 54

4.1.10 Planta Primária ...................................................................................... 54

4.1.11 Planta Secundária .................................................................................. 54

4.1.12 Planta de espirais ................................................................................... 54

4.1.13 Espessador (DMS thickener) .................................................................. 54

4.1.14 Planta da flotação ................................................................................... 55

4.1.15 Filtros de pressão ................................................................................... 55

4.1.16 Rejeito da planta de processamento da JSPL .......................................... 55

4.2 Ensaios Laboratoriais .................................................................................... 56

4.3 Análise de dados ........................................................................................... 57

4.4 Discussão de resultados ................................................................................ 58

5 CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES .............................................................. 59

5.1 Conclusão ..................................................................................................... 59

5.2 Recomendações ............................................................................................ 61

6 Referências bibliográficas .................................................................................... 62

7 Apêndice ............................................................................................................. 65

15
1 INTRODUÇAO
Como é de conhecimento geral, o foco principal dos empreendedores do sector mineral é
a redução de custos de transporte e deposição dos resíduos porque a deposição de resíduos
da mineração (estéril e rejeito) são actividades com muitos gastos enquanto que não dão
retorno economicamente a empresa. Desta forma, o desenvolvimento e aplicação de
novas metodologias em projectos de engenharia mais aplicados às propriedades dos
rejeitos e estéreis implicam melhorias nos métodos de disposição e pode representar uma
redução nos custos da disposição.

As atividades mineradoras geram uma grande quantidade de resíduos sólidos, dos quais
os mais importantes em termos de volume são os gerados pelas atividades de extração de
minério (estéreis) e pelas usinas de beneficiamento (rejeitos).

Na mineração, as técnicas adotadas para contenção de estéreis e rejeitos de mineração


consistem na disposição do estéril em pilhas e na implantação de grandes estruturas na
forma de barragens ou diques para disposição do rejeito.

O desenvolvimento de uma estratégia de gestão de resíduos é de extrema importância,


apesar de ser um processo complexo. Na empresa JSPL Mozambique Minerals Lda, os
métodos de disposição do estéril e rejeito ainda carecem de muito estudo e melhoramento
na gestão ou gestão dos resíduos da mineração especialmente provenientes da mina e
planta de processamento.

1.1 Enquadramento do Tema


O tema enquadra-se na área da mina, analisando a forma em que é feita a gestão e manejo
do estéril e rejeito que tem sido um grande problema para mineradoras de todas as
dimensões tendo em vista, os potenciais danos socioambientais e econômicos causados
por uma falha na gestão desses resíduos.
1.2 Delimitação do Tema
O tema corresponde a um estudo feito nas pilhas de estéril e de rejeito da JSPL
Mozambique Minerals Lda no período compreendido entre os meses de Agosto e Outubro
de 2019 como forma de avaliar o sistema de disposição e identificar os factores que
influenciam para danos ambientais

16
1.3 Contextualização
A disposição dos resíduos da mineração em Moçambique tem sido de maneira dependente
da própria empresa.

As problemáticas da disposição do estéril e rejeito trás evidências claras no que tange o


método de disposição destes resíduos actualmente. O Regulamento Sobre a Gestão de
Resíduos (Decreto 13/2006, de 15 de junho), este regulamento estabelece regras relativas
à produção, emissão ou deposição de qualquer substância tóxica ou poluidora de modo a
prevenir ou minimizar os seus impactos negativos sobre a saúde e o ambiente.

1.4 Justificativa
O aumento da demanda pelo carvão mineral requer extração de grandes volumes do
minério em pouco tempo, o que acarreta também a retirada de grandes volumes de estéril
e do rejeito na empresa JSPL. Assim, é necessário que se estabeleça uma área adequada
para a disposição deste material e, para isso, torna-se essencial considerar diversos
factores para sua locação, tais como: A geotécnica para avaliar a mecânica dos solos e
das rochas, geologia para avaliar a composição das rochas e suas estratificações, aspectos
hidrológicos para avaliar a qualidade da água subterrânea, sua distribuição e seus
movimentos.

O interesse em estudar este tema partiu do facto de que os métodos de deposição


descendente de estéril e a deposição de rejeito em uma área aberta como fazem na JSPL,
não correspondem a uma deposição correcta de estéril e rejeito, criando assim situações
que comprometem a estrutura das pilhas e criam situações visíveis que perigam o meio
ambiente.

1.5 Formulação do Problema


Na mineração, a disposição de estéril e rejeito, se tornaram um problema para
mineradoras, tendo em vista, os potenciais danos socioambientais causados por uma falha
na gestão desses resíduos.

Com o aumento de empresas direcionadas a extração e processamento de minerais em


Moçambique, aumentou também a geração de rejeito e estéril, com isto surgiu a
necessidade de removê-los das áreas de produção para outros locais, geralmente próximos
a cursos de água.

17
Os principais problemas identificados na área de estudo e que merecem especial atenção
para a eliminação dos mesmos são: Falta de planeamento na disposição de estéril e rejeito;
falta de controlo e gestão na pilha de estéril; contaminação dos solos pela descarga de
resíduos da mineração; Falta de sistema de tratamento das águas da chuva que se
acumulam nos locais de disposição do rejeito e estéril; Contaminação das águas
superficiais e subterrâneas.

Visto que existem várias situações indesejadas que influenciam negativamente na


disposição do estéril e rejeito processado na planta.

Neste contexto, a presente pesquisa visa responder a seguinte questão: ‟Quais são os
factores que influenciam na má disposição do estéril e do rejeito na empresa JSPL
Mozambique Minerals Lda?”

1.6 Hipóteses
a) O fraco planeamento influencia negativamente na gestão e disposição do estéril e
rejeito;

b) Falta de profissionais especializados na matéria de disposição de resíduos de


mineração;

c) Necessidade de criar de metodologias da disposição de estéril e rejeito que ofereçam


maior segurança e que sigam leis ambientais.

1.7 Objetivos
1.7.1 Geral
 Avaliar o método de disposição e gestão das pilhas de estéril e de rejeito da
empresa JSPL Mozambique Minerals Lda.

1.7.2 Específicos
 Descrever os métodos da disposição dos resíduos da mineração (estéril e rejeito);
 Indicar as consequências geradas pela falta de gestão das pilhas de estéril e rejeito
a fim de reduzir problemas gerados;
 Propor métodos de disposição para reduzir e solucionar impactos negativos que o
estéril e rejeito causam.

18
1.8 Caracterização Físico – geográfica da área de estudo.
1.8.1. Localização Geográfica da área de estudo
A área de estudo localiza-se entre os Distritos de Marara e Cahora Bassa, no povoado de
Chirodzi, ao longo da Estrada Nacional, que dà acesso a Vila de Songo a sul do rio
Zambeze. Limitando-se a Norte com o distrito de Cahora-Bassa, a Sul com a Província
de Manica através do rio Luenha. A área se situa à 98 Km da cidade de Tete e à 45 Km
até ao Distrito de Songo, limitado por seguintes coordenadas: 15°17'00'' a 17°36'00'
latitude Sul e 32°45'00'' a 36°18'00'' longitude Este.

Figura 1: Localização Geográfica da área da área de estudo.

Fonte: JSPL, 2018.

1.8.2. O Clima e Temperatura


Na área de estudo predomina o clima tropical seco, com precipitação máxima de 180 mm
e a Temperatura média mensal nos meses mais quentes: Outubro, Novembro, Dezembro,
Janeiro e Fevereiro é cerca de 28 a 32°C e nos meses mais frios, Junho e Julho de 22°C.

1.8.3. Relevo
O Relevo da área de estudo subdivide-se em duas partes bem distintas, sendo a Norte de
Chirhodzi á formação dos Planaltos e a Sul, Planície do Vale do Zambeze, que apresenta
algumas formações montanhosas.

19
1.8.4. Solos
A zona Sul de área de estudo possui solos Argilosos-Arenosos Acastanhados, com
fertilidade intermédia a boa, em partes delgadas; algumas manchas dos Solos muito
pesados, Cor Cinzenta e Negra, mal drenados e difícil lavoura; Solos fluviais-mal
drenados.

A norte, algumas manchas dos solos Argilosos-Arenosos Acastanhados e férteis


favoráveis a agricultura.

1.8.5. Vegetação e fauna

A vegetação da área de estudo, é tipicamente de Savana arbustiva com crescimento de


pequenas árvores e aparentemente uma mata um pouco densa, embondeiro é muito
abundante nesta área de estudo, o tronco pode atingir um diâmetro de 8m e de acordo
com a idade, 6 a 15m de altura.

Para a fauna na área de estudo abundam os seguintes animais: Cabritos cinzentos, suinos,
macacos de cara preta, gado bovino, pois estes são animais que mais predominam na área
de estudo.

1.9 Hidrografia
A rede hidrográfica da área de estudo é predominante pelo Rio Zambeze e seus afluentes
que atravessam na região, com numerosos rios e riachos que nascem nas montanhas. A
área de estudo é atravessada pelo Rio Luenha e seus afluentes e atravessam-na em direção
às zonas mais baixas. A maior parte dos rios gerados pelas fontes naturais na área, são de
regime periódico, possuindo água somente nas épocas chuvosas

20
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
De acordo com Barreto (2001), os estéreis são os materiais escavados, gerados pelas
actividades de extração (ou lavra) no decapeamento da mina, não têm valor econômico e
ficam geralmente dispostos em pilhas.

