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Copyright © 2017 Deby Incour

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Produção Editorial: Editora Angel
Capa e projeto gráfico: Débora Santos

Diagramação Digital: Beka Assis
Revisão: Beka Assis

Todos os direitos reservados.

A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei n°. 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do
Código Penal.
É proibida a cópia do material contido nesse exemplar sem o consentimento do autor. Esse livro é
fruto da imaginação do autor e nenhum dos personagens e acontecimentos citados nele tem qualquer
equivalente na vida real.

Nota da autora
Capíulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Epílogo
Agradecimentos
Nota da autora

Caros leitores, este livro... melhor dizendo, este conto foi feito com muito amor e
carinho. Torço para que gostem. Fazer uma história que envolva um lado criminal, mesmo
sendo muito curta, não foi fácil, e foram feitas algumas pesquisas. Tudo aqui é totalmente
ficcional. Pulei alguns atos da lei para não falar demais e acabar falando coisas sem sentido.
Espero que gostem.
Com amor, Deby.

Para Liziara Aráujo, uma grande amiga e inspiração.

Capíulo 1


David Escobar


Meu celular toca. — Merda!
Paro o que estou fazendo. Olho na tela e é minha mãe. Dona Paula sabe como ligar ou
aparecer quando estou ocupado.
— Oi, mãe!
— David, eu sei que você é delegado, e com isso trabalha muito. Mas eu sou advogada,
seu irmão também, sua irmã promotora, e seu tio é Juiz, mas todos, sem exceção sabem dar
um tempo para família! Hoje é aniversário da sua sobrinha Yasmim, e até agora você não
chegou. É o primeiro aninho dela. Seu irmão e sua cunhada estão loucos com você! — ela
dispara em falar.
— Mãe, em 20 minutos estarei aí. Estou finalizando um serviço ao qual me dedico muito
há anos. Prometo que chegarei logo. Fale para o Henrique e para a Ana Louise que eu vou para
o aniversário da Yasmim.
— 20 minutos, ou eu juro que vou nesta delegacia e faço com que você passe a maior
vergonha da sua vida toda!
— Está bem. Vou finalizar esse serviço que é muito importante e já vou. Te amo!
— 20 minutos! — ela diz e desliga.
Porra, minha família sabe como apressar um serviço.
Jogo o celular na cama.
Olho para a bela loira de quatro na minha frente. Sorrio.
— Temos 10 minutos!
Dou um tapa em sua bunda e ela sorri.
Penetro-a com força e a safada grita ao mesmo tempo que geme.
Enrolo seu cabelo em minha mão e o puxo.
— Rebola bem gostoso... — Ela faz — Isso!
Em minutos estamos gozando como loucos. Principalmente ela, que grita
alucinadamente.

Entro no meu carro e ligo para Liziara, uma grande amiga. Nós nos conhecemos a quase
dois anos, quando fui na universidade em que ela estudava para interroga-la. Ela
simplesmente foi de grande ajuda para resolver o caso da minha cunhada, Ana Louise, que
naquela época foi acusada de ter assassinado o noivo. Desde então criamos uma grande
amizade, com alguns benefícios.
— Oi, delegato! — Sorrio.
— Maluquinha, está pronta?
— Estou sim. Vai vir me pegar? Meu carro está na revisão.
— Vou sim. A Beatriz vai?
— Vai, consegui convencê-la a ir.
— Está bem, em dez minutos estarei aí.
— OK.
Ela desliga.


Liziara Araújo

Quando se tem 22 anos, e não se tem juízo, é um caso muito sério. E este é meu caso. Eu
confesso que não tenho juízo. Sou muito impulsiva, faço as coisas, e depois que vou pensar na
loucura que fiz. Há meses larguei o curso de psicologia em uma renomada universidade.
Meus pais ficaram loucos, não porque querem um futuro bom para mim, mas porque se
preocupam demais com o que a sociedade vai dizer, já que são empresários, e tem amigos
que adoram uma fofoca. Desde que larguei o curso, eles tornaram um inferno minha vida, e
por isso sai de casa. Não aguentava mais ter que ficar dependendo deles para tudo e
aguentando os surtos que eles davam. Então arrumei um emprego como barwoman e vim
morar em um apartamento junto a minha melhor amiga, Beatriz, que é coordenadora da
universidade que eu estudava. E confesso que estou mais feliz agora do que antes. Quem sabe
daqui um tempo eu decida se é psicologia que eu realmente quero fazer?
Ter o David como amigo é muito importante para mim, pois ele me compreende quando
ninguém é capaz disso. Porém, ter a amizade dele me deixa as vezes em cima do muro em
relação a minha melhor amiga, pois ela se dá bem com todos da família Escobar, menos com o
tio do David, o Juiz Marcos Escobar; e onde um está, o outro não vai. Foi um inferno convencê-
la a ir ao primeiro aninho da Yasmim, filha do irmão mais velho do David, porque ela sabe que
ele vai estar lá. E por isso, muitas vezes tenho que ficar com ela, porque não posso deixa-la
sozinha e pôr o David sempre em primeiro lugar.
Porém, o pior de tudo é que eu desenvolvi uma paixão por ele, e isto tem me deixado
bem confusa, ainda mais por ele não querer relacionamentos sérios. Quer saber apenas de
trabalho e nada mais. Sempre está saindo com alguma mulher por aí, e isso me deixa puta da
vida, mas me controlo. Temos uma amizade colorida, ou amizade com benefícios, como ele
gosta de dizer... e foco nisso, porque o amor é uma roubada das grandes.
— Ele chegou, Lizi. Vamos?
— Vamos sim. Me promete que não vai voar no Marcos?
— Se ele não vier me provocar, já ajuda bastante.
— Ele não vai, assim eu espero.
— Também espero. Vamos logo. Está perfeita, pare de ficar se olhando no espelho.
— Está bem, vamos.
Pego a caixa de presente da Yasmim e quase caio.
— Cuidado, Lizi! Nunca vi pessoa mais desastrada que você.
— Quanta calunia!
Rimos
Beatriz pega o presente que ela vai dar e saímos do apartamento.
No lado de fora damos de cara com a Range Rover Evoque na cor branca, do David. Ele
abre a porta e sorri para mim.
Entro no carro e a Bia também. Dou o presente para ela deixar no banco traseiro.
Fechamos a porta e coloco o cinto.
Ele me cumprimenta com um beijo na bochecha.
— Oi Bia, dormiu comigo essa noite? — ele provoca.
— Dormi, e foi uma maravilha! — ela rebate e eu rio.
— Pare de atormentá-la.
— Sou um anjo.
— Sabemos! — ela e eu dizemos em uníssono.
Ele da partida no carro.
O celular dele começa a tocar.
— Pega aqui, amor. Deve ser minha mãe pirando comigo.
Pego o celular no bolso que ele indica enquanto continua dirigindo. Olho na tela e é a
própria.
— O que eu devo dizer?
— Que está trânsito, e por isso estou demorando.
— Resumindo: você mentiu dizendo que estava na delegacia, e na verdade estava
perdido no meio das pernas de uma mulher, acertei?
— Basicamente.
— Bia, fica com essa função... não sou boa com mentiras, nunca dá certo.
— Dispenso a Dona Paula nervosa.
— Muito amiga você hein!
— Você já foi mais nossa amiga, Bia. — David diz.
Atendo o celular.
— David, eu vou te matar! Onde você está, menino!
— Oi Paulinha, estamos no trânsito. Está tudo parado.
— Oi, meu amor. Já pensei que ele estava me enrolando. Beatriz vem? Estou com
saudades dela.
— Vai sim, está aqui conosco. Logo chegaremos.
— Está bem. Beijos, minha querida!
— Beijos, gostosa!
Ela ri e desligamos.
— Prontinho.
— E depois diz que não sabe mentir. — Ele ri.
— Tenho meus momentos.
— Sei.
— Liziara, é impressão minha, ou o cara do carro ao lado está te tarando? — Beatriz diz.
— Odeio homens que agem assim. Vê se pode uma coisa dessas!
Olho e rio. Não é que o palhaço está mesmo?
— Que ridículo! Odeio homens assim.
— Vamos ver se ele vai gostar disso.
David joga o carro na frente dele, o cortando, e ele buzina.
— Você é louco? — pergunto.
— Sei o que faço. Não virei delegado à toa.
— Ok, mas não tenho sete vidas não! — Beatriz diz.
— Nem eu. Não precisava disso.
— Se continuar, faço pior.
— Não está mais aqui quem falou.
— Que bom que nos entendemos. — ele diz e dá uma piscadela para mim.
Chegamos a casa da Dona Paula, onde ocorre a festa da Yasmim.
David pega o meu presente, pois me conhece e sabe que pode ser que não chegue
inteiro.
Henrique e Ana Louise, pais da Yasmim, quiseram algo mais familiar, pois assim
evitaria o holofote dos paparazzi, já que os Escobar são bem conhecidos.
— Até que enfim chegaram! — Daiane, a irmã mais nova, diz.
— O trânsito estava péssimo. — digo e David sorri.
— Sei qual é este trânsito. A mim ele não engana. Sigam para o Jardim dos fundos,
mamãe e Ana estão lá.
Deixamos o presente no sofá e fomos para o jardim dos fundos enquanto Daiane ficou
na sala.
Dona Paula vem rapidamente nos cumprimentar, seguida da Ana.
— Achei que não viriam. — Ana diz.
— E perder festinha de criança com muitas besteiras para comer? Nunca! — brinco.
Sorrimos.
— Beatriz, isso é uma miragem? Não acredito que veio! — ela diz, e a Bia sorri
timidamente.
— Adoro a Yasmim, faço sacrifícios por ela.
Rimos, pois sabemos ao que ela se refere.
Beatriz e Marcos não se dão bem desde a vez em que ele foi meio estupido com ela na
Universidade, e na festa da mesma.
— Cadê o Henrique e o Marcos?
— Nem me pergunte. Quero matar o Henrique! — Ana diz.
— O que o pateta número um aprontou?
— Esqueceu de encomendar o bolo. Foi com o Marcos a procura. — Paula diz sorrindo.
— Esse é o meu filho mais velho, uma responsabilidade absurda. — rimos.
Daiane aparece com a Yasmim no colo. Está linda, com maiô rosa de bolinhas pretas.
Está muito calor hoje, e a piscina dela está montada.
— Ai que coisa mais gostosa! — Pego ela no colo. — Parabéns, minha princesinha, mais
linda... e pesada! — Todos riem.
— Liziara, só tenta não cair. — David provoca.
— Idiota!
— Quer segurar? — pergunto para Bia.
— Claro! Vontade de morder. Está cada vez mais linda.
— Só não deixe o Henrique escutar isso, porque vai ficar dizendo que puxou a ele. —
Ana diz.
— Nem pensaria nisso. — Beatriz ri.
— Por falar nele... — Paula fala.
Olhamos para trás, e ele está entrando com o Marcos.
— Porra, hoje o mundo acaba! Beatriz. — Henrique diz dramatizado.
Rio.
Ele nos cumprimenta.
— Quero beijo também! — David pede.
— Cuidado, nem sempre o volume em minhas calças é uma ereção.
Rimos.
— Marcos, quem diria, sem terno! — provoco.
— Uma hora tenho que tirar a armadura! — Me cumprimenta.
Olha para Beatriz, que finge nem o notar, e assim continua brincando com a Yasmim em
seu colo.
Ele se aproxima dela, e dá um beijo em seu rosto sem dizer nada, e ela muito menos.
Quando ele se afasta, vejo que ela ficou vermelha.
— Então David, muito serviço hoje? — Marcos pergunta.
— Claro, tio!
— Essa porra não presta nem para mentir. Passei na delegacia e você estava de folga
hoje. — ele diz, rindo.
— Definitivamente não é meu irmão! Não sabe nem mentir. — Henrique provoca ainda
mais.
— Seu filho de uma boa mãe! Eu não acredito que me enganou. E você ajudou, Liziara!
— Paula diz e dá um tapa em seu braço.
— Em minha defesa, fui obrigada! Não foi, Bia?
— Total! — ela responde com ironia.
— Muito obrigado, pela ajuda! — ele diz para a gente.
— Lizi, pegue as bebidas lá dentro, por favor. Preciso ligar para minha mãe, e ver o que
ela quer dessa vez. Nunca vou ter paz, pelo visto. — Ana diz.
— Claro, mas vou precisar de ajuda se for muita coisa.
— Vamos, porra louca, eu te ajudo. — Marcos fala.
A mãe da Ana é um pouco complicada. Sempre liga para infernizar a vida dela e pedir
dinheiro.
Entro na cozinha com o Marcos e pegamos as bebidas na geladeira.
— Por favor, ela nunca vem quando você está, então não a provoque!
— Nem pensei nisso.
— Obrigada.
Voltamos para fora e colocamos as bebidas em cima da mesa.
Passamos uma tarde muito gostosa, brincando muito com a Yasmim e rindo das
loucuras de todos juntos. Cantamos parabéns, e ela ficou bem cansadinha; o que já era de se
esperar por ter brincado bastante.
Henrique foi trocá-la para irem embora, porque ela começou a ficar enjoadinha. Bia e eu
ajudamos a limpar um pouco da bagunça, pois hoje foi a folga da faxineira, e apesar dela vir
amanhã, não queremos deixar tanta sujeira para ela.
— Vamos? — David pergunta.
— Vamos sim. — respondo enquanto ajudo Daiane a carregar os presentes da Yasmim
para o carro do Henrique.
— Se quiser levamos a Beatriz, e você e o David podem ficar sozinhos. Sei que querem
isso. — Ana diz ao aparecer para ajudar.
— Tudo bem, vou ver com ela.
— Já falei com ela.
— Que rápida!
— Aprendeu comigo. — Daiane diz.
— Depois me diz o que achou do meu presente e da Bia, e se a gatinha gostou.
— Claro! — ela sorri.
Henrique e Ana se despedem da gente, e Bia também. Logo foram embora.
Marcos foi em seguida. Agradeci muito por ele e a Bia não terem se matado depois de
tanto tempo sem se verem, mas pude ver os olhares que um dava para o outro.
Eu me despeço da Paula e da Daiane, e vou embora com o David.
Fomos para seu apartamento.
Assim que chegamos, me jogo no sofá e retiro o sapato.
— Estou exausta.
— Eu também.
Temos uma regra: Quando um vai para cama com outra pessoa, nada de sexo entre nós.
— Vai dormir aqui?
— Não sei. Amanhã entro cedo no trabalho.
— Eu te levo.
— OK. Devo ter roupa ainda aqui.
— Tem sim. Vou tomar um banho.
— Pega o controle da TV para mim.
— Folgada!
— Quanta calunia!
Ele ri e me joga o controle.
Depois que ele toma banho, eu faço o mesmo, e coloco uma camiseta dele, pois as
minhas roupas que estão lá não são nada confortáveis.
Deitamos na cama. Ele me agarra e deito a cabeça em seu peito. A TV está ligada, e está
passando um filme.
O celular dele toca e ele atende.
— Oi... Amanhã?... OK... Te aguardo... Beijos...
Ele desliga.
Interrompem o filme para uma alerta.
— Acabamos de recebe a notícia, que Jorge, o traficante que comanda uma pequena cidade
no interior do Estado, fugiu da cadeia. A polícia já está à procura. Jorge foi preso há cinco anos, e
teria que cumprir pena de 20 anos. Foi preso quando a polícia invadiu a cidade que ele comanda,
e a polícia acabou matando sua irmã. Se você vir este homem... — Uma foto dele é mostrada —
Ligue imediatamente para a polícia. O nível de alerta para sua procura é máximo. Jorge tem um
histórico aterrorizante...
David desliga a TV.
— O que foi? Ficou estranho. Parece assustado.
— Esse filho da puta! Foi por minha causa que ele foi preso, e eu matei a irmã dele... uma
grande traficante como ele. Quem deu a ele a pena de 20 anos de prisão foi meu tio. Esse
desgraçado tem um ódio mortal por mim, e se ele fugiu é porque chegou o tempo de ele fazer
o que disse dentro do tribunal.
— O que ele disse?
— Que mataria a mim, mas começaria por aqueles que mais amo. Porra!
Ele esfrega o rosto.
— Ei... calma. Vão encontrar ele. Esse cara não vai fazer nada.
— Assim espero. Você tem que me prometer que enquanto ele não for pego, você vai
tomar muito cuidado.
— Eu prometo...
Ele me agarra e me beija com intensidade. Sua língua explora minha boca em uma
invasão profunda e gostosa. Ele se inclina um pouco sobre mim e segura minha cintura,
morde meu lábio inferior e encerra o beijo com um selinho.
— Preciso encontrar esse filho da puta antes que ele encontre aqueles que amo.
— Nada vai acontecer.
— Assim espero, minha maluquinha. Assim espero!

Capítulo 2

Liziara Araújo

David me deixou na boate em que trabalho. Não consegui dormir nada bem. Ele ficou
quase que a noite toda acordado, levantando e deitando. Está preocupado; e eu no lugar dele
também ficaria. Ser um Escobar exige muita segurança, e para piorar, ele é um delegado, o
que complica ainda mais a situação.
Quando começamos a ter uma amizade, ele sempre me disse que todos que entram para
família, seja da forma que for, passam a correr riscos; e por isso começou a me treinar, me
ensinar a atirar e lutar. Sou um desastre com tudo, eu confesso, mas faço porque sei que isso
o deixa tranquilo.
Daniel, o dono da boate, me chama.
— Sim?
— Você está com a cara péssima. Dê um jeito ou vai espantar nossos clientes. Sair com o
delegado está acabando com você! Passe um blush e um corretivo!
Sim, ele é gay, e um amor quando quer.
— Não estou assim pelo que você está pensando.
— Brigou com ele?
— Não. São alguns problemas pessoais dele, que acabam interferindo na minha vida e
no meu sono de beleza também. Vou passar um reboco melhor no rosto.
Ele ri.
Vou para o banheiro dos funcionários. Eu me olho no espelho e contenho um grito.
Estou pior do que os zumbis de The Walking Dead, e só sei disso porque o David assiste e me
faz assistir algumas vezes, por livre e espontânea pressão. Prefiro Arrow, e não é só pelos
personagens gostosões... é que não tem zumbi, e eu odeio zumbis. Meu foco mesmo é livros.
Sempre que tenho um tempinho, corro para ler algum.
Pego meu kit de maquiagem na bolsa. Passo um corretivo, um pó compacto e blush. É o
que tenho para o momento.
Não sou feia, também não sou uma Gisele Bündchen. Tenho um corpo magro e bonito.
Sou alta, meus cabelos são escuros e cacheados nas pontas, e longos. Uso aparelho fixo —
recentemente — e odeio. Às vezes uso óculos porque não está fácil para ninguém. Tenho
meus dias de lutas e glórias com a minha aparência, e hoje é um dia de muita luta, tipo... uma
guerra.
A boate abre mais cedo hoje, porém de dia fica vazia. Somente quando tem DJ novo na
casa, ou evento, aí sim lota. Funcionamos 24 horas, e por isso há um revezamento por parte
dos funcionários.
Meu celular toca. Olho e a foto da Lúcia aparece na tela. — Mamãe.
— Oi, mãe.
— Sua desnaturada, onde está?
— Trabalhando. É, eu vou bem; e a senhora?
— Você nunca diz por onde anda. Sabia que querendo ou não, tem um pai e uma mãe?
— Sim, e vocês sabiam que tem uma filha? E não diga que sabem só porque a mídia e
seus amigos lembram que eu existo.
— Como ousa? Nós nos importamos com você!
— Mamãe, diz logo o que eu tenho que fazer?
— Tem um almoço hoje em casa. Um casal de amigos de seu pai vem. Você poderia vir
com o delegado e prometer se comportar. Eles adoram se gabar, dizendo que a filha é isso e
aquilo...
— Nossa, me lembram alguém... só que não se gabam pelo dinheiro que tem.
— Liziara!
— Meu nome.
— Você vem ou não?
— Vou, mãe.
— Não esqueça de trazer o delegado.
— Vou ver se ele estará disponível. E você sabe que ele não é nada mais que amigo, não
é?
— Sim eu sei. E também sei que todos os dias almoçam juntos. Não será problema
então. Te espero. Venha vestida como gente, e não como uma doida que não sabe a diferença
entre uma Prada e uma Louis Vuitton.
— E eu não sei mesmo. Tudo é caro. Prefiro as bolsas de brechó, que não tenho medo de
ser roubada; e se estragar não irei chorar até o resto da vida; ao contrário da Prada, e a Louis
alguma coisa, que eu teria que vender um rim para comprar uma... Na verdade não venderia,
porque não compraria. Pense no tanto de comida e livros que eu poderia comprar com o valor
de uma bolsa dessas marcas?
— Você foi trocada no berçário, só pode! — diz com raiva.
Sorrio.
— Beijos, mamãe. Amo você.
— Beijos. Te espero.
Desligo e guardo o celular no bolso da calça.
Deixo minha bolsa no armário e vou para o balcão.
Ajeito as bebidas por ordem alfabética. Acho que assim facilita.
— Oi, gata!
— E aí, Joaquim.
Vou me levantar e bato a cabeça.
— Ai, merda!
— Cuidado. Ainda se mata um dia.
— Eu também acho.
Esfrego onde bati.
— Seu delegado estava passando na TV.
Sinto meu corpo gelar na hora.
— Por que? Aconteceu algo?
— Não. Parece que um cara fugiu, e já teve uma informação que ele estava aqui na
cidade, e aí o caso foi para as mãos dele.
— Merda!
— O que foi?
— Um rolo bem grande. E tenho medo de como isso vai acabar.
— Esse cara é furada. Se meter com um Escobar é furada. Você mesmo sabe disso desde
que o tal do Henrique se casou com a cliente que foi acusada de assassinar o noivo.
— Mas foi provado que ela não fez nada. E tem mais, ambos se amam. Foi amor à
primeira vista. E saiba que eu queria muito um dia ter um amor como o deles.
— Que seja. Se cuida, os caras vivem no perigo. Não é brincadeira se envolver com um
delegado. Te conheço desde que entrou na faculdade, e sei que seu estilo é diferente do dele...
Você não está pronta para enfrentar o que ele enfrenta. Você foi interrogada por ele e pela
família para resolver o caso da esposa do irmão dele que eu sei, e colocou eles dentro da festa
da faculdade quando trabalhamos nela...
— Eu não fiz...
— Não minta. Eu sei, te conheço bem. Sempre quer ajudar, e acho legal isso. Mas desde
que firmou uma amizade com o delegado, você vive mais distraída que antes. As vezes chega
machucada pelos treinos que faz, largou a faculdade, saiu de casa. Você vive para ele, e é capaz
de se colocar na frente dele por um tiro. Você precisa saber se quando mais precisar, ele vai
ser capaz de fazer algo grande por você. Um dia você pode precisar muito dele, e ele estar
ocupado... e aí, será que ele vai largar o que está fazendo para te ajudar, mesmo que seja uma
coisa boba? Pense bem. Você se sacrifica demais. E falo isso porque gosto de você.
Ele se afasta, me deixando sozinha.
Eu não me sacrifico tanto. Claro que as vezes queria que tudo fosse diferente e ele fosse
uma pessoa “normal”, mas eu gosto dele e da vida dele. Eu aceitei a amizade dele assim,
mesmo depois que descobri estar apaixonada, e não foi apenas por ele, foi pelo pacote
completo.
Joaquim é um cara legal, mas as vezes consegue ser um irritante, que acha que sabe
tudo. E pelo visto, hoje ele está insuportável. Terei que aguentar, já que é nossa vez de
trabalhar de dia.
A boate abre.
Joaquim não tocou mais no assunto, e agradeci por isso.

David Escobar

Estou parecendo louco desde que soube que o filho da puta do Jorge fugiu. Não dormi de
noite. Estou uma pilha de nervos. E para ajudar, fui informado que receberam uma ligação
que ele foi visto aqui na cidade. Dobrei a segurança da minha mãe e minha irmã. Já falei com o
Henrique e meu tio Marcos para dobrarem a segurança deles. Mandei seguranças disfarçados
para ficarem de olho na boate que a Liziara trabalha, e na faculdade da Beatriz. Ela não
convive muito conosco, mas é muito amiga da Liziara, e quanto mais segurança, melhor.
Cleber, grande policial e amigo, entra na minha sala.
— Está péssimo.
— E como! Alguma novidade sobre o Jorge?
— Nada. O cara parece fantasma, some e aparece.
— Precisamos encontrá-lo antes que ele tente algo.
— Faremos o necessário.
— Nenhuma notícia da Poliana?
— Parece que já chegou e está vindo para cá.
— Certo.
— Vou com os homens rodar na cidade, e ver se encontramos algo sobre o paradeiro do
Jorge.
— Certo. Vou continuar investigando daqui e cuidando dos outros casos.
— Vê se relaxa. Chama a doidinha, ela te anima. — provoca.
— Nem poderei ver ela hoje, e nem sei quando vou ter tempo. Com o Jorge à solta, a
Poliana chegando para trabalhar aqui, e eu tendo que ajudar ela nos treinos, vai me deixar
sem tempo.
— Poliana era uma amiga de faculdade sua, não é? Lembro que você disse algo sobre.
— Sim. Amiga antiga.
— Isso não vai ser bom.
— O que quer dizer? — Eu me ajeito na cadeira.
— Essa história de amiga antiga não dá certo. Sou casado e sei o que digo, vai por mim.
— Eu e a Liziara somo apenas amigos, nada demais. Não tem porque isso ser um
problema.
— Vocês têm uma amizade e um relacionamento aberto. Mas você é muito idiota se
ainda não notou que ela sente muito mais que amizade por você. Com a Poliana na área, vai
dar B.O.
— Eu não posso ter relacionamento sério com ninguém e a Liziara sabe disso. Minha
carreira e meu tempo me privam disso, e estou bem desta forma. E você está enganado... ela
apenas tem um carinho por mim, assim como eu tenho por ela. A Poliana é uma amiga antiga
e nada mais. E repito, minha carreira me priva disso. É perigoso demais. Você soube o que
aconteceu com meu pai, e eu não suportaria perder mais ninguém.
— Se o delegado diz, quem sou eu para discordar? Só não diga depois que eu não avisei.
— Que foi? Além de policial é conselheiro amoroso? Porra, deveria ter dito antes, que eu
te colocaria para arrumar uma mulher para meu tio. Aquele cara é muito amargo.
Rimos.
— Estou fora do caminho do juiz.
— Bunda mole.
— Você me ama, fala sério!
— Muito, delicia.
— Vai se foder.
— Posso te prender por desacato.
— Só se você se prender comigo. — Ele dá uma piscadela.
— Vá à merda!
Ele ri.
— Meu negócio é outra fruta. Então pode esquecer.
Sai rindo da sala.

Liziara Araújo

Já está quase na hora do almoço. Minha mãe vai me matar, mas vou chegar atrasada.
Ligo para o David, que depois de uma eternidade, atende.
— Hoje o almoço será nível família Araújo. — digo e escuto sua risada.
— Bem que eu queria aguentar as loucuras dos seus pais e provocá-los, mas não poderei
almoçar com você hoje.
— Mentira. Não me deixe sozinha! Um casal de amigos dos meus pais vão estar lá, e
minha mãe me ligou enchendo o saco. Sabe que nunca dá certo almoçar com eles porque
sempre brigamos. Você tem que ir junto, é um caso de vida ou morte.
— Eu sinto muito, mas não poderei. Hoje chega uma nova policial e ela vai precisar de
mim. E tenho muita coisa para fazer.
— OK. Sem problemas. Nos vemos a noite?
— Não sei, mas é provável que não. O dia será cheio hoje. Na verdade, parece que a
semana vai ser cheia. Desculpe.
— Tudo bem. Até qualquer dia, então.
— Não fica brava, está bem? É que está complicado hoje.
— Não estou. Bom, tenho que me apressar. Tchau.
— Beijos. E boa sorte.
— Valeu.
Desligo.
Fiquei chateada, mas ele tem responsabilidades. Porém a merda que o Joaquim disse
me veio a memória. Que inferno! Ele nem sequer disse que o tal do Jorge está na cidade, e se o
Joaquim não dissesse, eu ficaria até agora sem saber; o que é estranho já que ontem o David
pareceu muito preocupado, falou o que aconteceu, mas hoje nem comentou nada, e ele
sempre me conta tudo, ainda mais quando envolve minha segurança. Temos um pacto forte
em nossa amizade: Jamais esconder nada um do outro, mesmo que pense que esconder
protegeria de algo.
Mas não farei tempestade em um copo d’água.
Pego minha bolsa e peço um taxi. Vou para meu apartamento, e de lá para a casa dos
meus pais. Meu chefe liberou a mim e o Joaquim para ficar em casa depois do almoço. O
movimento está fraco demais, e hoje a noite é minha folga
Chego em casa e tomo um banho rápido. Eu me arrumo rapidamente e peço outro taxi
para a casa dos meus pais, pois só pegarei meu carro amanhã.


