Você está na página 1de 22

+

;j Impresso no Brâsil, maio de 20I4 l'1


Nélio Schneicler
llirulo original: l{,grl 'Ç^t :,i..1
Ti"aduçáo:

Copyright @ C.rnrbriclge Universiry Pres 1975 ,:, 'li


l:rl
Todos os direitos reservados. ,: :
STSTEMA
,,,
Os dirciros destr ediçío penenÇem â
MHTCDO M
ti.l

Itr ii l
Realizaçóes Eclitota, Livraria ,: Distribuidora Ltdt.
11
t.'
Crixr Postal: 45321 , 04010 970 . Seo P;rulo SP
Telefax: (55 1 I) 5572 5361
c@)creâlizacoes.conr,Lrr, rqrq,.ereeliz:coes.com.Ltr
ESTRUTURA
.. t::' ti.',
'r'
i, .,:
ihrili i.lil,:
Eiitor iititi i::irrl
ihi:,'''' -.,''.,t:..::
Edson Manoel dc Oliveira Filho i:;li: : a:'.-.
i ::r
:,..t.
ri
i ,,1 1r1..,
,i, l
Gercnte erlitorial
ii i. l"rr"i
Sorrnini Ruiz ...' I i.',. il
ir:: f: rr'1
'ri:,,;:,.,lir.:!

Prodilção editoidl
Liliana Cruz

?reparaçáo de texto
Nina Schipper

Reuháa I
I

llenara Gonçalves
' r. rr.. '
Capa e pt'ojeto gúfco ',:tlti
Mauricio Nisi Gonçalves / Estúdio É nil
L
:

D iagmrnaç ão e e di t o raç ã.0 \, ,

Àndri Cavalcante Gimenez / Estírdio É


ll

Pri-imprusrto c i tttprcsáo 'r


, 'r ,, l:'rr.,il'l'li
Assahi Grá6ca e Eclitr:ra

Reservados todos os direitos desta obra. Proibida todr


CF{.A${TrHS
e qLralquer reprodução desta ediçáo por qualquer nreio
ou forma, seja ela eletrônica ou n:ecânica, fotocópia,
gravnçáo ou qualqueÍ out{o meio dc reproduçáo, sem
pcrmissáo expressa do editor-
'$lA}'lt üffi
"'it '
|,,i:,
'
W*-2"1';liou" :

, ir,
.ri'
i,
l

CAP ÍTUI-O I
I

t,
:,

j,
i
il A,spirações de urna nova época
l,
i

i
Ír'r

t.
i
!
i
I I-Ir:gcl nasce rt em 1770,llo mor)rento em que a cult,.rr';r alemá inici:rva a mtrclança cle-
t'
I cisiva conlrecicla conlo Str.rrn und Drrzzrg, c quanclo nascia a geraçáo clue revc,lucionaria
I
I, o Lrens:rirento e a literatura aler-náei na viracla do .,iculo. Hegel peltence a e.s:ia geraçáo,
!
I
quc foi chamada, tun ,.anto ir-npÍccis?1lnente, de gertr,;áo "rornântica". De làtr,, essas eti-
I
I
I
quetas particlárias inciuzcnr a clro; havia certas preocupaçõ,es que prendiam a atençáô' j
I dor; pensaclores e artistas dessa ger';rçáo, quer scjam clualiÂcados de românticos ou nio, t{
t
I
I qlle eran-I cornpartilhaclas até rnesrno por critir:os veenrentes clos românti-
grlcocupirç:óer;
i
f cos, cor-no Hegel. Não conseguircrnos entender realrncnre o clue ele queria, se:mvisiun-r-
I
i brirr as aspiraçóes e os problemas básicos que o clon-rinavrlm, c estes e.ram os de sua ópoca.
'L:'
!
i .É se tratolr de r.Lma ópoca revolucionária. ]:ssa 1r:rse se tornou trivi:r.l paia lós,
claro qtLe
porquc a revoluçáo tto munclo teir se totnaclo qLrase utrra constante ila nossa experiência.
t,

t
I Porém, ua cllcada cle 1790, a. Ilevoluçáo atingiu seu irlpacto total, quando as onCas cte
i
ii ciroque vincJas de Paris se csp:rll-rararn pela lluropa; e seu impacto foi tanto r;rals forte por
l ter sicr,o anrbiv:Llcnte: entusiasrno seguido c1e horror pe.rplexo entre a jovem intel.ligentsia da,
l
I Alcnranha. NIuita coisa uos escritos de Hegel e de selrs corrtemporâneos pocle ser explicada
I
f pcla necessiclade dc obtcr clareza sobre a dolorosa, pelturbaciora e conflituosa r:xperiência
I moral cla ll"evoluçáo Francesa. \4:rs rambén-r devemor; obter uma noçáo do me:io no qual
I
i esse evenlo que fez época repercutiu, a atrnosÍàra cle p,:n5i.1arr,o e sentirnerlto em que foi
i fonn,r.la e se desenvolvcu a erltáo nascente geração cle jovens alcmáes bem-edu,:aclos.
t,
t: Ihlvez o modo mais cconôrnico cle esboçar essa atnrosÍàra ou seus a.spectos que rnais nos
I

\l I

I
tun problenra central .1lre insistentemente cleman-
a.iudaráo a entcnder Llcgel seja delincal
I
dou tu:ra sol.rçáo clos pensa<lores llle dizia respeito à natureza da subjedvidade
clessa época.
I
I
i, humana e sua relaçáo corr o mundo. Era o problema «le unir duas imagens apâfentemente
I
inciispensáveis do ser hurnarro que, em certo nível, possuíam profundas afinidades ufirâ col]1
I
a outra, e, no entantor náo podiam scnáo se apresental r:omo completarnente inc,:mpatíveis.
i

.l
I

:.
Essas cLuas rlisóes surgiram como rcaçócs à - e, en:i conserluência, parcialmente conro
cl.esenvolvimentos clâ - colrente principal do pensaniento iluminist;r. radical, conlo csrc
foi ciesenvoh,ido durante os séculos XWI c XVlIl na Inglaterra e na França. Refiro-rne
à linha cle pensemento que teve inicio com a rcvoluçío cpi-stelnológica que foi em parte
L

' I ,..i
I

j
z4 P^R'rE I| DEMÁNDÁS DA RÀzÃo EspEcLrLÁTrvÀ ÁSPIRÁÇÔES DE UMA NOV,A ÉPOCÁ z,
^s I
I
I

inspiradora, cm parce beneÍiciária, da revoluçáo científica clo século XVII [,la foi clesen- l O que parece estar na base clessa argumeutaçáo, na qualiclade de assunçáo "antro-
volvicla por pcnsaclore.§ táo diversos quanro Bacon, Hobbes, Descartes e Locke; sendo pomólÍica", é a visáo cle uma ordem significativa, Ela pocle ser chamada de ordem
autenticada pela ciência cÍe Galileu e Newron, ela consolidou a sua posiçáo no século I
signifrcativa porqLre a noçáo é a de que diferentes elementos nâ criaçáo expressam ou
x\4ll náo só como reoria do ccnhecimento, mas também como reoria do ser humano i corporificam Llrna certa ordem de ideias - é por isso que os orifícios na cabeça, os pla-
i
e da socieclade. Pelas máos de seus protagonistas mais radicais, ela evoluiu r[1mo a um neras, os metais e outros fenômenos "cuja enumeraçáo se:iia muito tecliosa" podem ser
i
atonrismo e mecanicismo consumaclos, às vezes chegando às raias do materia.lismo, em rodos postos em relaçáo uns com os outros. Todos eles corporificam â mesma ideia re-
I
sua explicaçáo do ser humano e da sociedade, e converreu-se num utilitarismo radical
I
Íletida em diferentes meios, assim como "faz calor" e "ilfait chaud'exPrcssam o mesmo
r1o câll1po da ética.
Flelvétirrs, Flolbach, Hume, Benrham podem ser considerados como
i
enunciado em cliferentes línguas. E, devido â essa correspondência, Podemos deduzir a
representantes de diferentes Çorrenres desse vasro caudal, I natureza de uma â partir da outra, exatamente como sei, a partir do que aprendi, que, se
i
ola, há muitas maneiras cle interpreral esse movimento de icleias; a mais comum é a que I alguém diz"faz calor" em francês, fala "il fait chaucl". A icleia da ordem slgnlficativa está
acabâmos de mencir:nar: que e vemos, pLimordialmente, como uma revoluçáo epistemoló- I
i
inseparavelmente ligada à das causás finais, pois Postula que a disposiçáo do trniverso é
gica com consequências antropológicas. Porém, será nrais relevante para os nossos propósitos
I
como é, e se deseuvolve do mod6 como o faz, visando corporificar essas ldeias; a ordem
tentarmos nos concentru na noçáo de sujeiro subjacente a essa revoluçáo desde o princípio. I é a explicaçáo úicima.
corno inovadores epistemológicos, os modernos do século xvll dirigiram o seu Entender o mundo em categorias significativas que existem para corporifiiar ou
expressar uma ordem cle Ideias ou arquétipos, que manifestam o litmo da vida divina
)
desprezo e as suâs polêrnicas contra â ciência aristotélica e a visáo clo universo que s.
i
havia enredacio com ela l1o pensamento medieval e no da primeira fase da Renascença. I
I ou os âtos fundantes dos deuses ou a vontade cle Deus; ver o mundo como um texto
I
As causas ânais e a rcsPectiva visáo do universo como uma orclem significativa de níveis I

i
L ou o universo corno um livro (uma noçáo de rlue Galileu ainda se serviu) - e§se tiPo
I
qualitativamente diferenciaclos deram lugar, primeiro, a uma visáo cie visáo interpretatiutt. das coisas, que cle uma ou outra foi'ma desempenhoir urn papel
fiatônico-pitagórica l

claordem mater:rática (como em Bruno, Kepler e parcialmente também em Calile,rl, e, I

!
bastante importante ern muitas sociedacles pté-rnodernas, pode afigurar-se â rrós como
por fim, à "moderna" visáo de mundo das correlaçóes em írltima instância contingenres, i
o paradigma cla projeçáo antropomórfica sobre o mundo, apropriado â uma era em
1l serem pacientemente mapeaclas.pela observaçáo empírica. Do ponto de vista moderno, que o ser humano náo era plenamente adulto. E se este for o único modo que temos
essas visóes do períoclo inicial traíam uma deplorável, embora compreensível, fraqueza de ver essa rransiçáo que houve em nossa história intelecqual e cultural, entáo teremos
liumana, uma autoindulgê,cia com que projetavarn nas coisas as formas que mais dese- de interpretar as revoltas contra o mecanicismo do final do sécr.rlo )O/III, a visáo de
javam encontrar; nas quais se sentiam plenificaclos ou em casa, Goethe, a imaginaçáo romântica, as filosofias da natureza cle um Schelling ou de utn
 verclacle e a descober.ta
científicas requerem austeridacle, uma batalha corajosa contr.a aqu.ilo que Bacon chamou Hegel simplesnlente como urn colapso nervoso) um retorno nostálgico a confortáveis
de os "idolos da menre humana'. ilusóes mais an.igas,
Todos nós somos suficientemenre "nitrder.os" para ter "compraclo" boa parte dessa Esse modo cle ver as coisas náo é incomunr, mas está ionge de compreender o Ponto
história. É com um misro de condescenclência e embaraço qr. r..no, u-. porrrg.r,-, decisivo dessas r:eaçóes, bem como obscurece o modo como as questóes suscitadas conti-
j
como a seguinte, uma "refutaçáo" cla clescoberta das luas de nuam centrais troje. Em vez de ver a questáo entre Galileu e os filósofos de Pádua, entre
Júpiter por Galileu, clatada I
I
clo início cio século XML i a ciência moderna e a metâfisica medieval, como uma batalha entre duas tend.ências
I

presentes no self, urna impiementando ilusóes confortâdorâs, a outra fazendo freute a


