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TN STP 206 226 26779
TN STP 206 226 26779
Introdução
Dados da última Pesquisa Anual da Indústria da Construção (PAIC), divulgada pelo IBGE
(Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) em 2011, mostram que 92,7 mil empresas do
setor realizaram incorporações, obras e serviços no valor de R$ 286,6 bilhões, um aumento de
4,5% em relação ao ano de 2010. Estas empregaram cerca de 2,7 milhões de pessoas,
superando os 2,5 milhões do ano anterior. Os gastos com pessoal foram de R$ 74,7 bilhões, o
que representa 31,1% do total dos custos e despesas em 2011.
A ICC sempre foi objeto de críticas devido, principalmente, aos altos custos e baixa
produtividade. A causa disso é o fato de que até a década de 1980 havia um elevado número
de obras públicas e poucas exigências relacionadas à qualidade. Os clientes eram pouco
acostumados e despreparados para exigir os seus direitos. As construtoras conseguiam obter
grandes lucros, pois repassavam facilmente os custos aos clientes através dos produtos. Com
essas características, o setor não sentia a necessidade de introduzir novos materiais, processos
construtivos mais racionais e mecanizados e formas de gestão mais eficientes (LORENZON;
MARTINS, 2006).
O setor tinha como principal preocupação indicadores financeiros como o retorno sobre
investimento (ROI) e a taxa interna de retorno (TIR), que refletiam o volume de capital
investido por volume retornado. Não existia preocupação com indicadores não-financeiros,
como a produtividade ou que retratassem a satisfação do cliente (LORENZON; MARTINS,
2006).
O foco da produção enxuta é eliminar/reduzir desperdícios no processo. Para alcançar esse
objetivo, são necessárias mudanças na gestão da qualidade e de operações. Utilizar sistemas
de medição de desempenho é uma alternativa significativa para avaliar melhorias ocorridas
nos processos e produtos (CARDOZA; CARPINETTI, 2005).
Nesse contexto, o objetivo desta pesquisa é identificar a relação entre uso de indicadores de
desempenho e a prática da filosofia Lean Construction nas empresas construtoras baianas,
além de verificar como é feita a medição de desempenho neste ambiente.
2. Referencial teórico
Os ambientes empresariais tem passado por fortes mudanças desde o final século XX, sendo
mais exigidos quanto a competitividade e dinamismo. A construção civil desde então tem
buscado formas de melhorar seus processos e adaptar sua produção aos novos tempos
(BARROS; SANTOS, 2006).
Nas empresas do setor, segundo Barbosa (2010), a primeira iniciativa para alcançar melhoria
de desempenho foi a inserção da gestão da qualidade. Muitas empresas estão inserindo esses
sistemas de qualidade em seus processos, buscando minimizar problemas da produção como
baixa produtividade e elevadas taxas de desperdícios.
A qualidade constitui um conceito importante com espaço de destaque e interesse cada vez
maior na construção civil. O intuito principal em buscar sistemas de gestão da qualidade é
sanar problemas oriundos dos processos produtivos como baixa produtividade e elevado
desperdício (PEREIRA; MOURA, 2013).
A aplicação dos princípios básicos da LC, segundo Bernardes (2010), apresenta-se como uma
base conceitual com potencial de trazer benefícios e melhorias na eficiência de sistemas
produtivos (TONIN; SCHAEFER, 2013).
Os princípios básicos lançados por Lauri Koskela são os norteadores para construção enxuta.
Os 11 princípios são (KOSKELA, 1992):
3) Reduzir a variabilidade;
11) Benchmarking.
Para Oliveira et. al. (2007) a principal diferença entre o modelo tradicional e o gerenciamento
Lean é basicamente conceitual, pois este se resume a uma nova maneira de entender e
executar os processos.
