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AS MÚLTIPLAS FACES E MÁSCARAS DA HETERONORMATIVIDADE:

VIOLÊNCIAS CONTRA ADOLESCENTES E JOVENS


HOMOSSEXUAIS BRASILEIROS*
THE MULTIPLE FACES AND MASKS OF HETERONORMATIVITY:
VIOLENCE AGAINST BRAZILIAN TEENAGERS AND YOUNG HOMOSEXUALS
Recibido: 10 de julio de 2017 | Aceptado: 05 de marzo de 2018

DOI: 10.22199/S07187475.2018.0001.00003

IARA FALLEIROS BRAGA 1 ; MANOEL ANTÔNIO DOS SANTOS 2 ; MARILURDES SILVA FARIAS 3 ;
MARIA DAS GRAÇAS CARVALHO FERRIANI 3 ; MARTA ANGÉLICA IOSSI SILVA 3

1. UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA, Departamento de Terapia Ocupacional, João Pessoa - Paraíba, Brasil;
2. UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO, Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Ribeirão Preto, Departamento de
Psicologia e Educação, Ribeirão Preto - São Paulo, Brasil;
3. ESCOLA DE ENFERMAGEM DE RIBEIRÃO PRETO - EERP/USP DEMISP - Departamento de Enfermagem Materno-Infantil e
Saúde Pública, Ribeirão Preto - São Paulo, Brasil.

RESUMO
INTRODUÇÃO: A violência e preconceito contra a população LGBT tem ganhado destaque na produção acadêmica mundial,
evidenciando um número crescente de adolescentes e jovens vitimizados. OBJETIVO: compreender as experiências de violência
vivenciadas por adolescentes e jovens que se autodefinem como homossexuais, sob a perspectiva analítica Queer. METODO:
Trata-se de um estudo qualitativo, realizado em um município do interior paulista. Participaram 12 adolescentes e jovens, cujo
interesse erótico e/ou práticas afetivo-sexuais se voltavam para pessoas do mesmo sexo. A coleta de dados foi realizada por meio
de entrevista semiestruturada e os dados foram analisados de acordo com pressupostos do método de interpretação de sentidos,
com apoio em conceitos da Teoria Queer. RESULTADOS: a perpetuação de uma cultura heteronormativa e violenta sanciona
punições aos dissidentes da norma heterossexual e que adolescentes e jovens que não seguem a suposta linearidade entre sexo,
gênero, desejo e práticas sexuais são subalternizados, tornando-se vulneráveis a diversos tipos de violências e preconceitos, tanto
em espaços públicos como privados. CONCLUSÕES: O estudo sugere a necessidade de construir uma agenda de pesquisas para
melhor compreensão desse fenômeno e delineamento de políticas públicas para sensibilizar e habilitar profissionais na prática do
cuidado.
PALAVRAS-CHAVE: Violência; Homossexualidade; Adolescência.

ABSTRACT
INTRODUCTION: Violence and prejudice against the LGBT population have gained prominence in the academic world, showing an
increasing number of victimized adolescents and youths. OBJECTIVE: To understand the experiences of violence lived by
homosexual adolescents and young people, from the Queer's analytical perspective. METHOD: This is a qualitative study, carried
out in county of São Paulo, Brazil. Twelve adolescents and young people, whose erotic interest and/or affective-sexual practices
turned to people of the same sex, participated. Data was collected through a semi-structured interview and analyzed according to
assumptions of the method of interpretation of meanings, with support in concepts of Queer Theory. RESULTS: Results show that
the perpetuation of a heteronormative and violent culture sanctions punishments against dissidents of the heterosexual norm.
Adolescents and young people who do not follow the supposed linearity between sex, gender, desire and sexual practices are
considered inferior, becoming vulnerable to several types of violence and prejudices, both in public and private spaces.
CONCLUSION: The study suggests the need to build a research agenda to better understand this phenomenon and a plan of public
policies to sensitize and enable professionals in the practice of assistance.
KEY WORDS: Violence; Homosexuality; Adolescence.

* Agradecimentos: Ao apoio recebido da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), processo número 2014/00701-1.
Endereço para correspondência com o Editor: Iara Falleiros Braga. E-mail: iarafalleiros@gmail.com

| SALUD & SOCIEDAD | V. 9 | No. 1 | PP. 052 – 067 | ENERO - ABRIL | 2018 | ISSN 0718-7475 |
As múltiplas faces e máscaras da heteronormatividade: Violências contra adolescentes e jovens homossexuais brasileiros

