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Proibida a reprodução, no todo ou em parte, sem autorização prévia por escrito da editora, sejam quais
forem os meios empregados.
A grafia do texto foi atualizada segundo o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, em vigor
no Brasil desde 2009.
Direção Editorial: Kathia Castilho e Lucia Santaella Projeto Gráfico, diagramação e produção do
ebook: Schaffer Editorial
Capa: Kalynka Cruz-Stefani Revisão: Lucia Santaella Coordenação: Lucia Santaella Conselho editorial:
Cleomar Rocha, Clotilde Perez, Dora Kaufman, Edméa Santos, Eneus Trindade, Fernando Almeida,
Fernando Andacht, Kathia Castilho, Massimo Di Felice, Rodrigo Petronio, Winfried Nöth
S231p
Santaella, Lucia
A Pós verdade é verdadeira ou falsa? [recurso eletrônico] / Lucia Santaella. - Barueri, SP : Estação das
Letras e Cores, 2018.
96 p. ; e PUB. - (Coleção Interrogações).
CDD 070
2018-1446 CDU 070
2. Jornalismo 070
Estação das Letras e Cores Editora Av. Real, 55 – Aldeia da Serra – Barueri 06429-200 – São Paulo – Tel:
55 11 4326 8200
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Onde cessa a solidão começa a praça pública; e
onde começa a praça pública começa também o
vozear dos grandes comediantes e o zumbido das
moscas venenosas.
(Nietzsche)
Apresentação
Não pode haver dúvida de que as tecnologias das redes digitais abriram
caminhos para a democratização do uso e consumo das mídias, mudando
sobremaneira o que, na era pré-redes, se costumava chamar de espaço público e
formação de opinião. De um número comparativamente pequeno de fontes de
informação destinadas a uma massa de receptores, hoje a multiplicação de
plataformas para redes sociais, blogs, sites e outras conveniências, permite a
qualquer um, de forma praticamente gratuita, disseminar quaisquer tipos de
conteúdo para quaisquer outros usuários que, podem, inclusive, mudar
instantaneamente seu papel de receptor para aquele de emissor em um jogo de
vai e vem ininterrupto.
Desde que a internet se tornou um ingrediente onipresente em nossas
vidas, interação e conexão passaram a assumir o papel principal em todas as
cenas. Estamos conectados à internet, ao wifi, aos motores de busca, a pessoas
em quaisquer pontos do planeta, vasculhando na web para receber e responder.
O que procuramos, o que é mostrado, que rotas seguimos, o que
compartilhamos, tudo isso recebe o nome-chave, “conexão”, funcionando
como um “abre-te Sezamo” proliferante.
Entretanto, tudo isso cobra seu preço em ambivalências, paradoxos e
contradições que vêm cada vez mais desafiando tanto os especialistas no tema,
quanto os profissionais da comunicação e mesmo os usuários mais críticos. No
momento, os desafios têm se concentrado nas questões relativas às notícias
falsas (fake news), que circulam abusivamente pela internet, e suas relações com
as bolhas, também chamadas de câmaras de eco, ou seja, o ecossistema
individual e coletivo de informação viciada na repetição de crenças
inamovíveis. Essas condições acabaram por redundar naquilo que vem sendo
chamado de “era da pós-verdade”.
De fato, nos últimos anos, especialmente depois da surpreendente vitória
de Donald Trump para Presidente dos Estados Unidos da América, as três
palavras – bolhas, notícias falsas e pós-verdade – entraram exaustivamente no
domínio público, em conversas, notas e matérias em jornais e revistas, posts e
compartilhamentos nas redes sociais, blogs, debates em eventos, conferências,
discussões filosóficas e pesquisas científicas. É tanta a frequência de seus
aparecimentos até o ponto de terem se tornado palavras obrigatórias. Diante de
tamanho transbordamento, poderia parecer dispensável retornar à discussão.
Contudo, o contexto da emergência desse novo domínio do discurso público, a
saber, a complexidade crescente da explosão digital – que incessantemente se
dilata, tomando conta de todas as atividades pessoais, culturais e sociais –
continua reclamando por estudos e reflexões capazes de acompanhar pari passu
o ritmo de suas metamorfoses. Dessas condições, este trabalho extrai sua
justificativa na medida em que pretende, antes de tudo, desatar analiticamente
os fios em que as bolhas, as notícias falsas e a propalada era da pós-verdade
encontram-se confusamente enroscados, para, a seguir, retomar suas
interrelações sob uma perspectiva tanto quanto possível bem fundamentada.
