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Harvey - Empresariamento Urbano

Crítica à visão segundo a qual o estudo da urbanização se separa do


estudo das transformações sociais e do desenvolvimento econômico,
sendo considerado um subproduto passivo desses processos.

Para Harvey: Lógica de circulação e acumulação do K molda


processos urbanos, os quais por sua vez condicionam os movimentos
de capital no futuro (visão dinâmica dos processos).
Aqui, avanço em relação às teorias da urbanização que identificavam
barreiras à expansão do K que existiam previamente e que
necessitariam ser superadas. Nesta visão de Harvey, é o próprio K
quem vai gerando restrições à continuidade de sua expansão.

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Desde os primórdios dos anos setenta, e sobretudo com a recessão de


1973 e as consequentes dificuldades econômicas: sinais de mudança
do papel do Estado, do gerenciamento urbano para algum tipo de
empresariamento urbano.

Causas recorrentes:
- desindustrialização; desemprego; austeridade fiscal; apelo à
racionalidade do mercado; tendência à privatização
- declínio dos poderes centrais no controle do fluxo monetário
multinacional
- transição na dinâmica do regime de acumulação, de fordista a
flexível

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URBANIZAÇÃO: conjunto de processos sociais que ocorrem no


espaço, produzindo uma série de artefatos – o ambiente construído
urbano – que têm que ser levados em conta na ação social
subsequente.

GESTÃO URBANA: muito mais complexa do que a atuação do


governo urbano. Poder efetivo de reorganizar o espaço e a vida
urbana, que provém de uma coalizão de forças mobilizadas por
diversos agentes sociais.

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Fortes indícios de que a mudança na política urbana e a guinada para o


empresariamento urbano têm importante papel facilitador para a
transição entre os dois sistemas de acumulação:

- do sistema fordista (forte dependência de fatores locacionais,


apoiado no Estado do bem-estar) ao sistema de acumulação flexível
(abertos geograficamente, baseados no mercado).

Empresariamento Urbano – reflexões a partir do caso de Baltimore:


1) Característica central – “Parceria público-privada”
Integração das reivindicações locais com a utilização dos poderes
públicos locais para atrair: fontes externas de financiamento;
novos investimentos diretos; novas fontes geradoras de empregos

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2) Concepção empresarial: concepção e execução especulativas (ou


estratégicas) - em lugar de coordenada e planejada
K mais avesso ao risco – setor público assumindo parte importante
dos riscos

3) Foco mais na economia política do local do que nas melhorias


localizadas.
Investimento e desenvolvimento econômico através de
empreendimentos imobiliários pontuais (novos centros cívicos,
centros culturais, de entretenimento etc.)

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Tendência a se distanciar do modernismo e aproximar-se do pós-


modernismo: (ver “A Condição Pós-Moderna”)

- desenho de fragmentos urbanos x planejamento urbano


- moda e estilo efêmeros e ecléticos x valores mais permanentes
- citação e ficção x invenção e função
- meio e imagens x mensagem e conteúdo

Recentes e rápidas mudanças no desenvolvimento desigual dos


sistemas urbanos: 4 opções básicas (combinadas) para o
empresariamento urbano.

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1) Exploração de vantagens específicas para a produção de bens e


serviços, dentro do quadro da divisão internacional do trabalho.
Vantagens podem vir da existência de recursos básicos ou da
localização, ou serem criadas através de investimentos públicos e
privados, ou serem o resultado da redução de custos locais através
de subsídios.

“Atualmente, é muito difícil que qualquer empreendimento imobiliário de


grande escala ocorra sem contar com uma substancial ajuda e incentivo por
parte do governo local ou por parte de uma ainda mais forte coalizão de
forças que constituam a gestão local.” (p. 54)

2) Aumento da competitividade a partir da divisão espacial do


consumo.

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Uma forma é através da especialização de itens de consumo, por


ex. para aposentados.
Caso mais geral: investimentos concentrados em itens voltados para
a qualidade de vida, a inovação cultural, a valorização do espaço.

“Acima de tudo, a cidade tem que parecer como lugar inovador, excitante,
criativo e seguro para viver, visitar, jogar ou consumir” (p.55)

3) Busca por assumir o controle e funções de comando de altas


operações financeiras, de governo ou de centralização e
processamento, incluindo a mídia.
Esta alternativa envolve pesados investimentos em transportes e
comunicação.

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Trata-se de um tipo no qual as grandes cidades e correspondentes


economias de aglomeração ainda predominam fortemente.