Segundo Aragão (2008) estéril é qualquer material não aproveitável economicamente,


cuja remoção se torna necessária para a lavra do minério.

SOARES (2010) conceituou rejeitos como “resíduos resultantes de processos de


beneficiamento, a que são submetidos os minérios visando extrair os elementos de
interesse econômico (produto final)”.

Para Sobreira e Ferreira (2016), o rejeito são materiais oriundos do processo de


beneficiamento do minério que são rejeitados economicamente.

Portanto, rejeito é o material resultante de processos de beneficiamento que não possui


nenhum valor comercial.

Segundo Aragão (2008) a deposição de rejeito e estéril é feita em geral de forma separada
e aproveitando locais onde não será realizado nenhuma extração do minério, ou em local
onde já se explorou o minério.

O projeto de construção de uma pilha de estéril e barragem de rejeito deve ser feito de
modo a cumprir todos procedimentos necessários para uma boa deposição e deve ser tão
detalhado quanto o projeto de lavra e a escolha de um local para deposição de estéril e
rejeito estão em função de seguintes factores: económicos, técnicos, ambiental e social.

Procedimentos adoptados na escolha de locais para construção de depósitos de estéril e


rejeito:
 Localização de uma barragem de rejeitos deve ser tal, que os custos para
construção da mesma, transporte dos rejeitos (bombeamento ou gravidade),
sejam mínimos, respeitando-se as condições de segurança e ambientais.
 Do ponto de vista ambiental dois procedimentos precisam ser tomados: Um
estudo prévio das áreas disponíveis; Levantamento e classificação dos possíveis
impactos ambientais.
 Estudos Geotécnicos: Avaliação superficial do local; Colecta de dados
disponíveis da área; mapas topográficos; fotografias aéreas; geologia regional;
mapas geológicos; hidrogeologia; rede hidrográfica, etc.

21
Após a construção dos locais de deposição de estéril e rejeitos deve se observar os
seguintes critérios:
 Devem ser adotadas medidas para se evitar o arraste de sólidos para o interior de
rios, lagos ou outros cursos de água conforme normas vigentes;
 Dentro dos limites de segurança das pilhas não é permitido o estabelecimento de
quaisquer edificações, exceto edificações operacionais, enquanto as áreas não
forem recuperadas, a menos que as pilhas tenham estabilidade comprovada;
 Na deposição de estéril ou rejeitos sobre drenagens, cursos de água e nascentes,
deve ser realizado estudo técnico que avalie o impacto sobre os recursos
hídricos, tanto em quantidade quanto na qualidade da água;
 Devem ser tomadas medidas técnicas e de segurança que permitam prever
situações de risco.
 Na deposição de estéril e rejeitos em terrenos inclinados devem ser adotadas
medidas de segurança para assegurar sua estabilidade.
 Deve ser feito o monitoramento constante dos sistemas de deposição de forma
que permita prever o nível de qualidade dos efluentes e as situações de riscos.

2.1 Deposição do estéril


Segundo Aragão (2008), é necessário o conhecimento prévio dos possíveis locais para a
construção da pilha de estéril para verificar se esses locais não são destinados a parques,
se constituem uma reserva ecológica ou se são nascentes de uma bacia hidrográfica.

Deve ser considerada também, a importância de se fazer uma classificação dos possíveis
impactos ambientais causados pelo depósito de estéril, dos quais pode-se citar o
desmatamento, a modificação física e estética do meio ambiente, a poluição das águas
superficiais e subterrâneas, a evasão forçada de animais existentes na área, entre outros.
Uma parte do planeamento de um depósito de estéril compreende a elaboração do projeto
preliminar, o qual deve conter informações detalhadas dos planos preliminares, avaliação
dos parâmetros ambientais, os possíveis impactos e as medidas mitigatórias para
minimizá-los, e os critérios do projeto para que este possa ser avaliado pelos órgãos
competentes (Aragão, 2008).

A viabilidade da deposição, na qual são realizados estudos acerca das condições do local
e de sua exequibilidade e são determinadas também as características do material de
fundação (como a resistência ao cisalhamento, durabilidade, composição química, etc.),

22
bem como as características dos materiais que irão compor a pilha, para verificar o
comportamento geotécnico dos mesmos sob empilhamento, (Teixeira, 2011).

Segundo Teixeira (2011), dentre os possíveis locais para deposição do estéril, aquele que
apresentar a menor distância de transporte será, em geral, priorizado na escolha, pois
implica menores gastos com o transporte do material.
Como exposto por Pires (2015), os factores que devem ser considerados na seleção do
local para construção de um depósito de estéril são:

Topografia do local, a qual influencia na capacidade e na área da pilha, assim como na


distância de transporte;

Hidrologia e condições climáticas, tais como: precipitação, velocidade e direção do vento,


regime hidrológico, drenagem ácida, escoamento superficial;

Hidrogeologia, relacionada à qualidade da água subterrânea e ao lençol freático;

Geologia e Geotecnia, como condição da fundação, porosidade, infiltração, resistência do


material a ser disposto e ângulo de repouso do mesmo, sísmica e falhas ativas;

Aspectos ambientais, como os efeitos da infiltração de águas superficiais e subterrâneas,


impactos que podem ser gerados na área;

Portanto, a escolha do local deve se basear na alternativa que promova um melhor


equilíbrio entre todos os factores citados. Assim, vale ressaltar que a área escolhida deve
ser tal que, atenda aos objetivos técnicos e econômicos do empreendimento, bem como
às regulamentações ambientais, mas também, onde os impactos causados pela deposição
do estéril sejam mínimos.

2.1.1 Estudos de alternativas locacionais de pilhas de estéril


A escolha da área para o alteamento do depósito de estéril deve respeitar os requisitos
definidos pelo planeamento de lavra e as determinações contidas no plano de manejo de
estéril, o qual define a viabilidade de construção em termos econômicos, técnicos e
ambientais, definindo também o custo com o transporte do material (Teixeira, 2011).

Em tempos remotos, a escolha do melhor local para a construção de uma pilha de estéril
considerava somente a alternativa de menor custo, sendo assim, um procedimento
relativamente simples. No entanto, nos dias atuais, os estudos de alternativas locacionais

23
de um depósito de estéril analisam, além da questão econômica, os aspectos ambientais,
visando a diminuição dos possíveis impactos decorrentes desta atividade.

2.1.2 Investigação geotécnica


Com o objetivo de enriquecer as informações coletadas na fase de planeamento, é feito
um levantamento geológico-geotécnico da área escolhida para a deposição do estéril.
Tal levantamento é executado tendo em vista caracterizar as feições presentes, como
afloramentos, presença de matacões, nascentes, entre outras (Petronilho, 2010).
São executadas assim, uma série de campanhas de sondagens e, a partir das amostras
coletadas e de suas respectivas análises, pode-se determinar a resistência e a
condutividade hidráulica do material que constituirá a fundação da pilha. De acordo com
Pereira (2009), a condutividade hidráulica representa a capacidade que o material possui
de permitir a percolação de água através dele e corresponde a um fator crítico, uma vez
que pode ser responsável por graves problemas relacionados à estabilidade de um
depósito de estéril.

Além de ser possível determinar as propriedades do material, as sondagens permitem


também, inferir o nível de água (NA) na área destinada à deposição do estéril. Este
parâmetro é de grande significância pelo fato de também exercer influência sobre as
condições de segurança de uma pilha, pois a água no interior da estrutura pode provocar
a saturação do maciço e reduzir, desta forma, os parâmetros de resistência do depósito de
estéril, ficando este mais susceptível a rupturas.

Com os resultados obtidos a partir das análises das amostras, pode-se obter todo o perfil
geológico-geotécnico do local escolhido para a disposição do estéril, sendo possível
compará-lo com o perfil geológico-geotécnico regional.

2.1.3 Hidrologia e hidrogeologia da área


Além da investigação geotécnica dos materiais de fundação e dos materiais que irão
compor a pilha, estudos hidrológicos e hidrogeológicos são necessários para se
determinar as vazões afluentes e efluentes, tomando como embasamento, as propriedades
da bacia hidrográfica, as quais podem ser obtidas a partir de mapas topográficos, bem
como a intensidade das precipitações na região. Estes estudos são cruciais para o correto
dimensionamento dos dispositivos de drenagem, tanto interna quanto superficial
(Petronilho, 2010).

24
O estudo acerca desses fatores é indispensável, pois, uma vez que ocorre a elevação do
nível de água interno a uma pilha de estéril, a segurança da estrutura fica seriamente
comprometida, visto que a presença de água em seu interior diminui o fator de segurança
necessário para garantir a sua estabilidade (Orman et al., 2011).

2.1.4 Projecto executivo de depósito de estéril


Após serem executadas todas as etapas de planeamento, é elaborado o projecto executivo,
o qual conterá informações detalhadas acerca do dimensionamento final da pilha de estéril
e de sua construção. Assim, estão presentes neste relatório, análises relacionadas à
geometria, visando a otimização da capacidade da área; ao dimensionamento dos sistemas
de drenagem; à sua estabilidade e monitoramento (Carvalho, 2009).

2.1.5 Geometria da pilha de estéril


De acordo com Orman et al (2011), alguns parâmetros são essenciais quanto à geometria
interna e externa do depósito de estéril. Segundo Orman et al (2011) os seguintes critérios
devem ser respeitados:
 A altura dos bancos deve ser, no máximo, de 10 metros;
 A largura mínima de bermas deve ser de 6 metros, a altura máxima da pilha de
200 metros;
 Devem existir acessos para manutenção;
 O ângulo entre os bancos deve ser inferior ao ângulo de repouso natural do estéril;
 As bermas devem possuir declividade longitudinal e transversal de no mínimo,
1% e 5%, respectivamente;
 Devem ser implantadas leiras na crista dos bancos.

