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HARMONICAS: Os efeitos da eficientizagao energética sobre os equipamentos e instalacée Marcos Isoni, da Engeparc Engenharia fato de a presente abor- dagem ter como foco as instalagdes consumidoras de energia elétrica deve-se a trés importantes razOes que, por via de regra, tém despertado grande in- 136 EM MAIO, 2004 A aplicagao de técnicas modernas de eficientizagao energética @ upgrades tecnolégicos influenciam o comportamento de equipamentos e instalagées elétricas, notadamente no que se refere aos impactos das distorgdes harménicas. Esta é a primeira parte de um extenso artigo sobre esses efeitos, com foco nas instalacdes consumidoras. Apresenta a coneeituagao, a caracterizagao e as fontes classicas das distoredes harménicas. teresse da comunidade téc- nica sobre 0 assunto. A primeira delas 6 a cres- cente énfase que se tem da- do a eficientizagao energéti- ca, principalmente nos seg- mentos industrial e comer- cial, pela disseminagio de informagdes e pelo estimulo A implementagtio de medi- das calcadas na utilizagao de equipamentos ¢ sistemas energeticamente mais atrativos, tais como os sistemas de controle de velocidade dos motores elétricos de indugi es ceatores ou bessson} eletrOnicos para as cargas de ilumi- nag, Sabe-se que tais medidas, em- bora interessantes sob o ponto de vis- ta letroenergético em varios casos, se adotadas indiscriminadamente podem promover a elevagio dos niveis de distorgbes harménicas nas instalagdes elétricas e gerar uma série de proble- mas técnicos. Outra razio & a elevagdo do nivel de sensibilidade dos atuais equipa- mentos eletroeletrOnicos perante as variagdes da qualidade da energia. A maioria desses equipamentos é con- trolada por sistemas microprocessa- dos e outros componentes eletrénicos, (95 quais sto influencidveis por muitos distirbios que podem ser gerados na rede elétrica onde se encontram in- seridos. Por fim, destaca-se a maior cons- cientizagdo dos usuérios finais de cenergia elétrica quanto & necessidade de manutengao do bom desempenho energético de suas instalagdes inter- nas, buscando a minimizagao de para lisagdes e a redugio de problemas ocasionados pelos efeitos negativos eventualmente gerados por equipa- mentos presentes em seus proprios sistemas, © foco principal da abordagem aqui desenvolvida reside na corre- lacio entre a moderna eficientizacio energética e seus possiveis efeitos so- Corrente (a) Fig. 1 - Comportamento das ondas de tenséo e corrente para um aquecedor resistive bre as caracterfsticas operacionais de equipamentos e das redes elétricas em si. © assunto tratado basicamente em duas etapas, sistematizadas em quatro itens, Na primeira etapa, bus- ca-se conceituar teoricamente as har mOnicas, de maneira objetiva e didsti- ca, € caracterizar as distorgdes delas decorrentes. A segunda etapa enfatiza as fontes clissicas de distorgdes har- mOnicas e, de maneira genérica, seus possiveis efeitos sobre as instalagdes elétricas. Na segunda parte do artigo [a ser ublicada proximamente], sero abor- dados, com enfoque qualitative, os possiveis impactos dos modernos pro- cedimentos de eficientizacao energéti- cca sobre a qualidade da energia nas instalagdes consumidoras, sobretudo no que se refere aos efeitos mais es- Novas técnicas de controle que utiizam semicondutores de poténcia, como a variagao de velocidade de motores de inducao ‘ou a dimerizacéo do tampadas fucreecontee, a despelto de racionalizarom 0 ‘consumo de energia, ‘podem introduzir distoredes harménicas {que prejuaicam 0 funcionamento de sistemas sensiveis pectficos das distorgées harmOnicas sobre os principais componentes | normalmente presentes (motores elétricos, transformadores, conduto- res, sistemas de iluminago,disposi- tivos de protegao, medidores de ener- gia e outros). ‘As soluges geralmente ado para eliminar ou pelo menos mini-! = izar os efeitos indesejaveis das dis- torgdes harménicas nao so abordadas neste artigo, pretendendo-se siste- ‘matizar 0 assunto em