INTRODUÇÃO expressões de violência. Todavia, as


investigações realizadas ainda são
A violência é um fenômeno complexo e excessivamente pautadas nas práticas
multicausal, que se mantém presente em sexuais e nas questões de sociabilização
todas as sociedades e que tem sido que envolvem esses períodos críticos do
destacado tanto no contexto científico, em desenvolvimento humano, com poucos
diversas áreas do conhecimento, quanto no estudos voltados para a violência contra
político, frente ao desafio de mobilizar a adolescentes e jovens dissidentes da norma
sociedade a buscar caminhos para seu heterossexual socialmente estabelecida
equacionamento. Na saúde pública, a (Citeli, 2005; Soliva & Silva Junior, 2014).
violência tem impulsionado o
desenvolvimento do conhecimento, pois se Adolescentes e jovens que vivenciam sua
entende que a exposição às situações vida afetiva e sexualidade de forma
agudas ou crônicas de violência afeta a divergente da “normalidade” heterossexual
saúde individual e coletiva. Para sua encontram-se mais expostos a situações de
prevenção e tratamento, exige-se a discriminação, preconceito e violências
formulação de políticas públicas específicas (Fundo das Nações Unidas para a Infância
e a organização de práticas e serviços [Unicef], 2011). A estrutura social e
específicos (Minayo, 2005). comportamentos sexuais que geram
preconceitos e atos discriminatórios se
Parte-se da compreensão da violência fundamentam no dualismo da orientação
como produto histórico e cultural, por meio do heterossexual versus homossexual, mas de
qual se faz uso da força, das relações de forma a priorizar a heterossexualidade por
poder e de privilégios para dominar, meio de um dispositivo que a naturaliza e, ao
submeter e provocar danos aos outros, mesmo tempo, a torna compulsória. Esse
sejam eles indivíduos, grupos ou dispositivo é a heteronormatividade -
coletividades, de diferentes faixas etárias conjunto de prescrições sociais que vão
(Minayo, 2007). Com relação à natureza dos fundamentar os processos de regulação e
atos de violência, eles podem ser controle da manifestação da sexualidade, de
reconhecidos em quatro tipos: 1) física – modo que todas as pessoas, heterossexuais
agressões corporais que produzem lesões, ou não, pautem suas vidas conforme o
traumas, feridas, dores ou outras modelo da heterossexualidade, mantendo a
incapacidades; 2) psicológica – agressões linearidade de seu sexo e gênero (Miskolci,
verbais, gestuais com o intuito de aterrorizar, 2009). Já o heterossexismo é a manifestação
rejeitar, humilhar, restringir a liberdade ou de preconceito arraigada nas estruturas
ainda isolar o sujeito do convívio social; 3) sociais, nas instituições e nas relações de
sexual – violência que visa estimular ou poder, dificultando o acesso e garantia de
utilizar a vítima para excitação sexual nas direitos da população LGBT. Assim, sujeitos
práticas eróticas, pornográficas e sexuais, educados a partir desses padrões, com
por meio de aliciamento, violência física e/ou atitudes ou crenças que os reforçam, podem
ameaças; e 4) envolvendo negligência - ter atitudes de preconceito contra a
abandono ou privação de cuidados - diversidade sexual (Costa, Bandeira & Nardi,
ausência, recusa ou abandono dos cuidados 2015).
necessários do sujeito dependente (Minayo,
2007). Os dados sobre violência contra a
população LGBT no Brasil no ano de 2013
A literatura científica tem priorizado os (Secretaria Especial dos Direitos Humanos,
períodos de transição, como a adolescência 2013) levantados por meio do Disque
e a juventude, como objetos de investigação, Direitos Humanos (DDH - Disque 100) da
devido ao aumento de vulnerabilidade aos Secretaria de Direitos Humanos da
danos potenciais da exposição às diferentes
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Presidência da República (SDH/PR), com base na sexualidade ao longo da vida e


apontaram que foram registradas pelo poder entre 56% e 72%, ao menos um episódio de
público 1.695 denúncias de 3.398 violações agressão (Carrara, Ramos, Simões, &
relacionadas à população de lésbicas, gays, Facchini, 2006). Os tipos de violência e
bissexuais, transexuais e travestis (LGBT), discriminação identificados nestes estudos
envolvendo 1.906 vítimas e 2.461 suspeitos. variaram de acordo com marcadores sociais
A cada dia, durante o ano de 2013, do total de diferença; como, sexualidade, gênero,
de casos reportados no país, cinco pessoas classe social, etnia e geração. As mulheres
foram vítimas de violência homofóbica relataram menos que homens; o percentual
(Ministério das Mulheres, Igualdade Racial e de relato decresce conforme aumenta o nível
dos Direitos Humanos, 2016). Foram de escolaridade; é menor, também, entre
relatadas nove violações de direitos brancos e entre os que têm menos de 22
humanos contra a população LGBT do total anos ou mais de 40 (Facchini, França, &
de violações no dia. Os adolescentes e Ventura, 2007).
jovens continuam sendo as maiores vítimas
desta violência no Brasil, ou seja, 61% das De acordo com o levantamento realizado
vítimas estão na faixa etária entre 13 e 29 pela SDH/PR, por meio das denúncias do
anos (Ministério das Mulheres, Igualdade Disque 100 no ano de 2012, a violência
Racial e dos Direitos Humanos, 2016). A contra a população LGBT mais referida foi a
porcentagem de adolescentes e jovens psicológica, totalizando 83% (Secretaria
identificados como vítimas se destaca nos Especial dos Direitos Humanos, 2013). Em
levantamentos sistematizados disponíveis. um estudo transversal, realizado no Estado
Isso evidencia a importância de se olhar para do Ceará com 316 indivíduos LGBT, a
esse segmento, que se configura como violência psicológica foi identificada em 249
população vulnerável, tanto pela condição da pessoas, que configuravam 79% da amostra,
própria faixa etária, quanto pela violência e indicando que essa manifestação de
exclusão a que estão expostos por violência é a mais prevalente e, ao mesmo
romperem com o padrão hegemônico fixado tempo, a mais difícil de ser visibilizada, por
social, cultural e historicamente – a estar arraigada na cultura e entranhada nos
heterossexualidade. mecanismos simbólicos de poder. Esse dado
sugere que a violência psicológica contribui
Os resultados das pesquisas realizadas para naturalizar e perpetuar as práticas de
pelo Centro Latino Americano em discriminação contra a diversidade sexual
Sexualidade e Direitos Humanos/Instituto de (Albuquerque, Garcia, Alves, Queiroz, &
Medicina Social/Universidade do Estado do Adami, 2013).
Rio de Janeiro (CLAM/IMS/UERJ) Centro de
Estudos de Segurança e Dois estudos desenvolvidos nos Estados
Cidadania/Universidade Cândido Mendes Unidos constataram que a violência sofrida
(CESeC/UCAM) em diversas capitais por adolescentes e jovens afetam sua saúde
brasileiras com participantes da Parada do mental e qualidade de vida, com aumento de
Orgulho LGBT durante quatro anos também quadros depressivos, bem como da ideação
apontam para dados significativos (Carrara, e tentativa de suicídio (Russell, Ryan,
Ramos, & Caetano, 2004; Carrara & Ramos, Toomey, Diaz, & Sanchez, 2011; Ryan,
2005; Carrara, Ramos, Simões, & Facchini, Huebner, Diaz, & Sanchez, 2009). Um
2006; Carrara, Ramos, Lacerca, Medrado, & estudo realizado com 7.185 jovens
Vieira, 2007). Nesta pesquisa, os resultados brasileiros analisou o quanto o estigma
relacionados à violência e discriminação sexual, associado a baixas condições
assim se apresentam: entre 61% e 65% dos socioeconômicas, potencializa a exposição à
LGBT entrevistados neste estudo ao menos violência sexual e a ideação e tentativa de
um episódio de discriminação foi identificado, suicídio (Costa, Pasley, Machado, Alvarado,

