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CONSIDERAÇÕES GERAIS E ABORDAGEM DE ASPECTOS BÁSICOS SOBRE


“ATERRAMENTO DE SISTEMA”
(EM NÍVEL DE GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA ELÉTRICA)
Prof. Marcos Isoni (Abril/2014)

1. INTRODUÇÃO GERAL

Sabe-se

consequências à
à

esses
QUALIDADE DA ENERGIA
dentre outros aspectos,

Sob esse aspecto, a forma de aterramento do Neutro (ou mesmo sua inexistência) exerce
papel fundamental no comportamento dos sistemas, prioritariamente quando da ocorrência
de faltas fase-terra, uma vez que, para cada configuração possível, produzem-se impactos
significativos nos valores das tensões e das correntes. Portanto, o esquema de aterramento
atua sobre dois aspectos essenciais na operação dos sistemas elétricos, ou seja, na
severidade das sobretensões e na intensidade das faltas à terra.

Definir como um dado sistema elétrico deve ser aterrado é uma arte, na qual o engenheiro
projetista escolhe e avalia as diversas possibilidades, e seleciona aquela que representa a de
melhor aplicabilidade em função das necessidades do sistema ou planta industrial a ser
alimentada, levando em conta a legislação vigente, as particularidades do sistema elétrico
em questão e os requisitos operacionais a serem atendidos. Há também outros fatores não
menos importantes que influenciam na escolha tais como: riscos de incêndio, segurança
pessoal, exigência de continuidade de serviço, existência (ou não) de pessoal de manutenção
devidamente qualificado e outros, o que, muitas vezes, torna tal escolha uma decisão
complexa.
2

Verifica-se,

ao desligamento
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de ICC-FT iguais ou superiores a 25% da corrente de curto

a se manter

será visto,
Infelizmente, como visto nas aulas,

definir,
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2. TIPOS DE FALTAS (CURTOS-CIRCUITOS)

FRANCOS (OU SÓLIDOS.... OU PLENOS...), OU COM A OCORRÊNCIA DE ARCOS ELÉTRICOS

3. NÍVEL DE INCIDÊNCIA DOS CURTOS-CIRCUITOS EM REDES ELÉTRICAS

Os curtos fase-terra são, de longe, os de maior incidência. As bibliografias informam


números diversos; porém, todas elas ressaltam a predominância “esmagadora” das faltas
fase-terra perante os outros tipos de falta.

Até 98% (bibliografias citam


de 70 a mais de 90%)

Daí decorre a importância de se conhecer, no mínimo (considerando-se o nível de


Graduação em Engenharia Elétrica), as bases gerais do tema “ATERRAMENTO DE
SISTEMA.... uma vez que, perante a ocorrência de curtos fase-terra, poderão surgir
sobrecorrentes excessivas (trazendo consigo uma série de problemas....) OU sobretensões
transitórias e/ou temporárias das fases sãs para a terra (também podendo trazer consigo
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uma série de outros problemas), SITUAÇÕES QUE DEPENDERÃO DO TIPO DE


ATERRAMENTO ADOTADO PARA O SISTEMA ENVOLVIDO.

4. MÉTODOS DE ATERRAMENTO DE SISTEMA


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5. ASPECTOS TEÓRICOS DE CARÁTER GERAL (PARA “PREPARAÇÃO DE RACIOCÍNIO”)

5.1 O ATERRAMENTO DE UM SISTEMA e as correntes de falta

Considerando-se a figura genérica a seguir (secundário em BT ou MT), o ponto NEUTRO do


secundário pode ou não ser aterrado (caso tal secundário seja configurado em triângulo,
obviamente o Neutro inexistirá, e o sistema será do tipo isolado).

Se ZN=0, o sistema é SOLIDAMENTE ATERRADO.

Se ZN é muito elevada, o sistema é aterrado por ALTA IMPEDÂNCIA.

Se ZN tende a infinito, o sistema é NÃO ATERRADO ou ISOLADO.

Se ZN é diferente de zero e atinge um valor mais baixo, diz-se que o sistema é aterrado por
BAIXA IMPEDÂNCIA (tal impedância poderia ser uma resistência ou uma reatância; nos
sistemas industriais é bem mais comum a utilização de resistor).

Se não há curto-circuito fase-terra, ou seja, se o sistema opera normalmente, e mesmo que


haja uma pequena circulação de corrente pelas capacitâncias naturais dos circuitos e
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equipamentos presentes, não haverá circulação de corrente (IN) pela impedância ZN e,


portanto, o potencial do ponto Neutro do sistema equivale ao potencial de
Terra → VN = -ZN . IN = 0. Note-se também, conforme dito na legenda da figura, que as
correntes resistivas IR podem ser desprezadas.

Quando uma fase é colocada acidentalmente em contato com a terra, uma corrente de
curto If se estabelece e retorna através da impedância ZN e das capacitâncias existentes

entre as fases sãs e a terra (desprezem-se aqui as parcelas de corrente que retornariam
pelas resistências entre as fases sãs e a terra, embora elas possam também existir).

Portanto, dependendo da magnitude da impedância de Neutro ZN, a corrente If terá valor


distinto e circulará por percurso(s) diferente(s), ou seja:

Se ZN=0 (sistema SOLIDAMENTE ATERRADO) , If assumirá valor mais elevado e, para


retornar ao ponto de defeito, circulará quase que exclusivamente pela conexão (sólida, sem
impedância) entre a terra e o Neutro do sistema. Na realidade, também haverá circulação de
pequena parcela de corrente pelas capacitâncias existentes entre as fases sãs (fases não
envolvidas diretamente com o defeito) e a terra. Não haverá elevação (deslocamento) da
tensão do ponto Neutro em relação à terra (VN = -ZN . IN = 0).

Se ZN é muito elevada (sistema aterrado por ALTA IMPEDÂNCIA), If assumirá valor bem

reduzido e, para retornar ao ponto de defeito, circulará pela impedância ZN existente entre a
terra e o ponto Neutro do sistema, e também pelas capacitâncias existentes entre as fases
sãs e a terra. Haverá elevação (deslocamento) da tensão do ponto Neutro em relação à terra

(VN = -ZN . IN ≠ 0).

Se ZN é diferente de zero e atinge um valor mais baixo (sistema aterrado por BAIXA
IMPEDÃNCIA), If assumirá valor mediano e, para retornar ao ponto de defeito, circulará pela

impedância ZN existente entre a terra e o ponto Neutro do sistema, e também pelas


capacitâncias existentes entre as fases sãs e a terra. Haverá elevação (deslocamento) da

tensão do ponto Neutro em relação à terra (VN = -ZN . IN ≠ 0).


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Se ZN tende a infinito (sistema NÃO ATERRADO ou ISOLADO), If assumirá valor mínimo /


baixíssimo e, para retornar ao ponto de defeito, circulará exclusivamente pelas capacitâncias
existentes entre as fases sãs e a terra. Haverá elevação (deslocamento) da tensão do ponto
Neutro em relação à terra e será mostrado mais adiante que tal deslocamento equivalerá à
tensão Fase-Neutro nominal do sistema (ou seja: VNT = VFF/[RAIZ(3)]).

5.2 PARÊNTESIS: “O QUE SÃO AS CAPACITÂNCIAS DE UM SISTEMA”??

As capacitâncias de um sistema elétrico, como mostrado esquematicamente na figura


anterior, são as capacitâncias naturalmente existentes entre os condutores vivos (sob
tensão) e a terra, entre enrolamentos dos transformadores e a terra, entre enrolamentos de
motores e a terra, e etc. Para melhor visualização, um exemplo possível de tais capacitâncias
pode ser observado na figura a seguir. Nela, mostra-se a seção transversal de um cabo
tripolar de MT isolado, composto por 3 condutores internos (um de cada fase), cada qual
também isolado para a tensão nominal. Cabos desse tipo possuem blindagem metálica
abaixo da cobertura mais externa (para equalização dos campos elétricos). Tal blindagem é
geralmente aterrada. Portanto, estando o circuito energizado, surgem campos elétricos (e
CAPACITÃNCIAS) entre os condutores vivos internos (dois a dois) e entre tais condutores e a
blindagem aterrada. As capacitâncias representadas na figura do subitem 5.1 seriam, por
exemplo, as capacitâncias existentes entre cada condutor vivo e a blindagem (que estaria no
potencial de terra), somadas a todas as outras capacitâncias presentes no sistema,
perfazendo-se capacitâncias equivalentes do sistema como um todo.
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5.2 SISTEMAS NÃO ATERRADOS (SISTEMAS ISOLADOS)

São sistemas cujo secundário do transformador alimentador não possui ponto Neutro
(configuração em triângulo), ou possui ponto Neutro não conectado à terra (estrela não
aterrada).

Note-se que tais sistemas são “não intencionalmente” ligados à terra através das
capacitâncias naturais do sistema (elevadíssima impedância).

São sistemas potencialmente aplicáveis em BT (até 1000 V) ou em MT (até 34,5 kV).

Vantagens:

-corrente de curto fase-terra de valor praticamente desprezível (se considerada a primeira


falta à terra); a corrente de curto fase-terra circula apenas pelas capacitâncias existentes
entre as fases sãs (sem defeito) do sistema e a terra;
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-se o sistema é apropriadamente isolado conforme as necessidades para essa configuração


(ou seja, isolamentos de fases para terra são projetados para suportar a tensão fase-fase,
condição que será abordada mais adiante, em vários pontos deste texto), não há a
necessidade de desligamentos perante a ocorrência de uma primeira falta à terra;

-tal sistema permite continuidade de serviço perante um primeiro defeito para a terra.