A definição da geometria da pilha de estéril leva em consideração os estudos geológico-


geotécnicos da área e também, do material a ser depositado; os estudos hidrológicos e
hidrogeológicos e as exigências por parte dos órgãos ambientais. A geometria do depósito
deve ser tal que assegure a maior capacidade de armazenamento possível.

Segundo Petronilho, (2010), a geometria do depósito de estéril deve ser projetada


conforme a topografia do local de construção e consoante às características geotécnicas
do material que irá compor a pilha. A figura abaixo mostra uma seção típica de uma pilha
de estéril.

25
Uma das regras gerais de uma pilha de estéril afirma que o factor de segurança mínimo
permitido (tanto o global da pilha quanto o individual para cada bancada) deve ser de
1,5m sendo este o factor determinante da altura máxima do depósito (Carvalho, 2009).

Figura 2: Parâmetros geométricos de uma pilha de estéril.

Fonte: Fonte: Teixeira, 2011.

2.1.6 Características Hidráulicas


Pilhas de estéril são formadas pela deposição de materiais distintos e, na maioria dos
casos, sem valor comercial agregado. Podem ser compostas por solos e/ou rochas
provenientes, ou não, de uma mesma matriz litológica. Estas características hidráulicas
são propriedades difíceis de ser estimadas, todavia, são de suma importância para o
entendimento dos sistemas de fluxo no interior de seus aterros, sendo em muitas situações
as principais responsáveis por problemas de estabilidade e transporte de contaminantes.

Dentre os factores que influenciam as características hidráulicas das pilhas de estéril


pode-se citar como os de maior relevância: a litologia do estéril; métodos de remoção e
deposição; tráfego de máquinas e caminhões sobre a pilha; superfície topográfica; direção
e mergulho das camadas sotopostas à pilha; idade do estéril e as propriedades físicas e
químicas do material estéril, (Petronilho 2010).
Nota-se em diversas minas a céu aberto que o método mais utilizado para a formação das
pilhas é o do tipo descendente, o que significa que o material estéril proveniente do
avanço da lavra é despejado em “ponta de aterro”. Nessas condições, blocos maiores
tendem a rolar para a base do talude, enquanto fragmentos médios e pequenos do estéril

26
tendem a permanecer próximos ao topo, formando regiões mal graduadas quanto à
classificação granulométrica.
2.1.7 Instabilidade Geotécnica Relacionadas às Condições de Fluxo
No passado, a pouca importância atribuída ao entendimento das condições de fluxo
superficial e subterrâneo em pilhas de estéril trouxe consequências graves, a exemplo da
ruptura de uma pilha de carvão em Aberfan (South Wales).
Segundo Teixeira (2011) as possíveis causas dessa ruptura estão relacionadas,
principalmente, à saturação do maciço da pilha e da redução dos parâmetros de resistência
dos materiais dispostos.
Saturações dessa natureza ocorrem devido ao acúmulo de água no interior da pilha (locais
mal drenados), associado às mudanças nas propriedades hidráulicas do estéril
(permeabilidade), visto que, a longo prazo, a ação do intemperismo e o carreamento de
materiais mais finos do estéril propiciam a formação de regiões de baixa permeabilidade
e difíceis para percolação de água.
Outra causa também mencionada por Teixeira (2011) foi a diminuição nos valores dos
parâmetros de resistência do estéril. Dependendo das condições climáticas em que o
estéril estiver exposto, mais uma vez, a ação do intemperismo será responsável pela
diminuição da resistência ao longo do tempo, podendo causar eventuais instabilidades
geotécnicas. Modos de ruptura essencialmente causados por influência da água em pilhas
de estéril são descritos por Texeira (2011), conforme apresentado na Figura abaixo. Dois
processos podem ser enumerados como possíveis agentes causadores da ruptura: (i)
elevação da superfície freática no maciço das pilhas e (ii) saturação do talude e fluxo
superficial paralelo a sua face.

27
Figura 3: Modos de ruptura em pilhas de estéril, onde a água é o principal

Fonte: Teixeira (2011)

Grande parte dos problemas de instabilidade geotécnica de taludes de pilhas de estéril,


vivenciados por muitas mineradoras, são oriundos do desaguamento inadequado da água
superficial e de subsuperfície. Contudo, devido principalmente à ampla diversidade das
características físicas do estéril, existem poucas diretrizes funcionais para avaliar o
escoamento subterrâneo da água.
2.1.8 Vulnerabilidade à Contaminação
O processo de operação e manutenção de pilhas de estéril vai muito além da estabilidade
geotécnica, uma vez que o material estéril se encontra vulnerável às condições de
oxidação, percolação, lixiviação e erosão (Robertson et al., 1985).
O gerenciamento adequado das águas nas pilhas de estéril é fator essencial para minimizar
o risco de ocorrência de impactos negativos gerados por estas estruturas. Não raro é a
existência de erosões nos taludes das pilhas devido à ação intensa do vento e da água,
porém os processos erosivos são considerados os principais mecanismos de dispersão de
contaminantes. (Petronilho 2010).
Pilhas de estéril contendo principalmente pirita podem sofrer a oxidação natural dos
minerais sulfetados quando expostas à ação combinada da água e oxigênio dando início

28
a geração de drenagem ácida, ou melhor dizendo DAM (drenagem ácida de mina).
(PIRES 2015).

A qualidade dos solos e dos recursos hídricos de regiões próximas a minerações nestes
casos acaba sendo comprometida seriamente se nenhuma medida mitigadora for
efetivamente realizada. E, mesmo existindo materiais de fundação (terreno natural) nas
pilhas de estéril que funcionem como uma camada protetora dos agentes contaminadores
do solo e da água subterrânea tais como estes, a oxidação dos sulfetos e consequente
geração de DAM será inevitável e fatalmente acabará por escoar até um meio permeável
ou curso de água localizado a jusante do depósito, (Pires 2015).
Cada vez mais, novas tecnologias de tratamento de DAM têm surgido no âmbito mundial,
seja por neutralização empregando aditivos químicos alcalinos (sistemas ativos) ou por
descontaminação da DAM em banhados ou sistemas de terras úmidas (sistemas passivos).
Entretanto, estes processos ainda ficam a desejar devendo, no futuro, enfrentar os desafios
derivados dos grandes volumes envolvidos em pilhas de estéreis associados às condições
climáticas específicas de cada região.
2.1.9 Sistemas de drenagem interna
As condições de drenagem em um depósito de estéril dependem das características do
material que o compõe, do meio físico local e do fluido percolante (Petronilho, 2010).

Neste âmbito, a condutividade hidráulica da pilha de estéril é um parâmetro que merece


especial atenção, pois se esta condutividade é alta, significa que há muitos espaços vazios
entre as partículas do material que compõe o depósito e isso pode comprometer a sua
segurança. Assim, é de extrema importância adotar um sistema de drenagem eficiente.

Desta forma, os sistemas de drenagem interna são fundamentais para garantir a


estabilidade dos depósitos de estéril, uma vez que permitem aliviar os níveis de
poropressão, direcionar o fluxo de água e evitar o carreamento de materiais finos, o que
pode provocar problemas de erosão interna na pilha (Azevedo, 2005).

Os dispositivos de drenagem interna possuem como função drenar a água no interior da


pilha de estéril, ou seja, seu objetivo é canalizar os cursos de água e nascentes existentes
no local, evitando assim, o acúmulo de fluido na estrutura e como consequência,
auxiliando na preservação de sua estabilidade geotécnica.

29
2.1.10 Sistemas de drenagem superficial
Os dispositivos de drenagem externa ou superficial são instalados na pilha de estéril com
a finalidade de captar as águas incidentes sobre a mesma - provenientes de precipitações
ou de outras áreas adjacentes e impedir, desta maneira, o acúmulo de água sobre a sua
superfície e a infiltração.

Tais dispositivos captam a água e a direcionam para fora do depósito, de forma que não
haja comprometimento da estrutura. Os mais comuns são as canaletas, descidas de água
e dissipadores de energia.

A ausência desses sistemas acarreta sérias consequências na segurança da pilha, uma vez
que, a água infiltrada pode provocar erosão superficial nos taludes e até mesmo o
desmoronamento da estrutura. Devido a isso, deve ser feito o correto dimensionamento
dos sistemas de drenagem superficial, sendo necessário considerar alguns requisitos
básicos, como por exemplo, o caimento transversal e longitudinal das bermas que
proporcione a maior eficiência desses sistemas, (Petronilho 2010).

Segundo Carvalho (2009): “A garantia para a eficiência do sistema de drenagem


superficial é a criação de canaletas nas praças que dirijam as águas para os pontos de
descida”.

Podem ser construídas também, leiras trapezoidais na crista e ao longo dos bancos do
depósito de estéril, de forma a preservar os taludes e, além disso, podem ser instalados
canais periféricos, cuja função é captar e conduzir as águas pluviais que incidem sobre a
crista da pilha (Petronilho, 2010).

Figura 4: Exemplo de sistema de drenagem superficial - descidas de água.

Fonte: Petronilho, 2010.