Encontro todos na sala. Minha mãe me olha com alivio, mas a procura de alguém, e este
alguém é David.
— Perdoem meu atraso.
— Sem problemas. — minha mãe falsamente diz.
Cumprimento os convidados, e em seguida fomos almoçar.
Como já era de imaginar, minha mãe está tentando ser sempre melhor em tudo e
fingindo ser boa mãe. O casal, Pamela e Junior, e meus pais juntos... não sei distinguir quem é
o pior. Um mais esnobe que o outro. Chego a me sentir mal perto deles.
— Sua mãe me disse que está saindo com o delegado David Escobar. — Pamela fala.
— Somos apenas amigos.
— Por mim seriam mais que isso. — minha mãe rebate.
— Eles só não estão juntos porque ainda estou analisando se isso seria a melhor coisa.
— meu pai fala. Mentiroso.
— Minha filha está noiva de um empresário no ramo da tecnologia. O rapaz é um gênio e
muito bem de vida. Marcarei um dia para que o conheça, Leandro. — Junior diz ao meu pai.
Afasto minha comida. Está me dando nojo toda essa palhaçada. Eu deveria imaginar que
seria assim, sempre é.
— Soube que largou a faculdade... isso é loucura. Minha filha está prestes a se formar. —
Pamela me diz.
— Que bom. — digo e meu pai me olha de lado.
— Nossa filha apenas trancou a faculdade, pois vai para uma melhor. — minha mãe
provoca.
— Sei. — Junior diz e toma um gole do champanhe.
— Achei que teria a oportunidade de conhecer o David. Sua mãe me falou tanto sobre
ele, mas...
— Ele é um homem ocupado, e eu também. Eu sinto muito, mas preciso ir.
Todos me olham.
— Liziara... — meu pai diz.
Levanto e saio.
Pego minha bolsa na sala.
Minha mãe segura meu braço me assustando.
— O que pensa que está fazendo?
— Indo embora. Me solte, por favor. — Ela o faz.
— Você nos envergonhou!
— Eu? Poupe-me! Vocês pediram para eu vir, apenas para ficarem se gabando e criando
uma Liziara que não existe para seus amigos, como sempre fazem. Vocês têm vergonha da
própria filha, e não cansam de deixar isso claro quando ficam mentindo para os outros, e me
fazendo uma moça perfeita. Eu não sei porque perco meu tempo.
— Você é uma vergonha para nós! Não presta para fazer nada do que pedimos! Cadê o
David?
— Trabalhando, coisa que você não tem ideia do que seja, já que nunca precisou
trabalhar na vida.
Ela me acerta um tapa na cara, que minha cabeça chega a virar.
Meu sangue ferve. Estou tremendo de raiva. Seguro as lagrimas.
— Um dia você vai se arrepender por este tapa, e tomara que não seja tarde.
Passo por ela e saio.


Chego no meu apartamento, e só então me permito chorar.
Desde de pequena ela sempre inventou uma Liziara perfeita para os outros, e nunca
disse quem eu era de verdade. Meu pai e minha mãe nunca aceitaram que eu fosse
desastrada, doida, brincalhona, e que não me importasse com dinheiro, fama ou poder. Eles
não aceitam que eu sou o oposto deles. Já me humilharam tantas vezes. Quando pequena
estudei em um colégio interno porque eles não queriam me ver. Tinha finais de semana que
nem iam me buscar, só faziam quando tinham eventos, ou festas em casa e queriam fazer a
família perfeita.
Ela nunca me bateu, e por causa de um almoço idiota e fútil, ela o fez.
Envio uma mensagem para a Beatriz, para saber se ela vem almoçar em casa, mas ela diz
que vai trabalhar até tarde.
Eu não quero ficar sozinha, só quero me distrair, depois de tudo.
Ligo para o escritório da dona Paula e dizem que hoje ela está de folga.
Vou fazer uma surpresa para ela, que sempre pede para passarmos um dia juntas. Me
distrair vai ser bom.
Chego na casa dela, e como sou conhecida, me liberam sem questionar.
— Luciano, Henrique te mandou embora? — brinco com o segurança.
Ele sorri.
— Não, senhorita. Ele foi viajar com a família e levou outros seguranças, e pediu para eu
ficar no controle daqui.
— Que bom que foram viajar!
— Sim. O patrão e a patroa trabalham muito.
— E como. Bom, dona Paula está?
— Está sim... e...
— Valeu. Quietinho, vou fazer surpresa.
Ele me olha estranho e não entendo.
Não tem ninguém na sala e nem na cozinha. No segundo andar também não.
Desço e faço o caminho para ir até o jardim dos fundos.
— Acho que o Luciano precisa de um exame de vistas ou memória. Ou dona Paula saiu e
ele não viu, ou ele esqueceu que ela saiu.
A porta de vidro fume está um pouco aberta. Olho no vão dela, e não acredito no que
vejo.
David, Paula e uma loira bem bonita conversam e riem enquanto almoçam juntos.
Eu me assusto com a Marcela, a faxineira da família. Ela vai dizer algo, mas faço um sinal
para que fique calada. Afasto-me da porta e ela entra.
— Não diga que eu estive aqui.
— Mas, meu anjo...
— Não. Não quero atrapalhar. Era bobagem o motivo da minha vinda. Vou indo.
— Não vai querer nem um pedaço da lasanha que a dona Jurema fez? É a sua favorita.
Sorrio.
— Obrigada, mas fica para uma próxima.
Dou um beijo nela e saio.
Encontro Luciano na saída, e agora entendo o olhar dele. Talvez fosse isso que ele ia
dizer quando o interrompi. Eu me despeço dele, ele pergunta se quero que algum dos
seguranças me leve, mas recuso.
Se o David não queria almoçar comigo, não precisava mentir. Era só dizer que tinha que
almoçar com outra pessoa e a mãe dele. Hoje não é meu dia.
Vou embora, mais magoada e com mais raiva do que eu vim.
Capítulo 3


David Escobar

Levei Poliana para almoçar em casa. Não porque eu realmente queria, mas porque
minha mãe soube da vinda dela e me intimou a isto. Ela e eu éramos muitos apegamos na
faculdade, e com isso sempre estávamos juntos. Minha mãe criava uma expectativa com a
gente, porém mesmo que naquela época eu quisesse algo, não rolaria. Poliana parecia cortar
para o outro lado.
Enfim, eu deveria estar trabalhando com ela e buscado pelo Jorge ao invés de estar
almoçando.
Minha mãe está animada com ela, e a conversa flui. Dou risada algumas vezes para não
deixar elas constrangidas por acharem que estou dando atenção a tudo, quando não estou.
— Que bom que retornou. Eu sabia que não se adaptaria a tanto tempo no interior. Você
é agitada demais. — minha mãe diz e ela sorri. — Poliana Gonçalves, é uma moça de
adrenalina. Igual aos meus filhos, que não tem amor a vida e a mim.
Sorrio.
— Viver no interior é muito bom, mas apenas para descanso. Eu realmente gosto de
agitação. Me enviarem para cá foi a melhor coisa, e não evitei. Quando soube que era para
trabalhar na equipe do David, vim rapidamente. — Ela sorri para mim, e retribuo para não
deixá-la sem jeito.
Vejo a Marcela disfarçadamente me chamando.
— Já venho. — digo a elas e me retiro.
Entro em casa.
Marcela está com uma cara estranha.
— O que houve, mulher? Parece que alguém morreu.
— Senhor...
— David! Ainda não aprendeu?
— David, a senhorita Liziara veio aqui. Ela pediu para eu não dizer nada, mas ela saiu
tão triste... o Luciano disse que ela chegou estranha e foi embora pior, e nem aceitou carona
dos seguranças. Estou preocupada. Ela viu vocês lá fora. Eu a encontrei... coitadinha, estava
mal. Um lado de seu rosto estava bem marcado, e os olhos de quem chorou. Nem aceitou
lasanha.
— Porra!
— Menino, olha a boca!
— Ela disse para onde iria?
— Não.
— Obrigado por avisar.
Retorno para o jardim.
— Poliana, vamos? Tenho um compromisso.
— Claro!
Ela se levanta junto a minha mãe.
— Vem jantar conosco. Assim matamos mais a saudade. — minha mãe diz, abraçando-
a.
— Venho sim. Quero ver todos.
— Henrique viajou com a esposa e a filha, mas Daiane e Marcos virão, pode ter certeza.
Hoje aqueles dois não me enrolam. Daiane só trabalha, e Marcos é um caso a ser estudado
pela NASA.
— Normal isso nos Escobar. — Poliana diz sorrindo.
Dou um beijo na minha mãe.


Deixo a Poliana na delegacia.
— Não vai ficar?
— Tenho algo importante.
— Jorge?
— Mais importante que isso.
Ela me olha sem entender e desce do carro.
— Até daqui a pouco, então. — ela diz.
Concordo e ela fecha a porta.


Liziara Araújo

Estou deitada na sala, lendo um livro, mas não estou prestando muita atenção. Prova
disso é que já li o mesmo parágrafo cinco vezes.
Olho meu celular toda hora, e não tem uma alma boa me ligando.
A campainha toca, e só pode ser alguém com autorização para subir.
— Não tem ninguém!
— Esse ninguém poderia abrir a porta? — David! Merda.
Levanto e abro a porta.
Ele me olha e sorri.
— Posso?
— Entra. — digo secamente.
Ele entra e eu fecho a porta. Sento no sofá e coloco as pernas em cima dele.
Ele se senta ao meu lado e puxa minhas pernas para seu colo.
— Não estaria ocupado? — pergunto.
— Sim. Mas fiquei sabendo que alguém me viu hoje e nem foi me dar um beijo. Talvez
um “oi”, pelo menos.
— Eu fui ver sua mãe, mas estavam ocupados. Seria chato atrapalhar.
— Por que não ficou com a gente?
— Porra, sério essa pergunta? Você mentiu para mim. Disse que estaria ocupado, e eu,
idiota, acreditei. Então fui ver sua mãe e te encontro lá com uma mulher. Nós tínhamos um
pacto de nunca mentir. Se ia sair com outra, era só dizer, caramba!
— Eu não ia sair com ela. Poliana é a nova policial, foi transferida para cá. Somos amigos
da época de faculdade, e minha mãe soube que ela estava aqui e pediu para eu levar ela lá para
almoçar.
— E eu sou idiota? Porra, você simplesmente estava lá rindo e se divertindo. Nem
sequer me disse que o tal do Jorge está na cidade... eu fiquei sabendo por terceiros.
— Eu não disse para não te assustar, mas eu ia dizer.
— Mas não disse, e teve oportunidade quando te liguei.
— Me desculpa, mas não tem motivos para você ficar assim.
— Eu... só não estou bem.
Ele vira meu rosto e toca onde minha mãe me bateu. Ainda dói um pouco.
— Quem fez isso?
— Isso o que? — me faço de desentendida.
— Você sabe.
— O almoço em casa não acabou bem.
— Quem fez isso?!
— Depois do ridículo "circo" que me convidaram a participar, eu disse algo que minha
mãe não gostou e me bateu. Simples. — rio nervosa.
Ele acaricia meu rosto.
— Eu deveria ter ido com você. — Ele fica nervoso. — Que porra ela tem na cabeça?
— Já foi. Agora pode voltar para os seus compromissos.
Ele sorri.
— Está com ciúme?
— Tanto faz. Vai embora, quero ficar sozinha. Meu dia não está bom, então não piore.
— Você odeia ficar sozinha, meu amor.
— Não me chame de meu amor. Estou puta da vida com você, seu idiota!
— Eu sei, e você tem razão. Me desculpa, eu devia ter falado sobre o Jorge e que a
policial era uma amiga de faculdade.
— Sim, ainda bem que sabe!
Afasta minhas pernas e se coloca no meio delas.
— O que pensa que está fazendo? — Quase berro.
— Me beija.
— Não. Acha que isso resolve o que fe...
Ele invade minha boca. Sua língua entra com voracidade. Suas mãos vão para cada lado
do meu rosto. Ele se esfrega, e sinto sua ereção em minha intimidade. Solto um gemido
involuntário.
Crio forças não sei de onde e o empurro. Ele não insiste e aceita o que fiz.
— Eu tenho que voltar para a delegacia.
— É melhor. Eu iria me sentir uma idiota que deixa o sexo ser a resolução do problema.
— Você não é idiota. Me perdoa. Não fique com raiva... Eu sinto muito pelo o que
aconteceu na sua casa.
— Minha maior raiva foi isso, e acabou acumulando com minha chateação com você.
Ele me dá um selinho.
— Vai ser corrido, minha vida, mais do que já é. Preciso encontrar o Jorge, e ajudar a
treinar mais a Poliana, porque ela ainda é nova nisso. O delegado da cidade que ela estava me
pediu esse favor, e não pude negar, pois quando mais precisei ele me deu forças para chegar
onde estou. Então não terei muito tempo. Tentarei ver você, mas não garanto que será
frequente.
— Sem problemas. Estarei ocupada também. — minto.
— Com o que? — pergunta sorrindo. Merda, tenho que mentir melhor.
— Horas extras na boate.
— Tome cuidado por lá.
Concordo.
— Tenho que ir, já fiquei tempo demais na rua. — Ele se levanta.
— Qualquer coisa me ligue.
— Sei me virar. — ele respira fundo.
Levanto e abro a porta.
Ele para na minha frente e me dá um beijo no rosto.
— Se cuida, minha maluquinha.
— Está falando com uma pessoa que aprendeu a atirar, então não tente me comprar
com carinho.
— Esse é meu medo. A maioria das pessoas que morrem afogadas é porque sabiam
nadar.
— Relaxa, não sei nadar.
— Você entendeu o que eu disse. — Sorrio.
Ele sai.
— David? — Ele me olha — Não me esconda mais nada, por favor.
— Pode deixar. — Ele dá uma piscadela.
Fecho a porta e me jogo no sofá.
Polivaca chega depois de não sei quanto tempo e vem querer tirar meu tempo com o
meu delegato. Estava demorando para eu dançar nessa merda. Eu preciso me desapaixonar
do David com urgência, antes que pire de vez!
— Vou tomar um banho, porque aquele idiota me deixou molhada. Que broxe com
todas as mulheres! — Merda, falando sozinha de novo.
Tomo um banho e coloco um vestido.
Pego bolacha e vou para o sofá tentar terminar minha leitura.
Depois de horas, termino de ler e fico encantada, sonhando com uma vida igual à da
personagem. A autora me deixou querendo um Ian Clarke do livro “Perdida”.
Levanto e pego o pacote vazio de bolacha para jogar no lixo. Estou entediada.
Escuto barulho na porta e sei quem é.
Beatriz entra já tirando os saltos e se jogando junto a bolsa no sofá.
— Eu ainda mato aquele reitor. O cara não sai do meu pé! Estou me sentindo
incomodada.
— Eu não confio naquele velho. Toma cuidado, Bia.
— Tomarei. Mas me diga, por que perguntou se eu viria para casa? Não almoçou com o
David?
— Não, meu dia foi um inferno.
— O que houve?
— Joaquim falou coisas que me deixaram pensativa. Almoço com meus pais, e foi
daquele jeito que você sabe bem. Minha mãe me acertou um tapa na cara. David me escondeu
que a nova policial que chegou era uma amiga de faculdade. Encontrei a tal na casa da mãe
dele, e os três almoçando juntos, sendo que ele disse que não poderia almoçar comigo, porque
estaria muito ocupado... É, acordei com o pé esquerdo.
— Uau! Liziara, seus pais são terríveis. E sua mãe agora deu para te bater? Por isso esse
lado do rosto meio avermelhado e inchado. — Ela aponta.
— Ser muito branca faz isso, deixa marca infinita. — sorrio.
— Ela deixou uma marca infinita dentro de você. Que ódio. Deveria ter me dito, e eu
tinha dado uma desculpa e vindo para cá.
— Relaxa, já passou. — ela concorda.
— Quer dizer que chegou uma policial nova que é amiga antiga dele?
— Sim. Nem a conheci e já estou odiando.
— Segue um conselho da solteirona aqui: Você está apaixonada por ele, e para virar
amor é rapidinho. Se não quiser perder seu delegado, fica de olho. Amigas antigas raramente
são boas coisas. Quando o passado retorna, quase sempre vem trazendo um furacão.
— Aí, Bia! Minha paixão pelo o David vai acabar. Paixão é passageira. Eu vou me
desapaixonar, já decidi.
— Cuidado para não cansar. Afinal vai ser difícil, com o sexo, carinho, e o grude da parte
de ambos.
— Nossa, hoje está para me desanimar! — brinco.
— Estou sendo sincera.
Ela solta o cabelo que estava preso em um coque.
— Parece estressada. Foi só o reitor ou aconteceu algo? Aquele velho tentou abusar de
você? Eu castro ele.
— Não! Ficou louca?! Ele não tentou nada.
— Então?
— Aquele juiz, filho da puta! Que ódio!
— Encontrou com ele?! — pergunto animada.
— Ele foi palestrante hoje na universidade.
— Mentira! Que babado. E ai?
— E ai, que quando terminou, uns professores, funcionários e o reitor chamaram ele
para tomar um café, e eu tive que ir. Seria fácil, já que eu não precisaria dar atenção a ele. Mas
aquele tarado, sempre que ia falar com alguém, fazia questão de passar se esfregando em
mim. Ainda fingiu que não me conhecia quando o reitor veio nos apresentar. Que ódio. E eu
não podia fazer nada. Para todo lado que eu ia, aquele imbecil ia atrás... Arg!
Ela está bem irritada.
— Marcos é terrível. Que cara de pau! Mas ele é bem gostoso... vai dizer que não gostou
das esfregadas dele?
Ela atira a bolsa em mim e eu desvio.
— Deixa de ser besta! Claro que não gostei. Eu juro que da próxima vez que ele aprontar
algo assim, eu enforco ele.
— Cuidado, ele é um Juiz. Faça o crime bem feito, ou ele vai te pegar bem de jeito. — rio.
— Vai à merda! Não sei porque perco meu tempo com você.
Ela se levanta e pega o sapato e a bolsa. Vai para o quarto dela. Fico rindo. Esses dois
são complicados.
O interfone toca. Atendo e dizem que é uma encomenda que deixaram na portaria e
pediram para me entregar.
Desço até a portaria e pego a caixa, um pouco pesada.
Subo com a caixa. Entro na sala e me sento no sofá. Bia está na cozinha.
Abro a caixa e sorrio.
— Delegado mandando presentes, acertei?
Sorrio para a Bia, que está com um pão na mão.
Ela vem para perto ver o que é.
— Esse é realmente sobrinho do Juiz! Apronta e tenta agradar.
Rio.
Retiro da caixa um conjunto de lingerie vermelha. Fico vermelha. Tem um livro, o último
da série Bridgerton, da Julia Quinn. Ele sabe que amo livros, e faltava apenas o último para
completar a série. Há também uma caixa de bombons, dos meus preferidos.
— Que fofo, manda lingerie junto com bombom e livro para amenizar a safadeza. É tipo
mandar uma foto nua e postar nas redes sociais que é santa. — Bia diz, rindo.
Meu celular toca e é uma mensagem dele:

Para te animar depois do dia difícil que teve. E fui eu mesmo que fui comprar, antes que pense que mandei alguém. Essa
lingerie e para usar apenas comigo, ou arranco o pau de quem estiver com você quando usar ela.
Obs: Espero que goste. Não mandei flores porque não curto muito, me lembra velório.
Beijos, minha maluquinha.

— Filho da puta! Que ódio. Faz merda e vem me agradar... e pior que pegou pesado, justo
meu bombom e autora favorita?
— Preciso de um homem assim. Só aparecem encrencas na minha vida.
— Não arranja porque não quer...
— Porque não encontrei o homem certo. Homem para mim tem que ser com H
maiúsculo.
— Conheço um!
— Se disser o nome daquele idiota, eu me jogo dessa sacada!
— Não digo nada.
Respondo a mensagem:

Amei tudo.
Mas deveria saber que suborno é crime.
Vou pensar no seu caso sobre a lingerie. Estou precisando relaxar hoje e pensei em sair. Ela pode ser útil, se é que me
entende. Obrigada pelo belo presente.
Beijo, delegato.

Ele responde:

Não me provoque sua atentada!!
(Conseguiu me irritar)

Sorrio e não respondo.
Levo as coisas para o meu quarto.
Meu celular toca e é uma mensagem do meu chefe pedindo para eu trabalhar hoje à
noite, pois uma das meninas está doente.
Pelo visto eu realmente acordei com o pé esquerdo.

Capítulo 4

David Escobar

Estou na sala de treinamento. Depois que me despedi de Liziara, comprei os presentes
para ela e vim para delegacia.
Poliana está treinando tiros, e estou observando. Ela tem equilíbrio quando atira, mas
tem alguns pontos muito negativos que podem prejudicá-la.
— Abra um pouco mais as pernas. — digo a ela e ela o faz.
— Assim?
— Isso. Outra coisa, você tem que ver qual olho te faz ter a melhor mira. Está acertando
quando atira, mas depois de várias tentativas.
— É porque você está me deixando nervosa. Nunca treinei com um delegado! — sorrio.
— Esquece que sou delegado. Sou apenas o David aqui.
— Ok.
— Tenta de novo.
Ela respira fundo e tenta novamente, mas erra.
— Jamais atire para matar de primeira. O alvo vai esperar por isso.
Pego a arma e atiro mirando no braço.
— E se ele continuar sendo um perigo, ou não mostrar que vai parar, atire na perna. —
atiro no alvo, na perna direita. — Ele vai pensar que você atirou nestes lugares porque falhou.
Provavelmente vai zombar, e então você atire em algo muito próximo a sua cabeça, como a
parede por exemplo. — Atiro, e a bala passa raspando na lateral esquerda da cabeça do alvo.
— E se não parar e não tiver outra solução, aí sim atira para matar. — Atiro no peito do alvo.
Olho para ela, que está boquiaberta.
— Uau. Tipo, uau mesmo. Eu deveria ter treinado com você quando iniciei.
— Não é minha função, apenas estou te ajudando. Você teve um bom professor, só está
um pouco nervosa.
— Pode ser. Estou um pouco cansada. Vamos parar por agora.
— Vamos sim. Eu vou ver se meus homens já têm alguma coisa.
— Certo. Vou beber água.
Saio da sala de treinamento e vou para a minha. Paulo, o escrivão, está nela, se
arrumando para ir.
— Já vai?
— Tenho uma vida fora daqui. Deveria fazer o mesmo. Passou quase o dia todo
treinando a nova policial.
— Tenho muita coisa ainda.
— Descanse, não vai conseguir procurar nem um elefante se estiver cansado.
— Seguirei seu conselho, só não hoje. — ele sorri.
— Não tem jeito mesmo! Qualquer coisa, me ligue.
— Pode deixar.
Ele sai da sala.
Sento-me na minha cadeira.
Pego as papeladas sobre o Jorge e começo a reler tudo. Preciso de alguma pista do
paradeiro dele.
Alguém bate à porta.
— Entre. — continuo lendo.
— Cheguei para alegrar seu dia! — Largo o papel e sorrio.
— Débora! O que faz por aqui? — ela sorri.
— Meu marido não vai para casa, eu tenho que vir atrás dele. — Olho para a bela moça,
alta, com lindas curvas, loira, e de óculos. — OK... Vim a mando do seu tio.
— O que ele quer?
Débora é esposa do policial, e meu amigo, Cleber. Trabalha para o meu tio.
— Mandou trazer esses papeis aqui. — Ela retira da bolsa e me entrega. — É sobre o
idiota do seu melhor amigo. — Franzo o cenho — É lerdo mesmo! É sobre o Jorge. Não
entende ironia não? Eu hein!
— Você não muda mesmo!
— Me amo assim. — sorri.
A porta se abre e é o Cleber.
— Eu não fiz nada! — ele diz quando vê ela, e isso me faz rir.
— Está se entregando, meu amor? — Ela ergue a sobrancelha esquerda e cruza os
braços.
— Claro que não. O que faz aqui? — ele pergunta.
— Dar uns pegas no delegado é que não é. Vim trazer uns papeis, mas já vou indo. O
Marcos está acabando comigo hoje. Aquele homem precisa de uma mulher para tirar o
estresse dele. Não aguento mais ouvir meu nome na boca dele.
Rimos.
— Podem rir mesmo... queria ver se estivessem no meu lugar. Bom, vou indo, mas antes
preciso comer algo, nem almocei hoje... OK, não me olhem assim, eu almocei, mas estou com
fome. Estou estressada e fico com fome. Fui, amores!
Ela contorna a mesa e me dá um beijo no rosto. Para na frente do Cleber e dá um beijo
nele.
— Estou aqui, pessoal!
— Estou sabendo! — ela diz.
— Eu devia ter continuado sendo policial!
— Não está com alguém porque não quer. Cadê a desastre? — Olho para ela sem
entender — A porra louca, como diz o Marcos. Está lerdo mesmo!
— Está na casa dela. E eu e ela não temos nada além de uma amizade.
— Eu tive essa amizade, e resultou em três anos de casamento, até agora.
— Deus me livre! Como aguentou ela, Cleber? — provoco, e ele se segura para não rir.
— Está pedindo para morrer, essa porra! Fui, não aguento muito tempo ficar com um
Escobar. Já bato meu recorde com o Marcos.
Um celular começa a tocar, e é o dela. Ela atende.
— Já estou indo, homem! Estou saindo da delegacia... Vim de taxi, bati o carro... estou
sem por uns dias, esqueceu? Vou pegar um taxi agora e já vou... Reclama não! Está achando
ruim, me dê uma carona! Acho bom. Até daqui a pouco.
Ela desliga. Estou rindo como um idiota.
— Como vocês dois sobrevivem um com o outro? — pergunto.
— Conheço ele há 8 anos, sei como lidar com a fera. Nossa amizade é tapas e murros,
mas a gente sobrevive. Fui! — Ela joga beijo e se retira.
Cleber me olha e sorri. Ele se senta.
— Por sorte ela não viu a Poliana. Quando soube que tinha policial nova, e viu quem era,
surtou. Disse que se eu relar nela, ou ela me olhar, corta minhas bolas fora. Estou fodido!
— Estamos. Débora e Liziara podem dar as mãos! Estão morrendo de ciúme. Poliana
não é nada mais que uma amiga para mim e colega de trabalho para você.
— Para mim realmente é uma colega de trabalho, já para você...
— Não seja idiota! Vamos, o que tem de novidade?
— Nada. O cara está como um fantasma.
— Fantasmas não existem, mas ele sim. Temos que encontrar o filho da puta.
— Está certo. A única pista que temos é que ele foi visto próximo a rodoviária, mais
nada.
— Esse pouco pode ser um muito. Ele deve estar muito próximo, mais do que
imaginamos.
— Mas sua preocupação não é apenas essa. O que está acontecendo além disso?
— Liziara. Eu e ela somos sempre vistos juntos. Ela trabalha em um lugar que tem muito
movimento. E se for ela a primeira que ele for atrás? Ela é toda doida e desligada.
— Quer que eu peça para os seus seguranças reforçarem a equipe?
— Na verdade quero que envie amanhã policiais à paisana, atrás dela. Hoje ela não vai
trabalhar mais, era apenas para ela trabalhar de dia.
— Pode deixar. Mas ela sabe se virar. É doida, mas nem tanto.
— Espero que sim.
— Outra coisa... Você confia mesmo que essa Poliana é apenas amizade?
— Claro. Acredito até que ela goste de mulher.
— Não acho. O jeito que ela te olha... Tome cuidado, David, ou vai ficar bem encrencado.
— Porra, entenda, a Liziara e eu não temos nada. É sexo, amizade e nada mais. Não vejo
motivos para você ficar insistindo nesses assuntos.
— Quando vai admitir?
— O que?
— Que o que sente pela Liziara é muito mais que um carinho de amigos. Pare de mentir
para si mesmo. Você fica louco quando ela sai sem você, quando não dá notícias... Ela ama
você também, e não é um amor de amiga. Uma hora ela pode cansar. Ela é humana, e não vai
aguentar esconder o que sente por muito tempo, ou aguentar você saindo com outras ou com
essa Poliana na área... E o pior que somente você não vê que ela te ama. — Ele se levanta. —
Pense bem.
Ele sai da sala.
Porra, não aguento mais ninguém insistindo nesse assunto. Eu não sou idiota, sei que o
que ela sente por mim é muito mais que amizade, mas eu não posso dar nada a ela além do
que já dou. Já a coloco em risco não tendo um relacionamento sério, e não quero coloca-la no
precipício, tendo algo com ela. E na verdade, nem sei o que realmente sinto por ela, não posso
fazê-la sofrer, mais do que já faço as vezes.
Meu celular vibra. É uma mensagem da Liziara.

Estou a caminho do trabalho. Vou ter que ficar no lugar de uma menina hoje. Me busca amanhã de manhã? Pegarei meu
carro só amanhã.

Caralho, não acredito. Pior que o Cleber já foi, deve ter ido para a rua. E quando aquele
louco sai para a rua, não atende celular. Preciso que ele mande policiais à paisana para a
boate.

Te busco. Qualquer coisa me ligue. Tome cuidado, por favor. Não fique dando mole para qualquer um e preste atenção no
que faz!

Ela responde:

Relaxa! Beijos.