Capítulo 1
O que são bolhas? O nome filter bubbles (bolhas-filtro, bolhas de filtro, que
prefiro chamar de bolhas filtradas) foi cunhado pelo ativista da internet Eli
Pariser por volta de 2010 e discutido no seu livro best seller com esse mesmo
nome, em 2011, portanto, cinco anos antes dos dois acontecimentos que
chacoalharam o mundo: a eleição de Trump e o Brexit no Reino Unido.
Lembrar que Pariser escreveu seu livro bem antes desses acontecimentos é
considerar o caráter antecipatório desse livro, especialmente quando se sabe
que, dada a aceleração temporal do mundo das redes, a passagem de cinco anos
deve corresponder mais ou menos à passagem de 25 anos, antes das redes.
Nesse livro e no Ted protagonizado pelo autor que corre pela internet,
Pariser chama a atenção para o fato de que o Google personaliza o que cada
usuário obtém como resposta às suas buscas. Quando milhares de usuários
podem estar fazendo uma mesma busca ao mesmo tempo, o que pode explicar
esse aparente milagre? Ora, mais e mais, o monitor de nossos computadores é
uma espécie de espelho unilateral que reflete tão só e apenas nossos próprios
interesses, enquanto os algoritmos observam tudo o que clicamos. Essa é a
resposta de Pariser e todo o seu livro gira em torno desse estranho voyeurismo
que não serve apenas a interesses sexuais, mas, sobretudo, a interesses políticos
e mercadológicos. Em suma,
Tudo o que você gosta de ver e ouvir em serviços de streaming, quem você curte nas redes
sociais, o que você compra nas lojas online, o que você joga no seu videogame, suas
viagens, seus desejos, suas conversas por email ou mesmo no whatsapp; tudo isso está
sendo monitorado 24h pelo grande olho da rede. Essa grande máquina social invisível, fruto
da enorme personalização dos ambientes online, usa todos os dados coletados da sua vida
digital para te oferecer tudo aquilo que ela considera relevante para você. (...) O problema é
que esta personalização extrema da nossa vida conectada provoca o que alguns estudiosos
chamam de “câmaras de eco” ou “salas espelhadas”, onde tudo o que vemos e
consumimos é reflexo de nós mesmos. (MANSERA, 2015)
Uma espécie de prova de que é assim que as coisas funcionam veio com os
acontecimentos políticos de 2016. Quem havia tomado conhecimento do livro
de Pariser, estava melhor preparado para a grande surpresa do que estavam os
incautos. Além de “câmera de eco”, um termo que já costumava ser empregado
para se referir às mídias tradicionais e que foi também transferido para o
universo online, outra expressão que vem sendo usada para o fenômeno das
bolhas é “molduras ideológicas”. Ainda outro nome que também aparece é
“ciberbalcanização”, cunhada pelos pesquisadores do MIT, Van Alstyne e
Brynjolfsson. Este termo se refere à região da Europa que foi historicamente
subdividida por diferenças de linguagens, religiões e culturas. Diante disso,
desde 2016, não cessam de aparecer matérias em tom sensacionalista para
demonizar a internet:
Para cada site que você pode visitar, existem pelo menos 400 outros que não consegue
acessar. Eles existem, estão lá, mas são invisíveis. Estão presos num buraco negro digital
maior do que a própria internet. A cada vez que você interage com um amigo nas redes
sociais, vários outros são ignorados e têm as mensagens enterradas num enorme cemitério
online. E, quando você faz uma pesquisa no Google, não recebe os resultados de fato – e
sim uma versão maquiada, previamente modificada de acordo com critérios secretos. Sim,
tudo isso é verdade – e não é nenhuma grande conspiração. Acontece todos os dias sem
que você perceba. Pegue seu chapéu de Indiana Jones e vamos explorar a web perdida.
