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ISBN 85-7164-833-6
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GIULIOC.ARLOARGAN

CLÁSSICOAN'HCLASSICO
O Rem,a,scLmento de
g
Brwneltescbi ü Bru,egel
Introdução, tradução e notas
LORENZOMAMMI

11

(]OMIANHIA DAS I..HrjiAS


uupyrlgiit u i''yõq Dy LJlanglacomo I'eltrinelli Editore
Título original
Clássico au,t.i,clássico
11Ri,'nasci,mentoda B7un,e!!escbi,a B /

Capa
MarmeloSe7pa
sobre detalhe do Palácio dos Conservadores.
no Campidoglio (Romã) ÍNDICE
Seleçãoiconográflca
l.orenzoMamm,àl

Diagramação das.ilustrações
Estore Bottiu,i
Índice remissivo
Manha BoHbotosk.i
Preparação:
Bea,thz de Freiras Mloreira e (lados AtbeHo in,ada Apresentação
Revisãotécnica Prefácio 13
Magnólia Costa Santos
Revisão
lsabelJorge Cu W e CartasAlbedo Incida O primeiro Renascimento 17
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (cip) A cidade do Renascimento .. 55
(Câmara Brasileira do Livro, sp, Brasil)

Argan, Giulio Carlo Brunelleschi . . . 81


Clássico anticlássico: o Renascimentode Brunelleschi
a Bniegel / Giulio Carlo Argan ; tradução Lorenzo Mammi. O significado da cúpula.. . 133
São Paulo : Companhia das Letras, 1999.
O tratado Z)e re aed 8cczfo/'Za 141
Título original: Clássico anticlassico: il Rinascimento
da Brtmelleschi a Bruegel.
Bibliografia. Fra Angélico . t56
N 85-7164-833-6
AHe em Mântua 197
1. Arte -- História 2. Arte barroca-- Itália 3. Arte
italiana 4. Arte renascentista-- Itália 5. Classicismona Botticelli.. 204
arte --ltália i. Título. n. Título: O Renascimento (te
Brunelleschia Bruegel. 5 daghossto 1473. 257
98-4668 C .709.45 Francesco Colonna e a crítica de arte vêneta do século xv. 263
Índices para catálogo sistemático:
1. 1tália : Arte : História 709.45 O problema de Bramante .. 273
2. Itália : História da aHe 709.45
Rafael e a crítica . 283
i999
O túmulo do papaJúlio n ... 296
Todos os direitos desta edição reservados à Matéria e furor 311
EDITORA SCHWARCZ LTDA.

Rua Bandeim Paulista, 702, cj. 72


Michelangelo arquiteto. . 3t9
04532 002 São Paulo sp Michelangelo na Capela Paolina 325
Telefone:(O11)866-0801
Fax:(O11)866-0814 O michelangismo. 336
e-mail: coletras@mtecnetsp.com.br Sebastiano Serlio. 34t
/n sí/u, porque aqui as dimensões do espaço exercem a mesma função das
forças do gótico, podendo formar e deformar uma estrutura arquitetõni-
ca. Nessa altura, o espaço já não é uma massa atmosférica informe, mas
um círculo P/ano de raios. Vendo a lanterna do interior, percebemos que
as longas frestasforam feitas para transmitir a luz segundo planos verticais.
Entre os vazios, Brunelleschi colocou amplas lesenas' angulares canela
A CIDADEDO RENASCIMENTO
das, pondo em vibração essaluz, que entra maciça.O que qualifica essa
estupenda estrutura é a funcionalidade rigorosa.

[1965-66]

PREMISSA

vença,Ferrada

]7Vm00t/ÇHO

(') Pilastras achatadase pouco salientes, normalmente sem base nem capitel, ou com SieD4é uma cidade medieval e Romã um
basee capitel muito simplificados.
Uç : :w:i:iH==H: @Zii;B:BH: B!: : :u
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uni,jogo de interesses mais complexo-


menos eficaz, nas transformações urbanas produzidas sob a pressão das l Essa transformacão do organismo sócio-econé

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tro da mesma área de poder, encontra-se amiúde mais de uma cidade;

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eshnca-se assim a distincão entre.cidades dominantes e.dominadas, que

À cisão da burguesia da cidade corresponde uma nova ordem hierár-

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quicajB4$ atividãdes'culturaisi'ã'distinção
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migas. / hpxníçsao
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mie pressupõem
atividades que nressunõem princípios
orincíoios filosóficos e
mecz2-

conhecimentos históricos; mecânicas são as atividades manuais, que


A cidade dos séculos )an e xlv élgg Europa inteira, sede de uma aviva l nrPççilnõpm }imn pxnpriênrin técnico-operacional. As orimeiras exercem

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dade executiva, que tem apenas a função de realizar materialmente esses
nrnietns. Para a fundacão de uma ciência urbanística. as conseqüências

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l são imediatas e importantes: torna-se possível imaginar e projetar uma
cidade inteira. como forma unitária. sem levar em conta as dificuldades,
duções, adaptações, novos tratados. A fonte primeira continua sendo o tra-
os meios financeiros e técnicos, a mão-de-obra, o tempo. Os tratados de tado de Vitrúvio, que, já conhecido na Idade Média, tornou-se o texto bási-
arquitetura dos séculos xv e xvl estão repletos de cldczdesIdeais, ou seja, co para os tratadistasde arquitetura devido à obra monumental de Leon
de cidades projetadas ex nodo, segundo critérios puramente racionais e Battista Alberti. A primeira tradução italiana, com magníficas ilustrações e
geométricos. comentário extenso, é a edição de Cesare Cesariano (Como, 1521), segui-
A distinção entre atividades liberais e mecânicas determina também da pelas de FrancescoLucro da CastelDurante (Veneza, 1524),de G. B
uma cisão no interior da categoria dos operadores artísticos:.g.artesão-e Caporali(Perúgia, 1536) e, particularmente importante, a de Daniele Bár-
rebaixado a operário, masa çbtç.go antiga arlçsanatg.gera a:.gateggriaqos baro, patriarca de Aquiléia (Veneza, 1556).
"':'"""ngti:li'iiãítiãi5ãiií'aa classe dirigente, e trabalham, inclusive, em A partir do l-)ere ózedàficcz/onade Leon BattistaAlbelti (1443-52),redi-
c(intato direto com o senborou o príncipe. Entre os artistas, os mais cul- gido em Romãcom a intençãoideal de ver ressurgira cidade antiga,todos
tos. os mais influentes, os mais próximos ao centro do poder são os arqui- os tratados arquitetõnicos italianos concebem sempre o edifício singular
tetos,A cídózdeIdeczJ, de fato, é umg:.ipvenç49artísqç2;.epgjÍ!!ça ao mesmo como elemento de um contexto natural ou urbano, ou seja, sempre como
te[1[po, por(]ue se füriãâiio pressuposto de quê'ã perfeicão da f.orn}4 üi:Ra- parte de uma composição mais ampla em que se inscreve, subordinando-
nís!jçg e arquitêi6fiiêma êidãtil:'Etiíi'espohdê à pêffeição de sua orglni- se a um sistema de normas de simetria, perspectiva e proporção. Uíp inte-
ããiã81i;ãlítlcãig(iciãl-concebia;'rea-gizada pela sabe(bJ:ja-dÉ2-pEj11çj2e, resseurbanístico mais definido pode ser observado no tratado de Filarete,
assim.como a geomeUia.4g lraçadQ e a beleza dos edifícios são concebi- eéêãi15êhtrí1451ê'í464 em Milho, e çg11çsbidocone.umajjjljS de diãlo-
da$ e realizadas pela sabedoria do arquiteto ggs eplfe g.arquiteto.ç QI'senhor'.}l rancesco Sfõf2ã:Nesse tratado, encon-
Fundamenta'ão pénsaméntóhumanista é a convicção de que Deus tm-se uma cidade !deck/descritaem detalhe, a Sforzinda; o 12Erímetroé uma
não é tanto o princípio, mas o fim do poder e do saber humano. Poder e estrela,.QCKoggnal, e nç2.traçado são distinguidas cuidadosamente'3g áreas
saberdeixaram de derivar da revelação, mascontinuam visando ao conde re ' 'príncipe, catedraletc.) e asfuncionais(depósi-
cimento da divindade, e passama ter seu princípio no humano, ou seja, tos. oficinas etc.). No tratado de Francesçg.diGiorgio Martini, composto
na razão e na história. Essacultura, essencialmente leiga,burgl4çsa e urba- após 1482 na corte de Urbino, há muitos esquemas de cidade, nos quais se
na, é a que embala a concepção huln4pisça.da cidade. observauma atenção especialà relação entre distribuição interna e peó'
]lgEande novidade no processo de desenvolvimento da cidade é que, metro fortificado(de fato, Francesco di Giorgio era um especialista em for-
a partir dos séculos xv e xvl, as transformações estruturais se verificam por tificações) .
vontade de um príncipe e segundo projetos estudados sistematicamente Os tratados do século xvi teorizam muito menos sobre a forma unitá-
por arquitetos. A fundação de cidades novas é um acontecimento raro, ria da cidade, mas em compensação abordam diretamente todos os proble
determinado, na maioria dos casos,por razões militares ou políticas espe' mas ligados às reformas e aos desenvolvimentos urbanos. Tanto Sebastiano
cíficas, e a transformação das cidades medievais é normalmente realizada Serlio como Andrea Palladio e Vincenzo Scamozzi estão interessados em
de uma dáglseguintesmaneiras 1) saneamento do traçado antigo median- problemas de tipologia de construção,de correspondência prática entre
te a abertura de ruas e praças largas e regulares; 2) anexação de novas forma e função, de conformidade do edúício ao sítio natural urbano, de téc-
áreasurbanas; 3) determinação de novas diretrizes urbanísticas, median- nica construtiva. A questão da tipologia é desenvolvida nas Regrasde Vig-
te a construção de edifícios monumentais, que criam as condições para um nola (1562) em relação aos elementos compositivos (as "ordens" clássicas),
desenvolvimento ulterior nas áreas adjacentes. mais do que em relação ao valor de representação e ftJncionalidade dos
edifícios. Essadefinição de uma morfologia, quase de um léxico e uma gra-
mática da construção, contribui para acelerar o processo de redução do
ASFONTES
problema arquitetõnico ao problema urbanístico. A unidade plástica,
monumental, do edifício passa para segundo plano, diante do interessede
Os tratados de arquitetura concorrem em larga medida para a consti- constituir um repertório de formas, que poderíamos chamar de padroniza-
tuição e difusão da doutrina da cidade. Ê uma literatura histórico-precep' das, e que podem ser combinadas de muitas maneiras, formando um dis-
mística,surgida na ltália na segunda metade do século xv e amplamente curso contínuo, articulado, praticamente sem limites de espaço e de
desenvolvida no século xw, quando se espalha pela Europa graças a tra-

