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Grande Roberto
do Diabo
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LIVRARIA BARATEIRA
34, RUA DO DUQUE, 36
LISBOA
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Historia do Grande Roberto do Diabo
bcrto do Diabo! E desta sorte lhe íicou o tal apelido, pelo qual já era
entre todos e em todo o mundo conhecido.
Como Roberto do Diabo matou o mestre
que o ensinava e o tinha a seu cargo
Tendo já Roberto seis anos e tendo o duque seu pai pezar da sua
má inclinação e perversa vida, intentou com a doutrina emendar a
perversidado da natureza e o mandou vir perante si e lhe disse: Fi-
lho, já é tempo para que aprendas a boa educação e as sciencias, pois
que Deus te dá habilidade para isso e para que te avantages aos teus
vassalos. A isto nada respondeu Roberto; antes baixando a cabeça e
olhando com muita raiva para os lados e para a duqueza sua mãe e
para o duque seu pae, bem parecia Roberto do Diabo.
Mandou logo, o duque seu pae, chamar um mestre de boa vida e
costumes, cortezão, sábio e homem honrado e lhe disse que d ali em
diante tomasse por conta aquele menino e o doutrinasse na politica,
sciencias e bons costumes. E levando o mestre a Roberto comsigo,
tratou de o ir ensinando como era devido a pessoa de tanto procedi-
mento : porém, nem a doutrina, nem o conselho, nem o castigo pode-
ram fazer jámais em Roberto operação alguma boa, mas antes au-
gmentou a malícia e tyrania com que a todos tratava.
Havendo Roberto um dia morto, aleijado e ferido muitos rapa-
zes, foram os paes d'estes queixar-se ao mestre, o qual, querendo-o
castigar, puxou Roberto por um punhal e com ele matou logo o
mestre.
Notavelmente sentiu o duque a morte do mestre e reprehendeu a
Roberto. Este fez muito pouco caso da repreensão: e assim continuou
sempre com as suas diabólicas travessuras com tal soltura, que todos
o temiam de tal sorte que não ousavam repreendel-o e se escondiam
para que ele os não visse. Nunca ia á egreja, senão fazer grandes
arruidos, zombando dos frades e clérigos e de todos que n ela esta-
vam encomendando-se a Deus Nosso Senhor. E assim ficou sem mes-
tre porque não houve outro que o quizesse ensinar. Vendo o duque a
preversidade de seu filho, tendo este já dezesete anos, intentou
armal-o cavaleiro, para ver se d'esta sorte mitigariam o seu preverso
animo.
Historia do Grande Roberto do Diabo 9
a todos dc tal maneira, que foi necessário que o duque saísse a soce-
gal-o; porém, Roberto do Diabo, sem atender nem ter respeito algum
a seu pae, foi continuando na sua diabrura, até que todos fugiram e
ficou ele só Da praça.
Vendo Roberto que todos fugiam e não achando com quem pelejar,
saiu da praça e não tratou de ir para o palacio, pelo pouco respeito
que teve a seu pae e logo buscou alguns homens (que não foram pou-
cos) da sua condição e saiu com eles por todo o ducado de Normandia,
roubando a quantos encontrava, matando e ferindo e o mesmo fazia
nas aldeias e lugares, desonrando donzelas, forçando casadas e viu-
vas, sem atender mais que ao seu depravado gosto, de cuja insolên-
cia concorriam continuadamente muitas pessoas a queixar se a seu
pae; como também do aborrecimento que tinha aos sacerdotes e cou-
sas divinas; e com tão pouco respeito aos lugares sagrados, que (qual
outro Saul) era deles perseguidor temerário.
Quando o duque e a duqueza ouvia taes queixas, os comovia de
tal modo a compaixão do seu povo, que com dadivas procuravam con-
solal-o e pediam continuadamente a Deus quizesse trazer seu filho ao
verdadeiro conhecimento da sua salvação; e para esse efeito faziam
muitas esmolas e outras obras pias, vivendo com desconsolação de ter
um filho não esperado, quasi havido por milagre e ser tão maligno e
preverso.
Quando Roberto soube do pregão que seu pae tinha mandado pu-
blicar, teve tão grande temor de ser preso e assim também seus com-
panheiros, que logo mandou fazer um forte para se defender e dali
saia aos caminhos a quantos encontrava, roubava e fazia em pedaços
e a outros lhes tirava o coração vivo; andava tão perdido, que conti-
nuamente se entregava ao Diabo e o chamava para lhe pedir a sua
ajuda e conselhos. E assim vivia tão absoluto, sem temor do Altíssimo,
que saia com o seu rancho de ladrões por todas as terras e lugares
circumvizinhos, a desonrar donzelas, casadas, viuvas e matar, ferir,
espedaçar e roubar; de sorte que todos desamparavam as suas terras,
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imperador que Roberto tinha fome, mandou que junto a ele se pozesse
uma mesa, para a qual vieram varias iguarias : porém Roberto, por
mais que o obrigassem a comer, não quiz aceitar, antes estava olhando
para o cão, vendo se lhe deitavam alguma cousa ; vendo o imperador
isso, deitou um pão inteiro ao cão e logo Roberto se lançou ao cão e
lh'o tirou da boca, partiu-o pelo meio, deu-lhe metade e comeu ele a
outra metade ; e o imperador cada vez estava mais admirado da man-
sidão do cão, sem que nunca tivesse visto Roberto.