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As múltiplas faces e máscaras da heteronormatividade: Violências contra adolescentes e jovens homossexuais brasileiros

Dutra-Thomé, & Koller, 2017). disseminam o ódio à diferença e


potencializam a violência e o preconceito à
Esse quadro de violência se agrava que essa população está sujeita.
diante do cenário sociopolítico brasileiro, que
apesar de ter implementado políticas Diante do exposto, este estudo teve como
públicas importantes no combate à violência objetivo compreender as experiências de
contra a população LGBT, através do violência vivenciadas por adolescentes e
Programa Brasil sem Homofobia, em 2004, jovens homossexuais, sob a perspectiva
do Plano Nacional de Promoção da analítica Queer. Para tanto, torna-se
Cidadania e Direitos Humanos de Lésbicas, necessário dar voz ao modo como esses
Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e sujeitos significam suas experiências de
Transgêneros em 2009, da Política Nacional violência, considerando a relevância de
de Saúde Integral de LGBT, em 2011, o incorporar seus testemunhos e reflexões
projeto de educação de combate à para uma melhor compreensão do
homofobia (Escola sem Homofobia) foi fenômeno. Essas contribuições possibilitam
desenvolvido e custeado pelo próprio (re)pensar propostas de ações preventivas e
Governo Federal, como parte do Programa interventivas para enfrentar a magnitude da
Brasil sem Homofobia, também em 2011. No violência e do preconceito sofridos, na busca
entanto este material, que foi apelidado de equacionar as diferentes maneiras pelas
pejorativamente de “kit gay” – acreditando quais eles incidem e são percebidos e vividos
que o mesmo incentivava os alunos à por gays e lésbicas.
homossexualidade, foi vetado pela
Presidente da República na véspera do seu MÉTODO
lançamento, após esta ter recebido em
audiência um grupo ligado à bancada Trata-se de uma pesquisa qualitativa,
conservadora do Congresso (Câmara e realizada em um município de médio porte
Senado Federal), parte da sociedade civil e localizado no interior do Estado de São
organizações religiosas, que exigiram a Paulo, Brasil. Participaram 12 adolescentes
suspensão imediata do projeto (Brasil, 2009; ou jovens que se reconhecem como
Mello, 2012). homossexuais, de ambos os sexos, com
idades entre 14 e 24 anos. A seleção dos
Já o Projeto de Lei da Câmara (PLC) nº participantes foi realizada por meio da
122/06 (Brasil, 2006), que foi criado para técnica de bola de neve (snowball), que se
criminalizar atos de discriminação motivados inicia com um participante ou um grupo de
pela orientação sexual, identidade de gênero participantes que indicam novos sujeitos,
ou sexo do sujeito discriminado, continuou que indicarão outros e, assim,
com sua tramitação paralisada no Senado. O sucessivamente, possibilitando ao
PLC 122 visava incrementar uma lei já pesquisador a imersão em seu círculo social
existente, a saber, a Lei nº 7.716 (Lei (Hanneman & Riddle, 2009). Os critérios de
Antirracismo) (Brasil, 1989). Desde sua inclusão foram: ser adolescente ou jovem de
aprovação em 2006 na Câmara dos ambos os sexos, residentes do município de
Deputados, o PLC 122/06 não obteve a Ribeirão Preto/SP, cujo interesse erótico
aprovação no Senado Federal (Senger, e/ou práticas se volte para outros do mesmo
2014). sexo.

Esses retrocessos recentes no Brasil, Utilizou-se como instrumento de coleta de


devido ao impacto de ideias conservadoras e dados um roteiro de entrevista
à entrada da assim chamada “ideologia do semiestruturada, compreendida como
gênero”, arraigada nos pressupostos aquela que possibilita, a partir de questões
heteronormativos e heterossexistas, norteadoras, que o entrevistado expresse
seu pensamento, vivências e significados
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construídos a partir da experiência, hermenêutica, compreender o sujeito


participando ativamente no processo da histórico imerso em seu contexto e cultura, e
pesquisa (Minayo, 2012). Este roteiro por meio da dialética, interpretar, refletir e
abarcou questões acerca da sexualidade, problematizar os fatos, as linguagens e os
gênero e experiências de violências e símbolos presentes na investigação. Parte-
preconceitos vivenciadas e/ou presenciadas se do entendimento de que os indivíduos
em seus cotidianos. reconstituem o vivido atribuindo-lhe sentido,
e emitem enunciados sobre si mesmos que
Iniciou-se o contato com os participantes nos dão pistas de como se constituem como
no primeiro semestre de 2015, com o objetivo sujeitos em meio a contextos de violência
de possibilitar uma aproximação nos pontos (Brah, 2006).
de encontro do público LGBT localizados no
município. Em um primeiro contato com cada Assim, desde o início e no decorrer do
participante foi detalhado o objetivo da estudo, a análise dos dados textuais
pesquisa, as condições de participação e percorreu os seguintes passos: leitura e
colhida a assinatura do Termo de releitura dos textos constituídos pelas
Consentimento Livre e Esclarecido para os transcrições literais das entrevistas para uma
participantes com idade acima de 18 anos, apreensão das singularidades de cada
do Termo de Assentimento para os menores entrevistado, e uma leitura transversal de
de 18 anos e do Termo de Consentimento todo o corpus para identificação do que há de
Livre e Esclarecido para os pais ou comum nas narrativas, assim como o
responsáveis pelos adolescentes menores destaque das divergências, para que se
de 18 anos. possa ter uma compreensão dos conteúdos
mais relevantes. Em seguida, buscou-se
Após a concordância dos participantes identificar os sentidos atribuídos por parte
foram agendados os encontros para a dos entrevistados, bem como problematizar
realização das entrevistas, em locais de sua as principais ideias explícitas e implícitas
preferência. A maioria das entrevistas contidas nos depoimentos, perseguindo os
ocorreu em locais públicos, porém que sentidos mais amplos (socioculturais)
assegurasse a privacidade e conforto. subjacentes às falas dos sujeitos da
Outras foram realizadas nas residências dos pesquisa. Por fim, buscou-se realizar um
participantes, sem a presença de outros diálogo entre as ideias problematizadas, as
membros da família. O tempo médio de informações provenientes de outros estudos
duração das entrevistas foi de 90 minutos. acerca do assunto e o referencial teórico do
Todas foram audiogravadas e transcritas na estudo, a fim de elaborar uma síntese
íntegra pela pesquisadora principal. O interpretativa, procurando articular o objetivo
anonimato dos participantes foi garantido por da investigação, a base teórica adotada e os
meio da utilização de nomes fictícios dados empíricos encontrados (Gomes, Leal,
escolhidos pelos próprios entrevistados. Knauth, & Silva, 2012).