58
relações proporcionais fixas. Vinte anos após a publicação das Regrasde está para o corpo do combatente: é uma proteção material, mas também
Vignola, Domenico Fontana elaboraria seu prometode reforma urbanística uma defesa psicológica. Como a armadura, deve despertar medo no
de Romã. retirando dos edifícios todo caráter de singularidade artística, adversário pela aparência "terrível" de suasformas e proporcionar ao com-
subordinando-os ao traçado viário e recorrendo às formas clássicasde um batenteuma sensaçãode segurança,que o torne apto não apenasa se
repertório já divulgado, como simples sinais de "decoro" urbano. defender, mas também a golpear. A fortificação medieval era essencial-
Fora da ltália, o primeiro grande teórico da cidade foi o maior artista mente dçfensjva; a.fortificação renascentista é ao mesmo tempo defensi-
alemão do Renascimento,Albrecht Dtirer, que publicou em 1527,em va e agressiva
Nutenxbetg, a Unterricbtung zú+ Befestigung der Stãdte, Scbtõsserund Mudaram as condições políticas e estratégicas das ações militares: o
FZecéen[Tratado sobre fortificação de cidades, vi]as e caste]os],em que desenvolvimento rápido, ao longo dos séculos xv e xw, das armasde fogo
havia um esquema de cidózde{dezz/quadrada que parece ter inspirado e de suas modalidades de uso influi profundamente sobre a forma das for-
Schickardt, pouco mais tarde, ao projetar a cidade de Freudenstadt, desti- tificações. Mais do que sobre as muralhas, a luta se desenrola à distância
nada a receber refugiados protestantes durante as guerras de religião. O A primeira condição de um sistemafortificado é ser pouco vulnerável e,
tratado alemão mais importante é o de Daniel Speckle, muitas vezes reim- por outro lado, permitir que todo o território ao redor seja atingido pelo
presso entre o fim do século xv] e a priãieira'Metade do século xvn. Esse tiro cruzado de suasarmasde fogo. A predominância de perímetros poli
tratado descende naturalmente da tradição italiana, mas exerceu ainda gonais ou estelares nas cidades /dé?aís é determinada justamente pela
que muito mais tarde -- uma influência relevante sobre a configuração de oportunidade de criar saliênciase entradas,que permitam manter sob
cidades novas como Mannheim, Mülheim, Karlsruhe. fogo próximo as tropas que consigam acercar-sedos muros para forçar as
portas da cidade. Descobriu-se logo que a força destrutiva de um projétil
depende de seu ângulo de impacto; portanto, o círculo das fortificações
OSli:ATIRES CtJl::!VRNS deve oferecer ao adversário planos inclinados, tanto no sentido da altura
(escarpas)como no sentidoda largura. Sãoeliminadas as torres, alvo fácil
Os fatores culturais que concorrem para determinar a concepção das artilharias, e as ameias, já inúteis. Os muros são mais baixos para faci-
urbanística do Renascimento podem ser assim classificados: óz)político litar o transporte de armasde fogo pesadas,que são postas"em bateria
militares; ÓDdoutrinários e teóricos; c) histórico-artísticos; cDpráticos. em cima deles. As fortificações adquirem profundidade e massa relevan
o Ja/orpo/üíco-mí/i/ar
influi sobretudosobreo perímetrourbano, tes, comportando vários anéis de muros, bastiões muito salientes e amiú-
dotado de aparatos defensivos, sobre a relação entre cidade e território, de alongados em tenalha, e ainda fossos e terraplenos. Tornam-se um
sobre a arquitetura dos edifícios públicos e particulares representativos. sistema complexo, que logo reclama uma ciência e uma técnica específi-
Ostratados arquitetânicos do Renascimentodistinguem duas catego- cas,bem como a obra de especialistas,os engenbe/rosmilitares. Do pon-
rias: a arquitetura militar (que inclui a fortificação urbana e de campanha, to de vista volumétrico, a fortificação apresenta uma composição maciça
a org2mizãçã6do castro e, em geral, todos as grandes infra-estruturas béli- com contrastes marcados de saliências e reentrâncias, com planos inclina
cas)e a arquitetura ç vil (que inclui, obviamente, a religiosa). Entre as duas dosecunhaisagudosecortantes
categol:iã5niã69aestabelece hierarquia de valor estético. Amiúde, no sécu- Um dado contribui para fazer da fortificação uma verdadeira máqui-
lo xv, os mesmosarquitetos que constroem igrejase palácios dentro da na bélica, e não apenas um cinturão protetor: politicamente, a cidade lá é
cidade constroemtambém os bastiõesque a cercam.Até um "platónico' parte de um sistema mais amplo, de modo que algumas cidades menores
puro como Michelangelo estudou projetos de fortificações. No Renasci- têm a única função de aduarcomo postos defensivos avançados da capital
mento, concebe-se a forma arquitetânica como expressão e representa- do Estado. Às vezes se fortificam simples vilarejos situados em posições
ção de valores ideológicos: se as igrejas representam o sentido do divino estratégicas importantes, que por isso adquirem aspecto e dignidade de
sobre o qual se baseia a comunidade urbana, os palácios representam o cidades. N(2.MdQ$éçuLo xw, novas cidades serão fundadas sem outra
fundamento histórico-económico da cidade, e as fortificações, o ideal his- finalidade além de abrigar guarnições militares aõllõãgo de fronteiras
tórico-político da segurança e da força, que garantem a liberdade dos cida- ameaça:çlgs.Ê o caso de Palmanovauna fronteira norte=oriçpta! da Repúbli-
dãos. A cintura fortificada está para o corpo da cidade como a armadura cade Venezã;'Edêlzáriascidadesdos confihgfrãri(ii5:íiiiperiais, como Hem-