Depois de Roberto comer a metade do pão, começou a saltar pela
casa e fazer varias invenções. Vendo uma porta aberta que ia para o
jardim, onde foi correndo e saltando como um louco e chegou á fonte
onde bebeu.
Chegada a noite, começou Roberto a buscar sitio para se deitar;
e, achando atraz de uma escada um cão deitado sobre um pouco de
palha, deitou-se juntamente com ele. Indo um creado dizer isto ao
imperador, este mandou que lhe fizessem uma cama; porém não foi
possível querer deitar-se n'ela e assim ficou com o cão, que sempre
d'ahi em diante foi seu companheiro, tanto de cama como de mesa.
agora eras conhecido como Roberto de Deus, pois já Esse Senhor sendo
da sua misericórdia, te tem perdoado e se dá por satisfeito da tua pe-
nitencia; e assim sou mandado aqui por Deus, para que to diga.
Quando Roberto viu o ermitão e ouviu taes palavras, se poz de
joolhos e, pondo as mãos, com os olhos levantados para o céu, disse
d'esta maneira: — Oh! Todo Poderoso Deus, fonte de misericórdia e
de piedade, que hoje recebe este indigno servo tão grande bem por
tão pequeno trabalho ! Rogo-te por tua infinita bondade que em todo
o tempo te lembres de mim e que não me apartes do caminho dos
teus mandamentos e te mereça louvar para sempre.
Quando o padre santo e os mais que presente estavam viram as
concertadas razões de Roberto, ficaram atonitos e a infanta ficou
muito alegre com a esperança de ser sua esposa; porque as suas fa-
çanhas lhe tinham acendido amoroso fogo no coração, cujo incêndio
lhe captivaram muito a liberdade, pois nunca se lhe tirava do
sentido.
Disse então o imperador a Roberto que lhe havia fazer a honra
de casar com sua filha, pois bem a tinha merecido e o ficaria substi-
tuindo no império; porém, Roberto, se escusou como politico, com o
pretexto de ir a uma romaria cumprir certa promessa. E assim ficou
todo aquele dia e noite no palacio e todos com grande contentamento
teza que tinha da sua ausência em uma eficaz alegria ; e sentiu mais
a infanta que era a que mais padecia os combates com que o ermo a
atacava e não menos toda a nobreza de Roma, que muito a amava.
Logo, sem demora, se ajustou o casamento e se receberam com
toda aquela solemnidade devida a pessoas de tão superior esphera.
E todo o povo ficou tão contente, que uniformemente o festejaram,
dando aos céus infinitas graças por tão grande beneficio de lhe dar
Roberto por substituto no império, de quem esperavam um santo e
justo governo, que este é o maior premio para os vassalos.
todos ; tanto pela sua santa vida, como pela boa governança que fazia,
de que todos os seus vassalos estavam muito contentes e satis-
feitos.
dia, a viver com sua esposa uma vida santa e contemplativa. E tive-
ram um filho, por nome Ricardo, que também viveu santamente e fez
grandes prodígios em favor da lei de Christo; e n'isto empregou todo
o seu tempo, nem podia tão boa arvore deixar de produzir tão bom
fructo, o qual foi um dos doze Pares de França, do templo de Carlos
Magno, chamado Ricardo de Normandia.
FIM
Obras á Tenda na LIVRARIA BARATEIRA 3A!!!Í ?,0„o0.u^íii-6
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beira. Alniannch Borda d'Agaa. ro. O caso do patco das Bichas, por Henriquo
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da Conoeição. Nossa Senhora da Fátima. Nos Norberto Lopes. O vencido, por Assis Espe
sa Senhora de Lourdes. Nossa Senhora de Mon- rança. Memoriae d'um hospede, por Cristiano
serrat*. Nossa Senhora da Saúde. Bainha San Lima. O trambôlho, por Guedes de Amaral. O
ta Isabel. Santa Rita de Cassia. Santo Antonio Triunfo da Arte, por Eduardo Frias. Um caso
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Jesus Cristo. Oração contra terramotos, tro oa, por Gomes de la Berna. Nos braços da
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Freitas. Incêndio da rua da Madalena. Os cri- Perdição, por C. C. Branco, 7460; eno. 12450.
mes do Romoxido. Antonio Silvino. Confissàt Aquae Meris, D. Carlos 1 perante a historia
do Vicente Marujo. Historia de João Soldado. cósmica, por Eugénio Battaglia, 1500. Aguas
Miguel de Vasconcelos. O livro de S. Cipriano Claras, frases de amor e de sandade, por Or-
Oráculo do Destino. Arte de conquistar as mu 1 lando Marçal, 5500. A hora do silencio, A mi-
lhoros. O crime de Augusto Gomes. Trova. nha Tebaida, Ode ao sol, ventos, por C. de
i ara o povo. Colecção ae quadras populares. Mendonça 2400. Barrabás, romanco cinemato-
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Branca-Klor. Historia de D. Inex de Castro fantil, cerca de 50 variedade', 460. Cartilha In-
Rainha Santa Izabel. A Padeira de Aljubarro fantil, por A. Simões Lopes, 1.* parte, 1560. 2.*
ta. Cartas de amor de Soror Mariana, O mila- parte, 24 50. Contos para as creanças, por An
gre do Fátima. Historia do João de Calais. onio Figueirinha., oart. 8,>U). Contos das
História do Touro Azul. Aventuras de Bertol creanças, 6400. Contos para os nossos filhos.