Para a análise dos dados, foi utilizado o Em todas as etapas do estudo foram
método de interpretação dos sentidos seguidas as recomendações e orientações
(Gomes, Souza, Minayo, Malaquias, & Silva, da Resolução 466/12 sobre os aspectos
2005). Esse método é fundamentado nos éticos que regulamentam as pesquisas com
princípios hermenêutico-dialéticos, que seres humanos. O projeto foi aprovado pelo
buscam interpretar o contexto, as razões e as Comitê de Ética em Pesquisa da Escola de
lógicas de falas, ações e inter-relações entre Enfermagem de Ribeirão Preto da
grupos e instituições. Esse método responde Universidade de São Paulo (EERP/USP),
às necessidades da presente pesquisa, uma parecer 013/2015.
vez que busca, por meio dos princípios da

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RESULTADOS E DISCUSSÃO

Caracterização dos participantes

A Tabela 1 permite visualizar algumas características sociodemográficas dos adolescentes e


jovens participantes do estudo.

TABELA 1.
Dados sociodemográficos dos participantes da pesquisa.

Idade
Participante Sexo Escolaridade Cor da pele / raça
(anos)
Lipe 18 Feminino Ensino médio completo Branca
Duda 20 Feminino Ensino médio completo Branca
Dakota 19 Masculino Ensino médio completo Preto
Afrodite 21 Masculino Ensino médio incompleto Pardo
Normal 20 Masculino Ensino médio incompleto Branco
Sam 20 Feminino Ensino médio completo Branca
Potter 22 Masculino Ensino médio completo Branco
Cálculos 17 Masculino Ensino superior incompleto Branco
Deturpado 14 Masculino Ensino fundamental incompleto Branco
Chanel 18 Masculino Ensino médio completo Pardo
Biologia 19 Masculino Ensino superior incompleto Branco
Paulo Gustavo 24 Masculino Ensino médio completo Branco
Fonte: Dados coletados pela pesquisadora.

Participaram deste estudo 12 adolescente/jovem), uma era composta


adolescentes e/ou jovens homossexuais pelos tios e pelo jovem, uma vez que o pai
com idade entre 14 e 24 anos, sendo nove havia falecido e a mãe o abandonou, e o
do sexo masculino e três do sexo feminino. restante vinha de famílias compostas por
Os nomes fictícios foram escolhidos pelos mãe, pai/padrasto e pelo adolescente/jovem.
próprios participantes. Em sua maioria eram Nenhum dos participantes estava vinculado
oriundos de regiões periféricas do município, a alguma associação ou coletivo LGBT do
moradores de regiões que apresentavam município.
graves deficiências de infraestrutura em
termos de escolas, unidades de saúde e As vivências de violência experienciadas
oportunidades de lazer. Dessa forma, esses pelos adolescentes e jovens participantes
adolescentes e jovens relataram buscar o deste estudo revelaram diversos tipos de
centro da cidade para ter acesso a escolas, situações de agressão às quais foram
à cultura e aos espaços de sociabilidade, expostos na vida, tais como: violência física,
como praças, shoppings, bares e boates. psicológica, sexual e/ou autoinfligida.

Dentre os entrevistados, um frequentava Rompendo com a linearidade entre sexo, gênero