(GRAVATÁ, 2016)
Segundo Nikolov et al. (2015), a personalização dos filtros, tenha ela uma
base algorítmica ou social, ou uma combinação de ambos, seja ela utilizada de
modo deliberado ou não, apresenta tendenciosidades que afetam
significativamente o acesso à informação, na medida em que conduzem o
usuário a pontos de vista estreitos que impedem a exposição a ideias contrárias
aos seus preconceitos. Cria-se assim um solo fértil para a polarização e as
opiniões mal informadas (NYHAN; REIFLER, 2010). O problema se torna
ainda mais preocupante porque tais posições tendem a se tornar, com a
passagem do tempo, cada vez mais radicais (SALGADO, 2018). Esse tipo de
exposição seletiva, em que as escolhas são tanto explícitas quanto implícitas, é
alimentado pelas tendências homofílicas que fazem parte do funcionamento do
psiquismo humano e que foram sintetizadas em uma canção de Caetano
Velozo: “É que Narciso acha feio o que não é espelho/E à mente apavora o que
ainda não é mesmo velho”.
Em 2017, o programa Future Now da BBC promoveu uma enquete junto
a especialistas no mundo da ciência, filosofia e tecnologia, para obter respostas
sobre os desafios mais cruciais a serem enfrentados dessa data para o futuro1.
Em resposta ao item específico sobre o “Futuro da internet, mídia e
democracia”, Victoria Rubin apontou para o fato de que a psicologia humana é
o grande obstáculo para a obtenção de informações confiáveis, devido à falta de
vontade de buscar fatos e histórias que estão em desacordo com os pontos de
vista que as pessoas obstinadamente adotam.
Conforme Perosa (2017), “o poder da crença – em uma ideia, religião,
afinidade política e afins” já existia antes da internet. E não há argumentação
racional que possa suplantá-la. Trata-se daquilo que os psicólogos cognitivos
chamam de “viés da confirmação”, ou seja, “quando alguém é confrontado por
informações que contrariam sua visão de mundo, as chances de que aceitará o
novo dado como um fato, mudará sua opinião, ou questionará o próprio
sistema de crenças são um tanto baixas”. Isto porque aceitar as informações que
confirmam as nossas crenças fala mais alto do que “rejeitar aquelas que as
contradizem”.
A mente funciona por reconhecimento de padrões, sendo atraída por
padrões já conhecidos em detrimento dos desconhecidos. Justo por isso, gasta-
se muito menos esforço e energia mental diante da mesmidade do que diante
da alteridade, uma vez que esta última nos obriga a romper hábitos e criar
novos hábitos de pensamento. C. S. Peirce (CP 5.398) nos ensinou que hábitos
de pensamento funcionam como disposições e guias para a ação. Portanto,
mudar hábitos de pensamento implica mudança nos modos de agir. Essa
trajetória também ajuda a explicar porque evitamos novas informações que não
se alinham com aquilo que cremos ser verdade, pois isso nos desobriga de
pensar diferente, sentir diferente e, consequentemente, agir diferente.
Diante disso, é plausível a hipótese de que, mesmo que os algoritmos
fossem eliminados (o que é impossível), as pessoas ainda tenderiam a criar suas
próprias bolhas de filtro como garantia de aproximação de pessoas que
funcionam como espelhos de suas crenças, o que só fortalece as crenças na
medida em que o espelho cumpre a função de devolver as mesmas crenças de
modo redobrado, e assim progressivamente.
As pessoas formam opiniões e crenças por razões complexas e melhor equipar os cidadãos
com habilidades cognitivas para analisar conteúdos e contextos não significa que eles o
farão em todos os momentos ou que razões cognitivas podem vencer fatores morais e
socio-emocionais. Portanto, auxiliar as pessoas a desenvolver uma formação crítica para as
mídias não deve ser uma panaceia contra todas as doenças digitais, mas deve ser a
primeira defesa. (CHAPMAN, 2017)
O que é novo
A pesquisa realizada por Vosoughi, Roy e Aral (2018) sobre “e spread of
true and false news online” (A propagação de notícias verdadeiras e falsas online)
chegou a resultados curiosos que dão muito o que pensar. A proposta foi a de
investigar a distinção na difusão de notícias falsas e de notícias verdadeiras no
Twitter, de 2006 a 2017. O volume de dados recolhido foi imenso e tratado
com algoritmos de big data. A diferença entre o verdadeiro, o falso e o meio
falso/meio verdadeiro foi calibrada de acordo com a consulta a agências de
checagem de fatos. A pesquisa cobriu-se de justificativas pois, segundo os
autores, embora as NFs sejam muito comentadas com exemplos ad hoc, faltam
pesquisas empíricas sobre a facilidade com que elas se espalham
comparativamente às notícias verdadeiras. Mais do que isso: quais os fatores
relativos aos julgamentos humanos capazes de explicar essa diferença?