30
As águas provenientes das canaletas são então, direcionadas às descidas de água,
constituídas por canais em degraus. Estes dispositivos são construídos no entorno da pilha
ao longo do contato desta com o terreno natural e são dotados de dissipadores de energia,
os quais representam estruturas responsáveis por diminuir a velocidade do fluxo e
controlar a erosão.

Por fim, os canais periféricos captam as águas oriundas das descidas d’água e lança-as na
drenagem natural, visando o menor impacto possível. Esse tipo de drenagem é
denominado drenagem periférica (Carvalho, 2009).

Vale considerar também, que as pilhas de estéril devem possuir pontos providos de
sistemas de contenção de finos ou diques de contenção de finos, responsáveis por reter as
partículas sólidas que são carregadas juntamente com a água, de modo que esta chegue
limpa aos cursos de água naturais.

2.1.11 Análise da estabilidade de Pilha de Estéril


A instabilidade de taludes e a possibilidade de ruptura em uma pilha de estéril
representam fatores críticos que devem ser cuidadosamente analisados, de forma a
garantir a segurança do depósito e das áreas adjacentes, as quais podem ser
profundamente afetadas quando da ocorrência de movimentos de massa ao longo da
estrutura.

À medida que aumenta a taxa de disposição de estéril e a pilha se torna maior, aumenta a
possibilidade de rupturas, devido ao aumento das tensões impostas (Kent, 1992).

Quando essas tensões superam a resistência do material constituinte da pilha, inicia-se o


processo de ruptura no maciço.

Assim, são necessárias análises constantes da estabilidade do depósito, pois uma eventual
ruptura pode causar, além de grande impacto ambiental, a interrupção das operações de
mina, prejudicando desse modo, todo o planejamento econômico do empreendimento,
além da possibilidade de perdas de vidas humanas.

De acordo com Caldwell et al. (1985), durante a atividade de mineração, uma pilha de
estéril não é completamente estável. Em virtude disso, o monitoramento da estabilidade
da estrutura é realizado para que seja possível adotar medidas mitigatórias para evitar as
consequências indesejáveis de uma potencial ruptura.

31
Segundo Kent (1992), a escolha do método de análise de estabilidade de um depósito de
estéril deve considerar os possíveis modos de ruptura, além dos parâmetros relacionados
à resistência do material e às poropressões exercidas pela água no interior da pilha. O
principal objetivo dessa análise é a determinação da possibilidade de mobilização de
massa ao longo dos taludes.

Diversos parâmetros interferem na segurança de uma pilha de estéril, dos quais pode-se
citar: a topografia do local, a geometria do depósito, a taxa de disposição e a altura dos
bancos, as propriedades geotécnicas, o método de construção, hidrologia e hidrogeologia
e as forças sísmicas (Orman et al., 2011).

Para Orman et al. (2011), os principais modos de ruptura são: escorregamento superficial,
escorregamento por fluxo superficial, ruptura rotacional circular, ruptura basal e
translação de bloco.

Figura 5: Modos de ruptura em pilhas de estéril.

Fonte: Adaptado de Orman et al., 2011.

O modo de ruptura do tipo escorregamento superficial é o mais comum de ocorrer em


pilhas de estéril, onde acontece o deslizamento de uma fina camada de material paralela
à face do talude. É tipicamente originada nas cristas dos bancos e geralmente decorre
após uma forte precipitação, o que contribui para aumentar as poropressões em um
depósito com baixa permeabilidade.

32
O escorregamento por fluxo superficial é explicado em virtude da entrada de grande
quantidade de água na estrutura, provocando assim, a saturação do material, o qual
desliza ao longo das encostas da pilha de estéril. Já a ruptura rotacional circular pode
ocorrer em consequência do peso excessivo de material no depósito, assim como devido
às características do estéril que o constitui (material frágil ou muito fino) e às altas
poropressões. Pode se estender à fundação se o solo possuir baixa resistência.

Se uma pilha de estéril é colocada em terreno plano de solo competente, há menores


probabilidades de ocorrer rupturas. No entanto, se o terreno plano é coberto por uma
fina camada de material frágil, pode ocorrer ruptura basal. As chances de ocorrência
desse tipo de ruptura são ainda mais acentuadas se o terreno é inclinado, ocorrendo,
neste caso, a translação de bloco (Roberston et al., 1985).

Diante do exposto, vale considerar que os estudos de estabilidade de depósitos de


estéril, sempre enfatizam as situações mais desfavoráveis, adotando o fator de segurança
mínimo para cada uma dessas condições.

2.1.12 Monitoramento de Pilhas de Estéril


Adicionalmente às análises de estabilidade das pilhas de estéril, é feito o monitoramento
das mesmas a fim de se controlar o comportamento geotécnico dessas estruturas.

De acordo com Robertson et al. (1985), o processo de monitoramento das pilhas de estéril
não envolve apenas os factores relacionados à estabilidade geotécnica, deve-se considerar
também, a vulnerabilidade do estéril frente às condições de oxidação, percolação,
lixiviação e erosão.

É importante fazer o monitoramento principalmente do perfil geotécnico da pilha pelo


facto de exercer influência sobre as condições de segurança de uma pilha e é importante
salientar que é necessário a realização de análises das características do material que irá
compor a pilha devido ao facto deste material ser constituído por partículas heterogêneas,
ou seja, de diferentes granulometrias, pode haver uma interferência negativa na
sustentação da pilha. Isso justifica a necessidade de se fazer amostragens do estéril antes
de sua remoção na jazida, tornando possível a determinação dos parâmetros físicos, da
permeabilidade e da resistência do mesmo. As amostras devem, portanto, ser
representativas da composição final do material do empilhamento.

33
2.1.13 Metodologias para Deposição de Estéril
A forma pela qual o estéril retirado da mina será disposto em um determinado local deve
ser planejada e controlada de modo a proporcionar a máxima estabilidade e segurança da
pilha de estéril, além de causar o mínimo impacto ao meio ambiente.

É importante considerar que, as atividades que demandam maior gasto econômico na


disposição de estéril são, conforme Petronilho (2010): “drenagem, proteção vegetal,
retenção de finos gerados por carreamento de sólidos durante e após a formação da pilha,
manutenção ao longo dos anos e transporte do estéril”. Dentre estas, a última possui maior
influência e depende da disponibilidade dos equipamentos e dos perfis de tráfego.

Para construção de um depósito de estéril, usualmente são empregados os seguintes


métodos:

 Método descendente;
 Método ascendente;
 Método por correia.

2.1.14 Método descendente


Neste método, as pilhas são construídas sem nenhum controle geotécnico, ou seja, o
estéril é simplesmente basculado a partir do ponto mais elevado da pilha, não sendo feita
a sua compactação e a preparação da base para a disposição do material.

Assim, a pilha construída por este método não apresenta um sistema de drenagem
adequado e não possui proteção superficial dos taludes contra a erosão, o que a torna uma
estrutura bastante instável e altamente susceptível a rupturas.

Figura 6: Método de disposição descendente.

Fonte: Carvalho, 2009.

34
Segundo Carvalho (2009), apesar do método ser ilusoriamente mais econômico, por
reduzir a distância de transporte, o mesmo não atende às condições mínimas de segurança.
Devido a isto, este tipo de depósito somente deve ser construído onde o terreno de
fundação apresenta alta resistência e o material a ser disposto é bastante granulado, pois
se o estéril for constituído de grande quantidade de finos, estes por estarem soltos, podem
ser carreados para os cursos de água situados próximos à pilha.

2.1.15 Método Ascendente


O método ascendente é o mais indicado para construção de uma pilha de estéril, em
virtude de proporcionar maior segurança e estabilidade à mesma.

De acordo com Petronilho (2010), a deposição do estéril é realizada de jusante para


montante, isto é, do fundo do vale em direção às cabeceiras. O estéril é basculado por
caminhões, gerando pilhas com altura de 2,0 a 3,0 metros. Em seguida, o material das
pilhas é nivelado com o auxílio de um trator de esteira, formando camadas de 1,0 e 1,5
metros de espessura, as quais são compactadas pelo próprio tráfego dos equipamentos, o
que é suficiente para estabilizar a pilha.

Figura 7: Representação do método ascendente de disposição do estéril.

Fonte: Carvalho, 2009.

As bancadas formadas devem possuir 10 metros de altura e a largura mínima das


bermas deve ser de 6 metros. Após a formação das mesmas, é executado o
retaludamento com o trator de esteira, o que é feito com o objetivo de suavizar o ângulo
de repouso e aumentar assim, a estabilidade da pilha por meio da compactação da
camada superficial (Carvalho, 2009).

35
Cabe ressaltar que neste método são adotados sistemas de drenagem adequados, bem
como é realizada a proteção superficial dos taludes, o que também contribui para a
maior segurança da pilha.

2.1.16 Método de deposição por correia


Além dos métodos ascendente e descendente, convencionalmente adotados na mineração
para deposição de estéril, a construção da pilha pode se dar também pelo método de
correias, também chamado de ‘empilhamento por stacker’. Neste caso, são utilizados
sistemas de correias transportadoras, as quais, além de transportar o material, realizam a
sua deposição (Nunes 2014).

Para Nunes (2014) as elevadas velocidades na deposição do estéril apresentam como


consequência os elevados índices de vazios no material depositado. Além disso, não há
compactação dos taludes, visto que não há tráfego de equipamentos sobre os mesmos. As
pilhas formadas por este método, podem apresentar problemas de estabilidade geotécnica.

