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20 Maio 2021

O caminho para dentro


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Se você não está vendo o caminho,


então, mesmo que você o percorra,
não vai entendê-lo.

Texto: Albert Górnicki Imagem: Alfred Bast

A principal verdade sobre a Verdade é que, se você não a alcançar por conta própria,
ela nunca se tornará a sua verdade.

Quando analisamos objetivamente as convicções e visões humanas, nos deparamos


com todo um espectro de verdades que se sobrepõem umas às outras. Algumas
pessoas estão certas de que há vida eterna após a morte. Algumas acreditam que
existe alma, enquanto outras afirmam que há apenas matéria.

Para evitar o dogmatismo, teríamos de admitir a possibilidade de considerar que todas


as indagações existenciais são feitas por medo da morte, por causa da ansiedade em
relação ao desconhecido. Portanto, talvez não o amor, mas sim o medo seja a força
motriz que nos faz partir na longa senda rumo à grande realidade, para nos
libertarmos da ilusão e do medo.

Uma coisa diferencia o ser humano de todas as outras criaturas vivas na Terra:
somente ele pode descobrir o ser que o revigora, e pode reunir-se conscientemente
com aquele que sempre caminhou a seu lado. Somente o ser humano pode reconhecê-
lo e conectar-se com ele.

A senda está escondida em cada um de nós, independentemente da visão de mundo e


do conhecimento que possuímos. Alguém poderia dizer: “A verdade está tão próxima,
porém a buscamos nos lugares mais remotos. Somos como alguém que está na água
e morre de sede!”.

Se você está partindo na viagem mais importante de sua vida, para descobrir seu
verdadeiro ser, então primeiro você tem de deixar para trás tudo o que é pessoal,
tudo o que você sabe, tudo em que você confia, tudo o que você pensa, tudo o que
você é!

É desta forma, despido, desamparado, como se tivesse sido exilado do céu de sua
vida pessoal, que você tem que partir para uma viagem desconhecida.

No entanto, a voz interior ainda fala:

Comece a buscar a Verdade sem uma única conclusão, sem nenhuma


suposição a priori. Somente dessa forma você poderá se tornar um
verdadeiro buscador. Um olho tendencioso é cego; um coração cheio de
conclusões está morto.
Quando você alcançar a condição de se livrar de suas convicções, e somente assim,
você alcançará o cerne do problema com o qual todo ser humano que busca a
libertação tem de ser confrontado. Então, você enfrentará três portais. Nossa
passagem por eles abre o caminho para a liberdade eterna.

Passando pelos três portais

O primeiro dos portais traz a inscrição: O aprisionamento e os desejos e vontades


ligados a ele.

No segundo está escrito: Ilusão da existência pessoal.

E, no terceiro portal, que dá acesso à liberdade eterna, lemos: Desejo de vida, desejo
de existência.

O caminho para a libertação deve ter apenas um objetivo: conscientizar os buscadores


de que devem atravessar esses três portais; e fornecer-lhes chaves, para que possam
abri-los e passar por eles.

Quando realmente começamos a pensar sobre a natureza da vida e queremos


compreender nossos motivos e ações, então nos aproximamos do primeiro portal.
Começamos a ver claramente que todos os nossos atos são motivados pela
escravidão. A mente está ligada a quase tudo. Pode ser um vínculo positivo, quando
há benefícios; ou um vínculo negativo, quando há um impulso para escapar de uma
determinada coisa. Em ambos os casos, há uma questão de vínculo mental com o
objeto, o ser ou a situação específica.

A mente humana é de um tipo conservador. Em todo momento, ela tenta segurar


aquilo que já conquistou. Ela não está ansiosa para mudar. Toda mudança provoca
movimento – e a mente resiste a isso. E, assim, o ego acaba lutando contra a
realidade da mudança.

Entretanto, o universo é um grande processo de transformação, no qual é impossível


parar o movimento.

A única solução para passar por esse portal é o completo consentimento e aceitação
do movimento de energia no universo e a total concordância com todas as mudanças.
O segundo portal torna o homem consciente de que a ilusão da separação é o que
sustenta o nosso sofrimento: a ilusão de ser um ser separado. Quando pensamos em
nós mesmos como uma entidade autônoma, munidos de nossa própria vontade, só
podemos passar de um erro para outro, lutando com todo o universo ao nosso redor.

Aprenda a ver-se como um ser que está em unidade com tudo no Cosmo. Descubra
uma saída de seus sonhos de vida para a própria Vida em si. Basta estar presente,
sempre, onde quer que você esteja. Não crie nada: volte ao ponto zero. Esse ponto
zero é consciência pura: original, absoluta, perfeita. É a Verdade acima da existência e
da não-existência.

Há o Sol espiritual, que continua sempre brilhando. Há também as nuvens – a nossa


ilusão de existência pessoal. Essas nuvens estão equipadas com inteligência e
individualismo. Às vezes são muito densas: podem ser nuvens muito ruins, maliciosas,
que provocam inundações, granizo ou neblina. Mas também podem tomar a forma de
nuvens suaves e agradáveis, através das quais os raios de sol brilham. A
personalidade é então mansa e amigável. Mas a nuvem não é um ser autônomo!

As nuvens atmosféricas são feitas de bilhões de pequenas gotas de água e cristais de


gelo. As gotas, inicialmente minúsculas, estão agrupadas em torno de manchas de
poeira e outras partículas microscópicas. Para formar uma nuvem, deve haver um
ponto de condensação em torno do qual as gotas de água são recolhidas. Essas
manchas são nossos pensamentos, conceitos, nossa imaginação. Quando limpamos
essa "poeira", as nuvens da ilusão não se formam.

A passagem pelo terceiro portal é a mais difícil, porque toca no instinto mais básico de
qualquer criatura viva e sensível. O desejo de existir pode ser comparado a uma
chama. A única maneira de encontrar a realidade e ser liberado da roda do
nascimento e da morte é extinguir as forças propulsoras da vida – desejos e todo tipo
de polarização.

A chegada
Falamos muito sobre “o abandono do ego”. No entanto, isso não pode ser feito
exatamente assim. É como estar na escuridão – não podemos abandonar a escuridão,
quando estamos num quarto escuro.  Você somente pode trazer luz. A escuridão não
existe, ela é, na verdade, ausência de luz.

Você não pode influenciar sua própria escuridão. Você só pode usar a luz. O fato de
mergulhar em si mesmo e realizar uma verdadeira meditação espiritual atua como a
luz que dispersa a escuridão. Quando você se torna luz, o ego desaparece.

A verdadeira meditação é a vida e a experiência da vida sem palavras, ou melhor:


além das palavras. Entrar em tal meditação é um extraordinário elo espiritual com
tudo o que nos rodeia – objetos, plantas, animais, pessoas. Completamente sem
palavras. Significa sentir seu ser mais profundo, sem sequer uma palavra.

Então você vai notar que existe um lugar que não pode ser nomeado. Há um espaço
onde a vida e a morte não se sucedem. Há um lugar onde não há nascimento nem
morte. Esse lugar está em cada um de nós. É um lugar que está além da vida e da
morte. Despertar para essa realidade, para esse espaço, é a grande iluminação, a
grande libertação.

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