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Alexandre M. de M. Carvalho∗
14 de dezembro de 2008
Sumário
1 Formalismo Lagrangeano 1
1.1 Leis de Conservação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
2 Formalismo Hamiltoniano 5
3 Transição Discreto-Contı́nuo 5
4 Transformações Canônicas 8
1 Formalismo Lagrangeano
A formulação mais geral das leis que governam o movimento dos sistemas mecânicos é o Principio da
Ação ou Princı́pio de Hamilton. Tal principio é fundamentado na noção de que a natureza sempre
extremiza certas quantidades importantes quando algum processo fı́sico ocorre. Hamilton anunciou
um princı́pio mecânico no qual é possı́vel se basear toda a mecânica e quase toda a fı́sica clássica.
Do ponto de vista histórico, o primeiro princı́pio da ação foi proposto por Herode Alexandria.
Ele mostrou que quando a luz é refletida por um espelho, a trajetória do raio de luz, entre o objeto
e o observador corresponde a de menor distância (Lei da reflexão). Em 1967, Fermat reformulou a
princı́pio de Hero, postulando que o raio de luz viaja de um ponto a outro de maneira que o tempo
decorrido é mı́nimo
Z Q
dS
δ = 0. (1)
P v
Através desse princı́pio Fermat provou a lei da reflexão e a de Snell. A primeira aplicação na mecânica
foi proposta por Maupertius, em 1747. Ele estabeleceu que o movimento de um sistema mecânico
ocorre de tal forma que a ação seja mı́nima. Entretanto, a noção de ação de Maupertius era bastante
obscura.
Em 1824, Hamiltom estabeleceu o princı́pio da ação de forma mais geral, estabelecendo que: “de
todos os caminhos possı́veis ao longo do qual um sistema dinâmico pode evoluir de um ponto a outro
dentro de certo intervalo de tempo especı́fico, o caminho que a partı́cula segue é aquele que minimiza
a ação”.
A evolução de qualquer sistema dinâmico é governada por seu lagrangiano, L(q, q̇; t). Ele é uma
função das coordenadas generalizadas e de suas velocidades generalizadas. A ação é definida da
∗ Departamento de Fı́sica, Universidade Estadual de Feira de Santana, 44031-460, Feira de Santana, BA, Brazil.
1
seguinte forma
Z t2
S= L(q, q̇; t) dt (2)
t1
Na verdade, o princı́pio de Hamilton requer apenas que a ação seja um extremo, não necessariamente
um mı́nimo. Porém, quase sempre as aplicações importantes em sistemas dinâmicos, a condição de
mı́nimo é obtida.
Considere uma variação na trajetória da partı́cula, dada por δqi (t), entretanto, as extremidades
da trajetória são mantidas fixas, ou seja δqi (t1 ) = δqi (t2 ) = 0. A variação da ação é dada por
Z t2
δS = δ L(q, q̇) dt,
t1
Z
∂L ∂L
= δq + ∂ q̇ dt, (4)
∂q ∂ q̇
Essa igualdade é válida para qualquer para qualquer variação δq, de mode que o princı́pio da mı́nima
ação leva a seguinte equação de movimento
∂L d ∂L
− = 0. (7)
∂q dt ∂ q̇
Essa equação é conhecida como equação de Euler-Lagrange. E é uma equação de movimento equiva-
lente a formulação newtoniana.
Considere um sistema sob a ação de forças conservativas, o trabalho sobre um caminho fechado,
satisfaz a condição
I
W = F~ · d~s = 0. (8)
C
1 ∂L ∂L
R R
∂q
δ q̇dt = uv − vdu, onde identifica-se: u = ∂ q̇
e v = δ q̇. É importante notar que a derivada temporal ∂/∂t
comuta com o operador variação, δ, de modo que
∂ δq
δ q̇ =
.
∂t
Essa identidade é derivada do fato de que δq e δ q̇ podem ser escrito como funções de um parâmetro arbitrário α.
Escrevendo
∂ q̇
δ q̇ = δα
∂α
∂ ∂ q̇
= δα
∂α ∂t
∂ ∂q
= δα, (5)
∂t ∂α
∂
mas δq = (∂q/∂α)δα, sendo assim δ q̇ = ∂(δq)/∂t. Com isso, dv = ∂t
δq dt e v = δq e assim a integração por partes pode
ser realizada.
