Você está na página 1de 9

Tarcísio Lima Santos

Aluno da Faculdade de Engenharia Elétrica


Universidade Federal de Uberlândia

Introdução ao estudo dos curtos-circuitos


1. Introdução aos curtos-circuitos
O curto-circuito é um dos incidentes que mais afetam as redes elétricas. Este item do
presente trabalho descreve os curtos-circuitos, seus efeitos nas redes e suas interações nos
materiais. Também é fornecido o método de cálculo de correntes.

1.1 Definições
Um curto-circuito é uma ligação acidental entre condutores com impedância zero
(curto-circuito espontâneo) ou não (curto-circuito impedante). Um curto-circuito pode ser
interno se for localizado em um equipamento ou externo, se ocorrer nas ligações.
A duração de um curto-circuito é variável. O curto-circuito é auto-extinguível se a
falha for muito curta para disparar a proteção; transiente, se for eliminado após o trip e
religamento da proteção; permanente, se não desaparecer após o trip da proteção.
As causas de curto-circuito podem ser: mecânica (golpes de máquinas, galhos de
árvore, animais); elétrica (degradação do isolante, sobretensão); humana (erro de operação).

1.2 Efeitos das correntes de curto-circuito


As conseqüências dos curtos-circuitos são freqüentemente graves, quando não são
dramáticas: o curto-circuito perturba o ambiente da rede nas proximidades do ponto de falha,
ocasionando uma queda de tensão brusca, requer a desconexão, pelos dispositivos de proteção
apropriados, de uma parte freqüentemente importante da rede, todos os equipamentos e
conexões (cabos, linhas, barras e isoladores) sujeitos a curto-circuito são submetidos a um
forte esforço mecânico (forças eletrodinâmicas) que pode causar rupturas, e a um esforço
térmico, que pode provocar a queima dos condutores e a destruição dos isolantes, no ponto da
falha, onde freqüentemente ocorre arco elétrico de forte energia, cujos efeitos destruidores são
muito grandes e podem ser propagados muito rapidamente.
Embora seja cada vez menor a probabilidade de aparecimento de curtos-circuitos nas
instalações modernas, projetadas e operadas eficientemente, as conseqüências graves que
poderiam resultar, fazem com que seja incentivada a instalação de dispositivos para detecção
e eliminação rápidas de qualquer curto-circuito.
O conhecimento do valor da corrente de curto-circuito em diferentes pontos da rede é
um dado indispensável para definir os cabos, barramentos e todos os dispositivos de
interrupção e de proteção, como também seus ajustes e regulagens.
1.3 Caracterizações dos curtos-circuitos
Diversos tipos de curtos-circuitos podem ocorrer em uma rede elétrica: curto-circuito
trifásico: corresponde a uma falha entre as três fases. Este tipo geralmente provoca as
correntes mais elevadas essa falta é representada na figura abaixo.

Figura 1. Representação de uma falta trifásica


Curto-circuito monofásico a terra: corresponde a uma falha fase-terra. Este tipo é o
mais freqüente e ocorre quando apenas uma das fases toca o solo.

Figura 2. Representação de uma monofásica


Curto-circuito bifásico isolado: corresponde a uma falha entre duas fases em tensão
fase-fase. A corrente resultante é menor do que no caso do curto-circuito trifásico, exceto
quando a falta se situar nas proximidades de um gerador.

Figura 3. Representação de uma falta fase-fase

Curto-circuito bifásico a terra: corresponde a uma falha entre duas fases e a terra.

Figura 4. Representação de uma falta fase-fase-terra


A corrente de curto-circuito em um ponto de uma rede é expressa pelo valor eficaz 
(em kA) de seu componente CA.
O valor instantâneo máximo que pode atingir a corrente de curto-circuito é o valor de
pico  do primeiro meio ciclo. Este valor de pico pode ser muito mais elevado do que 2* 
devido à componente contínua, essa componente é sobreposta à componente CA e seu
amortecimento está diretamente relacionado às grandezas R e L do sistema.

Figura 5. Representação das componentes, CA e CC


Esta componente CC depende do valor instantâneo da tensão no momento inicial do
curto-circuito e das características da rede.
A rede é definida pela potência de curto-circuito, segundo a equação:
 = √3 ∗ ∗ 
Este valor teórico não tem nenhuma realidade física; é uma grandeza convencional
prática que se assemelha a uma potência aparente.

1.4 Componentes simétricas


Em funcionamento normal simétrico e equilibrado, a análise das redes trifásicas é
similar à de uma rede monofásica equivalente, caracterizada pelas tensões fase-neutro, as
correntes de fase e as impedâncias da rede (denominadas impedâncias cíclicas). Quando
aparecer uma assimetria significativa na configuração ou no funcionamento da rede, a
simplificação não mais será possível: não é possível estabelecer simplesmente as relações
elétricas nos condutores utilizando impedâncias cíclicas.
É empregado o método das componentes simétricas, que consiste em conduzir o
sistema real à sobreposição de três redes monofásicas independentes, denominadas:
Sistema positivo ou em seqüência positiva (1),
Sistema negativo ou em seqüência negativa (2),
Sistema zero ou em seqüência zero (0).
Para cada sistema (respectivamente1, 2, 0), as tensões V1, V2, V0 e as correntes I1, I2, I0
são ligadas pelas impedâncias Z1, Z2, Z0 do mesmo sistema. As impedâncias simétricas são
função das impedâncias reais, principalmente indutâncias mútuas.
A noção de componentes simétricas também é aplicável às potências.