artigo t6enico especifico a ser apresentando em uma ‘outra oportunidade. Histérico e conceitos basicos A partir do inicio do século 20 € até algumas décadas atris. as insta- lagdes elétricas em geral supriam, quase que exclusivamente, apenas cargas de natureza linear, ou seja, ear- gas constitufdas essencialmente por elementos resistivos, indutivos € ca- pacitivos, perfazendo impedincias consideradas constantes. As cargas: lineares stio as que obedecem & Lei de Ohm e caracterizam-se por drenar da rede elétrica correntes proporcionais a tensfio a elas aplicada, preservando-se- formas de onda com comportamentos: compatfveis entre si, ainda que possa haver defasamentos angulares entre elas (note-se que, para um elemento reativo — capacitor ou indutor —, ha- verd um defasamento entre a tensiio e a corrente, mas 0 comportamento ain- da seri linear). Aquecedores resis HARMONICAS I v Fig. 2 ~ Comportamento das ondas de tensao @ corrente para um motor elétrico ‘convencional tivos, limpadas incandescentes ¢ mo- tores elétricos so exemplos de cargas que Se comportam linearmente. As figuras 1 € 2 indicam o comporta- mento das ondas de tensio e corrente (em configuragio. monofésica) para uum aquecedor resistivo © para um motor elétrico convencional, cargas -amente lineares. Na primeira metade do século 20 (perfodo entre 1910 € 1960, aproxi- madamente), as cargas cuja corrente nfo se manifestava proporcional- mente & tensiio aplicada, hoje de- nominadas cargas ndo-lineares, eram pouco significativas, representando uma pequena porcentagem do total das cargas instaladas. Em geral, esse tipo de carga concentrava-se no setor industrial, em algumas instalagdes onde se desenvolviam processos pro- dutivos baseados em fenémenos eletroquimicos ou eletrometalirgi- cos. Posteriormente, também surgi- ram aparelhos de iluminagio de descarga utilizando reatores (balas- tros), que viriam a contribuir para 0 aumento gradual do conjunto das cargas ndo-lineares, principalmente nos. Segmentos industrial e comer- cial Entretanto, com 0 advento e de- senvolvimento da cletrOnica de poténcia e, fundamentalmente, com 6 surgimento dos dispositivos semi- condutores ¢ 0 aperfeigoamento da familia dos transistores de poténcia e dos tiristores, foram disponibilizados recursos t6enicos capazes de pro- mover 0 controle do estado opera Fig. 3 ~ Circuito tipico incluindo dispositive de controle de tenséo tiristorizado cional de varios tipos de carga como, por exemplo, a dimerizacdo de sis- temas de iluminagio, 0 controle de velocidade de motores elétricos © 0 controle de temperatura em equipa- mentos eletrotérmicos. Intensificou- se, também, 0 uso de diversos sis- temas envolvendo retificagdes (con- versbes estiticas CA/CC) ¢ inversses (converses estitieas CC/CA). Acre- dita-se, inclusive, que atualmente cerca de 50% de toda a energia elétrica consumida nas instalagdes flua através de algum tipo de dis- positive baseado na eletronica de poténcia, antes de sua utilizagdo efe- tiva Uma vez que os cireuitos dos equipamentos baseados em tiristores ‘opera geralmente segundo estados controlados de condugao (tal como um interruptor fechado) € bloqueio (tal como um interruptor aberto) em DESDE 1961 GERANDO TECNOLOGIA > = lel E DISTRIBUINDO ESPERIENCIA ow = ‘15KV NBI-110 Kv ‘moldado em ‘Transformador de corrente seco moldado om resina epoxi {tipo ICSB. Linha de Transformadores “Mioidado em resina epéx sob ato vacuo. + Establizadores e variadores de tens, + Seco impregnado ou em 6le0 mineral ou slicone. + Camando, 50 5000 VA, para pains, + Monofasicos, tifasicos, baixae alta tenséo. + Para fomos. + Especiais para sala do provas. + loatores - em loo au sac0 ~com o sem niceo, + Do potencial e de corrente para protepto efou ‘medigdo em éleo até 98,2 KV e soco até 24,2kV. [ ZILMER INELTEC CONSTRUGOES | iil is cobb ainstooa” Ta (eo ae Pay (it 3 P3488 "St: waver some HARMONICAS, FRONTEC A SUA MELHOR OPCAO EM QUALIDADE, PRECO E ATENDIMENTO. bagecegee Fig. 4 ~ Tensao da rede - circuito da figura 8 fungdo da