60 6]
din, Philippeville, Vitry-le-François.E não surpreendeque o esquema l vemosemergiraspartessalientesda arquiteturade/!cadadocentrourba-
utopista" das cidades reais se manifeste justamente nessascidades milita- l no; a cidade, em seu conjunto, assemelha-sea um cofre blindado repleto
res, fundadas para desempenhar uma função prática determinada -- tra- l de obletos preciosos. Os dois termos, dome e c/e/içado, podem inclusive
[a-se, de fato, de cidades meramente instrumentais, destituídas de uma l juntar-se e entre]açar-seno mesmo contexto, como na fachada do Palácio
sociedadeprópria e, portanto, imunes aoslimites geralmentepostos pelo l Ducal de Urbino, onde uma fileira de pórticos ligeiros, flanqueada por

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vínculo a uma tradição e pela necessidadede conservar grandesdo-
o estudo da fortificação como defesa de longo alcance implica uma
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janelassutilmentedecoradas,ergue-seacima
deumdespenhadeiroíngre-
marcadaainda, encontra-seno Arco de Alfonso de Aragona, em Nápoles.
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nova interpretação da relação entre a cidade, enquanto forma conclusa e l Oslafores do rdncídos e /eódcosdependem essencialmente da reto-
unidade volumétrica, e o território. Na cidade do século xrv, o território e l incidae da interpretação da teoria clássica deVitrúvio: dela descendem, de

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o campo eram considerados complemento natural da economia e da vida l fato, os conceitos de some/dóz e proporção. Ainda que essesconceitos se
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co-geométricos nítidos e o campo o lugar da natureza, com suas único contexto e à harmonia das partes que formam o contexto unitário
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fro /íóN dí arco feffurn, publicados em Veneza em 1554 pelo sienense l
pectivas" compostas de planos paralelos ou ortogonais. Estabelece-se
plaççi«. a pvioênria dp //íç//n ç tirhnnns nêle permaneceria fundamental
ljassim a exigência de uísmczisurbanos, que permaneceria fundamental ll
Pietro Cattaneo, a conformação das muralhas e, sobretudo, a distância 1 11também apos ojienascimento ejá se esboça a relação enü'eurbanística e lll
erure cortinas e bastiões são estudadas em relação ao alcance máximo das l ll,cenograíia, que tanta importância teria no período barroco. lll
artilharias. Esse problema é abordadocom diligência ainda maiornotra- l ' A concepção.da cidade como lugar da ação humana, como teatro, lll
LadoDe//a ózrtbí/emuramaüare de Francescode Marchi, publicado em 1 . \~está obviamente ligada à nova estrutura da sociedade. A ação política é lll
Brescia em 1599, que, além disso, insiste na eficácia defensiva das saiu- l di> 1 ação histórica, portanto a cidade é o lugar "histórico" para a ação "histó-
ções "em tesoura" -- soluções que, naturalmente, intensificam
intensificam
1
o
1
contras- l1 ' \\\ rica".
1
Um 1salto- qualitativo
ul .z' ]=z.... a ação
claro separa histórica comunidades
açãoA-+A-n4---=A],]nnnn---n4'ln
histórica das comumdacles
[e dos planos e o movimento dos volumes plásticos na luz do espaço l lurbanas da ação não histórica, aliás, meramente natural, das comunida-
aberto. os fortes organismos volumétricos das muralhas com bastiões l des rurais. No interior da comunidade urbana também são estabelecidas lll
atuam também como um novo termo de mediação entre a paisagem natu- l distinções hierárquicas: há os protagonistas -- os responsáveis pela polí-
ral e a paisagem urbana. Para além da arquitetura/orladas muralhas l ticaurbana, quegovernamenãotrabalham--e háopovo--quetraba-
Iha, mas não governa. O centro da cidade é a típica cena da ação dos mento por excelência da antiga Romã é o Coliseu, que de fato se encon-
grandes", o ambiente histórico das pessoas históricas. tra como sígntlm uróis nas representaçõesmedievais de Romã. Pela
O/a/orbís/ónco é complexo. O que proporciona coesãoà comuni- dimensão, situaçãoe solenidadede suasformas, o monumento adquire
dade urbana já não é o interesse comum pela prosperidade económica, uma fu nção dominante no contexto urbano -- vai se tornando o ponto de
mas o pensamento de uma ascendência e de uma função histórica convergência das perspectivas urbanas
comuns. Para os italianos do século xv, toda cidade tinha algo da supre No começo do século xv, Filippo Brunelleschi aborda pela primeira
ma, absoluta realidade ideológico-histórico-política do Império -- mais vez em termos urbanísticos um problema de arquitetura e, mais ainda, de
do que uma cidade, era um Estado ín muge.A antiga Romã é a cidade his- técnica construtiva. A questão era construir a cúpula da catedral de Flo- FÍg.21
tórica por excelência, onde a ideia do Império se realizou. Já não passa de rença, Santa Mana del Piore, projetada por Arnolfo di Câmbio nos últimos
uma memória, mas, se pelo menos quatro cidades reivindicam a honra de anos do século nn e erguida até a altura do tambor no decorrer do século
ser as herdeiras diretas de Romã, quase todas (e não apenas na ltália) seguinte. Brunelleschi não se limita a enfrentar a dificuldade, que aos con-
podem se vangloriar de descender de cidades romanas.O problema da temporâneos parecia intransponível, de "abobadar" uma cúpula de diâme
reconstrução ou, pelo menos, da renascença de Romã, é posto apenas a tro tão amplo, que tornava inaplicáveis as técnicas tradicionais. A ne
partir da metade do século xv. No entanto, é claro que, desde o começo cessidadede erguer uma cúpula tão grande e alta era determinada pelo
da formação da cultura humanista, o modelo ideal é a cidade política, a campanárioque Giotto, pouco antes da metade do século xw, construíra
prós, Romã, e não mais a cipíias e, ainda menos, o mumlc@Íum. ao lado da catedral inacabada. Giotto, que gozava de imenso prestígio na
A extrema importância do fator histórico determina a primeira Florença do século xrv, não se limitara a equipar a igreja com um acesso
empreitada urbanística concebida no âmbito de um programa político. rio indispensável; quis fazer do campanário um edifício autónomo, repre
Após a vitória de 1063em Palermo, que subtrai aos árabeso controle do sentativo, quase simbólico. Os temas dos relevos que o ornamentam
mar Tirreno, Pisa decide expandir-se. O novo centro urbano é colocado (muitos deles sobre desenhosdo próprio Giotto) falam claramente: o cam-
além das velhas muralhas. No lugar escolllido, inicia-se a construção da panário pretendia ser o símbolo ou o emblema de uma cidade famosa pela
catedral, do batistédo e do cemitério. Pisa baba-se de uma origem roma- perfeição técnica de seus artistas e de seus artesãos. Por isso, o campaná-
na, da época de Augusto, e mantém êiosafhente a tradição jurídica roma- rio se ergue isolado e altíssimo, como uma antena, visível de todos os pon-
na. Pouco mais tarde, no século xm, será o primeiro centro de uma cultura tos da cidade, da qual marcava o centro, o eixo ideal..Decerto,.o significado
figurativa inspirada diretamente na arte da antiga Romã(Nicola Pisano e simbójiço:urbanístico do campanárjQ dg.Giotto não podia escapar a
Arnolfo di Câmbio). O centro da cidade nova (que nunca surgiu) deveria Brupelleschi.Este,poréllí, gi=ãçêiiaosentido de história implícito na cultu-
ser, como na antiga Romã, um conjunto de monumentos representativos ra humanista, sabia também que os valores anuaisda cidade já não eram os
dos grandes valores ideais concretizados pela cidade. É claro que os gran- que Giotto expressara e exaltara no campanário. Florença lá não era uma
des valores já não são os mesmos: para a Pisa cristã -- e vitoriosa sobre os comunidade de artesãose mercadores, mas uma potência financeira, uma
muçulmanos em nome da cristandade --, os grandes valores são o nasci- entidade histórico-política; sua cultura Jánão era caracterizada pela exce-
mento (o batistério), a vida (a igreja) e a morte (o cemitério). No entanto. lência das ózdesmecbanicae, mas pela dignidade intelectual das artes /ÍZ)e-
essesvalores precisam ser manifestados nas formas solenes de um con- ru/cs. Um elemento linear em altura, como o campanário, podia marcar o
junto monumental. centro de uma comunidade industriosa, inteiramente fechada no cinturão
Esseprecedente românico é importante para esclarecerum aspecto das antigas muralhas, mas não podia representar a nova realidade históri-
essencial da urbanística e das transformações urbanas do Renascimento: ca de uma cidade que, pelo prestígio de sua cultura e de sua política, domi-
muito mais do que das teorias da c/dczdeideíz/e dos esquemas de planifi- nava um amplo território. Era preciso, portanto, criar uma forma inovadora
cação racional, a configuração da cidade depende dos monumen/os, vis- para expressaraquela nova realidade histórica, e conferir a essaforma um
tos como geradores róa Ê/ecos.A ideia do moliüMê?iiõé bpicamenfe desenvolvimento dimensional que Ihe permitisse prevalecer sobre o sím-
humanista: momamen/o é o edifício expressivo e representativo de valo- bolo do campanário,cujo significado já era obsoleto. Alberti, outro huma-
res históricos e ideológicos de alto valor moral para a comunidade -- em nista extremamente sensível ao significado histórico-representativo da
outras palavras,é o edifício que pode adquirir valor de símbolo. O monu- arquitetura, salienta o novo valor ideal(5gico expresso pela cúpula e a elo-