Tabela 2.1. Noções de componentes simétricas


1
 =  +  +   =   +  ∗  +  ∗  
3 
 =  ∗  +  ∗  +  1
 =   +  ∗  +  ∗  
 =  ∗  +  ∗  +  3
1
 =   +  +  
3

Com  =  ∗   = 1∠120°

Figura 5. Representação fasorial das tensões desbalanceadas


A decomposição em componentes simétricas não é somente um artifício de cálculo,
mas corresponde bem à realidade física dos fenômenos: é possível medir diretamente as
componentes simétricas – tensões, correntes, impedâncias – de um sistema desbalanceado.
As impedâncias de seqüência positiva, negativa e zero de um elemento de rede são as
impedâncias apresentadas por este elemento submetido a sistemas de tensão respectivamente
trifásico positivo, trifásico negativo, fase-terra em três fases em paralelo.
Os geradores produzem o componente positivo da potência e as falhas podem produzir
os componentes negativo e em seqüência zero.
No caso dos motores, o componente positivo cria o campo rotativo útil, enquanto que
o componente negativo cria um campo rotativo de frenagem.
Para os transformadores, uma fuga à terra cria um componente em seqüência zero, que
produz um campo em seqüência zero que passa pela carcaça.

1.5 Conceitos sobre curtos-circuitos


O princípio do método de cálculo de curto-circuito (IEC 60909) baseia-se no teorema
de sobreposição de Thevenin e na decomposição em componentes simétricas, consiste em
aplicar no ponto de curto-circuito uma fonte de tensão equivalente para, em seguida,
determinar a corrente. O cálculo é feito em três etapas:
Definir a fonte de tensão equivalente aplicada no ponto em falha. Ela representa a
tensão antes do curto-circuito, levando em conta as variações da fonte, as mudanças do tap
dos transformadores e o comportamento subtransitório das máquinas.
Calcular as impedâncias, vistas do ponto em falha, de cada ramificação que chegar
neste ponto; o cálculo é feito desconsiderando as capacitâncias e admitâncias em paralelo, nos
sistemas de seqüência positiva e negativa.
Conhecendo a tensão e as impedâncias, calcular os valores característicos máximos e
mínimos das correntes de curto-circuito.

1.5.1 Curto-circuito trifásico


Curto-circuito trifásico entre condutores de fase. O valor da corrente de curto-circuito
trifásico em um ponto F da rede é:
$
"∅ =
% + %&'
Onde E designa a tensão fase-terra no ponto de falta antes do aparecimento da falha e
(% + %&' ) a impedância equivalente da rede a montante vista do ponto de acrescida da
impedância de falta, se houver caso não haja % = 0.
Este cálculo é simples em princípio; sua complexidade prática resulta da dificuldade
de calcular (% + %&' ), impedância equivalente a todas as impedâncias unitárias em série e
em paralelo dos componentes da rede situados a montante da falha. Estas impedâncias são
determinadas através da soma quadrática de reatâncias e resistências.
Os cálculos podem ser feitos de modo muito simples ao conhecer a potência de curto-
circuito  no ponto de conexão da rede do distribuidor. É possível deduzir o valor da
impedância %, equivalente a montante do ponto de falta ou impedância equivalente do
sistema:

%, =

Do mesmo modo, a fonte de tensão pode não ser única; pode haver diversas fontes em
paralelo, especialmente motores síncronos e assíncronos que, ao ocorrer curto-circuito, se
comportam como geradores.
A corrente de curto-circuito trifásico é geralmente a corrente mais elevada que pode
circular na rede.
1.5.2 Curto-circuito monofásico entre condutor de fase e terra
O valor desta corrente depende da impedância % situada entre o neutro e a terra; esta
impedância pode ser virtualmente nula se o neutro for diretamente aterrado (em série com a
resistência de aterramento) ou, ao contrário, virtualmente infinita se o neutro for isolado (em
paralelo com a capacitância fase-terra da rede).
O valor da corrente de falha fase-terra é:
$
∅& =
(% + % + % + 3% )
Este cálculo é necessário nas redes onde o neutro é ligado à terra por uma impedância
ZN, para determinar a regulagem das proteções “a terra” que devem intervir para cortar a
corrente de fuga à terra. Quando Z1, Z2 e Z0 forem insignificantes em relação à % , então:
$
∅& =
3%

1.5.3 Curto-circuito bifásico


Curto-circuito bifásico entre condutores de fase. O valor da corrente de curto-circuito
bifásico em um ponto da rede é:
$
∅∅ =
(% + % + % )
No caso de uma rede alimentada por um transformador (falha distante das fontes), o
valor da corrente de curto-circuito bifásico em um ponto da rede é:
−√3
∅∅ = ∗ "∅
2
A corrente de curto-circuito bifásico é então mais fraca do que a do trifásico, na
√"
relação de , isto é, aproximadamente 87%.


