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Betânia

por

Rev. Robert Murray McCheyne

“Estava, porém, enfermo um certo Lázaro, de Betânia, aldeia de


Maria e de sua irmã Marta. E Maria era aquela que tinha ungido o
Senhor com ungüento, e lhe tinha enxugado os pés com os seus
cabelos, cujo irmão Lázaro estava enfermo.

Mandaram-lhe, pois, suas irmãs dizer: Senhor, eis que está enfermo
aquele que tu amas. E Jesus, ouvindo isto, disse: Esta enfermidade
não é para morte, mas para glória de Deus, para que o Filho de
Deus seja glorificado por ela” (João 11:1-4).

A doença rodeia o homem - não poupa famílias, ricos ou pobres.


Algumas vezes o jovem, outras, o velho; alguns às vezes, no vigor de
seus dias, são prostrados em um leito de doença. “Lembrai-vos dos
que sofrem adversidades, como sendo-o vós mesmos também no
corpo”.

As razões pelas quais Deus envia doenças são variadas:

1) Para alguns ela é enviada para a conversão da alma. Às vezes na


saúde a Palavra não toca o coração. O mundo é tudo. Sua
formosura, seus prazeres, seus encantos, cativam sua mente. Deus
às vezes lhe leva a um leito de enfermidade e lhe mostra o pecado do
seu coração, a futilidade dos prazeres mundanos e dirige a alma a
buscar um lugar seguro de descanso, por toda a eternidade, em
Cristo. Ó feliz enfermidade, que dirige a alma a Jesus! (Jó 33; Sl.
107).

2) Outras vezes é para a conversão de amigos. Quando os


covenanters vão para a batalha, eles se ajoelham e oram: “Senhor,
tome o maduro e poupe o verde”. Deus, porém, às vezes não faz isto
nas famílias. Ele elimina a criança que ora, a criança que em alguns
casos é ridicularizada e em outros casos admirada, para que o resto
possa pensar, mudar e orar.

3) Às vezes é um olhar de desagrado, um julgamento. Quando as


pessoas incrédulas continuam em seus pecados, contra a luz da
Bíblia e os avisos dos pastores, Deus às vezes os reprova e eles
subitamente ficam debilitados. “O homem que muitas vezes
repreendido endurece a cerviz, de repente será destruído sem que
haja remédio”. (Pv. 29:1). “Por causa disto há entre vós muitos
fracos e doentes, e muitos que dormem”. (1 Co. 11:30).

4) O outro caso é o que está diante de nós agora - um filho de Deus


doente para que Cristo seja glorificado nele.

I - O caso - a pessoa:

“Estava, porém, enfermo um certo Lázaro”. Lázaro era


evidentemente um filho de Deus e apesar disso estava doente. Como
ele obteve essa graça não nos é dito. Seu nome não é mencionado
antes. Se nos é permitido supor, é provável que Maria tenha sido a
primeira da família a conhecer o Senhor (Lc. 10), depois talvez
Marta, deixando os seus muitos afazeres, sentou-se também aos pés
de Jesus; e as duas influenciaram seu irmão Lázaro a vir também.
Em todo o caso, ele era um filho de Deus. Pertencia a uma família
cristã. Todos na sua casa eram filhos de Deus - eram um por
natureza e um pela graça. Família feliz a de Betânia, indo lado a
lado para a glória! Mesmo assim o braço da doença alcançou aquela
casa - Lázaro estava enfermo. Ele era amado por Cristo de maneira
especial: “Eis que está enfermo aquele que Tu amas”. “Ora, Jesus
amava a Marta, e a sua irmã, e a Lázaro”. “Lázaro, o nosso amigo,
dorme”. Como João, o discípulo amado, assim também Jesus tinha
um amor peculiar por Lázaro. Não posso dizer porquê. Ele era um
pecador, como qualquer outro homem; mas, talvez quando Jesus
lhe lavou e renovou, Ele lhe deu mais de Sua semelhança do que a
outros crentes. Uma coisa é certa - Jesus o amava, e apesar disto,
Lázaro estava doente.