Htí sete jarelas ciaclas aos animais no domicilio da cabeça, através jas
qr-rais o ar é
i

I duras realidades, poden-ro,rencará-la como uma revoluçáo nas categorias básicas com que
edmitido no tabemáculo do corpo, para ilumir:áJo, aquecê-ro e arimentá-lo.
euais entendemos o .;efl Isso náo quer dizer que ela tenha sido entendida dessa maneira na
sáo essas paltes do nitocosmo? Duas narinas, dois olhos, dois ouvidos
e uma boca. I

época, mas que essa formulaçáo é mais apropriada para ncs ajudar a entender os movi-
Assim senclo, nos céus, como em \tm macrocotmo, há duas estrelas favoúve.is,
cluas
mentos do ânal clo século XVIII.
irnpropícias, dttas luminares e Mercúrrio incleciso e indiferente. A partir dessa
e de
muitas outras sirnilaridades na naturezà, como a dos sete metais, ecc., cuja enumerafo
A leitura qr.e os modernos fazem dos seus predecessores e oponentes como presos
numa teia cle llusáo que teceram para si mesmos, projetando significados divisados na
seria tnuito tediosa, inferirnos que o uÍulero de planetas é necessariamente sete.r
rnente cle modo autoinclulgente sobre os fatos, é decorrência compreensível cla batalha
dos inovadores para libertar-se cle uma venerável ortodoxia. Porém, esta persiste parcial-
I Apud S,
Varhaft (ed.), Frnncis Bacon: Á Selmion of ]lis lílar*s, llor.onto, 1965, p. 17 menre porque a própria cornpletude cla revoluçáo moderna miiitir no sentido contrário
26 Í,^nTE I I ÀS DLivlr\NDAS DÂ 11Á2.\O tSi,tCULl\T t\.^ AsP!,rA.;óLs DIi LIÀ4À |icl\r,i, ÉtocA z7

ao nosso enrend.imenro da visáo que ela subsrirui. A própria nocáo modcr'oa do scf, clrc mediante uma r.isáo rtcional da ordem cósrnica, q.ue é uma ordr:rn de icl:ias, e se a
éo loctts c{essa batalha entre indulgência e austericlade, só vern a r:xistir, c{c iàrr:, n.o séclio ciiinc;ia, con'ro o mo,lo rnais eier:rclo cle consciênci:1, press,lpóc 2rutopresen'Ça, enráo a
XV'II, embora a visáo epicureia a prenr-urcie em cerra ncclicl:r. ciência cicve ser funclatla numa visáo rte orciern sigrr.ificativa. Náo i;:nplemcntado corlo
A diferença essencierl talvez possa ser fr.rru-rulecla dr:sta nuneire: o strjeitr- moclernir ui1l i1r[iurnento, nlas arltcs ccrno r.rrü linritt, tricito iro peÍrsaminto, e-ssre rac.iocín.io cleve t.er
é autoctefinitório, ao passo gu,:, em visóes arrteriores, o sujeit.o é ciefinickr cn: re[aç;io a servido cie r;lrporre p:rr:r o:u'gLurento clos opouentes de Gaiileu. Se tiuesse cle haver urna
uma ordem cósrnica. o;clem signilicàtiva, cntáo o conjunto dc cor; cspond(rnciirs ciue eLes mobilizanr é bastante
Qualquer explicâçáo clo.sujeito humano precisa tazer ftente â certas lacetas uniycr- convincente, aclmiticias outrâs as.sunçócs corrcntcs. .Porém, na base deve haver uma or-
sais da exper.iência: que há rnomentos em que é possível esra.r' "cm sintcniii' consigo dem porque essa erâ uma das condiçócs da açrreensáo racional do mtLndo clue chamamos
mesfno, com os próprio.s interesses centrais, ern. que poclerr-ros ter clareza sol-,re qrrem rle ciência, a.sstrmindo-se qucess:1 racional.iclacle = visáo c{essa ord.ro. É claro que seria

somos e sobre quais sáo nossoti propósitos, enqllânto, effl orltros utorilentos, estarnos anacrônico r:olocar isso corlo d?E1mantl nas bocas clos conternporâneos" Polque somos
confusos, sem clareza ou perturbados, divididos entre esre caminho e aquele ou ob- nós, os pós-kantianos, qr.re podernos xpresentá-lo como um algumento trarLscenclental
cecarios com o que náo é essencial, ou trpenas atonitamente desrnernorjadqs. Mr:itos a partir do Íàto c1a ciência. Porón-r, ní«r é incoetcnte ou ilcgítimo c,rncebê-lo como um
conceitcrs e rluitas imagens podem ser usados para descrever essas condiçóes opostâs: lirnite inarticr-riaclo do pensarncnto.
harnionia uersus confr.ito, prolindiclade uerÍírs si-rperâcialidade, posse cle .;i rnesmo prr- No entanto, a reiaçáo inversa também se sustcntà, e prescindir de urna noçáo de
lrs perda de si mesmo, alrrocenrrafilento uersu: dispelsáo. E, obviamcnte, nenhurna é ordem signiÊcativÀ era o mesmo quc reclefir-rir o sef. A situaçáo a.gora estii inverticla;
(luc libcrteuros a ntis rnestnos das projeçóer; de signili-
neutra, rio sentido de que cada uma propóe uma inrcrpretaçáo do qr"rc está ern jogu c Irosse plena cle si rnesmo requef
de que pode ser contestada^ Com efeito, diferentes noções do sr,rjeito sugerem irrLcr- ca.dos .sobre as coisas, que sejamc,s cr4raT-cs tle tomar distância do nundo e (le nos corl-
pretaçóes muito diferentes. cenrl;lr purâ.mente enl nossos próprios plocessos cle observaçáo e t,ensamel-'to sobre as
Se tornarmos "autopresença" como tenno provisór-io conrraposto a "clisrraçáo" ., coisas. O veflro n-rodeio assulniLr a Í'eiçáo de urn sonho cle autodispersáo; autopresença
"dispersác" designar as oposiçóes nesse ponto, poderemos clizer qrre ir visíro cle sr.rjei-
Pâra pilssolr a ser esrar corrsciente do que solrros e do clue estàrnos lazendo em termos de
t,:r oriunila da tradiçáo douinante clos antigos foi a de orre o rnom.-nto cm quc o ser hri- :rbstraçáo em relaçáo ao nru.ncio clue r,bservarnos e julgan-ros. O sujeito autociefrnitório
ffIano esteve mais plenamenEe ern contato consigo mesmo se cleu rluanclo elc csteve cur da episternoiogia mocte rna é, por conscgninte, naturalme.r,re, a sutrjetividarle atornista
sintonia com uma ordern cósmica, e em sintonia com ela no nro<lo mais aproprilclo a cl;r cl:r psicologia e da política que i:rotaram do rnesmo movimento. A própria noçáo cle
como ordem de ideias, isto é, medianre a razáo. ]lsre é clar.amentc o lcgarlo clc lrlatão; a su]eito assume Llfi} novo signiÍicacio no cotltexto moderilo, comcr âPontou um cefto
ordem na alma humanir é inseparável cla visáo racional da olden.r do ser. Para A.ristótcles, ntirnero cle r:scritores contctlporâneos.2
a conternplaçáo dessa oldem é a ativirlade mais elevacla rlo scr humano. A nrcsme noç.ro Já foi nrr:ncionaclo clue essa noçáo rnoderna do .rrf'obviarr-rcnte l1áo era sem ptece-
biisica está presente na visáo neoplarônicq,. que, por intermédir.r cle Agostinho, rorna-se dcntes. Os epicureus e os cóticos, entre os xrltigos,aplcsentaram utnavisáo do self gte
[undante para grande paltc clo 1,.nr"-.n,à medieval. sc c[c{ini,r como abstraçáo clc clualquer orclem; e n:Lo c srupr-csa c']c essÀ tradiçáo mi-
Nessa visáo, a noçáo de r-rrn .su.jeito que aicança àutopresença c cl:rrez-;r riir illisência de nirritália entre os antigos tenha lrornecido Lrrna par:e clo combustível pala a levoluçáo
I
qualquer ordem'cósmica, ou l1'4 igr-rorânc.ia da ordem crismica c scrn lelaçáo corn ela, ó moclenra, olr quc muitos vllltos do Ilrrruinisrno tenirarn sentido grande afiuidade por
complctâmente clestituida de se.rtidot despertar de um sonho, de uma conlusáo, c{e uml llpicuro e Lucréc.io. Porém, o sujeiro moder'no prcrporciollou uma guiradâ significa-
ílt:.sáo nada ntais é rpc ver a or'iem clas coisas. Podcmos ciizer isro cl,:ss:r visirc.,: náo ir:i. l.iYilneflte nove.
nela nt,çáo do self no sentido moderno, isto é, no senriclo cle tLrna.iclenticl'de qLre posso Os epicureus e os céticos obtiverarn uma noçác, 11: autoclefinir;áo mecliurte retrai-
definir para mim rnesrno sem referência ao que rne rocleia e ao mLrnclo (:m que esrou mento cl.o nrundo; slrâ ar'ma foi o cericismo qlrânto à orclem cósmica, ou um pleitô
siruaclo. Antes, sou essenciaLnente vlsáo de... uma ordem
ou unra ilr.rsáo. peia irrelevância dos Deu.ses. llm contllste, a mud.rnça moclerna parâ um sujeito au-
Ora, a mudança qlre ocor.reu tra revoluçáo do século XVII é, inter alit, rilna rnudança toctcÍinirório estava i.igada a.um sentido cie conuoie sobre o mun.do - intelectual no
para ume noçáo modern a d.o self, É esse tipo de noçáo que esrá na basc <Io t ogito de l)es- corneço e ciepois tecnológico. Ist,:r ó, a moderna certr:za de que o mrLndo náo deveria ser
cartes, no qual a existência do self é dernonstrada, enquanro a exjstência c1e tuclo que é visto corno uffr textc) olr uma corporiÍicaçáo de significado náo estava fun,lada uuma
externo, até mesrno a de Deus, permanecc duvidosa. De modo simiiar, é ersa noçáo que
está na base da emancipaçáo do significaclo. Se o ser humano só alcança a aLrropresenÇ:r r Por excmplo, Fleidegger, "Die Zeit des Veltlrilcles". In: Holzwege. Frankfurt a.1vl., 1950, p. 8i-85.
29
t ASPIRAÇÔES DE UMÀ NOVÂ ÉPOCA
t ^r uEM^r\u^à D^ l(^zÀo ESPECULATIVÁ
[,i,
I
t
I
contribuiçáo Para o conforto cla vidd"a Náo há razáo
percepçáo de sua desconcertante irnpenetrabilidade. Pelo contrário, ela cresceu conr o i penhores da verdacle do que como
I
que isso seja alglrma falsa piedade científica'
mapeamento das regularidades nas coisas, mecliante o raciocín.io matenrático traDspa- { p.r" p.rrrrrn'.os
a"À"Í"t" objttiuo' que "etn si é nrais valioso do que todos
I

rente e corn o consequente au.rnento do controle manipulativo. É ir.o que, enl írltima
I
)Vlais adiante, nn.o,-t
instância, esr:abeleceu a imagern do mundo como o lonu das correlaçóes contingen[es,
l,
os frutos clas invençóes", como
"' p'óp'i" conternplaçáo das coisas como elas sáo' sem
Minla proposiçáo é que um do§ Podero-
i

supersliçáo ou impostura, t"o ot' "oniu'áo"''