Segundo a Fundação para o Prêmio Nacional da Qualidade – FPNQ (2002), estudos mostram
que as organizações que se mantêm líderes por longos períodos e em diferentes setores
possuem como uma característica a habilidade em medir o próprio desempenho e usar essa
medição para buscar patamares superiores. As que não dispõem de sistema de medição de
desempenho estruturado têm esse sistema voltado para indicadores financeiros que não
refletem a realidade e não garantem a sua sustentabilidade.
O uso de indicadores chaves pela construção civil são reflexo do crescimento do foco da
empresa na satisfação de seus clientes, defeitos, produtividade, saúde e segurança
(BARBOSA, 2010). A organização de dimensões dos indicadores em perspectivas de
desempenho, baseado em trabalhos desenvolvidos mundialmente é apresentado na Tabela 1.
Assim, segundo Gil (1991), como este trabalho tem o objetivo principal de proporcionar
maior familiaridade com essa abordagem emergente por meio de uma pesquisa, pode ser
enquadrada como de natureza exploratória.
O método de pesquisa adotado para o desenvolvimento deste trabalho foi o estudo de caso.
Segundo Stake (2009), é uma abordagem metodológica, que permite a análise aprofundada de
um fenómeno, situação ou problema.
O trabalho foi realizado em duas etapas. Na primeira delas foi feita a revisão da literatura dos
tópicos ligados ao tema. A segunda foi de desenvolvimento de uma pesquisa de campo no
setor de construção civil, feita por meio de estudo de caso realizado através de entrevista e
aplicação de questionário. A coleta de dados foi realizada no ano de 2014, fundamentada em
entrevista semiestruturada. Na empresa, o entrevistado foi o engenheiro civil responsável por
uma das obras.
4. Análise de resultados
Através da aplicação do questionário, foi possível perceber a preocupação por parte do gestor
da obra com as questões ligadas a qualidade. A empresa possui um Sistema de Gestão da
Qualidade (SGQ) implantado pela necessidade em oferecer produtos de qualidade, reduzir
custos e erros, melhorando a credibilidade junto aos clientes. O SGQ da empresa é estruturado
e aplicado em todas as suas obras que também possuem certificações de qualidade, como a
ISO 9001:2008 e SIAC (válidos até 2015) além de programa de responsabilidade
socioambiental.
A empresa trabalha dentro dos padrões e normas do PBQP-H que estabelece requisitos de
qualidade para o setor. Segundo o entrevistado, atender os desejos do cliente e a exigência de
padrões estabelecidos por eles e pelo PBQP-H são os fatores impulsionadores da implantação
do SGQ na empresa.
5. Considerações finais
Retomando as questões iniciais colocadas nesse trabalho, verifica-se que o sistema de gestão
da qualidade foi o evento propulsor da inserção dessas práticas nos processos da empresa.
Como já foi discutido antes, a construção civil veio de uma cultura de pouca preocupação
com a qualidade e satisfação dos clientes com o produto final. O aumento da concorrência e a
exigência dos clientes por qualidade e preço, fez com que o setor se reestruturasse na busca
por alternativas de redução de custos, racionalização de processos e produtos de qualidade,
criando a necessidade de inserir SGQ. Outro fator que impulsionou a mudança foi a criação
do PBQP-H que exige das empresas um cuidado com materiais e equipamentos utilizados.
Todas essas mudanças exigiram do setor uma nova postura frente ao mercado, trazendo
benefícios a relação empresa/cliente.
Outro benefício do SGQ é a filosofia Lean. O sucesso da Lean Thinking trouxe para o setor
ferramentas importantes para atingir melhorias nos canteiros de obras. Apesar de não existir a
aplicação da Lean na empresa avaliada, diversos princípios foram identificados dentro do
processo e existe uma abertura positiva para a implantação.
Destaca-se que este trabalho não tem como objetivo generalizar a obtenção de resultados. A
busca feita foi por uma reunião de evidências que gerassem a discussão e evolução da
literatura dos temas abordados.
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