polaridade da tensio da rede, diversas aplicagoes utilizam-se dessa possibilidade para controlar os instantes de condugdo (através dos ajustes de “gatilhamento” no cit- cuito de disparo dos tiristores) e pro- mover a variagZo da tensfo nas car ‘gas. Isso resulta em uma tensdo com forma de onda ndo-senoidal (na car~ ga), gerando uma corrente elétrica também nio-senoidal (na carga ¢ no sistema de alimentagao elétrica). As figuras 3 a 6 apresentam, respec- tivamente, um circuito tipico in- eluindo um dispositive de controle de tensio tiristorizado © possiveis formas de onda da tensio de rede, corrente na carga ¢ na rede, e tensfio na carga. Observando-se as figuras 5 ¢ 6, verifica-se que as formas de onda de tenstio (na carga) e de corrente (na carga e, conseqéentemente, também no circuito a montante) so nio- senoidais, fato que imputa a essa car- ga a designagio de carga nio-linear, devido & presenca do dispositive de ‘Got can) controle eletrdnico. Ressalta-se tam- bém que, mantidos os instantes de “gatithamento” dos tiristores a cada ciclo da onda de tensio da rede, as formas de onda resultantes serio periddicas (repetitivas) enquanto. 0 circuito estiver em operagdo. Nessa situaco, diz-se que ha distorgdes nas formas de onda relativamente a uma senéide pura € tais desvios sio ustalmente denominados distorgdes hharménicas. Para uma melhor definigao do que vem a significar o termo “distorydes harménicas” € preciso, primeira- mente, considerar a teoria desen- volvida no inicio do século 19 pelo matemético francés Jean Baptiste Joseph Fourier (1768-1830). A teo- ria por ele proposta e aceita mundial- mente, denominada Série de Fourier, uma ferramenta matemética po- derosa que permite que uma funcao ngo-senoidal periédica (repetitiva) ou, em outras palavras, uma onda periddica distorcida, possa ser repre- sentada como a soma de uma com- ponente continua, CC, (chamada também de valor médio da onda) uma série (infinitamente longa, se necessirio) de fungées alternadas (CA) senoidais. Essa teoria permite que a andlise de ondas distorcidas (e, portanto, “pouco amigdveis”) possa ser realizada de forma mais simples, utilizando-se 0 recurso matematico da decomposicao em formas de onda conhecidas. Por- tanto, uma onda periddica qualquer, expressa, por exemplo, em fungao da varidvel tempo f(t), pode ser de- comma ia Abracadeiras de nylon + Receptéculos para ews teaminals « Fradores ajustavels e auto-adesivos + Caixas de derivacdo + Tubo Espiralado | Fig. 5— Corrente na carga e na rede — FONE/FAX: (51) 568-2477 | _Wouto ce Howes : frontec@frontec.com.br | * Serve #9 consuta 8259 http://www.frontec.com.br 10 EM MB 2004 1 |= | | Em | |i" | #100 |= a a | Fig. 6 - Tenso na carga — cireuito da figura 3 Sorvigo de consuita #254 —y Sorvgo do consulta 8255 HARMONICAS composta conforme a expresso a seguir. SlO)=tedot ¥ (a,cosmen +b sen ncn,t}= Aya cose Fa; cos210,t + cos 300, 1+..#b, sen 0o/t + ven 2u+b,sen 300jt + 0 termo 1% Ao & chamado de com- ponente continua da onda, quando existente, Os termos com coeficientes 44; € by referem-se & componente com freqiiéncia fundamental. Os termos ‘com coeficientes a2 e bp referem-se 2 ‘componente que se desenvolve com freqiiéncia equivalente 20 dobro da frequéncia da componente fundamen- tal; 0s termos com coeficientes a3 € b3 referem-se A componente que se de- senvolve com freqiiéncia equivalente a0 triplo da frequiéncia da componente fundamental, e assim por diante. A constante «; corresponde a freqiéncia em radianos da componente funda- mental e equivale a 2a/T, sendo T 0 perodo (ou a duragao de um ciclo completo) desta componente periddi- ca. Os coeficientes ay, 2, 03, Br. ba, by. ete, podem ser determinados matematicamente por meio do célculo integral para cada tipo de onda de- composta ¢ representam as ampli- tudes ou valores de pico de cada com- ponente senoidalico-senoidal (as am- plitudes so decrescentes & medida @ Matiz Fone/Fax: (61) 403.0200 SIA Trecho 06 Lts.190/200 Brasilia-DF Cep 71205-060 AS MELHORES MARCAS DO MERCADO. EM MATERIAL ELETRICO _ QUALIDADE E COISA SERIA que se elevam as freqiiéncias das com- ponentes). Numa fungio _trigonométrica senoidal (ou co-senoidal) representa- tiva do comportamento de uma dada grandeza elétrica (corrente ou tensio, por exemplo), para a qual os semici- clos positivo e negativo apresentam a mesma forma e amplitude, a compo- nente continua (ou 0 valor médio da onda) é nula ¢ 0 termo Ag nio existe Sendo assim, para este caso a ex- pressio da Série de Fourier pode ser como indicado @ seguir. Sld!