Desvantagens:

-torna-se necessário o estabelecimento de rotinas, procedimentos e o emprego de


instrumental adequado para alarme e para a localização das faltas à terra, além de pessoal
qualificado / treinado para tal;

-perante a ocorrência de um curto fase-terra, surgem potenciais de fase para a terra (nas
fases sãs) equivalentes às tensões fase-fase continuamente (até que a falta seja localizada e
sanada) – SOBRETENSÕES TEMPORÁRIAS; obs.: esse fato torna proibitivo o uso de sistemas
isolados em redes de AT, devido ao custo exorbitante para se prover a isolação aumentada
em níveis de tensão muito elevados;

-perante a ocorrência de um curto fase-terra não franco, ou seja, curto fase-terra através de
arcos elétricos intermitentes (situação que não é incomum...), há a possibilidade do
surgimento de SOBRETENSÕES TRANSITÓRIAS das fases para a terra da ordem de cinco a seis
vezes a tensão fase-terra nominal (ou até mais...);

-a eventual ocorrência das sobretensões transitórias pode incorrer na evolução dos curtos
fase-terra para curtos fase-fase, fase-fase-terra ou trifásico...;

-perante a ocorrência de uma segunda falta fase-terra, ou seja, já tendo ocorrido uma
primeira (ainda não sanada), essa segunda ocorrência caracterizará um curto fase-fase e
haverá a necessidade de desligamento imediato do sistema (daí a necessidade de se localizar
e sanar o primeiro defeito o mais rapidamente possível, mesmo que o sistema possa
continuar operando perante a ocorrência do mesmo);

-sistema de maior custo de aquisição / implantação (dada a necessidade de previsão de


isolamentos fase-terra projetados para suportar a tensão fase-fase do sistema).
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Os esquemáticos apresentados a seguir ilustram a ocorrência de um curto fase-terra em um


sistema isolado.
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No primeiro e segundo esquemáticos pode-se observar o percurso (e as subdivisões) da


corrente de curto fase-terra (na segunda figura mostram-se também as representações
fasoriais de tensões e correntes); o esquemático fatorial (terceira figura) indica os vetores
das tensões antes (a) e imediatamente após (b) a ocorrência do defeito (o aluno deverá
observar e refletir sobre todos os esquemáticos e representações fasoriais, entendendo-os e podendo
explicá-los... deve-se lembrar de que cada corrente capacitiva está 90⁰ elétricos adiantadas da tensão na fase
considerada....).

Nos esquemáticos a seguir, apresenta-se uma outra forma de abordagem da questão,


porém, com o mesmo significado defeito (o aluno deverá observar e refletir sobre todos os
esquemáticos e representações fasoriais, entendendo-os e podendo explicá-los... deve-se lembrar de que
cada corrente capacitiva está 90⁰ elétricos adiantadas da tensão na fase considerada....).

Explicitando melhor as causas de alguns aspectos já citados, perante um curto fase-terra em


um sistema isolado, a Terra, no ponto de contato com a fase sob falta, assume o potencial
dessa fase (OBSERVEM O DIAGRAMA FASORIAL mostrado na terceira figura da página
anterior sendo a) sistema em operação normal; e b) sistema submetido a um curto fase-
terra ). Nessa circunstância, a tensão VNT (ou VNG) deixa de ser zero e desloca-se para o
valor VAN (na realidade, -VAN), equivalente ao módulo da tensão fase-neutro do sistema.
Isso faz com que as tensões fase-terra nas fases sãs (sem defeito), ou seja, as tensões VBG e
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VCG (ou VBT e VCT) elevem-se a valores correspondentes aos valores fase-fase (note-se que a
terra assumiu, nessa situação, o potencial da fase A).

Uma característica do curto fase-terra em sistemas isolados é que, em geral, a corrente


tende a ser formada por arcos intermitentes no ponto de defeito. A intermitência é
explicada pelo fato de que, sendo a corrente de baixa intensidade (sistema isolado...), em
sua passagem por zero o arco se extingue (depois volta a surgir). O arco intermitente gera
harmônicos de amplo espectro e, sendo assim, haverá uma grande possibilidade de que haja
ressonância entre a indutância do transformador e a capacitância existente no sistema para
uma dada frequência (Hz) eventualmente presente em tal espectro. Havendo a ressonância,
a tensão na indutância (enrolamento do transformador) e na capacitância (presente entre as
fases sãs e a terra) poderá se elevar a níveis insuportáveis (SOBRETENSÕES TRANSITÓRIAS),
surgindo grande possibilidade de ocorrência de uma falta à terra em uma das fases sãs (por
rompimento da isolação) e originando-se, portanto, um duplo curto à terra (na realidade um
curto fase-fase, em última análise). Esse é um dos aspectos indesejáveis dos sistemas
isolados.

Esquemáticos de tal situação são mostrados nas figuras a seguir.

Representa o curto
intermitente (chave abre e
fecha periodicamente)
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SOBRETENSÕES SOBRETENSÕES TEMPORÁRIAS nas


TRANSITÓRIAS nas fases sãs em relação à terra
fases sãs em relação à
terra devido ao curto (independem do arco elétrico, e
fase-terra com arco decorrem das próprias características do
elétrico sistema em questão )

Instante de
ocorrência
da falta fase-
terra
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5.3 SISTEMAS SOLIDAMENTE ATERRADOS

São sistemas cujo secundário do transformador possui ponto Neutro diretamente (sem
impedância) conectado à terra (estrela aterrada).

Note-se que tais sistemas são “não intencionalmente” ligados à terra através das
capacitâncias naturais do sistema (elevadíssima impedância).

Vantagens:

-fácil localização das faltas fase-terra e possibilidade de rápida atuação dos dispositivos de
proteção contra sobrecorrentes (devido às correntes elevadas); boas condições para
obtenção de seletividade nos sistemas de proteção;

-as sobretensões transitórias são eliminadas (ou de baixa magnitude) e praticamente não há
sobretensões temporárias das fases sãs para a terra quando os curtos fase-terra ocorrem.

Desvantagens:

-torna-se necessário eliminar as faltas assim que as mesmas ocorrem (devido aos elevados
níveis de corrente e seu potencial destrutivo), o que impõe desligamentos;

-os elevados níveis das correntes de falta possibilitam o surgimento de arcos elétricos e sua
sustentação;

-sistema que oferece riscos à segurança pessoal.


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Esse sistema é o mais usual no Brasil em redes de BT. Porém, também pode ser aplicado a
redes de MT e até em AT ou EAT, quando possível e tecnicamente conveniente.

Os esquemáticos apresentados a seguir ilustram a ocorrência de curtos fase-terra em um


sistema solidamente aterrado (BT).

Curtos fase-terra francos

Note-se que, nesse caso, a corrente de curto fase-terra penetra pelo ponto de defeito e, ao
retornar para a fonte, circula pela conexão intencional do ponto Neutro do sistema à Terra e
também pelas capacitâncias presentes no sistema, associadas às fases sãs (a soma das
mesmas, ao atingirem a fase defeituosa para retorno ao ponto de defeito é, obviamente,
fasorial). Todavia, pelo fato da impedância da ligação sólida entre Neutro-Terra ser
absurdamente inferior à impedância (reatância) capacitiva do sistema, a parcela capacitiva
da corrente de falta pode ser desprezada. Percebe-se, pelo exemplo apresentado na figura,
que a corrente de curto fase-terra pode atingir valores elevadíssimos nos sistemas
industriais solidamente aterrados, o que pode exigir dos dispositivos de proteção uma
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elevada capacidade de interrupção em sua tensão de emprego nominal (essa característica


técnica geralmente encarece bastante tais dispositivos, principalmente os disjuntores).

Curtos fase-terra não francos (curtos que se processam com a presença de arco elétrico
intermitente)

Representa o
curto
intermitente
(chave abre e
fecha
periodicamente)

Nessa situação, a corrente de curto fase-terra penetra pelo ponto de defeito (através de um
arco elétrico que eventualmente possa se estabelecer (já que trata-se de um curto não
franco, ou seja, ocorrido pelo “resvalo” intermitente - e não pelo contato pleno - de uma
parte viva em uma parte aterrada) e, ao retornar para a fonte, circula pela conexão
intencional do ponto Neutro do sistema à Terra e também pelas capacitâncias presentes,
associadas às fases sãs (a soma das mesmas, ao atingirem a fase defeituosa para retorno ao
ponto de defeito é, obviamente, fasorial). Todavia, pelo fato da impedância da ligação sólida
entre Neutro-Terra ser muitissimo inferior à impedância (reatância) capacitiva do sistema, a
parcela capacitiva da corrente de falta pode ser desprezada. De qualquer modo, nesse tipo
de defeito, a corrente de curto fase-terra assume, geralmente, valores inferiores ao da
corrente de defeito plena (curto franco) já que, no ponto da falta, o arco elétrico também
apresenta impedância própria (essa impedância é de difícil mensuração; porém, com base
em testes e estudos específicos, considera-se que um curto através de arco elétrico possa
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ser reduzido a cerca de 20 a 40% (talvez 50%..) de um curto franco no mesmo ponto). No
exemplo apresentado na figura, considerou-se uma redução a 38%. Ainda assim, percebe-se
que o nível da corrente de falta é bastante elevado e altamente destrutivo.

Quanto aos sistemas solidamente aterrados e aos curtos fase-terra através de arco elétrico,
as documentações técnicas produzidas pelo IEEE ponderam:

-IEEE STd 242-2001 – “Recommended Practice for Protection and Coordination of Industrial
and Commercial Power Systems”

.8.2.2: Uma desvantagem do sistema solidamente aterrado na tensão nominal de 480 V


relaciona-se à magnitude altamente destrutiva da corrente de curto fase-terra que possa
ocorrer através de arco elétrico (tradução do autor).