64 ã5
gia pela amplitude, que fazEgm que .Encubral.çç2mjuasombral:.Dãg ape- quisa histórica. EvidentemçpçguBlunellçlchi pensayg:que. uma técnica
nas o povo florentino, mas "todos os povos toscanos' ,TíõVã'RãmbMaiãããgãêí;ãã
velha, mas de uma experiência cultural diferêh-
A'cúpula é importante pela nova relação que estabelececom os volu- [êl'Z"mstófià.Pbr isscç'recusa a velha técnica imecbgHiça e estabe]ece uma
mes do edifício preexistente, pela relação de sua forma com o ambiente, técnica nova,'/íóera/is, fundada em ãtividades tipicamente intelectuais
pela técnica que Brunelleschi inventa para erguê-la sem armações de cõMó7pesquisa-histórica e a invenção:Assim, torna absoluta a estrutura
madeira. Sem dúvida, a cúpula sintetiza e unifica as massas do edifício, hKêãárquicatíãdiCional do canteiro de obras, segundo a qual o chefe era,
equilibra o desenvolvimento diferente dos corpos da nave e da tribuna, sobretudo, o coordenador do trabalho especializado dos diferentes grupos
resolve o jogo das forças na curva tensa da calosa, que se desenha no espa que compunhama mão-de-obra.Agora há um único projetista ou "inven-
ço livre do céu. Ao concluir-se inteiramente em elevação, o edifício já não tor"; os outros são meros executores manuais. No momento em que o chefe
se relaciona apenascom as construções urbanas próximas, mascom o céu do canteiro alcança a condição de criador único, cuja atividade é do mes
que dessaforma é envolvido na dimensão do espaço urbano. Ao equili- mo nível que o das outras disciplinas humanistas, os demais integrantes da
brar a defasagemdimensional "gótica" entre as partesda catedral,confe- equipe são rebaixados da condição de "mestres" responsáveisà de opera
re a ela, imediatamente, um caráter clássico, "monumental". rios. Isso explica a impaciência e a rebelião dos pedreiros para com seu
Quanto à forma, o próprio Brunelleschi afirmou que a queria o mais mestre-de-obras, que se tornou arquiteto ou engenheiro
magnífica e inchada" possível; ou seja, pretendia conjugar o máximo de As conseqüências, de grande peso inclusive do ponto de vista urba
desenvolvimento volumétrico com uma ideia de leveza que fizesse a nístico, já são visíveis nas outras obras de Brunelleschi, que se apodera da
cúpula levitar, como um imenso balão, no céu aberto da cidade. São morfologia arquitetânica clássica, composta de elementos iguais e repeti
conhecidos os recursosfigurativos e técnicos de que o arquiteto lançou dos, quase em série, e elimina a exuberante ornamentação gótica, que nor-
mão para obter esseduplo efeito; aqui, será suficiente observar que as pró- malmente era executada no canteiro de obras, no edifício em construção.
prias nervuras, que conferem tensão e impulso à cúpula, configuram r
Agora, ao contrário, é possível fabricar os elementos arquitetânicos (colu
visualmente uma estrutura perspectiva, e que a perspectiva era, na con- nas, capitéis, cornijas etc.) fora do canteiro, e em seguida coloca-los na
cepção de Brunelleschi, a estrutura universal do espaço. Uma cúpula obra seguindo o desenho do arquiteto, como se faz hoje com os elemen-
perspectiva" não é um objeto colocado no espaço, mas uma forma que tos pré-fabricados. É um ganho enorme de tempo, tanto no prometocomo
representa o espaço inteiro e que, portanto, possui uma capacidade teo- na execução. Dessa forma, é possível conceber grandes projetos com alta
ricamente ilimitada; por isso, a cúpula é a cobertura ideal da cidade intei- probabilidade de poder realiza-los no arco de poucos anos; até em caso
ra, que é posta em relação com o horizonte dos morros circundantes, de atrasos determinados por circunstâncias externas, será possível execu-
sobre os quais parece apoiar-se a cúpula natural do céu. Naturalmente, tar a construção, com base no projeto proposto na época pelo arquiteto
uma forma concebida como eixo sólido ou plástico da revolução contínua Uma grande constrição já não será obra de várias gerações seguidas, mas
do espaçofísico não podia ser uma forma estática,uma calosaque pres deram único artista. Se o Renascimento chegou a conceber a cidade, de
sionasse pesadamente os muros da igreja; era preciso uma forma dotada mafíeirmutópíêamias'hãoabsurda,como uma forma unitária, determina-
de um dinamismo interior, capaz de auto-sustentar-see de transmitir ao da pelo príncipe e idealizada'belo arquiteto dela, isso)se deu sobretudo
espaço natural o sentido de rotação sugerido pelas nervuras e pelos pla porque a tl:ansformaçãodos métodosde prometoe de execução,promovi-
nos que se irradiam da lanterna, como se fossem os raios de uma roda da por Brunelleschi, acelerou os tempos de tal forma que a construção de
Do ponto de vista da técnicaconstrutiva, a cúpula é algo inteiramen- X uma cidadela'nãó demorava vários séculos, mas podia realizar-se, teori-
te novo, que transforma não apenas os procedimentos operaàüos tradicio camente, no intervalo de tempo-de uma tida humana. Em Leon Battista
naus,mas a própria organização social da atividade construtiva. Sabe-se Alberti, a ideia do edifício representativode grandesvalores culturais,
que, antes de abordar concretamente a questão técnica da construção, interpretado como gerador urbanístico, identifica-se com o conceito, tipi-
Brunelleschi foi a Romã para estudar as técnicas e as proporções da antiga camente humanista, de "monumento". E claro que a catedral ou o palácio
alvenaria; no entanto, é claro que a cúpula de SantaMana del Fiore, ainda municipal do século xiv também eram representativos dos valores ideais
que pressuponha a experiência do antigo, não é absolutamente construí- da comunidade; mas, no âmbito da nova cultura humanista, os valores
da de maneira antiga. Ê, então, uma "invenção" moderna baseada na pes- ideais tornam-se essencialmentevalores "históricos", remetendo a um