Relaxar? Com o Jorge à solta, e Poliana me complicando com a Liziara? Tudo que não dá
para fazer é relaxar. E ainda tem jantar na minha mãe hoje!

Chego na casa da minha mãe depois de um banho e trocar de roupa. Daiane e Marcos já
estão aqui, posso escutá-los discutindo.
Entro na sala de jantar.
— Uau, já estão se matando? — provoco.
— Às vezes acho que ele não é meu tio, e sim um irmão insuportável.
— Ai, essa doeu! — Marcos finge estar ofendido.
— Até que enfim chegou, meu filho! — minha mãe diz, entrando junto com a Dona
Jurema.
— Olha só, Henrique vai ficar enciumado que está cozinhando para mim, Juju. — brinco
e dou um beijo nela. — Está cheirosa. Não quer ir para meu apartamento?
— Me respeite, menino! — Ela bate com o pano de prato no meu braço e sorrio.
Ela deixa a jarra de suco na mesa e se retira.
— Deixe ela em paz. Já basta o Henrique a atormentando. — minha mãe diz, se
sentando.
— O Henrique tem sérios probleminhas, eu já disse.
— E você tem o que? — Daiane provoca.
— Fica quieta ai que a conversa ainda não chegou na miss Sabe Tudo.
— Como você é idiota, David!
— Parem os dois. Parece que têm dois anos. Por favor! — minha mãe repreende.
Olho para a Daiane e começamos a rir.
— Vocês ainda vão me enlouquecer! — minha mãe fala.
— Mais? — Marcos provoca.
— Não me provoque, Marcos! — ele sorri.
— Pode deixar, cunhadinha. — ele diz e ela finge não escutar.
— Cadê Poliana? — minha mãe pergunta.
— Deve estar a caminho.
— Não acredito que não deu uma carona para ela!
— Mãe, eu não sou chofer de ninguém. Eu tinha que passar no meu apartamento
também.
— Entenda, Paula, ele não pode ficar saindo por aí com outra mulher, ou a porra louca,
deixa ele de castigo. — Marcos provoca.
— Vá à merda! — digo a ele. — Apenas estou tentando ao máximo evitar problemas. Já
tenho o suficiente.
— Faz bem. Não gosto dela. Poliana é uma falsa. Se deixar, ela senta no seu colo e rebola!
— Daiane fala.
— Daiane, tenha modos!
— Só disse a verdade, mãe! Não a suporto, e não sei fingir.
— Estou com a pirralha. Essa daí é cobra vestida de ovelha. Tome cuidado! — Marcos
rebate.
— Não sei porque agem assim. Ela é uma boa moça, um pouco vulgar as vezes e
oferecida, mas é boa moça. Porém jamais desejaria ela para algum dos meus meninos... mas
não escolho, infelizmente.
— Mãe, eu não quero nada, nem com ela e nem com ninguém.
— E a Liziara sabe disso? — Marcos pergunta sorrindo.
— Porra, chega desse assunto. Vamos comer? — Estou irritado.
— Vamos esperar mais um pouco para ver se ela vem. — minha mãe diz. — E cadê a
minha menina?
— Trabalhando. — respondo.
— Estou com saudades dela. Ela anima qualquer um. — não consigo evitar e sorrio.
Minha mãe se levanta sorrindo. Viro para trás.
— Que bom que chegou! — minha mãe diz educadamente.
Poliana está com um vestido preto, justo, de mangas longas, um pouco acima dos
joelhos. E sapatos pretos. Sorrio.
Estou fodido, em tudo sempre terá um pouco da Liziara. O vestido é idêntico ao que eu
dei a ela para irmos a um evento beneficente no mês passado. Porém na minha maluquinha
ficou muito melhor.
— Desculpem a demora. Estava um pouco ocupada.
— Não tem problema! — minha mãe diz.
— Daiane, quanto tempo! — ela se aproxima da Daiane, que agora está de pé e
cumprimenta.
— Pois é. Mas cá estamos nós... de novo... — Daiane diz e bufa. Minha mãe olha feio para
ela.
— Marcos! — Ela cumprimenta, a ele que não emite um som sequer.
— Sente, querida! — minha mãe pede.
Ela se senta ao meu lado.
Daiane cochicha em meu ouvido:
— Acho que alguém está tentando imitar a Liziara. Será que viu a foto de vocês dois no
evento, e quis copiar para te conquistar? — Dou um tapa em sua perna e ela sorri.
— Vou pedir a Dona Jurema que já pode servir. Com licen... Ai está ela! — minha mãe diz
se sentando novamente. — Pode servir, Ju!
— Irei servir, mas antes vim dar um recado. A menina Liziara, ligou... está tentando falar
urgente com o menino David e não consegue.
Viro rapidamente, e com o coração acelerado. Mil coisas ruins passam por minha mente.
— O que ela queria?
— Disse que é para não se preocupar. Não precisa ir buscar ela de manhã, que vai pegar
carona com um amigo chamado Joaquim. Disse que vai ficar sem celular a noite toda, pois
está muito cheio a boate, e caso ligue e ela não atenda este é o motivo.
— Uma porra que ela vai voltar com o Joaquim! Esse bastardo está começando a me
irritar. E que porra, como vai ficar sem celular? E se acontece algo?
— Se acalme, meu filho!
— Quem é ela? Parece alguém muito importe, ficou muito preocupado. — Poliana
pergunta um pouco estranha.
— É a namorada dele que ele não quer assumir que é a namorada dele. Nossa, que
confuso! — Daiane diz.
— Sua namorada?
— Ela não é minha namorada. Daiane não tem o que fazer e fica inventando coisas... Vou
ligar para o Cleber e já venho. Um instante.
— Não pode ser depois? — Poliana indaga.
— Nem tente. Quando se trata dela, ele cancela uma reunião até com a rainha. Não só
ele, como todos nós, pois fazemos de tudo para proteger quem amamos. — Marcos diz
rispidamente enquanto saio da sala.
Ligo para o celular do Cleber, mas só chama. Ligo para a casa dele e depois de alguns
toques, atendem.
— Alô?
— Debi, é o David.
— Você me ama muito... Te vi hoje e já está com saudades? — brinca.
— Viu só. É muito amor! — ela ri. — O Cleber?
— Foi na mãe dele.
— Tem como você tentar falar com ele, e pedir para ele enviar a boate o que seria para
amanhã? É urgente.
— Peço sim. Aconteceu algo?
— Não, e quero evitar que aconteça.
— Vou ligar na minha sogra e falo com ele.
— Obrigado.
— Beijos!
— Beijos... Sonha comigo... — provoco.
— Pode deixar, será um sonho bem erótico!
— Débora! — ela ri.
— Diz o que quer, o ouve o que não quer! Até mais.
— Até.
Desligo.
Retorno e todos me olham.
— Então? — Daiane pergunta.
— Já resolvi. Vamos jantar? — pergunto para mudar de assunto.
Poliana me olha estranhamente e disfarça com um sorriso.
Dona Jurema nos serve. E assim começamos a comer.
— Então, Poliana, veio para ficar mesmo? — pergunto.
— Pelo que parece, sim. Me transferiram para cá com uma oportunidade melhor para
mim. Quero aproveitar.
— Está ficando onde? — Daiane pergunta.
— Em um hotel. Estão pagando até eu arranjar um lugar.
— Não te ofereço um lugar por um tempo, porque só temos um sítio longe, uma casa na
praia; e acredito que vá querer um pouco de privacidade, e não ficar em uma casa
movimentada. — minha mãe diz.
— Sim. Privacidade é ótimo. — ela diz sorrindo.
— A quanto tempo virou policial? — Marcos pergunta.
— Não tem nem um ano. Quando terminei a faculdade, fui fazer cursos.
Marcos concorda e bebe o vinho.
— Fiquei sabendo que o Henrique se casou, e tem até filha. — ela diz.
— Sim. Minha primeira netinha, e menininha da casa. O xodó de todos. A esposa é um
amor, Ana é maravilhosa. Estão casados a dois anos, e a Yasmim completou um aninho
recentemente. — minha mãe diz orgulhosa e sorrio.
— Que maravilha. Quero muito conhecê-las.
— São realmente muito amadas. — Daiane fala. — Agora o projeto é casar o David e o
tio.
— Dispenso! — Eu e Marcos respondemos juntos.
— Entendo-os. Casamento com a vida de vocês é complicado — Poliana diz e me olha,
sorrindo.
— Complicado é, mas não impossível. Vejo pelo Henrique. Casou, tem uma linda filha, e
continua trabalhando. Cuida muito delas e faz de tudo por elas. Sabe conciliar a carreira e a
família. É claro que ambas têm uma imensa proteção. — Daiane diz.
— Concordo com a Pirralha. O problema dos Escobar é apenas encontrar a pessoa certa.
O meu caso, é não querer encontrar a pessoa certa. — Marcos rebate.
— Um dia vai encontrar! — Minha mãe diz. — E vou adorar assistir a cena.
— Pare com isso que fiquei sabendo que suas pragas pegam!
— E como! — digo.
Rimos.
— E você não tem ninguém? — minha mãe pergunta a Poliana.
— Não encontrei a pessoa certa ainda. — ela responde sorrindo.
Tomo um gole do meu vinho.
Terminamos de comer e nos retiramos para a sala. Sento, e a Poliana faz questão de
sentar ao meu lado. Esse grude está começando a me irritar.
— David está te ajudando a treinar? — minha mãe pergunta animada.
— Está sim. E estou melhorando cada vez mais.
— Apenas está pegando rápido o que eu ensino. — digo e sorrio.
Meu celular vibra e é uma mensagem da Beatriz. — Franzo o cenho, estranhando.
— Algum problema? — Marcos pergunta em alerta.
— Beatriz me enviando mensagens.
— A praga sabe atrapalhar uma boa conversar!
Sorrio.
— Não ligue, Poliana. Beatriz é uma amiga da família... e ela e Marcos são como cão e
gato. — minha mãe fala.
Abro a mensagem:

Busque a Liziara na boate, mas não diga que eu disse nada. E lá vai descobrir o que aconteceu. Ela mentiu quando ligou
na sua casa. A boate foi até fechada. Fiquei sabendo agora e não tenho como ir lá; estou presa ainda no trabalho.

— Gente, eu sinto muito, mas tenho um compromisso. Preciso ir.
— Então eu vou aproveitar e já vou. Me dá uma carona? — Poliana pede. Olho
disfarçadamente para o Marcos.
— Eu te levo, Poliana.
Ela parece não gostar muito mas concorda.
Despeço-me de todos.

Estaciono na parte de trás da boate. Vejo o idiota do Joaquim abraçado a Liziara. Ela
parece estar chorando. Quando o filho da puta me vê, dá um beijo em seu rosto, bem próximo
a sua boca.
— Eu vou passar em cima dele com o carro!
Saio do carro, e fecho a porta com força. Liziara se vira assustada, e assim que me vê, se
despede do amigo e vem até a mim, se jogando em meus braços. Abraço-a. O bastardo fica
olhando irritado, e logo entra na boate.
— O que houve, amor? — pergunto a ela.
— Nada, apenas queria um abraço seu.
Sei que está mentindo.
— Entra no carro.
Ela se afasta e entra no carro. Faço o mesmo. Colocamos o cinto. Ela disfarça e enxuga o
olho.
— O que aconteceu? — pergunto colocando a mão em sua perna.
— Só vamos embora daqui. Depois eu falo, eu prometo.
— Está bem.
Ligo o carro.


Chegamos em meu apartamento. Ela vai direto para o quarto, onde retira, os saltos e se
deita na cama.
Ela cobre o rosto com as mãos e começa a chorar.
Eu me aproximo dela e a puxo para mim.
— Hey, o que houve? Se não me contar, não posso ajudar.
Ela começa a se acalmar e se senta na cama, virada para mim.
— Hoje tinha DJ novo, estava lotado. Estava tudo normal, mas do nada, eu vi que
começou uma movimentação estranha. Os seguranças começaram a correr de um lado para o
outro. Começou um bochicho que era briga, e até ai não me importei. Do nada, chegou um
cara todo estranho encapuzado e armado, e simplesmente veio na minha direção. Não que eu
quisesse que fosse em outra pessoa, mas é como se ele tivesse um único objetivo, e esse
objetivo fosse eu. Ele começou a gritar que se chamassem a polícia seria pior. Quando vi, ele
estava me segurando... Eu não tive ação nenhuma. Eu fiquei estática. Não conseguia fazer
nada. Ele pegou meu celular e todo dinheiro do caixa. Quando tentei enfim, me soltar, porque
ele estava me machucando, ele simplesmente cochichou no meu ouvido que isso só seria o
começo, que ele não foi ali para roubar, mas todos tinham que pensar isso. E aí atirou perto
do meu pé, jogou meu celular no chão e sumiu.
Sinto meu sangue ferver. Foi aquele filho da puta!
Puxo ela para mim.
— Me desculpa. Foi culpa minha. Esse desgraçado não queria você. Ele quer atingir a
mim.
— Eu não fiz nada. Eu entrei em pânico. Nada do que você vem me ensinando eu
consegui fazer. Parecia uma mocinha indefesa.
— Amor, você fez bem em não fazer nada. Poderia ter sido pior.
— Eu me senti um lixo, sem função alguma!
— Liziara, você não é um lixo... é normal o que aconteceu. Eu vou matar esse filho da
puta!
— Não faça nada, não hoje. Só fique comigo.
— Ficarei. Eu prometo que não vou deixar mais nada te acontecer. Eu prometo.
— Estou com medo.
— Não se preocupe. Esqueça isso. Você está nervosa. Vá tomar um banho, você tem que
descansar.
Ela concorda e se levanta, indo ao banheiro.
Quando ela entra no banheiro ligo para o Marcos.
— O que houve? — ele já pergunta.
— Aquele filho da puta mexeu com a pessoa errada. Vai ser do nosso jeito agora. Fodam-
se as leis. Eu quero esse filho da puta morto!
— Estava me perguntando quando diria isso. Quando começamos a agir do nosso jeito?
— Amanhã. Avise Daiane... menos ao Henrique, ele precisa descansar.
— Pode deixar. Até amanhã.
— Passo no seu escritório.
— Ficarei no aguardo.
— Até.
Desligo.
Entro no banheiro e vejo o sutiã que dei a ela no chão.
Abro o box, e ela está apenas com a calcinha do conjunto do sutiã. Está lavando os
cabelos.
— Achei que eu tinha dado um aviso sobre essa lingerie. Eu não acredito que
descumpriu uma ordem de um delegado!
— David! — ela grita assustada.
Tiro os sapatos e a roupa sob seu olhar.
Entro no box e ela caminha, e acaba encostando na parede. Massageio meu pau, ereto.
— Acho que alguém será presa por não cumprir minha ordem.
— David...
Puxo a com força para mim e invado sua boca com brutalidade. Desço minhas mãos e
puxo sua calcinha com força, rasgando-a, e assim jogo no chão. Empurro-a para parede com
força, pego-a no colo, e ela enrola as pernas ao meu redor, sem desgrudar nossas bocas. Eu me
encaixo em sua entrada e a penetro com força. Afasto minha boca da sua a tempo de escutar
seu grito rouco sair.
Ela enrosca os braços ao redor do meu pescoço.
— Nunca... mais... descumpra... uma... ordem... minha... — digo a cada vez que a penetro
com força.
Ela geme. Alguns fios molhados de seus cabelos, caem em seu rosto, de uma forma sexy.
Beijo seu pescoço e dou leves mordidas. Suas unhas cravam em minha pele, me deixando
mais louco ainda.
Ela joga a cabeça para o lado. Abocanho um de seus seios, e sugo com força, arrancando
um grito de prazer seu. Eu me afasto um pouco, tendo visão de seu clitóris. Começo a
massageá-lo, sem interromper minhas estocadas. Ela geme alto. Uma de suas mãos puxam
meu cabelo, e solto um grunhindo de prazer.
Penetro-a sem parar. Ela grita meu nome. Cada vez mais fico excitado. Seus seios
chacoalham a cada estocada que dou. A água do chuveiro deixa meu pau deslizar com mais
facilidade ainda.
Ela começa a se desmanchar, gozando. Penetro-a mais algumas vezes, e gozo
fortemente chamando por seu nome.
Ela deita a cabeça em meu ombro. Está fraca.
— Preciso te desobedecer mais vezes.
— Safada! — ela sorri.

Capítulo 5

Liziara Araújo

Acordei sem o David na cama. Ele apenas deixou um bilhete, dizendo que tinha que se
encontrar com o Marcos e a irmã. Por mim, eu passaria o resto do dia na cama, mas tenho
coisas para fazer.
Levanto, e prendo o cabelo.
Entro no banheiro e paro em frente ao espelho. Estou com cara de quem passou a noite
na balada. Eu me aproximo do espelho para olhar uma pequena manchinha no meu pescoço.
— Filho da puta, ele fez de propósito. Eu não acredito que o David me deixou um
chupão! Pequeno, mas deixou! Ele sabe que odeio isso.
Estou me sentindo no início da faculdade vendo isso, quando eu simplesmente queria
saber de sair cada semana com um cara diferente, e eu sempre aparecia com marcas. Acho
que é por isso que odeio que me marquem. Foi uma época difícil. Eu tinha 18 anos, meus pais
me obrigaram a entrar para a faculdade, e eu, como sempre, só queria ter atenção deles, e
fazia de tudo para ter. Foi desta forma ridícula que conheci a Beatriz.
— Esqueça essa época! — Chacoalho a cabeça.
Escovo os dentes e me maquio, aproveitando para esconder a marca do David.
Eu me arrumo, e peço um taxi para ir buscar meu carro na revisão.


Chego no apartamento, depois de um trânsito dos infernos. Mal peguei o carro e já estou
pirando novamente.
Bia aparece na sala calçando os sapatos.
— Acho que alguém se atrasou. — digo.
— Nem me fale. Virei a noite adiantando coisas do trabalho e me lasquei.
Ela termina de calçar os sapatos.
— Merda, minha bolsa! — ela sai correndo pelo corredor.
— Os vizinhos debaixo devem amar quando você se atrasa e sai correndo de salto! —
brinco.
Vou para o meu quarto e separo uma roupa. Hoje vou até a dona Paula ver como ela está,
e ir à casa dos meus pais. Preciso pegar meu notebook que esqueci lá.
Bia entra no meu quarto e pergunta:
— Como estou?
— Depende.
— Depende o que?
— Se for para uma reunião, está sexy sem ser vulgar. Se for para conquistar um cara,
está com cara de quem quer ser pedida em casamento.
— Idiota! Tem reunião hoje com o dono da faculdade, e depois um almoço.
— Está gata.
— Ótimo.
Ela está saindo quando diz:
— Na próxima vez pede para o David não marcar tanto. Está pequeno, mas está visível.
— Começa a rir. — E se não foi o David, quero ver a explicação que vai dar para ele. —
provoca.
Eu vou matar o David!
Se não fosse ele, eu não teria que explicar nada, afinal não temos nada sério.
Vou para o banheiro e tomo um banho. Estou exausta e suada.


Chego a casa da Dona Paula, e dou sorte por ela já estar aqui antes do almoço.
Ela está no quarto dela, sentada na cama, enquanto mexe em alguns papeis.
— Será que alguém tem um tempinho?
Ela me olha e sorri.
— Meu amor! — Ela se levanta. Entro no quarto e a abraço.
Nós nos afastamos. Fecho a porta.
— Sente-se.
Sentamos.
— Estava preocupada. Não veio nem ao jantar em casa.
— Que jantar?
— Fiz um jantar. Veio Marcos, e Poliana, uma amiga antiga do David. Daiane também
estava, por incrível que pareça. Minha filha mora comigo, e a vejo menos do que meus filhos e
cunhado, que não moram aqui.
— Ontem foi esse jantar... Por isso dona Jurema disse que ele estava aqui, e um pouco
ocupado.
— Foi sim. Ele não te falou?
— Não. O David anda bastante misterioso ultimamente.
— Deve ter esquecido. Ele estava bem distante ontem. Esse Jorge reapareceu para
tornar a vida dele um inferno.
— Sim. É o Jorge... — digo, talvez para convencer a mim mesma.
— Você parece triste também. Vocês dois brigaram?
— Não. Estamos bem... eu acho.
— O que houve, minha menina?
Sorrio.
Dona Paula tem sido uma mãe para mim. Ela me conhece tão bem que não consigo
esconder nada dela.
— O David está diferente. Ele parece distante mesmo estando comigo... É complicado.
— Não é complicado, vocês jovens que complicam. Você o ama, mais do que um grande
amigo. E ele sabe disso, só não quer acreditar. Sei que não vai dizer, pois te conheço bem, mas
Poliana não é nada mais que uma velha amiga. David nunca teria nada com ela. Eu conheço
meus filhos, cada um deles, perfeitamente. Eles acham que me enganam, mas não conseguem.
Sorrimos.
— Estou fazendo um processo de desapaixonar do David. Será que consigo? — ela ri.
— Duvido. Um vive grudado ao outro.
— Nem tanto. Como disse, ele anda distante.
— David foge quando se trata de sentimentos. Parece que não aprendeu ainda. — sorri
— Ele é igual ao pai neste aspecto. Joseph era um homem amoroso, mas quando tinha que
demostrar sentimentos, preferia ser com ações do que com palavras. Se tivesse que dizer...
Meu Deus, fugia como o diabo foge da cruz. — rimos. — Ele é o mais parecido com o pai neste
aspecto. Talvez seja por isso que foi o que mais sofreu quando recebemos a notícia que
Joseph havia sido morto em um arrastão no meio do transito. — Noto a tristeza em seu olhar.
— Não pense que ele demonstrou o quanto sofreu. Sofria calado. Sumiu por um tempo em
uma longa viagem. Quase não mantinha contato. Porque ele sempre foi assim. Se ele tiver que
dizer que te ama, ou se jogar da ponte, ele fica com a segunda opção.
Rimos.
— Ele é difícil, mas o entendo. Eu fui a culpada, por me apaixonar por ele. Eu sempre
soube que ele jamais iria ter um relacionamento sério... pelo menos comigo.
— Porque diz isso, querida?
— Porque o David tem 35 anos, eu tenho 22. Claro que idade não muda nada, mas
enquanto ele quer saber de caçar um bandido, eu quero saber de ir para uma balada. Nem a
faculdade terminei porque sou indecisa, e não sei se é o que eu quero. Sou toda desastrada,
maluca. É difícil. Ele é um delegado, e eu a filha odiada pelos pais ricos. Ele é um Escobar e eu
sou uma Araújo. São tantos empecilhos, que eu poderia passar o dia todo falando.
— Deixe disso! Nunca ouviu dizer que os opostos se atraem? Se dissesse que está
apaixonada pelo Marcos, eu até acreditaria que seria um pouco difícil. Mas o David é meu filho
mais extrovertido depois do Henrique. Não é o que mais demonstra carinho, mas é as vezes o
mais responsável. — sorri — E ser um Escobar ou ser delegado não quer dizer nada. Quando
conheci Joseph, eu trabalhava na biblioteca da faculdade para poder estudar nela. Era uma
simples Paula Assis, e isso nunca foi empecilho. Joseph me amou do jeito que eu era, nos
casamos, tivemos três filhos, e sempre acreditamos ter controle sobre eles, e vivemos muito
felizes até seu último momento.
Segura minha mão e sorri.
— Será melhor desapaixonar. Vou até fazer uma listinha de passo a passo. — ela sorri.
— Se conseguir, me avisa!
— Claro! — rimos.
A porta se abre nos assustando.
— As duas das mulheres da minha vida reunidas, devo me preocupar? — sorrio.
— Estava dizendo para sua mãe como irei cortar suas bolas, depois do que fez! —
Aponto para a marca no meu pescoço.
— Liziara! — Paula diz.
— Só ficou aí? Merda! Não fiz direito.
— David! — Paula o repreende.
— Sim, minha rainha?
— Você e a Liziara não tem jeito!
— Eu tenho sim! — digo.
— Melhor eu voltar ao trabalho depois dessa! — David fala.
Rimos.
— Fica para almoçar? — Paula me pergunta.
— Bem que eu queria, mas tenho que pegar uma coisa na casa dos meus pais. E depois
quero descansar, porque hoje à noite tenho que trabalhar.
— Que pena! Mas apareça mais, ou irei te dar uns puxões na orelha! — Sorrio e dou um
beijo nela.
— Vou indo.
Passo pelo David, que me olha e ergue uma sobrancelha.
— Não esqueceu de nada, Liziara? — ele pergunta e Paula ri.
— Não. — respondo.
Saio, e sei que o David me segue.
— Não preciso de escolta policial! — provoco.
Ele me puxa, me virando para si.
— Esqueceu disso!
Ele ataca minha boca. Sua língua procura pela minha com intensidade. Suas mãos vão
para minha cintura. Sinto sua ereção pulsar.
Eu me afasto, empurrando-o.
— O que foi?! — pergunta aborrecido.
— Você nem se quer me disse sobre o jantar ontem aqui. E me deixou um chupão no
pescoço sabendo que odeio isso.
— Lizi, por favor, não vamos brigar.
— Não estou brigando. Só tentando entender porque anda me escondendo as coisas.
Primeiro me escondeu que o Jorge está por aqui. Depois que Poliana é uma amiga antiga. Aí
me esconde sobre o jantar, e agora me deixa com um chupão. O que está acontecendo?
— Me perdoa por não avisar sobre o jantar. Eu nem queria vir. Foi insuportável! Mas
larguei todos, para ir até você. Não falei sobre o Jorge para não te preocupar no trabalho. Eu
sempre faço tudo pensando no melhor para você. E o chupão é apenas um aviso para aquele
idiota bastardo do Joaquim.
— Que aviso? Você está testando drogas?
— Que a próxima vez que ele tiver um dedo em você, será um cara morto!
— Ah... agora eu entendi. Você pode sair com várias por aí, e conviver com uma policial
que é amiga antiga de faculdade, mas eu tenho que ficar livre para você me usar e descartar
sempre que quer? E aí, como um ato machista, me marca? Vá para a merda!
Entro no carro, irritada. Ele me chama, mas não respondo.
Vou para casa dos meus pais, e agradeço por eles não estarem. Pego rapidamente meu
notebook e vou para casa.

David Escobar

Dias Depois...

Não vejo a Liziara a dias, e não tenho uma pista sequer sobre o paradeiro do Jorge.
Estou enlouquecendo.
Meu tio e Daiane estão me ajudando na procura daquele imbecil, mas está difícil… é
como procurar uma agulha no palheiro. Cleber também tem feito de tudo, mas não posso
arriscar muito com ele, porque não quero que ele se prejudique fazendo algo fora da lei. É
meu melhor amigo, mas não posso arriscar tanto.
Poliana não desgruda de mim, e tendo que treiná-la, prejudica mais ainda meu tempo.
Sei que a Liziara deve estar pirando comigo, porque nem tempo de pegar no meu celular
ando tendo. Está foda a situação, e não sei mais para onde correr ou o que fazer.
Entro na minha sala. Paulo ainda está trabalhando.
— Ainda aqui? Pode ir já.
— Estou finalizando umas coisas. E você, já não era para ter ido?
— Não quando tem um filho da puta à solta. — Ele sorri e volta a digitar no computador.
— Essa sua cara não parece ser apenas por isso.
— Estou com muitos problemas.
— A Poliana veio te procurar. Disse que iria para a sala de treino.
Caminho até minha mesa e sento na minha cadeira.
— Ela anda trazendo muitos problemas pelo visto.
— Por que?
— Sua cara quando eu falei sobre ela.
— É foda, Paulo. Desde que ela apareceu e o Jorge fugiu, tudo começou a ficar cansativo.
— Parece que não só para você. Cleber também não estava com uma cara boa.
— Sabe de algo? — pergunto preocupado.
— Ele estava vendo uns papeis aqui na sala, e eu tive que sair para resolver umas coisas,
e quando sai, Poliana entrou trazendo uns papeis. Mas a esposa do Cleber chegou na hora, que
ele ajudava Poliana que derrubou umas pastas que estavam em cima da mesa... Os dois
sozinhos...
— Foda.
— E como. Encontrei ele e a esposa na sala quando cheguei, e ela saiu bem brava daqui.
Aí ele me contou o que aconteceu.
— Débora não a suporta… e nunca conviveram juntas.
— Estou com a esposa do Cleber. Não suporto a Poliana. Acho ela muito vulgar,
oferecida. E me desculpa, mas ela é louca por você. Essa daí é perigosa, fique de olho.
Alguém bate na porta.
— David? — É a Poliana.
Olho para o Paulo.
— Eu não estou! — cochicho para ele.
Levanto rapidamente e entro no banheiro.
Espero uns minutos até que Paulo diz que já posso sair.
— Porra, vivi para ver você fugir de mulher!
Rio.
— Hoje não estou com cabeça para nada.
Olho no relógio e são nove horas da noite.
— Estou saindo, não volto hoje. — digo a ele.
— Oh vida boa! — brinca.
— Nem tanto!
Vou para meu apartamento. Tomo um banho, me troco e saio.