I
I
neutrâs, Enquanto negavam nossa capaciclade rle corrhecer a nâturezâ das coisas, os céti- I no
cos ântigos alegavam que os seres humanos possuíâm, c{e fi>rnra bastante inrediata, uma
i
i: sos ârÍârivos dessa visáo .rr;.;r;
*ui,o ,n,., cle el" "pagai+e" em tectrologia,,reside
um sujeito autodefinitório e que
f.* ;;lr; um munclo desencantaclo é correlativo a
!
comPreensáo relevante de sua situaçáo para cuidar da vida. Apesar de às vezes retomar as i
foi acompanhado
I
,"tinu" o;; urn" irlentidade autodefinitória
rnesmâs fórmtrlas, o século X\4I muclou radicaln'rentc o seu conteúclo, O conhecimenro o ganho auferido
", fato de.o sujeito náo mais ter necessidacle de
de uma sensaçáo d. *g"';;;;oder
pelo
imediatamente relevante que náo devia ser comparado com o conhecimento de causas relaçáo
finais passou agozar de um prestígio cadavezmaior, Ele pâssorr â ser eutendido con'lo o
1

deÊnir a sua perfeiçáo ll*'Jtftná' o "u equilíbrio ou a sua desarmonia em


I
I "-
paradigma do conhecirnento. aumaord'emexternâ.Juntoqomoforjardessasubjetividademodernasllfgeumanova qual parece ter
centralque se atribui à liberdade' o
i

Esse controle sobre as coisas, que havia crescido com a ciência e a tecnologia I noçáo cle liberdade .,,." no'ã papel
nrodernas, com frequência é concebiclo como a principal motivaçáo por trás cla re- i ,. .o*prouu.lo como definitivo e irreversível'
cle uma transformaçáo na visáo
filo-
pr...at*', t"it"'no' falando
I

voluçáo científica e do clesenvolvimento da visáo moderna. O slogan sempre citado Nas páginas )O/II'
I

uma minoria na EuroPa do século


"conhecimento é poder", de autoria de Bacon, pode facilmente nos dar essa inrpres- i sófrca, que como tal poderia atingir aPenas
tlti"ot' ninguém intocado nem inalteraclo
náo
Porém, a noçáo moclerna clo 'ujãito
I

sáo, e essn visáo "tecnológica" da revoluçáo do século X\'II é utna das razóes pelas i
isso cofllo o
no rnundo. Em parte, poclenros ver
I

quais Bacon com freqr.rência recebe unr papel mais inrportante do que ele merece, ao n.,r sociecracrc europeia o., ,rr.r*o
sob a in-
econômicas e soci;is que se disseminaram
i

resultaclo cle mudaüças políticas'


I
lado de Galileu e Descartes, Porém, até mesrno no caso de Bacon, qrlanclo ele insiste )
todo e' depois'
na socieclade ocidental con'Io Llm
na nulidacle da Êlo.sofi,l, da qual náo se pode "aduzir um único experimento que firência de r:ninorias, p'*ti'n""n'e
i porém, no caso europeu, outra influência poderosa estava
ten(la a facilitar e beneficiar a condiçáo do ser humano",3 podemos interpretar a sua r,m sociedades forâneas.
na me§ma direçáo' ?ara a maioria clas
I

motivaçáo de modo cliferente. Nós vernos, antes, o controle como vaiioso menos errr 1
em operaçáo, que Parece ter se movimentado tnais
pt"trç* de seJ11 deânidas em relaçáo a uma ordenr das
I
l

si mesno do que em sua confirmaçáo de certa visáo das coisas: uma visáo do mundo pessoas náo filosóficas,
l ' religiosa' e mais fortemente' Pâra a maioria
não como um locus de significados, mas, ântes, de correlaçôes defacto, contingentes. í ampla é procluzicla po"t'" consciência
aqui à presença
se* tt"'ã dt sagrado' que se refere
;;i:"^r, .* ,o.lr, ., époc", Por
I

A manipulabilidade do mundo confirma a nova identidade autodefinitória, qr-ral seja: I

o cristianismo
I
tempos e atos privilegiados.
a relaçáo apropriada do ser humano com uma orclem significâtivâ deve estar, ela intensificacla do clivino em certos locais, quanto
em seus pÍóprios sâcramentos
própria, sintonizacla com essa order:q; em conrraste, nacla assinala mais claramente a carólico manteve o sagrado nesse senrido, tanto
rejeiçáo dessa visáo do que rrirtar o fiirur.lo exitosamenre como objeto de conrrole. emceftosfestivaispagáosapropriac{amente..batizaclos',.Porém,oProtestantismoe,uma
e moveram-lhe
A rnanipulaçáo tanto prova quanto, por assim dizer, celebra a visáo das coisas como j nnrticulatmcnte,
Í- o caivinisÀo classificaram'no como idolatria
g pl"rara que a bataiha incessa.re para ctes§acrâlizar o mundo,
"desencantadas" (entzaubert)r pâra usaÍ a famosa expressáo de Max \7eber, guerra incondicional.
i
indivisa a Deus' te-
em nome de uma devoçáo
O progresso tecnológico transfolmou de tal maneira nossas vidas e produziu tantas I
movida por Calvino t
L

i "t" "gt'idtresa criaçáo eraum locus de significados' ern relaçáo


que
coisas das quais diÊcilmente poderíamos prescindir, que facilmente pensamos na "re- I
nha ajuclaclo a destruir o
""tJdt a si mesmo' t:':t:
exercício
compensa" cla revoluçáo do século XVIi em termos clesses benefícios (caso sejarn tais ao qual o ser hutnano deveria cleÊnir ]tlt " i|"^Ísse
sem ambiguidade). Porém, no próprio século XVII, esse pagamento foi bastante magro. estavanruitolongedeserocleforjarosujeitoautode{initório,rrrasconsistia,antes,
Para Bacon e os demais homens do seu tempo, o controle era mais importante pelo que emqueocrentedependesset"'it''tt't"deDeus'Entretanto'comoesvanecinrento
:le provava. Na mesma passagem recém-citada, na qual ele fala sobre facilitar e beneficiar clapiecla<lerr.or.r'u"tt,o*t""loclessacralizadoajudouafomentar'suasubjetiviclade
havia sido
fazer umo que originaLnente
r condiçáo do ser humano, Bacon diz: "Porque fruros e obras sáo como que fiaciores e humana correlativa, a qual passou a "oih.it"
c{a verdade das filosofias". E mais acliante ele faz uma comparaçáo explícita da semeacla fara o seu criador'
Iarântias
mportância relativa das duas consideraçóes: "as obras mesrnâs têm maior valor como
{ Ibidem, livro I, C)CüV'
Nourm Orgdnum, livro l, DCüII. 5Ibidem, livro I, CIC{X.
lo PARTE I I .\s -DEMÂNDÂ.s DA I(,A7-ÁO E.sPDCIJI-.\1 I\/A
ÀsP1RA(;órrs DE uivÍÂ NOV^ Éf ocA )t

De roclo rnodo, sob o irnpacro cla rer«rrriçáo


e t1a rerorma r.rrigiosa, po- nxtltirerâ cornpativel corn Lrlrl:r rcoria po1ítica, cr-9o ponto de prrrtida era o indivíc1uo r:urn
demos discern'ir o desenvo.lvjnr'ento,
nesses p"i*, 'rosóricrr
a. uma nocáo mocrenra ,Jo sujeito,
que caracterizei como autodefinitória estaclo d.- natLrrezâ. Porénr, eles parecefir conflil:ar nun:.r qucstáo conlo. l)or exemplo, ir clo
e, correlarivarne.nte a eJa, urla vis:rr.,
como vazias cle signjficarro inriínseco, clas coisas cleter:ninismo, em que a liberclacle do ser humano corro sujeito parece estar colnprci-ne-
urna visão rlo rnuncro corno o /orru
contingenres a serem determinarlas ,l,rc.rrcJirçóes tida pela necessiclade cau.sal estrita à c1r-r;rl cle está -sujeito como parte da rratureza. E isso se
por observaçáo, conforrnarido-sc
a priori. Falei anterio,ne,re a *rl padr.iro não rcflctiu crn noçóes cliverger-rtes quanto à relevância da naturê2,a. para a r:-Lzáo prática. P:rr:t
dessa visáo cle ,rr.rrin como ,,c]cse.ca,',.J";;,'rrr.n.to
pressáo de weber, ou como "clessacralizacla", :ro rncnciol:rr .*_ 1(ant, por exemplo. os inrpulsos cla n;rturez:l contiastal,ram com. as ciemardas cla liberdade.
"
o clcscnvolvi,rcrrto relieioso.
T.rlvez ctr possa irrrrcduzir ag.rrl Áo pa.sso que, pâra a corrcnte principai clo lluminisrno! a natllreza como a rotalidade do
o renuo rr.nico ..,iiri-rivado. ., ,
do mundo do signiricado in...nr., ,,. rlr,:,, ...;t nr.rlrrçirr listclna integr:rdo da rcaliclade ol.jetir.a, no qu:r[ rodos os serer;, incluin,lo o ser hurnano,
isro é, a .,.goç,io crc qr,c e,. lere
scr visro cor*o sig_ possuern urn rnoclo natural c{e exi.stência que ,:stá inrbricado com o de todos os clenrris,
niÊcado co'porificado' A razão parâ
usar .rr" ,Jr'rrro é nra.rcar o Í;rto
moderna' categorias de signiÊcado
cre qr.re, par.a , visáo provcll, àntcs, o rnoclelo básico para o ser .lrurnano colno um ser naturirl, desejante, pro-
e propósito ap)icam-seerc'.,s.,vanrenre ao
to e a atos de sujeitos, e náo encontrar', pensarlcn- veu o projeto da lazáo pn.r.. [.li.i.lrde e, enl (-or]sequência, para o benr.
,rrr.nàçáo no muncro sobre o qLrirJ pensa,r Entretanto, a despeito-das tensóes existentes, o amálgama resistir-r, e essas ciuas pers-
atuam, Pensar as coisas nesses ternlos e
é projetar categorias subjetiyas; pôr cle l:rcio
categorias é, cs.sas pectivas, parcial.mente collvergentes e parcialrnente conÍlitantes, coml;inaram-se cle di-
por conseguinre, "objetivar". Isso ciemar-câ utrlà r-roçáo .ova, moderna,
objetividade correlativa à nova suújetiviciade, rle ler:enres rnoclos para gerar uma ampla gam'.r cle visóes, <lesde o deísrnc, mais rnoderado,

A nova noçáo de r:bjetividade rejeitou o rccur.so qu.e enfatizava a naturcza espirituai e o destino do ser humano, até o naterialismo rnais
â causas fir:ais, sendo mecanicista radic:rl; desde o pessirnismo mais profr,rnclo quanto à capaci,:Lacle de e:sclarecimento cla
no senrido de apoiar-se unicamenre na
ca.usaçáo eÍiciente. Em conexáo.o,r.rlrro,.lo
aromística, por atribuir mudanças em pcssoa comum até às cspcranças r,rtópicas rnais extravagantes r:m lrm rrLundo reconstluí-
coisas compr""^r, "r,
ou holísticas' mas' antes, a relaçóes causais ";;; i;;;;;;;;;i":'.rrru*rrais
eficien'tes enrrc ele,,entos c',stitrrinLc.s.
do pe,ia ciência. Estas Forarn a.s visóes da era que conhecemos co,rrlo o l.hrminisn-ro.