2
Na presença de forças dissipativas, tem-se W 6= 0. Usando o teorema de Stokes, a integral de caminho
pode ser reescrita em termos de uma integral de superfı́cie, por meio da relação
I Z Z
~
F · d~s = ~ × F~ · n̂dA = 0.
∇ (9)
C A
Como ∇~ × F~ = 0, isso significa que a força pode ser derivada de uma energia potencial U , ou seja
F~ = −∇U
~ . Esse resultado, permite reescrever a segunda Lei de Newton como
d~v ~
m + ∇U = 0. (10)
dt
Ou, reescrevendo em termos das coordenadas generalizadas
d ∂U
(mq̇) + = 0. (11)
dt ∂q
Comparando a segunda lei de Newton (11) com a equação de Euler-Lagrange (7), nota-se que o
lagrangiano pode ser escrito como a diferença entre as energias cinética, T e potencial, U
L = T − U. (12)
Acrescentando essa equação auxiliar ao princı́pio da mı́nima ação, a equação de Euler-Lagrange assume
a forma
∂L d ∂L X ∂f
δq − = λk , (15)
∂q dt ∂ q̇ ∂q
k
3
1.1 Leis de Conservação
Vamos analisar as Leis de Conservação no contexto do formalismo lagrangeano. Durante o movimento
de um sistema mecânico as quantidades qj e ·qj variam no tempo, entretanto existem certas funções
dessas quantidades que permanecem constantes, tais funções são chamadas de integrais de movimento.
Existem algumas integrais de movimento cuja sua constância possui um significado fı́sico profundo e
bem definido.
Vamos considerar a primeira lei de conservação derivada da homogeneidade do tempo. Assumindo
que o lagrangeano tem a forma L(qj , q̇j ), a derivada total dL/dt assume a forma
dL X ∂L dqj X ∂L dq̇j
= +
dt j
∂qj dt j
∂ q̇j dt
X ∂L X ∂L
= q̇j + + q̈j (16)
j
∂qj j
∂ q̇j
~r → ~r + ~, (20)
d
Usando a identidade δ q̇j = dt δqj ≡ 0, encontra-se
X ∂L ∂L
δl = δqj = 0 ⇒ = 0. (23)
j
∂qj ∂qj
4
O momentum conjugado é definido por
∂L
pj = , (24)
∂ q̇j
então o momentum linear também é uma integral de movimento.
A Terceira Lei de Conservação que surge a partir da isotropia do espaço é a conservação do
momento angular. Por isotropia, entende-se que as propriedades mecânicas de um sistema mecânico
é invariante por rotações.
~ = ~r ×~
Isso implica que a quantidade L p, chamada de momento angular de um sistema de partı́culas
é uma integral de movimento.
2 Formalismo Hamiltoniano
Na formulação das leis da mecânica em termos do lagrangeano, pressupõe-se que um estado mecânico
é definido através das coordenadas generalizadas e suas respectivas velocidades. Além disso, a solução
da equação de movimento é escrita em termos da posição q, esse espaço é conhecido por espaço
das configurações. Entretanto, essa não é a única formulação possı́vel, pode-se descrever um estado
mecânico em termos das coordenadas e seus respectivos momentos conjugados. O espaço formado por
qj e pj é chamado de espaço de fase.
A passagem (qj , q̇j ) → (qj , pj ) é feita através de uma transformação de Legendre. Dado uma
lagrangeana, L = L(qj , q̇j ), o seu momento canônico é definido por
∂L
Pj = . (25)
∂ q̇j
e extremizando a ação
Z t2
∂H ∂H
δS = q̇j − δpj − ṗj + δqj dt = 0,
t1 ∂pj ∂qj
∂H ∂H
q̇j = e ṗj = − . (28)
∂pj ∂qj
5
3 Transição Discreto-Contı́nuo
Considere um sistema formado por um sistema de N partı́culas idênticas conectadas por molas de
constante elástica k. Na configuração estática, cada partı́cula está na posição de equilı́brio x0i , por
outro lado quando ela é deslocada de sua posição de equilı́brio, ela passa a oscilar ao redor desse
ponto. O deslocamento da partı́cula passa a oscilar em termos de uma nova coordenadas ηi , definida
por
ηi = xi − x0i . (29)
O lagrangeano da partı́cula pode ser escrito como
L = T −U
1X 1X 2
= m η̇i2 − k (ηi+1 − ηi ) . (30)
2 i 2 i
a → dx, (32a)
m → dm, (32b)
onde a é a separação entre duas partı́culas vizinhas na posição de equilı́brio. Entretanto a razão m/a
e o produto ka são finitos e definidos como: a densidade de massa por comprimento, µ = m/a e por
módulo de Young, Y = k a. O lagrangeano pode ser rescritos em termos dessas novas constantes
1X 1X 2
L = m η̇i2 − k (ηi+1 − ηi ) ,
2 i 2 i
2
1 X m 2 1 X ηi+1 − ηi
= a η̇i − a(ka) . (33)
2 i a 2 i a
6
de forma que o lagrangeano passa a ser escrito como
Z
L = dx L. (38)
A dinâmica clássica de um campo pode ser definida pela extensão do formalismo lagrangeano qi →
ηi (x, t). O Campo passa a ser uma função contı́nua de x e t.