Estaciono o carro em frente à boate. Preciso ver minha maluquinha. Está lotado. Tem
um banner dizendo que tem DJ novo.
Vasculho para ver onde irei estacionar, mas meus olhos param na cena a poucos metrôs
de mim.
Liziara e Joaquim se beijando.
Sinto uma raiva me dominar de uma forma que nunca senti. Aperto o volante com raiva.
Dou partida no carro e saio dali.
Vou para delegacia, mas só percebo que cheguei lá quando estaciono o carro. Estou com
tanta raiva que sequer percebi para onde ia.
Saio do carro e fecho a porta. Olho para o carro na frente do meu e vejo ser do Cleber.
Entro na delegacia. Passo por alguns policiais, mas devo estar com uma cara péssima,
porque me olham assustados. Entro na minha sala e dou de cara com o Cleber.
— Nossa, já matou ou vai matar alguém?
— Estou me segurando para não matar! Porra!
Dou um chute na mesa, e a mesma se afasta derrubando algumas coisas que estavam de
pé.
— O que a mesa te fez? — brinca.
— Ela nada. Mas o que eu vou fazer… tenho inúmeras possibilidades.
— Hey... Se acalma. O que aconteceu?
— Tudo anda acontecendo! É sempre problemas atrás de problemas!
— David, você precisa relaxar antes que faça uma merda!
— O que faz por aqui? — Ignoro o que ele fala.
— Vim pegar meu celular que tinha esquecido.
— Vai sair hoje?
— Não.
— Vamos para uma boate? Vou ligar para o Marcos e minha irmã. Preciso me distrair, ou
vou fazer uma grande merda.
— Vamos sim. Vou falar com a Débora. Me diz qual boate, que a gente se encontra lá.
— A que a Liziara trabalha.
— OK. Fui, e te acalma, porra!
Ele sai.
Ligo para o Marcos e Daiane. Meu tio diz que vai; já Daiane, nem consigo falar com ela.
Essa menina anda sumindo demais. Se eu sonhar que tem homem envolvido nessa porra,
tranco ela em uma cela pelo resto da vida.
Chego na boate, e por incrível que pareça, junto com todos.
Estacionamos e descemos dos carros.
— Só pode ser piada. Me ama mesmo hein, patrão! Desapega. — Débora brinca. — Hoje
era minha folga e ficou com saudades.
Sorrio.
— Ainda vou te demitir! — Marcos diz sorrindo e cumprimenta.
— Ótimo. Mais distancia da minha mulher! — Cleber diz, puxando a esposa e colocando
o braço ao redor da cintura dela.
Rio.
— Relaxa. É linda, gostosa, mas quero distância! — Marcos provoca.
— Está querendo morrer, porra? — Cleber pergunta irritado.
— Que sexy. Dois homens lindos brigando por mim! — Débora brinca.
— Eu estou aqui, gente, deixem de ser românticos. — brinco.
— Eu vi… Estou velho, mas não cego! — Marcos fala.
— Vamos entrar ou não? — Cleber pergunta.
— Agora! — respondo.
Entramos na boate e fomos para a área VIP.
— É folga da Liziara? — Marcos pergunta.
— Não sei dela.
— Agora sei o motivo da mesa ter sido chutada. — Cleber provoca.
— Brigaram. Ela está trabalhando hoje, e você veio aqui para provocá-la. — Débora fala.
— Débora! — Cleber a repreende.
— Oi, meu amor. — ela diz sorrindo.
— Não vim provocar ninguém. Apenas vim aqui porque é a mais próxima, e preciso me
distrair.
— Vixi, a coisa foi feia. Se tivesse tido aulas comigo, não estaria assim. — Marcos diz
sorrindo.
— Cala a boca, porra!
— Me respeita, sobrinho! — provoca.
— Melhor pedir bebidas! — Débora diz.

Liziara Araújo

Estou querendo matar o Joaquim. Como aquele filho da puta foi capaz de me agarra e me
beijar?
Acertei um tapa na cara dele, e só não fiz mais porque eu tinha que entrar para
trabalhar. Esse imbecil foi longe demais!
Beatriz encosta no balcão.
— Com essa cara vai espantar os clientes. — ela brinca.
— Eu quero espantar a praga que trabalha comigo!
— Essa cara não é apenas porque o Joaquim foi um idiota. Você e o David não se veem
há dias. O que aconteceu?
Preparo as bebidas dos pedidos.
— Ele é outro filho da puta. Vive mentindo para mim desde que aquela idiota da amiga
dele apareceu. Nem sequer me liga, e quando eu ligo da caixa postal. Se ligo na delegacia, ele
está treinando aquela mulher; e se ligo na dona Paula, aquela vadia está lá. Porra, estou
pirando. Ele me largou assim que “carne” nova apareceu.
— Lizi, não fica assim...
— Eu estou puta de raiva dele. Estou cansada de ser apenas uma foda para quando ele
não tem nenhuma mulher para se colocar entre as pernas.
Termino as bebidas e entrego as pessoas que pediram.
Joaquim anota mais pedidos e me passa.
— Acho melhor segurar a raiva. Olha quem está na área VIP, e olha quem acaba de
encostar no balcão.
Olho para a área VIP e vejo David, Marcos, Débora e Cleber. Olho para onde o Joaquim
atende, e vejo uma loira muito linda. Poliana!
— É mais bonita que na internet!
— Beatriz!
— Amiga, sinceridade sempre!
— Foda... Mil vezes foda!
Eu me afasto do balcão e entro no estoque.
— O que foi? Que cara é essa, menina! — Daniel pergunta.
— Tem um imbecil no balcão com uma vaca. E na área VIP um filho da puta!
— Nossa! Vai com calma, gata! Tamires chegou e Luciana também. Elas vão te cobrir
agora. Pode ir embora.
— Não...
— Liziara, você trabalhou todos os dias. Pedi que apenas viesse hoje até que as meninas
chegassem. Vá embora ou vá curtir a noite. Se ficar é por conta da casa!
— Te amo, sabia?
— Eu sei, sou muito amado! — Dou um beijo nele.
Vou para o banheiro dos funcionários. Tiro o avental e pego minha bolsa.
Saio e encontro a Beatriz ainda no balcão.
— Liberada?
— Sim.
— Vamos curtir a noite?
— Sim, mas em outro lugar.
— Nem pensar. Aqui! Mostre para a loira e para o David que você pode mais!
— Será?
— Sim.
— Certo. Então vá estudar a área primeiro.
— Eu o que?
— Suba lá, finja que vai falar com alguém e retorne.
— Nem pensar. Com o Marcos lá, eu não vou!
— OK, iremos juntas. Vamos fingir que nem o vimos. Tem uma mesa vaga lá. Vamos!
— Estou me arrependendo da ideia de ficar aqui.
— Agora já era. Vamos logo, mulher!
Subimos para a área VIP. Controlo ao máximo para não olhar a mesa deles.
— Estão olhando?
— Não sei, porra. Eu não vou olhar! — Bia diz.
— OK, você é boa em fazer “a que não viu”… olhe lá.
Ela o faz enquanto caminhamos para a mesa. Finjo estar falando algo com ela.
— Estão olhando. David não tira os olhos de você, e a Poliana dele. Marcos está de
costas.
— Ótimo.
Tropeço e Beatriz me segura.
— Liziara! — ela diz.
— Foi mal, esses saltos são muito altos.
— Liziara! — Escuto a voz da Débora.
Não tenho mais como fingir. Olho para eles e finjo estar surpresa.
Eu me aproximo da mesa, junto com a Beatriz.
— Se junte a nós! — Débora diz.
— Que coincidência. — digo.
— Sério? — Marcos diz ironicamente.
Cumprimento a todos, até a Poliana, menos ao David. Beatriz cumprimenta a todos,
menos o Marcos.
“Isso não vai ser bom!”
Cleber puxa duas cadeiras, uma ao lado do Marcos e uma ao lado do David. Eu me sento
ao lado do Marcos, e a Beatriz ao lado do David, ficando de frente para o Marcos.
— Vou apresentar, já que ninguém fez. Poliana estás são Liziara e Beatriz. E meninas,
essa é Poliana, nova policial da delegacia, e que por pura coincidência, nos encontrou aqui. —
Cleber diz.
— Prazer, meninas. — Ela diz sorrindo.
— Prazer! — eu e a Bia dizemos juntas.
David me olha, e sei que está com raiva de algo. Eu o conheço bem, e sua cara entrega
isso.
— Pensei que trabalhava hoje. — Marcos diz.
— Apenas tinha que ficar até que as outras meninas chegassem.
— Trabalha aqui? — Poliana pergunta.
— Sim. — respondo apenas.
— Liziara é a namorada do David. — Débora diz, e Cleber se engasga com a bebida.
— Eu não sou namorada dele, apenas somos conhecidos. — David ergue a sobrancelha
esquerda e aperta firme o copo.
— Já ouvi falar sobre você no jantar na casa da dona Paula. — ela diz.
— Que bom. — respondo.
— E você, Poliana… gostando do trabalho por aqui? — Beatriz questiona.
— Sim. Estou amando. Trabalhar com David é excelente. — Ela coloca a mão no braço
dele.
— Isso não vai ser bom. — Marcos fala.
— Perdão? — Poliana fala.
— Nada não. — Marcos responde.
Todos começam a conversar e participo, porém David não se dirige a mim. Poliana fica o
tempo todo passando a mão no David, e ele não faz nada, parece gostar. Isso está me irritando
profundamente. Eu me sinto sobrando aqui.
— Gente, o papo está ótimo, mas eu vou dançar. A Beatriz estava louca por isso.
— Estava? É, estava! — ela diz.
— Então vamos todos! — Débora fala.
— Concordo. — David rebate. — Vamos, Poliana?
Filho da puta, eu vou matá-lo!
— Claro, David. — ela diz, toda se insinuando. Está com um vestido bem curto e justo. E
para meu azar tem um belo corpo.
— Eu não irei. — Marcos fala.
— E por que não? Pare de ser rabugento! — Débora fala, fazendo todos rir.
— Apenas não quero dançar agora. Some daqui, loira! — brinca.
Estamos todos saindo quando ele chama por Beatriz.
— Fala! — ela diz sem se virar. Todos olham para ele.
— Fique.
— Não.
— Fique! — diz autoritário.
— Por que? — ela indaga irritada.
Ele se levanta, e olha para ela cruzando os braços.
— Se eu disser, não vai ser bom.
— Ficarei, mas você tem um minuto!
— Bia, se quiser, eu fico... — Não quero dançar mais, não com o David junto a sua amiga.
— Pode ir, porra louca. Sua amiga estará viva quando voltar. — ele diz.
— Vamos, Lizi! — Cleber fala.
— OK. Qualquer coisa é só gritar. — digo a ela sorrindo e dou uma piscadela.
Começamos a descer, mas a Débora fica olhando.
— Amor, vamos! — Cleber diz.
— Eu quero ver isso. Eu sempre escutei ele falar dela com tanta raiva, mas não parece
ter raiva dela. Olha o olhar de quem vai devorá-la.
— Amor, por favor! — Cleber insiste.
— OK, vamos! Depois faço ele me contar tudo.
Descemos e fomos para a pista de dança. O povo vai à loucura.
OMI - Cheerleader (Felix Jaehn Remix), começa a tocar. O DJ realmente é bom.
Começamos a dançar animadamente. Cleber, eu e Débora, dançamos juntos, enquanto
David dança juntamente, bem colado, com a Poliana. Não acredito na cena que vejo. Sinto um
embrulho no estômago só de ver.
Eu me afasto. Esbarro em algumas pessoas. Subo correndo para a área VIP, que está um
pouco vazia agora.
— Merda! — digo ao ver a cena.
Marcos segurando a Beatriz pela cintura, e quase a beijando. Mas param com meu
“merda”.
— Acho que interrompi algo...
— Você é foda! — Marcos diz.
— Desculpa, eu vim pegar minha bolsa que acabei esquecendo aqui.
— Já vai? — Beatriz pergunta um pouco nervosa.
— Vou sim.
— Vamos!


Chegamos em casa.

Sento no sofá.
— Está mal. O que houve dessa vez?
— Nada, Bia. Mas foi surpreendente ver você com o Marcos.
— Você me salvou! Aquele homem sabe como hipnotizar uma mulher. Vou tomar um
banho, para tirar o cheiro dele de mim. Arg!
Entra no corredor.
Tiro os saltos, e não consigo mais segurar. Começo a chorar.
O Joaquim estava certo quando disse tudo aquilo sobre o David. Eu sempre fui uma
idiota. Foi só aparecer outra mulher e ele me esqueceu. Fui uma burra! Beatriz tinha razão
quando dizia para mim que os Escobar são para foder o juízo, e não de um bom jeito. Eu não
consigo me desapaixonar. Estou ferrada. Eu estou mais que apaixonada por ele… eu estou
amando. Eu jamais devia ter dado continuidade a essa loucura depois do dia que ele foi até o
evento da universidade junto ao irmão e o tio para coletar coisas e ajudar a Ana Louise,
esposa do Henrique.
A campainha toca, seguida de batidas na porta.
— Liziara, abre essa porta. Sei que já está aí. — David grita.
— Vai embora daqui!
— Se não abrir, eu a coloco abaixo. Abre logo, porra!
Abro a porta. Ele está nervoso, seu olhar entrega.
— Vai embora, por favor!
— A gente precisa conversar.
— Sobre o que? Como fui idiota? Ou como é bom estar com sua amiga Poliana? Ah, já sei!
Falar sobre tudo isso, e que nada mais pode acontecer entre a gente.
— Você quer o que? Enquanto estou trabalhando que nem louco, você está aos beijos
com o Joaquim. E agora quer falar da Poliana? Nosso trato sempre foi nada de
relacionamento, então não me venha falar sobre Poliana, ou a porra que for.
— Ah... então você viu ele me beijar. Pena que não ficou para ver eu acertar um tapa na
cara daquele outro idiota! E sim, nosso trato foi este, mas eu me apaixonei por você. Vai me
prender por isso? Vamos lá, me condene, porra! Eu suportei tudo, mas suas mentiras e sua
aproximação com essa Poliana foi demais para mim. Posso não ser uma policial, ter um
corpão ou saber lidar com um bandido, mas tenho consciência de quando sou feita de idiota!
E tem mais, se não posso falar de quem quer que esteja com você, não venha falar de qualquer
homem que esteja comigo. Direito iguais, querido! — grito.
— Eu nunca te fiz de idiota! Se você se apaixonou por mim, a culpa foi extremamente
sua!
— Veja só, concordamos com algo. — respondo na ironia. — O seu problema é que não
sabe se contentar apenas com uma, tem que ter várias. Passei dois anos sem ter ninguém
além de você, e nunca te exigi o mesmo. E se tivesse saindo com alguém, não precisaria ficar
me esfregando com ele na sua frente! Uma pessoa me disse que eu estava largando minha
vida por você, e eu realmente fiz isso e maldita a hora que fiz.
— Está querendo jogar as coisas na minha cara? Ótimo, vamos então colocar tudo em
pratos limpos. Eu nunca te pedi para não ficar com mais ninguém. Também nunca mandei
largar nada por mim. Se ficou comigo e largou tudo foi porque quis! Deixa de ser uma vez na
sua vida uma menina, e seja uma mulher e assume suas atitudes.
— Que? Eu não ouvi isso. É essa menina aqui que te fazia implorar por sexo. Essa
menina, que te acalmou quando ninguém mais podia. E essa menina, que te entendia quando
ninguém era capaz. — Limpo as lagrimas com as mãos — E é essa menina que te manda
sumir daqui neste momento, e sumir para sempre. E te aconselha que uma vez na vida, pare
de usar essa máscara de delegado Escobar, e mostre que não passa de um moleque!
Bato a porta com força e tranco.
— Liziara! — ele grita e soca a porta.
Beatriz aparece de toalha e com espuma no corpo.
— O que está acontecendo?
Não consigo dizer. Apenas choro.
Ela abre a porta.
— David!
Ele olha para ela de toalha, e ela fica ruborizada.
— Queremos dormir! — um vizinho grita.
— Vá embora, David. — ela diz.
— Eu não vou. Preciso terminar minha conversa com a Liziara!
— Você está alterado, bebeu. Vai embora. Amanhã vocês conversam. É tarde. Os
vizinhos estão reclamando. Por favor.
Ele me olha.
— Isso não acabou.
— Acabou sim, e a tempos, apenas você não viu. — digo a ele.
— Eu vou voltar!
— Tchau, David! — Beatriz diz.
Ele se afasta e ela fecha a porta.
— Eu nunca mais quero ver esse filho da puta! — grito de ódio.
Ela vem até a mim e me abraça, me molhando toda.
— Amiga, vai passar. Vocês vão se entender.
— Nunca brigamos assim. Ferimos um ao outro demais hoje. Não tem perdão. David foi
ao limite.
— Shiu... Vou terminar meu banho. Vá tomar banho, e depois iremos assistir algum
filme e comer besteiras. E amanhã será um novo dia.
— Um péssimo dia, pelo visto.


Capítulo 6

Liziara Araújo

Faz dias que não vejo o David, e não tenho a mínima vontade de ver. Ele me magoou
muito. Foda-se se fui idiota, ciumenta, burra. Não importa. Ele não tinha o direito de me dizer
tantas merdas como fez!
Sei pela mídia notícias dele e da família dele; e não porque eu fico procurando, mas
porque calha de eu encontrar acessando sites, redes sociais, essas coisas. O canalha ainda
deixou nossa foto juntos no whatsapp. Sei também que já foi a dois eventos com a tal da
Poliana. A família dele estava junto, mas mesmo assim isso me deixa com raiva. Ele poderia
tanto ser como o irmão dele, Henrique, um homem amoroso, que sabe demonstrar isso. Ana
Louise foi uma mulher de sorte, e fico feliz por ela ter um Henrique em sua vida. Já eu sou
cagada no amor, família e amizade. Bem, minha amizade com a Beatriz continua boa, e espero
que dure muito, porque perder ela também seria demais para mim.
Mas o que me deixa mais puta de raiva é ver tantos elogios que o David faz a Poliana na
TV e jornais quando são entrevistados sobre o caso do Jorge; e por sinal, o filho da puta ainda
não apareceu. E para minha tristeza, a policial intrometida está ajudando no caso e recebendo
treinos do David. Ela é linda também, com um corpo de dar inveja, e parece ser boa no que faz.
Tudo oposto de mim. Merda, estou na fossa mesmo, me lamentando e me rebaixando. Acorde
Liziara, você é forte e nunca precisou ficar assim, e não vai ficar agora.
Fico assistindo a série Arrow, ao mesmo tempo que leio No mundo da Luna, da Carina
Rissi. Sim, eu consigo fazer as duas coisas ao mesmo tempo.
A porta da sala se abre.
— Se estiver ainda na fossa, eu me jogo da sacada! — Beatriz diz se jogando no sofá ao
lado.
— Estou muito bem. Lendo e assistindo séries.
— Você não sai de casa mais!
— Saio para trabalhar.
— Isso não conta, Liziara. Ele vive te ligando, e tentando contato...
Sim, ele vive fazendo isso, mas em nenhum momento veio realmente atrás de mim.
Nada se resolve por telefone.
— Problema dele. Eu tenho mais o que fazer.
— Eu sempre disse que os Escobar são para foder o juízo, e não é no bom sentido.
— Estou bem, Bia. Relaxa.
— Sua mãe não te procurou mais? — ela muda de assunto.
— Não, desde o almoço desastroso.
— Amiga, se benze, reza, ora, chama o Papa, mas faça algo para tirar a nuvem negra de
cima de você. — ela ri.
— Palhaça. Como eu sofro! — digo dramatizada.
— Atriz P, você precisa reagir. Não dá para ficar vendo ele bem, e você fingindo estar.
— Atriz P? — franzo o cenho.
— Você tem uma cara de atriz pornô quando está de óculos.
— Beatriz!
Ela ri.
— Sou sincera, meu amor! Vou tomar banho e comer. Hoje foi difícil o dia.
— Não me diga que aquele reitor idiota fez algo!
— Relaxa.
— Bia, tome cuidado. Ele cerca muito você.
— Eu preciso do emprego, e se ele tentar algo, mato ele.
— Tome muito cuidado!
— Pode deixar. Vou para o banho.
Ela sai da sala com sua bolsa. Sorrio.
Como ela aguenta trabalhar o dia todo com esses saltos? É um maior que o outro a cada
dia!
Meu celular vibra e é uma mensagem do Daniel, meu chefe:

Gatinha, preciso de você hoje. Te pago a mais se vir. Beijos. Obs: Capriche na maquiagem, e não me venha como uma
louca, que tenho cólicas só de imaginar.

Sorrio.

Vou sim. Beijos, gato!

Daniel é um amor. O melhor chefe que eu poderia ter. E como preciso de grana, eu vou.
Saio da Netflix e desligo a TV. Fecho o livro e vou para meu quarto.
Separo a roupa de hoje e arrumo minha bolsa. Meu celular toca e aparece a foto da
Daiane.
Atendo.
— Oi, Dai.
— Oi? Oi uma porra. Libera a minha subida, precisamos conversar seriamente!
— OK! — Desligo o celular.
Vou até o interfone na sala e libero a subida dela.
Minutos depois a campainha toca. Abro a porta, e ela entra e me cumprimenta.
— Precisamos conversar e a sós. Bia está?
— No banho.
— Vamos para seu quarto. Melhor.
Concordo.
Caminho até meu quarto e ela me segue. Entramos e eu fecho a porta. Ela se senta na
cama e eu permaneço de pé.
— O que aconteceu?
— Como assim?! — pergunto.
— Você sumiu. Minha mãe está muito preocupada, e eu também. A Poliana vive em casa
e na cola do David. Meu tio não sabe o que houve, já que esse era o seu papel, e não o dela. O
David nem sequer fala de você e está bem estranho. Tentei descobrir com o amigo dele, o
Cleber, mas nem ele sabe o que aconteceu. O que houve?
Respiro fundo.
— Brigamos feio, e desde então não nos falamos.
— Foi tão tensa a briga ao ponto de ele matar?
Arregalo os olhos e sinto um aperto no coração. Engulo a seco.
— Matar?! — pergunto apavorada.
— Teve um assalto a banco hoje, e o David matou um dos bandidos quando não tinha
necessidade. Você sabe que ele jamais atira para matar, a não ser que seja a única opção. Mas
ele teve várias opções hoje, e mesmo assim atirou certeiro. Foi a porra de uma burocracia
terrível para amenizar a confusão toda e acalmar o delegado geral. Porra, o David está
descontrolado.
— Eu não posso fazer nada. Eu não pedi para ele vir me humilhar. E não pedi para ele me
deixar de lado e ficar com a Poliana. Ele escolheu isso, e merece conviver com isso.
— Certo. Ele é um idiota, mas é meu irmão e não vou deixar ele se prejudicar. Ele está
assim porque está longe de você. Liziara, por favor, dê uma chance a ele… Nem que seja para
dar na cara dele. Eu apoio, mesmo que seja apenas para socá-lo.
— Me desculpa Daiane, mas ele escolheu isso. Ele é bem maduro para decidir o que quer
e ver as próprias burradas. Ele nem sequer teve coragem de vir pessoalmente me pedir
desculpa!
— Como meu irmão pode ser tão anta as vezes? É um pateta mesmo! Eu tenho que ir,
tenho um compromisso agora. Mas por favor, tentem se resolver… ou tenho medo de como
isso vai acabar.
Ela se levanta. Levo ela até a porta. Nós nos despedimos e ela se retira.
A Bia aparece na sala e me olha estranha.
— Aconteceu algo?
— Nada. Vamos fazer algo para comer?
Ela concorda.
Preparamos o jantar e sentamos juntas a mesa para comer.
— Vou trabalhar hoje.
— Vou com você. Quero me distrair, e, sei lá… estou com vontade de ficar próxima de
você hoje. Não sei, uma sensação estranha.
— Credo Bia. Sai pra lá.
Bato na mesa e ela sorri.
Terminamos de jantar. Ela diz que limpa tudo enquanto me arrumo.
Tomo um banho. Coloco uma calça jeans preta, uma blusa branca de alcinha e sapatilhas.
Hoje é sexta-feira e lota demais a boate, e não vou aguentar ficar de salto.
Faço uma maquiagem boa no rosto e arrumo meu cabelo. Passo perfume e coloco uma
correntinha com a torre Eiffel de pingente.
Pego a bolsa e saio do quarto.
Beatriz já está pronta me esperando.
— Que mulher rápida!
— Muito! — ela ri.
Pego a chave do meu carro e a derrubo sem querer.
— Merda! — digo vendo o que aconteceu. — Quebrou. Jura? Já derrubei de tantos
lugares e uma queda idiota faz quebrar!
— Vamos com o meu.
— Relaxa. Tenho a outra chave. Essa acho que foi a que estava com defeito já. Quando
deixei o carro na revisão deixei as duas, e depois não sabia qual estava boa. — Deixo a bolsa
no sofá. — Já venho.
Vou para meu quarto e começo a procurar a chave reserva.
Guardei tanto, que guardei de mim mesma!
Vou até o último lugar que pode estar, a última gaveta da cômoda. Costumo guardar ela
embaixo das roupas… não sei porque, é uma mania.
Puxo as roupas do fundo da gaveta e encontro algo além da chave. Uma das armas do
David.
Na hora me vem o que ele disse quando deixou aqui.
— Ela sempre vai estar carregada. Se algo acontecer, jamais mostre que está armada.
Pegue a pessoa de surpresa, e não tenha medo, pois estará agindo em legitima defesa. Meu
mundo é perigoso, e quando você entrou nele, os riscos de vida e segurança te ampliaram. Se
alguém entrar aqui ou você for para um lugar perigoso, use ela, ainda mais se eu não estiver por
perto.
Sinto um calafrio estranho. Pego a chave e guardo a arma como estava antes.


Chegamos na boate, e está lotada como eu imaginava. Daniel liberou a entrada da Bia
gratuita.
Descubro que ficarão apenas eu e as duas novas funcionárias no balcão, porque foi
contratado garçons novos para ficar circulando pela boate. E os outros antigos funcionários
estão de folga.
Começo a trabalhar. Atendo aos pedidos e dou atenção a Beatriz. Ajudo as funcionárias
com algumas dúvidas. Hoje tem aniversariante, e com um monte de gente, fiquei responsável
por fazer as bebidas da mesa deles também.
A Bia entra atrás do balcão enquanto pego bebidas embaixo dele. Ela se agacha ao meu
lado.
— Vou me arrepender de dizer isso, mas se eu não estiver louca ou bêbada, tem um cara
um pouco distante do balcão que lembra muito a foto do tal do Jorge que saiu no jornal.
Solto a bebida com força e ela quebra.
— Não pode ser. Como ele entraria aqui com um monte de seguranças e com a foto dele
circulando por tudo quanto é lugar? Se bem que quando assaltaram... Merda, claro que pode
ser ele. Por isso o calafrio estranho que senti. Sensações ruins nunca são em vão… aprendi
isso na época da faculdade de psicologia.
— O que vamos fazer? Precisamos ligar para o David.
— Não! Antes preciso ter certeza que é ele.
— Isso é loucura! Ele não veio à toa, veio por sua causa!
— Eu sei. E não irei recuar. Posso ser mais que uma menina, e bem melhor que a Poliana.
— Pare de ser louca! Isso não é hora de provar nada.
— Confie em mim!
Levanto e ela faz o mesmo.
Ela cochicha em meu ouvido disfarçadamente onde está o cara. Olho e o vejo. A luz é
escura e as luzes que piscam atrapalham, mas realmente parece o tal de Jorge. Ele sorri, e
sinto novamente o calafrio.
— Preciso limpar isso aqui. Daniel vai me matar.
— Pegue a vassoura e eu fico aqui te cobrindo. Não faça nenhuma loucura!
— Obrigada, Bia. Pode deixar.
Olho para o cara, e ele sai pela saída dos fundos da boate.
Saio dali e olho para ver se a Bia me olha. Quando ela se distrai, eu saio em direção a
saída dos fundos da boate, onde tem as latas de lixo… nada demais além de uma rua morta
que somente saímos para pôr o lixo para fora. Preciso saber se é ele e assim ligar para a
polícia.
Saio e a rua está um pouco escura. Não tem ninguém. Finjo mexer no lixo.
Escuto passos lentamente.
Sinto um medo terrível. Tento entrar novamente, mas mãos me agarram. Sei que caí em
uma cilada, e sei que o pior pode acontecer. Mas não posso ter medo, tenho que ser forte. Eu
tenho que conseguir.
Tento me soltar, mas meu nariz e boca é tapado por um pano com um cheiro forte de
alguma mistura com álcool. Tento não respirar isso, mas é inevitável. Meus movimentos
começam a ficar fracos e minha visão turva.
A última coisa que escuto é:
— Te peguei branquinha!