=¥ (a,cosmeot+bsenncor)= As componentes alternadas dessa série apresentam freqiiéncias que sio miltiplas da freqtiéncia fundamental e so denomiinadas harm@nicas (veia bo- xe nesta pagina). No caso da energia elétrica no Brasil, a freqiiéncia fun- damental é 60 Hz (usualmente denom- ‘nada freqliéncia industrial) e suas har- ménicas de 3°, 5°, 7° ¢ 9° ordem, por exemplo, correspondem, respectiva- mente, as freqiiéncias de 180 Hz. (3x60 Hz), 300 Hz (5x60 Hz), 420 Hz (7x60 Hz) ¢ 540 Hz (9x60 Hz). ‘Teenicamente, uma harmOnica é a componente de onda periédica cuja fregiiéncia € um miltiplo inteiro da freqincia fundamental. Isso pode ser facilmente visualizado na figura 7, @ Filial Fone/Fax: (63) 3026.1111 ACNE Il Con.03 L101 Palmas-TO Cep 7053-060 Por que “harménicas”? term harmonicas vem da fsica, mas especticamente do estudo dos movimentos ondulatérios. Quan- do uma particula ou uma onda se propaga oscilando_periodicamente (cepetiivamente) em tomo de uma ;posicdo de equilibro, esse movimen- fo pode ser traduzido matematica- mente por fungSes senoidais ou co- senoidais, denominando-se movi- mento harménico. tem que se apresentam trés formas de onda distintas — uma onda senoidal considerada & freqliéncia industrial (60 Hz) e duas outras representando determinadas ondas harménicas. Como, para a segunda e a terceira on- das, os ciclos se repetem, respectiva- mente, trés ¢ cinco vezes no mesmo periodo de tempo em que a onda fun- damental descreve apenas um ciclo, verifica-se que clas representam as harmonicas de 3* ¢ 5* ordem (ou a 3* ¢5* harmonicas) relativamente & onda fundamental. Conseqiientemente, os- cilam com freqiiéncias de 180 © 300 Hz. Racioefnio andlogo pode ser aplicado a outras ondas senoidais cu- {jas freqiiéncias sejam outros miltiplos inteiros da freqiiéncia da onda funda- mental. (Existem, também, harmonicas cu- Fig. 7 - Onda senoidal considerada a freqdéncia industrial (60 Hz) e duas ondas harménicas {jas freqiiéncias no so méltiplos in- teiros da freqiiéncia fundamental & que sio denominadas inter-harm6ni- cas. Esse tipo de harménicas € pro- duzido, por exemplo, em circuitos de alimentagao de fornos elétricos a arco devido, entre outros fatores, & carac- terfstica aleat6ria e imprevisivel dos arcos elétricos gerados entre os eletro- dos.) Na figura 8 pode-se visualizar qual seria a forma de onda resultante da 50- ‘ma ponto a ponto das trés formas de onda apresentadas na figura 7. O re- sultado € uma onda distorcida, que deixa de ser perfeitamente senoidal © aque reflete uma distorgao harménica. Nesse caso especifico, diz-se que a forma de onda resultante apresenta contetido de 3° © 5® harménicas. Entretanto, 0s contetidos harmonicos podem variar em uma ampla gama de freqiiéncias, dependendo do tipo de ‘carga em questo e da forma de con- trole da tenséo e frequéncia aplicadas. Esse fendmeno, causado nas insta- lagbes elétricas pelas cargas que se apresentam como néo-lineares (por caracterfsticas préprias ou quando submetidas ao controle operacional por meios eletrénicos), nao constitui assunto do qual se tenha conhecimen- to apenas recentemente, Tais dis- toreGes so conhecidas ha varias dé- cadas, Entretanto, somente a partir {dos iltimos 20 anos os engenheiros da ‘rea elétrica tém estudado tais efeitos de forma mais abrangente e sistémica, uma vez que sio distirbios que po- ‘Beni de const 8056 Sistema de Bandejamento OBO ' As nica que usam o sistema de encae para conexdo

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