-IEEE STd 141-1993 – “Recommended Practice for Electric Power Distribution for Industrial
Plants”

.7.2.4: O sistema solidamente aterrado apresenta a mais alta possibilidade de evolução de


um curto fase-terra para curto fase-fase ou curto trifásico através da propagação do arco
elétrico, particularmente em sistemas de 480 e 600 V. O perigo de sustentação do arco pelo
curto fase-terra é elevado nos sistemas de 480 e 600 V e muito baixo ou próximo de zero
para um sistema em 208 (ou 220 V). As ameaças à segurança existem nos sistemas
solidamente aterrados em decorrência da possibilidade de ocorrência de arcos severos,
descargas e até explosões perante a ocorrência de curto entre qualquer fase e a terra
(tradução do autor).

Os esquemáticos simplificados apresentados a seguir também ilustram a ocorrência de um


curto fase-terra em um sistema solidamente aterrado e mostram as representações fasoriais
das tensões de fase para terra antes e após o surgimento do defeito.
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UL3
esq
UL2
uem
esq
átic
UL1 uem
os
esq átic
apre
ICC-FT uem os
sent
átic apre
ado
os sent
sa
apre ado
seg
sent s a
uir
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ilust
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ram
seg ilust
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do.
isola
1
do.
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No primeiro esquemático pode-se observar o percurso da corrente de curto fase-terra (os


elementos capacitivos também presentes, ou seja, as capacitâncias do sistema para a terra,
não são mostrados na figura, e considera-se apenas a circulação da corrente pela conexão
Neutro-Terra do sistema); a segunda e a terceira figuras apresentam os esquemáticos
fasoriais indicando os vetores das tensões antes e imediatamente após a ocorrência do
defeito (o aluno deverá observar e refletir sobre os esquemáticos e representações fasoriais, entendendo-
os e podendo explicá-los...).

Note-se que, perante um curto fase-terra no sistema solidamente aterrado, a fase


defeituosa assume, no ponto de contato com a Terra, o potencial zero (potencial
“enxergado” pela carga para a fase sob curto). Nessa circunstância, e levando-se em conta
que não há uma impedância com algum significado entre Neutro e Terra, a tensão VNT (ou
VNG) permanece inalterada (ressalta-se que nos sistemas solidamente aterrados, “o Neutro é
intimamente comprometido com a Terra”, por ligação sólida. Isso faz com que as tensões
fase-terra nas fases sãs (sem defeito) ou seja, as tensões VBG e VCG (ou VBT e VCT),
mantenham-se em seus patamares normais, não havendo, portanto, tensão de
deslocamento do Neutro. Sendo assim, a tensão fase-fase entre as fases sãs (VBC, no caso do
terceiro esquemático apresentado) também permanece inalterada. As demais tensões fase-
fase, ou seja, VBA e VCA, ficam reduzidas ao valor fase-terra (ou fase-neutro).

Obs.: Existem algumas situações mesmo em sistemas solidamente aterrados (o que


dependerá das características do sistema de suprimento eletricamente a montante), nas
quais existe a possibilidade de que as tensões nas fases sãs em relação à terra podem elevar-
se um pouco em relação a seus valores normais (nominais) perante a ocorrência de um curto
fase-terra. Todavia, para efeitos práticos e considerando-se os circuitos de entrada /
alimentação dos sistemas elétricos industriais (os de maior interesse para as abordagens
aqui desenvolvidas), considerar-se-á que, em geral, não há elevações em tais tensões.
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5.4 SISTEMAS ATERRADOS POR IMPEDÂNCIA

São sistemas cujo secundário do transformador possui ponto Neutro conectado


intencionalmente à terra através de uma impedância (resistência ou reatância).

As configurações possíveis e suas aplicabilidades são as seguintes:

-NEUTRO ATERRADO POR RESISTÊNCIA DE BAIXO VALOR ÔHMICO: aplicável principalmente em MT


(até 34,5 kV) e AT;

-NEUTRO ATERRADO POR RESISTÊNCIA DE ALTO VALOR ÔHMICO: aplicável em BT (até 1000 V) e MT
(até 34,5 kV);

-NEUTRO ATERRADO POR MEIO DE REATÂNCIA (INDUTOR FIXO): aplicável em BT (até 1000 V) e MT
(até 34,5 kV);

-NEUTRO ATERRADO POR MEIO DE REATÂNCIA SINTONIZADA (“BOBINA DE PETERSEN”):


teoricamente aplicável em qualquer nível de tensão até 138 kV (porém requer análises técnicas
minuciosas).

5.4.1 SISTEMAS ATERRADOS POR RESISTÊNCIA

Se o Neutro do sistema é aterrado via resistor, há duas possibilidades: utilizar-se um resistor


de ALTO VALOR ÔHMICO ou um resistor de BAIXO VALOR ÔHMICO. Em última análise,
essas duas possibilidades distinguem-se pelo nível de corrente de curto fase-terra que é
permitido fluir ( R alto valor ôhmico → corrente de curto bastante baixa; R baixo valor
ôhmico → corrente de curto de nível baixo / mediano ).
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Na prática:

 R ALTO VALOR: as correntes de curto fase-terra atingem valores da ordem de 10 A ou

inferiores.
 R BAIXO VALOR: as correntes de curto fase-terra atingem valores acima de 10 A (na
realidade algumas dezenas de A) a até alguns pouquíssimos milhares de A em alguns casos
(2.000… 3.000 A, no máximo).

Em ambas as categorias, projeta-se / dimensiona-se o subsistema de resistor de


aterramento para limitar as correntes de falta fase-terra e para manter, na medida do
possível, o sistema elétrico isento de sobretensões transitórias destrutivas. Note-se que
sobretensões temporárias (das fases sãs para a terra) poderão surgir em ambas as
categorias de sistema, e irão perdurar no sistema aterrado por resistor de alto valor ôhmico
enquanto a falta não for localizada e sanada, situação que será abordada mais adiante; isso
se deve ao fato de que a utilização de resistor de ALTO valor ôhmico apropriadamente
dimensionado possibilita que a eliminação da falta fase-terra não seja imediata (porém,
requer alarme e detecção), uma vez que tal corrente é limitada a um valor muito baixo.

Perante a utilização de resistor de BAIXO valor ôhmico, uma falta fase-terra deve ser sanada
imediatamente, de maneira seletiva (a proteção a atuar deverá ser a localizada no ponto
mais próximo, eletricamente a montante do ponto faltoso). Por essa razão, o resistor deve
ser dimensionado de forma que o nível da corrente de falta fase-terra seja tal que possa
sensibilizar com facilidade o sistema de proteção contra faltas à terra, garantindo sua
atuação e a seletividade requerida.

De maneira geral, as razões para a limitação da corrente de curto fase-terra por um resistor
de Neutro (seja ele de alto ou baixo valor) são as seguintes:

 reduzir a possibilidade de arcos elétricos, queimas, derretimentos e explosões nos pontos

defeituosos, fundamentalmente em equipamentos elétricos (o que também preserva a


integridade de pessoas que eventualmente estejam próximas no momento de ocorrência de
uma falta para a terra);
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 reduzir o stress mecânico em circuitos e equipamentos pelos quais circule a corrente de

falta;
 minimizar ou eliminar a possibilidade de choques / eletrocuções em pessoas que possam ser

submetidas aos efeitos das tensões de toque e de passo que surgem no caminho de retorno
da corrente de curto-circuito à fonte pela terra.

Essas questões são claramente abordadas pela documentação do IEEE, mais especificamente
no IEEE STd 142-1991 (Green Book) – “Recommended Practice for Grounding of Industrial
and Commercial Power Systems”, subitem 1.4.3.

Dando sequência às razões acima citadas, pode-se destacar adicionalmente (e sem dúvida,
com a mesma importância), o controle das sobretensões transitórias obtido com o
dimensionamento e especificação apropriados do resistor em cada sistema sob análise (não
há a desvinculação total entre o Neutro e a terra, como ocorre nos sistemas isolados....),
reduzindo-se a possibilidade de ocorrência de danos aos equipamentos e,
conseqüententemente, preservando-se suas vidas úteis.

5.4.2 VANTAGENS E DESVANTAGENS DOS SISTEMAS ATERRADOS POR RESISTÊNCIA DE


ALTO E DE BAIXO VALOR ÔHMICO

R ALTO VALOR ÔHMICO

Vantagens:

-favorece a Continuidade de Serviço; o sistema em que uma das faltas tenha sido colocada
em contato com a terra pode ser mantido em operação perante esta primeira falta; ou seja,
a primeira falta à terra não exige eliminação imediata (porém, requer alarme e detecção),
uma vez que a corrente é limitada a um valor muito baixo.

-a corrente de curto fase-terra é limitada a valores muito baixos, o que favorece a


preservação da integridade física dos equipamentos nos quais, eventualmente, o curto tenha
sido originado;

-não há a ameaça de ocorrência de arcos elétricos nos pontos sob falta, tal como pode
ocorrer nos sistemas solidamente aterrados, uma vez que a corrente de falta á terra é
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geralmente limitada a algo da ordem de 5 A (no máximo 10...), valor não suficiente para
sustentar a permanência de um arco elétrico;

Obs: essas duas últimas vantagens aqui apresentadas são expressamente ressaltadas no IEEE STd
141-1993 (Red Book) – “Recommended Practice for Electric Power Distribution for Industrial Plants”,
subitem 7.2.2.

-as sobretensões transitórias são eliminadas se o projeto for adequadamente realizado (se
ocorrerem, são de pequena magnitude e, geralmente, são completamente suportáveis),
persistindo no sistema apenas as sobretensões temporárias (das fases sãs para a terra) a
partir do instante em que ocorre um curto fase-terra, e até que o mesmo seja localizado e
sanado.

Desvantagens:

-torna-se necessário o estabelecimento de rotinas, procedimentos e o emprego de


instrumental adequado para detecção, alarme e para a localização das faltas à terra, além
de pessoal qualificado / treinado para tal;

-sistema de maior custo de aquisição / implantação se comparado com um sistema


equivalente solidamente aterrado (dada a necessidade de previsão de isolamentos fase-terra
projetados para suportar a tensão fase-fase do sistema, em função da permanência das
sobretensões temporárias nas fases sãs (para a terra) após a ocorrência de um curto fase-
terra).