tendiapara a homogeneic{acle por exigir Jlla


que coisas aparcnren}e.rc tlt: <1Lr;Lliriarlcs
tintas fossem explicadas como const.rçóes rlis- .)
alternativas resultartr:s tlris ,rcsr.r..s corsri-
tr'rintes básicos ou dos mesrnos princrpios
básic.s. LJm tlos rcsult;r,.los ,r"1, .rp.,,o.uln,.,*
da nova fisica foi cler.rbar a disdnçao Essa antrop,;logia conscitr.ritr o Jr()llto cle ataque, ou talvez'"tecuo" seia um tellno mais
aristotérica entr.e . s,p*riL,rar c o r,,br,,rr"r,
assim explicaq com a rnesma fórrnula, p,.,." acleqrraclo, dc dnas clas prirrcipais tcr.rclências do pensamento alemáo, r:uja reconciliaçáo
o mo'imento d. ,,,-,, pr.,n.ro a , qu".t,,
cre uma loi o problerna-chave cla geraçáo cle llegel. Poréur, isso 6[6 rluer dizer que o Iluminis-
maçá' Decorre daí que essa ciê'cia era
mecanicista, ato.'ística, ho,roge,izaci.ra
viamente, r,ia a forma dar e, o6- mo r,rdical, mecanicista, materialista, fbsse fc,rte na lUemanha. Bem pelo contrário. Se
concr:bcrmos os materialisras liranceses coffro i1 Íàr'mr plenarnente desenvolvida, entáo o
porém, essa noçrio
,r.';jlffi:l'#rgl: ficar restrira à exterior. (J sl clesdobror.r na Áiernanha nlunt vetsáo brancla.
lir.uni.nismo
ser humano também é um objetorira,rr,ur.r^, ranro quanro ^arureza
cr sr-rjcito cio conhecimento. Na rneciicla em qllc o Iir,rmini.smo ttclic;rJ plessupôs urna tremenda conEauçe na
A partir disso' a nova ciência incubou um
tipo cic c.tenclirrre,r. do ser. hum:r,o que subjetividacle hurnana e nas capacidridcs humanzrs, pociemos talvez en.tender a v.".riante
ó
mecanicista, atomístico, homogenizado.
. basea.ro na contingêrrcia. i-ru're n.s fornece alemii corno resultado do atraso aletnáo, o le geclo cl:r Gueu:r clos Ti'i:rta Anos: divisáo
um pdmeiro exempio desse tipo de visáo
do ser hur,ano, r1o seu r,r:cio i,icial, cnr
meio de observaçáo r:ra introspectivo; qlre o iutenra numa colcha cle retalhos cle Estados corl freqr-rência rbsurdam.ente minúsculos,
mas as mesmas ,oçócs estão rra b;rse
"behavioristas" posreriores de tentariyas o tlesenvoivirnento lento .[a cli,Lsse módia cap;rz de subsistir pol si rnesma, o âtraso eco-
de estaberecer uma ciência do .ser hr:,rano.
As te,rativas rle nômico reiativamente à Iiuropa ociclental, o d.eser:yolvimentc, cultural rardio no idioma
Íundar tal ciência, feiras pelo Ilumjnismo
r.aclical, por urr l_Ielvétils, urn I_Iolbach,
condorcet, um Bentham, baseavam-se r.rrn local, E, obviilrnente, boa parre da explicaçâo para a fonna que o Ilurninismo assurriu
n.rr" rroçáo',1.
objetiviciacre, e a era cro {lurnin1s-
n10 estâva desenvolvendo uma antroporogia na Alemanha reside no ser pano de fundo religioso. As lgre;as lutela.ras jamais cirega-
que constit,ía r-rrn amiilgama * náo
mente consistente de cluas coisas: a inteira- raur ao poflto cle oferecer r"rmaoposiçáo froncal, unr cornirate paravaler, decisivo, con.tra
- noçáo de subjetiviclacic ar,rtodeÊnirória correlatiya à
objetividade, e a visáo do ser rruman,, o Ilu:rinisnlo, o quc o cai:olicismo francês loglou com tanta Lapidez, Nesse tocante, a
'ova .o^u i*r,. cra narurezir c, r:m co'scquência, Alemanhl se assemelhou mais à inglaterra prorestarltc, Porém, para rlérn clisso, tanro
plenamenre sob a jur,isdiçáo ciessa o[r]etiv.iclacrc. Esrir.iois aspccros,:m scmpre
nam' Eies se reforç,rrn ,tüttrâ.mente sc coaclu_ o Ilr,unin.ismo na Alemariha qlranto il lcaçiro ;l cle forarn molcladc,s pc,r um importarrte
no ap.io ao atomismo, a uma r:iê^cia atomístiça
d. ruroyirnento de reavivarmento rc.igioso, geraimente cienomin,rclo pierisrno.
Jz PARTE Í I ÂS DEMÁNDAS DÂ RÂZÁO ESPECULÂTIVÂ l
ÂsPIR^ÇÔES tiE UM^ NOVA ÉPOC.{

o pietismo - que possuía algumas afiniclacres com o metodisnlo no mundo de rín- t livresca',8 pleito que é clevedor tanto da razáo ilurninistâ quanro cla espiritualidade pie-
gua inglesa - foi um movimeuto de renovaçáo cla vicla espiritual.
Tendo se iniciado no tista. Com esse tipo de entrelaçamento, religiáo e Iluminismo jamais poderiam consti-
século )§4I, ele adingiu seu ponro a.lto no século
xvIII. Reagiu conrra o formalismo do I
tuil dois campos opostos, como na França,
luteranisrno oficial, sua ênfase nas crenÇas Çorreras e sua preocrpaçáo
com as estruturas Contudo, quaisquer que tenham sido rrs razóes, a AuJhlàrung alemã desenvolveu sua
estabelecidas. lirdo
isso foi relegaclo a uma posição ,".r,náári. .m ,.lrçáo ao
ponro pri,- própria atmosfera inteiectual. Esta foi muito mais receptiva ao deísmo que ao nrateria-
cipal; a relaçáo interior, sincera, com cristo, Nesse sentido, o pietismo
foi o1.r,ro rebento XVIII obviamente refletiu o novo sentido do rclf e a
Iismo radlcal, O d,:ísrrro clo século
da andga tracliçáo espiritual alemá que remonra aos místicos
medievais Ec]rharr e tuler, cnm o mundo, E o ponto em que ele o refletiu de modo mais claro foi em sua
sua relaçáo
passando por Bôhme a tradiçáo da qua.[ o próp'io Lutero
- se nurriu -, clue colocou no noçáo de Deus como supremo arqrriteto do universo, que foi construído para funcionar
Çentro 0 errcontro interior da alma com Derrs.
de acor:do com leis causais objetivas. Â ordem cósmica eclificada dessa maneira náo era
Ele se converteu nuÍna religiâo do coraçáo, urna religiáo cla clevoçáo
entusiás[ica, cla rurna orclenr de siguií'icados, isto é, uma ordem em virtude das ideias qr-re corporiÍicava,
lenovaçáo (wedargeburt frena.scirnentol), nc quai as pessoas
sáo tomadas pelo ficgo do mas arltes em virtucle clos seus elementos que se entrosavam perfeitamente em seus efei-
Espírito. o resultado foi que o pierismo acabou se aliando ao Iruminism.
em certos tos recíprocos. Advém claí a imagern do universo como um relógio. E aquilo que Deus
pontos importanres, apesar de todas as diferenças proftlndas em termos
cle base espiri- I era como suprassujeito, o ser humano estava destinado a alcançar, à medida que captava
tual entre eles, Por consegninte, o pietisn:o igual,rente tendeu a
denegrir a preocr-rpaçáo I
mais e mais das ieis clo universo e se tornava mais e mais capaz de secunclar a ordem
com o clogma e as diferenças confessionais. Ele iguzJmente acabou
defendendo o indiví- i
natural corn o seu próprio artifício.
duo, suas convicçóes sinceras e stta comunidade livremente escolhida,
conrra âs esrrum- No entanto, o cleísmo europeu assumiu uma forma diferente, característica, na
ras oficiais mais amplas de Esraclo e Igreja que exigiam ]Volff,
ficlelidacle. Ele tanrbérn tendeu a AJernanha, a forma do sistema de Leibniz, que, nâ interpretaçáo de Christian
gaiva'izar as pessoas para obras de melhoramenro, educaçáo
e bem-estar social, De fato, clominou o munclo filosóÊco da Alemanha no século XVIIL Essa fiIosofia pocle ser
cor, §ua ênfase na religiáo do coraçáo, os pieristas inicia.Lnente cleram
menos arençáo a consiclerada, a partil de certo ponto de vista, como uma espécie cle estágio intermedi-
diferenças cle classc e educaçâo d,o que os Áufkliirer.ó
ário entre a filosofia da ordem cósrnica e o Iluminismo radical, embora, de um ponto
A. Iado dessa concordância, obviarnente havia também urn abismo espiritual esra- cle vista difereute e mais fecundo, trate-se claramente da sementeira dos inrportante
belecido entre o pietismo e o espírito d,a ÁttJhrirutg, Esta
úrtirna compartilhava com recomeços pós-ilunrinistas que criaram a atmosfera clo tempo de Hegel. Leibniz cle
os oponenres ortodoxos do pietismo aquela ê,(lse na
adesáo ls propotiçôes couetas, à fàto nos âplesenta uma ordem cósmica em que a explicaçáo írltima se dá em telmos cle
verdade como corretamenrc ettdtrída e prouacra, às expensas,i"
r.rporan espontânea clo carrsas finais, a saber, que este mundo é "o melhor de todos os mundos possíveis"; e,
coraçáo' Por consegr.rinte, o pietismo, como veremos
rnais acliante, foi ur.n-faror r,uito não obstante, a or<lem é feita de entes, mônadas, que se desenvolvem de dentro delas
importante nas reaçóes à Au/b tàrung.
mesmas, que realmente sáo subjetividacles no sentido moderno. A ordem de coisas náo
Porém, a,tes mes,,ro de o Ilu*r$ismo ter sulgicro, o pietismo matizou a atmosfera está aí para exemplificar um.a cerra ordem cle ideias, mas, antes, parâ realizat a maior
e a tona.lidacle do Iluminismo a]ernáo. pr:r nrais
intensa qr-Le fosse a suspeita nutrida por variedacle cornpatível com a maior quantidacle de ordem ou harmonia. Isso significa
muitos pietistas em relaçáo ao raciocínio _ Zinzendorf,líder .,eu.m
dos Herrnhurer: I qne devenros entender as coisas, náo tentando interpretar o mundo como unt texto,
desejar compree.der Deus com sua mente rornar-se-á I
um ateísta"7 -, o pietismo, náo mas anres examinando como os propósitos das mônadas se imbricam um com o oLttÍo,
obstante, ajudou a forrnar o pensamento cre arguns I

dos maiores:{z fhràrerÁa Nemanha, i.


e esta é uma moldura do entendimento que pode consociar-se bem corn a física ma-
coftro, por exemplo, Lessing e l(ant. O Natá, de Lessing, I

qu..*.r..,, grande influência l


I
temática. (Outro estágio intermediário desse ripo, a ordem harmoniosa de naturezas
sobre o jovem Flegel, como ainda veremos, é urn I
preito por uma .áigiao racionar e de Shaftesbury, influenciada, ern última instância, pelos platôr.ricos de Cambridge, era
humana para além das dilerenças de dogma e i'dependentemenre
do ,.f.i, err-rdiçáo I
igualmente muito popular na Alemanha.)
Í
l.
I
De qualquer modo, com base nessa variante alemá e al'ar-rçando pari passu corn a
6
Isto i' os homens do Ilurni,i.smo. A lÍngua ale.iâ é feliz por rer uma única pala'ra para os clesignar,
I
reaçâo contra a. suposiçáo compartilhada pelos franceses e muitos alemíes de que o
I
ao
PÚso quc em inglês são necessárias quarro. Por essr razão, às vezes usarei a palavra alemâ
l.
Iluminismo francês era o paradigma a ser seguido e que a cultura francesa era o modelo
no rexro, como I
também, p.r" ,o.iar, o reuno alemáo para Iluminism a ser copiado, desenvolveu-se na Alemanha uma arrnosfera pós-Iluminismo, âo rnesrnô
o: AuJküirung. i
7
Ápud Koppel s. Pinson, Pietism as a Factor in rb Rirc of !