67
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Hormczurbe issovale especialmente para Alberti, que vive na corte de um ll foniflcações, mas sobressairpela harmonia das proporções e pelo requin-
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papa humanista. Alberti não é um construtor, mas pensa que a tarefa de l te da ornamentação; o valor que hão de expressar é, sem dúvida, o pres'
um humanista não consiste em celebrar em discursos rebuscados a civili- l tlgio social da família, que porem se baseia na cultura, e não mais na força.
zaçãoperdida, e sim em atuar para fazer com que tal civilização renasça. l Em Florença, no século xv, surgem muitos palácios aristocráticos, que
Torna-se restaurador de monumentos antigos, arquiteto, teórico. Seufun- l representam a contribuição da classe dirigente à figura histórica da cida-
damental tratado De reaed{/icafoãaé essencialmente a tentativa de esta- 1. de moderna. Não são apenas os palácios dos nobres que exercem uma
belecer.baseand(Fsêêm Vitrúvio, um fundamenta téõííêti'ããltfiejada I' influência decisiva na urbanística florentina e toscana -- recorrer a
resrauzÜfÍourblsRomae.Já foi amplàmêntémhonstrãdó'blue ã persona- l Brunelleschi para dar forma artísticaa um hospital(o Spedaledegli Inno-
lida&eae A bem como arquiteto émúito mais complexa e original do que l centi) significa julgar que a função social e caridosa de um hospital para
sugeremseusescritosteóricos. No entanto, nãos l5orfalta de conhecimen- 1 . crianças abandonadas participa do sistema de uma cultura urbana. De
sugeremseuscsc Alberti aprofunda, e inclusive defende teoricamente, a l .r7P\ l fato, Brunelleschi desenvolve o tema do Spedale "urbanisticamente", tor- rÉ. zz
distinção já estabelecidapor Brunelleschi entre invenção e execução l li(i'l nando legível do exterior o espaço tnterlor do edifício, embut ndo na
construtiva, precisando que o projetista não deueseocupar da realização l X:.JI fachada a embocadura de duas ruas e transformando assim o plano fron-
àiii,- -'';-; p'9'T .S=":=,';==E;.:l:,=::.:1=':==,nl:T==
de culmra e,'portanto, em relação direta e exclusiva com a autoridade poli-
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Naturalmente, se a função do "monumento" é tornar manifestos deter-

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ados valores ideais na qualidade da forma arquitetõnica, é necessário

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(') Encarregado
davedação
dascartas
diplomáticas
daCúria.
l
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elevar o nível construtivo do bairro inteiro. Além disso, o edifício monu-
mental, que naturalmente sobressaiaos outros, inclusive pelas dimensões, Biagio Rossettié, ao contrário, um urbanista típico e, antes, o primei-
acaba determinando uma nova escalade grandezas, adequando a seu pró- ro, no sentido moderno do termo. A decisão de duplicar a área urbana de
prio volume os espaços vazios, as ruas e as praças. Por essemotivo, entre Ferrara, tomada por Ercole l d'Este em 1492, surgia de razões práticas espe
outros, a perspectiva, enquanto construção teórica do espaço, torna-se o cíficas: estratégicas(melhorar as condições defensivas ao norte, onde a
princípio regulador da rede urbana do Renascimento italiano potência da fronteiriça Venezaconstituía uma ameaça contínua), dçíng:
gráficas (elevar quantitativamente a potência do Estado sem aumentar a
dehsidàde já excessiva da cidade velha) e gconõmicas (incrementar a eco-
Duas grandes empreitadas urbanísticas foram decididas e em parte nomia de troca exercida pelos judeus imigrados). A junção entre a cidade
realizadas'na següiida metade do século;xw'4 transformação do pequeno velha e a Adição é obtida aterrando o canal da Giodecca, que delimitava
burgo rural de Corsignanoem cidadeKPienza},por iniciativa do papa Pio a área habitada ao norte, e transformando-o no principal eixo viário da
n Piccolomini(1458-64) e por obra\dç) 4r«unte«r'flQrentinoBernardo cidade. A reconstrução e a análise que Bruno Zevi fez do prometode Ros-
Rossellino; e a ampliação ou "duplicação" (+éFerrara #)ela Adição hercú- setti demonstram: 1) que o projetista, embora realizasse a intenção do
lea, ordenada por Ercole l d'Este e realizadabQr l$iaÉio Rossetti. A trans- príncipe, estudou o plano partindo de uma análise detalhada da realida-
formaçãode um burgo rural numa cidade de nobilíssima arquitetura não de urbana e de suas possibilidades de desenvolvimento coerente; 2) que
o estudo resultou no desenho de uma rede urbana extremamente elásti-
respondia a nenhuma necessidade económica, social ou política -- era o
capricho intelççiualde um.pontífice humanista convençjdo de que torna- ca, permitindo assim que as soluções construtivas fossem definidas poste
ra ilustre o lugar onde nascera. dormente, caso por caso; 3) que o projeto foi elaborado concretamente,
A novatidadé consta apenas de alguns palácios senhoris coordena- sem nenhum preconceito teórico, com a preocupação constante de não
dos perspectivamente à catedral. Em sua maioria, são palácios que os ceder às tentações opostas do "racionalismo abstrato" e do "empirismo
banal"; 4) que houve a intenção de ligar, uma por uma,'as ruas da Adição
cardeais da corte papal foram obrigados a construir a.contragosto, para
aos canais de comunicação da cidade medieval, estabelecendo assim uma
não perder os favores do pontífice. A própria catedral não é concebida
continuidade, inclusive social, entre a velha e a nova área; 5) que, substi
como o lugar sagrado da comunidade, mas como um espaço metafísico
ruindo o esquema geométrico da fortificação fechada com a invenção do
construído (seguindo astesesde Alberti) a partir de regrasproporcionais assimchamado "frente bastionado", aderente ao movimento do terreno,
matemáticas. As duas paredes laterais da praça da catedral são formadas
evitou-se que o novo cinturão defensivo criasse uma barreira ao desenvol-
pelo palácio episcopal e pelo Palácio Piccolomini; as fachadasdesses
vimento ulterior da cidade. SÓapós ter determinado a dimensão urbanís-
edifícios não são paralelas em relação à frente da igreja, mas divergen-
tica é que Rossettipassou a estudar,ponto por ponto, a qualificação
tes. Assim,.&construção perspectiva é lago submetida a uma correção
arquitetânica, conseguindo conciliar, com isso, a regularidade do traçado
óptica 'Üue y41oi:i2ã ã fãtíliãdã'ãí êãtêdral. Essa solução'(gêmelhante à com a caracterizaçãodas diferentes situações construtivas -- uma postura
que Michelangelo adotaria na praça do Campidoglio) é importante diametralmente oposta à de Rossellino, que, em Pienza, partiu da unidade
demonstra quão-interesse- do-arquiteto não.se çg11çç!!g&nlndifícios "'7 1arquitetõnica para chegar, por extensão, ao conjunto urbanístico. Outro
isolados, !nas.no espaço vazio da praça,.delimita4g pelas fachadas des fato importante é a autonomia do plano urbanístico de Rossetti em relação
sçs edifícios« A "forma" arquitetânica, então, não é um volume sólido ao plano político de Ercole i, que no entanto constitui sua premissa. De fato,
cujas fachadas sugerem as estruturas internas, mas uma tubagem vazia como ainda observa Zevi. o desenho urbanístico de Rossetti conserva intei-
cujas paredes são constituídas pelas fachadas dos edifícios. O espaço da ramente sua validade, guiando até hoje o desenvolvimento da cidade, ain-
cidade é portanto concebido como um "interior", mais precisamente da que o desenho político de Ercole l não tenha se realizado
como o interior de um palácio, as salassendoconstituídaspelas praças, Uma solução nitidamente antitética, mas indicativa do caráter autoritá-
e os corredores e escadas, pelas ruas. Rossellino, enfim, é um arquiteto rio das "senhorias", é a determinada por Ludovico, o Mouro, em Vigevano,
que considera o urbanismo nada mais do que uma extensão da arquite e realizada com a participação, agora confirmada, de Bramante: dç11polindo
Lura, e a cidade, um edifício formado pela combinação perspectiva e pro- umg.panedo antigo cçngQ,foicriadaum&grande Ruça-compórticos, que
porcional dos edifícios é ao mesmo tempo a maior praça da cjdadee uma espécie de corte extema
dc!.gstelo ducal. /n nuca, é a solução que será aditada no século xwi, na l de planta central no Renascimento,a planta ideada por Bramante,com
época das monarquias absolutas, em relação aos palácios régios. l seus braços enxertados em um núcleo plástico central, insere-se no espa-
ço urbano com uma função de estruturação e de articulação. Como cen-
tro ideal do espaçouniversa],o "monumento" cristão buscacoordenar a
scu nucieo piasuco o espaço inteiro aa ciaaae, tnterpretaaa J
=':'Éã IJá22 ÜiH$1;1:FXF$? 1
A questão da reforma urbanística de Romã, já sugerida porá berti em l seu.núcleo.plástico o espaço inteiro da cidade, interpretada justamente
como cidade histórica e cristã por excelência.