A figura a seguir mostra a elevação das tensões das fases sãs para a terra perante a
ocorrência de um curto-ciruito fase-terra em um sistema de baixa tensão (VFF = 480 V)
aterrado por resistor de alto valor ôhmico.
25

As tensões de fase para terra nas fases


sãs podem atingir praticamente valor da
tensão fase-fase.

Obs.: Na figura, a sigla HRG mostrada ao lado do resistor de Neutro vem da lingua inglesa e significa “High
Resistance Grounding”. No caso do resistor de baixo valor ôhmico utilize-sea sigla LRG (“Low Resistance
Grounding”).

Portanto, com base na figura acima, verifica-se ser extremamente importante que a planta
seja dotada de instrumental específico para alarme contra faltas à terra e que a equipe de
manutenção elétrica seja devidamente qualificada / treinada em procedimentos para
localização do defeito. A figura a seguir, autoexplicativa, mostra uma metodologia muito
comum adotada em instalações elétricas de BT com resistor de aterramento de alto valor
ôhmico, para rastreamento e localização de um circuito submetido a uma falta fase-terra.

Imediatamente a montante
do ponto do curto, a
corrente pulsará (com picos
um pouco acima do valor de
ICC-FT) para que se confirme
e se garanta a localização do
defeito.

O subsistema do resistor de aterramento


contempla um contator que é acionado e
desacionado a curtos intervalos de tempo para
facilitar a localização do ponto do curto (a
corrente de curto “pulsará”...).
26

Outro aspecto que merece ser citado no caso de instalações de BT dotadas de resistor de
alto valor ôhmico diz respeito às cargas a serem alimentadas e à forma de alimentação. As
cargas a alimentar devem ser trifásicas pois, caso haja carga(s) monofásica(s) no sistema
(alimentadas em tensão fase-neutro), e supondo-se que haja um curto fase-neutro em seu
circuito alimentador, a corrente de curto não circulará pelo resistor e, portanto, não será
limitada ao valor desejado quando se aplica tal sistema de aterramento do Neutro. A figura
seguinte ilustra tal situação.

Portanto, pode-se inferir que tal sistema (BT, com resistor de alto valor ôhmico) seja
aplicável a instalações industriais, para alimentação de cargas trifásicas (motores elétricos,
por exemplo).
27

R BAIXO VALOR ÔHMICO

Vantagens:

-fácil localização das faltas fase-terra e possibilidade de rápida atuação dos dispositivos de
proteção contra sobrecorrentes; boas condições para obtenção de seletividade nos sistemas
de proteção; essas premissas (detecção dos curtos, rápida atuação e obtenção de
seletividade) requerem, obviamente, dimensionamento apropriado do resistor de Neutro, de
forma que os defeitos fase-terra possam ser “detectáveis” pelo sistema de proteção contra
faltas à terra... as correntes de curto fase-terra não podem ser excessivamente baixas....);

-as sobretensões transitórias são de pequena magnitude e, geralmente, são suportáveis;


persistem no sistema apenas as sobretensões temporárias (das fases sãs para a terra) a
partir do instante em que ocorre um curto fase-terra, e até que a proteção atue (porém,
note-se que, nesse tipo de sistema, a proteção é parametrizado / ajustada para atuar
rapidamente, de maneira seletiva).

Desvantagens:

-não oferece a possibilidade de Continuidade de Serviço, como ocorre nos sistemas isolados e
sistemas aterrados por meio de resistor de alto valor ôhmico; torna-se necessário eliminar as
faltas assim que as mesmas ocorrem, o que impõe desligamentos rápidos (embora os níveis
de curto fase-terra sejam, em geral, medianos nesse tipo de sistema, há ainda um enorme
potencial destrutivo).

-ainda existe a possibilidade do surgimento de arcos elétricos nos pontos de curto e sua
sustentação até que a proteção contra faltas à terra atue.

A utilização de resistor de baixo valor ôhmico é freqüente no Brasil em sistemas industriais


com transformadores cujas tensões nominais secundárias equivalem a, por exemplo,
4,16 kV (alguns sistemas), 13,8 kV (principalmente) e 34,5 kV, ou seja, nas redes industriais e
subestações com circuitos de saída em média tensão.
28

Em qualquer caso (neutro aterrado por R de alto ou de baixo valor ôhmico), o subsistema do
resistor utilizado deve ser obrigatoriamente e continuamente monitorado já que, perante a
eventual perda de tal subsistema, a configuração do aterramento será imediatamente
afetada. As figuras a seguir ilustram duas situações indesejáveis.

Na figura à esquerda, nota-se o rompimento do resistor, o que converte o sistema de


aterrado por resistor para ISOLADO (nessa circunstância, passam a vigorar as características
de um sistema não aterrado, já abordado anteriormente).

Na figura à direita, nota-se um “by-pass” do resistor (contatos dos condutores de entrada e


saída com a carcaça do equipamento, o que converte o sistema de aterrado por resistor para
SOLIDAMENTE ATERRADO (nessa circunstância, passam a vigorar as características de um
sistema aterrado sem impedância, também já abordado anteriormente).

R R
29

5.4.3 ABORDAGENS RELATIVAS ÀS FALTAS À TERRA EM SISTEMAS ATERRADOS POR


RESISTÊNCIA DE ALTO E DE BAIXO VALOR ÔHMICO

Os esquemáticos apresentados a seguir ilustram, com formatações e nomenclaturas


distintas mas com o mesmo conteúdo teórico, um sistema aterrado por resistor
imediatamente após a ocorrência de um curto fase-terra. Note-se que, similarmente aos
demais sistemas abordados anteriormente, as capacitâncias próprias / naturais dos
elementos do sistema em relação à terra estão representadas.
30

Em todos os esquemáticos pode-se observar o percurso (e as subdivisões) da corrente de


curto fase-terra; na primeira e terceira figuras mostram-se também as representações
fasoriais de tensões e correntes, e expressões associadas a essas grandezas (o aluno deverá
observar e refletir sobre todos os esquemáticos e representações fasoriais, entendendo-os e podendo
explicá-los... deve-se lembrar de que cada corrente capacitiva está 90⁰ elétricos adiantadas da tensão na fase
considerada....).
31

Em sistemas com o Neutro aterrado por meio de resistência, a corrente de falta à terra no
ponto do defeito é formada por uma componente capacitiva e uma componente resisitiva. O
valor da componente resisitiva depende, naturalmente, do valor da resistência de
aterramento (RE no primeiro esquemático ou RN no terceiro esquemático).

Se não há curto-circuito fase-terra, ou seja, se o sistema opera normalmente, não haverá


circulação de corrente (IN) pela pelo resistor RN e, portanto, o potencial do ponto Neutro do
sistema equivale ao potencial de Terra → VN = -RN . IN = 0.

Quando uma fase é colocada acidentalmente em contato com a terra, uma corrente de
curto If se estabelece e retorna através do resistor RN e das capacitâncias existentes entre

as fases sãs e a terra.

Se RN é um resistor de ALTO VALOR ÔHMICO (sistema aterrado por ALTA IMPEDÂNCIA),


If assumirá valor muito reduzido e, para retornar ao ponto de defeito, circulará por RN e
também pelas capacitâncias existentes entre as fases sãs e a terra. Haverá elevação
(deslocamento) da tensão do ponto Neutro em relação à terra (VN = -RN . IN ≠ 0).

Se RN é um resistor de BAIXO VALOR ÔHMICO (sistema aterrado por BAIXA IMPEDÃNCIA),


If assumirá valor mediano e, para retornar ao ponto de defeito, circulará por RN e também
pelas capacitâncias (existentes entre as fases sãs e a terra. Haverá elevação (deslocamento)
da tensão do ponto Neutro em relação à terra (VN = -RN . IN ≠ 0).

Portanto, perante a ocorrência de um curto fase-terra e havendo um resistor entre os


pontos Neutro e Terra do sistema, a tensão VN deixa de ser zero e desloca-se para um valor
maior (superior em módulo), vindo a atingir algum valor situado entre zero e a tensão fase-
terra do sistema (na realidade tendendo, no limite, à tensão fase-terra do sistema, ou seja,
VNT tende a VFF/[RAIZ(3) em um caso extremo. Isso faz com que as tensões fase-terra nas
fases sãs (sem defeito) ou seja, as tensões VBG e VCG no primeiro esquemático apresentado
(ou V2 e V3 no segundo esquemático) tendam a elevar-se a valores correspondentes aos
valores da tensão fase-fase. Essas serão as SOBRETENSÕES TEMPORÁRIAS (das fases sãs para
a terra) às quais o sistema estará submetido imediatamente após a ocorrência do curto fase-
32

terra (tensões “enxergadas” pela carga alimentada por tal sistema), e até que haja a
eliminação da falta.

No caso do sistema aterrado por resistor de ALTO VALOR ÔHMICO, conforme já abordado
anteriormente, já que o mesmo pode ser mantido em operação perante a primeira falta
(uma vez que o resistor é dimensionado para que a corrente de curto fase-terra assuma um
valor baixíssimo), há a obrigatoriedade absoluta de que o sistema possua isolações de fase
para a terra projetadas para suportar a tensão fase-fase do sistema, já que as sobretensões
temporárias nas fases sãs (para a terra) persistirão até que o curto seja localizado e sanado.

No caso do sistema aterrado por resistor de BAIXO VALOR ÔHMICO, conforme também já
abordado, como o sistema não pode ser mantido em operação perante a ocorrência de uma
falta fase-terra (uma vez que o resistor é dimensionado para que a corrente de curto fase-
terra assuma valor baixo a mediano, mas ainda potencialmente destrutivo e perigoso), não
há a obrigatoriedade absoluta de que o sistema possua isolações de fase para a terra
projetadas para suportar continuamente a tensão fase-fase. Ressalta-se que, nessa
configuração, a corrente de curto é rapidamente eliminada pela atuação da proteção (em,
no máximo, alguns poucos segundos).