Gerntan Nationarism, corumbia university 11,e-


ses, 1 934, vol. 23, p. 52. I 8
i
Iútbc Bur:bgelebrsa'mheit,'tto 5, cenr 6; as prlavras sáo de Recha.
l
{

I
Í
14 PARTE I | ÂS DEÀ4Â!-DAS DA I{AZÁO ESI')t':CULA'I'lVÀ ii
I AsPIRirÇÕES DE UitÀ NOVÀ Éf OCA 1'
t,

í
i
I

rempo crítica de alguns dos principais temas da revoluçáo modetna e, l1á(-) obstante, il
! corno texror própria da lclade N,léclia e do iuicio cla Reuasce,nça, incapaz de enunciaclos
ll
almejando incorporar muita coi.sa dela. Nesse esboço esquernático clo p,rno cle funCo, ,. coelr:ntcs. z\ noçár: das coisas no mundo como exptessáo de algurna t)rdem ideal, e isto
I
quero destacar duas linhas. independentemente c{e compreenderrnos a ordetrr ou não, nao faz st:nticlo. Essa teoria
A primeira ganha expressáo na décacla de 177 0 , no período dr, assim chanaclo Srtu 'trt
i
t' do inicio da modernidade é uma extensáo intransigente do nomiualismo rnedieval até
und Drang, a revol-rçáo na liceratura e na crítica aletnÁs clue foi clecisiva para o futLrtri da t, slra conclusáo mais avançada.
t
I
cultura alemá. Talvez o homem cujo pensamentt: mais meleça desttqlle nesse ponto .seja I
A. antropologia da expressáo representalia, entáo, simPlesffIenteutn retorno, tttrra
Herder, o maior teórico e crítico do Sturm und Drung, que exerceu grancie influência i Como foi rnencionado anterio.t'Irlertte,
reversáo da revoluçáo moderna da sr.rbjetividade?
i
sobre Goethe nos anos cruciais de formaçá.o de sua vida. muitos pensaram assim; trata-se, porém, de uma interpretaçáo errôrea grave, Porque
Herder reage conrra a aflrropologia do Iluminisrno, contra o que cl-rar-rei antelior- I
I umâ noçáo diÍtrente de expressáo está em jogc aqui. Ao falar, anteriollente, do modelo
mente de a "objetivaçáo" da natureza humana, contra a análise da mente humana eill I
I reinante que inspirou os oponentes de Galiler.r, eu disse que poderianos ver os teimos
t
difelentes faculdades, do ser humano como cofpo e alma, contra a noÇâo calcr-rlaclora cla çorrerspondentes - olifícjos na cabeça, pianetas, metais, etc:. - como corre§ponclentes
i
razáo, divorciada d.e sentimento e vontade. E ele é Lrm dos principais responsáveis por I porque eles expressarn ou corporificam a rrresrna orclera ideaL. Aqui, estamos falando de
desenvolver uma antrcpologia alternativa, centrada nas categorias da expressáo.r' I
expressáo como de um ideal qlle â exPressáo rePresenta. Esse é o sentido clo termo ou
Gostaria de tentar examil"rar um polrco inais de perto o que está itrplicaclo nurua isso está relacionado com o senrido do termo que usamos par:a falar sobre expressar ttos-
I
teoria do ser humano baseada nessas categorias, Porque elas sí'Lo centrais par:a qr.raiquer ! sos pensamenros oralmente. Poróm, há ôutro senticlo efir que fa.iamos <[e expressáo comtr
compreensáo cle Hegel ou, até mesmo, desse período. A noçáo central é que a atividâ.(le dar vazáo a) con-ro realizar: na realidade exterior algo que senti[1os ol desejamos. Esse
I

:
humana e a vida humana sáo 'r'istas como expressóes' Ora, vimos anteriormente que o é o senticto em que poclemos falar do fato de eu expressar minha rai'ra maldizenclo ou
:
modelo de um sujeito autodeÊnirório trouxe consigo nrn objetivar clas coisas, isto é, bar- agredindo o ser humano que me provocou. Ora, neste últirno sentido: o que se exPressa
rou noçóes como "signiÊcado", "expressrio" e "proPósito" como descriçóes inapropriadas é urn sujeito ou a.lgum estaclo de urn sujeito ou, no mínimo, alguma lbrma de vida que
I

da realidade objetiva e âs lestringia, antes, à vida mental dos sujeiros. Por exenrplo, I §e parece com utn sujeito (como quando falatnos de animais expressando sentimento).
t
as teorias do significado linguístico que se estenclem de Hobbes até Condillac veem a
i
Ora, ao clizer que a noçáo cenrral nessa nova antropologia era a da açáo ou da vida
signifrcatividade como uma relaçâo externa que certos siuais, sotis, coisas ou ideias (re- I
hum:rnas como expressáo, eu estava tlsando c, termo num se.ntido um. Pouco mais pró-
presentaçóes) têm pafa nós. Ou seja, essa relaçáo está na mente dos sujeitos e consisle i
xirr-ro deste últinio, emborâ, de [ato, cotno ainda veremos, algo do primeiro s?ntido
I
nos sinais, sons) etc. que estão sendo Pellsados ou usados PoI nós Pàra Êaze1'referência a igualmente seja incorporado. Na antropologia desenvolvida Por Herder e por aoueies
alguma outlâ coisa, O fato de haver algumas coisas no mundo sobre as quais poclernos l
qr-re o seguiramt ceÍtamenre ocolre urrrâ reabilitaçáo de alguns conceitos aristotélicos
falar em caregorias significativas requer que haja outras coisas às quais essas categorias básicos; ver a vida colno umâ expre.ssáo é vê-lir como a realizaçáo de u.m propósito e, na
t
i
I
náo podem aplicar-se, porque qluelas (signos, palavras, ideias, etc.) só se enquadram !
medida em qlre esse propósiro náo for concebido como, em últirna aná.lise, cego, pcCe-se
:,

nessas categorias por causa de süa relaçáo de referência a estas. A]ém disso, o fato cle : falar da realizaçáo de unra ideia. Porém, isso tan'rbém é entendido como a Íealizaçáo de
algumas coisas podelem ser descritas em câtegorias de significado náo constittti um fato ! uimseLf, e) nesse tocante, a noçáo é nroderna, iudo além deAristóteles e mostrândo sua
I
"objetivo" a respeito delas, isto é, um fato qu€ se mantém indepenclenternente dos conte- I filiaçiio a Leibniz.
údos e convicçóes particulares nas mentes httmanas; os nexos que geram significado sáo i Nesse ponto, falar sobrc a rc lizaçío de w» self é, rlizer qu,: a vida h.umana adequada
l
subjetivos. Essa teoria do signiâcado linguístico é totaimente "objetivante" no sentido náo seria apenas a concretizaçáo de uma ideia ou de unr plano gue esú frxada/o indepen'
acima; el:-fazuma separaçáo figofosâ entre significado e ser. Ela torna a visáo do mundo denremente do sr.rjeiro que a/o realiza, como ocorre na forma uistotélic:a do seÍ humano.
.A.nres, essa vida cleve ser a dimensáo adicionada que o suieito pode reconirecer como sue
pLópria, como rerldo siclo desdobracla cle dentro clele. Essa dirnensáo autoÍrelative está
, Na". t urn termo técnico, mas estou seguindo aqui lsaiú Berlin etr
Oressáo" é necessariarnente roralmente ausente na trâdiçáo aristotélica. Nessa traCiçáo, uma vida httmana apropria-
"*",
seu ensaio "Herder and the Enlightenment" (in: Earl \flasserman led.,l, Aspe*s of tlte Eighteenth Cenntry.
da é "minha própria" somente no sentido de que eu sou um ser humano, e essa é, por-
Baltimore, 1965), em que ele identiÊca uma das ideias inovadoras de Hercler com o rermo "expressionismo".
Pelso estar afirmando a mesma coisa de forma um pouco diferente, ainda que, para e'ritar conlusáo com o
ranro, e vida adequacla para mim. Foi Flerder e â ântropologia expressivista desenvolvida
movimcnro do século )O(, eu prefira usar o iermo "expressivismo" - un1 teffno também propcisto por Berlin a partir dele que acrescentaiâltl a cletnanda, qlre mâIcou época, de que minha lealizaçáo
(Priuate Comnunication\'. t|.. , cla essência humana'sejaiinírfhe própria leàlizâ.çáo ., .ir-r .on,eq,rência, lançaram a icleia
3é PARTE I I .ÀS DEMANDÂ,§ DÁ RÀZÁO ESPECULATIVÂ ASPIRÀÇÓES DI, UMÀ NOVA ÉPOCÀ ,7

de que cac{a inclivídrlo (e, na aplicação de Her:cleri cada povo) possui o seu próprio modo sujeito, It{ais acliante retornarei à questáo cle por que foi ser:ticla essa forte necessidâcle
de ser humaro, que ele náo pocle rrocâr com o de nenhnm oruro, exccto à cusra cle c{is- cie uma r:eiaçáo corn cssâ coÍrerlte vital universal.

tor'çáo e automtrtilaçáo. A seguncla linha importante no expressivismo é a noçáo de que a realizaçáo da forma
Entretanto, o qr-re Í'oi acrescentado nrais precisamente à noçáo aristotélica da reali- aclara ou torna cleterminado o que é essa forma. Se retomarmos nossa analogia nortea-
zaçáo da forma se nós tambérn â verros como desclot-,ramento do self? Nesse ponto, há dora, o modo como uma açáo ou um gesto pode expressar o que é cara.cterístico cle uma
duas linhas interconectadas clue vale a pena exanrinar um pouco mais cletidlmente. pessoa, conseguiremos ver que há dois aspectos que podem ser uniclos nessa ideia, Ago
Prirneiro, r'ealizar a forma humana implica que uma força interior impóe e si mesma .1ue etrfaço ou digo pode expressar meus sentimentos ou minhas aspiraçóes no sentido
sobre a realidade exterior, takez contra obstáculos cxternos. Por conseguinre, onde a filo- de romá-los claros para outros ou para mim mesmo, Nesse sentido, podemos falar que
sofia alistotélica via o crescimento e o clesenvoh,imer:to do ser humano e a realizaçáo cla rlrna pessoâ expressa a si mesma qr.rando ela finalmente sai de si e, por conseguinte, torna
forrna humana como tendendo para a ordenr e o eqLrilíbrio constanremenle anreaçados cleterminado, talvez pela prirneira vez, o gue sente ou quer, Em outro sentido, podemos
por desorclenr e desarmonia, a visáo expressivista vê esse desenvolvimento mais como a falar clos atos cle uma pessoa como expressáo dos seus sentimentos ou desejos quanclo
rnanifestação de um poder interior,l0 empenhando-se para realizar e mânter sua própria elcs eletuam o que ela quer ou realizam as suas aspiraçóes, Esses dois aspeccos 1>odem ser
forma contta aquelas que o mundo cilcundante possa impor. Por corrseguinte, a realiza- separados: posso dar expressáo verbal aos meus desejos sem agir, posso agir e permanecer