David Escobar

Estou na delegacia com o Cleber e Poliana. Estamos vendo estratégias para encontrar o
Jorge do jeito Escobar.
Estou um inferno, sem cabeça para nada. Ficar longe da Liziara está sendo difícil
demais. Só quero que esse inferno termine logo. Sei que magoei muito a ela, e que talvez ela
jamais me perdoe, porém preciso tentar conquistar seu perdão. Mas com a situação desse
jeito, não tem como, simplesmente não dá. Eu me sinto um lixo longe dela, e a cada dia piora.
Me prejudiquei ao assalto no banco, mas naquele momento descarreguei a raiva que estou
guardando desde a briga com a minha maluquinha. Estou fodido.
A porta da sala se abra fortemente. Olhamos assustados. Marcos e Beatriz entram
juntos. Beatriz está pálida.
— Não acredito. Vivi para ver uma mulher te denunciar, tio! — brinco.
— Eu vou acabar com sua vida, sua vadia! — Beatriz grita.
Ela vai para cima da Poliana e acerta um tapa na cara dela com força. Marcos corre para
segurá-la.
— Você é louca? Isso é um desacato a autoridade! — Poliana grita e tenta ir para cima da
Beatriz, mas a impeço.
— Foda-se a lei! Foi por sua culpa... E sua culpa David! — ela grita desesperada,
chorando.
— Beatriz, o que aconteceu com a Liziara? — grito.
— Ele levou ela. Ele a levou! — ela grita desesperada e Marcos a segura.
Ele a coloca sentada na cadeira. Ela está tremendo.
Sinto meu mundo desabar.
— O que realmente aconteceu? — pergunto tentando ser calmo. Meu coração está um
inferno.
— Estávamos na boate e vimos um cara parecido com o Jorge. Ela saiu para pegar a
vassoura para limpar a garrafa que ela tinha quebrado, mas eu deveria ter desconfiado que
ela iria atrás dele. O filho da puta sabia que ela iria atrás quando ele saísse. As câmeras da
boate mostraram ela saindo para os fundos da boate, onde ela saiu e depois sumiu! E tudo
para provar que era melhor que essa vadia que fica se jogando para cima de você, e provar
que não era uma menina.
— Eu vou matar aquele filho da puta. Eu vou matar! — grito e jogo tudo da mesa no
chão.
Pego a arma na gaveta da mesa e me viro para sair da sala. Marcos me segura.
— Me solta, porra! — grito.
— Você não vai sair daqui assim! Não vai resolver nada nesse estado! — ele grita
comigo.
— Eu mandei me soltar! — Dou um murro nele e me solto.
Cleber me segura. Marcos vem para cima de mim, mas Beatriz se põe na frente dele.
— Parem os dois! — ela grita.
— Isso não é hora para brigas, caralho! — Cleber diz.
— Você me respeite, David. Sou teu tio, porra! Você nunca me levantou a mão, e agora
me dá um murro? Não me faça perder a merda da paciência com você. Se acha que sair daqui
desse jeito vai fazer alguma coisa, está enganado. Não vou permitir que se coloque em risco.
Vamos pegar a Liziara de volta, mas antes temos que agir com calma. Mete a porra da calma
nessa cabeça e se controle!
Cleber me solta e me ajeito. Jogo a arma na mesa.
Poliana se aproxima, colocando a mão em mim.
— Tira a mão, porra! — falo e ela recua. — Se coloca na porra do seu lugar!
— Mas David, eu só queria...
— Você não quer caralho algum. Eu sou o delegado nessa merda. Você apenas obedece!
— grito com ela. A mesma concorda e seus olhos exibem raiva, mas foda-se.
Se alguma coisa acontecer com a Liziara, eu nunca vou me perdoar… nunca.
— Desculpa, tio!
Ele concorda e se senta na cadeira. O canto da sua boca está sangrando.
— Pegue algo para ele limpar o sangue. — Cleber diz a Poliana, e ela assente.
— Vou reunir todos. Quero saber o que a equipe à paisana fez que não impediu! — digo.
Poliana vem do banheiro com papel e a Beatriz pega.
Beatriz começa a limpar o Marcos.
— Não preciso de babá. — ele diz.
— Cala a boca! E não me tire do sério, porque não tenho unhas grandes à toa. E hoje
para eu matar um, é apenas um estalar de dedos que faço.
— Nós vamos encontrá-la, David! — Cleber disse.
— Vamos, ou não me chamo David Escobar!

Capítulo 7

Liziara Araújo

Acordo um pouco zonza e com dor de cabeça. Meu estomago está embrulhado. Meu
corpo, dolorido. Tento me mexer, mas estou completamente imobilizada. Olho ao redor e não
reconheço o lugar que estou. É um quarto, e não parece ser de um hotel, mas de um
apartamento ou casa.
Onde estou?!
Tento me soltar, porém não consigo.
A porta do quarto é aberta. Jorge entra sorridente. Seu olhar é assustador. Parece um
louco.
— Até que fim acordou, branquinha.
— O que você quer comigo?
— Com você? Nada. Mas com seu namoradinho, tudo.
— Eu não sou namorada do David, seu idiota.
— Não me engane. Ele é louco por você, o que te torna importante para mim.
— Me solta, seu filho da puta! — grito.
— Pode gritar, se debater, chorar, porque ninguém poderá fazer nada. Você está na
minha cidade, e quem comanda tudo aqui sou eu. Todos só fazem o que eu permito. Se você
cooperar, prometo pensar se te deixo sair viva daqui. Do contrário, você e aquele merdinha
vão conhecer um outro mundo, se é que ele existe.
Suas palavras são repletas de ódio e seu olhar reflete vingança. Eu preciso dar um jeito
de sair daqui.
— Você é louco. David nunca vai deixar você sair livre dessa. Você está cavando a
própria cova. Se pensa que ter me pegado facilitou você ter o David em suas mãos, está
enganado… pode ter certeza que só aumentou o ódio dele por você. E merdinha é como vai
ficar a sua vida quando vierem me tirar desse lugar.
Espero realmente que consigam me tirar daqui!
— Cala a boca! Odeio pessoas que me enfrentam, Normalmente elas terminam mortas, e
meus dedos coçam para te estrangular e depois dar um tiro bem no meio da sua testa, assim
como aquele desgraçado fez com minha irmã.
Ele se aproxima e acerta um tapa meu rosto, fazendo a cadeira em que estou se arrastar
um pouco. Sinto a ardência e a dor do lado direito do meu rosto.
— Filho da puta! Vai se arrepender por ter feito isso! — digo com raiva.
— Sua voz me irrita, garota! — ele grita. — Vou sair, e não tente nada. Como eu disse,
essa cidade é minha, e meus parceiros estão ao lado de fora. Nenhum deles tem um pingo de
consideração quando veem uma mulher jovem, gostosa e teimosa. Não irei impedi-los de
abusarem de você. Então tome cuidado, aqui ninguém tem pena de nada. — Ele segura meu
rosto com força e solta bruscamente.
Sai do quarto e fecha a porta com força.
Desgraçado.
Por que fui tão teimosa ao ponto de me colocar em perigo? Que inferno. Minha mania de
ser impulsiva só me prejudica!

David Escobar

Estou exausto. Já rodei a cidade inteira atrás de pistas e não encontro. Deixei a todos em
reunião antes de sair horas atrás. A notícia já vazou na mídia devido a confusão que ficou na
boate pelo desespero da Beatriz. Os pais da Liziara me ligam sem parar, e não sei o que dizer.
A delegacia está uma zona de repórteres na porta. Tudo está uma confusão em poucas horas.
Eu me sinto o verdadeiro culpado de tudo. As câmeras da boate não revelam nada que possa
ser usado. Estou uma pilha de nervos prestes a explodir.
Estou na estrada, mas meu pensamento está longe. Não sei o que ela está passando e
nem se está viva ainda. Não sei mais o que pensar.
Meu celular começa a tocar novamente, e pego no bolso para ver quem é. O nome da
minha mãe aparece na tela, mas não tenho tempo de atender. O volante gira sem meu
controle. O celular cai. Tento controlar o volante, mas não consigo. Vejo o acostamento da
estrada, e é nele que meu carro acerta fortemente. O airbag ativa. Minha cabeça bate na janela
ao meu lado. Sinto uma pressão forte. Coloco as mãos na cabeça e vejo o sangue em meus
dedos.
Porra, deve ter óleo na estrada e não vi. Ligo o pisca-alerta do carro e me retiro dele. O
estrago na frente dele foi grande, e por pouco o acidente não foi pior.
Pego o celular no carro e ligo para meu tio.
A estrada está bem escura, e poucas são as iluminações. É madrugada, quase não tem
carro passando.
Marcos atende.
— Seu porra, cadê você? — ele grita.
— Estou na estrada. Bati o carro e preciso de ajuda.
— Você o que? Como você está? Porra!
— Estou bem. Perdi o controle do carro. Devia ter óleo na pista.
— Cacete! Diz onde está que estou indo para ai!
— Não avise minha mãe ou a Daiane, ou vão se preocupar à toa.
— Certo. Está armado?
— Sim. Mas é bem perigoso onde estou. Saí tão atordoado que não sei se a arma está
carregada.
— Ativa o rastreador do seu celular que estou indo com os seguranças.
— OK. Fico no aguardo.
Desligo. Ativo o rastreador do celular. Sento no banco do motorista com as pernas para
fora.
Mesmo com isso, só tenho na mente a minha maluquinha.
O que você fez, David?
Desde que eu a conheço sempre foi assim, impulsiva e maluca. Por não ter carinho dos
pais desde pequena, ela se apega muito as pessoas, e comete loucuras para chamar atenção
ou provar que pode ser boa como alguém que ela pensa estar roubando seu lugar.
Ninguém jamais substituiria o lugar dela. Ninguém está à altura dela para ocupar um
espaço que ela tem dentro de mim.
Minutos se passam até que um carro branco, estaciona atrás do meu. A porta é aberta
rapidamente. A pessoa que sai dele é quem eu menos esperava neste momento.
— Débora? — pergunto.
— O que você faz aqui, David? Meu Deus, você está sangrando. Droga, olha seu carro!
Você está bem?
— Calma, eu estou bem. O que você faz essa hora por aqui?
— Estou vindo da casa da minha mãe.
— E sozinha? — Eu me controlo para não gritar com ela.
— Sim. Nada demais.
— Você é esposa de um policial, porra! Trabalha para um juiz. Tem merda nessa cabeça?
— Talvez eu tenha um pouco. E se contar para o Cleber que resolvi voltar a esta hora, eu
te mato, e ninguém vai encontrar os vestígios. Agora vamos dar um jeito nisso. Não vou te
deixar sozinho aqui!
— Começa ligando o pisca-alerta do seu carro!
— Ótima ideia.
Ela se afasta.
Débora é uma ótima amiga de anos, porém as vezes é pior do que uma criança. É louca!
— David, onde fica o pisca-alerta daqui?
Só pode ser brincadeira!
— Você comprou a carteira?
— Não. Eu passei e fui muito bem para sua informação. É que esse carro é do Cleber,
porque o meu bati novamente. Então ele deixou um dos carros dele comigo. O automático
desse carro é perfeito...
— Débora, foco! Sai daí!
Ela se retira e quase cai… se eu não tivesse segurado ela. Ligo o pisca-alerta.
— Já ligou para alguém vir te socorrer?
— Sim. Marcos deve estar a caminho.
Ela olha para atrás de mim.
— Deve ser ele e o exército. Para que três carros? Porra, um é o carro do Cleber. Eu vou
ser morta!
— Se ele não fizer o ato, eu faço! Sua louca! Olha a hora, e você por aí sozinha.
— Cala a boca. Preciso pensar em uma boa desculpa!
— Não me mande calar a boca!
— Já mandei!
Os carros encostam. Marcos, Cleber, Luciano segurança do Henrique e Simon segurança
do meu tio saem dos carros.
Eles se aproximam.
— Eu sei que o David bateu o carro, mas por que essa louca está aqui? — Marcos
pergunta.
— Fiz a mesma pergunta! — digo irritado.
— Bom, como está tudo resolvido, eu vou indo... — ela diz.
— Entra na porra desse carro e fica aí até eu mandar seguir. Em casa a gente conversa.
Tem merda na cabeça, Débora? — Cleber diz alterado.
— Quanto rancor, homem. Não grite com uma anja!
Ela entra no carro e fecha a porta enfurecida.
— Eu vou matar essa mulher ainda. — Cleber diz com raiva.
— Não faça isso, preciso dela. Espera eu achar outra funcionária… aí faz o que quiser! —
Marcos fala.
— Comece a procurar hoje!
— Ninguém vai matar ninguém. Vamos logo resolver isso e sair daqui. — falo.
— O Simon e o Luciano vão levar seu carro junto ao que eles vieram. Você vem comigo, e
o Cleber vai acompanhando eles e a louca da mulher dele.
— Certo!
Débora coloca a cabeça para fora da janela.
— Gente, temos um probleminha. Olhem para trás.
Olhamos.
Porra, Daiane!
Ela encosta o carro e sai dele como um tornado.
— Que porra aconteceu? Acham mesmo que eu seria idiota, ao ponto de não perceber a
preocupação do Luciano ao sair de casa como um louco? David, tem merda na cabeça? Isso é
hora de sair procurando a merda que for?
Ela grita.
— Não venha dizer o que posso ou não fazer. Eu estou bem!
— Estou vendo. Seu carro batido, você sangrando. Que inferno! Acha mesmo que vai
encontrar a Liziara quando estiver morto? Você tem sorte do Henrique estar viajando, ou
seria um cara morto.
— Eu só quero ir embora daqui. Entra no seu carro e vamos embora. E espero que não
tenha aberto a boca para a dona Paula.
— Nem pensei nisso, ou ela estaria morta de preocupação. Você é literalmente o chefe
dos três patetas!
Ela me abraça.
— Se alguma coisa acontecer com você por sua irresponsabilidade, eu te ressuscito para
te matar novamente!
— Eu estou bem... Vamos embora daqui antes que mais um Escobar chegue.

Liziara Araújo

Estou cansada. Tento me manter acordada, mas não consigo. Está amanhecendo, vejo
pelas frestas da janela. Estou dolorida. Meu estômago implora por comida.
Eu preciso dar um jeito. Não vou aguentar ficar muito tempo aqui. Eu devia ter pego a
arma, mas fui idiota!
Beatriz deve estar desesperada e deve ter ido atrás do David. Ele deve estar me achando
uma louca agora, porque eu estou me achando louca.
Esse cara é mais louco do que eu pensei.
Esfrego os pulsos para tentar lacear a corda, mas não adianta, apenas me machuca mais.
— Filhos da puta, isso não vai ficar assim! — grito irritada.
Foda-se! Se entrei na chuva, não vou me proteger. Vou me molhar e encarar a
tempestade, custe o que custar!

Capítulo 8

Liziara Araújo

Três dias depois...

O idiota do Jorge resolve me soltar daquelas cordas, porém tem um bando de seus
homens na porta ao lado de fora do quarto que estou. Só tenho acesso ao banheiro que fica no
quarto e uma janela, de onde já olhei e vi que estamos muito alto. A rua é desconhecida,
jamais vi nem em fotos. É um lugar feio, lembra aquelas cidades de filmes de faroestes
antigos. As pessoas que passam na rua são estranhas, e homens andam armados para cima e
para baixo. Ele não brincou quando disse que era tudo dele aqui.
Estou fraca, não comi nada nesses dias, por medo de tudo que me oferecem. Meu
estômago está embrulhado, minha cabeça latejante. Já desmaiei duas vezes nesses dias. Eu
quero sair logo daqui, e estou com medo, não posso negar. Maldita hora que decidi ir atrás
desse infeliz, porém se ele não me pegasse na boate, me pegaria em qualquer lugar. Não sai da
minha cabeça que a Beatriz e meus pais deve estar pensando que aconteceu o pior, porque se
não estão, eu estou pensando que vai acontecer o pior. Jorge está calmo demais, e isso me
preocupa. Não temos que ter medo do inimigo agitado, temos que ter medo do inimigo calmo.
Em pensar que fiz toda essa merda por amor... Amor, quatro letras que pode levar uma pessoa
a fazer burradas. Talvez seja por isso que a palavra sofrimento na maioria das vezes vem em
seguida da palavra amor.
A porta se abre e me afasto da janela para olhar.
— Apreciando a vista, branquinha? Espero que seja apenas isso, e não pensando em
uma forma de fugir.
Ele carrega uma bandeja de marmita na mão esquerda, e na direita uma garra d’água.
— Não sou tão idiota como pensa!
— Ótimo saber disso. — ele deixa as coisas na cama. — Coma. Dessa vez foi comprado
em um restaurante para a princesinha.
— Não quero nada.
— Garota, você vai comer. Acha mesmo que eu colocaria algo na comida? Eu preciso de
você inteirinha para pegar quem eu realmente quero. Você só sai daqui morta e usada se em
até dois dias aquele filho da puta não der um sinal. Afinal, não acha que está demorando
demais? Será que foi esquecida? Não seria uma má coisa… eu e meus homens iriamos adorar
ter uma escrava de dia, e uma puta de noite.
Sinto meus olhos lacrimejarem. Minhas mãos tremem.
— Vocês não vão encostar um dedo em mim!
Ele se aproxima me forçando a encostar na parede. Tento me afastar, mas sou
completamente impedida. Ele aproxima a boca do meu ouvido e então diz:
— Não gaste sua saliva dizendo bobagens. Deixe para gastar quando estiver de joelhos
na minha frente com essa boquinha atrevida em torno do meu pau.
Ele me dá um beijo no pescoço e se afasta. As lágrimas escorrem por meu rosto. Antes
de sair do quarto, ele me manda comer a comida. Sento na cama aos prantos. Que nojo desse
infeliz!
— Porra David, cadê você? Cadê os Escobar que tem fama por sua rapidez e por sempre
fugir da lei.... Aceito qualquer policial, qualquer delegado, qualquer coisa que me tire desse
inferno!

David Escobar

Três dias de puro inferno, mas amanhã é o grande dia. Recebi informações pelo Cleber,
que a cidade no interior do estado que o Jorge comandava continua sob controle dos homens
dele. É uma cidade muito pequena e bem perigosa. Os policiais têm receio de invadir o lugar,
porque na última invasão, na qual eu participei, houveram muitas vítimas feridas. O lugar
talvez seja pior que o inferno. E é lá que temos certeza que ele esconde a Liziara. Não estou
fazendo isso dentro da lei, estou colocando meu tio e meu amigo em perigo e arriscando
nossas carreiras; mas se fossemos agir dentro a lei, chamaria mais a atenção e isso pode ser
perigoso. Cada Escobar está com uma função para que nada de errado. E cada membro fora da
família que vai participar, também. Nada pode dar errado, qualquer desvio pode colocar tudo
a perder. Estou arriscando minha carreira, mas por ela vale tudo.
Descobri que meus homens, que ficaram apaisana naquele maldito dia, foram
distraídos, por uma briga na entrada da boate. Jorge sabia deles, ele não é idiota. Fez tudo
esquematizado!
Estou na delegacia.
A porta se abre e os pais da Liziara entram. Sua mãe está abatida como nunca vi.
— David, não aguentamos mais. Precisamos da nossa filha. Fomos péssimos pais, mas
ela é nossa filha, nossa única filha. Se algo acontecer com ela, eu jamais irei me perdoar. Eu
preciso dela. Encontre ela, David… eu estou te implorando. — Lúcia diz aos prantos.
— David, ela é nossa filha, precisamos dela, encontre-a, custe o que custar. Se o
problema for o dinheiro, pagamos o que for! — Leandro fala.
— Eu vou encontrar ela e trarei com vida. Não se preocupem, e saibam que fico muito
feliz por ver que amam ela. Pena que só demostraram diante das circunstâncias... — como
talvez eu esteja fazendo.
— Sempre a amamos. Demonstramos das piores maneiras. Mas sempre amamos ela. —
Lúcia diz alterada.
— Vou encontrá-la. Peço que evitem jornais, é o melhor até o momento.
Eles concordam.
— Agora terei que me concentrar nas coisas e em alguns trabalhos. Vão para casa,
tentem se acalmar, e eu prometo que amanhã mesmo ela vai estar aqui, derrubando tudo por
onde passa, dando os sorrisos perfeitos dela, se machucando com o próprio aparelho
dentário, e perguntando onde está o óculos de grau dela quando está em seu rosto, tremendo
como uma louca quando está com fome, e perdida nos livros e nas séries que ama. Eu
prometo isso a vocês, ou não me chamo David Escobar.
Lúcia sorri.
— Você a ama tanto. Ela merece alguém que a ame e demostre como nunca fizemos.
Não digo nada, apenas fico olhando para ela. Eles se retiram da sala me deixando
perdido em meus pensamentos.


Quase não dormi noite passada. Estamos todos na sala de investigações da delegacia.
Hoje iremos invadir aquele maldito lugar.
— Hoje nada pode sair errado! — Daiane fala. — Não façam nada com o coração e sim
com a mente. Qualquer ato emocional pode colocar a vida da Liziara em um risco pior.
— Eu sei. E por isso tudo ficará como combinamos. — eu falo.
Daiane ficará responsável por manter meu superior e toda a polícia fora disso, sem que
haja suspeitas que tem algo errado. Minha mãe tentará manter a impressa longe disso quando
invadirmos a cidade. Poliana e Cleber vão ser meu reforço. Meu tio será a chave surpresa caso
aconteça qualquer deslize, e que vai abafar todo o caso perante a lei. Luciano ficará de escolta
com a família da Liziara, para que não tenhamos surpresas. Simon, o segurança do meu tio,
fará escolta da Beatriz, para evitar qualquer loucura dela, e protegê-la, pois não sabemos se
eles têm olheiros por aqui. E eu serei o troféu, me entregarei a eles de bandeja.
— Eu acho isso arriscado, David, Deixe a lei cuidar disso! — Poliana diz.
— Eu não vou perder a Liziara por passos de tartaruga da lei. Cada minuto lá, ela pode
estar sofrendo algo e encurtando suas chances de sobrevivência. Então não se meta. Se quer
ajudar, faça isso calada.
— Cala a boca, loira. Você é a única aqui que tem que agir ou cair fora; e se algo desta
sala vazar por aí, saiba que não sobrará um fio de cabelo seu para conta a história. Ou fica e
calada, ou sai antes que eu te enforque, porque se você não tivesse aparecido, nada disso teria
acontecido. — Beatriz diz, e percebo a falha tentativa do meu tio de disfarçar o sorriso. — E se
a Liziara tiver um arranhão, é melhor você fugir do país antes que eu te encontre e se esconda
muito bem, porque eu te caçarei até o inferno se for preciso.
— Toma cuidado como fala comigo! — Poliana diz alterada.
— Tome você, cuidado comigo. Presta muita atenção nas suas ameaças, ou acabo com
sua vida profissional e pessoal em segundos. — meu tio diz em um tom sério e Poliana me
olha envergonhada, na tentativa de que eu a defenda.
— Foquem no que será feito! — minha mãe diz alterada. — Todos sabem suas funções.
Eu só quero que todos saiam sem machucados disso. Hoje será um dia marcante na vida de
todos. Nunca os Escobar se colocaram tanto em perigo como hoje. Pensem antes de agir.
Olhem por onde andar. Tomem cuidado com o ar que vão respirar. Eu já perdi meu marido
Joseph, e não quero perder mais ninguém.
Daiane passo o braço ao redor da minha mãe.
— Sei que estou arriscando a vida e carreira de todos, mas se faço isso, é porque estou
desesperado, e cada minuto que se passa é uma parte de mim sendo afetada pela dor e
desespero.
— Estamos juntos com você para o que der e vier, David. — Cleber fala, e agradeço com
um aceno.
A porta se abre e uma loirinha, alta, de óculos, saltos altos, calça jeans preta, uma blusa
regata preta, coque no cabelo e um batom intenso vermelho, entra na sala. Sorrio.
— O que faz aqui? — Cleber pergunta.
— Quando conheci David e Marcos, foi nas piores circunstâncias; ambos me livraram de
um tarado na lanchonete em que eu trabalhava. Depois quando achei que nunca mais
encontraria eles pessoalmente, o destino cuidou de traçar nossos caminhos novamente. Mais
uma vez estive em perigo quando delinquentes tentaram me sequestrar junto com meu carro,
e se não fosse por eles, talvez eu nem estivesse mais aqui. E foi nesse dia que esse policial
lindo e gostoso ajudou a eles me proteger. Larguei a faculdade de artes cênicas, fui embora da
cidade por problemas pessoais que prefiro não dizer, e quando voltei, vim decidida a fazer
faculdade de direito. Estava mais velha e decidida, porém sem dinheiro algum, e fui atrás da
fera conhecida por Marcos… ele me deu emprego, juntei dinheiro, e então iniciei a faculdade
que termino em breve. Os Escobar me receberam de braços abertos, e de brinde ganhei um
marido. Sempre que estive em perigo de alguma forma, eles estavam lá para me defender.
Ela recupera o folego.
— E hoje o destino me deu a chance de pagar a primeira parcela de tudo o que me
fizeram e de toda a ajuda em tantos momentos pessoais que seria uma lista enorme, daria um
livro... Melhor, um conto já seria o suficiente. Posso não ser uma boa pilota, a melhor
secretaria, saber chutar alguém sem cair ou dar um soco sem atingir a mim mesma, mas eu
gosto da Liziara e gosto de vocês… Na verdade amo vocês, e isso é o suficiente para me torna
mais forte e lutar para trazer ela de volta. — Débora fala, e minha mãe chora emocionada.
— Amor, não faça isso... — Cleber implora.
— Fazer o que? — pergunto preocupado.
— Sou mulher de um policial e a melhor secretaria de um juiz, e a amiga mais gata de
um delegado, eu preciso fazer isso. É uma vida em risco, e se eu estivesse no lugar dela, queria
que alguém fizesse isso por mim.
— Débora? — indago.
— David, quem vai na frente não será você, serei eu. Ninguém me conhece. Não saio
muito na mídia… o que é uma lastima, eu sei. Mas se você for, aqueles caras podem nunca
mais devolver você e ela. Sei que terá uma imensa equipe preparada para qualquer coisa, mas
eu irei na frente, e quando eu tiver o local que ela está, vocês saberão; e não se preocupe
tenho uma carta na manga.
— Isso é loucura. Ficou louca! — Digo a ela.
— Loucura ou não eu irei.
— David, ela pode ter razão. Seriam duas em perigo, está certo, mas ninguém a conhece.
Com ela na frente dando informações é melhor. — Daiane diz.
— Não posso colocar você em risco!
— Não vai. Eu sei o que estou fazendo.
— Qual sua carta na manga? — Marcos pergunta.
— Segredo, mas saberão na hora. Agora tenho que ir, porque aquele fim do mundo é
longe. E hoje não sou Débora Alencar Fernandez. Hoje serei, Paloma Almeida, uma mulher
gravida de um traficante que não assumiu o filho, e meu pai quer me matar por isso, e fugi
para lá.
— Você não vai! — grito.
— Vamos fazer um teste. Se ela me convencer da história, ela vai, e juro que trarei ela
viva. — Marcos fala. — Sou um dos traficantes que cerca a cidade, e você tem que passar por
mim e eu te impeço de entrar pedindo para saber o que quer ali e quem é você.
Ela se aproxima dele, retira os óculos, solta o cabelo.
— Eu estou desesperada. O filho da puta do meu namorado me largou quando soube
que estava gravida. Meu pai quer me matar. Meu namorado era um dos traficantes da minha
cidade, e não sei o que fazer, estou desesperada. O único lugar que sei que teria proteção é
aqui. Preciso ficar por uma noite apenas, ou amanhã não estarei aqui... — Ela se aproxima
mais dele, ficando com o corpo colado, passa a mão por seu braço e diz chorosa — Não vai
negar abrigo a mim, vai? Deve ter irmãos ou alguém que ame, e eu amo demais está criança
que nem sequer a conheço… preciso ficar. — Lágrimas escorrem por seu rosto.
Porra, onde ela aprendeu fazer tudo isso?
— OK, me convenceu. E sai de perto de mim, ou seu marido vai me matar. Porra, tem
certeza que quer ficar na faculdade direito? — Marcos pergunta.
— Tenho. Mas agora preciso trocar de roupa por algo mais simples e colocar as lentes
de contato. Irei na frente, conhecerei o lugar e manterei vocês informados. Só saiam daqui
quando eu disser que podem ir. Descobri que hoje tem uma festa na cidade, e isso pode
ajudar.
Cleber se aproxima dela e a beija.
— Não faça loucuras. E tome cuidado! Se algo te acontecer...
— Eu vou voltar inteirinha, eu sempre volto.
— Cuidado, Debi! — Dou um abraço nela. — Faça o que for preciso para se defender.
— Está bem...
Antes de sair da um último sorriso e fecha a porta.
Cleber está tenso, assim como todos.
— Vai dar tudo certo! — Beatriz diz a ele. — Confie.
— Essa daí vai colocar tudo a perder! — Poliana fala.
Cleber se vira para ela e conheço esse olhar.
— Cala a boca, porra! Tome muito cuidado como fala da minha esposa. Essa daí, tem
nome e sobrenome. Uma palavra sobre ela, e esqueço que você é mulher e colega de trabalho!
— Preciso tomar um ar. — Ela sai da sala enfurecida.
— Ou você manda essa demônia para o quinto dos infernos de onde ela veio, ou alguém
ainda vai matá-la; e sou a primeira da lista para cometer o ato. — Daiane fala.
— Foda-se a Poliana, o que importa é a minha mulher que está na porra das mãos
daqueles desgraçados!
Minha mãe sorri.
— O que foi mãe?
— Nada, apenas me deixa feliz ouvir isso.
Alguém bate na porta.
— Entre. — digo.
A porta abre e um dos meus homens aparece.
— Tem um rapaz aí… chama-se Joaquim e quer falar com você.
— Mande ele para minha sala, estou indo.
Ele concorda e se retira.
— Quem é esse? — Marcos pergunta e Beatriz sorri.
— Um idiota que trabalha com a Liziara. Você o conhece, é o mesmo cara da festa da
universidade que fomos para resolver o caso da Ana Louise com o Henrique. Ele te tirou do
sério por causa da Beatriz.
— Ah, aquele merdinha? Não sabia que a delegacia recebia lixo. — diz com ironia. —
Esse bosta, não tem medo de morrer mesmo!
Sorrio e saio da sala.
Entro na minha sala e ele me olha.
— Olha aqui, só vim dar um recado... Eu sempre fui contra você e a Liziara terem algo, e
sempre disse que isso traria problemas… e veja só, eu estava certo. Se algo acontecer com ela,
quero que saiba que você é o único culpado.
— Acabou o discurso? Quem pensa que é para vir aqui me falar isso? Isso tudo é raiva
por saber que ela nunca te quis? Enquanto você ia, eu já estava prestes a retornar novamente
ao lugar. Não sou idiota, e sei que tem interesse nela. Mas saiba que ela jamais será sua. Eu
irei trazer ela de volta só que para mim e ninguém mais. Então saia daqui e leve esse seu
discursinho bosta para longe, e nunca mais apareça na minha frente, ou vai conhecer um
David que quem já viu, não deseja ver nunca mais.
— Eu irei mesmo, mas não se esqueça, o único culpado será você! Levará a culpa até o
último dia da sua vida!
Ele sai da sala e me sento na mesa.
Não precisa ninguém me dizer que a culpa vai ser minha, porque sei disso. E sei também
que se algo acontecer com ela, matarei o filho da puta sem remorso algum.