Figura 8: Método de deposição de estéril por correia.

Fonte: Petronilho, 2010.

2.1.17 Operação das Pilhas de Estéril


De acordo com Aragão (2008), durante a construção de um depósito de estéril, o material
deve ser disposto, preferivelmente, ao longo do comprimento da crista, tornando esta a
mais longa possível e minimizando assim, a elevação da pilha. Dessa forma, a
estabilidade da estrutura é favorecida. Ademais, o desenvolvimento da pilha deve ser feito
em vários setores, não sendo a deposição do estéril concentrada em um único local.

Cabe ressaltar que o projeto de uma pilha de estéril deve sempre considerar os objetivos
a longo prazo que podem ser exigidos para reabilitação da área utilizada para deposição

36
do material. Tais objetivos compreendem assegurar a estabilidade e o controle de erosões
a longo prazo e garantir que a água proveniente da pilha seja desaguada com qualidade
ao meio ambiente local e que seja possibilitado o uso futuro das áreas afetadas.

2.2 Deposição de rejeitos


De acordo com Texeira (2017), barragens de rejeito são as estruturas responsáveis por
reter os resíduos sólidos e a água provenientes dos processos de beneficiamento mineral.
Seu planejamento tem início com a procura de um lugar para sua implementação, etapa
que conta com parâmetros geológicos, hidrológicos, topográficos, geotécnicos,
ambientais, sociais, entre outros.

Na sua composição, o rejeito apresenta partículas de rocha, água e as substâncias químicas


envolvidas no processo de beneficiamento e dependendo do tipo de minério e das
operações de extração e beneficiamento utilizadas, estes materiais exibem características
mineralógicas, geotécnicas e físico-químicas variáveis, podendo se apresentar como
rejeitos granulares (com granulometria de areias médias e finas), ou lamas (partículas com
a granulometria a baixo de 0.074mm) .

Entre os métodos de deposição, as barragens de contenção de rejeitos ainda são as mais


usadas. Essas barragens, como dito anteriormente, podem ser construídas utilizando-se
solos, estéreis ou mesmo o próprio rejeito.
De acordo com Sobreira e Ferreira (2016) o grande volume de rejeitos gerados,
condicionados aos custos da deposição, faz com que seja atrativa a utilização destes
materiais na construção das próprias barragens de contenção, desde que sejam obedecidas
algumas premissas, tais como:
 Separação da fração grossa e fina (as propriedades geotécnicas são diferentes
entre as frações),
 Controle dos processos de separação (granulometria),
 Utilização de sistemas de drenagens eficientes, compactação dos rejeitos
(aumento da densidade e da resistência), e proteção superficial da barragem,
dentre outras.
2.2.1 Características do Rejeito
As características geotécnicas, físico-químicas e mineralógicas dos rejeitos dependem
fundamentalmente do tipo de minério e do processo de beneficiamento a que foi
submetido. São estas características associadas à topografia regional, que irão determinar

37
quais as melhores formas de armazenamento, ou seja, que tipo de reservatório será o mais
conveniente para aquela polpa (Botelho 1994).
2.2.2 Transporte de rejeitos
A forma de transportar os rejeitos das usinas de beneficiamento até os locais de
deposição depende das suas características geotécnicas.

Uma mistura com maior teor de sólidos, como uma pasta, é transportada para a estrutura
de contenção por caminhões ou correias transportadoras.
Uma mistura mais fluida é transportada por tubulações, por gravidade ou bombeamento,
o que é uma alternativa de menor custo operacional.
2.2.3 Planeamento e construção de uma barragem de rejeito
2.2.4 Propriedades geotécnicas dos rejeitos
As propriedades geotécnicas da massa de rejeitos (resistência, deformabilidade e
permeabilidade) dependem da natureza do minério e de como se processa a deposição.

Fases de formação de um depósito de rejeitos lançados a montante de uma barragem de


rejeitos: floculação, sedimentação e adensamento. Na floculação as partículas aumentam
de tamanho, na sedimentação as partículas se depositam no fundo do reservatório sob a
ação da gravidade, e no adensamento, as partículas depositadas interagem, transmitindo
as tensões devidas ao peso próprio (Brito, 1986).

2.2.5 Formas de deposição dos rejeitos


Os rejeitos produzidos pelo processo de beneficiamento podem ser descartados de duas
formas:

 LIQUIDOS (polpas), sendo o seu transporte feito em tubulações através de


bombas ou por gravidade.
 REJEITOS SÓLIDA (pasta), são descartados usando camiões ou correias
transportadoras. A sua deposição pode ser feita: em superfície, em escavações
subterrâneas.

2.2.6 Barragem de rejeito


É entendida como uma estrutura de terra construída para armazenar resíduos de
mineração, os quais são definidos como a fração estéril produzida pelo beneficiamento
de minérios, em um processo mecânico e químico (Brito, 1986).

38
2.2.7 Vida útil de uma barragem de rejeito
As etapas da vida útil de uma barragem de rejeito compreendem a procura do local da
implantação, projeto da instalação, construção, operação, reaproveitamento e o
fechamento definitivo.

2.2.8 Seleção do local


Segundo Busch (1982), o processo de seleção do local apto visa a classificação preliminar
de zonas aceitáveis fundando se em avaliadores geológicos de propensão como a
geoquímica ou a geofísica para identificar áreas potencialmente exploráveis para extração
de mineiro. Para as empresas mineiras a variável considerada para a melhor opção de
local se limita na econômica, já que a deposição dos rejeitos é um investimento sem
retorno a curto, médio ou até longo prazo.

No entanto é necessário na seleção de local vincular todo tipo que direita ou indiretamente
influencia na obra: características geológicas, hidrológicos, geotécnicos, ambiental,
social, avaliação de riscos entre outros sem subestimar o que pode suceder na construção,
operação ou fechamento de barragem de rejeito e fazer uma lista de chocagem
considerando tudo quanto se possa imaginar como admissível sem ignorar nada que afete
a vida útil da barragem como o vazamento do mesmo por falta de atenção dos técnicos
na construção.

2.2.9 Projeto de instalação


Após a escolha do local ou mesmo antes, deve ser elaborado o projecto da barragem para
guiar o responsável do empreendimento na tomada de decisões sobre o local da
implantação da barragem em funções das áreas concedidas para explorar.

De acordo com Soares (2010), o projecto de construção da barragem deve ser concebido
desde o momento que vincula o desenho de todas as infraestruturas da mina sobre tudo
no momento em que se concebe a planta de processamento de modo a adequar o projeto
em função dos acidentes e as condições do local sobre tudo a economia do mesmo
empreendimento. Caso exista descontinuidades, fraturas, falhas ou mesmo juntas no local
é necessário se cimentar para que não haja infiltração das águas da barragem e uma
possível contaminação do lençol freático. O desenho do projeto deve conter:

 O Estudo hidrogeológico
 Estudo geotécnico
 Secções de alteamento

39
 Análise da estabilidade do rejeito

2.2.10 Construção da barragem de rejeito


A estrutura de contenção é construída levantando-se inicialmente um dique de partida
com solo de empréstimo, o qual deve ter uma capacidade de retenção de rejeitos para pelo
menos 3 anos de operação de lavra. Os estágios posteriores (alteamentos) podem ser
construídos também com material de empréstimo, com estéreis, por deposição hidráulica
de rejeito ou por ciclonagem dos mesmos rejeitos. Os alteamentos podem assumir
diferentes configurações, cada uma com suas características, especificações, vantagens e
desvantagens (Duarte 2008).

Os métodos de alteamento são geralmente classificados em três classes: método de


montante, método de jusante e o método de linha de centro sendo nomes referentes a
direção destes em relação ao dique inicial. Para os três casos, inicialmente é feito um
dique de partida com material de empréstimo e ao longo do tempo são construídos os
alteamentos. Os rejeitos são lançados ao longo da crista do dique por ciclones ou por
series de pequenas tubulações, para que haja uma formação uniforme da praia. A
sedimentação das partículas dá-se em função do seu tamanho e densidade, isto é, as
partículas mais finas e leves ficam em suspensão e transportam-se para o centro da
barragem, e as partículas mais grossas e pesadas sedimentam-se rapidamente mais
próximo do dique. A diferença entre estes métodos está na direção do alteamento em
relação ao dique inicial (Duarte 2008)).

2.2.1. Métodos de construção de barragem de rejeito

A seleção de um método ou outro para a deposição dos rejeitos depende:


 Da natureza do processo de mineração;
 Das condições geológicas e topográficas da região;
 Das propriedades mecânicas dos materiais;
 Do poder de impacto ambiental de contaminantes dos rejeitos;
 Das condições climáticas da região.
Os métodos da deposição do rejeito são:

 Método Montante;
 Método Jusante
 Método linha de Centro

40
2.2.11 Método Montante
Segundo Araújo (2006), método montado, o material da fundação e nos alteamentos o
eixo da barragem se desloca para o montante. A polpa é descarregada ao longo do
perímetro da crista do dique, formando uma praia feitos por ciclones, ou com uma
sequência de tubulações menores perpendiculares à tubulação principal, chamados de
“spigots”, que permitem uma melhor uniformidade na formação da praia. Como os
rejeitos têm uma distribuição granulométrica ampla, as partículas mais grossas e mais
pesadas sedimentam mais rapidamente, ficando nas zonas próximo ao dique, e as
partículas menores e menos densas ficam em suspensão e são transportadas para as zonas
internas da bacia de sedimentação. Nas etapas posteriores, são construídos diques em todo
o perímetro da bacia. O tamanho dos diques nos alteamentos é uma variável que depende
das necessidades operacionais do processo. Importa frisar que o dique inicial geralmente
é sempre maior que os diques das etapas seguintes.