Aprenda a não julgar as pessoas por causa da aflição por que


passam. Os três amigos de Jó tentaram provar-lhe que ele deveria
ser um hipócrita e um homem muito mal, porque Deus o estava
afligindo. Eles não sabiam que Deus aflige Seus próprios e queridos
filhos. Lázaro estava doente, o mendigo Lázaro estava cheio de
chagas e Ezequias estava doente, caminhando para a morte; e
apesar disto todos eram peculiarmente amados por Jesus.

Os filhos de Deus não deveriam duvidar de Seu amor quando são


afligidos. Cristo amou Lázaro particularmente, e apesar disto Ele o
afligiu com muitas chagas. Um cirurgião nunca dirige seus olhos
tão carinhosamente sobre seu paciente como quando está colocando
o bisturi, ou quando examina o ferimento a fundo. É assim também
com Cristo; Ele inclina seu olhar mais ternamente sobre os seus
quando os está afligindo. Não duvide do santo amor de Jesus por
sua alma quando Ele pesa Sua mão sobre você. Jesus não amava
menos a Lázaro quando o afligiu, pelo contrário, o amava mais -
“Porque o Senhor repreende aquele a quem ama, assim como o pai
ao filho a quem quer bem” (Pv. 3:12).

II - O lugar:

“De Betânia, aldeia de Maria e de sua irmã Marta”. Betânia é uma


cidadezinha afastada aproximadamente duas milhas de Jerusalém,
num desfiladeiro atrás do Monte das Oliveiras, rodeada de árvores e
muito agradável. Mas tinha uma graça ainda maior aos olhos de
Cristo - era a cidade de Maria e sua irmã Marta.

Provavelmente as pessoas em Jerusalém conheciam Betânia como


sendo a cidade de um rico fariseu, ou algum nobre ostentoso; mas
Jesus conhecia aquela cidade como a cidade de Maria e sua irmã
Marta. Provavelmente elas moravam numa cabana humilde,
embaixo da sombra de uma figueira; mas aquela cabana era querida
para Cristo. Com freqüência, quando Ele ia ao Monte das Oliveiras,
a luz que emanava da janela daquela cabana alegrava seu coração.
Muitas vezes talvez, Ele tenha sentado sob sua figueira falando-lhes
do reino de Deus. Seu Pai amava aquela residência, pois lá
habitavam justificados. E os anjos sabiam disso muito bem; noite e
dia eles ministravam lá para três herdeiros da salvação. Não é de
admirar que Ele chamava o lugar de “a aldeia de Maria e de sua
irmã Marta”. Este era seu nome no céu.

Hoje ainda é assim. Quando as pessoas pensam em nossas cidades,


elas a chamam da cidade de algum rico mercador, ou de um grande
político; não a cidade de nossas Martas e Marias. Porém, talvez
algum pobre sótão onde um eminente filho de Deus habita, dê
àquela cidade seu nome e interesse na presença de Jesus.

Prezados crentes, quão grande é o amor de Cristo por você! Ele


conhece a cidade que você mora - a casa em que habita - o quarto
onde ora. Muitas vezes Ele está à porta - “Eis que nas palmas das
minhas mãos eu te gravei; os teus muros estão continuamente
diante de mim” (Is. 49:16). Como o noivo que ama o lugar onde sua
noiva habita, assim Cristo sempre diz: Lá habitam àqueles pelos
quais morri. Aprenda a ser como Cristo sobre este assunto. Quando
um comerciante olha o mapa do mundo, seu olho se volta aos
lugares onde seus navios estão; quando um soldado o faz, ele olha
para os antigos campos de batalhas e cidades fortificadas; mas um
crente deve ser como Jesus - deve amar os lugares onde os crentes
habitam.