Os autores começam com o diagnóstico de uma certa imprecisão na
própria definição de “news” (notícias) e avançam para a fluidez semântica
daquilo que é genericamente chamado de “fake news”, expressão que pode
cobrir os sentidos de notícias falsificadas, notícias falsas, rumores, cascata de
rumores etc. Além disso, o que é falso ou não acabou por perder muito de seu
significado sob a influência das estratégicas políticas de rotular suas próprias
tendências como confiáveis em detrimento das tendências contrárias. Por isso,
aproveitando-se de uma sutil diferença existente na língua inglesa, passaram a
usar “false news” em lugar de “fake news”. Trata-se de uma maneira de colocar
em relevo a veracidade das histórias que podem ser verificadas como
verdadeiras ou não. Esse relevo foi fundamental aos procedimentos da pesquisa
na medida em que a distinção nítida entre o verdadeiro e o falso era crucial
para a medição da quantidade e do tempo de propagação de uma e da outra.
“News”, por sua vez, foram definidas de modo amplo. Em lugar de tomar
como ponto de partida as fontes institucionais, foram consideradas como
notícias tudo aquilo que é publicado assertivamente, no Twitter, como sendo
notícia, suplementado por fontes confiáveis. Rumores, por outro lado, são
inerentemente sociais e envolvem o compartilhamento entre as pessoas com a
alegação de ser notícia. Cascadas de rumores têm início quando uma
afirmação, tanto verbal quanto fotográfica ou por meio de um link, é feita
sobre um tópico desencadeando uma ou mais cascadas e criando um padrão de
propagação de rumores.
Sobre tais bases foi feita a investigação da difusão diferencial de notícias
verdadeiras, falsas e meio verdadeiras/meio falsas que assim foram classificadas
por terem sido submetidas à aferição de seis organizações de checagem de fatos.
Só então passaram pela metodologia quantitativa. Tudo isso garantiu a
confiabilidade dos resultados que foram sumariamente os seguintes: política é a
categoria que mais se propaga, seguida de lendas urbanas, negócios, terrorismo,
ciência, entretenimento e desastres naturais.
Quando as difusões do verdadeiro e do falso foram comparadas, a falsidade
é significativamente difundida com mais rapidez, extensão, profundidade e
amplitude em todas as categorias. Quando foi estimado um modelo para a
probabilidade de se retuitar uma notícia, a falsidade é 70% mais provável do
que a verdade.
Para comparar o conteúdo emocional das respostas às notícias falsas e às
verdadeiras, os pesquisadores utilizaram o léxico curado pelo National Research
Council Canada, que apresenta 140 mil palavras associadas a oito tipos de
emoções: raiva, medo, antecipação, confiança, surpresa, tristeza, alegria e
desgosto. Então, os dados foram vetorialmente analisados de acordo com esses
oito tipos. A pesquisa já havia revelado que a novidade é um grande chamariz
para a propagação das notícias e que as notícias falsas parecem sempre mais
novas aos usuários do que as verdadeiras. Por isso mesmo, nas NFs, a emoção
vencedora foi a da surpresa, seguida pelo desgosto e pelo medo. O espectro de
emoções inspiradas pelas notícias verdadeiras, por seu lado, varia entre grande
tristeza, antecipação, alegria e confiança.
Por fim, a pesquisa ainda revelou que os humanos são muito mais
responsáveis do que os robôs pela proliferação de notícias falsas. Não é difícil
supor que isso se dá porque os robôs não são acionados por emoções, a grande
gasolina que move o psiquismo humano. Ao final, os pesquisadores
aconselham que compreender como as notícias falsas se propagam é um passo
importante para saber como se livrar delas, uma tarefa substancial quando se
pensa que a verdade e a precisão estão implicadas em quase todas as atividades
humanas.