do. Historia da Prinneza Magalona. Verdadeira por D. M. Amalia Vaz de Carvalho e Gonçal
história da donzela Teodora. Marquez de Pom ves Crespo, com 100 gr. 10500. Camilo, a sua
bal. Vasco da Gama. Vida de Cacasãeno. Di vida, o seu génio, e a soa obra, por Paulo Oso-
cionario das Flores. Historia do Grande Ho rio, 12550. Cateoismo da doutrina ohrist», vol.
borto do Diabo. Je <00 pag. cart. 2560. Crime da estrada do
. COLECÇÃO DO POVO A 2$00 : Amores Tra- Pinhal da Azambuja, por Artur Patrício, 460.
ÇJpsos, por Eugénio Battaglia. Arte de explT Dicionário da antiga linguagem portugue-
cr(&^s sonhos, Amor, as mulheres ; as muthe- sa, por li. Brnnsvick, 5500. Dama das Ca-
res^e Ç arnor (Os pensamentos de Camilo). Ban melias, por Alexandre Dumas, filho, com 23
c<f Paktastico. Angola e Metrópole, novel» gravuras 5500. D. Quichote de la Mancha, 5500.
soiialjvbr Eugénio Battaglia. A Canção dePor Dicionário popular, 1468 pags., contendo a mo-
tngali-O crime de um anarquista, Eugénio Bat derna e antiga ortografia por Augusto Moreno,
>T ^Uplia.'f*õ00. Historia de Carlos Magno. Des- eno. em percalina 2S400. Entre precipícios, oro
presarfo, memorias do auctor do Marquez da nicas politioas dos últimos tempos, por Carlo.
BacaThôa, por Cesar dos Santos. Escravos do Malheiro Dias, 3400. Enciclopédia das Famí-
r, ror Joaquim da Silva Godinho. Es- lias, revista ilustrada, 60 nnmeros difsrentes,
' ^ffito Errante, por Carlo. Babo. Francês a 430. Famitia Inglesa, por J. Dinis, 7500. His-
sem mestre. Gravides e Parto, por William torias da Carochinha, stoO- Ingles sem mestre,
Schatf, 50 ílmt. Guta da Coslnhelra. Guitar- por Charlas Boquette, <400 Impressões Varias,
ra do povo. Historia dos Grandes Criminosos. subsídios para a historia do 19 de Outubro, por
Historias Ilustradas para os meus filhos M. d» Jesus Campos. <400. Imagem do Sonho
ídolos de Barro (Julio Dantas) por V. Dia. e da Ventura, por Orlsndo Marçal, 460. Lenda
Sancho. Liar o dos Namorados. Madalena, do homem que foi buscar o estandarte a Hes-
po H. P. K.crich. MU anedotas para rir. Mis panha, 55o. Lioro verdadeiro de S. Cipriano,
terios da Inquisição Não há Deus nem alma ediç&o completa, 7560. Livro de M.me Brouil,
Eugénio Battaglia. O one i o casamento, por lard, Dloinaçdo do passado, presente e futu-
H. de Balzac. Paulo e Virginia, por Bernardin ro, 3400. Livros para apontamentos, 160 pag.
do Saint-Pierre. Romeu e Julieta. Registo du- pautadas. 1450. Lusíadas, por Lois de Camões,
ma cocóte, «atira politica, por Eugénio Batta- comentados por Epifânio as Silva Dias, 2 vols.
glia. Rosa Setoagem. Ublrajara por K. de 20400 Meus pequeninos, Taatro infantil » osn-
Alencar. Ultimo dia de um condenado, por ções de gesto, musica de Estsfsnia Cabreira,
Viotor Hugo. versos de Olivia Cabral, 7460. Manual do Fo-
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çào o Calculo Comeroial. 5400. Ezercioios Pra nado, 3400. Manual da Formosura, O» segre-
tico. de Escrituração a Caloulo Comercial. dos da Mnlher pela condessa d'Arley, 2460
Bf». Mundo Novo, romance por Ana de Castro Oso
LIVROS DE AVENTURAS : Proeza» de Raf rio, 12460. Novo método pratico, para aprsn
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ros a 560. Capitão Morgan, 20 números a #50. Jacob Bensabat, 8400 oart. 10460. NODO metodi
Stoerto Becker, aventuras de um oapitAo de pratico, para aprender a lsr, esorsvsr e fala
18 anos, 10 num. a 1500. Novela polioial, 3 va- a língua frenessa, por Jacob Bensabat, 8400
riedade. a 1400. cart 10450. Marques de Pombal, por Mana»
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