regularmente a escola, nove haviam e desejo: a violência física como forma de
concluído o ensino médio e dois haviam controle da normalidade
abandonado os estudos; oito exerciam
algum tipo de atividade remunerada, sendo A violência física foi predominante entre os
que três conciliavam trabalho e estudos. Dois participantes, que relataram ter sido vítimas
estavam cursando ensino superior. de experiências de agressões físicas em
diferentes contextos: família, rua e na escola.
Com relação à composição familiar, dois
participantes provinham de famílias Lipe, uma adolescente que se autodefine
monoparentais (composta pela mãe e pelo como lésbica, afirma que se masculiniza há
alguns anos e que declara que, por essa
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razão, tem sofrido violência física na escola É possível pensar que, no imaginário da
e na família. Em seu relato descreve que, família da ex-namorada, perpassa a noção
enquanto o irmão a agredia, por ela ter de que a homossexualidade de Duda é
flertado com uma mulher por quem ele imoral, antinatural e inaceitável, capaz de
estava interessado, ele dizia: contaminar e “corromper” a pureza de sua
filha. Os atos crescentes de violência podem
“Se você quer ser homem, você vai ser vistos como respostas no sentido de
apanhar como um homem. E apanhei manter o controle e dominação sobre a
feio dele, foi bem complicado” (Lipe). sexualidade da filha, impedindo que ela seja
“desvirtuada” pela má influência exercida
Quando o adolescente rompe com a pela proximidade com a “amiga”, de modo a
linearidade entre o sexo, gênero, desejo e se reestabelecer o padrão de normalidade. O
práticas sexuais esperada pela sociedade, a choque familiar é provocado pelo
violência pode ser uma resposta ao rompimento da matriz heterossexual pela
incômodo moral provocado pela quebra dos adolescente, o que a colocou em uma zona
padrões estabelecidos. A transgressão ao de abjeção, retirando a legitimidade de sua
desejo e às apresentações de gênero que existência.
são tidas como adequadas e naturais é uma
das fontes mais contundentes da violência O dispositivo da sexualidade visa
perpetrada contra o transgressor (Borrillo, controlar, dominar e manter a lógica da
2000). normalidade, delimitando a verdade e
totalizando os sujeitos (Foucault, 1976).
Outra situação identificada de violência Nessa concepção, todos os elementos
física contra uma adolescente lésbica negativos que se articulam para a interdição
transcorreu no contexto doméstico e foi do sexo, tais como as proibições, violências
praticada pela família de sua namorada, por e censuras, são somente algumas peças,
não aceitar o relacionamento afetivo. De entre outras, que têm uma função local e
acordo com a entrevistada: tática em uma produção discursiva que dá
materialidade a uma técnica de poder.
[...] já sofri violência, duas vezes e era
da família da minha ex-namorada. A Os participantes do sexo masculino
mãe dela ficou sabendo do nosso também relataram ter sofrido episódios de
relacionamento e, no começo, fingia violências físicas recorrentes, que
que gostava, deixava de boa a gente. ocorreram, principalmente, nos espaços
Aí, não sei o que aconteceu, ela pegou públicos.
raiva, o padrasto dela também, aí a
mãe dela veio e me bateu a primeira Já fui agredido, porque tentaram me
vez. Eu fiquei quieta, não quis tomar assaltar, eu não tinha nada para ser
nenhuma providência, aí a gente assaltado, e aí ele [o assaltante] falou
continuou junto, eu não quis separar assim, que eu era um veado e eu
dela. Aí ela falava que queria ficar merecia morrer, por causa disso ele ia
comigo, ela também apanhou por ser me bater. E me bateu, me agrediu [...]
lésbica e, aí, na segunda vez, eles fiquei com hematomas no rosto.
foram até o apartamento onde eu (Potter)
moro, foram cinco mulheres lá e me
bateram, e aí foi quando eu chamei a A gente estava, assim, numa praça,
polícia e fiz o boletim de ocorrência. eu e meus amigos, e tinha um grupo
[...] “eu vou te matar, você que está de amigos também mais distante. E aí
corrompendo minha filha”, a mãe dela era noite, o povo estava bebendo,
dizia. (Duda) fumando, zoando e brincando e, no

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meio dessa zoação [...] causou um Tais manifestações de violências,


xingamento, um com o outro, e a gente praticadas tanto por pessoas conhecidas
não esperava é que, da parte deles, como desconhecidas, expressam o caráter
alguém fosse vir agredir, que no caso compulsório da heterossexualidade, que se
agrediu eu, e na hora foi um choque, volta impiedosamente contra aqueles que
eu levei uma voadora muito forte, caí vivem fora do marco estrito da
no chão e, em seguida, ele deu mais heterossexualidade, bem como contra
um chute que acertou o meu braço, ele aqueles que se afastam dos modelos da
deu uma voadora nas minhas masculinidade hegemônica contemporânea
costelas, eu caí e ele me deu um chute (Duque, 2009). A heteronormatividade se
no braço, aí na hora eu levantei, meus reafirma constantemente enquanto norma
amigos estavam juntos ali perto, eu predominante, punindo de diversas maneiras
comecei a gritar: “Cê é louco, gente, aqueles que dela se afastam. Os
socorro, socorro” (Afrodite) adolescentes e jovens entrevistados
compartilharam várias situações em que
Eu cheguei a levar soco no olho por foram relegados à abjeção, mostrando como
causa disso, porque falaram que eu se tornaram marcados pelo estigma da
tinha que virar homem, me deram transgressão, sendo considerados como
soco no olho, então isso era todos os desumanos e, por isso, passíveis da
dias, era um dia sim, um dia não, era violência cruel dos crimes de ódio, que
outro dia sim, outro dia não, então isso almejam o apagamento das diferenças que
era repetitivo. (Potter) se visibilizam de maneira incômoda em seus
corpos, gestos e práticas afetivas (Butler,
[...] foi aqui na Praça, estava eu e meu 2001).
namorado, a gente estava de mãos
dadas, conversando, estava eu, ele e A inserção do indivíduo na categoria
mais dois amigos dele, e foi ficando humanidade é produto da diferenciação
tarde, aí os amigos dele foram embora sexual, então, aqueles que não se
e nós fomos embora [...], nisso que enquadram estritamente nas categorias
fomos indo, dois caras começaram a “feminino” e “masculino” serão
seguir a gente, e começaram a xingar sumariamente excluídos (Bento, 2011). Por
a gente de veado, dizendo que era pra esse motivo,
criar vergonha na cara. A gente não
dava nem bola e eles pegaram um Matar um travesti, transexual ou um
pedaço de pau e começaram a correr gay feminino não provoca a mesma ira
atrás da gente, e aí se esconderam ou a mesma indignação se comparada
atrás de um carro, perto da base da ao assassinato de uma mulher
polícia ainda, e eles acharam a gente, biológica, pois tal violência estaria
aí um pegou meu ex-namorado e mais identificada com um trabalho de
começou a dar soco nele e eu tentei assepsia da humanidade do que
defender ele e aí um deu uma paulada propriamente com a violência cruenta
nas minhas costas e eu caí, aí [...] a violência e a punição são
começaram a dar chutes, socos, hierarquizadas (Bento, 2011, p. 99).
pontapés, aí eu comecei a gritar
socorro, aí passou um moço de moto Todas as violências físicas relatadas
e eles pegaram e foram embora, e isso pelos adolescentes e jovens aconteceram
perto da base policial [...] Nós fomos sem precedentes (sem um motivo real), e
fazer o boletim de ocorrência e eles foram perpetradas por pessoas anônimas,
registraram como assalto, e não foi um sendo desencadeadas pelo fato de que eles
assalto. (Paulo Gustavo) expressavam, em seus corpos, a dissidência