M :i niuuni!;ÇP$! 11 como CKiaaeníslorica e crista por exceiencla. bus após uma longa pausa,
volta'ã'ideia do centralismo absoluto, que aliás acentua ao cerrar ainda

H.'.''

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metade do século.'mas então, as diferentes condições religiosas e políti l Maderno altera de maneim irreparável a concepção plástica de Michelan-
cas importam uma mudança radical do programa de Rafael e Bramante. l gelo mas, em compensação, estende o corpoda igreja até ocorpovivoda
Em quinze anos de atividade romana, Bramante contribui de duas l cidade.Aigreja, então,jánãoéumbloco plástico, ainda quecarregadode
maneiras para o desenvolvimento da concepção urbanística do Renasce- l significados simbólicos, mas um espaço urbano coberto, como as grandes
mento: colocandoem novostermoso problema do "monumento". efixan- l basílicas públicas da antiga Romã. fqQ.século xviç.Bernini reconheceria e
do o fzPodopequeno palácio, que já não é interpretado como afirmação l enfatizada.es$çcarátçr, sejaqualificando os espaçosinternos da basílica
de prestígio, mas como habitação civil. Em seguida, o r@odo "palacete:l l pela decoração, seja, sobretudo, ret(}mlgdo.o círculo.da cúpula.na gran-
seria desenvolvido amplamente por Rafael, Peruzzi e Sangallo, influen- l de colunata e.líptic4::A colunata não é nada mais do que ê.transformação,
dando a edificação "nobre" de muitas cidadesitalianas. l em escalagigante,.do antigo pórtico quadrada.que nas basílicas.paleo-
O "monumento" é, na prática, San Pietro, ou seja, a basílica que pre- l cristãs era parte integrante do edifício, construtiva e funcionalmente. É,
=:[i.]=:=:':::=i=,]'1='..,:;:'=!:!:':=.:!:'"=':':,
"i?td':'.
da autoridade espiritual da Igreja. Tomando claramenteas distâncias da
]l ::'T:T.:=i] i:T:!!"E-il5,=,!Ui]P":.=T:!'='":''«:ve-
da ao resto da cidade por um sistemade ruas. Inverte-se assima concep-
forma da basílica antiga, Bramante projeta uma igreja de planta central, l b ção de Alberti e de Rossellino, para os quais a forma arquitetânica se
precisamente em cruz grega. A parte os conteúdos ideológicos e simbóli- 1 1 estendia à cidade -- agora a forma arquitetânica se desmancha no espa-
cos que, como demonstrou Wittkower, estão ligados aos edifícios sacros l À l ço urbano, qualificando-o.
Ossignificadoshistórico-ideológicosdeRomasãodois,mastãointer- l f A abertura dessaslongas ruas retilíneas, que ligam bairros longín-
ligados entre si que o segundo pode ser considerado um prolongamento 1 1quis, é o primeiro passo para a reforma radical do traçado urbano, que se
do primeiro. Romãé a cidade histórica por excelência, cuja figura conte- ' l Irealiza no pontificê4g4e SDloJLc90 o prometode Domenico Fontana. O
re verdade à ideia de autoridade civil, ou do Estado; e é a cidade cristã por l jprojeto político de Sistov é de longo alcance: Romã já não é apenasa cida-
excelência, cuja figura confere verdade à autoridade espiritual, ou da lgre- l de histórica e a cidade sagrada,mas a capital do Estado da Igreja, cuja fun-
da.Entre as duasfaseshá continuidade histórica,porque a lgre)a nasceu l ção é de fundamental importância para o equilíbrio europeu. E uma
noâmago do Império Romanoe tambémporque sobrea lei romana algre- 1. cidade economicamente improdutiva (e até isso Sustov tentou corrigir,
ja fundou sua própria lei. Michelangelo interpretou, em SanPietro, o sig- 1: sem muito êxito); mas é também uma cidade internacional, centro de ati-
na. /oo nificado religioso de Romã e, na praça do Campidoglio, o significado l vidades diplomáticas e meta deviajantes, que chegam de todas as regiões
histórico e civil. Há dais aspectos urbanísticos fundamentais em sua rees- 1. da Europa para obter indulgências sobre os túmulos dos mártires ou para
Erutur?çãodessapraça: 1) a concepção de um orgaiiiiniõ plasticaíãé'hte F admirar as ruínas da Antiguidade. Essencialmente,p plano consiste na
unitário, constituído pela coordenação dos três edifícios; 2) a concepção l extensãoda área urbana alémdas muralhagdeAureliano, na anexaçãodas
da praça não mais como um espaço vazio entre duas asasperspectivas, l grandesbasílicaspaleocristãs,na rarefaçãoda população concentradana
mas como um espaço plasticamente solidário com os elementos articula- l parte baixa, mediante'acriação.de novos bairros na parte alta. As exigên-
dores das fachadas dos dois edifícios laterais. É importante salientar que, l das fundamentais do programa são: 1) saneamento dos campos pantano-
no centro da praça, encontra-se a estátuaantiga de Marco Aurélio, o impe- l sos e insalubres, e reforma das estudas consulares para tornarmais seguro
dador romano que parecia precursor da "conversão" cristã de Romã. l e ágil o acesso à cidade; 2) abastecimento hídrico das partes altas da cida-
Ao lado dessasgrandes ideologias urbanísticas,desenvolvia-seem l de, para possibilitar seu povoamento (aqueduto Felice); 3) abertura de
Romã, graças sobretudo a Antonio da Sangallo, uma atividade mais l grandes ruasurbanas. Estasligam as grandes basílicas, para facilitarcorte
modesta, mais prática, e todavia igualmente importante no que diz respei- l Jose procissões; maso intuito religioso é tambémsocial e económico, por'
to à formação de uma cultura urbanística. Mediante inúmeras interven- l que os peregrinos eram então um fator essencialda economia da cidade,
iões, amiúde apenas parciais, de retoque e adaptação, Sangallo contribui l como hoje são os turistas. Cidade "universal" significa, no plano prático,
=:'.=:=:'z===imi;==:====;::=:H::; : T: l ; :'=.=sz=i@ Õ!! ;: :ll; ==;=,;=:
nha sido o primeiro a intuir que a figura de uma cidade não depende ape- l f didãtjiie Romã não eraiãnto'ã'êedede uMa comunidade tradicional(aliás,
desagregadae inativa) quanto uma cidade de passagem,um ponto de
:=..q==::"Reler.:t !S=!;q:=!:P'T '!-Yt:lt?,
"" ''
grau de cultura dos cidadãos e da capacidade profissional dos técnicos.
l1 /1 referência e de encontro do mundo moderno.
referência e de encontro do mundo moderno.
Domenico Fontana dispõe de todas as qualidades necessáriaspara
A polítlcanrbana dos pontífices do Renascimento é determinada pela l t realizar o
o plano
olano e,
e. sobretudo,
sobretudo. para
oara realiza-lo
realiza-lo na
na duração
duracão certamente
certamente breve
breve
s:r$=';$$y='======'===:'====== l realizar