III - A mensagem:

1) Elas “Mandaram-lhe, pois, dizer”. Este parece ter sido o primeiro


recurso que utilizaram quando a doença veio. Elas não cogitavam
que um problema físico não merecia Sua atenção. Ele havia lhes
ensinado que “uma coisa era necessária” e Maria havia escolhido a
boa parte que não poderia lhe ser tirada; mesmo assim, elas bem
sabiam que Jesus não desprezava o corpo. Elas sabiam que Ele
tinha um coração que sofria por todo tipo de angústia; e por essa
razão elas mandaram dizer a Jesus. Isto é o que você deve fazer:
“Invoca-me no dia da angústia; eu te livrarei, e tu me glorificarás”
(Sl. 50:15). Lembre-se que não há aflição grande demais para levar a
Ele e também nenhuma tão pequena: “Antes as vossas petições
sejam em tudo conhecidas diante de Deus pela oração e súplica,
com ação de graças” (Fp. 4:6). “Lança o teu cuidado sobre o Senhor”
(Sl. 55:22).

O que quer que seja, leve a Jesus. Alguns crêem em Cristo com
suas almas, mas não com seus corpos - para sua salvação, mas não
para sua saúde, porém, Ele gosta de ser chamado em nossos
pequenos problemas.

2) O argumento: “Eis que está enfermo aquele que Tu amas”. Se


uma pessoa do mundo tivesse sido enviada para Cristo, ela poderia
ter dado um argumento muito diferente. Ela poderia dizer: Aquele
que Te ama está doente. Aqui porém está alguém que creu no nome
de Cristo. Que confessou-O diante do mundo, sofreu reprovação e
escárnio por amor a Ele. Marta e Maria sabiam melhor como
pleitear com Jesus. O único argumento estava no Seu coração:
“Está enfermo aquele que Tu amas”:

Ele o amou com um amor eletivo. Gratuitamente por toda a


eternidade Jesus o amou;

Com um amor atrativo. Ele o arrancou de debaixo da ira de Deus,


de servir o pecado;

Com um amor perdoador. Ele o atraiu para Si e removeu todos os


seus pecados;
Com um amor sustentador. “Quem pode encorajar-me além de ti?”.

Ele por quem morreste; ele o qual escolheste e mantiveste até agora
- “está enfermo aquele que Tu amas”.

Aprenda a suplicar para Cristo, queridos crentes. Muitas vezes você


não recebe, porque não pede de forma correta: "Pedis, e não
recebeis, porque pedis mal, para o gastardes em vossos deleites."
(Tg. 4:3). Muitas vezes você pede orgulhosamente, como se fosse
alguém; desta forma, se Cristo lhe atendesse estaria somente
nutrindo suas cobiças. Aprenda a deitar nas cinzas e suplicar
somente por seu amor gratuito. Tu me amaste não por alguma coisa
boa em mim:

“Apesar de não haver nada bom em mim, fui escolhido;


A fugir da ira, fui despertado;
Ao lado do Salvador escondido;
Pelo Espírito santificado”.

3) Uma santa delicadezana oração. Elas colocaram o assunto a seus


pés, e o deixaram lá. Elas não disseram: Vem curá-lo; vem rápido
Senhor. Elas sabiam do Seu amor - elas acreditavam na Sua
sabedoria. Elas deixaram o caso em Suas mãos: “Senhor, está
enfermo aquele que Tu amas”. “E veio ter com Ele grandes
multidões, que traziam coxos, cegos, mudos, aleijados, e outros
muitos, e os puseram aos pés de Jesus, e Ele os sarou” (Mt. 15:30).
Elas não pediram, mas deixaram sua miséria suplicar por elas.
“Antes as vossas petições sejam em tudo conhecidas diante de
Deus” (Fp. 4:6)

Aprenda que insistência na oração não consiste tanto na veemência


do pedido, mas na veemência da fé. Aquele que crê mais no amor e
poder de Jesus, obterá mais na oração. Na verdade, a Bíblia não
proíbe que usemos todos os nossos argumentos e supliquemos por
dons específicos, tal como a cura de amigos. “E rogava-lhe muito,
dizendo: Minha filha está moribunda; rogo-te que venhas e lhe
imponhas as mãos, para que sare, e viva” (Mc. 5:23). “E o centurião,
respondendo, disse: Senhor, não sou digno de que entres debaixo do
meu telhado, mas dize somente uma palavra, e o meu criado há de
sarar” (Mt. 8:8). Ainda lá há uma santa delicadeza na oração, que
alguns crentes sabem como usar. Como estas duas irmãs, coloque o
assunto aos pés de Jesus, dizendo: " Senhor, está enfermo aquele
que Tu amas".
IV - A resposta:

1) Uma palavra de promessa: “Esta enfermidade não é para morte”.