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sexual e de gênero, por estarem visivelmente segurança do Estado, viola a efetivação da


rompendo com a lógica da matriz cidadania dos adolescentes e jovens gays e
heterossexual e com os preceitos lésbicas. Nota-se que lhes é negado e
heteronormativos. Dessa forma, esses suprimido o direito básico de ir e vir. Por
marcadores sociais da diferença – terem medo de transitar por certos locais
sexualidade e gênero – implicam na públicos, eles e elas se veem
instituição de desigualdades, que estão constrangidos/as a relegar as manifestações
intimamente relacionadas com as redes de afetivas de sua homossexualidade para
poder que permeiam a sociedade. A norma espaços estritamente privados e protegidos.
estabelecida historicamente na sociedade De fato, a manifestação de violência e
ocidental remete ao homem branco, preconceito se dão quando a
heterossexual, de classe social superior e homossexualidade é reivindicada nos
cristão. Aqueles que ousarem transgredir espaços públicos, e parece estar relacionada
essas normas estarão, hierarquicamente, ao temor dos indivíduos que tem preconceito
inferiorizados e “marcados” pela à diversidade sexual, de que se dissolva a
desigualdade, podendo ser alvo de fronteira e a hierarquia da ordem
preconceitos, exclusões e violências que são heterossexual, desestabilizando seus
percebidas como legítimas por quem as alicerces (Borrillo, 2009).
pratica (Louro, 2016).
Preconceito, opressão e estigmatização: a
O fato de o agressor ser anônimo e da violência psicológica permeando seus cotidianos
violência acontecer, principalmente, no
horário noturno, justamente por dificultar a Em relação à violência psicológica, ou seja,
identificação dos ofensores, torna mais difícil aquela que é evidenciada pela interferência
inibir os atos violentos, o que potencializa o negativa de um sujeito sobre outro, por meio
medo, reduzindo a possibilidade de transitar de situações de rejeição, depreciação,
em segurança e de se sentir sujeito pleno de discriminação e desrespeito, não deixando
direitos e pertencente aos espaços públicos marcas físicas, mas gerando consequências
da cidade em que mora. deletérias para o bem-estar psicológico da
vítima. É um tipo de violência que é difícil de
[...] eu tenho medo de andar na rua ser identificado, e pode estar abarcado em
sozinho, à noite, principalmente, outros tipos de violência (Ministério da
porque querendo ou não, mesmo eu Saúde, 2011). As narrativas dos
sendo um gay discreto, as pessoas participantes deste estudo apontam esse tipo
percebem que é um gay, elas sabem, de violência como presente em seus
né? Ou muitos partem mais para a cotidianos.
ignorância, mas hoje em dia a gente é
perseguido. (Afrodite) Na verdade, a violência verbal, para
uma pessoa que aparentemente é
[...] eu fiquei com medo até de sair na homossexual, que dá para ver que é,
rua, eu ficava tão assim, como eu vou ela nunca vai acabar. Eu sempre sofro
dizer, tão afobado, que eu via um isso, me acompanha desde a infância.
moço de bicicleta, ou um moço de A violência verbal, ela sempre existe,
moto, ou dois moços andando junto eu em qualquer lugar que eu vou. Para eu
já ficava com medo ‘Ah, eles vão me ir no mercado hoje e voltar, eu sou
atacar’! (Paulo Gustavo) caçoado na esquina numa banca com
cinco moleques, tudo bem que eu vivo
A disseminação da violência nos espaços num bairro pobre, e isso é mais fácil
públicos, sem ser coibida por ações de ainda de acontecer, então eu falo que,
vigilância e proteção do aparelho de na verdade, o homossexual que
aparenta ser homossexual, ele vai
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carregar o fardo do preconceito, da Nesses casos, a violência foi


discriminação, até a morte. (Potter) caracterizada, principalmente, pelo uso de
ofensas, chacotas e termos pejorativos
Nessa escola [em que estudou] a alusivos à orientação sexual dos
violência era muito pior, assim que adolescentes e jovens de ambos os sexos, e
você sai da sala, eles te dão chutes, ocorreram em espaços públicos e no âmbito
eles te caçoam... Então, na hora do escolar.
intervalo, para você ter uma noção, eu
saía da sala de aula e me escondia na A Fundação Perseu Abramo realizou um
biblioteca, eu me escondia na levantamento das violências sofridas devido
biblioteca porque sabia que era um à orientação ou conduta sexual. 42% dos
lugar em que os alunos não iriam me participantes relataram terem sido tratados
procurar para eu servir de chacota com ironia ou gozação, 31% foram tratados
para eles, e ao mesmo tempo me com grosseria ou ofensas e 21% foram
protegia lá, porque tinha um expostos a situações vexatórias ou
bibliotecário que eu era amigo. constrangedoras, em todos os tipos de
(Potter) ambientes sociais, tais como família (53%),
escola (47%), trabalho (42%) e lazer (26%)
Verbalmente, quando eu passo com (Prado & Junqueira, 2011).
meu namorado, a gente ouve: “Ah,
olha aqueles dois veados, olha que Com relação ao contexto escolar, a
pouca vergonha”, entendeu? Essas violência e preconceito contra a diversidade
coisas a gente ouve até hoje. (Paulo sexual são consentidos e ensinados por
Gustavo) meio de mecanismos de discriminações, de
exclusão e de exposição ao ridículo, ou seja,
Quando eu era pequeno, eu sofria a violência é sancionada, uma vez que
bastante, de me xingarem: “e aí, aqueles que se aproximam e acolhem os
veadinho”, esse tipo de coisa. sujeitos homossexuais são interpretados
(Biologia) como sendo homossexuais também, como
se a homossexualidade contagiasse aqueles
Porque eu já vi muito disso, muitas que estão em seu entorno (Louro, 2016).
senhoras, muitas mulheres, vendo
grupos de lésbicas, olham com cara Assim, adolescentes e jovens se
feia, xingando. Eu acho que tem isso percebem, desde cedo, como alvos
sim e tem muito, eu mesmo tenho preferenciais de uma espécie de “pedagogia
amigas que me contaram que isso da sexualidade”, na qual a escola é uma das
aconteceu várias vezes, de mulheres instituições que mantêm a legitimação da
se manifestarem pelo fato delas serem heteronormatividade, por meio da qual as
um casal, por elas estarem andando piadas infames, os apelidos pejorativos e as
de mão dadas. Já aconteceu, e isso é brincadeiras desqualificantes representam
muito ruim, né? (Afrodite) mecanismos de silenciamento, de
dominação simbólica, de reafirmação da
[...] as pessoas me chamavam de norma e de exclusão dos que dela divergem
sapatão, de macho-fêmea, sempre! (Louro, 2016). Em uma pesquisa realizada
(Sam) com alunos do sexo masculino, com idades
entre 9 e 14 anos, em uma escola brasileira
[...] eu escuto sempre: “Oh, Sapatão”, da periferia de Belo Horizonte, identificou-se
“Vira homem”. E é isso aí, violência é que 90% dos palavrões utilizados pelos
normal na rua, “mas que falta de alunos se referiam à sexualidade do
vergonha na cara”, sabe? (Lipe) ofendido, demonstrando que esse tipo de