Obs.: É importante atentar para o fato de que os equipamentos de um sistema elétrico são geralmente
projetados para suportarem tensões aplicadas bem superiores às suas tensões nominais de operação, desde
que por um período não longo e definido na normalização (geralmente 1 minuto). Os equipamentos de média
tensão, por exemplo, são projetados e construídos para que a isolação de fase para a terra não falhe perante a
aplicação de cerca de 2,5 vezes a tensão nominal por um período de 60 segundos, à freqüência industrial (60
Hz no Brasil). Portanto, para uma tensão nominal de 13,8 kV (classe 15 kV), aplica-se uma tensão de teste da
ordem de 34 kV durante esse tempo. Como os sistemas aterrados por resistor de baixo valor ôhmico são
particularmente aplicáveis aos sistemas de MT (como será visto mais adiante), as sobretensões temporárias a
que as fases sãs possam estar submetidas perante a ocorrência de um curto fase-terra não serão, em tese,
problemáticas (da ordem de, no máximo, 1,5 P.U. em situações extremas), já que o sistema será desligado em
curto tempo (da ordem de frações de segundo ou, no máximo, em alguns segundos).
33

5.4.3 CRITÉRIOS PARA A ESCOLHA RESISTOR DE ALTO OU DE BAIXO VALOR ÔHMICO

Ambas as categorias (resistor de ALTO VALOR ÔHMICO e resistor de BAIXO VALOR ÔHMICO)
são especificadas / dimensionadas para exercem suas funções quando inseridas entre os
pontos Neutro e Terra da fonte e cada qual tem a sua aplicação mais específica.

Antes de se abordar as aplicações específicas de cada método, é preciso mencionar um


aspecto teórico associado ao tema com base em duas perguntas fundamentais e nas
respostas às mesmas.

1ª Pergunta importante:

• Qual é o valor (otimizado) do resistor que pode ser instalado entre o Neutro e a terra?

Resposta:

• É aquele que elimina o risco de ocorrência de sobretensões transitórias (das fases sãs
para a terra) quando da ocorrência de um curto fase-terra (analisar as considerações
teóricas sobre esse assunto, apresentadas na próxima página).

2ª pergunta importante:

• Mas como definir o valor desse resistor com base na eliminação das sobretensões
transitórias?

Resposta:

Com base em estudos de fenômenos transitórios, nos trabalhos e pesquisas desenvolvidos


pelo Prof. alemão Von W. Petersen (a partir de 1916) e divulgados nos anos seguintes, e na
prática do meio técnico nos E.U.A. ao longo do século XX, concluiu-se que, para eliminar as
sobretensões transitórias perante a ocorrência de um curto fase-terra, o resistor deve
possibilitar a circulação de uma corrente no Neutro que seja igual ou um pouco superior à
corrente capacitiva total do sistema em análise.

Ou seja: A corrente capacitiva do sistema em análise é a variável que, a rigor, deve ser
tomada como base para se definir o valor do resistor a ser instalado no Neutro do sistema.
NOTA: Para mais informações quanto às formas de determinação (ou estimativa) do valor da corrente
capacitiva de um sistema elétrico, consultar o APÊNDICE A, ao final dessa apostila.
34

PARÊNTESIS: CONSIDERAÇÕES GERAIS ACERCA DAS SOBRETENSÕES TRANSITÓRIAS

a outro
às
outr
o

“degrau de tensão” *

(de ms a dezenas de ms)

em que a

* Relembre-se de que uma variação brusca de corrente gera uma variação brusca de tensão em circuitos de
natureza indutiva → V = L . di / dt
35

Em sistemas com R ATERRAMENTO, à medida em que

resistor reduzido,

Na figura a seguir, percebe-se a diferença entre as sobretensões transitória e temporária. A


transitória atinge maiores magnitudes e se desenvolve em freqüências mais elevadas,
cessando em um tempo curto. A temporária é menos severa (embora possa ser também
perigosa) e desenvolve-se à freqüência industrial. No caso dos aterramentos de sistema dos
tipos ISOLADO e ATERRADO POR IMPEDÂNCIA, tais fenômenos estão presentes. Daí a
importância de tentar minimizar ou mesmo eliminar a ocorrência das sobretensões
transitórias quando se dimensiona Z (R ou XL) de Neutro, nos aterramentos impedantes.

(
Sobretensões
transitórias das
fases sãs para a terra
devido ao curto fase-
terra

Sobretensões temporárias das fases sãs para a


terra, que permanecerão até que a falta fase-
terra seja sanada.
36

A próxima figura apresenta um gráfico genérico mostrando o que ocorre nas tensões entre
as fases sãs e a terra em um sistema aterrado por impedância (resistor de BAIXO VALOR
ÔHMICO, no caso do exemplo da figura) quando ocorre um curto fase-terra e quando a
impedância de Neutro (resistor, no caso) é avaliada e dimensionada para que sejam evitadas
as sobretensões transitórias (comparem esse gráfico com o gráfico da figura da página
anterior). Percebe-se que, ocorrido o curto, as tensões fase-terra das fases não faltosas se
elevam; porém, se elevam sem que surjam, transitoriamente, as sobretensões ditas
“transitórias” anteriormente abordadas. Nessa situação, portanto, ocorrem apenas as
sobretensões temporárias, que permanecerão presentes entre as fases sãs e a terra até que
o curto seja interrompido.
37

 Feitas as considerações acerca das sobretensões, torna-se possível prosseguir com as


abordagens relativas ao ATERRAMENTO ATRAVÉS DE RESISTÊNCIA ÔHMICA...

-INTRODUÇÃO ÀS APLICAÇÕES DE CADA TIPO DE RESISTOR

Resistor de Alto Valor Ôhmico

Sistemas em que o resistor limita a corrente de curto fase-terra em valores menores que
10 A, não sendo necessário desligar o sistema quando ocorre a primeira falta à terra.

Resistor de Baixo Valor Ôhmico

Sistemas em que o resistor limita a corrente de curto fase-terra em valores superiores a 10 A


e é necessário desligar o sistema na primeira falta à terra, de forma seletiva.

Mas porque a linha divisória básica entre as duas aplicações é definida em 10 A ???

-De maneira geral considera-se que correntes de falta à terra na faixa de 5 a 10 A podem
permanecer circulando nos sistemas, pois não danificam as chapas magnéticas de geradores,
motores, etc (note-se que um curto fase-terra, se originado no interior desses equipamentos,
penetraria através das isolações rompidas / danificadas e circularia por sua chaparia
magnética e pelas carcaças aterradas);

-Além disso, esse nível de corrente não é suficiente para sustentar arcos elétricos e evita a
sua propagação (evolução...) para curto entre fases, como ocorre quando o curto à terra
apresenta valores elevados de corrente.

Então, qual seria um sistema “naturalmente candidato” para a aplicação de resistor de


ALTO valor ôhmico?? São os sistemas de BAIXA TENSÃO (trafos com secundário em estrela,
e tensão secundária menor que 1000 Volts)... Porque??

Por que nesses sistemas, a corrente capacitiva é seguramente menor que 5 A....
38

É importante lembrar que, para se evitar os problemas de ocorrência de sobretensões


transitórias das fases sãs para a terra perante um curto fase-terra (eliminando-se,
concomitantemente, altas correntes de curto e a possibilidade do surgimento de arcos
elétricos):

Então, se a corrente de curto fase-terra precisa ser limitada a 5 A (ou no máximo um pouco
mais), os sistemas que apresentam corrente capacitiva da ordem dos 5 A são os mais
indicados para a aplicação de resistores de alto valor ôhmico... Esses sistemas são os de BT.

A principal vantagem / aplicação é a CONTINUIDADE DE SERVIÇO.... O sistema não precisa


ser desligado em uma primeira falta à terra.... Porém, é preciso localizar a falta e eliminá-
la o quanto antes.

Nota: no Brasil, esse é um método pouquíssimo utilizado e, de maneira geral, as instalações em BT são
concebidas com Neutro solidamente aterrado.... (sendo assim, o problema do surgimento do arco elétrico
quando da ocorrência de curtos fase-terra, frequente em tais sistemas, precisa ser muito bem abordado... há
proteções específicas para isso).

E qual seria um sistema “naturalmente candidato” para a aplicação de resistor de BAIXO


valor ôhmico?? São os sistemas de MÉDIA TENSÃO (trafos com secundário em estrela, e
tensão secundária geralmente até 34,5 kV, em instalações industriais).... Porque??

Por que nesses sistemas, a corrente capacitiva é geralmente superior a 10 A....

Mais uma vez, note-se que, para se evitar os problemas de ocorrência de sobretensões
transitórias das fases sãs para a terra perante a ocorrência de um curto fase-terra
(eliminando, concomitantemente, altas corrente de curto e a possibilidade do surgimento de
arcos elétricos):
39

Então, se a corrente de curto fase-terra precisa ser limitada, porém, a valores superiores a
10 A (ou a algumas dezenas de Ampéres, a priori), os sistemas que apresentam corrente
capacitiva de ordem equivalente a isso são os mais indicados para a aplicação de resistores
de baixo valor ôhmico... Tais sistemas são os de MT.

Todavia, como já mencionado, quando ICAPACITIVA > 10 A, geralmente torna-se necessário


desligar o sistema seletivamente.

EMPREGO DE RSISTORES DE BAIXO VALOR ÔHMICO EM SISTEMAS DE MT

Importante:

• Nos casos em que a corrente capacitiva supera os 10A (exemplo: um sistema de 13,8 kV
com corrente capacitiva de 15, 20 A, o que é muito comum....), utilizam-se resistores que
limitem a corrente resistiva do curto fase-terra a um valor maior – geralmente a um mínimo
de 50A em sistema industriais (25 A, excepcionalmente) – pois, sendo necessário realizar
desligamentos (seletivos), é preciso que se obtenha a sensibilidade necessária (as proteções
“enxergarem” as faltas mais facilmente..) e seletividade entre os relés de falta à terra, o que
facilita a especificação dos TC´s toroidais do tipo “Ground Sensor” (GS).