Capítulo 9


David Escobar

Estamos agoniados à espera de notícias da Débora. Eu devia estar louco ao permitir a
ida dela. Agora são duas correndo risco. Estou tentando me concentrar nas papeladas na
minha mesa, mas não consigo. Outros casos precisam de mim. As horas estão passando e
nada de notícias. Temos que pegar a Liziara hoje. Eu não aguento mais esse inferno. A cidade
que Jorge comanda é pequena, porém pode ser difícil encontrar ela...
Porra, é isso!
— Cleber! — grito por seu nome.
Ele entra rapidamente na sala, junto a Poliana.
— O que aconteceu?
— Eu sei onde ele deixou a Liziara. Débora só precisa nos dar certeza.
— Onde? — Ele pergunta
— Quando invadimos aquele lugar, ele tinha um prédio de seis andares ao lado de uma
lanchonete. Era ali que ele morava, fazia o escritório dele e prendia as pessoas que ele pegava.
É nesse prédio que ela deve estar, só pode ser. Como fui idiota por não me lembrar disso
antes? Foi nesse maldito lugar que ele tentou se esconder junto a irmã dele!
— Agora precisamos que a Débora de notícias para termos noção do que fazer. —
Poliana fala.
— Não me lembre disso. Estou com a cabeça fervendo. Quando eu desejei uma esposa
diferente, juro que não passou por minha cabeça uma louca. O foda é ter que ser frio para não
atrapalhar a operação.
— Nós vamos trazer as duas, eu prometo! — digo a ele.
— David, você precisa comer algo. Está o dia todo sem comer.
— Poliana, tudo o que eu menos quero neste momento é comer. — Ela fica sem jeito,
mas disfarça.
— Devemos avisar aos outros. — Cleber diz.
— Sim. Vou avisar a eles e deixar todos preparados. Meu tio em breve deve retornar. Ele
teve que ir ao escritório dele com urgência.
— Dessa vez, aquele filho da puta do Jorge não escapa. — Cleber fala e suas palavras
exalam raiva.
— Pode ter certeza que não!


São quase nove horas da noite e nenhuma notícia da Débora. Não estou gostando deste
silêncio. Não estou mesmo!
— Aquela filha da puta não iria fazer burrada. Conheço-a há oito anos. É bem esperta
para fazer burradas! — Meu tio diz agoniado, andando de um lado para o outro.
— Já era para termos notícias dela, porra! — Soco a mesa com raiva.
A porta se abre com força. Cleber entra e coloca o celular dele na mesa.
— Amor, pode falar, está no viva-voz o celular. — ele diz.
Solto o ar. O alivio toma conta de mim. É ela.
— Gente, serei rápida. Estou no banheiro da lanchonete que tem aqui e, por incrível que
pareça, é a única. — ela faz uma pausa e continua. — Consegui entrar na cidade sem problema
algum. O cara que cuida da entrada tomou conta disso. Hoje realmente tem uma festa para o
Jorge e isso deixou falhas. Tem apenas um cara de vigia na entrada da cidade. Está um
alvoroço devido a festa. Escutei pela lanchonete que o prefeito vai mostrar para todos a isca
que pegou para se vingar da morte de sua irmã. É, com toda certeza, a Liziara. Eu vi vários
homens armados saindo do prédio ao lado da lanchonete que estou, e tem dois homens na
entrada dele. Acredito que seja ali que ela está. Porém terei que dar um jeito de descobrir
onde ela está no prédio, só assim para mandar informações e facilitar para vocês.
— Certo. Eles não podem desconfiar de nada. Tome muito cuidado e não faça loucuras.
Tente ficar ao máximo nessa lanchonete. Estamos indo. Débora, aconteça o que acontecer,
não interfira em nada. Tente descobrir por onde o Jorge está, e nos avise assim que puder.
Mantenha contato, você será nossos olhos e ouvidos neste lugar. Esses caras não são
brincadeiras. — digo.
— Certo. Tenho que desligar, ou vão desconfiar do meu tempo no banheiro. Porém
esperem minha próxima ligação para começarem a vir. Me prometam isso?
— Claro que não! — Cleber grita.
— Débora, o que vai aprontar? — Marcos pergunta.
— Confiem em mim. Eu sei o que estou fazendo. Até mais. — Ela desliga.
Porra!

Liziara Araújo

Algo está acontecendo. Está tudo muito calmo aqui dentro, porém lá fora está bem
movimentado, vi pela janela. Não escutei os homens do Jorge e nem ele retornou aqui.
Preciso pensar com calma. Se tem uma coisa que aprendi muito bem nesses dois anos
ao lado do David, é que nenhum crime é perfeito, sempre tem falhas. Jorge deve ter deixado
falhas e irei descobrir, pois será minha chance de sumir deste lugar, porque não aguento
mais.
Escuto um falatório estranho, parece ser voz de mulher e está aqui dentro.
— Me solta, seus desgraçados! Socorro! Eu quero sair daqui. Vocês vão se arrepender de
terem feito isso. Eu vou sair daqui, e minha vai irmã vai junto! Vocês mexeram com a família
errada! Me soltem!
A porta do quarto se abre e me assusto.
— Jorge vai amar descobrir isso! — um dos homens dele diz com um sorriso malicioso.
Um outro surge e joga uma pessoa que eu conheço, e que não esperava, dentro do
quarto.
— Débora! — grito.
— Minha irmã! — Ela corre até a mim e me abraça e então cochicha no meu ouvido —
Sou sua irmã!
— Eu não acredito! — Começo a chorar.
Eles saem e trancam a porta.
— O que faz aqui sua louca? — pergunto.
— Vamos falar bem baixo. Eu sabia que você ia estar aqui, e meu plano de fingir ser sua
irmã daria certo para me colocarem junto com você.
— O que quer dizer?
— Os Escobar estão vindo te salvar. Agora preciso dar notícias a eles.
— Como? Eles vão nos matar se tentarmos algo.
— Amor, eu não queria ser atriz no passado à toa.
Ela retira da bota de cano longo o celular. Fico olhando para a porta preocupada.
— É melhor falar no banheiro. — digo baixo.
Entramos no banheiro e deixamos a porta um pouco encostada.
— Não podemos demorar, se eles entrarem no quarto e ver que estamos as duas no
banheiro, vão desconfiar.
Ela concorda e então liga para o David.
— David! — Eu me aproximo do seu ouvido para ouvir a conversa.
— O que aconteceu? — Ouvir sua voz, me traz uma sensação única. Um arrepio intenso.
— Estou com a Liziara. Ela está no prédio. Vou ser rápida. O Jorge não está aqui, mas vai
ser avisado. Eu menti dizendo que era irmã dela e que inventei uma história para entrar na
cidade, e acabei junto com ela agora. Arrisquei e deu certo. Tem uma tropa vigiando ela, mas
só agem pelo comando do Jorge ao que notei. Ela está bem e está ao meu lado. Venham para
cá às pressas, porque acho que posso ter ativado a fera de um certo bandido. Estamos, ao que
parece, no sexto andar. Pelo que contei, é a última porta à direita.
— Estamos indo, sua retarda! Cuidado, e não façam nada! Não deixe descobrir que está
aí por minha causa.
Escuto barulho na porta. Ela me olha assustada e desliga o celular, escondendo o na
bota.
Saímos correndo do banheiro e nos sentamos na cama.

David Escobar

O caminho até essa maldita cidade foi um inferno. Porém agora estou me aproximando,
a cada quilometro sinto meu coração acelerar. Nunca senti isso antes.
Os outros vão ficar alguns quilômetros atrás à espera do sinal para virem.
Uma moto sai do matagal e surge na minha frente. O cara está armado. Ele desce na
moto.
— Desce do carro, porra! — ele grita.
Saio do carro com a arma na mão, pois faz parte do plano.
— Delegado! — ele diz sorrindo. — Muito otário mesmo para aparecer aqui. — ri —
Coloca a arma no chão... Vai, caralho! — ele grita e aponta a arma para mim.
Eu me abaixo lentamente, indicando que colocarei a arma onde pediu, mas quando
estou próximo de encostar ela no chão, miro em sua perna direita e atiro em seu joelho.
— Filho da puta! — ele grita e cai no chão.
— Isso é pelo xingamento! — Dou outro tiro na sua outra perna.
Isso vai ganhar tempo.
Ele se torce de dor. Pego sua arma e jogo longe.
Entro no carro às pressas e saio cantando pneu dali.
Entro na cidade, que esta calma. A festa deles deve ter começado.
Nada mudou desde a última vez que estive aqui a anos. Dirijo até o local que Liziara
está.
Olho pelo retrovisor e vejo o carro do Cleber e Marcos seguindo o meu.
Avisto o prédio, mas o que está na frente dele faz o meu mundo parar. Freio o carro
bruscamente.
Ele está na porta, rindo, enquanto dois homens seguram a Liziara e a Débora, com arma
apontada na cabeça de cada uma. Ele também está armado.
Desço do carro com minha arma. Olho para trás e vejo que Marcos, Poliana e Cleber
fazem o mesmo.
— Demorou, David! — Jorge grita em tom de deboche. — Acho bom todos vocês
largarem essas armas antes de se aproximarem mais, ou essas duas aqui morrem, e você sabe
que cumpro minhas promessas!
O olhar da Liziara cruza com o meu e vejo o pavor em seus olhos. Solto a arma no chão
que faz um estrondo. Ela balança lentamente a cabeça em sinal de “não”.
Escuto barulhos, e sei que foram as armas atrás.
Caminho até eles lentamente, ficando bem mais próximo.
— Era a mim que você queria, estou aqui! — digo ao Jorge.
Nunca pensei que um plano que desse errado me deixaria tão apavorado como eu estou
agora.
— Enviar uma outra mulher para nos enganar… isso mostra o quanto você é um
merdinha, David!
— Solta elas. É a mim que quer. Deixe elas ir, Jorge. Seu problema é comigo. Porque você
não aceita que eu matei sua irmã naquele dia. Não admiti que eu fui o único a conseguir fazer
uma equipe policial invadir essa porra! — grito com ele.
Seu olhar tem ódio. Ele mira a arma em mim.
— Esperei tanto por esse dia. Porém, você atrapalhou minha festa. Todos estão lá
comemorando, e eu aqui. Isso é errado… sou o rei deles, o prefeito que amam. Eu planejei
tudo. Pesquisei cada ponto de vocês. Infiltrei pessoas dentro da boate que ela trabalhava. Na
cadeia já recebia informações de vocês. Foi tão fácil. Tudo foi esquematizado. Nada poderia
dar errado. E vejam só, não deu. Você deixou muitas brechas, delegado. — ele gargalha. —
Sua princesinha é ingênua. Descobri todos os pontos fracos dela, e o principal é a família. Não
teve atenção dos pais desde cedo, e claro que faria qualquer loucura por aquele que ama. Tão
burra. — Ele acaricia o rosto dela, e ela vira o rosto bruscamente. Um ódio me consome.
Tento me aproximar, mas ele vira a arma para ela, me fazendo recuar.
Porra, tenho que ser frio, não posso colocar tudo a perder!
— Você ficou mais louco do que já era... SOLTA ELAS, SEU FILHO DA PUTA! — Empurro
ele com força, e ele se equilibra para não cair. — Eu vou acabar com você, seu filho da puta! —
ele ri ainda mais, me empurrando e apontando a arma novamente para mim.
— Quer mesmo que eu te mate na frente da sua protegida e do seu tio? Não teria
problema algum. Seria bom... Mas antes você tem que sentir o que eu senti naquele dia,
quando minha irmã caiu sem vida no chão. Você tem que sentir aquela dor, seu desgraçado.
Ver a pessoa que ama cair no chão sem vida. Ver os olhos dela parados, sem brilho. Ver sua
pele começar a gelar e a empalidecer. O sangue escorrer por ela. Você precisa sentir essa
sensação. E agora temos duas escolhas… seu tio e sua protegida. Porém algo me diz que ela
poderia ser a primeira... — Seus olhos estão arregalados, sua fala é como de um louco. Ele está
mais fora de si do que o normal.
Olho para Liziara. Ela está assustada e isso me destrói. Eu estou sem saber o que fazer.
Qualquer ato meu pode colocar tudo a perder. Não posso agir emocionalmente!
— Você... — tento dizer.
— Eu o que? Cala a boca, que nessa porra quem manda sou eu!
— Jorge, não é a Liziara que você quer, e nem a mim. É o David, somente ele. Matá-lo
rapidamente de nada vai resolver, o prazer acabará rápido. Você quer torturá-lo… e sabe que
apenas matando ela não vai resolver, não será o suficiente. — Débora diz e ele a olha
atentamente. — Você está assustado. Sonhou tanto com isso, que sua mente está confusa, e
cada palavra que digo te irrita mais. Uma voz diz para você matar a todos, e a outra diz que
isso não será suficiente. Você está vazio por dentro, tudo está confuso...
— Cala a boca, sua maldita! — Ele a chacoalha e a joga no chão. Olho assustado, mas
quando vou me aproximar dela, ela me dá um olhar estranho e recuo.
Ela começa a se contorce de dor.
— Débora? — chamo por ela, preocupado.
— Débora! Filho da puta! — Cleber grita.
— Não chegue perto ou ela morre! — Jorge grita para ele.
— Me deixe ver ela, por favor? Ela se machucou, por favor! Se vai mesmo me matar, me
deixe fazer uma única coisa! — Liziara implora a ele.
— Se tentar qualquer coisa, ele morre! — Jorge diz e ela concorda.
Ela se joga ao lado da Débora, porém tudo isso é estranho.
— Débora, o que você tem? Está bem? — Liziara pergunta.
— Meu pé, devo ter torcido, dói muito... Ai! — ela grita.
— Vai ficar tudo bem! — Liziara diz a ela.
Liziara coloca a mão por dentro da sua bota, e tenho a impressão que tirou algo. Ela
segura a mão da Débora.
— Chega, peguem elas! — Jorge grita, e seus homens a pegam rapidamente. — Vamos
terminar logo com isso, porque tenho uma festa para aproveitar. Atirem nela! — ele grita.
O homem que segura a Liziara puxa o gatilho da arma. Sinto meu peito apertar. Olho
para trás, e todos me olham assustados. Meu tio coloca a mão para trás, é a arma reserva.
Olho para a Liziara e ela fecha os olhos.
— Não… hoje não, e nem depois! — Débora fala a ele com ódio.
Ela enfia uma faca pequena na perna do homem que a segura, e a Liziara faz o mesmo.
Era isso que ela tirou da bota da Débora. Jorge olha assustado, e os dois xingam de dor. Liziara
chuta um deles em seu membro, fazendo-o o cair no chão de joelhos. Débora dá um chute no
estômago do outro, fazendo ele perder o ar e cair também. Ela pega a arma dele e joga para
mim. Liziara corre para o lado dela.
Cleber e Marcos se aproximam, armados. Jorge atira mas consigo desviar. Poliana tenta
se aproximar, mas o que segurava a Liziara consegue pegar a armar e atira, fazendo com que
ela recue. Mais homens aparecem, nos deixando em desvantagem. Atiro no que segurava a
Liziara, e ele cai de vez no chão. O outro tenta se levantar e atiro nele. Jorge tenta atirar na
Liziara, mas a Débora joga ela para o lado.
Marcos luta com um cara. Um homem tenta me segurar por trás, mas consigo me livrar
dele; e antes que atire em mim, eu disparo de volta. Liziara grita e olho rapidamente, Jorge a
pega por trás. Tento me aproximar, mas sou impedido por um homem. Cleber atira em dois
caras. Poliana se aproxima deles, é a única livre no momento. Ela vai atirar no Jorge. — Porra,
não!
— Poliana, não! — grito.
Dou uma cotovelada no estomago do cara que me segura. Eu me viro para ele quando
me solta e dou um soco em seu queixo. Ele cai, então arranco sua arma e dou um tiro em sua
coxa.
— Jorge, você não precisa disso! — falo ofegante.
— Preciso sim, eu preciso! — ele grita e começa a gargalhar.
Olho para a Poliana, que tem um ângulo perfeito para atirar nele sem atingir a Liziara.
Um tiro apenas e coloca ele no chão. Mas ela não vai conseguir, seu olhar está confuso. Se ela
atirar, pode ser que atinja Liziara.
— Poliana, não faça isso. Não atire... — Ela posiciona o dedo para atirar — Caralho,
Poliana!
O olhar da Liziara se transformar em raiva quando Jorge a aperta mais.
— Hoje não. Eu não serei a porra da mocinha indefesa, não mais! — ela grita com ódio.
Ela dá um cotovelada nele com força.
— Maldita!
Ela se vira para ele e dá um soco em seu rosto. Chuta a mão dele, que está com a arma, e
ela cai no chão.
— Filho da puta! — ela grita para ele quando o mesmo chuta sua perna.
— Poliana, não! — grito para ela quando vejo que vai atirar, mas não há a menor chance
de acertar o Jorge.
Ele consegue recuperar a arma de uma forma muito rápida e começa uma luta com a
Liziara. Tento me aproximar, mas meu tio me segura. Os outros homens já estão no chão.
— Me solta! Essa arma pode disparar! Me solta, porra! — Cleber ajuda a me segurar.
— David, não! — Débora grita.
E então um barulho que conheço muito bem ecoa. Sinto meu mundo congelar. Quero
gritar, mas não consigo. Não...
Liziara está com os olhos arregalados. Ela e o Jorge caem no chão. Ambos repletos de
sangue,
Eles me soltam. Meu peito dói fortemente. Poliana olha assustada. Débora se aproxima
deles e se joga ao lado da Liziara.
— Liziara, fala comigo! — ela grita. — Droga! Cacete, não vim para esse fim de mundo à
toa, sua filha da mãe! Reage! — Ela chacoalha a Liziara.
Então vejo uma pessoa caminhando até nós. Olho assustado para a Liziara, que se
levanta com a ajuda da Débora. E é aí que vejo que foi o Jorge que levou o tiro e o sangue é
somente dele.
A pessoa se aproxima e sorri.
— Eu nunca erro um tiro, afinal nem sempre o volume em minhas calças é uma ereção!
— Henrique, o que faz aqui? — Meu tio pergunta.
— Digamos que eu era o plano B da loira ali. Acham mesmo que com minha família em
perigo, eu ficaria longe? Porra, jogaram praga para cima de mim, pois não consigo tirar férias.
Ele abraça meu tio e o Cleber, e em seguida me abraça.
— Obrigado. — Agradeço. — Agora eu preciso...
— Sim, vai lá. Mas seja rápido… temos que sair logo daqui antes que outros apareçam.
Eu me aproximo dela, mas ela recua.
— Agora não, David, Vamos sair daqui, apenas isso.
Concordo.
— Apenas me diga se ele fez algo com você.
— Não. Quando ele soube que era uma armação da Débora porque investigou toda
minha vida e viu que eu não tinha irmãos, ele ficou louco; e então recebeu a notícia que
mataram o cara que vigiava a entrada da cidade, e aí trouxe nós duas para cá. Eu só preciso
sair daqui, tomar um banho e descansar. Eu me sinto fraca e enjoada por tudo. Preciso
agradecer a todos eles por isso.
— Não precisa agradecer. Você faz parte dessa turma, merece nossa ajuda. — Henrique
diz.
— Obrigada, Henrique, por ficar preparado para meu sinal de socorro. — Débora
agradece a ele.
— Desde quando sabia? — Marcos pergunta a ele.
— Débora me ligou e contou tudo. Porra, vocês são loucos! Enfim, ela mandou eu ficar
em alerta, pois se ela não ligasse até certa hora, era para eu vir que algo estava acontecendo, e
foi o que eu fiz. Estive sem acesso à mídia, ou estaria aqui a muito tempo.
— Vamos sair daqui. — digo a eles.
— Meu amor... — Cleber abraça a Débora e a beija.
— Por que não escolhi ser atriz? — ela pergunta e sorrimos. — Viram como atuei bem
para pegar a mini faca na minha bota? Botas são tudo na vida de uma mulher em perigo…
dentro delas pode sair o mundo.
Sorrimos.
Olho para Liziara, que está pálida.
— Liziara?
Seguro ela.
— O cheiro do sangue, e ele... Estão...
— Vem, vamos sair logo daqui.
— Eu ajudo ela. — Poliana fala.
— Não precisa. Acho que você já fez muito, pelo o que a loira disse. — Henrique diz.
— Aprenda uma coisa, Poliana, nunca atire para matar. E não tente bancar a heroína
quando você não é nada! — Liziara diz e sorrio.
Poliana a olha com ódio.
— Você não passa de uma menina indefesa! — Poliana grita com ela. Henrique e Marcos
se aproximam. Débora se afasta do Cleber.
— Menina indefesa? É, até pode ser, mas não precisei de uma arma para lutar com o
Jorge… já você, nem com uma arma e sendo uma policial conseguiu fazer algo útil! — Liziara
fala para ela e Débora gargalha.
— Vamos sair daqui. Agora! — Marcos fala.
— Poderia dormir sem essa, loira aguada! — Débora diz passando pela Poliana.
— Você é apenas mais uma na lista dele. Acha mesmo que ele realmente ama você?
Bastou eu reaparecer que e ele te esqueceu rapidinho. Ninguém quer uma garota com pose de
mulher. Não passa de uma mal-amada, que acha que um dia será uma Escobar! — Poliana
grita para Liziara.
— Agora você me irritou, vadia!
Liziara vai para cima da Poliana e acerta um soco em sua boca. Poliana tenta puxar seu
cabelo, mas a Liziara dá um chute em sua canela e uma rasteira em seguida, fazendo ela cair.
Monta em cima dela e começa a estapear seu rosto.
Fico olhando e rindo.
— David, não vai fazer nada? — Marcos grita e sorrio.
— Deixa um pouco. Liziara merece isso, e Poliana ainda mais. — Sorrio.
— Porra! Você é foda, delegado! — Henrique diz, segurando a Liziara.
Meu tio segura a Poliana, que está com a boca sangrando e com o rosto todo vermelho e
arranhado.
— Eu vou te processar, sua puta! — Poliana grita.
— Tenta! Tenta, porra! Mete processo ou o caralho que for, que sou capaz de te
arrebentar na frente do Juiz, do Papa, ou o que for. Não tenho medo de você. E puta, é somente
você.
— Na verdade você já fez isso na frente de um Juiz! — Meu tio diz a ela, e sorrio mais
ainda.
— David, essa maldita! Como pode? Eu toda linda. Vim de longe para tentar uma chance
com você que sempre foi louco por mim na faculdade. — Poliana diz chorando.
— Eu? Louco por você? Poliana, eu sou louco pela minha profissão e pela Liziara. De
você tenho pena. E isso que levou é apenas para aprender a não mexer com a mulher de um
delegado, principalmente de um Escobar. E espero que essa boca inchada fique boa logo,
porque amanhã mesmo você vai voltar para a puta que pariu de onde não deveria ter vindo, e
torça para eu não fazer relatório seu. Agora de boca calada vai entrar no maldito carro e ir
muda o caminho inteiro, ou deixarei a Liziara ir no mesmo banco que você, afinal ela tem
muitos aqui para provar que nunca relou um dedo em você… já você é o oposto.
— Isso não vai ficar assim! — ela grita. — Ela deveria ter morrido!
Meu sangue ferve. Eu me aproximo dela, mas Cleber me segura.
— Não ameace um Escobar. Mocinha, tome muito cuidado! Ele é homem e delegado e
pega mal bater em você, mas você está fazendo todos perderem a paciência aqui. Caso algo
aconteça com você, tudo pode ter saído em legitima defesa, afinal, temos muitas testemunhas
que confirmariam isso, e você não quer isso não é mesmo? — Meu tio diz a ela, e a puxa pelo
braço até um dos carros.
Todos entram nos carros. Saímos dali o mais rápido possível.
Só consigo sentir um tremendo alivio que tudo isso terminou... Bom, agora falta nos
livrar dessa bagunça toda.