Vantagens do método

 O volume de material (de rejeitos ou de empréstimos) dos alteamentos é menor


 Menor custo de construção;
 Maior velocidade de alteamento;
 Facilidade de operação;
 Pode ser construída em topografias muito íngremes.

Desvantagens

 Baixa segurança (a linha freática muito próxima ao talude de jusante);


 Suscetibilidade à liquefação por sismos naturais ou por vibrações decorrentes do
movimento de equipamentos, quando os alteamentos são realizados com os
rejeitos, isto devido à fundação dos alteamentos ser constituída de areias saturadas
fofas não compactadas ou não classificadas (rejeitos descarregados por “spigots”);
 Quando os rejeitos não são compactados ou ligeiramente compactados, a
superfície crítica de deslizamento passa pelos rejeitos sedimentados;

41
Figura 9: Método Montante

Fonte: Araújo 2006

2.2.12 Método de jusante


De acordo com Araújo (2006), é construído um dique inicial impermeável, o qual deve
ter uma drenagem interna, composta por filtro inclinado e tapete drenante.O talude interno
da barragem ou talude de montante, nos alteamentos, é impermeabilizado.

Neste método os rejeitos são ciclonados e o “underflow” é lançado no talude da jusante.


Somente são utilizados os rejeitos grossos no alteamento, os quais são compactados
quando as características de umidade da zona o permitam; também se pode utilizar
material de empréstimo, ou estéril proveniente da lavra. figura a baixo ilustra o processo
de ateamento das paredes usando o método.

Vantagens

 O método é eficiente para o controle das superfícies freáticas, pela construção de


sistemas contínuos de drenagem;
 Suscetibilidade de liquefação é muito menor;
 Operação bastante simples;
 Possibilita a compactação de todo o corpo da barragem;
 Maior segurança devido aos alteamentos controlados (disposição da fração grossa
dos rejeitos a jusante, sistemas de drenagem e compactação).

42
Desvantagens do método

 Necessidade de grandes quantidades de rejeitos nas primeiras etapas da


construção
 É necessário o emprego de ciclones para garantir uma ótima separação dos
rejeitos.

Figura 10: Método Jusante

Fonte: Azam e Li, (2010)

2.2.13 Método de linha de centro


O método da linha de centro é assim chamado devido ao eixo da barragem ser mantido
na mesma posição enquanto ela é elevada, é uma solução intermediaria entre o método
de montante e a jusante (inclusive em termos de custo), embora seu comportamento
estrutural se aproxime do método da jusante.

Segundo AZEVEDO (2016), inicialmente é construído um dique de partida e o rejeito é


lançado perifericamente da crista do dique até formar uma praia. O alteamento
subsequente é formado lançando materiais de empréstimo, estéril da mina ou “underflow”
de ciclones, sobre o limite da praia anterior e no talude de jusante do maciço de partida,
mantendo o eixo coincidente com o eixo do dique de partida. Exemplo ilustrado na figura
abaixo.

Vantagens

 Facilidade na construção
 Eixo dos alteamentos constante`

43
Desvantagens

 Necessidade de sistemas de drenagem eficientes e sistemas de contenção a jusante


(se o material de rejeito fica saturado a jusante, pode comprometer a estabilidade
do maciço;
 Operação complexa; é necessário equipamento para deposição mecânica a
jusante.

Figura 11: Método da linha de Centro

Fonte: Araújo, 2006.

Segundo Araújo (2006), a escolha de um ou outro método de execução irá depender de


uma série de fatores, tais como: tipo de processo industrial, características geotécnicas e
nível de produção de rejeitos, necessidade de reservar água, necessidade de controle de
água percolada, sismicidade, topografia, hidrologia, hidrogeologia e custos envolvidos.
No entanto, como as barragens alteadas pelo método de montante têm se mostrado de
maior facilidade de execução e mais economicamente viáveis, essas têm sido as
preferencialmente adotadas pelas empresas mineradoras.

2.2.14 Causas de ruptura de barragens de rejeito


As barragens de rejeito estão constantemente sujeitas a deslocamentos e deformações, em
virtude da sua própria natureza e dimensões, além da ação de agentes internos e externos.

Duarte (2008), identificou quinze causas de falhas diferentes de rupturas de barragens de


rejeitos. Em muitos casos (39%), as rupturas nas barragens resultaram de uma
combinação de diferentes fatores, por exemplo, ocorrência de falhas devido a factores
meteorológicos (chuvas intensas, furacões, derretimento de gelo, acumulação de gelo na
barragem de rejeitos, etc), infiltração, falha de fundação ou ma gestão das estruturas.

44
De acordo com Duarte (2008), as mudanças geométricas de uma estrutura podem ocorrer
na geometria externa, caracterizando um deslocamento da estrutura no seu todo, ou na
geometria interna, caracterizando uma fundação. As deformações podem ser identificadas
por recalques excessivos, aumento da taxa de recalques localizados ou trincas na crista
ou nos taludes.
Azam e Li (2010) apontaram os factores climáticos e o mal gerenciamento como
principais factores inerentes as falhas das barragens. As falhas causadas pelas chuvas
incomuns aumentaram de 25% (antes do ano 2000) a 40% (apos 2000). Isso pode ser
atribuído as mudanças recentes nas condições climáticas.
As falhas ocasionadas devido à má gestão aumentaram de 10% a 30% para os mesmos
períodos. Este aumento nos índices de falhas pode ser atribuído à grande exploração de
recursos sendo depositados nos reservatórios sem o devido monitoramento e controle.
A deformação das barragens constitui-se no principal problema que pode surgir durante
a vida útil do empreendimento.
Vários factores influenciam nas deformações, dentre eles:

 Formato, dimensões e propriedades mecânicas do material matriz;


 Baixa resistência ao cisalhamento das matérias da barragem;
 Espessura da camada compactada;
 Natureza da fundação devendo possuir permeabilidade compatível com o
objectivo de minimizar a percolação;
 Variação do nível da água do reservatório;
 Atividade sísmica da região ou efeitos de detonação pela mineradora.

2.2.15 Inspeções e manutenções de Barragem


Para evitar quaisquer imprevistos, as barragens devem passar por manutenções
periódicas, seguindo normas e legislações que são de extrema importância para a vida útil
e a segurança desta.
Segundo Araújo (2006), há três tipos de inspeção: de rotina, inspeção regular e inspeção
especial. A primeira deve ser frequente, sendo que se recomenda sua realização mensal,
e objetiva detectar a ocorrência de novas anomalias e acompanhar a evolução de
anomalias anteriormente registradas. A segunda deve ser realizada a cada semestre e
possui um grau de detalhamento superior. Deve ser requerido uma descrição dos aspectos
a inspecionar, como as medições das dimensões de uma anomalia, sua classificação em
termos históricos (nova, sem ou com evolução) e sua prioridade de intervenção (situação

45
de alerta ou de emergência, de atenção, potencialmente grave e sem gravidade). Nessa
inspeção também se realizam outras ações como verificação das condições do sistema de
drenagem superficial, avaliação do estado da barragem (ocorrência de erosões
superficiais, trincas ou deslizamentos) e a verificação das condições de operação do(s)
vertedouro(s). Já a inspeção especial é realizada em caráter excepcional, como em casos
de grandes cheias.
Além das inspeções, também é necessário um adequado programa de manutenção das
barragens. A manutenção é o conjunto de tarefas destinadas a manter a barragem em
adequadas condições de segurança e de funcionalidade, sendo que quando devidamente
realizadas, as manutenções protegem a barragem contra a deterioração, prolonga a sua
vida e reduz grandemente a probabilidade de ruptura.
Segundo Duarte (2008) cita dois tipos de manutenção: a preventiva e a corretiva. A
primeira é efetuada frequentemente, visando evitar a ocorrência de uma anomalia,
enquanto a manutenção corretiva é o conjunto de ações realizadas para reparação de
anomalias já detectadas.

46
3 METODOLOGIA DE INVESTIGAÇÃO
a) Quanto a abordagem o tipo de pesquisa é quantitativo porque envolve manipulação de
resultados quantificáveis a fim de obter conclusões possíveis de expressar
numericamente;

b) Quanto a natureza o tipo de pesquisa é aplicado porque tem como objectivo gerar
conhecimentos para aplicação prática, dirigidos à solução de problemas específicos;

c) Quanto aos objectivos o tipo de pesquisa é exploratório porque objectiva criar


familiaridade com o problema a fim de torna-lo explícito e criar hipóteses;

d) Quanto aos procedimentos o tipo de pesquisa é bibliográfico porque irá basear-se no


levantamento de referências teóricas já analisadas e publicadas, e será ao mesmo tempo
quanto aos procedimentos pesquisa de campo porque além da pesquisa bibliográfica
envolve a colecta e análise de dados de campo.

3.1 Instrumentos e técnicas de recolha de dados


Para o desenvolvimento do trabalho as técnicas usadas foram consultas bibliográficas,
trabalho de campo (observação directa), consultas ao supervisor e outras entidades da
empresa.