Essas três iniciativas são as únicas parceiras do Google no Brasil no projeto que insere um
selo de verificação das informações no Google Notícias, novidade que chegou em fevereiro
de 2017 ao país (GOOGLE BLOG, 2017). Ainda, Pública, Lupa e Aos Fatos integram a
International Fact-Checking Network (IFCN), rede organizada pelo Poynteer Institute for
Media Studies que reúne as principais ações na área no mundo. Dentre as atividades da
IFCN estão o monitoramento do trabalho de checagem, a organização de congressos para o
debate do tema, a proposição de um código de conduta aos checadores e a oferta de
suporte, treinamentos e informações acerca dos procedimentos de fact-checking aos seus
membros. (ibid., p 148)
A expressão “política da pós-verdade” parece ter sido cunhada por um blogueiro, David
Roberts, no dia 1 de abril de 2010 para nomear uma cultura política em que a política
propriamente dita, ou seja, a opinião pública e as narrativas midiáticas se desconectaram
inteiramente das policies, ou seja da policy, ou seja, das feerrramentas pelas quais são
debatidas, estruturadas e implementadas as políticas públicas e, ao fim e ao cabo, a própria
substância da legislação em Estados democráticos de direito. (BUCCI, 2018, p. 27)
Para o Dicionário, por sua vez, a “pós-verdade” deve ser entendida em dois
sentidos diferentes: de um lado, o significado “depois que a verdade tenha se
tornado conhecida”, de outro lado, o significado inaugurado pelo artigo de
Tesich, a saber, o fato de que a verdade se tornou irrelevante (ibid.). Assim, no
seu sentido expandido, o prefixo “pós” não mais significa apenas “depois de um
evento ou situação específica” como, por exemplo, na expressão “pós-guerra”,
mas também implica “um tempo em que um conceito se tornou irrelevante ou
sem importância”, com foi o caso de pós-nacional, em 1945 (ibid.).
Essa distinção é bastante crucial quando se sabe quanta ambiguidade, com
teor inclusive político, existe em torno do prefixo “pós” desde os debates sobre
pós-moderno e pós-modernidade, especialmente nos anos 1980 (ver HARVEY,
1989) e hoje em torno do pós-digital (ver SANTAELLA, 2016). Na questão da
pós-verdade, o presidente do Dicionário Oxford, Casper Grathwohl,
considerou que a munição para o seu advento é dada pelas mídias sociais no
seu papel de nova fonte de notícias e de crescente desconfiança nos fatos
veiculados pelo establishment, completando com a afirmação de que não ficaria
surpreso se “pós-verdade” viesse a se tornar uma das palavras definidoras do
nosso tempo, muito particularmente no seu sentido de “pós-verdade política”
(ibid.).
No extrato que foi publicado de seu novo livro 21 Lessons for the 21st
century8, aparece a seguinte declaração do famoso escritor Yuval Noah Harari:
“Não importa o lado em que nos colocamos, parece que, de fato, estamos
vivendo em uma terrificante era da pós-verdade, quando não apenas incidentes
militares, mas histórias e nações inteiras podem ser falsas”. Entretanto, Harari
relativiza esse desastre ao chamar atenção ao fato, para ele inexorável, de que
nós humanos
sempre vivemos em uma era da pós-verdade. O Homo sapiens é uma espécie da pós-
verdade, cujo poder depende da criação e crença em ficções. Desde a era da pedra, mitos
foram reforçados a serviço da união da coletividade humana. Realmente, o Homo sapiens
conquistou este planeta graças, sobretudo, à habilidade humana única de criar e disseminar
ficções. Somos os únicos mamíferos que podemos cooperar com inúmeros estranhos porque
podemos inventar histórias ficcionais, espalhá-las e convencer milhões de outros a acreditar
nelas. Na medida em que todos acreditam nas mesmas ficções, obedecemos às mesmas
leis e podemos, então, colaborar efetivamente (ibid.)
A CTS não se destaca pela coesão, dividindo-se em várias linhagens em disputa. Para nossos
propósitos, é suficiente caracterizá-la em termos gerais, dizendo que nela predominam, de
uma forma ou de outra, posições relativistas, antirrealistas e irracionalistas. Relativistas
porque negam o caráter objetivo do conhecimento científico, e desconstroem a ideia de
verdade, passando a admitir o uso do termo apenas entre aspas. O antirrealismo figura da
maneira mais direta e explícita na vertente construtivista, centrada na tese de que não
apenas o conhecimento científico é uma construção social (o que ninguém de bom-senso
contesta), mas também que o objeto do conhecimento, os fenômenos que a ciência procura
explicar, são construções sociais. O irracionalismo, por sua vez, consiste na interpretação do
desenvolvimento da ciência não como um processo dotado de certa racionalidade, mas
como uma disputa de interesses, cujo resultado é fruto da correlação de forças. (ibid.)