Os desligamentos são necessários para eliminar rapidamente as faltas à terra, possibilitando:

• limitar a possibilidade de destruição dos equipamentos e a formação de incêndios;

• evitar a ocorrência de outras faltas adicionais, como, por exemplo, a evolução da falta
fase-terra para curto entre fases;

• evitar o sobreaquecimento e o stress mecânico dos condutores.

Portanto, a utilização de RESISTOR DE BAIXO VALOR ÔHMICO é aplicável aos sistemas


industriais de MT, nos quais o principal requisito não é a continuidade operacional da
planta mas, sim, a redução de Icc F-T, a segurança pessoal e a preservação da integridade
dos equipamentos.

Esse método é largamente utilizado no Brasil.


40

Obs.: se o ponto Neutro não está acessível (como ocorre no caso dos sistemas em Triângulo), a detecção de
faltas à terra também pode ser implementada criando-se um “neutro artificial” no sistema, através, por
exemplo, da utilização de enrolamentos em ZIG-ZAG, conectados em paralelo com a rede; nesse caso, o
resistor é conectado entre o ponto Neutro da conexão ZIG-ZAG e a terra (consultar o APÊNDICE B).
41

5.5 RESUMO E CONCLUSÕES SOBRE A QUESTÃO DAS SOBRETENSÕES TEMPORÁRIAS FACE


AOS TIPOS DE “ATERRAMENTOS DE SISTEMA”

O gráfico a seguir, apresentado de forma interessante e abrangente, permite visualizar as


expectativas de surgimento de sobretensões temporárias (e suas ordens de grandeza)
perante a ocorrência de um curto fase-terra, considerados os vários tipos de aterramentos
de sistema. Todavia, convém salientar que trata-se de um gráfico orientativo e que as
correlações apresentadas podem variar um pouco em casos específicos.

No eixo das ordenadas, apresenta-se uma escala de representatividade entre o valor da


sobretensão temporária (sobretensão U) e a tensão nominal fase-terra (ULE). Essa
representatividade é indicada pelo índice U/ULE (tratam-se, portanto, de valores em P.U.,
aos quais correlaciona-se a linha verde no gráfico). Na mesma escala desse eixo também
contempla-se a representatividade entre o valor da corrente de curto fase-terra (IK1) e a
corrente de curto trifásica (IK3), que corresponde ao índice IK1/IK3 (em P.U.).
42

Os vários tipos de aterramento de sistema encontram-se indicados abaixo do eixo das


abscissas, posicionados em faixas de ocorrência provável, em função do índice Z0/Z1 que
significa (na abscissa) a representatividade da impedância de sequência zero (Z0, que
engloba as impedâncias dos sistemas de aterramento) em relação à impedância de
sequência positiva (Z1) do sistema eletricamente a montante, até o ponto de ocorrência do
curto fase-terra.

Para a interpretação adequada de tal gráfico, podem-se fazer vários comentários. O primeiro
deles é que os níveis de sobretensão temporária e de correntes de curto fase-terra em um
dado sistema são dependentes da relação Z0/Z1 do sistema sob análise, no ponto de
ocorrência do curto fase-terra. Outro comentário importante: os tipos de aterramento de
um sistema impõem ao mesmo faixas de valores correspondentes à relação Z0/Z1 (ou seja,
tal relação é um dos parâmetros que pode caracterizar um ou outro tipo de aterramento de
sistema). Quanto aos níveis de sobretensão temporária, percebe-se que os valores mais
expressivos ocorrem para os sistemas ISOLADOS ou ATERRADOS POR IMPEDÃNCIA DE ALTO
VALOR. No que refere às correntes de curto fase-terra, verifica-se os valores mais
expressivos ocorrem para os sistemas SOLIDAMENTE ATERRADOS. À medida em que a
relação Z0/Z1 se eleva, ou seja, à medida em que a impedância associada ao sistema de
aterramento aumenta e o regime de aterramento do Neutro vai passando de SOLIDAMENTE
ATERRADO para ATERRADO POR IMPEDÂNCIA DE ALTO VALOR até atingir um SISTEMA
ISOLADO, as correntes de curto fase-terra vão diminuindo e as sobretensões temporárias
vão, concomitantemente, se elevando.

Isso mostra que ao se migrar de um sistema com aterramento sólido para um sistema
isolado (neste último caso, com a presença do ponto Neutro → sistema em estrela, ou sem a
presença do ponto Neutro → sistema em triângulo) as sobrecorrentes são “trocadas” por
sobretensões.... No caminho inverso, acontece o oposto. Além disso, pode-se inferir com
base no gráfico que, para cada tipo de sistema de aterramento, há magnitudes esperadas de
correntes de curto fase-terra (em relação aos curtos trifásicos no mesmo ponto) e
magnitudes esperadas para as sobretensões temporárias... e tudo dependerá da relação
Z0/Z1 no ponto considerado.
43

A título de interpretação numérica do gráfico (e ressaltando-se novamente tratar-se de uma


abordagem orientativa, calcada em ordens de grandeza para fins didáticos), pode-se
exemplificar tais correlações da seguinte forma:

 Exemplo 1

-Na faixa correspondente aos sistemas considerados SOLIDAMENTE ATERRADOS, verifica-se, com
base no gráfico, que a relação Z0/Z1 pode vir a atingir valores compreendidos entre 0 e 5;

-Para esses sistemas, o gráfico indica que a relação entre a corrente de curto fase-terra e
corrente de curto trifásica geralmente situa-se na faixa entre 1,5 e 0,5, e o
comportamento de tal relação é inversamente proporcional ao da relação entre as
impedâncias consideradas (essa é uma correlação lógica, uma vez que, quanto menor for
a impedância de sequência zero, ou seja, a impedância que envolve o sistema de
aterramento, maior será o nível da corrente de curto fase-terra);

-Para esse tipo de aterramento de sistema, verificam-se as menores sobretensões


temporárias entre as fases sãs e a terra (conforme já mencionado anteriormente), e o
máximo valor no gráfico situa-se em 1,4 PU; ou seja, supondo-se um caso real em baixa
tensão, 440 VFASE-FASE por exemplo (254 VFASE-NEUTRO), um curto circuito fase-terra
poderia ocasionar uma elevação temporária na tensão fase-terra das fases sãs a cerca de
350 V (para Z0/Z1=5) e uma redução a cerca de 0,9 PU (229 V) considerando-se Z0
desprezivel. Porém, e conforme já mencionado em abordagens anteriores, note-se que
em um sistema solidamente aterrado uma eventual sobretensão perduraria apenas por
frações de segundo, já que esse método de aterramento requer a interrupção
praticamente imediata do curto fase-terra.

 Exemplo 2

-Na faixa correspondente aos sistemas que tendam aos ISOLADOS, verifica-se, com base no
gráfico, que a relação Z0/Z1 atinge valores da ordem de 11 e superiores;

-Para esses sistemas, o gráfico indica que a relação entre a corrente de curto fase-terra e
corrente de curto trifásica é fracionária e muito baixa (0,2 ou bem inferior a isso na
prática), e o comportamento de tal relação é inversamente proporcional ao da relação
44

entre as impedâncias consideradas (essa é uma correlação lógica, uma vez que, quanto
maior for a impedância de sequência zero, ou seja, a impedância que envolve o sistema
de aterramento, menor será o nível da corrente de curto fase-terra);

-Para esses tipos de aterramento de sistema, verificam-se as sobretensões temporárias


mais severas entre as fases sãs e a terra (conforme já mencionado anteriormente), e o
máximo valor possível tende à tensão fase-fase do sistema, ou seja, 1,732 PU
[VFN x [RAIZ(3)]; ou seja, supondo-se um caso real em baixa tensão, 440 VFASE-FASE por
exemplo (254 VFASE-NEUTRO), um curto circuito fase-terra poderia ocasionar uma elevação
temporária na tensão fase-terra das fases sãs a 440 V (para Z0 tendendo a infinito 

sistema em estrela com o Neutro plenamente isolado da terra ou sistema em triângulo ) e

uma sobretensão temporária conforme o gráfico de, no mínimo, 1,5 PU (380 V),
considerando-se Z0/Z1 equivalente a 11. Nesse caso, e presumindo-se que as isolações
fase-terra do sistema fôssem adequadamente preparadas para suportar a tensão fase-
fase (condição necessária conforme já abordado anteriormente), tais sobretensões
temporárias poderiam perdurar e ser suportadas até que a falta fase-terra fosse
localizada e sanada, mantendo-se a continuidade de serviço durante esse período.

 Exemplo 3

-Na faixa correspondente aos sistemas ATERRADOS POR RESISTOR DE BAIXO VALOR ÔHMICO,
verifica-se, com base no gráfico, que a relação Z0/Z1 situa-se na faixa entre 5 e 10;

-Para esses sistemas, o gráfico indica a relação entre a corrente de curto fase-terra e
corrente de curto trifásica situa-se na faixa entre 0,5 e 0,25, e o comportamento de tal
relação é inversamente proporcional ao da relação entre as impedâncias consideradas
(essa é uma correlação lógica, uma vez que, quanto menor for a impedância de sequência
zero, ou seja, a impedância que envolve o sistema de aterramento, maior será o nível da
corrente de curto fase-terra);

-Para esse tipo de aterramento de sistema, verificam-se sobretensões temporárias de


nível mediano / alto entre as fases sãs e a terra, situando-se na faixa de 1,4 a 1,6 PU,
conforme o gráfico. Em um um caso real em média tensão, 13.800 VFASE-FASE por
45

exemplo (7.967 VFASE-NEUTRO), um curto circuito fase-terra poderia ocasionar uma


elevação temporária na tensão fase-terra das fases sãs a cerca de 12,7 kV (para Z0/Z1=10)
e para cerca de 11,2 kV (para Z0/Z1=5). Porém, e conforme já mencionado em abordagens
anteriores, note-se que em um sistema aterrado por resistor de baixo valor ôhmico tais
sobretensões perdurariam apenas por pouquíssimos instantes, já que esse método de
aterramento requer a rápida interrupção do curto fase-terra.

