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TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER SOBRE LECIONAR

PARA NUNCA PASSAR VERGONHA

O Ano do Professor

Fevereiro – Os professores acabam de chegar da Bahia, onde passaram o carnaval e os casados acabaram
de voltar de Foz do Iguaçu; em ambos os casos, num ônibus de excursão a preços baratos.
Março – O ano letivo começa. Aparecem os primeiros sinais de gargantas irritadas, dobra o consumo de
analgésicos para dor de cabeça.
Abril – Seguem-se as primeiras discussões das equipes que não levam a nada, mas sempre para quebrar a
rotina que começa a se instalar pelos corredores e salas de aula.
Maio – Surgem as primeiras notas, primeiras correções de provas do bimestre anterior, primeiras
reclamações de pais e primeiras ameaças do diretor aos professores que não entrarem na linha, ou seja,
não facilitarem as coisas para certos alunos cujos pais pagam pontualmente as mensalidades escolares.
Junho – Preparativos para as festas juninas. Esquece-se por alguns dias da escola, e as salas de aula se
transformam em salões de festas, com direito a ensaio de quadrilhas, e posteriormente o pátio se tornará
um grande arraia com fogueira, fogos de artifício, canjica de milho verde e pamonha. A tensão começa a
aliviar e, depois de mais alguns dias de aula, todos se preparam para o fim do semestre que, na verdade,
são só quatro meses. Novas provas do segundo bimestre chegam, e enfim, vem a paz do mês de julho.
Julho – Mês das férias, alguns professores folheiam ansiosos os classificados dos jornais em busca de
um novo emprego ou de uma atividade extra para as férias. Alguns vão ao Paraguai buscar muamba;
outros continuam suas atividades mercantis com a venda de produtos de beleza ( Avon, natura, cazo ),
cachorros-quentes, sapatinhos de lã, planos de saúde e tantas outras coisas.
Agosto – Mês do desgosto para alunos e professores, que precisam interromper as férias para voltar às
aulas. Todo o mundo está ansioso para que o dia 13 passe logo, e, quando passa, querem que o mês vá
logo embora.
Setembro – Quando a primavera inunda os campos de flores, os alunos estão cada vez mais nervosos e
ansiosos, estando os professores cada vez mais propensos a pedir as contas a fugirem para o Iraque.
Alguns alunos-problema são encaminhados ao psicólogo escolar, enquanto alguns professores a um
hospital psiquiátrico. Mas tudo acaba bem.

Outubro – O ano parece não terminar nunca, o volume de trabalho simplesmente triplica e, junto com
eles, os problemas de falta de material, falta de dinheiro, falta de coragem e descrédito total na educação.
É o mês ideal para os sindicatos começarem greves. Afinal, faltam apenas dois meses para encerrar o ano
letivo. Os pais não querem que seus filhos percam o ano. Os diretores estão pouco ligando se os alunos
perdem o ano ou não, já que 80% das mensalidades estão quitadas. Os alunos estão loucos que a greve
durem mais dois meses para emendarem com as férias de janeiro e fevereiro. Os professores rezando para
que os diretores não aceitem as reivindicações do sindicato, para relaxarem e descasarem um pouco mais.
Novembro – Os que sobreviveram às catástrofes do mês anterior ficarão inclinados a levar o resto do ano
de qualquer jeito e passam a dar as últimas forças no propósito de que tudo acabe bem e possam todos
entrar em dezembro felizes e sorridentes, pois é natal e ano novo, vida nova para todos.
Dezembro – Fazem-se contas arredondadas para aprovar certos alunos francamente incapazes.
Reprovam-se, totalmente, uns tantos outros, que não são benquistos na escola ou na turma. E começam-
se os preparativos para a ceia de natal. Compram-se presentes para os familiares, e os professores
bonzinhos recebem presentes dos pais dos alunos. Os outros se escondem em casa, pois, se saírem,
levarão francos d’água, ( sacos plásticos contendo água ou urina ) terão seus fusquinhas arranhados e
provavelmente alguma vidraça misteriosamente quebrada.
1
Janeiro – ( recomeço ) Começam a chegar cartas do banco informando o encerramento das contas por
devolução de cheques sem fundos. Alguns cartões de crédito cancelam as contas, mas tudo está bem.
Afinal, o ano reserva muitas surpresas para todos. Quem sabe um aumento de salário, uma escola
moderna e com todos os recursos exigidos pela atual pedagogia... a esperança é a última que morre. As
férias ainda podem ser prolongadas até o mês de fevereiro, para alguns. São novas as viagens de férias à
Bahia, Porto Seguro ou ao Paraguai em busca de novidades. Afinal, logo tudo recomeçará outra vez.

Uma observação: Facilite a vida do seu aluno repetente, poupando-o de ouvir as mesmas coisas que lhe
disse no ano passado. Mande-o para a biblioteca da escola, contar as palavras do dicionário Aurélio, ou
fazer uma listagem de todos os livros que começam com a letra X, K, e Y.

Original em inglês:Bluff Your Way in Teaching, por Nick Yapp.


Tradução e Adaptação: Ediouro S.A., 1992.

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