Esta foi a resposta imediata à petição. Ele não foi, Ele não curou,
mas enviou-lhes uma palavra capaz de fazê-las feliz. “Esta
enfermidade não é para morte”. Imediatamente o mensageiro correu,
cruzou o Jordão e antes do sol se pôr ele entra sem fôlego em
Betânia. Ansiosas as irmãs correm para ouvir quais as novas de
Jesus. Boas novas! “Esta enfermidade não é para morte”. Doce
promessa! Os corações das irmãs estão confortados e sem dúvida
elas falaram desta alegria para o doente. Mas ele se torna cada vez
mais fraco e a medida que olhavam, através de suas lágrimas, para
a pálida face do seu irmão, elas quase vacilaram na fé. Mas Jesus
disse e Ele não pode mentir; se não fosse assim, Ele nos diria. " Esta
enfermidade não é para morte". Enfim, Lázaro dá seu último suspiro
ao lado de suas irmãs que choram. Seu olhar é vago, sua face é fria,
ele está morto; mas Jesus disse: “não é para morte”! Os amigos se
reúnem para carregar o corpo e levá-lo ao sepulcro na rocha; e
quando as irmãs voltam da tumba, sua fé está extinta, seus
corações estão mergulhados em tristeza. O que Ele quis dizer com
“não é para morte”?

Aprenda a confiar na Palavra de Cristo não importando qualquer


que seja a circunstância. Vivemos em dias de trevas. Cada dia as
nuvens se tornam mais pesadas e baixas. Os inimigos da Igreja
estão mais obstinados. A causa de Cristo está ameaçada em todos
os lugares. Mas nós temos a doce Palavra de promessa: “Esta
enfermidade não é para morte”. Tempos mais sombrios ainda virão.
As nuvens romperão e inundarão nosso país com uma enxurrada de
infidelidade e muitos estarão como Maria, com o coração
enfraquecido. A Palavra do Senhor falhou? Não, nunca! “Esta
enfermidade não é para morte”. Os ossos secos de Israel viverão!

2) A explicação: “Mas para glória de Deus, para que o Filho de Deus


seja glorificado por ela”. Alguns poderão perguntar: Por que Lázaro
estava doente? Resposta: Para a glória de Deus. Cristo, por meio
disso, de forma clara, tornou conhecido:

Seu surpreendente amor para com os seus, quando Ele chorou à


entrada da sepultura;

Seu poder de ressurreição. Ele mostrou ser a ressurreição e a vida


quando clamou: "Lázaro, vem para fora". Cristo foi muito mais
glorificado então, do que se Lázaro não tivesse adoecido e morrido.
1) Assim é em todo sofrimento do povo de Deus. Às vezes um filho
de Deus diz: Senhor, o que queres que eu faça? Eu pregarei,
ensinarei e farei grandes coisas para Ti. Às vezes a resposta é: Sofra
por minha causa.

2) Isto revela o poder do sangue de Cristo, quando concede paz


numa hora de angústia, quando produz alegria na doença, pobreza,
perseguição e morte. Não se surpreenda se sofrer, mas glorifique a
Deus.

3) Nos concede graça que não podia ser vista em tempos de saúde.
É o pisar nas uvas que produz o doce suco da vinha; assim também
a aflição conduz à submissão, separação do mundo e o descanso
completo em Deus. Use as aflições enquanto você as tem.

Covenanters - Os membros da Igreja da Escócia que assinaram o


Pacto Nacional Escocês de 1638, que os obrigava a manter a Igreja
da Escócia como foi organizada durante a Reforma, isto é,
presbiteriana. Eles participaram em combate armado em obediência
ao pacto assinado. Tradução: contratante

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