Como forma de se estabelecerem estimativas básicas (e preliminares) da ordem de


grandeza que podem atingir a tensões entre uma fase sã e a terra perante a ocorrência de
um curto fase-terra, pode-se também adotar a seguinte metodologia expedita (supondo-
se, por exemplo, curto entre a Fase C e a terra, e avaliando-se a tensão temporária
resultante na Fase B):

.Para Z0/Z1=0 desde a fonte (todo o sistema elétrico a montante) até o ponto do curto
fase-terra: VB = VNOMINAL-FASE B + ( VNOMINAL-FASE A / 2 );

.Para Z0/Z1=0,5 desde a fonte (todo o sistema elétrico a montante) até o ponto do curto
fase-terra: VB = VNOMINAL-FASE B + ( VNOMINAL-FASE A / 5 );

.Para Z0/Z1=1 desde a fonte (todo o sistema elétrico a montante) até o ponto do curto
fase-terra: VB = VNOMINAL-FASE B;

.Para Z0/Z1=4 desde a fonte (todo o sistema elétrico a montante) até o ponto do curto
fase-terra: VNOMINAL-FASE B - ( VNOMINAL-FASE A / 2 );

.Para Z0/Z1   desde a fonte (todo o sistema elétrico a montante) até o ponto do curto

fase-terra: VBA-NOMINAL (tensão fase-fase do sistema).

NOTAS:

-As somas / subtrações são FASORIAIS;

-Para tais estimativas adota-se a premissa de que a relação Z2/Z1, ou seja, a relação entre
a impedância de sequência negativa e a impedância de sequência positiva até o ponto do
defeito (índice que não depende do tipo de aterramento), seja equivalente a 1
(aproximação razoável em se tratando de estimativas e análises preliminares).
46

5.6 CONSIDERAÇÕES SOBRE SISTEMAS ATERRADOS POR REATÂNCIA

5.6.1 ATERRAMENTO ATRAVÉS DE REATÂNCIA (fixa, não sintonizada)

Da mesma forma como é feito nos aterramentos de sistema por meio de resistor, nesse caso
um REATOR (indutor) é intencionalmente conectado entre o ponto Neutro e a terra. Em
sistemas com tensões superiores a 34,5 kV torna-se mais conveniente o uso de reatância (de
baixo valor ôhmico) dadas as dificuldades de se dissipar calor (em resistência de baixo valor
ôhmico) no caso de ocorrência de uma falta fase-terra.

Nota: Reatâncias com alto valor ôhmico são geralmente utilizadas em sistemas de baixa tensão (até 1000 V),
como ocorre no aterramento de sistema via resistor de alto valor ôhmico, já anteriormente abordado. Porém,
no Brasil, tal método não costuma ser adotado.

Perante a utilização de reatância de baixo valor ôhmico, a impedância indutiva limita a


corrente de falta à terra e, se adequadamente dimensionada, minimiza as sobretensões
transitórias. Todavia, o sistema de proteção deve abrir o circuito e eliminar a corrente de
falta automaticamente. Usando os mesmos critérios de minimização das sobretensões
transitórias adotados nos sistemas a resistor, o reator deverá ser dimensionado de forma
que a corrente de curto fase-terra seja superior à corrente capacitiva do sistema em
questão.

Características desse tipo de aterramento de sistema:

.limitação da corrente de curto fase-terra;

.o reator tem resistência ôhmica baixa, o que


possibilita a dissipação de energia térmica em
quantidade bem menor do que nos sistemas a
resistor;

.fácil detecção da corrente de curto fase-terra pelo


sistema de proteção, uma vez que dimensiona-se o
subsistema para permitir a circulação de correntes
plenamente detectáveis (geralmente da ordem de
centenas de Ampéres);
47

.a continuidade de serviço é prejudicada (da mesma forma como ocorre perante a utilização
de resistor de baixo valor ôhmico, anteriormente abordado), já que a primeira falta fase-
terra deve ser prontamente eliminada;

.para tensões de aplicação mais elevadas, o custo da solução com reator é inferior ao custo
da solução com resistor.

Obs.: se o ponto Neutro não está acessível (como ocorre no caso dos sistemas em Triângulo), a detecção de
faltas à terra também pode ser implementada criando-se um “neutro artificial” no sistema, através, por
exemplo, da utilização de enrolamentos em ZIG-ZAG, conectados em paralelo com a rede; nesse caso (e da
mesma forma que pode ser feito com um resistor), o reator é conectado entre o ponto Neutro da conexão ZIG-
ZAG e a terra (consultar o APÊNDICE B).

Os esquemáticos apresentados a seguir ilustram um sistema aterrado por reatância fixa, não
sintonizada, e o comportamento das variáveis elétricas imediatamente após a ocorrência de
um curto fase-terra. Note-se que, similarmente aos demais sistemas abordados
anteriormente, as capacitâncias próprias / naturais dos elementos do sistema em relação à
terra estão representadas. A reatância é representada por LN (significando indutância de
Neutro).
48

No primeiro e segundo esquemáticos pode-se observar o percurso (e as subdivisões) da


corrente de curto fase-terra; na segunda figura mostram-se também as representações
fasoriais de tensões e correntes (o aluno deverá observar e refletir sobre tais esquemáticos, e
representações fasoriais, entendendo-os e podendo explicá-los... deve-se lembrar de que cada corrente
capacitiva está 90⁰ elétricos adiantadas da tensão na fase considerada....).

5.6.2 ATERRAMENTO POR REATÂNCIA SINTONIZADA (BOBINA DE PETERSEN)

figura abaixo
49

Em outras palavras, se um reator é conectado entre o ponto Neutro de um sistema e a terra,


e caso o mesmo seja criteriosamente calculado / dimensionado com um valor de reatância
especialmente escolhido de forma que a parcela reativa indutiva da corrente de falta à terra
possa “contrabalançear” (se opor com mesmo módulo) à parcela capacitiva da corrente de
falta à terra, a corrente de curto fase-terra resultante é limitada a praticamente zero. Esse é
o princípio teórico-operacional do aterramento de sistema baseado na Bobina de Petersen
(também conhecido como aterramento por “bobina sintonizada”, ou aterramento por
“bobina de compensação”, ou “bobina de extinção / supressão de arco”, “bobina
ressonante” ou ainda “bobina neutralizadora da falta à terra”), cujas bases foram
brilhantemente desenvolvidas pelo Prof. alemão Von W. Petersen a partir de 1916 e
divulgadas nos anos seguintes.
50

A corrente na reatância XN vale:


51

Note-se, com base nos esquemáticos e representações fasoriais mostrados nas páginas
anteriores que a corrente de curto fase-terra equivale à soma das parcelas de corrente
fluindo através dos seguintes circuitos:

- circuito da reatância de aterramento; e

- circuitos associados às capacitâncias das fases não faltosas, em relação à terra.

As parcelas de corrente (indutiva e capacitiva) irão se auto-compensar posto que suas


naturezas indutiva e capacitiva se contrapõem por estarem em oposição de fase.

Na prática, todavia, persiste um pequeno valor de corrente (de natureza resistiva)


equivalente a alguns poucos Ampéres, em decorrência da presença de resistência ôhmica (R)
na bobina de aterramento.

Vantagens desse tipo de aterramento de sistema:

Segundo as bibliografias que tratam desse tema e os trabalhos de pesquisa apresentados em


dissertações de Mestrado, testes de Doutorado e seminários técnicos específicos, o
aterramento de sistema utilizando a Bobina de Petersen torna-se capaz de evitar, ou pelo
menos minimizar, os seguintes inconvenientes:

-aberturas freqüentes de disjuntores (ou religadores) devido à operação dos relés de


proteção contra faltas à terra;

-danificação de pára-raios;

-queima excessiva de elos fusíveis;

-trincamento e ruptura de isoladores;


52

-rompimento de cabos em redes aéreas protegidas (ou mesmo de cabos nus);

-desenvolvimento de tensões de toque, de passo e tensões transferidas ao longo de circuitos


aéreos submetidos a curtos fase-terra;

-afundamentos de tensão, além de outros problemas.

Tudo isso pode ser evitado / minimizado pelo aterramento de sistema por Bobina de
Petersen uma vez que um curto fase-terra que geralmente sucede uma descarga
atmosférica (devido ao surgimento da corrente de 60 Hz, subseqüente à da descarga, fluindo de uma fase
para a terra através do “caminho aberto” pela sobretensão destrutiva de origem atmosférica) é neutralizado

pela sintonia da bobina com a capacitância do sistema, de forma que as parcelas indutiva e
capacitiva da corrente de curto possam se anular.

Comentários e particularidades relativos à adoção da Bobina de Petersen:

A Bobina de Petersen pode ser planejada para operar de duas formas, a saber:

-para neutralizar faltas à terra decorrentes de fenômenos de curta duração (como descargas
atmosféricas); nesse caso, a bobina é combinada com um dispositivo de chaveamento
mecânico (disjuntor, chave à vácuo ou dispositivo tiristorizado) que aterra o sistema em sua
forma original (colocando em paralelo com a bobina um resistor de baixo valor ôhmico, por
exemplo) em alguns segundos após a ocorrência da falta, permitindo a operação da
proteção convencional; OU

-para permitir a operação de um sistema sem desligamento durante uma falta à terra
sustentada; nesse caso o sistema não é desligado, e aguarda-se que a falta seja localizada e
sanada pelo pessoal da manutenção elétrica, podendo-se elevar significativamente os
padrões de continuidade de serviço.