çáo ideal é aquela que náo só se conforma à ideia, rnas tar:ibém é internamente gerada; um enigma para mim rnesmo e para outros; mas muitas vezes eles andam juntos, e fre-
de fato, esses dois reqr-risitos sâo inseparáve.is, no fato de a forma apropriacla de unr ser quentemente es!âr'r1os inclinados adizer de nós rnesmos ou de outros que náo sabíamos
humarro incorporar a noçáo da subjerividade livre. realmente o que sentíamos ou queríamos até o momento de agir. Por conseguinte, a
É cvidente que l(ousseau desempenl-rou urn papel in-rportante no desenvolvimento expressáo mais plena e mais convincente de um sujeito é aquela em que ele tanto realizir
dessa teoria, por ele ter virtualmente reinterpletaclo a oposiçáo tradicional de virtucle e como aclara as suas lspirações.
vício nos termos de urna oposiçíro moderna cle autodependênciaaersu.sheterodepen.{ên- É esse modelo mais pleno de expressáo subjetiva qLle está na base clo que chamei
ciir. Porém, enr seus escritos, ele raramente faz alusíro a uma teolia correspondente do ser :r1ui de teoria expressivista. Conceber a nossa vida como realizadora de uma essência
humano, e rem mesmo o faz de modo consistente. Âos pensaclores alemáes, particular- ou forma significa nâo merarnente a corporificaçáo dessa forma na realiclade, mas
mente a Herder, foi dada a tarelà de desenvolver a antropologia em tol'no de noçáo do tarnbém significa deÂnir c{e um moclo deterrninado o que é essa forma. E isso mostt'a
sujeito autoevolutivo, <le outlo mcclo a importante cliferença entre o n'rodelo expressivista e a tracliçáo aristo-

l.eibniz obviamente tambénr tem importância central; a sua noçáo da mônacla foi télica: para aquele, a ideia que um ser humano realiza náo está totalmente cletcrminada
seminal para a de uru sujeito autoevohrrivo. Porérn, Flerder e os da sua geraçáo, assim cleurtemáo; ela s<1 se torna plenanrente determinâcla ao ser efetuada, Daí provém a
colllo os cla geraçáo subsequente, tambérn sofreraur glancie influência de Espinosa. Isso minha humar:idacle é algo Írnico, náo equivalente à tLta, e essa
icleia herdelianar cle que
pode set surpreenclente pelo Íàto itt Espi,.nrn ter sido o grande filósofo do antissujeito, qualidade Írnica só pocle ser revelacla em nrinha própria vida. "Cada ser humano tem
o filósofo que mais clo que qualquer outro na tradiçáo ocidental parece nos leva. para sua própria meclida, como qr.re uma aÊnaçáo própria de todos os seus sentimentos uns
além e pa.ra fora da subjetividade. Porém, a era que o recepcionou impôs uma certa lei- com os oLrtros".llA ideia náo é merarnente a de que os seres humanos sáo diferentes;
tura a Espinosa. Sua filosofia náo foi vista como negaclora de um entendimento da vida isso cliÊcilmente teria sido novidade; é, antes, que as cliferenças definem a única forma
humana enquanto autoevolutiva; antes, a noçáo espinosiana de um clntttí,ts c{e todas as que cada um de nós ó ir-rstaclo a realizar. Âs diferenças adcluirem inrportância moral,
coisas visando prese rvar a si próprias foi lida à luz clisso. O que Espinosa aparelttemente dc tal modo qr-re, pela primeira vez, pôde-se perguntil se uma dada forma de vida era
foi uma visáo do
ofereceu, razáo pela qual ele fasc.inou Goethe e tenrou tantos olrtros, expressâo a.rtêntica de certos indivícluos ou povos. Essa é a nova dimensáo actescentâ-
modo como o sujeito finito se enquadra dentro cle uma corrente universal de vida. Nesse cla por uma teoria da autorrealizaçáo.
plocesso cle leitura, Espinosa foi empr.rrrado na direçáo de uma espécie de panteísmo Por consegu.inte) a noÇáo de vicla humana cotno expressáo vê isso náo apenas como
da fotça vital r,rniversal. Em outras palavras, ele foi reinterpretado para incorporar a ca- a realizaÇáo de propósitos, mas também como a aclaraçáo desses propósitos. Náo é sisr-
tegoria do autoevolutivo, que passou a ser visto como o ato de uma vida universa-l que plesmente poncretizaçáo de vicla, mas também aclaraçáo de signiÊcado. No percurso de
era maior do que qualquer sujeito, n1ãs qua vida autoevolutiva era muito semelhante ao
tt "Jeclar,Aíensch hat ein eignes À[af?, gicichnnt cine eigne Stintmtntg aller seino rinnlichen Gefihle zu einander"
to
Cf. I(rntíie lForças], de Flerdet. (lbirlem, VIII, i. In: Ilernhard Suphau Hev/ers S,inuntliche\WrLe.Berlim, 1891, vol. X]II, p. 291).
l3 I,AIiTf, 1 ] /iS DEÀ1AND1\S I]A RT.ZÁO F.SPECUI-,!I'I1,"1
Àsl,ui.ir;ÕEs DE Ui\.1Â NovÁ !.PoLt^ J9

viyer adeqtradamente, náo.só efetuo minhahumaniJ".l..


n u, rrurhéor obtcnho clarez.a Prrrénr, no século XVIII. esse entendimcnto dc arte ainda rcria de ser clefiniclo. A
sobre o que é a rninha humanid.ade. Sen,:lo cssa aclaraçíro,
a rnirrha 1i:rma cler.jr.er nrio é visáo de atte reinarrte era posta nos termos clo conceito aristotéiico cla mimese; a arte
merantenre a concretização de rLm propósito, mas tanbém
corporificaçáo ric s.igniÍica_ êr:r. r:nterndida princip:rlrnente corno irnit:rçáo ou representâç:áo pictórica da lealidade. A
do' a exp-ressáo de uma icleia' A teoria da expressáo Íoürpe a rJ.ic:.rornia
i]uqrinisra c.trc ./isá'l cxpres§^ivista cio ser hLunano, cr)r'rro iodas as mudanças profur-rdrs no pensanlento,
signilicado e ser, ao ineno.s no que concerlle ;\ r,ida hun-ranir.
A vicr;r humlna é ranto fàto teve que criaL seus pr<ip-rrics paradigrnas. JJla plecisava de urna teoria da âr'te cofiro arte
quânto exPressáo significativa; e seu scr-exprcssáo náo reside
nrrn;r re)açáo subjeriva. clt: expressiva e cte uma reor.ia. do significado elrr que o significado linguÍstico, cr significado
refer'ência a alguma ourra coisa; ela expressa a itieia
que e]a rcaliza, clos signos. r'ri'Lo esrivesse tigorosarnente seprrado de outras formas de s.igniÍicado, mas,
Isso propicia uma nova interpretaçáo da visão
üaciic.ional i-lo ser hun.raro coino L*1 ãlntes, crn continuidade corn o signi{icado expressivo da arte. Por'ém, ela náo necessitava
anirnal racional, um ser cuja essênc.ia é a consciôncia rlcionir.r.
Essa iclcie pa.sse a ser dcsse novo entenclimento da cxprcssáo linguística e artística merarnente para dispor de
formulada num novo conceiro de consciência cre si. conio
virnos, rrossa vida é r,ista moclelos pala o entendimento da vicla hurnana como expressáo; a qu.estáo náo era sim-
como autoexpressáo::ambém no sentido de aclar:rr o (rlre
so'os. r,ssa acra*q:iro:rg.uarcla plesmente ver a vicla cotrro-sernel]rante a unix oL.La cle arte, embora, inclrbitavelnrette,
reconhecimento por parte de urn sujeito, e o scr humano corlo.sel-côrscio
a.rca.ça o setr csse seja um clos inrportTirrtes legados dessc pcríoclo. Se a vida do ser: hurnano der.c ser
ápice quando reconhece a sua própria vida como rura exprcssir,
acrcquaria. r,cr.daclcira, cxptessítti no seutirio lortc, ou se.ja, tauto coucretiz:LÇáo de propósito como aclaraçíro de
clo que ele potencialmelte é exatamente como um anisra,-,Lr
- .sc,iro. arirrgc sc* ai.vo ,io que uJn ser vivo, apen:rs;
sigr-riIic:rclo, cntáo isso ó assim porqrrc o ser l:,urnano é mais
ao reconhecer sua obra como expressáo plenamente acrequacra
c,o que ere,1,ri, ,hr.r. E, é porilue eie é um ser cnpaz dc atividade expressivir. O que t,:rna o sel humano cirpaz cie
tanro num ca50 quanio no outro, a "mensagem" náo poderia ter
sido colhecida antcs de er,pressáo é a iinguagern e â ârte. Por consegr.rinre, estas náo só prover:m modelos para a
ser exPressâ' Avisáo tradicional recebe uma nova formr"rlaçáo
no exprcssivisrno: o ser hu- vida l-rur-nana como expressáo, ruas sáo tarnbém os meios priviiegiadcs através dos quais
mano chega ao conhecimento de si ff1esmo expressancro *, .,r, .u,rr.,,1,-rência,
aclirrarrdo essa expressáo é reaiizada.
o que ele é e recon.hecendo a si próprio nessa explessáo.
A propr.iciiaJe cspe,cílica cla vicla i{á aqui tanto continuid.ade corn a tracliçáo ocider-rtal qr.ranro uma nodulaçáo racli-
humana é culminar na consciôncia de si rnediante a ex.plessal).
calmente no\.:r que the ftri transr-nitiria. À continuidade reside: no fato que a linelragem
rLe
A antropologia expressivista, assirn, rompe niticramenre corn a rrr.c[er.;r
.bjetivaÇi.ro contintta centr:rl pua o ser humano, colno sr:lrprc fcri d.escle as antigeLs definiçócs clo ser
científica da natureza, pelo menos no que concernc à naturcza
hunrana (gais rlrcre, ve- htLrlano corno "animal r:rcional". -A nove rnoduiaçáo é que a linguagern já r-ráo possrLi a
remos corno ela vai além disso). Ao ver a vicra humana como exprcssão,
a artropologia mesrna importância crucial cono vcículo das Idcias - de far:o, ela derxa de ser isso para
expressivista rejeita a dicotornia de signi6caclo e ser; um:l vez
mris, cl:i utijiz-a l uroecle alguns escritor-cs clesse pcriodo, c,,rrro [-leLdr:r, que. r]e.sse tc,cante, pode ser classificaclo
ari.stotélica das causas Íinais e cios conceiros hoiísticos. Porém,
crn orrtlo lrspecto, ela é com.o norninerlista mas a.ntcs conro cxpressão do rr1.f, Consequentenlente, a linguagern
quintessencialmente nlodettra, pois incorpora a ideia cla subjctivi iacle
-,
aLrtocieÍjnirória. A passâ acorrcl'o risco dc scr sttplanta.ia pclrL rLrte corrio paracligma cLa rtividade hurnana.
realizaçáo de sua essêtic.ia é autctrealização tlo sLrjeito; a.ssim,
eJc 1.áo r1e1i1e ;r si mes'ro O centro de glavidlcle clo honle,r, cstá a 1;orto de dcsir:car-r;e do lógos paraapoícsis.
e'r reiaçáo a uma txciem ideal e-iterna, mas antes em rclaçíro r aJgo que cvr-.lr,c
a pa.tir Ilstas três tlansposiçí>cs intcr'-r'eiacion;rclas - urrui nova tcoria da iinguagem, urn novo
dele próprio, a sua própria realizaçáo, algo que .só se roma cierc'rnin:tclo
nessa realizaçáo. entenclinento de arte e urn novo cntendirn,:nto cte sua centlalidade - podem sel vistas
Esta é urna das ideias-chave subjacentes à revoluçâo do fina.l
do :jctrlo XVIII. i)or.ó'r, é desenvolvendo-se arravós cla obm clc l-Ierclcr, cle outros escr.itores do Sturnt und Drang,
mais do que isso; é unia das ideias fundantes cla civiliza.çáo
qlre cr.esceLl clescle e1táo. ])e e da geraçáo "romârrtici' subseqr.rente, Por consegr.rinte, no irnportarrte trataclo Sobre a
diferentes forn-ras, é urna das principais icl.ées-forces
[icleias-i,:rça] rlue molclaram o mlln- Origetn da Littgr.ragem, pLrblicacio por Herclel cn 7772, venlos um rompirnenlo com tr
clo contemporâneo' \âe a pena examinar mais derida'rente
o quc e1a irnpJica. moclo ilurniuista da teoria soi:lc lingr.ragem, con'ro havia sido deser-rvolvida desde 1{obbes
E evidente que uma teoria desse tipo precisou romper com
as explicirçócs ilurni.is- âté Condillac. Herder desloca radi:almente ,l problema. Ek, cita a explicaçáo que Con-
tas cie linguagem e signiÊcado' Ela necessitava clc uma tcoria
clo significa,]o que,áo se dilia.c oferece para o modo colrlo n linguagem poderia surg;ir entre rluas crianças num
ativesse exclusivamente ao significado linguísrico e náo
resrrinsi.s,;e a signilicatividacle à deserto à rleclicla que el:rs gradr:almente aprcnclessem a associar certosi signos com cerros
mera reiaçáo de referência a ul
sujeito. llarecc csrar claro par.a.r,i., lr.r,l""iru, rlessa rey.- objeto;. Nun'ra passagelr,, que em alguns ponro.s lerr-rbra'lí'it.tgenstein combatenclo uma
luçáo, que â arte nos provê cotlr os paracligrnas necessár'ios,
porqr c re.lnos fàmilíariciaLle teoria náo clissimilar cerc;r <le clo.is sóculos mais tarde, hletder indica ilLre cssaexplicrçáo
com um entendimentt, clos ol;jerçs de ;utc que expressafir
,igu, i,,,u rrccess;,liiarnentc
leÍêrir
se
Ircssup(ie !rrc {-r pâsso rcllnrcrrrc ir:rIortalrte jli 1:oi rl;lclo; r'onlo, pela plirrreirr r',;,.. :rs
a aigo situaclo além cleles próprios,
crisrlçâs tênr r lciela de que dgurrras côisâs poclem representar ontra.s, que pode hz1ver
I