A reivindicação da verdade no
jornalismo
Alguns dos autores que assinaram artigos no dossiê da Revista Usp 116
(2018), dedicado ao tema da pós-verdade e o jornalismo, não deixam de
relembrar justamente casos pregressos do jornalismo institucional situados
longe da veracidade dos fatos. Genesini (2018, p. 48) aponta para a
ingenuidade daqueles que sustentam que as notícias falsas são responsáveis por
estarmos vivendo em um mundo pós-verdadeiro. “O real é que tal mundo
nunca existiu. A impossível e improvável expectativa de que algum dia as
notícias falsas desaparecerão não trará de volta o nirvana de uma verdade
perdida que nunca houve”.
Nenhuma comunicação de uma pessoa a outra pode ser inteiramente definida, isto é, não-
vaga. Podemos razoavelmente esperar que os fisiologistas poderão algum dia encontrar os
meios de comparar as qualidades dos sentimentos de uma pessoa com os de uma outra
pessoa, de modo que não seria justo insistir sobre suas incomparabilidades como uma
inevitável fonte de mal-entendidos. Além de que isso não afeta o propósito intelectual da
comunicação. Mas qualquer que seja o grau ou qualquer outra possibilidade de variação
contínua que subsista, precisão absoluta é impossível. Muito mais do que isso deve ser
vago, pois nenhuma interpretação que uma pessoa tem das palavras baseia-se na mesma
experiência de outra pessoa. Mesmo nas nossas concepções mais intelectuais, quanto mais
lutamos para sermos precisos, mais inatingível a precisão parece (CP 5.506).
a maioria das fake news não pode ser classificada simplesmente como falsa ou verdadeira.
O que pode reduzir seu efeito danoso são análises e pontos de vistas diversos e bem
fundamentados. Não há pessoa ou instituição que faça isso com mais autoridade e mérito
do que o bom – e mesmo o médio e medíocre jornalismo. Portanto, a solução para o
problema das fake news e do Facebook não é menos, mas é mais jornalismo. Hannah
Arendt, se estivesse viva, certamente concordaria.
o resultado de uma substituição coerente e total da verdade dos fatos por mentiras não é
passarem estas a ser aceitas como verdade, e a verdade ser difamada como mentira, porém
um processo de destruição do sentido mediante o qual nos orientamos no mundo real –
incluindo-se entre os meios mentais para esse fim a categoria de oposição entre verdade e
falsidade.
O que tudo isso me leva a advogar, apoiada em Arendt, é que existe uma
verdade fatual, ou seja, há uma correspondência que deve ser buscada, na
medida do possível, entre os acontecimentos e os discursos que os reportam.
Uma correspondência que precisa ser rigorosamente buscada a despeito dos
ardis da linguagem. Caso contrário, o jornalismo e a historiografia perderiam
sua razão de ser e as interpretações não passariam de um troca-troca de jogos de
linguagem. Embora os jogos sejam constitutivos dos discursos, todo discurso
está determinado por aquilo que ele visa reportar. No caso da verdade fatual,
que podemos também chamar de semiose indicial, aquilo que é reportado, de
fato, aconteceu no mundo dos vivos. E quando o discurso ignora, desrespeita,
distorce, manipula os fatos, entramos, sem dúvida no universo da pós-verdade.
Isso significa que, para responder à questão colocada no título deste pequeno
livro, no campo da verdade factual, a pós-verdade é e sempre foi verdadeira.
Quer dizer, deve haver uma verdade, aquela dos fatos ocorridos, que as fake
news estão hoje levando à derrocada, o que legitima a denominação de “pós-
verdade”.