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violência está fortemente impregnado no do seu celular. Você está na


cotidiano dos adolescentes (Roselli-Cruz, faculdade, você vê as pessoas
2011). olhando o jeito que você anda, o jeito
que você fala. É uma coisa assim, tipo
Além de permear o contexto escolar, a estou sendo observado 100% do
violência verbal também é um fato recorrente tempo, que é uma coisa mais
no cotidiano dos espaços públicos, tanto que psicológica. (Dakota)
a adolescente Lipe ressalta a “normalidade”
desse tipo de violência. Esse dado revela a [...] teve uma vez, num barzinho aqui
naturalização da condição inferiorizada em na avenida D. Pedro, a gente nem
que são colocados os segmentos sociais estava de mão dadas, estava eu, ele e
subalternizados, na qual são ocultadas as minha irmã, uma outra irmã minha, e o
relações de poder que estão em jogo, garçom chegou e pediu pra gente para
imperando os preceitos da soltar nossa mão porque a gente
heteronormatividade (Prado & Junqueira, estava num ambiente de família, que a
2011). gente não estava no nosso ambiente
pra fazer pouca vergonha [...] “Por
A violência psicológica também compõe o favor, soltem a mão porque aqui é um
cotidiano dos adolescentes e jovens lugar de família e tem criança, vamos
entrevistados na presente investigação, que respeitar”. (Paulo Gustavo)
reiteraram que são submetidos às mais
diversas situações de preconceito, opressão, [...] quando eu namorava, eu estava
estigmatização e tratamento diferenciado, abraçada com a minha ex na escada
dentre outras formas de exclusão que se rolante do shopping, e o guarda foi lá
aplicam aos diferentes. Como consequência e pediu pra gente não ter muita
mais notável, os participantes destacaram o proximidade física porque o local era
sofrimento de viver com medo de ser familiar. Eu olhei para ele e falei:
atacado, em estado permanente de alerta e “Olha, da mesma forma que qualquer
vigilância. Também emergiram relatos de um abraça suas namoradas, eu
agravos à saúde mental mais preocupantes, também posso. E outra, se for proibido
como a falta de controle da impulsividade fazer isso, tem que ser para todo
levando a ideação e tentativa de suicídio. mundo”. Eu não deixei de abraçar ela.
Esse dado está em consonância com outros (Sam)
achados da literatura (Teixeira-Filho &
Rondini, 2012). De fato, segundo a literatura, No presente estudo, um dos participantes
quando se comparam, estatisticamente, os também reportou ideação e tentativa de
adolescentes heterossexuais com os não suicídio, atribuindo-a ao sofrimento suscitado
heterossexuais, verifica-se que esses pela rejeição social e familiar.
últimos apresentam maior propensão a
pensar no autoextermínio e a tentar Eu mesmo, na adolescência, pensei
efetivamente o suicídio. em me suicidar. Eu pegava... minha tia
tinha remédio e eu tomava remédio da
[...] não era uma ofensa, era meio que minha tia. Isso com 14 anos, eu
uma pressão, uma pressão que fica comecei a tomar remédio da minha tia,
em você 24 horas por dia, você está que era antidepressivo, eu ia lá e
na escola e tem as pessoas olhando tomava os remédios [...] Tudo isso
para você, te pressionando: “Fala se porque a minha cabeça era uma
você é homossexual, fala, fala para panela de pressão, e aí eu chegava
mim”. Você está no ônibus, você vê as em casa e ainda tinha os meus tios me
pessoas olhando para você pela tela cobrando, porque eles não me
aceitavam. (Potter)
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As múltiplas faces e máscaras da heteronormatividade: Violências contra adolescentes e jovens homossexuais brasileiros