4o PÁR',rE r I As DEMÁNDÁS DA 1lÀ?.i\O ISpECULATr\,'Á l


ASI'IRAÇÓES DE IIMA NOVA ÉPOCA 4r
I

algo como um signo? Em outras palavras, como elas tláo o passo da consciêlcia
animal vie central e indispensável para o entendimento da diversidade humana, Â obra de
para a consciência linguística e, daí, humana? l
Herde'r está, portauto, na origem do grande incremenro dos estuclos Êlológicos que
Herder não dá realrnente uma resposta a essa pergunra, o q*e levou muitos a co-
teve inÍcio nessa época,ra
lnentar qtre o títr,rlo ck: tratado estalia equivrrcac{o. Entretanto, o ponto inrportante é
I Consequentemente, a linguagem é entendida por Herder numa dirnensáo dife-
que I-Ierder transÍblrnou nosso entendimento de iingr-ragem, porque a co'sciên.ia re-
r,:nte daqr,rela dos seus predecessores iluministas. Ela náo é apenas signo referencial,
presentativa de seus predecessores iluministas, o entendimento «le qrre algo represenra
: mas tarnbém expressáo. E, quanto a esse aspecto, ela é contínua com a alte. Resulta
ou se refere a alguma outra coisa, era tida como líquida e certa. Ela surgira naturalmente
daí a visáo de Herder de que a linguagem, em sua origem, é inseparável da poesia e
no jogo de assoc.iaçóes na experiência do sujeito. A insrituiçáo rja 1ir:gr.ragenr, isto é, dos
da carrçáo, (essa visíro nâo se originou com ele, é verdade, mas o Stu,m u.nd l)rang
signos arbitrários, só servira para nos colocar no conrr.ote do Íluxo de associaçáo,
para lhe cleu uma nova modaiidade) e que a mais adequada das linguagens une descriçáo
permitir qrre colocássernos orclem em nossos pensamentos, para quc úvéssemos"empi- l
do nrundo e expressáo do seitimenro, Essa noçáo de linguagem como expressáo de
re sur filtre hnaginatiotz" [poder sobre nossa imaginaçáo], como formulou I

Conclillac.12 sentimento no sentido forte náo rem lugar nas teoÍias iluministas do ser humano e
Nessa visáo, palavras são uma subclasse de signos, tendr: significado simplesmente i
por do significado - embora estivesse começando â apârecer em alguns dos escritos sobre
proporcionarem uma relaçáo de referência com as coisas.
arte, em particular, por exemplo, nas discussóes de DicÍerot sobre o tema do "gênio".
Porérn, para Her,:ler. a existência clessa consciência replesentacional ou linguística
: A. ideia er'â corrente a respeito dc, griro, por exemplo como â "expressáo" natural do
constitui a questáo cenrral. o que faz com que seja possível, para nós, dispor dessa I

sentinento no sentido daquilo que dava vazío ao sentimento, sua descarga natural e
cousciência distinta, focacla, das coisas, enquanto os an.imais permanecem pr.ro, ,ro
que mais tarde poderia sel escolhido como um signo, Porém, a ideia cle expressáo no
fluxo melóclico, como que onír'ico, da experiência? E a li'guagem que rorna irso possí-
senticlo forte, clue também defne o que o sentimento é, surgiria somenre com a nova
vel. A partir d;rí, a linguagen: deve ser experimentada cle um ponto de visra totalmente
teoria do ser humano. A iinguagem clescreve o munclo, mas eia também deve realizar
cliferente. Ela náo é meramente um conjunro de signos que possuem significado em
o ser humano e, por meio disso, aclarar o que ele é.
virtude de se referirem a algo; eia é o veícr,rlo necessário de certa fo.ma de consciência,
É ,'resse aspecto que ela era contínua com a arte, pelo menos corÍl o novo entendi-
que é caracteristicamenre humana, a apreensáo rlistinta das coisas que Herder charna
r:'rento de ârte que foi desenvolvido pela geraçáo do Sturm. und Drang, Âo passo que a
cle "reflexâo" (Besonnenheit). Em otLtros tellnos, as palavras náo apenas
íazem referên- visáo-padráo da época via a arte como precipuamente exercendo uma funçáo imitativa
cia, rnas tambérn sáo sedimentos de uma ativiclacle que vem a ser a folma humana
de ou didáticrL ou prazerosa, isto é, existindo ou para rerarar o mundo ou para melhorar
consciôncia, Assirn sr:ndo, elas nâo só descr.evem um mundo, mas também expressam
: as pessoas ou parâ proporcionar-lhes prazer, os Stiirmer und Drànger desenvolveram
um modo de consciência, no sentido duplo esboçado anteLiormente, isto é, elas o rea-
uma noçác de arte como arte expressiva, ou seja, que expressa os sentimentos profun-
lizarn e deternrinam o seu modo.
dos do artista e que, nesse processo, completa-o, expandindo sua exisrência; Goethe
Essa é uma das gra,cles ideias itminais cte Hercler. send.o o ser humano
urn enre a i
rrsa o termo "purificaçáo" (Lliuterung), Como dá a entender esse teÍrno usado por
ser entencliclo sob a cttegoria da expressáo, senclo sua característica uma
certa formd Goethe, a expressão náo implica apenas clar vazáo a sentimentos, mas também uma
de consciência, qual se.ia, a BesonnehheiÍ, e sendo esta realizada unicamente na fala,
I transformaçáo destes numa forma mais elevada. Pela mesma razão, essa expressáo do
entáo o pensamento, a reflexáo, a ati'idade distintivamente humana sáo algo
^áo sentimento náo é sLrt:jetiva no senrido restritivo, náo tendo pretensáo de verclade.
que possâ ser efetuado num elemento incr:rpóreo. Ela só pode existir enr um meio.
1

Pelo contrário, a arte suprema é assim porque está ern conformidade com a Nâtureza,
Âlinguagem é essencial ao pensamento.13 E se o pensamento ou a atividacle carac-
porén-r, náo no senticlo de uma imitaçáo, mas, anres, como a expressâo mais elevacla e
teristicamente humana só poclem existir.no meio cra ringuagem, entáo cada
uma das I
I mais plena cle suas potencialidacles.
clifere.tes linguagens naturais expressâ o moclo sir-rgular-menre característico em I
que Pelo fato de a arre ter sido vista como expressiva nesse novo sentido, o artista foi visto
um povo realiza a essência humana. r\ linguagem de um povo é o espeilro pr-ivile-
corno lun ,:riador, e Llln novo impulso foi dado ao tema do gênio, próprio do século
giado ou a expressáo privilegiada cle suir. hurnanidacre. o estudo cla ling,agern é
i

a X\41J, urn ;rocler para o quai nenhuma fónnula poclia ser.dada de anrernáo, mas clue só
I pocleria seÍ revelado em seu desc{obramento.
'' Sw for@r* rtg
t: 11g1der
Cotmnisnnces lútmaine\ pafter, ,*l 2,, mpído
§ 46.i[ I
I

nem §empre notou as implicaçóes dessa ideia, mas elas dveram importância central para Hegel,
como veremos mais adianre. I 'r Herder também deu origem ao grande inrercsse pela cançáo popular e pela cultura popular que teve início
I
Í nesse período.
llr:
4a I,ARTE I I r1.S DEMANDÂS Dr\ RÀZÁO ESPI:tCUt..lTrVA ÀsPIR.\qtoDS DD uN{,\ NOVÂ ÉpocÀ
il, r 4)