O emprego da bobina exige que, para qualquer curto-fase terra, seja mantida a sintonia, ou
seja, a corrente capacitiva do sistema eletricamente a jusante deve igualar-se em módulo à
corrente que deve circular pela bobina. Em sistemas mais fixos / invariáveis, tais como
alguns segmentos do setor industrial, com plantas e linhas de MT internas que não sofrem
alterações físicas com o passar dos anos, não há dificuldades em manter-se tal sintonia,
53

bastando que a bobina seja projetada com tapes a serem ajustados manualmente ao início
de operação (após a definição da corrente capacitiva do sistema). Todavia, em linhas
públicas de distribuição, com vários ramais alimentando distritos industriais que se
expandem de tempos em tempos, e com a presença de outros consumidores diversos (o que
altera periodicamente a corrente capacitiva resultante), torna-se necessário que a bobina
possua um subsistema de ajustagem dinâmica e contínua de sintonia (ajuste fino), associado
a uma medição também contínua e dinâmica da corrente capacitiva. Nos dias de hoje, graças
aos avanços da eletrônica de potência, da eletrônica digital e dos sistemas de controle
dinâmico, essas funcionalidades têm sido desenvolvidas e as barreiras tecnológicas para a
viabilização técnica da Bobina de Petersen em sistemas reais têm sido transpostas.

As dificuldades inerentes à sua utilização (e emprego no Brasil, por exemplo) residem,


basicamente, nas condições e possibilidades que os sistemas atuais (já instalados e em
operação) possam apresentar para serem (ou não) “retrofitados”, fundamentalmente no
que se refere às sobretensões temporárias que possam surgir (geralmente não presentes
nos sistemas solidamente aterrados, mas passíveis de ocorrer perante a utilização da Bobina
de Petersen, influenciando a performance dos atuais pára-raios de linha, cabos isolados e
demais equipamentos das atuais redes elétricas de MT).

Em tese, esse tipo de aterramento pode ser utilizado em redes com tensão nominal de até
220 kV. Esse tipo de sistema já vem sendo usado na Europa (Alemanha, França, países
nórdicos) e há uma boa perspectiva para sua disseminação no mundo ao longo de mais
algumas décadas.
54

APÊNDICE A

DETERMINAÇÃO / ESTIMATIVA DA CORRENTE CAPACITIVA DE UM SISTEMA

Se é necessário ter o conhecimento da corrente capacitiva do sistema em análise (para


dimensionamento de resistores de aterramento objetivando-se atender ao critério de
eliminação das sobretensões transitórias em um aterramento de sistema), como tal corrente
pode ser obtida???

Há ábacos, gráficos e tabelamentos de valores típicos / esperados em diversas fontes de


consulta. Algumas tabelas de valores típicos são mostradas a seguir.
55
56

É importante salientar que há algumas técnicas específicas para a obtenção de tais corrente
por medição direta, conforme abaixo.

Noções gerais de procedimentos aplicáveis para a medição da corrente capacitiva de um


sistema:

A medição direta da corrente capacitiva de um sistema sob análise (“system charging


current” = 3 ICO) é um procedimento relativamente simples mas, como em qualquer situação
que envolva um sistema energizado, precauções cuidadosas em sua execução são essenciais
e mandatórias.

Em sistemas de BT, a corrente capacitiva pode ser medida “conectando-se


intencionalmente” uma fase à terra, porém, observando-se as bases indicadas na figura
apresentada a seguir. O Neutro do sistema deverá estar desconectado da terra, caso a
configuração do secundário do transformador seja em estrela. Para a conecxão em triângulo,
tal condição estará automaticamente atendida (não havendo ponto Neutro).
57

ICO
Fusível

ICO
Chave
ICO

O aparato requerido para a realização das medições em sistemas de BT consiste de um


amperímetro com escala para até 10 A, um dispositivo de proteção contra curto-circuitos
(fusível, por exemplo), uma chave (ou disjuntor) adequada para condução contínua e
interrupção do nível de corrente em questão e um resistor variável (reostato),
adequadamente dimensionado. O dispositivo de proteção (fusível) é previsto para a
proteção do circuito e de pessoas contra a eventual ocorrência de um curto-circuito para a
terra em uma das outras duas fases no período de realização da medição (relembre-se de
que, nessa hipótese, e estando o reostato em posição “R=0”, haveria a circulação de um
curto fase-fase praticamente pleno através do circuito de medição). O reostato previsto visa
a minimização de alterações transitórias na corrente capacitiva a ser medida (à medida em
que a fase é gradativamente colocada em contato “pleno” com a terra), bem como o seu
ajuste gradual.

O reostato deve ser dimensionado previamente de modo que, quando ajustado para
“R=máxima”, a corrente deve estar limitada a cerca de metade da corrente capacitiva
estimada. Portanto, verifica-se que, previamente, deve se feita uma estimativa da corrente
capacitiva a ser medida.
58

Como requisito fundamental, a conexão entre a fase e a terra (saída do amperímetro) deve
ser a mais sólida possível.

O sequenciamento prático do procedimento deve ser o seguinte:

-como a medição pode ser feita em qualquer parte do sistema, deve-se primeiramente
desenergizar o circuito escolhido para a derivação;

-conectar todo o aparato de medição, estando desenergizado o circuito escolhido para a


derivação;

-ajustar o reostato (previamente calculado e escolhido) para a posição “R=máxima”; manter


a chave aberta por enquanto;

-reenergizar o circuito onde o aparato de medição estiver conectado; para a realização do


teste todo o sistema deverá estar energizado e em operação, se possível.

-fechar a chave inserida no circuito de medição;

-reduzir a resistência do reostato gradualmente, o que fará com que a corrente indicada no
amperímetro aumente;

-quando o reostato estiver ajustado para “R=0”, o amperímetro estará indicando a corrente
capacitiva do sistema.

Para finalizar o teste, deve ser feito o procedimento inverso (aumentar R no reostato, abrir a
chave do circuito de medição, desenergizar o circuito onde foi feita a derivação, remover
todo o aparato de medição... e restabelecer as condições de operação normal do sistema
sob análise.
59

Nota: apesar das 3 fases usualmente apresentarem correntes capacitivas iguais, recomenda-
se realizar o mesmo teste em todas elas e adotar, como corrente capacitiva global do
sistema, a média das correntes obtidas nos três testes.

Salienta-se que as medições podem ser feitas também em sistemas de média tensão
adotando-se, obviamente, um instrumental de testes compatível e adequado para tal
(fundamentalmente quanto aos níveis de tensão envolvidos, isolações necessárias e etc...
além do cuidado redobrado...).

Nunca é demais relembrar e atentar para o que está exposto no alerta a seguir:
60

APÊNDICE B

DETECÇÃO DE CURTOS FASE-TERRA EM SISTEMAS EM SISTEMAS ISOLADOS

E se for preciso, por algum motivo, nos sistemas com Neutro Isolado, detectar e/ou
controlar faltas à terra e seus efeitos??

-Sistemas originalmente isolados podem ser “retrofitados” para “aterrados artificialmente”


(visando a detecção de faltas à terra) utlizando-se, por exemplo, um “trafo” (na realidade um
reator) de aterramento com conexão ZIG-ZAG (sem carga); durante a operação normal do
sistema, ele se mostra “transparente”, como se fôsse (quase) um circuito aberto..... (elevada
impedância); Nota: há outras configurações para a criação de um “Neutro artificial” disponíveis na
bibliografia da área, mas as mesmas não serão aqui abordadas.

-Sob condições de curto fase-terra, as correntes de curto podem fluir, as tensões transitórias
(decorrentes de curtos com arco elétrico) podem ser controladas, minimizando-se danos ao
sistema, e as faltas podem ser detectadas / eliminadas.

OPERAÇÃO DO TRAFO (REATOR) DE ATERRAMENTO (ZIG-ZAG)

-São seis bobinas (enrolamentos) sobre 3 “pernas” de núcleo, duas a duas;

-Cada bobina (enrolamento) tem o mesmo número de espiras (relação 1:1) mas, em uma
mesma “perna” de núcleo, as bobinas são enroladas em sentidos opostos;

-Se tensões defasadas de 120º elétricos são aplicadas nos terminais de entrada, então 3
correntes (1 em cada fase de entrada) circularão pelo equipamento, também defasadas de
120º entre si, e se anularão no Neutro (circuito trifásico equilibrado);

Note-se que o fato das bobinas em cada “perna” de núcleo estarem enroladas em oposição
não faz com que haja cancelamento das reatâncias (e dos fluxos e tensões internos), já que
há o defasamento dos 120º elétricos entre as correntes; portanto, nessa situação, o trafo /
reator apresenta impedãncia (alta) e restringe a corrente a níveis mínimos (corrente de
magnetização)….. É como se fôsse um transformador com primário em estrela aterrada e
secundário aberto, sem carga conectada….
61

-Entretanto, se 3 correntes forem de igual amplitude e fase, as reatâncias (e tensões internas)


tendem a cancelar-se em cada “perna” de núcleo. Nessa situação, o equipamento permite que as
correntes fluam livremente em seus enrolamentos (baixíssima impedância) e através do condutor
Neutro. OBSERVEM AS CONSIDERAÇÕES AQUI COLOCADAS E AS ANALISEM COM BASE NAS
FIGURAS A SEGUIR.
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Para limitar os curtos fase-terra, pode-se utilizar resistor (ou reator) entre o ponto Neutro
da conexão ZIG-ZAG e a terra, conforme as figuras a seguir.

O equipamento é dimensionado para suportar uma ICC F-T (IG) por um tempo específico e
relativamente curto (geralmente da ordem de 10 a 30 segundos, tempos suficientes para
a atuação segura do sistema de proteção contra faltas à terra).

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