1;;m l ;;; : =.==;;:'==:==:=HI l do pontificado


do oontificado de
de Susto
Sustovv --
-- ou
ou pelo
oelo menos
menos para
obra leva-lo
leva-lo até
até o
o ponto
oonto em
em
aue iá não fosse oossível voltar atrás. de maneira aue os sucessores de Sis-

século xvl, o Corso emerge como a artéria urbana mais vital. l iguais, quase sem ornamento, e desprovidas de elementos salientes. Com
Fontana, em suma, a urbanística já encontrou seu instrumento moderno principal, que conserva o percurso do antigo deck/mano.' O cenário fixo do
Teatro Olímpico, comsuas ruasem perspectiva, proporciona uma ideia exa- reg i27
o que hoje chamamos de "plano de diretrizes urbanas'
ta do que seria, para Palladio, a imagem da cidade clássica. Seus prédios tam-
bém, de resto, são concebidos em função da perspectiva da rua: as ordens
Venezanão podia ter uma grande expansão: abrigava uma comunida- arquitetânicas começam acima de altos embasamentos e as omamentações
tornam-se mais densas no alto, para proporcionar uma acumulação maior
de empreendedora e próspera, porém fechada nos limites de um perímetro
e de um traçado urbano praticamente não modificáveis. A rede dos canais de luz. Os pontos de vista são sempre dois, em escorço: de viés, ao longo
do eixo da rua, e frontal, de baixo para cima
e dos casesé densa, irregular, intrincada; mas essescorredores estreitos e
sombrios encontram uma compensação na abertura repentina de espaços Esseaustero cenário urbano encontra, porém, seu contrapeso, expli-
maiores e cheios de luz: os campos e os ca ?!píe//!,o Grande Canal,o gran- cável pelo caráter e pela maneira de viver da sociedade de Vicenza, que
de retângulo da praça SanMarco. O horizonte urbano é baixo e indefinido tem em Palladio seu grande intérprete. Vicenza é parte da potente
-- a laguna, com suas transparências cambiantes de ar e água. Por contras- República de Veneza; sua aristocracia, sem preocupações e ambições de
te, a arquitetura se desenvolve na vertical, com colorismo vivo de tijolos ver- governo, possui fortes interessesculturais, e manifesta-os, entre outras
melhos e cornijas de pedra branca. Não sendo possível uma perspectiva de coisas, ao conferir à cidade um aspecto de grande nobreza. Em nenhuma
planos e volumes, o espaço urbano é caracterizado essencialmente pela cor. outra cidade italiana surgem, em menos de quarenta anos, tantos edifícios
Na segunda metade do século xvi, a intervenção de Andrea Palladio ilustres;colocar ao longo dasruas principais a nobre visão de um palácio
marca uma virada na concepção da medida do espaço urbano. Deve-se ao é quase um tributo que as grandes famílias sentem a obrigação de pagar à
Pies.123,124 grande arquiteto de Páduaa construçãode SanGiorgio Maggioree do comunidade. A imagem ideal da cidade, para Palladio, não é teórica, mas
Redentore, além do prometonão realizado para a reconstrução da ponte de fundamentalmente histórica.
Rialto em formas clássicase monumentais. A ponte de Rialto é o nó vital da A vida das famílias ricas de X6cênzadivide-se entre a cidade e o cam-
estrutura urbana de Veneza: atravessa o Grande Canal, ligando as duas par- po. Durante as longas férias, cuidâtll-l+l;dministram suas propriedades nos
tes da cidade. É também o centro da vida popular, o mercado. Palladio con férteis outeiros ao redor da cidade. Na "vila", a vida social não é menos
serva essafunção tradicional da ponte, colocando nela 72 lojas, e antes intensa do que na cidade: recepções, festas, concertos. Para as mesmas
procura salientare exaltar,pela solenidade de suasformas clássicas,o aspec' famílias para as quais constrói o palácio "severo" na cidade, Palladio cons-
to mais pitoresco e animado da comunidade popular. Nas duas igrejas, as trói a vila "amena" no campo. As formas clássicas,que implicam uma con
fachadas remetem à concepção clássica, mas a estrutura e o movimento das cepção unitária da história e da natureza, constituem o fator comum da
massasbuscam obter a maior extensão possível de superfícies coloridas: arquitetura urbana e rural de Palladio. É o mesmo tipo de relação à distân-
brancas e densas de luz as fachadas, rosa as paredes de alvenaria, cinza cia que observamos em Veneza: as vilas palladianas, embora não perten-
pérola as cúpulas. Uma das igrejas está na ilha de San Giorgio, a outra na çam ao mesmo campo visual, são, todavia, um elemento essencial da
Giudecca. Ambas surgem além da bacia de San Marco, servem de pano de urbanística vicentina. Elas próprias, aliás, são construídas urbanisticamen-
fundo para a vista que é desfrutada da pÍízzzeüa, e remetem, pela forma e te, com plantaslivremente articuladasno espaçoaberto do campo e cor'
pela cor das cúpulas, à maior basílica veneziana. Ê claro que o arquiteto as pos claramente distintos entre os espaços sociais, os da habitação senhoril
concebeu em relação à paisagem urbana e a seu caráter colorista, com o e do pessoalde serviço, e os da gestão da propriedade agrícola. Em
intuito de ampliar os limites do espaçovisual da cidade, nele incluindo o nenhumarquiteto, maisdo que em Palladio,a morfologia arquitetõnica
grande espelho d'água da bacia de San Marco. Graças a essasrelações em vale como elemento determinante do espaço urbanístico; e nenhum outro
distância, o espaço natural -- nesse caso, a água e o céu --: toma-se elemen- arquiteto resolveu com tanta clareza a questão, lá posta por Brunelleschi
to essencial do espaço da cidade. A mesma coisa acontece a Vicenza, o cen-
tro da atividade de Palladio. Vicenza é uma cidade de origem romana, e é (') Nos acampamentosfortificados romanos, o /lhes dec mazzusera a rua retilínea
evidente que Palladio pretende conferir à cidade uma figura clássica imagi- que ia da poda dec mana, onde estavainstaladaa décima coorte, à ponízPrózeloda,onde
nária. Transforma o antigo palácio municipal numa basílica pública roma- se encontrava a tenda do pretor. Muitas cidades europeias, como Vicenza, surgiram a par'
tir do traçado dessasantigas instalações militares
na, qualifica, com fachadas magníficas, os palácios nos dois lados da rua
77
76
e Alberti no século xv, da relação entre civilização (ou história) e nature Palmanovg, perto de Udine, no Friuli, é uma cidade militar forta-
za, entre núcleo urbano e território. Deve-seà solução plena dessarela- leza e ghanííção permanente protegendo a fronteira norte-oriental da
ção a influência enorme que Palladio exerceu inclusive fora da ltália, República de Veneza. Do ponto de vista planimétrico, é a típica cidczcíe
sobretudo nalnglaterra. ídea/, a que melhor reflete os esquemas dos teóricos. Com efeito, traba-
lhou nela um teórico, o mesmo Vincenzo Scamozzi que projetou em for-
mas palladianas o Teatro de Sabbioneta. O perímetro da cidade forma um
A ideia do valor da cidade, que.surge e se afirma na cultura do Re sistema defensivo complexo, e é um modelo de técnica da fortificação do
nascime!)©..justifica o surgimento c?xnodo de alguns aglomeradosurba- fim do século xw: do polígono dos bastiões, ruas radiais levam até a praça
nos. LiXorno)nasceu de um interesse estritamente económico, comercial: centra[,hexagonal
antes quê'Õs Media o adquirissem de Gênova, eml.1421,era apenas um
pequeno ancoradouro na base dos Apeninos, sucedâneo do porto próxi-
mo de Pisa.No século xvl, entre o governo de Cosimo l e o de Ferdinan- O mito da cldózdeídea/, nascido do pensamento humanista do primei-
do l de Toscana, tornou-se uma importante escala comercial, dona de ro Renascimento, teve dóB resultados opostos: por um lado, conduziu às
privilégios que a transformariam, no arco de poucos anos, num dos portos utopias políticas do governo perfeito, que alimentariamuma literatura
mais freqüentados do Mediterrâneo. Os Media percebem a necessidade abundante até o século xvm; por outro lado, levou à cidade militar, forta-
de ligar o porto a uma cidade e "inventam" essacidade, inclusive em leza e quartel, da qual surgirão exemplos numerosos nos séculos xvn e
seu conteúdo social, concedendo privilégios e até casasconstruídas xwn, sobretudo na AJemanha. Essaevolução explica-se facilmente, ainda
expressamente para os mercadores estrangeiros (sobretudo judeus e gre- que possa parecer estranha.A cidade ídea/ é sempre "invenção" de um
gos) que ali se estabeleciam para exercer seus comércios. A cidade é cona senhor absoluto, de um soberano: funda-se na vontade de poder, e a von-
truída rapidamentesobre planos estudados,em parte, por Buontalenti(o tade de poder se traduz fatalmente em potencial de guerra. Entre as idéias
melhor arquiteto florentino da segtmda metade do século xvi) e dotada de elaboradas em campo urbanístico pela cultura italiana do Renascimento,
um sistema moderno de fortificações em estrela. O traçado é regular: ruas a da cldózde dea/é sem dúvida a mais abstrata; e no entanto é a que encon-
amplas, retas e adequadas ao trânsito pesado sobre rodas, todas conver- t tra receptividade mais rápida fora da ltália. As cidades que surgem nume
gentes para os cais do porto. Não há perspectivas monumentais, mas o tom rosas na segundametade do século xvi, sobretudo ao longo da fronteira
das edificações, ainda que rigorosamente funcional, é elevado. No fim do franco-imperial, são todas cídczdesideais mí/írares, fortalezas e quartéis. A
$éculg-awr;q.ivornotalvez seja a cidade europeia mais moderna. concepção urbanística do Renascimento não é a que se expressa na teo-
Sabbio#leta,ao contrário, perto de Mântua,.é uma cidade tipicamen- ria da cidade ídeaZ,mas a que se manifesta na transformação rea/das cida-
te cultural''Não passavade uma a]deia, quando Vespasiano Gonzaga deci- des antigas, mediante uma interpretação profunda da história e da vida da
diu torna-la uma cidózdeídea/, no estilo antigo. Conferiu-lhe um traçado comunidade. E essanão se baseia na ideologia mais ou menos iluminada
geométrico, norteado pelo eixo da rua principal, que une por um percur- e platónica do poder, mas na ideologia da autoridade moral e da experiên-
so retilíneo as duas portas da cidade, e dotou seu perímetro de uma forti- cia vivida. A experiência blsródca do Renascimentoitaliano não teve
ficação quadrada. Procurou também dar à cidade um conteúdo e uma repercussõesimediatas na Europa: as grandes cidades europeias, nos
função: além dos grandes palácios, construiu igrejas, escolas, uma biblio- séculos xv.e-xvl, desenvolveram-se desordenadamente; sob a pressão de
teca, um hospital, uma Casa da Moeda, uma enorme Galeria de Anti- necessidades demográficas e económicas ou, em alguns cegos, da espe
guidades, um teatro (obra de Vincenzo Scamozzi,grande discípulo de cu4açãt5 riàsceóté 'sobre as áreas'dé edificaêãÕ:"Amenas em poucos casos,
Palladio). Havia até uma tipografia, famosa pelas ótimas edições hebrai- sobretudo na'Alémanha'da«séCuldm. sob o impulso dos ideais sociais
cas. Após a morte de Vespasiano Gonzaga (1591), essa cidade da cultura ligados à reforma religiosa e ao conseqüente desenvolvimento de algo q ue
decaiu,voltou a ser um burgo rural, e hoje estáem ruínas;contudo, é sig- poderia ser chamadode economia paleoindustrial, as transformações
nificativo para a história da cultura no Renascimento que os estudos huma- urbanas refletiram a exigência de melhorar as condições de vida das clas-
nísticos fossem considerados uma função urbana suficiente para justificar ses pobres. Exemplo típico é Augusta, onde, na primeira metade do sécu-
a criação ewmodode uma cidade. lo, os banqueiros Fugger mandaram construir um bairro inteiro de
pequenascasaspopulares em fileiras, dotadas de infra-estrutura própria l
para os serviços sociais. No entanto, com a difusão da cultura clássica.a
concepção urbanística elaborada pelos arquitetos italianos do Renasci-
mento constituiria o fundamento essencial do que seria, na Europa intei-
ra, a figura social, política e artística da cídózde-capita/,ou seja, da cidade
representativa da autoridade do Estado e de sua força moral e cultural no
sistema das grandes potências europeias. BRUNELLESCHI
[i969]