Capítulo 10

Liziara Araújo

Estou ainda muito assustada com tudo o que aconteceu. Os Escobar conseguiram abafar
o caso e tirar um pouco do foco da mídia. David recebeu uma advertência… uma bronca para
melhor dizer. E tudo isso eu sei através da Daiane, que veio me visitar junto a Paula. Depois de
tudo eu vim para casa, e a Bia tem me ajudado. A fraqueza já passou, me alimentei bem,
porém será um pouco complicado tirar aquele momento da minha mente. Dormir noite
passada foi difícil, e fiquei revivendo o momento.
David não veio me ver, deve estar ocupado resolvendo a bagunça. O que mais me irrita é
saber que a culpada de destruir minha vida com o David teve a cara de pau de ir até aquele fim
do mundo me ajudar. Quando ataquei o Jorge foi porque a raiva me subiu à cabeça. Fui louca,
irresponsável e orgulhosa, porque não queria ter ajuda dela, e por isso o ataquei; mas se eu
disser que me arrependo, estarei mentindo. Meu único arrependimento é ter me apaixonado
por um Escobar, mesmo com todos os conselhos da Beatriz dizendo que seria uma roubada.
Enfim, quem é que manda no coração?
Daniel e Joaquim vieram me ver também, e disseram que a boate sem mim não é a
mesma e torcem por minha recuperação. Joaquim foi um pouco pegajoso, mais que o normal.
Sinto um pouco de pena e culpa, pois talvez eu tenha dado algum tipo de esperança que um
dia estaria com ele; e se dei isso não foi de proposito, pois todos sabem que ajo e depois vou
pensar.
Mas tem uma coisa boa diante de toda essa confusão. Eu acho que finalmente sei o que
eu quero fazer, o que eu quero ser. Percebi que de alguma forma eu sempre estive colada ao
perigo, como se fosse uma conexão. Primeiro foi com uma ex-aluna da universidade, a Luana,
a louca era uma psicopata e já tentou me matar. Depois ajudei os Escobar a ter certeza de
quem era o verdadeiro assassino do ex-noivo da Ana Louise, esposa do Henrique, e então fui
sequestrada e fiquei colada com a morte. Acho que isso foram mais do que sinais, do que eu
realmente tenho que ser.
Ontem meus pais queriam vir me ver, mas eu estava tão exausta que queria apenas
banho, comida, cama e esquecer tudo aquilo. E hoje estou à espera deles. Beatriz foi trabalhar
depois de eu obriga-la a ir. Estou sozinha em casa.
A campainha toca e me levanto com cuidado do sofá para atender. Estou com a perna
um pouco dolorida. Insistiram para eu ir ao médico, porém me recuso, afinal, não fizeram
nada comigo. Estou com dor na perna pelo Jorge ter chutado ela uma vez e eu ter caído no
chão. Já fico roxa à toa, imagine com um chute e um tombo.
Abro a porta e meus pais sorriem. Eles entram e fecho a porta. Sentam no sofá e eu faço
o mesmo.
— Filha... — minha mãe começa a dizer. — Eu nunca pensei que um dia sentiria tanto
remorso em minha vida. Se arrependimento matasse, eu estaria morta. Nada vai justificar
tudo o que nós fizemos com vocês. Fomos cruéis, péssimos pais. E olha para você...
Machucada, quase foi morta... — Ela chora, e confesso que estou estranhando essa reação.
— Se pudéssemos voltar no tempo e corrigir nossos erros, faríamos. Se pudéssemos
começar de novo, começaríamos. Não iremos pedir seu perdão, porque não somos dignos
dele, mas queremos que saiba que mesmo quando agíamos como monstros com você, no
fundo sempre te amávamos. O dinheiro, a fama, o poder nos cegou e perdemos a maior
riqueza que poderíamos ter tido… você. — meu pai diz, emocionado.
Meus olhos embaçam devido as lagrimas, e pisco forte para voltarem ao normal.
— Mãe, pai...
— Não. Não diga nada. Sabemos que nem deveríamos estar aqui. Porque se isso
aconteceu, foi por nossa culpa, que não te demos amor… por isso você cresceu desse modo,
impulsiva, carente. Nós fomos os culpados. Mas Deus sabe o quanto estamos completamente
arrependidos. Como eu queria voltar no tempo e não ter te colocado em um colégio interno!
Queria ter ido as suas apresentações escolares, ter dito todos os dias que te amava, ter dado
amor e carinho, ter falado o quanto está linda. Minha menininha cresceu, e temos sim muito
orgulho de você, porque sem nosso apoio se virou sozinha e batalhou pelas coisas que queria.
— Minha mãe chora como nunca vi, e meu pai tem uma expressão cansada, ele está abalado.
Levanto do sofá e com cuidado me ajoelho na frente deles. Seguro uma mão de cada.
— Vocês não precisam de perdão. Pai e mãe só temos uma vez na vida. Se passaram
vinte e dois anos, mas ainda temos muitos para corrigir todos os nossos erros. Se tem uma
coisa que aprendi nesses dias sequestrada é que a vida é curta demais. Não podemos perder
tempo com brigas, temos que curtir a todo instante, porque não sabemos o dia de amanhã.
Saiba que mesmo com tudo, eu sempre amei vocês, e sempre continuarei amando. — Abraço
os dois ao mesmo tempo e choramos.
— Te amamos, minha filha… muito, muito, muito! — meu pai fala.
— Nunca esqueça que te amamos. E jamais poderemos pagar o tanto de sofrimento que
lhe causamos.
— Esqueça isso, mãe. O passado já foi. O presente está aqui e nos dá a chance de
consertar nos erros.
Me afasto e me sento no sofá. Limpamos as lagrimas.
— Infelizmente temos que ir a uma reunião importante... — meu pai fala.
— Tudo bem. Em breve a Beatriz chega e não ficarei sozinha.
— Por favor, não faça mais loucuras! — Minha mãe diz e sorrio.
— Relaxem, estou pronta para outra.
— Nem brinque com isso! — meu pai diz seriamente.
Eles se levantam e me dão um beijo.
— Não precisa nos acompanhar até a porta, descanse...
— Gente, estou dolorida, andando que nem um pinguim, mas ainda me movimento.
Levanto e levo-os até a porta. Me despeço e tranco a porta.
Infelizmente muitas pessoas só enxergam os erros diante dos acontecimentos graves da
vida. Mas o importante é enxergar os erros, mesmo que as vezes seja tarde demais.
Estou prestes a me sentar no sofá e a campainha toca novamente.
— Gente, é sério… não irei inventar de me jogar da sacada!
Vou até a porta e abro. Eu me assusto.
— David?
Ele sorri daquele jeito meigo e ao mesmo tempo safado, que apenas ele sabe fazer.
— Posso? — pergunta indicando com a mão dentro do apartamento.
— Claro.
Dou passagem a ele. Fecho a porta.
Droga, eu tinha que estar com shorts de pijama e com uma blusa que faz conjunto, e para
piorar tudo repleto de minis cupcakes?
— Está muito dolorida ainda?
— Que nada... Apenas estou a cópia de um pinguim andando, mas estou de boa!
Ele sorri.
— Mentira, estou com as pernas doloridas. Porra, aquele cara sabia chutar bem uma
perna. — ele ri — E você ainda ri? Eu sofro viu!
— Queria conversar com você...
— Estou sozinha. Obriguei a Beatriz ir trabalhar, e foi a tarefa mais difícil da minha vida;
e olha que tentei ser psicóloga.
Eu me sento no sofá, e ele se posiciona ao lado de onde estou.
— Me perdoa? — pergunta em um quase sussurro.
— Pelo o que? — Sei pelo o que ele pede perdão, mas quero ouvir.
— Por ter sido um completo imbecil e ter te levado para as mãos dele.
— Você não foi culpado. Eu que agi como uma louca, como sempre. Mas acredito que
não seja esse o perdão que quer. — digo em um tom sério.
— Sim, eu fui o culpado. Fiquei tão focado em pegar o Jorge e treinar logo a Poliana que
deixei você de lado, e resultou em tudo isso. Se hoje me perguntasse qual foi o maior erro que
eu já cometi como Delegado, eu diria ter sido descuidado com você. Mas se perguntasse qual
foi o meu maior erro como David Escobar, eu diria ter sido orgulhoso ao ponto de negar para
mim mesmo que eu desde que coloquei os olhos em você, eu te amei.
Acho que fui ao céu e voltei. Devo ter entendido errado, só pode!
— Você o que? — pergunto com medo de ter entendido errado.
— Eu te amo, minha maluquinha. E fui um merda quando vim alterado até aqui e te
disse que era uma menina. Você é uma mulher maravilhosa, é a minha mulher maravilhosa.
Liziara, eu pouco me importei se perderia meu cargo, se seria preso… eu apenas queria te
trazer de volta para mim. Você sempre vai ser mais importante do que meu sobrenome,
minha carreira, meu dinheiro, minha fama. Por você eu jogaria tudo isso fora, para ter certeza
que você sempre estaria segura e em meus braços e que nos amaríamos para o resto da vida.
Pode ser tarde para tudo o que te digo, mas eu te amo; e a cada vez que penso que eu poderia
ter te pedido, uma parte de mim morre. Eu só te peço uma chance... me dê uma chance de te
fazer feliz ao meu lado, eu imploro.
Choro, emocionada. Droga, hoje tiraram o dia para me fazer chorar. Sorte que não passei
rímel, porque está caro.
— E quem me garante que nada vai voltar a ser como antes? Que na primeira
oportunidade você vai me largar. Não sou mais a mesma David. Cansei de baixar a cabeça
para suas merdas. Não vou competir com a Poliana, ou quem quer que seja. Não sou de
ninguém pela metade, e não aceito que ninguém seja meu pela metade. — Tento me
controlar. Não irei gritar, não mais. Chega de me humilhar.
— Eu mandei ela de volta para onde tinha vindo. Poliana não existe mais. Ela tentou
ficar, insistiu, mas mesmo ela sendo vulgar ou como quiser dizer que ela era, também tinha
um coração; e quanto mais ela ficasse, mais confusão seria, e mais iludida ela ficaria. Não sou
idiota, sei que ela estava interessada em mim antes do show dela naquele inferno e da surra
que você deu nela, mas não tenho nada com ela e nunca tive. Também não pretendo ter. Ela
foi embora com ódio, mas paciência.
— Sem mentiras?
— Sem mentiras, sem Poliana, sem mulher alguma entre nós, sem bandido algum
tentando te sequestrar, sem nada além de nós dois.
— Será do meu jeito, David. Se você vacilar, esqueça que eu existo. Eu passei o inferno e
você sabe disso. Precisou eu ser sequestrada para você vir até aqui me dizer tudo isso. Então
não torne suas palavras apenas meras palavras. Torne elas em atitudes.
— Te peço apenas essa chance de mostrar que meu coração só tem lugar para uma
mulher, e é você. Eu te amo, sempre amei, mas me neguei a dizer. Uma chance... Se eu vacilar,
não será preciso pedir duas vezes para eu sumir da sua vida. Mas saiba que não irei vacilar
com você, não mais. Aprendi da pior forma, e não quero mais aprender assim. — Suas
palavras refletem a verdade em seus olhos. — Parece que estou destinado a aprender sempre
da pior forma. Foi preciso meu pai morrer para eu me apegar mais a família, e preciso você
quase morrer para eu deixar meu coração falar, e não mais meu medo. Não quero aprender
mais assim… não com você, pelo menos.
— Então vem até aqui me dar um beijo, porque estou com a perna doendo para levantar.
Ela ri.
— Folgada.
— Sempre.
Ele se aproxima e me pega no colo.
— David! — grito rindo.
Ele caminha comigo em seus braços até o quarto, onde me coloca com cuidado na cama
e fecha a porta.
Ele sobe em cima de mim com cuidado.
— Eu te amo, meu delegado.
— Só seu, minha maluquinha. Eu também te amo, meu amor.
Sua boca ataca a minha com uma gostosa necessidade. Como eu senti falta do beijo dele!
Sinto um frio na barriga. Ele esfrega sua ereção em mim, e isso me deixa excitada. Solto um
gemido involuntário. Agarro seu cabelo e puxo com força, e o safado gosta.
— Eu deveria te prender por puxar meu cabelo desse jeito. — ele diz com a voz rouca de
desejo.
— E o que diria em sua defesa? Afinal, quem me colocou na cama e me atacou foi você. E
tem mais, não pense que isso é sexo de reconciliação, porque não sou dessas… ainda estou
puta de raiva com você.
— Diria que você me enfeitiçou... E não penso nisso porque te conheço. Penso que é
sexo de “estou morto de tesão e preciso de você”.
Ele beija meu pescoço e fecho os olhos de prazer.
— Isso... seria uma péssima... mentira... Ah...
— Falaria que apenas apertei seus seios e os chupei... — Ele o faz. Eu me contorço e
agarro a colcha. — Depois diria que desci minha mão para dentro da sua calcinha e te
estimulei... — Sua mão desce para dentro da minha calcinha e ele faz o que disse.
— David... — Ele puxa meu short com a mão livre e o arranca. Logo depois faz o mesmo
com a calcinha.
— Depois eu diria que não resisti e coloquei minha cabeça entre suas pernas e a chupei.
— Porra! — digo quando sinto sua boca me chupando.
Ele chupa com força, e sei que não irei resistir por muito tempo.
— Falaria também que você gozou na minha mão, quando penetrei dois dedos dentro
de você... — Ele faz e não resisto. Suas palavras instigaram a isso, e eu gozo em sua mão.
— Você quer acabar comigo...
Ele começa a tirar a roupa rapidamente, e em segundos está completamente nu. Retiro a
blusa.
— Você é linda. — ele diz me admirando.
Ele se encaixa entre minhas pernas.
— Tentarei ser cuidadoso afinal você está dolorida… e também terei que dizer na minha
defesa que fui cuidadoso... — ele provoca.
— Se for cuidadoso, eu te enforco. — ele sorri. — Mete logo, porra!
— Boquinha suja. — diz rindo.
Ele encaixa seu membro na minha entrada gozada. David se inclina em cima de mim e
vai se encaixando.
— Caralho... você é sempre tão apertada e tão quente... Assim fode a minha ideia de
tentar ser romântico.
— Não pedi por isso... — Arranho suas costas.
— Se ficar marcado vai pagar caro, meu amor. — sorri com malicia.
— Adoro pagar car... — Não consigo terminar, pois ele me penetra com força. — David!
Sua boca vem até a minha, e ele me penetra com rapidez. O som dos nossos corpos se
batendo é nítido. Ele afasta a boca da minha.
— Você a única mulher que irei foder e fazer amor… a única. Você é minha! — ele
sussurra roucamente no meu ouvido, e eu grito de prazer.
O suor escorre por nós. O cheiro do David me deixa ainda mais louca. Suas estocadas
são firmes e rápidas. Meus seios chacoalham no ritmo que sou penetrada. Estou sentindo o
orgasmo vir e começo a intensificar meus gemidos. Ele sabe, pois me penetra ainda mais
forte.
— E por último... direi que você gozou no meu pau e teve um orgasmo debaixo do meu
corpo… e que eu gozei dentro de você como um louco...
— Ah... David! — grito seu nome quando o orgasmo me atinge. Gozo como uma louca.
Meu corpo tem espasmos. Ele continua investindo, mas em segundos sinto seu gozo dentro
de mim, e ele goza me chamando.
Sua boca vem até a minha e me dá um beijo casto.


Estou na cozinha de apenas calcinha e sutiã. Tomei banho, e como está calor, não ligo de
ficar assim em casa; e foda-se se tiver vizinhos olhando, não mando ninguém olhar o
apartamento alheio. Mas o David saiu fechando todas as cortinas que tinha, puto de raiva
comigo.
Estou comendo nutella com a colher. David entra na cozinha e encosta no batente da
porta.
— Que foi? — pergunto.
— Seu corpo... — Tiro a colher da boca.
— O que tem? Estou mais roxa do que eu vi? Droga! — Abaixo a cabeça olhando para
meu corpo.
— Não... é que... Deixa pra lá. Estou atrasado, tenho um caso para resolver.
— Nem pense nisso. Diga logo o que tem meu corpo!
— Amor, eu tenho que me trocar. Não tem nada demais, foi apenas uma coisa que
reparei, nada demais.
— Como assim nada demais? Se reparou é porque está grave. David, você como
delegado é um bom observador, não iria dizer isso à toa. Diga logo! — Largo o pote de nutella
e a colher na pia.
— Deixa eu me trocar primeiro.
— Você está fugindo do assunto... Fala logo!
— Está bem. — Ele respira fundo. Até parece que vai dizer a rainha da Inglaterra que o
cabelo dela está péssimo. — Desde que estávamos no quarto eu notei, e agora percebi ainda
mais. Seus seios estão maiores, seu quadril um pouco largo, e você sempre teve a barriga lisa,
mas ela está parecendo um pouco inchada...
— David Escobar, você está me chamando de gorda?!
— Não... Eu apenas quis dizer que seu corpo está mudado.
— As características foram basicamente me chamando de gorda!
Saio da cozinha e paro na sala a tempo a porta ser aberta. É a Bia.
— Resolveu desfilar de lingerie hoje? — ela brinca.
— O idiota do David me chamou de gorda! Porra, olha para mim, eu estou gorda? — ela
sorri.
— Eu não chamei você de gorda, Liziara!
— Merda, espero que não tenham feito nada em cima da pia! — Beatriz diz tampando o
rosto.
— Não fizemos. E se fosse acontecer, não daria… afinal sou gorda! — grito com uma
puta raiva.
— Liziara, você está meio... Bom, está diferente. Chorona, surtada, para não dizer
bipolar... — Bia diz ainda com os olhos tampados.
— Até você, Bia?
— Beatriz, descobre esse olho. Não estou nu... E vai me dizer que nunca viu um homem
de cueca? — ele provoca ela.
— Vocês ainda vão me enlouquecer. Eu preciso de férias de vocês.
Ela vai para o corredor e entra no quarto dela.
David para na minha frente e segura minha cintura.
— Amor, eu não te chamei de gorda. Não precisa surtar. Apenas fiz um comentário
inocente. Porém quero te fazer uma pergunta séria.
— Faça.
— Você está tomando regularmente o anticoncepcional?
Engulo a seco. Acho que fiquei pálida porque ele me olha estranho. Eu me afasto e me
sento no braço do sofá.
— Anticoncepcional?
— Sim.
— Aquele que evita gravidez?
— Liziara...
— Claro... Estou tomando certinho. Afinal você confiou em mim, pois sou a única que
você foi para a cama sem camisinha. Eu jamais, em hipótese alguma eu ferraria com tudo...
— Não confiei no que disse, mas irei deixar passar porque tenho que ir. — Ele me dá um
beijo — Tenho que me trocar.
Ele sai da sala e me levanto, sentando direito no sofá. Estou tão preocupada, que só
lembro da dor nas pernas quando sento com tudo.
— Quando foi mesmo que eu tomei? — Esfrego a testa — Merda, não lembro! Estou
fodida!

Capítulo 11

Liziara Araújo

Faz alguns dias desde o sequestro e estou mais calma. David não desgruda de mim, e
amo isso, sua preocupação, amor e carinho sem limites. Ainda estou afastada da boate…
Daniel preferiu assim até eu me recuperar totalmente. As pernas já não doem mais, porém o
que as vezes acontece são alguns enjoos, mas é muito raro… e, sim, eu estou com medo sobre
o que pode estar causando os enjoos; o que me deixa longe dos hospitais e farmácias, porque
a única coisa que se passa na minha cabeça é gravidez, e estou apavorada que seja isso, afinal
minha menstruação está atrasada, e pelas minhas contagens a dois meses. Louca por ainda
não ter feito um teste? Sim, eu sou. Mas, eu irei fazer, estou criando a coragem que me falta. Se
o David sonhar que eu comecei a me atrapalhar com os horários do anticoncepcional e
esquecia de tomar devido ao trabalho na boate, que me gerava muita canseira e me tirava
muito tempo, e o tempo livre eu queria saber de dormir, estar com ele e sair, e esquecia até
meu nome do jeito que sou, com toda certeza ele vai surtar comigo.
— Liziara, foca! — Beatriz e Daiane falam. Ambas estão de folga e resolvemos nos juntar
no apartamento.
Quero fazer uma surpresa para o David, algo bem sensual e romântico ao mesmo tempo,
e elas estão me ajudando nas ideias.
— Eu conheço bem meu irmão. David é do tipo que faz de tudo, se é que me entendem,
mas não é o tipo de cara que faz isso em lugares públicos. Henrique e ele são mais travados
nesse quesito, a não ser que estejam à beira de gozarem nas calças. — Olhamos chocadas para
elas — Meninas sou sincera. Uma vez o Henrique ficou tão excitado com uma menina na
boate que transou com ela no banheiro feminino, e eu e mais outras tivemos o azar de ver
isso, tenho trauma até hoje. David transou com uma funcionária na piscina do clube que a
família reservou apenas para nós, e minha mãe pegou ele, coitada. — Ela toma folego e
continua — Então pense bem na loucura que vai fazer. Ele nunca faz, e quando faz tem
tendência a ser pego.
— Na piscina? Que cachorro! Irei focar na parte que agora ele está comigo. — digo e elas
riem. — Mas eu pensei em um determinado lugar... Droga. Por que ele não puxou ao tio dele?
Esse sim tem cara que não liga para fazer certas coisas em lugares inapropriados. — Daiane
ri.
— Sorte sua que não puxou ao meu tio. Aquele ali é o pior de todos da história da
safadeza. Ele é dono do cabaré todo. São tantas cenas que vi sem querer e que fui obrigada a
ouvir da boca dele, que sinceramente, tenho até nojo. Não é algo que uma sobrinha quer ver
ou saber do tio. Uma vez peguei ele na sala dele com a Débora...
— Com quem? — Beatriz quase grita.
— Vocês não sabiam? — franzimos o cenho — Ele e ela tiveram um relacionamento a
anos atrás... Bom, eles diziam que era apenas um caso e nada mais, porém não era o que
parecia... Enfim, o assunto é o David. Você quer algo romântico e sensual. Por que não vão
para a fazenda da família? Lá é lindo para isso. Ou a casa de praia.
Ainda estou chocada em saber que o Marcos e a Débora... Preciso focar no David, mas a
fofoca é tão boa. Merda, a cara da Bia não está boa.
— Quero algo por aqui. Ele não vai querer viajar agora.
— O que quer afinal? Poderia fazer algo único e que fosse ficar marcado para o resto da
vida dele. — Beatriz fala.
— É isso, Bia! Tive uma ideia. Meninas vocês são ótimas, mas eu tenho que sair, preciso
fazer umas comprinhas.
— Liziara, pelo amor de Deus, o que vai aprontar? — Beatriz pergunta preocupada.
— Prometo contar tudo depois.
— Me poupe de certos detalhes... Ele é meu irmão, é nojento.
— É tudo, menos nojento. — digo, indo para o quarto me trocar e pegar minha bolsa.
Hoje será um dia marcante.

David Escobar

É tarde, estou praticamente só na delegacia. Não fui ainda ver a Liziara, mas depois
daqui irei. Estou cansado. Quero férias, eu preciso de férias.
Meu celular toca. É a Liziara.
— Oi, meu amor. — digo a ela.
— Está na delegacia? Me diz que sim!
— Estou. Por que?
— Está sozinho?
— Estou... Mais ou menos, tem policiais, e mais ninguém.
— Ótimo. Eu já imaginava. Estou entrando. — ela desliga.
O que está acontecendo?
Minutos depois a porta se abre. As persianas estão fechadas. Ela entra. Está com um
sobretudo preto, saltos altos, bolsa. E isso até seria sexy se não fosse preocupante.
— Amor, está um calor terrível lá fora. Por que está...
Não tenho tempo de dizer. Ela retira o sobretudo e revela o que escondia. Ela veste um
sutiã preto, acompanhado de uma calcinha preta com uma mini saia rendada da mesma cor.
Ela retira da bolsa um enfeite de orelhas de gato e coloca na cabeça.
Tento me conter, mas não aguento e começo a rir.
— O que foi? — ela pergunta inocentemente.
— Liziara, eu não acredito. Roupa de mulher gato? — gargalho.
— David, eu não acredito! Estou toda sexy aqui. Rodei tudo quanto é sexy shop para
achar essa roupa e você ri?
— Amor, é que está engraçado, apenas isso. — Eu me acalmo da gargalhada — Você é
louca? Estamos na delegacia.
— Devo ser por achar que te encantaria. Que humilhação. Quanta calúnia!
Ela pega o sobretudo e a bolsa e caminha até a porta.
— Onde pensa que vai assim?
— Embora. Na rua alguém pode achar atraente.
Levanto rapidamente da mesa e a seguro, puxando para mim.
— Uma porra! Você sair assim, eu juro que te mato!
— Me solta! Já te diverti muito.
— Não foi porque eu ri que não estou excitado. Você é gotosa e muito linda, sabe disso.
Acha mesmo que não me atrairia vestida assim? Porém você veio ao local errado, pois se eu
perder meu cargo, a culpa será apenas sua.
Puxo as coisas da sua mão e jogo para baixo da mesa.
Coloco ela no espaço livre em cima da mesa. Eu me coloco entre suas pernas e tomo
seus lábios para mim. Esfrego minha ereção e ela geme.
— Mulher gato... É, combina com você. Bem arisca como uma quando está com ciúme.
Beijo seu pescoço e ela enrola as pernas ao meu redor. Desço até seu sutiã, abro o fecho
na frente, e chupo seu seio enquanto massageio o outro.
— Merda... Se... Eu gritar aqui... Os outros policiais... — Ela desiste de falar.
— O que ia dizer, amor? — pergunto provocando.
Pego ela no colo e caminho até minha cadeira. Coloco ela no chão. Eu me sento na
cadeira e puxo-a para se sentar em meu colo de costas para mim. Assim que ela senta, afasto
suas pernas, e sem cerimonias, invado sua entrada com um dedo enquanto aperto um de seus
seios. Ela grita, e pouco me fodo para quem vai ouvir. Faço um vai e vem com o dedo, e ela se
abre mais para mim. Desço a outra mão e massageio seu clitóris. Ela tenta fechar as pernas,
mas a impeço. Meu pau está cada vez mais duro e irei gozar nas calças se ela rebolar mais um
pouco em meu colo como faz.
— David, eu vou...
Escuto barulho na fechadura da porta. Tiro rapidamente meu dedo de dentro dela. Ela se
levanta, assustada, e se coloca embaixo da minha mesa. Eu me ajeito e tento esconder a porra
da ereção que estou, mas não resolve muito… justo hoje vim com uma calça bem justa.
Cleber entra na sala e finjo estar olhando uns papeis. Coloco os pés em cima da mesa,
para tentar esconder mais a ereção.
— Esqueci meu celular. Não imaginei que ainda estivesse aqui. — ele diz e sorri.
— Muito trabalho.
— Entendo... Olha, achei... — Ele pega na mesa do escrivão. — Vai para casa e toma um
banho bem gelado...
Ergo o olhar dos papeis.
— Por que diz isso? — tento ser sério.
— Não adiantou a forma de esconder que está com uma porra de uma ereção. A sala
cheira a sexo. E Liziara, boa noite, adorei seu sapato… comprarei um igual a Débora.
— Merda! — Ela bate a cabeça na mesa. — Boa noite, Cleber.
— Vocês dois são loucos. — ele diz rindo e sai da sala.
Ela sai de baixo da mesa e começamos a rir.
— Poderia ter sido pior. — ela diz.
— Sim. Poderia ter sido meu superior. Vamos terminar isso em casa.
— Pensei no carro...
— Chega de complicações por hoje.