Os instrumentos usados para a recolha de dados são: GPS (Sistema de Posicionamento


Global) que foi usado para localização dos pontos de deposição do estéril e rejeito;
medição da inclinação das rampas e obter as distâncias entre a mina e local de deposição
da pilha de estéril e rejeito. Foi usada a estação total para fazer levantamento topográfico
altimétrico; cálculo de volume do carvão e estéril desmontado e delimitação das áreas a
serem desmontadas.

3.2 Limitações de Estudo


Durante o desenvolvimento da pesquisa, houve algumas dificuldades tais como: Falta de
equipamentos para a medição de alguns dados tais como: Factor de segurança das pilhas,
condutividade hídrica, nível freático, ângulo de repouso do estéril, permeabilidade das
rochas no local. As dificuldades ora referidas, foram agravadas pela falta de registos de
alguns dados e pela confidencialidade dos documentos na empresa.

47
4 APRESENTAÇÃO, ANALISE E DISCUSSÃO DE RESULTADOS
4.1 Apresentação de dados
JSPL Mozambique Minerals, Lda, é subsidiária da Empresa Steel and Power (Mauritius),
Ltd, parte da Jindal and Power, Limited, uma das maiores Companhias de fabrico de Ferro
na Índia. Em Moçambique, dedica se a extração do carvão tanto térmico como coque.

O carvão metalúrgico que é extraído, é exportado para o mercado na Índia, e, o carvão


térmico igualmente produzido, é vendido no mercado aberto.
No Bloco 3605C, ocorrem várias camadas de Carvão com profundidades que variam entre
2 a 300 metros. Estas camadas ocorrerem como horizontes contínuos nos quais a extração
ocorre em duas cavas designadas Pit D e Pit D extension. A camada de carvão extraido,
está subjacente a camada de arenito, que constitui o estéril.
As operações unitárias de lavra na mina da JSPL são: Perfuração; Desmonte;
Carregamento e Transporte.

4.1.1 Perfuração
Na JSPL a perfuração é feita por duas perfuratrizes rotativas instaladas em camiões como
ilustra a figura 12.

Figura 12: Perfuratriz instalada no Camião.

Fonte: Autor, 2019.


48
4.1.2 Desmonte
A JSPL faz o desmonte com recurso a explosivos do tipo emulsão a granel, transportados
em um camião com capacidade de armazenar 18000kg. Os tempos de retardo usados
correspondem a 25m/s e 17m/s entre os furos e entre linhas respectivamente.
4.1.3 Carregamento
O carregamento do material é feito usando uma escavadeira Terex com16 m3 de
capacidade (figura 13) e três (3) retroescavadoras dentre as quais uma fabricada pela
Volvo, a outra pela Caterpilar e a última pela Komatsu com uma capacidade das caçambas
de 3,5 m3.

Figura 13: Escavadeira Terex com 16m3 de capacidade da caçamba.


Fonte: Autor 2019

4.1.4 Transporte
O transporte do material na frente de desmonte, está subdividido em: Transporte do
estéril e transporte do minério (carvão). Tanto o transporte do estéril como do minério, é
feito por vários camiões basculantes (figura 14) cujas capacidades variam de 17,5 a 100
toneladas.

49
Figura 14: Camiões basculantes usados.

Fonte: Autor, 2019.

4.1.5 Gestão de Estéril na JSPL


Da cava, o estéril é transportado e depositado num local que dista cerca de 1260 m cujas
coordenadas são 15° 48’ 15’’ Sul e 32° 57’ 00’’ Este e uma cota de 1000 m.

Foi escolhido este local por não possuir nenhum minério de valor e estar localizado perto
da cava da mina. Na área escolhida para a deposição de estéril, não foi feita uma
investigação geotécnica aprofundado para se conhecer as propriedades do material
rochoso (resistência, porosidade, fracturação), grau de alteração das rochas, etc. A
quantidade de estéril movimentada e depositada no período de agosto a outubro, está
representada na tabela 1.

Tabela 1: Quantidade de estéril movimentada e depositada de agosto a outubro 2019.

Mês Agosto Setembro Outubro Total

Quantidade depositada (toneladas) 312.000 290.000 350.000 952.000

50
4.1.6 Hidrologia e hidrogeologia da área de deposição do estéril
A área da pilha de estéril encontra-se localizada na Bacia Hidrográfica (figura 15), no
entanto, existem apenas alguns riachos sazonais que atravessam a área de estudo e drenam
para os rios toda a precipitação que é recebida. Todos os rios e riachos são sazonais e
fluem apenas em resposta directa às estações chuvosas, permanecendo na maior parte
secos para o resto do ano. Assim sendo, o escoamento superficial da área de deposição
ocorre apenas durante a estação chuvosa.
Esta bacia da área de estudo é caracterizada por apresentar um escoamento superficial
limitado durante o período chuvoso. Na bacia a declividade é alta portanto não
proporciona trechos sujeitos a enchentes.
Ao redor do local de deposição de estéril foi identificada uma cobertura fina de aluvião,
principalmente em áreas baixas. A espessura do aluvião não é elevada e é, geralmente,
inferior a 5 metros, ocorrendo aquíferos moderadamente produtivos.

Figura 15: Bacias Hidrográficas da área de estudo.

Fonte: JSPL2018.

51
4.1.7 Projecto executivo de depósito de estéril
O estéril, é depositado em forma de pilha (figura 16) mas não foram seguidas com
rigor, as etapas que garantem a segurança da pilha de estéril, como por exemplo, não
foi feito um sistema de drenagem interna, apenas foi feita uma inclinação para poder
drenar as águas superficiais. A sua geometria, seguiu os seguintes critérios:

 Altura máxima da pilha é de 60m;


 Largura máxima da berma é de 12m
 Ângulo de inclinação de 2° graus.
 A pilha possui apenas um banco,
 Única via de acesso, portanto não tem via de acesso de manutenção.

Figura 16: Pilha de estéril com materiais finos depositados topo e blocos maiores no pé

Fonte: Autor, 2019

52
Como se pode observar na figura (17), a pilha é composta por materiais areníticos e
carbonatados (Carvão mineral), de granulometria fina, média e blocos maiores com
30mm de granulometria. Os materiais médios e finos ficam depositados no topo da pilha
e os blocos maiores rolam para o pé do talude. São notórias algumas fissuras na figura
(17) abertas por agentes de intemperismo.

Figura 17: Fissuras abertas por agentes de intemperismo na pilha.

Fonte: Autor, 2019.

O material considerado produto (carvão), também é transportado por camiões basculantes


da cava até a planta de processamento que dista cerca de 3511m.
4.1.8 Planta de Processamento mineral
A planta de processamento da JSPL é constituída por várias secções que são consideradas
sub-plantas: Secção de Salas; Planta Primária; Planta Secundária; Planta dos Aspirais;
Espessador (DMS THICKENER), Flotação e Filtros de Pressão.

53
4.1.9 Secção de Salas
O carvão nesta secção passa do britador primário de rolos dentados que reduz o tamanho
do material de 150mm e depois passa por vários processos até atingir - 20mm de
granulometria que é considerado produto e o material +20 mm é considerado rejeito. O
produto é alimentado nas duas plantas primárias D1 e D2.

4.1.10 Planta Primária


Esta planta esta dividida em duas partes designadas D1 e D2 que fazem o mesmo
processamento do carvão mineral.
Estas plantas, fazem a separação de grossos e finos em que o material abaixo de 0,8mm
é enviado para o ciclone onde é feita a separação por gravidade em que o material mais
denso é o produto desejado que passa para processos seguintes e o produto menos denso
é considerado rejeito.
4.1.11 Planta Secundária
Tem a função de separar o carvão coque e o carvão térmico através do ciclone que faz
separação por gravidade em que o carvão térmico é o mais denso é enviado ao pátio de
carregamento e o carvão coque é o menos denso que é enviado a planta dos aspirais. É de
salientar que nesta planta não se produz nenhum rejeito.

4.1.12 Planta de espirais


A planta de espirais é considerada a planta dos finos por receber material da planta
primária D1, D2 e planta secundária. A água é o único concentrador utilizado durante o
processo de beneficiamento nesta planta e a separação é feita por gravidade nos aspirais
que separa o material ultra fino e fino, o ultra fino é considerado produto que passa para
processos seguintes e o material mais fino é considerado rejeito.
4.1.13 Espessador (DMS thickener)
No espessador faz-se o tratamento da água que antes foi utilizada na planta de
processamento durante o processo de deslamagem nas plantas primárias e secundarias do
carvão para recuperação da água como ilustra a figura (18).
O espessador é um tanque que tem como função a acumulação de partículas sólidas e
líquidas. Os espessadores são utilizados para aumentar a concentração dos sólidos de
polpa até atingir quantidades suficientes para o material alimentar a planta de flotação.

54
Figura 18: Espessador da planta de separação por meio denso

Fonte: Autor, 2019.


4.1.14 Planta da flotação
A planta da flotação, tem como objectivo recuperar os ultrafinos provenientes do
espessador, separando o material útil (produto) do material não útil (rejeito).
4.1.15 Filtros de pressão
Esta planta tem como propósito reduzir a água do concentrado, isto é, separa o material
da água e não há produção de rejeito.

4.1.16 Rejeito da planta de processamento da JSPL


A JSPL estimou produzir anualmente cerca de 132 milhões de toneladas para ser
armazenados em uma área de 20 hectares concebidas para o efeito.

A planta de processamento tem uma produção de rejeito que varia de 70 a 90 mil toneladas
por mês. As produções de 3 meses, estão indicadas na tabela 2.

Tabela 2: Quantidades de rejeito produzido e depositado de agosto a outubro 2019.