A densidade de lagrangeana pode ser escrita como uma função do tipo
∂η ∂η
L η, , .
∂x ∂x
Dessa forma, a ação no limite contı́nuo, passa a ser escrita como
Z Z
∂η ∂η
S= dx dt L η, , . (39)
∂x ∂x
O princı́pio de Hamilton pode ser estendido para campos, deve-se então extremizar a ação (39)
Z Z " #
∂L ∂L ∂η ∂L ∂η
δS = dx dt δη + ∂η δ + ∂η δ . (40)
∂η ∂( ∂x ) ∂x ∂( ∂t ) ∂t
Os dois últimos termos podem ser integrados por partes. Levando-se em conta que em teoria clássica
de campos, os campos se estendem ao longo de todo espaço e tempo, entretanto no contorno, os
campos decrescem rapidamente de modo que no infinito eles são nulos. A ação assume a forma
Z Z !
∂L ∂ ∂L ∂ ∂L
δS = dx dt − ∂η
− δη = 0. (41)
∂η ∂x ∂( ∂x ) ∂t ∂( ∂η
∂t )
Para variações arbitrárias do campo, obtem-se a seguinte equação de movimento para o campo
∂L ∂ ∂L ∂ ∂L
− − = 0, (42)
∂η ∂x ∂( ∂x ) ∂t ∂( ∂η
∂η
∂t )
7
A densidade de momento canônico para o campo φ é definida como
∂L
Π(x) = . (47)
∂ φ̇
Sendo assim, é possı́vel escrever uma densidade de hamiltoniana como
H = Π(x)φ̇ − L, (48)
4 Transformações Canônicas
A escolha das coordenadas generalizadas qj não está sujeita a nenhuma restrição, podendo ser qual-
quer quantidade s, a qual define univocamente a posição do sistema no espaço. A aparência das
equações de Euler-Lagrange não depende dessa escolha. As equações de Euler-Lagrange são invari-
antes por uma transformação de coordenadas, (q1 , q2 , ...) → (Q1 , Q2 , ...), ou seja são invariantes por
uma transformação do tipo
Qi = Qi (qj , t). (52)
Essas transformações são chamadas de transformações pontuais. Da mesma forma, para o formalismo
hamiltoniano devem existir transformações do tipo
Como as equações de movimento para as novas variáveis também devem preservar a forma, então
Z X
δ Pj Q̇j − K dt = 0. (56)
j
8
As duas relações são equivalentes, a menos da derivada total de uma função F , ou seja
X X dF
pj q̇j − H = Pj Q̇j − K + . (57)
j j
dt
Cada transformação canônica é caracterizada por uma função particular F , chamada de função gera-
dora da transformação. Suponha que a função geradora tenha a forma F = F (qj , Qj ; t), então
X ∂F ∂F ∂F
dF = dqj + dQj + dt, (58)
j
∂qj ∂Qj ∂t
daı́
dF X ∂F ∂F ∂F
= q̇j + Q̇j + , (59)
dt j
∂qj ∂Qj ∂t
Substituindo (59) na relaçao (57) é possı́vel obter as equações de movimento para as variáveis
∂F ∂F ∂F
ṗj = , Ṗj = − e K=H− . (60)
∂qj ∂Qj ∂t
Referências
[1] Kittel, C, Elementary Statistical Physics, Dover, 5 edição, Nova Iorque, 2004.
[2] Huang, K, Statistical Mechanics, editora, cidade, 19xx.