Liziara Araújo

É sexta-feira. David e eu, junto aos Escobar e a Beatriz, estamos na fazenda da família
que ninguém vem a tempos. É tudo lindo como já poderia se imaginar. Dona Paula não quis
vir, diz ainda não estar preparada para vir para cá sem o falecido esposo, Joseph, pois quando
recebeu a notícia da morte dele, ela estava aqui. E desde todos esses anos, nunca mais quis vir
para cá.
É noite e faz um pouco de frio. Estamos ao redor de uma fogueira, contando histórias,
rindo, comendo marshmallow e nos divertindo bastante. Estou no meio das pernas do David.
Henrique tem a cabeça deitada no colo da Ana. Daiane e Bia estão juntas em um cobertor, e
Marcos está deitado com a cabeça nas minhas pernas. Yasmim, a filha do Henrique e da Ana
está dormindo lá dentro, mas a babá eletrônica está aqui para qualquer alerta.
— Então, qual era a novidade que queria nos contar, Liziara? — Ana pergunta animada.
— Contarei se prometerem não rir.
— Ninguém vai rir, amor.
— Eu não prometo nada, porra louca. — Marcos diz e dou um tapa na testa dele — Ai,
sua porra! Anda pior do que uma gata arisca! — ele diz esfregando onde bati.
David, eu, Daiane e Beatriz começamos a rir, pois elas sabem do que aconteceu na
delegacia, com a fantasia de mulher gato.
— O que foi? — Henrique pergunta.
— Nada. Piada interna. — David e eu dissemos juntos.
— Diga logo, estou curiosa! — Daiane fala.
— Certo. Eu decidi que não darei continuidade no curso de psicologia, mas iniciarei
outro curso.
— E qual curso? — David pergunta.
— Direito. Quero ser delegada.
Todos começam a gargalhar.
— Gente, não era para rir, poxa. Falo sério.
— Liziara, você delegada? Me recuso a viver em um país que uma das delegadas seja
você. — Marcos provoca.
— Problema seu. Posso ser uma boa delegada para sua informação.
— Tem certeza? — Henrique pergunta zombeteiro. Ana dá um tapa nele — Que foi,
minha advogata ruiva?
— Acho que ela seria uma boa delegada. Seria atrapalhada, mas seria boa. — Daiane diz
sorrindo.
— Ufa, pelo menos uma. — digo.
— Sou sua amiga e serei sincera. Você não tem jeito para isso… é toda atrapalhada, é
capaz de se prender no lugar do bandido. — Beatriz diz rindo.
— Vou me arrepender disso, mas tenho que concordar com a Senhorita Invocada. —
Marcos fala.
— Não me provoca, seu Juiz de quinta! — ela diz.
— Não comecem! — Falo.
— Amor, o que quiser fazer, eu irei te apoiar. Seria ótimo ter uma delegada gostosa e
linda como você ao meu lado ao invés daqueles homens todos. — ele diz e me dá um beijo.
— Acho que vou vomitar! — Daiane fala.
— Estamos torcendo por você. — Ana fala e sorrio para ela.
Beatriz coloca um marshmallow na fogueira e o cheiro adocicado me embrulha o
estomago. Sinto um enjoo forte. Levanto rapidamente e o Marcos bate a cabeça no chão e me
xinga. Saio correndo sobre os gritos de todos atrás de mim. Entro na casa e corro para o
primeiro banheiro. Fecho a porta e me jogo ao lado do vaso sanitário; levanto a tampa e
começo a vomitar tudo o que comi.
A porta se abre e escuto passos e logo ela fecha.
— Hey, o que aconteceu, Lizi? — Bia pergunta.
Limpo a boca com o papel higiênico e dou descarga. Abaixo a tampa da privada e sento
em cima. Estou fraca e tremendo.
— O cheiro do marshmallow me enjoou. Sei lá...
— Liziara, vire mexe você anda tendo enjoos e teima em ir ao médico. Não contei ao
David do dia que estávamos em seu apartamento e quase colocou os órgãos para fora, mas
terei que contar. Olha como está. — Daiane diz preocupada.
— Linda, quanto tempo anda assim? — Ana pergunta.
— Há um tempo já.
— Sua menstruação está atrasada, não é? — ela pergunta novamente.
— Sim.
— Você realmente deu uma engordada… não tão drástica, mas é notável, já que é bem
magra. — Bia fala.
— Liziara, eu fui mãe, e conheço bem os sintomas. Você está grávida. — Ana diz
animada. — Precisa fazer um teste, mas tenho certeza!
— Não posso... — Sou interrompida por batidas na porta.
— Liziara, abre a porta! — David diz.
— Não... Se ele sonhar, não sei o que é capaz de acontecer... — digo baixo.
— Ele tem que saber. — Daiane diz.
— Eu não posso perder o David!
— Liziara, abre logo, ou coloco essa porta abaixo! — ele grita.
A Ana abre.
— Vem, precisamos conversar. — ele fala em um tom sério.
— David... — Henrique tenta dizer, mas David faz sinal para ele parar.
— Quero conversar com a minha namorada e tenho esse direito. Vamos, Liziara.
Levanto da privada e saio do banheiro.
Subimos para o quarto que estamos. Ele fecha a porta. Eu me sento na cama, pois ainda
estou um pouco fraca.
— Quando ia me contar que sua menstruação está atrasada e que anda tendo enjoos? Eu
escutei quando disse a elas!
— David, eu não contei porque estava e ainda estou com medo.
— Eu te dei a chance de dizer quando comentei que notei mudança em seu corpo. Por
que não aproveitou aquele dia e disse?
— Porque eu tive medo!
— Amanhã cedo irei comprar o teste de gravidez porque esta tarde. Mas pelo visto já
temos certeza, não é mesmo?
— David, eu sei que falhei. Droga, fui irresponsável com o remédio, quando confiou em
mim. Eu mereço que me xingue, surte, mas só não me deixe, por favor. Eu não tenho vergonha
de me humilhar pedindo isso a você. Eu já sofri demais por você, e não vou sofrer novamente.
Se me deixar, é para sempre, pois não retornarei mais. — digo com a voz embargada pelo
choro.
— Eu não irei te deixar. Que tipo de homem pensa que eu sou? Eu sempre soube que era
atrapalhada, desligada, e sim, eu confiei que você tomaria corretamente o medicamento, mas
não sou idiota ao ponto de acreditar que isso não iria falhar, e sabia que logo iria acontecer
isso em relação eu não querer camisinha. Não estou te culpando, Liziara, e tenho certeza
absoluta de que espera um filho meu e vou assumir a criança. Eu não irei te deixar por isso,
jamais pense nisso. Eu te amo e isso jamais mudará. Eu tinha medo, e construir uma família
diante do medo é difícil. Quando perdi meu pai, prometi que não sofreria a dor da perda
novamente, preferia morrer ao sofrer aquilo. Mas você chegou em minha vida e tudo mudou.
Não irei te deixar, acredite em mim. — Ele se aproxima e me dá um beijo na testa.
— Por que senti que esse beijo foi uma despedida? — pergunto preocupada.
— Vou sair, mas eu volto, não se preocupe. Sempre irei voltar para você, meu amor.
— David, onde vai? É tarde.
— Tome um banho e descanse, quando acordar eu estarei ao seu lado.
Ele então sai do quarto.
Fico deitada olhando para o nada por um bom tempo.
Depois de talvez horas, tomo um banho, escovo os dentes para tirar o gosto ruim que
ficou na boca e desço.
Apenas Ana está na sala, amamentando a Yasmim.
Eu me sento no sofá de frente para o que ela está.
— Ele não voltou, não é? — ela pergunta.
— Sim. Não disse para onde iria.
— Vimos ele sair. Não saiu de carro. Marcos disse que ele deve estar no chalé da família,
que fica depois do lago. Disse que é o lugar predileto dele aqui.
— Ana, estou com medo. Eu não sei se vou ser uma mãe boa... — digo em um quase
sussurro.
— Eu sei. Também fiquei quando engravidei. É difícil ser mãe quando não teve um bom
exemplo. Minha mãe, todos sabem que nunca me suportou, mas tem coisas que nunca contei
a ninguém, mas sinto que devo te contar. Quando pequena ela nunca me fez uma festa sequer
de aniversario, e nem me dava parabéns. Certa vez escutei ela dizer ao meu pai que eu fui o
pior erro dela, e ele concordou. Eles nunca quiseram ter filho, mas aconteceu. Nunca foram a
nenhuma apresentação escolar minha, nem ao menos a minha formatura da faculdade.
Sempre odiaram eu ter escolhido Direito Criminalista...
Yasmim dorme mamando e ela retira a mamadeira.
— Quando conheci o meu ex-noivo, Rodolfo, o seu antigo professor. — ela sorri — Eu
trabalhava, estudava e mantinha a vida dos meus pais, que só queriam meu dinheiro. Mas
então quando fui morar com ele, decidimos que eu deixaria o emprego e focaria na faculdade
e ele me ajudaria; e foi neste momento que tudo piorou. Eu não tinha mais dinheiro para
oferecer a eles, e eles simplesmente passaram a me suportar ainda menos. No dia do meu
casamento com o Henrique ela apareceu, mas eu vi em seus olhos que ela não tinha mudado,
e que foi ali apenas ver se era verdade que eu estava me casando com o advogado criminalista
mais famoso. E como já viu, ela só me liga para pedir dinheiro… diz que tenho obrigação de
dar dinheiro a ela e meu pai, e ele ainda confirma.
— Eu sinto muito, Ana... Não imaginava que eles poderiam ser assim.
— Diante de tudo isso, que exemplo eu poderia ser a minha filha? O que ensinaria a ela?
Como no futuro diria que quase fui presa por um crime que não havia cometido? E foram
essas perguntas e muitas outras que me fizeram ter medo. Mas eu descobri que eu poderia
ser uma boa mãe e dar a ela o que nunca recebi dos meus pais, amor, carinho e proteção. E
claro, com o Henrique ao meu lado, tudo ficou mais fácil. — Seus olhos brilham ao falar dele. O
amor dos dois é lindo.
— Acha que eu posso ser uma boa mãe? Mesmo que o David desista de mim e cumpra
apenas com o papel de pai?
— Você vai ser uma boa mãe. E ele jamais vai desistir de você. Ele te ama e vai amar
essa criança como todos nós.
— Obrigada, por confiar em mim para contar tudo isso. — ela assente e sorri.
Henrique aparece na sala.
— Aconteceu algo? — ele pergunta preocupado. Estava dormindo pelo visto.
— Não. Estávamos conversando apenas. — Ana diz.
— David retornou? — ele pergunta e nego. — Vá deitar Liziara, é tarde. Amor, você
também. Vou acender a lareira do quarto da Yasmim, pois está frio.
— Vai em algum lugar? — ela pergunta.
— Vou atrás do meu irmão. Está muito tarde e estou preocupado, e não consigo dormir
em paz. Meu tio é capaz de descer daqui a pouco, pois vi a luz do seu quarto acesa e escutei
barulho.
— OK. Tome cuidado. Vamos Lizi, você me acompanha. — Ana pede.
Subimos. Fui para meu quarto e ela foi ao da Yasmim, que é ao lado do dela.
Deitei na cama e me cobri. Estou preocupada. E se o David não estiver no chalé?!
Acordo sentindo um carinho na minha bochecha. David me olha e sorri.
— Onde estava? Fiquei preocupada.
— No chalé. Precisava ficar um pouco sozinho. — ele sorri.
— Está bravo comigo, não é? Pisei feio na bola.
— Não amor, eu não estou. Apenas um pouco assustado, porque ter filho é mais
responsabilidade do que ser um delegado e envolve muita coisa. Mas não estou bravo com
você e não ficaria. Eu te amo e sempre vou te amar.
Sua mão desliza para minha barriga, onde ele faz contornos com os dedos.
— Eu também te amo, e estou assustada também. Mas vamos ser bons pais, eu tenho
certeza... Se bem que eu como mãe é algo grave... — ele sorri.
— Será uma mãe perfeita… louca, mas perfeita. — Ele franze o cenho.
— O que foi?
— Liziara, há quanto tempo a sua menstruação está atrasada?
— Dois meses... por ai.
— Eu não acredito. Então quando você se meteu em perigo, lutou com o Jorge e sabe se
lá o que mais aprontou, estava gravida! Eu vou te enforcar! — ele diz nervoso.
— Em minha defesa, ainda não confirmei que estou gravida.
— Quer mais provas? Menstruação atrasada, enjoos, engordando, comendo mais que o
normal e ficando bipolar não são o suficiente?
— Em minha defesa? Não. Apenas amanhã cedo depois do teste você surta... Nossa,
estou com um sono. — Eu me viro para o outro lado.
— Isso não acabou. Depois desse teste você vai ao médico, e pode ter certeza que vai
implorar para eu te deixar, porque serei mais protetor do que nunca, porque você é louca! E
pode esquecer sexo, porque não irei machucar nosso filho.
— David, isso é demais! Mulher gravida pode fazer sexo, porém tem que ter mais
cuidado.
— Pode esquecer. Criarei a porra de calos na mão e viverei como uma porra de um
adolescente virgem, mas sem sexo a partir de hoje.
— Porra!
A Bia estava certa ao dizer: Os Escobar são para foder o juízo, e não é no bom sentido.

Capítulo 12

Liziara Araújo

Meses depois...

Estou com quatro meses. Minha barriga já é notável. E como não seria? Estou gravida de
gêmeos. Isso mesmo. David quase morreu quando soube, e eu desmaiei, literalmente. Mas aos
poucos nos acostumamos com a ideia. Ainda não sabemos o sexo, porém Marcos provoca
dizendo que serão duas meninas para arruinar a vida do David, e ele diz que se isso acontecer
é porque está pagando os pecados.
Hoje vou almoçar com ele. Irei me encontrar na delegacia, onde acabo de chegar.
Saio do carro sem esperar pela porta ser aberta pelo Alex, contratado pelo David e
escolhido pelo Luciano e Simon, seguranças mais velhos da família. Ele está ao meu dispor a
todo momento.
Encontro Cleber na entrada. Ele me cumprimenta.
— Quem matou? — ele brinca.
— Vim para matar o que está me matando.
— A fome. Adivinhei?
— Totalmente. — sorrimos.
— David está ocupado agora, mas entre e espere na sala de reuniões se preferir.
— Certo. — Olho para ele e percebo que não está de farda. — Folga?
— Não. — Ele sorri. — Não sou mais policial.
— Que?! Como? Por que? — pergunto preocupada.
— Vim trazer a notícia ao David. Sou o mais novo investigador da delegacia.
— Ai que maravilha!
Dou um abraço ele.
— Parabéns. Você merece.
— Obrigado! Agora entre, se David te pegar aqui, me enforca e te enforca.
— Nem me lembre. Boa sorte na nova carreira. Mande a Débora ir me visitar, ela some.
— Mando sim. — Ele me da um beijo no rosto. — Até mais.
— Até mais! — Ele se afasta.
Entro na delegacia. Cumprimento algumas pessoas que já me conhecem.
Eu me aproximo da sala do David ,e ele está saindo com uma moça chorando
desesperadamente. Fico preocupada e angustiada por vê-la assim.
— Vamos encontrar. Não se preocupe! — ele diz a ela.
Ela se afasta e ele respira fundo.
— O que aconteceu? — pergunto preocupada.
— O filho desapareceu. Saiu para ir até a casa de um amigo no mesmo condomínio de
casas e não voltou. Faz três dias. Ninguém tem notícias e não tem pistas do paradeiro.
— Meu Deus! Quantos anos?
— Sete anos. O amigo mora na casa ao lado.
— Gente! E você acha que tem possibilidades de encontra-lo?
— Infelizmente não sei dizer. Ele é branco, olhos claro, loiro, sabemos que são as
características procuradas por pessoas que comandam tráficos de crianças, trabalho escravo,
entre outros.
— Sinto tanto pela família.
— Odeio quando envolve criança. Fico puto de raiva.
— Imagino...
— Vamos almoçar.
— Vamos sim.
Ele olha para trás de mim e xinga.
— Porra, estou pagando meus pecados! Vocês novamente! Acho que vou dar um jeito de
contratar vocês, já se tornaram parte de mim! João Ricardo e Maximiliano, o que aprontaram
agora?
Eu me viro e sorrio.
Desde que conheço o David, perdi as contas quantas vezes vierem parar aqui.
Cleber está com eles e sorri.
— Tinha que trazer os dois até aqui dentro antes de sair. Não resisti. Pedro trouxe eles,
mas eu tive que fazer essa honra. — rimos.
— Senhor, esse moço implica muito! Toda vez nos pega. A gente dessa vez não fez nada.
— João Ricardo diz.
— Não fizeram nada? Santos, claro! — David fala. — Leve eles para sala. E chame Pedro
para relatar o que aconteceu.
— Esses vão entrar para o livro de recordes de tanto que estão vindo aqui! — Cleber
fala.
— Senhor, livra nós! — Maximiliano pede.
— Livrar? Infelizmente é o que vai acontecer. Esse é o nosso país. Se pudessem ter um
corretivo melhor, não estariam mais aparecendo aqui. — David diz.
Eles são levados para sala do David. Cleber se retira rindo. Pedro entra na sala.
— Já iremos, espera um momento, amor. — David pede.
— Sem problemas. — sorrio.


Estamos indo almoçar no restaurante próximo a delegacia. David mantem o braço na
minha cintura.
— David, tira essa arma da cintura, porra! Todo mundo está olhando! Já não basta estar
de óculos de sol para te deixar mais sexy!
— Devem estar olhando a porra desse vestido curto. E não implique com minha amante.
— Sério que terei que ouvir que sua arma é sua amante?
— Sim. — ele diz como se fosse a coisa mais normal do mundo.
Uma mulher passa por nós e fica olhando para o David.
— Boa tarde, Delegado. — ela diz.
— Boa tarde. — ele diz sorrindo e ela continua andando.
— Que porra é essa?
— Apenas fui educado, amor.
— Ela te comeu com os olhos!
— Paciência, amor!
— Quais são as chances do Henrique ser meu advogado, e o Marcos, meu juiz?
— Depende. Por que?
— Porque irei te matar! Filho da...
— Olha a boca. — Ele me para no meio da calçada, me agarra e me dá um beijo. — Eu te
amo e só tenho olhos para você, minha maluquinha.
Sinto alguém agarrar minha perna. Eu me assusto e me afasto do David. Olho para baixo
e vejo um menininho, assustado e chorando.
— Tia, me ajuda! — ele pede. Meu coração se aperta.
David retira o óculos, colocando na camisa e olha assustado para o menino, e se abaixa
ficando na altura dele. Faço o mesmo com cuidado, devido a barriga. Eu me apoio no David.
O menininho é lindo. Está meio sujinho e assustado.
— Qual é seu nome, meu amor? — pergunto.
— Diego. Eu quero minha mãe. — ele pede esfregando os olhos, chorando.
— É ele, Liziara! O menino que a mãe procura. Ela me deixou foto dele e é o nome dele. É
ele!
— Tio, me leva até minha mãe... — Ele olha a arma do David e se assusta, mas eu sorrio
para ele entender que está tudo bem. — Você é da polícia. Polícia ajuda. Se for, me ajuda, tio!
Olho emocionada para o David, que está emocionado com o menino.
— Vem, o tio vai ajudar. — Ele se levanta e pega o menino no colo. Em seguida me ajuda
a levantar — Como chegou até aqui?
— Eu fugi. Um homem me pegou, mas eu fugi.
— Sabe dizer como era o homem?
— Não tio. Eu tinha medo de olhar tanto pra ele. — Ele chora e esconde a cabeça no
pescoço do David.
Sinto as lagrimas rolarem pelo meu rosto.
— Amor...
— Eu sei. Vamos voltar para a delegacia. Esse menininho vem em primeiro lugar. —
sorrio.


Voltamos para delegacia. Fomos direto para sala dele. David e sua equipe começam a
trabalhar no assunto. O menininho não quer sair do colo dele de jeito algum.
— Vem com a tia. Prometo que não vamos sair daqui. Eles vão falar com sua mamãe.
— Não. Eu quero ficar com ele. Ele é herói igual o Batman. — todos sorriem.
— Está tudo bem. — David diz.
Fico emocionada com a atitude do David. Nunca vi ele agir em um caso dessa maneira.
Quando a mãe chegou, foi um lindo reencontro. David cuidou junto a sua equipe, para
que todos os trâmites fossem feitos, mas eles terão que vir outras vezes, para mais
depoimentos, e outras coisas muito importantes. Quando foram liberados, David fez a eles a
promessa de que encontraria quem pegou o menino, para que não acontecesse nunca mais..
— Vem aqui. — ele pede me chamando para seu colo.
Vou até ele e me sento em seu colo. Ele coloca a mão na minha barriga.
— Se um dia acontecer algo com essas crianças, não sei do que sou capaz. Hoje senti
como se aquela criança fosse meu filho. Senti a dor daquela mãe.
— Eu sei. Também senti a dor dela.
Ele dá um beijo na minha barriga e mexo em seu cabelo.
— Vamos almoçar e tirar esse clima. Vamos relaxar.
— Só conheço uma forma de relaxar, David.
— Nem pensar. Não vou machucar eles.
— David, por favor. Eu estou pirando! — ele sorri. — Não faça isso comigo. É tortura.
Está me fazendo pirar a meses — Eu me esfrego propositalmente em seu colo.
— Não me provoque. Sei o que está fazendo.
— Não estou fazendo nada...
Beijo ele com desejo. Me mexo em seu colo e sinto sua ereção ganhar vida.
— Liziara... — ele sussurra em meus lábios. — Vamos para casa. Porra, não aguento
mais, você venceu!
— Vamos agora!
Me levanto e ele se levanta.
— Vamos antes que o escrivão chegue e me pegue nesse estado.
— Adoro esse seu estado.
Ele pega as coisas dele.
— Vamos, safada. — Ele me dá um tapa na bunda e rio.
Saímos de mãos dadas. O almoço? Bom, ficara para depois, já tinha comido antes de sair
de casa mesmo.
Epílogo

Liziara Araújo

Tempos depois...

David está na delegacia e eu estou na casa da Dona Paula. Meus pais tiveram que viajar
com urgência, e com a Bia trabalhando, David ficou com medo de me deixar sozinha, porque
estou nos dias finais da gravidez. Meu médico disse que tenho como ter o parto normal, pois
as minhas meninas Laura e Helena, estão na mesma posição. Fiquei muito feliz, pois meu
sonho é o parto normal.
Estou deitada na cadeira embaixo do guarda sol na beira da piscina. Marcos e Daiane
estão na piscina. Dona Paula está trabalhando. Ana foi levar a Yasmim ao médico, pois ela está
gripadinha; e o Henrique, assim como o irmão, está trabalhando.
Marcos se empoleira na beira da piscina.
— Se o David sonha que está de biquíni e comigo na casa sem ele, eu terei minhas bolas
cortadas. — Ela brinca e eu rio.
— Com toda certeza. Mas seria divertido. — Provoco. Ele me joga água e Daiane ri.
— Porra, Marcos! — digo passando a mão onde ele me molhou, mas de repente sinto um
dor forte no pé da barriga. — Ai! — grito.
Marcos sai da piscina como um louco e Daiane faz o mesmo.
— O que houve, Liziara? — eles perguntam juntos.
Respiro fundo. E me sento com cuidado.
— Uma dor forte. Parecia que algo estava me rasgando.... Ai! — a dor vem novamente e
mais forte.
— Tio, eu acho que vai nascer. Temos que ligar para o David agora!
— Ele está em uma operação!
— O que? — grito assustada, e com isso sinto mais dor ainda e me contorço.
— Tio! — Daiane o repreende.
— Tenho um plano!
— Marcos, eu não sou um réu, que você analisa como vai ficar a situação! — digo a ele.
— Cala a boca, porra louca! — ele diz nervoso — Daiane tenta contato com o David e diz
que estamos levando a Liziara ao hospital. Vou me trocar correndo. Enquanto isso, ajuda ela
se arrumar e se arruma. Pega tudo dela. Vou ligar para a Beatriz e Paula, e mandar elas irem
para o hospital. Vamos, vamos! — ele grita.
— É impressão minha, ou ele está mais desesperado que eu? — pergunto.
— Não é impressão. Vamos Lizi.
Levanto e sinto a dor novamente e mais forte ainda. Daiane me ajuda. Seguro para não
gritar.
Com sua ajuda, me troco rapidamente, e ela se troca correndo. Pega as minhas coisas e a
bolsa dela e saímos para o carro, onde o Marcos aguarda. Vou no banco da frente.
— Beatriz está indo para o hospital e Paula também. — ele diz.
— Vou tentar falar com o David. — Daiane fala.
Marcos sai com o carro, e vejo o carro do Alex seguindo atrás junto com o do Simon.
— Cai direto na caixa postal! — ela diz, e isso me deixa com medo e preocupada.
A dor vem novamente e vejo Marcos me olhar preocupado.
— Vamos chegar logo. Aguenta. — ele diz.
O caminho foi uma loucura. Marcos provavelmente perderá a carteira por tantos pontos
que deve ter levado. Passou em tantos sinais vermelhos, entrou em ruas que eram contramão
para cortar caminho. E ver ele apavorado me deixou mais apavorada.
Ao chegarmos no hospital, Daiane ficou dando meus dados e Marcos me acompanhou
junto a enfermeira.


Depois de todos os procedimentos necessários, eu estou na sala de parto. Estou com
medo. Ninguém me dá notícias do David. Estou com medo demais.
— Mamãe, vai dar tudo certo! — o médico diz.
— Sério? Não estou achando isso! — digo a ele, que sorri.
As enfermeiras, o médico, tudo está me deixando mais apavorada. Porra, cadê o David?
— É um parto arriscado. Mas vai dar tudo certo. Apenas faça o que irei pedir. —
concordo — Ninguém vai acompanhar a senhora? — nego chorando. Ele se posiciona e as
enfermeira também. — Vai dar certo, confia.
Sério mesmo que justo nesse momento o David vai me largar?
A porta se abre e olho na esperança de ser o David. Uma enfermeira entra acompanhada
do Marcos, todo vestido adequadamente.
— Marcos? — pergunto com preocupação.
Ele se aproxima e segura minha mão. Percebo seu sorriso mesmo por detrás da
máscara.
— Estou com medo.
— Vai dar certo. Estou aqui. Nada vai acontecer. Confia, porra louca.
— Pronto papais?
— Não sou o pai.
— Ele não é o pai! Deus me livre disso!
— Não precisa ofender também, porra!
— Olhem a boca! E foquem no que é importante, ou as crianças vão morrer sufocadas,
pois elas precisam nascer agora. Sua bolsa já rompeu, e não podemos mais esperar. — o
médico diz.

Foram horas de dor e sofrimento. Foi desesperador. Marcos tentava me ajudar, mas sei
que ele mesmo estava apavorado. Eu via o olhar das enfermeiras assustadas. Mas eu não
desisti. Não desisti por elas. Lutei até a segunda nascer, minha Helena.
Ambas são tão diferentes. Laura nasceu toda agitada, e é nítido seus olhos azuis, iguais
ao do pai. Já Helena é mais calma e sorridente, e mesmo não entendendo nada, sorri bastante.
Ela tem a cor dos olhos diferentes, são escuros como os meus. Gêmeas, porém já se nota o
quanto são diferentes. Marcos segura Laura e chora emocionado.
— São lindas. Sabe fazer meninas lindas… quem diria porra louca.
— Marcos não diga palavrão perto delas! Vou te cobrar cada vez que disser!
— Estou lascado! — sorrio.
Elas são levadas para os cuidados das enfermeiras.


Horas depois e sem notícias, não tinha mais ninguém, além das minhas meninas que
estão ao meu lado; então a porta se abre. David entra como um furacão. Ele caminha até a
mim, chorando como um louco, e me beija com força.
Segura meu rosto com ambas as mãos.
— Me perdoa. Eu fui para casa, tomei banho e estava indo para casa da minha mãe
quando lembrei que deixei o celular desligado; e quando liguei vi as chamadas e mensagens.
Quando cheguei aqui você já estava em trabalho de parto. Não me deixaram entrar na sala.
Passei o inferno lá fora. Ninguém dava notícias. E uma enfermeira que saiu disse que estava
complicado. Porra. Me perdoa?— Ele está apavorado.
— Amor, eu estou bem. Se acalma. Marcos foi muito bom, me deu apoio do jeito dele,
mas deu. — Sorrio.
— Nunca serei capaz de agradecer o que ele fez.
— Eu também não...
Ele se afasta e caminha até onde as meninas estão. Sorri emocionado. Helena dorme,
enquanto Laura está bem acordada.
Ele segura as mãozinhas delas com fitinhas.
— Minhas princesinhas. — ele diz e enxuga as lagrimas.
— Parece que cada uma será uma mini nós. — digo enquanto ele pega a Laura no colo
que começa a chorar, mas ele a acalma.
— Por que diz isso? — pergunta sorrindo para ela e acariciando seu rostinho.
— Laura é bem agitada, brava, e os olhos bem azuis. Helena é calma, sorridente, se
deixar come toda hora, e tem os olhos escuros como os meus.
— Então quer dizer que você é uma mini David. — ele diz a Laura e sorrio. — Estou
fodido! — me olha assustado.
— O que foi?
— Duas meninas, uma mulher e uma irmã! Estou fodido.
— David, olha a boca perto delas! — Ele dá de ombros.
Helena acorda e começa a chorar. David me entrega a Laura e pega a Helena.
— Outra princesa do papai. — Ele dá um beijo nela. — Sabe, princesinha, acho que já
está na hora do papai algemar de vez sua mamãe, e prender ela totalmente a mim.
Olho para ele franzo o cenho.
— Será que a mamãe aceita casar comigo e ser oficialmente uma senhora Escobar?
— O que? — Lembro da Laura e olho para meu colo.
— Amor, cuidado. — ele diz sorrindo. — Pelo visto papai terá que ficar de olho nas três,
ou receberei ligações de que estão no hospital.
— David, eu ser o que?
— A senhora Escobar. Aceita? — Ele pega no bolso da calça uma caixinha e me entrega.
— Não aceito não como resposta. — Sorrio emocionada.
Abro a caixinha e vejo o lindo anel dentro dela.
— Então Laura, acha que a mamãe deve aceitar? Se eu tiver que aceitar, você chora. —
Brinco.
— Se ela não chorar? — David pergunta.
— Então não casarei. — provoco.
Ele se aproxima com cuidado para não derrubar a Helena de seu colo. Coloca a boca no
ouvido da Laura e diz algo bem baixo, não é nítido. E por incrível que pareça, ela começa a
chorar.
— David! — repreendo ele. — O que você fez?
— É, parece que tenho uma cumplice já.
Ele coloca a Helena no lugar dela e pega a Laura, fazendo o mesmo.
Pega o anel e coloca em meu dedo.
— Futura senhora Escobar. — Ele me dá um beijo nos lábios que me deixa louca.
— Epa! Não esqueça do que o médico disse. Quarentena, Liziara. — Marcos entra
sorrindo.
— Mentira? — David pergunta e eu nego.
Marcos para ao lado dele e bate em seu ombro.
— É, meu sobrinho. Duas filhas e sem sexo. Não queria estar na sua pele.
— Eu realmente estou fodido! — David diz fazendo a gente rir.
— Entrem, pessoal. — Marcos fala.
— Como deixaram todos entrar? — pergunto rindo.
— Ainda pergunta? Sou um Escobar, tenho meus meios, porra louca. Menos a Beatriz…
ela só entra depois.
— Tio, o que fez? — David indaga sorrindo.
— Nada. Apenas não consegui que ela entrasse. — diz com cara de inocente.
— Marcos, eu não acredito! Você não deu o nome dela! — digo.
— Talvez eu tenha esquecido. Isso não importa.
Todos começam a entrar sorridentes e animados. Mas quando a Beatriz entra, Marcos
muda o jeito e seu olhar é de um predador.
— Você me paga, juiz de quinta! — ela diz seriamente a ele.
David bate no ombro dele e diz:
— Retiro o que eu disse. É você quem está fodido!
— Olhem a boca suja perto das meninas! — Eu, Daiane, Paula e Beatriz dissemos em
uníssono.
Essa família vai ser minha loucura e minha maior alegria.
David me dá uma piscadela, e então se aproxima enquanto todos estão admirando as
meninas. Ele cochicha em meu ouvido:
— Sexo oral não deve ter problema. — Sinto um arrepio no corpo, e tenho certeza de
que fiquei vermelha.
— Eu ouvi. — Marcos fala. — Acho que não tem problema, e que não custa nada tentar.
Começamos a rir e todos nos olham sem entender.
Eles estão aqui. Pela primeira vez estão perto de mim em um momento muito especial.
— Mãe, pai, venham!

Fim

Agradecimentos

Agradeço primeiramente a Deus por mais um sonho realizado, e por sempre me dar
forças e alegrias no decorrer do caminho.
Obrigada a Editora Angel, mais uma vez, por acreditar no meu trabalho.
Obrigada ao senhor Google, por me ajudar em diversas dúvidas.
Um obrigada bem especial a um alguém que me ajudou muito, inclusive nas inspirações.
Minhas amadas betas e amigas, Liziara Araújo e Beatriz Ferreira, muito obrigada por
todas as dicas, inspirações e por aguentarem minhas loucuras por essa série, e entrarem na
loucura também.
Obrigada as minhas leitoras da plataforma Wattpad, que me animaram e me deram
carinho e muito amor, e tornaram a série Escobar um sucesso.
Obrigada a blogueira Joyce Penedo por apoiar sempre meu trabalho, e estar apoiando
recentemente a série e divulgando em seu blog Livros Encantos.
Meninas do grupo fechado no facebook e do Whatsapp, obrigada a vocês também, pois
são demais.

E por fim, obrigada a você que está lendo este livro. Você é também digno de estar aqui.

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