A UzcZa
de FÍ/#po Bnz/ne//escbi,escrita por um contemporâneo que
Milanesaidentificou com Manetti, literato e matemático florentino.: é muito
mais do que uma crónica: recolhe e transmite, junto com os fatos, os pen-

i
samentosdo mestre, com fidelidade ainda maior do que o 7}alado dízpin
fura de Leon Battista Alberti.: Já isso é um indício importante: a obra de
um artista é assumidapor Manetti como um objeto de história, por Alber-
ti como fundamento de uma teoria. Pela primeira vez, reconhece-seno
artista uma personalidade histórica, cuja obra ultrapassa o círculo da arte
e abre horizontes novos ao conhecimento humano. No início de uma
época que define a arte como invenção, Filippo Brunelleschi surgecomo
o grande inventor, aquele que abre à arte não apenas uma nova dimensão
l
do espaço, a perspectiva, mas também uma nova dimensão do tempo, a
história.
Filippo nasceuem Florença,em 1377,de Brunellescodi Lippo, notá-
rio, e Giuliana di Giovanni degli Spini. Não querendo seguir a profissão
paterna, iniciou-se na prática de ourives. Em 1398 prestou juramento e em
1404 foi matriculado na Arte da Seda.
Documentos remanescentesdessaatividade inicial de ourives e de
t escultor são as figurinhas de prata do altar de SanJacopo em Pistóia, o cru-
cifixo em madeira de Santa Mana Novella e alarme//óz com o SczcH@cÍo de
/saciono Museodell'Opera del Duomo de Florença. Cadauma dessas
} obras remete a uma discussão, a uma polêmica, a uma intenção demons-
trativa: o crucifixo, segundo Vasari, foi esculpido por competição ou apos-
ta, para castigar o realismo excessivo do Cristo de Donatello. O Sacn@cÍo
de/saac foi criado por ocasião do concurso aberto em 1401 para as portas
b

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