Esse tipo de violência é caracterizado que vinham em casa e até então eles
como autoinfligida, ou seja, aquela em que o chegavam aqui para perguntar, tudo
próprio indivíduo se autoagride ou tem da mesma idade, vizinhos de 13, 14,
pensamentos, ideações e tentativas de 15 anos, que eles procuravam a gente
suicídio (Minayo, 2007). No caso do com a desculpa de chamar para jogar
participante deste estudo, a ideação e videogame e essas coisas, e chegava
tentativa de suicídio se deu, segundo seu na hora o menino pegava e começava
relato, devido ao impacto em sua saúde a fazer outras coisas, entendeu?
mental das violências sofridas. Segundo (Potter)
dados de 2012 da Organização das Nações
Unidas (ONU), mais de 800 mil pessoas De acordo com dados do relatório de
morrem por suicídio todos os anos no violência contra a população LGBT no Brasil
mundo, sendo a segunda principal causa de (Secretaria Especial dos Direitos Humanos,
morte entre jovens com idade entre 15 e 29 2013) foram notificadas 74 denúncias de
anos, sendo que 75% dos suicídios ocorrem violência sexual contra a população LGBT
em países de baixa e média renda (World brasileira. Desses registros, 43,2% eram de
Health Organization [WHO], 2010). A abuso sexual, seguidos por estupro (36,5%),
Organização Mundial de Saúde (OMS) exploração sexual (9,5%) e exploração
reconhece que as taxas de suicídio são mais sexual no turismo (1,4%) (Ministério das
elevadas em grupos vulneráveis que sofrem Mulheres, Igualdade Racial e dos Direitos
discriminação, tais como os refugiados, Humanos, 2016). Esse tipo de violência é
migrantes, indígenas, LGBT e pessoas favorecido pela construção da imagem social
privadas de liberdade (WHO, 2014). do homem homossexual como indivíduo
promíscuo, somado ao estigma da
Corpos abjetos e objetos: a violência sexual ilegitimidade de sua sexualidade, que não é
como punição pelo desvio da heterossexualidade inteligível na matriz heterossexual. A
violência sexual também pode ter um
A violência sexual também foi relatada pelo significado de “correção”, isto é, ser aplicada
mesmo participante, que sofreu abusos por como punição pelo desvio da
parte do pai, dos amigos e vizinhos. heterossexualidade (Ministério das
Mulheres, Igualdade Racial e dos Direitos
[...] fui molestado por meu pai, não Humanos, 2016).
abusado em si, não teve penetração
nem nada, mas meu pai chegou a me A homossexualidade, desde a sua
molestar, ele tirava a roupa, ficava criação como uma categoria médica
mostrando o órgão sexual, passava a relacionada à perversão sexual, foi
mão... (Potter) entendida como uma manifestação fundada
em uma sexualidade desviante,
Eu tinha amigos que me xingavam, me descontrolada e associal, e como tal, volúvel.
discriminavam na escola e, ao mesmo A sexualidade de homens gays e mulheres
tempo, eles pegavam e gostavam de lésbicas é estigmatizada e condenada por
ficar passando a mão, me alisando, romper com a associação entre sexo e
todas essas coisas. (Potter) reprodução, o que leva à suspeita de que não
está sujeita ao controle racional, nem pode
[...] com 12 anos eu já mantinha ser exercida de um modo socialmente
relação sexual, não uma relação, responsável. Faz parte do imaginário social
assim, que tivesse tanto contato com a crença de que os homossexuais são seres
penetração, essas coisas, mas eu lúbricos, devassos e mentalmente
tinha bastante relação, assim, oral. Os perturbados, dotados de uma sexualidade
meninos, por exemplo, na época que exuberante e insaciável, que os deixaria
eu tinha 13, 14 anos, eu tinha vizinhos
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inclinados à promiscuidade ou a práticas transgridem essa lógica fundamental,


ilícitas, como a pedofilia (Miskolci, 2007). reforçando o caráter aberrante da abjeção.

No caso do participante Potter, a violência CONCLUSÃO


sexual foi perpetrada pelo pai e,
posteriormente, reiterada e continuada por Este estudo investigou e analisou, sob a
amigos, que, ao mesmo tempo em que ótica de uma abordagem compreensiva, as
rejeitavam e humilhavam o adolescente, experiências de violência vivenciadas por
também abusavam sexualmente dele. Esse adolescentes e jovens gays e lésbicas.
relato estimula uma reflexão sobre a Observou-se que os participantes revelaram
apropriação que é feita dos corpos exposição a diversas situações de
desviantes, corpos que são extremamente menosprezo, preconceito e discriminação
sexualizados e facilmente se tornam objetos devido à sua orientação sexual e
e abjetos, ou seja, ilegítimos e, por isso, performance de gênero, ao longo de suas
acabam sendo reconhecidos como passíveis trajetórias de vida. Violência física,
de atos violentos. psicológica, sexual e autoinfligida foram as
mais referidas. Ambos os sexos relataram o
Foram encontradas diversas formas de sofrimento decorrente de agressões físicas
vitimização – especialmente a física e a sofridas em diversos contextos, como a
psicológica – a que foram expostos os/as família, a rua e a escola. Os homens
adolescentes e jovens gays e lésbicas, vivenciaram violências, especialmente, nos
prevalecendo as agressões físicas. espaços públicos. Já a violência psicológica
Comparativamente, foram encontrados foi caracterizada, principalmente, pelo uso de
poucos relatos de agressão sexual, bem ofensas, chacotas e termos pejorativos
como de violência autoinfligida, com alusivos à orientação sexual dos
ideações suicidas que refletem o impacto participantes, tendo ocorrido em espaços
das múltiplas violências sofridas públicos e escolares (bullying).
anteriormente. Os contextos em que essas
violências se materializaram foram espaços Foram relatadas situações dolorosas de
públicos ou privados, como o lar, a escola e preconceito, opressão, tratamento
as ruas dos bairros periféricos onde residem. diferenciado, dentre outras formas de
exclusão. Como consequência dessas
Homens e mulheres homossexuais vivências perturbadoras, os adolescentes e
relataram que sofreram vários tipos de jovens destacaram os sentimentos de medo
violência, no entanto, aqueles e aquelas que e vulnerabilidade ao sofrimento, bem como a
não performatizaram o gênero suscetibilidade a agravos mais graves, tais
correspondente ao seu sexo biológico, ou como ideações e tentativas de suicídio. Um
seja, os meninos mais “afeminados” e as dos participantes narrou sua experiência de
meninas mais “masculinizadas”, relataram ideação suicida, que culminou com uma
experiências de duplo sofrimento, por não se tentativa mal-sucedida, desencadeada pelo
enquadrarem na linearidade do gênero, a intenso sofrimento gerado pelas violências
partir do sexo que lhes foi atribuído ao acumuladas. A violência sexual também foi
nascimento, e por não manifestarem o descrita pelo mesmo jovem, nesse caso,
desejo e as práticas sexuais direcionadas com a particularidade de que começou com
para o sexo oposto. Na perspectiva analítica uma relação incestuosa, especificamente por
da teoria Queer, essas manifestações de parte do pai. Essa relação abusiva foi depois
violência ocorrem como forma de repetida pelo grupo de pares, que ao mesmo
manutenção da heteronormatividade, que tempo em que o rejeitavam e humilhavam,
sanciona punições e promove exclusões a também o usavam para praticar atos
partir da identificação daqueles que libidinosos.

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As múltiplas faces e máscaras da heteronormatividade: Violências contra adolescentes e jovens homossexuais brasileiros

Dessa maneira, os resultados deste Debate, 37(98), 516-524.


estudo revelam a tendência à perpetuação doi:10.1590/S0103-
de uma cultura heteronormativa e violenta, 11042013000300015
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