“A intenção, na realidade, é fazer parecer que a cidade do futuro seja uma


cidade com funções unicamente de comando e de controle, uma cidade-
informação, uma cidade pós-industrial na qual a exportação de serviços
(financeiros, de informação e de produção de conhecimento) se torne a base
para a sobrevivência humana.” (p.56)

4) Exploração dos mecanismos de redistribuição dos excedentes


pelos governos centrais.
Contratos militares, de defesa, implantação de indústrias nacionais
de ponta.

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Essas 4 estratégias não são mutuamente excludentes.


Há casos de sinergias que levam uma estratégia a facilitar a outra,
mas o que predomina é a competição interurbana, que muitas vezes
leva a uma reprodução repetitiva e em série de formas similares de
renovação urbana, ancoradas em centros culturais e de
entretenimento, ou empreendimentos específicos, que se
reproduzem em toda parte.

Redução das barreiras espaciais (perda de importância da distância


como fator de localização empresarial): acirra a competição entre
localidades, cuja tarefa passa a ser a de atrair uma produção
altamente móvel e flexível.

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“Desse modo, é fácil observar todas as espirais ascendentes e descendentes


do crescimento e da decadência urbanos sob condições de forte
empresariamento e competição intra-urbana.” (p.57)

Como resultado, o sistema urbano se torna mais vulnerável às


incertezas das rápidas transformações.

As implicações da competição interurbana:

- reprodução em série de artefatos imobiliários


- acirramento da competição interurbana
- maior mobilidade espacial do K multinacional
- regressividade na distribuição social
- polarização da distribuição de renda (segue)

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- informalização dominando a atividade urbana


- atratividade efêmera dos centros urbanos
- instabilidade do sistema urbano
- velocidade na ascensão e decadência urbanas
- agravamento dos problemas de superinvestimento e
superacumulação

Por outro lado, atração política e social:


- contraposição à alienação social
- sentido de solidariedade social
- orgulho cívico
- lealdade ao lugar
- identidade local (mecanismos de controle social)

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Ex. Baltimore – área portuária


Embora todos os estudos e a realidade mostrassem o caráter parcial
e limitado dos benefícios e uma aceleração do declínio, a imagem
que repercute é a de prosperidade, atraindo o turismo, que gera o
emprego e a construção, a ponto de estancar a decadência e mudar
a rota da cidade, hoje uma das principais atrações turísticas da
América.

“O circo é bem sucedido mesmo se falta o pão. O triunfo da imagem sobre a


matéria se completa.” (p.61)

Perspectivas críticas (na verdade possíveis portas de entrada para


uma abordagem crítica):

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- Contraste entre o vigor superficial dos projetos de revitalização e


as tendências subjacentes das condições urbanas de economias
urbanas enfraquecidas.
- projetos bem sucedidos compondo máscaras para problemas
sociais e econômicos que podem estar assumindo espaço
geográfico da cidade dual: centro renovado cercado por um mar de
pobreza crescente.
- consequências macro-econômicas perversas, como impactos
regressivos na distribuição de renda, volatilidade e benefícios
efêmeros dos projetos.
- concentração na imagem e no espetáculo mais que no conteúdo
dos problemas econômicos e sociais, benefícios políticos ilusórios.

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Questão de fundo: embora governos mais progressistas tenham


lutado contra esses resultados, ainda não está claro se é possível
escapar desses resultados nas atuais condições do sistema
capitalista.

Projetos especulativos, “supershoppinização”, projetos “lâmpada de


Aladim” – inovações em busca da competição interurbana em
pouco tempo se transformam - de oportunidade em sobrevivência.
Investimentos altamente localizados centrados em turismo,
espetáculos e eventos mostram rapidamente a face desastrosa da
competição interurbana.

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Idéias e projetos copiados, repetidos – vantagens competitivas


tornam-se efêmeras em uma rede de cidades.

“O resultado é um turbilhão estimulante, conquanto por vezes destrutivo, de


inovações urbanas culturais e políticas na produção e no consumo.” (p.59)

Rápidas mudanças da ascensão à decadência.

Entretanto, fazem também surgir elementos positivos do ponto de


vista político e social, que podem vir a alterar esta rota, por uma
combinação da imagem que se projeta internacionalmente e os
processos internos deslanchados.

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Por fim, Harvey aponta um caminho para a superação dos


problemas do empresariamento urbano: a elaboração de uma
estratégia geopolítica de conexões interurbanas que diminuam a
competição e que desloquem o horizonte político do enfrentamento
a realizar, dos problemas locais para os do desenvolvimento
capitalista desigual.

Este caminho passa pela construção de um “corporativismo


urbano” com senso geopolítico, dirigido a construir alianças e
conexões espaciais capazes de desafiar ou ao menos mitigar a
dinâmica hegemônica da acumulação capitalista.

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