No caso de falha próxima de um gerador (Z1 ≤ Z2), a corrente pode ser superior ao
caso da falha em curto-circuito trifásico.

1.5.4 Curto-circuito fase-fase-terra


Curto-circuito bifásico entre condutores de fase e terra. Em caso de falha espontânea
distante das fontes, o valor da corrente de curto-circuito bifásico à terra é:
$ ∗ (% + % + 3% )
∅& =
(% ∗ % ) + % + 3%  + (% + % )
A partir das equações de curto-circuito apresentadas acima podemos preencher uma
tabela com as equações de faltas, como mostrado abaixo.

Tabela 2. Análises de faltas e suas equações de correntes

Tipos de faltas se suas respectivas correntes de seqüência


Trifásica 3ϕ Fase-Terra ϕT Fase-Fase ϕϕ Fase-Fase-Terra ϕϕT

I1 = E E E E ∗ (Z + Z + 3Z4 )


Z4 + Z56 (Z + Z + Z + 3Z4 ) (Z + Z + Z4 ) (Z ∗ Z ) + (Z + 3Z4 ) + (Z + Z )
I1 = 0 I1 −I1 −E ∗ (Z + 3Z4 )
(Z ∗ Z ) + (Z + 3Z4 ) + (Z + Z )
I1 = 0 I1 0 −E ∗ Z
(Z ∗ Z ) + (Z + 3Z4 ) + (Z + Z )
I4 = E 3*I1 −j√3 ∗ E I8 = 3 ∗ I1
Z Z + Z

1.6 Comportamento dos equipamentos durante o curto-circuito


Os equipamentos de forma geral dividem-se em dois grupos de equipamentos de rede,
essa divisão depende se intervêm ou não no momento da falha, dividindo assim em
equipamentos passivos e ativos.
1.6.1 Equipamentos passivos
Esta categoria abrange todos os equipamentos destinados, por sua função, a conduzir
tanto a corrente normal quanto a corrente de curto-circuito. Incluem cabos, linhas,
barramentos, chaves seccionadoras, interruptores, transformadores, reatâncias e capacitores,
transformadores de medição.
Para estes equipamentos, é definida a capacidade de suportar a passagem de um curto-
circuito sem danos por: suportabilidade eletrodinâmica (expressa em kA pico) que caracteriza
sua resistência mecânica aos esforços eletrodinâmicos, suportabilidade térmica (expressa em
kA eficaz durante 1 a 5 segundos) que caracteriza o sobreaquecimento admissível.
1.6.2 Equipamentos ativos
Nesta categoria, são classificados os equipamentos destinados a eliminar a corrente de
curto-circuito: disjuntores e fusíveis. Esta propriedade é determinada pelo poder de
interrupção e, se necessário, pelo poder de fechamento por falha.
Capacidade de interrupção é uma característica básica de um dispositivo de
interrupção é a corrente máxima (em kA eficaz), que é capaz de interromper nas condições
específicas definidas pelas normas; trata-se geralmente do valor eficaz do componente CA da
corrente de curto-circuito. Ocasionalmente, é especificado para certos dispositivos o valor
eficaz da soma dos 2 componentes, CA e CC, neste caso, a “corrente assimétrica”.
O poder de interrupção depende de outros fatores:
● Tensão,
● Relação R/X do circuito interrompido,
● Freqüência natural da rede,
● Número de interrupções em corrente máxima, por exemplo, o ciclo: O - C/O - C/O
(O = abertura; C = fechamento), estado do dispositivo após o teste.
O poder de interrupção é uma característica relativamente complexa para definir e não
é surpreendente que ao mesmo dispositivo seja atribuído um poder de interrupção diferente,
dependendo da norma que o define:
Poder de fechamento por curto-circuito, geralmente, esta característica é
implicitamente definida pelo poder de interrupção: um dispositivo deve ter a mesma
capacidade de fechamento por curto-circuito que a de interrupção. Ocasionalmente, o poder
de fechamento deve ser mais elevado, por exemplo, para os disjuntores de alternador.
O poder de fechamento é definido em kA pico, pois o primeiro pico assimétrico é o
mais restritivo do ponto de vista eletrodinâmico.
Por exemplo, segundo a norma IEC 60056, um disjuntor utilizado em 50 Hz deve ser
capaz de responder a: I pico fechamento = 2,5 x I eficaz de interrupção
Corrente de curto-circuito presumida “interrompida”, certos dispositivos têm a
propriedade de “limitar” a corrente a ser interrompida. Seu poder de interrupção é definido
como corrente máxima presumida interrompida, que se desenvolveria em um curto-circuito
espontâneo estabelecido nos bornes a montante do dispositivo.

Você também pode gostar