É por isso que existe hoje tanto movimento voltado para a checagem dos
fatos, justo porque eles existem. Alguns têm considerado que as inúmeras
instituições voltadas para essa atividade representam uma espécie de revanche
do jornalismo convencional contra as redes sociais. Se levarmos em conta que a
verdade fatual tem por base um dado de existência, tal julgamento não
convém. Pouco importa se a checagem dos fatos vem do jornalismo
tradicional, do jornalismo digital, de instituições convencionais, de ongs ou de
qualquer fonte que seja. O que elas representam, na realidade, é a defesa da
verdade do próprio jornalismo. Quando essa verdade é vilipendiada, entramos,
certamente, no campo da pós-verdade. Portanto, quando se trata do
jornalismo, não custa repetir, a resposta à pergunta proposta no título deste
livro é: sim, a pós-verdade é verdadeira. Não se pode dizer o mesmo em outros
tipos de semiose, conforme será discutido no próximo capítulo. Tendo a
verdade factual esclarecida, podemos passar para um outro tópico importante
no texto de Arendt: a relação entre a verdade e a política.
Outras verdades
Para convencer os demais cientistas, procuramos realizar experimentos que podem nos
provar errados. Se tal experimento não cumpre essa tarefa, nossa teoria ganha força; se o
experimento mostra nosso equívoco, temos que modificar nossa teoria ou até mesmo
abandoná-la. É esse aspecto fundamental que faz com que os resultados científicos sejam
confiáveis. (ibid.)
Isso significa que, na ciência, toda verdade é provisória. Isto porque a
ciência é alimentada pela pesquisa e pela investigação cujo objetivo não é
chegar à verdade total e para sempre verdadeira, mas sim, atingir, como diria
Peirce, um novo estado da crença que, mais cedo ou mais tarde, levará a uma
nova dúvida, e assim por diante. Uma investigação pode ser considerada
finalizada quando ela é capaz de resolver uma dúvida ou problema, quer dizer,
ao obter uma nova crença sobre a questão proposta, sem que isso signifique o
ganho de uma verdade para sempre inquestionável.
Na sua defesa do método da ciência em oposição aos outros métodos de
fixação de crenças, a saber o método da tenacidade, o da autoridade e o método
a priori, Peirce (1972, ver também SANTAELLA, 2004) afirma que o método
da ciência apresenta dois aspectos básicos: (a) o de ter, de fato, levado ao
estabelecimento de teorias amplamente aceitas; (b) o de nos forçar a atentar
para a permanência externa das coisas, isto é atentar para a evidência de que a
realidade insiste. Além disso, o método atende ao impulso social do ser
humano. Embora sua investigação possa ser realizada na busca solitária de
resoluções para suas dúvidas, o cientista não se fecha em casulos. Ao contrário,
usa as opiniões e experiências conflitantes para despertar dúvidas genuínas em
relação à verdade de crenças estabelecidas. Seu impulso social está voltado para
a comunidade da espécie humana e não para a satisfação autocomplacente de
pequenos ou grandes grupos.
Justamente porque lida apenas com verdades provisórias é que não cabem à
ciência os rótulos de pós-verdade, como também não cabem à filosofia.
...é primeiramente a música que desperta o sentido musical do homem; para o ouvido não
musical, a mais bela música não tem sentido algum. (...) É somente graças à riqueza
objetivamente desenvolvida da essência humana que a riqueza da sensibilidade humana
subjetiva é em parte cultivada, e é em parte criada, que o ouvido torna-se musical, que o
olho percebe a beleza da forma, em resumo, que os sentidos tornam-se capazes de gozo
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3 https://www.webwise.ie/teachers/what-is-fake-news/
4 http://www.childnet.com/blog/fake-news-and-critical-thinking
5 https://g1.globo.com/fato-ou-fake/noticia/2018/07/30/g1-lanca-fato-ou-fake-novo-servico-
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desktop&utm_campaign=share-bar
6 https://internacional.estadao.com.br/noticias/geral,arte-da-mentira,10000075581
7 https://en.oxforddictionaries.com/definition/post-truth
8 https://www.theguardian.com/culture/2018/aug/05/yuval-noah-harari-extract-fake-news-
sapiens-homo-deus
9 https://iainews.iai.tv/articles/issue-54-the-limits-of-reason-auid-791
10 Devo meus agradecimentos a Eugenio Bucci por ter generosamente colocado em minhas
mãos os lúcidos textos elaborados como base para seu concurso de Livre-Docência na ECA/USP,
em que as questões relativas à pós-verdade estão discutidas em mais detalhes do que
comparecem na sua publicação de 2018 na Revista USP. Devo também confessar que foi esse
texto de Bucci que me fez retornar ao brilhante e esclarecedor artigo de Hannad Arendt sobre
Verdade e política (1972).
Coleção Interrogações