Mês Agosto Setembro Outubro Total

Quantidade (t) 85.000 72.000 90.000 247.000

55
Fonte: Autor

Da planta de processamento até ao local de deposição que dista cerca de 830 m, o rejeito
sólido e lama é transportado em camiões basculantes.

O rejeito produzido é depositado em um local aberto (figura 19), sem barramento e sem
nenhuma preparação prévia. Igualmente, não foi feita a investigação geotécnica nem se
quer a impermeabilização da base do local de deposição. Apresenta características
diversas por ser obtido em diferentes sub-plantas. O rejeito grosso com granulometria que
varia de +20 mm a 50 mm é produzido na subplanta de secções de sala e as outras
subplantas como planta primária, planta dos espirais e na flotação produzem rejeito
sólidos finos, ultra finos e lama como ilustra a figura (19), todo tipo de rejeito produzido
é composto por carbono, enxofre, ferro; material volátil; sulfatos; humidade; cinza,
oxigênio, hidrogênio e pirita;

Figura 19: Rejeito produzido e disposto na JSPL Mozambique Minerals.

Fonte: Autor, 2019


4.2 Ensaios Laboratoriais
Para o efeito, são colectadas amostras no campo seguida da posterior preparação e depois
são feitos os ensaios laboratoriais para se conhecer as diferentes propriedades do carvão.
56
A colecta de amostras é feita diariamente na planta de processamento e alguns dias é feita
na mina mas sendo as amostras colectadas na planta as mais importantes antes e depois
de ser processado o carvão mineral, isto é, as colectas são feitas a cada fase em que o
carvão passa desde a alimentação no britador primário até ao produto final. As amostras
colectadas, são levadas ao laboratório, no qual fazem - se análises de teor de cinza,
humidade, volaticidade e enchimento. Estas análises são feitas em amostras em pó vindas
da preparação de amostras.

4.3 Análise de dados


A empresa JSPL Mozambique Minerais LDA, produz e deposita muita quantidade de
estéril relativamente ao rejeito. O rejeito produzido e depositado corresponde cerca de
25,9% da quantidade de estéril.

A distância de deposição do rejeito corresponde a 65,9% da distância de deposição do


estéril.

A escolha do local de deposição tanto do estéril como do rejeito, baseou-se apenas no


factor económico (não possuir nenhum minério de valor e estar localizado perto da mina).
Este estudo locacional, não foi suficiente quando comparado com o procedimento de
Aragão (2008) o qual evidencia que a escolha de um local para deposição de estéril e
rejeito deve não só estar em função de factores económicos, mais também em função de
factores técnicos, ambientais e sociais.

As pilhas de estéril foram construidas sem observância de vários parâmetros como se


pode citar: Falta de sistema de drenagem das águas, não preparação prévia do local das
pilhas (não impermeabilização da base, a não consideração de factores geológicos e
geotécnica, para se conhecer as propriedades do material rochoso (resistência,
porosidade, fracturação), grau de alteração das rochas, isso condiciona a resistência das
pilhas criando facilmente o rompimento das mesmas com ação dos agentes externos de
intemperismo (ventos e água, calor).

57
4.4 Discussão de resultados
Apesar de se produzir e depositar-se pouco rejeito relativamente ao estéril, o rejeito é
mais nocivo pela sua composição em relação ao estéril. Por outro lado, a pirita- FeS₂
(dissulfeto de ferro), que compõe o rejeito, é um elemento que associado a outros factores,
gera a drenagem ácida.

A maior distância de deposição do estéril gera maiores custos de transporte,


comparativamente ao custo de transporte do rejeito.

Tanto as fissuras existentes nas pilhas como a falta de impermeabilização do local de


deposição tanto do estéril como do rejeito, Facilitam a entrada e circulação da água
superficial tanto na pilha como na área de deposição.

Dada a composição tanto do estéril como do rejeito (conter minerais sulfetados),estes


oxidam-se por reação com água tanto superficial como percolada e oxigénio, formando
solução que age como agente lixiviante dos minerais presentes no resíduo produzindo um
percolado rico em metais dissolvidos e ácido sulfúrico.

Dado que as áreas de deposição tanto do estéril como do rejeito estarem inseridos numa
Bacia Hidrográfica, contendo rios e riachos, quando o percolado alcançar não só esses
rios e riacho, mas também águas subterrâneas, pode contaminá-los tornando-os
impróprios para o uso.

58
5 CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES
5.1 Conclusão
Avaliada a deposição do estéril e rejeito da empresa JSPL Mozambique Minerais Lda,
em Chirodzi, distrito de Marara província de Tete, conclui-se que:

A JSPL não usa nenhum método de deposição do rejeito produzido na planta de


processamento e a sua deposição não segue nenhum padrão técnico. Mesmo tendo uma
área extensa (20 hectares) para a deposição de rejeito a JSPL não tem planos estratégicos
para uma boa gestão deste resíduo.

Os factores que influenciam na má deposição do estéril e do rejeito são: Fraco


planeamento (Construção das pilhas de estéril sem sistema de drenagem das águas); a não
consideração de factores geológicos e geotécnicos para se conhecer as propriedades do
material rochoso (resistência, porosidade, fracturação, grau de alteração das rochas), falta
de profissionais especializados para a deposição do estéril e rejeito e fraca gestão do
estéril e rejeito (maior distância de deposição do estéril, falta de monitoramento dos
resíduos depositados); a não preparação prévia do local das pilhas (não
impermeabilização da base), a escolha do local de deposição tanto do estéril como do
rejeito, baseando - se apenas no factor económico (distância mínima e ausência de
minério de valor).

De entre as consequências geradas pela má deposição do estéril e do rejeito, destaca – se


a poluição do solo, das águas subterrâneas e superficiais (contaminando assim as águas
dos rios e lagos que são usadas pela população e pelos animais para vários fins), a
drenagem ácida da mina compromete a fertilidade do solo para agricultura e fraca
segurança das pilhas de estéril.

A menor quantidade de resíduos depositados tanto nas pilhas como na área de deposição
(relativamente a capacidade projectada) e as condições climatéricas (baixa precipitação e
raras chuvas na área de estudo), são factores que estão assegurando não só a resistência e
estabilidade das pilhas mas também atenuam a velocidade da poluição ambiental.

O método descendente usado para a deposição de estéril, não é eficaz para resíduos
minerais ofensivos ou perigosos para o meio ambiente.

Para o estéril, o autor propõe que a empresa use o método ascendente por ser um método
que permite que sejam adotados sistemas de drenagem adequados e é realizada a proteção

59
superficial dos taludes, o que também contribui para a maior segurança da pilha, pois
estes parâmetros facilitam o controlo geotécnico que tem impacto directo na segurança
da pilha e minimizam perfeitamente a vulnerabilidade do estéril frente às condições de
oxidação, percolação, lixiviação e erosão minimizando também os riscos de poluição do
solo, das águas superficiais e subterrâneas.

Para o rejeito, propõe - se o uso de método de jusante por ser um método eficiente para o
controle das superfícies freáticas, maior segurança devido aos alteamentos controlados e
tem operações bastante simples. Este método elimina impactos ambientais pelo facto de
se construir um dique inicial impermeável não possibilitando assim a infiltração da
drenagem ácida no subsolo, há maior controlo de águas percoladas por possuir sistemas
de drenagem.

60
5.2 Recomendações
Avaliados os métodos de deposição de estéril e rejeito, recomenda-se:

 O talude das pilhas deve ser projectado obedecendo as normas técnicas existentes;
 Impermeabilização da base da pilha para evitar filtração de líquidos percolados
no solo que posteriormente causam impactos negativos ao meio ambiente;

 Implantação do sistema de drenagem na base e no interior da pilha visando a


estabilidade do talude;
 Dispor o estéril em camadas e construir barragens de rejeito;
 No estudo de locação de pilhas de estéril, deve-se considerar factores como
viabilidade de construção, factores ambientais, técnicos e não deve apenas se
basear na existência ou não de minério de valor (carvão mineral) e na distância
em relação a cava da mina.

61
6 Referências bibliográficas
1. ARAGÃO, G. A. S. Classificação de pilhas de estéril na mineração de ferro. 2008.
Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, 2008.
Disponível em: http://www.repositorio.ufop.br/handle/123456789/2470.
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Rejeito de Mineração de Ferro (Dissertação de mestrado). Programa de Pós-‐
Graduação de Engenharia – UFRJ, Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 133p.
3. ARAÚJO, C. B. Contribuição ao Estudo do Comportamento de Barragens de Rejeito
de Mineração de Ferro. 2006. 143 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil) –
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2006.
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5. AZEVEDO, M. P. N. de. Barragens de terra – Sistemas de drenagem interna. Trabalho
de Conclusão de Curso, Universidade Anhembi Morumbi, São Paulo, 2005.
6. BARRETO, M. L. Mineração e Desenvolvimento Sustentável: Desafios para o Brasil,
2001. 3 ed. Rio de Janeiro: CETEM/MCT, 2001. 215 p.
7. BOTELHO, G.V. Análise da viabilidade de implantação de uma barragem de
contenção de rejeitos utilizando ensaios de consolidômetros e modelagem digital. São
Carlos, SP, 97p. Dissertação de Mestrado EESC-USP. 1994.
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7 Apêndice

Apêndice 1: Estéril depois do desmonte.

Apêndice 2: Rejeito com granulometria média e grossa disposto na JSPL.

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