l'
Corno a expr.essáo mais autêntica do scr hunrano, aos olhos d,os Sltúrnter í
r,ntd Dr,.iit- racionalidacle, conhecirnenro cor-rrL:r. vonracte. O ser humano náo é urn anírnal suple-
ger, a aÍrc foi tam-bérn a principal maneira de as pessoas recupelarenl [:
a icleia cle corru, l
jir',
trtcntrdo com utna razi'io. mas rula Íi.lrma indivisível totalmente n,cva.16 Sentirncntos
n'iclade com outras Pessoas e a comunhãr: corri i1 natlrrcza. Volr:arei
a is-so rnais aciiante. ,1, sã,o, por conseguinte, rnoclos de corrsciênci;,1, o conteirdo do scu pr,nsamento é inter-
Conscclueutemente, a década de I'770 na Alenranha vislurnbr.orr uml nova f
lilosotia I no a eles, e eles pc,dem scl qr-ralitativarnent,: diÍàrenciados pelos pensamentos ou pela
da linguage,r e ulra nova teoria da arte que lazia parte da teolia l,rr'
clo ser humauo recérl- [; cotr.sciência clue cor:porilicam. (Jma irierarquier do sentimento esrá, em consequôircia,
-desenvolvida' Como resultado disso, à artc foi dado ctesempenirar urn i'.
palrel celtrai ,a ll inseparaveltnente vincuiada com a hierarquia da consciência de si e c()m urna hierarcpia
realizaçio da natureza humana, na concrerizaçáo do ser lr.-,rrrrro. É t,
n por,, ciessa época das disposiçóes da v,:ntaclc, porquc o "impulsoi estín'rLrlo (l?c,z) é a for;a moiorâ d:r nossa
que â arte comecou a assumir r.uaa firnçáo análog:r à rla leligiáo e, eln cert:L
rnerlicla, a
t existência e cleve permanccer senclo isso aré cnl nosso conltecinrento mais nobre". Con-
i;,
tomal o lugar desta. irla rnedida ellt que essa funçíLo qurs. .eiigiosa cla arte
cr-rnst.itui 1,r í',
t.'
.§equenternente, "o amc,l' ó a fonn:r rnais notrrc de conhecinrento, as:rirn corno é o mais
atributo fur-rdamentai da civilizaçáo conternpor"ânea,
a cléca<la t1e l77O pode ser co.rsiclc- t
I
rroblc .ios sentimcntos".r' ^
rada um divisor de águas no clesenvolvimento do munrlo moderno. 1l

i Iror conseguinte, Lun colnponcnte cssenciirl da suprem:i realizaçáo do ser humano


A irnportância centra.l da arte está vinculada com rlrrla inrensiÍic:rçáo clo papel do J,.
é urna certir clualiclade do sentilnento, unr scntirncnicr ci.o 1eLf qv.e é tarnbém uma
senr.imenro. Â realizaçáo do ser hu,ranoJ cofi1o virncs, implicou ii,
uma cxpressáo. ir, ' isáo clo srfi sentimenrn/visâo r.1uc é expresso/:r ern nossas ativida.les rn.ris elcvadas,
sentido de uma aclaraçáo, daquilo que ele é; e é por: isso clue e. concretizâçío 'o
s..prer,a
t,
a linguagem e a arte. O grau n-rais pleno de realizaçáo do ser hurrLano náo é apenas
t
se dá na atividade expressiva. Em stLa fonna .suprema, essâ expressáo
cleve ser. reconh.e- I cluenclo se realiza corno vida, mas também como uln ser capaz cle arivida.de expressiva
cidr por ele e ser um modo de consciência de si, como vimos anreriorrnenre, já
que o
i c, por isso, capaz cle atingir autoclareza e liberdad.. É is,, que Herder expressa com
suPtemo grar-r da subjetividade é a consciêtri;ia de si. Porérn, a vitla cle II
um sujeito tan- stra noção cte "reflexáo" (llesonnenheit:) col.rro :r propriedade cruciai do rer humano.
bém é uma vida de sentimento, sua autorreaiiza.ção ou a Í:rlta clela nío é unra
quesriro I Ncssa deÍinição cla concrctizaçáo hurlana, ycnlos) urna vcz .mais, a filiaçáo à rradiçáo
de indiferença, mas é experimentada corn arcgria ou clor. E o se.rir-nent. ti
irqui men- i clássicii e, niro obstante e aincla assim, a nrptura ern relai;áo a ela. O ser hum:rno é
cionado náo é simplesntente urn estado mental passivo, mas tarnbónr uma
um arrjmal racional: a. "Í{umanitàt" é cleÍinid:i por Fler<ler comc, "razáo e justiçi'
lr
rlispo.sir;:icr
da vontade. Consequeutemente, essa consciência de si náo é meranrcrirc I
rrnra visáo do i l\hrnr.tnft und llilligheit).18 Polém, racionalidade náo é um princípio de confonnida-
sel'/ mas tambérn um autossentinlenro e, corno tal, está igrralmsnte prcnhe cla t
aspira- i' cle cotr a orclem có.srnica. Eia é, antes, autoclareza, l)cso;nnenheit. Alcançancir: isso,
çáo de permanecer: oLr cle vir a ser ela mesma, e ela é isso tudo cic n:oclo ilscparárt.l. N tornamo-nos aquilo que ternos clerrtro cte nós pala ser, eÍpressarnos nosso scf pleno
t:
Por conseguilte, a atividade expressiva suprefiiâ é o r.eículo ranto cla vjsiro i
cono <-19 I e, eln conseqlrência, sornos iivres.
sentimento juntos, e é por isso que a l.inguagcr-n é conrínlra com a iu.rc, 1áo I
.sil cn srras l I)est:r f'orma, essencial pafa a nossa conc]:ctizaçáo é o sentimento/a visão que ternos
origens, lnas efi1 suas funçóes mais elevadas. :t:

clc nós ntesmos quando estamos nl plctritu<le, corno scl.:s naturais r: espirituais, como
Aqui, sentimento náo é o quç foi pa.a a cor.renre prir-rcipal clo Ilur.inismo, a saber, 1

sujeitos que têrn desejos natr-rrai.s e a urais clevada aspiraçáo à aut,>clareza, iiberdade
t.
um estado afetivo passivo, ligado apenas de rnoclo corLingcnrc cor, u quc ?

o provocil, e lorma expressiva, e tr.Lcio isso enr unidacle hrurnoniosa. É por isso que a arte, colrlo
de um lado, e com a açáo que o motiva, de or_rtr.o. Anrcs, temos .,r,.,n i
,roçiru cle sen- I veiculo rncdiante o tpal csse sentimento/essa visáo yerlr a ser, é ca,paz de er.pandir nossa
timento no se'tido pieno, como inseparável clo pensamcnto, exataslenre c16 rlesmo t
I
existência c nos depurar.
modo como o Pensarllento, se estiver vercladeiramente engajaclo na rea.liclacie, ii
é rr-r- ll Para cotlpor o pxno de funclo dos problemas cla década cle 7790, olhemos para algr.r-
separável do sentimento. Por consegu.inte, Hercler cliz: "Todas r
lpaixóes e se.saç:óes] tnas das aspiraçóes que al1r"Líran'r dessa nov;r teori?r do ser humano. A aritropologia expres-
podem e devern sel operativas, precisamente no conhecimearro rupaar-.,o, r.)orque i
esre I
sivista foi u[1a resposta à tnragem nrecanicistr, "rtolnística, utilitari.st;r. da vida irLrmana,
brota rie todas elas e só pode'iver nelas".r5 Somelre a vá especul:rçiro pocle I
esrar I
5e ptrdermos perlsâr qLre a antropologia ilr-unioista endo.ssa a si mesrr.a por seu senso de
desacompanhada do sentimento. Sotncnte 'incrrtirosos ou eneLyad,.rs" (Lii.gncr i
,tt/at. liberclacle, ;rté rle regozij<-r, rle atrtocleíiniçiLo, ;. reaçiro a e1a. experimcnt,)r[ essa imagcm clo
Enhrcrute) conseguem se satisfazer corir isso. I
set liumano corno iiricla, n"iortâ, côl1ro clcstrr-ridora da vida. I?orque o senso clc liberclacle
I
selmos seres erpressivos, a nossa vida é runa unicra,.le, n:io por-r.e1clo ser-
.Por altiíi- I
cialmente dividida ern níveis distintos; vicla conrra pensarnenro, sensibiliclacle 1.

co.tr,r I

i 'u Llbcr den Utsprung dtr Sprtr,ár, Suphan, vol. 23-29.


|7\àtuEr/enmcn.unrlLnpfndniyrMctncllLilhen5'ra/r,S1p}1n1,,\4Ii,p.i99.200.
t\ Von Erhcnnen und
DnpJÇrden der Matschiichtn Jrrlr, Supliau, MIi, p. 199.
i
j§lbi,jern,X[1:.3(Srrplnn,XIV;p,230), | .: "," , '.,,,,]'1 I r ..: I

i
I

I
44 PARTE I I irS DEtvt^NDÁS DA Rr\Z_ÁO ESPECULATIVA
DF. UMA NovA Époc^ 4t
^sPrRÂÇóEs

como unr sujeito autodefinitório, qlle r.âcioci,a, fui obtido meclianse rr


objeti'açáo cla \4:ltemos nosso olhar para a aspiraçáo que se originor"r dessa visáo, Enr primeiro
natureza, e até mesrno da ,oss:r pr'ópria narufeza,
na rneclicla em que ,o,no, orr1a,,,, prro lugar, l-ravia uma demanda veemen.te por unidacle e inteireza, A visáo expressivista cen-
nós mesmos. Ele foi obtido à custa cre uma
fiss,ra e'tre o sujeito clue corhece e quer e a surou acerbamente os pensadores iluministas por terem dissecado o ser humano e, em
realidacle dada: as coisa.s como elas sáo na narurez.a.
E esse reino das coisas cracras inclui consequêr-rcia disso, distorcido a verdadeila imagem da vida humana em natureza hu-
náo só coisas exter,,as contidas no nrrurclo,
rnas també'r aquiro que está dado no sujeito, rnana objetivante; eles separaram alma e corpo, razáo e sentimento, razáo e imaginaçáo,
seus desejo.s, sentirrentos, propensóes e afi r-ricÍacles,
pensamento e seutictos, clesejo e calculaçáo, e assim por diante, Toclas essas dicotomias
O l.lurnjnismo clesenvolve u uma concepçíro cÍe naturerzn,
incluírrclo * nâtureza huma- clistorceram a vercladeira tlatu.reza do ser hr.rmano, que deveÍia seÍ vista, antes, como uma
nà, collo urr conjunro clefatos objetivados,
conr o qr.ral o sujeíto deve Iiclar para adqui_ correrlte Írnica de vida, ou como base no modelo da obra de arre, na qual nenhr-rma parte
rir conhecitnento e atuar. É claro que a natureza como
uma tora-lidacle harmoniosa cujas pode ser deÊnida abstraindo-se as demais. Essas distinçóes, por conseguinte, foram visras
partes esráo perfeitamente entrosadas também represenrou
um *oclelo ou o projeto para como abstraçóes da realidacle,4orém, elas eram mais do que isso, a saber, eram mutila-
0 set human., âssinr coÍno ofereceu r
parâ a sua concretizaçáo, porém, çóes c1c, ser humano. Essas visóes falsas etam mais do que lneramente erros intelectuais.
'ratéria-jrima
cotttinuava presente a Íissura entre a natureza, seja co,ro prano, seja aorao inrtru-.rrto, Pelo Fato de o ser humano ser um ente autoexpressivr: e reaiizar'-se em parte através cla
e a vontade que atuavÀ sobre esse plano.
Êorma clefinitiva que confere a seus sentimentos e suâs aspilaçóes em expressóes cle arte
Foi essa fissu'a que os pais da teoria expressivisra
rotnânticos - náo conseguiam tolerar. Eies experimentaram
- Rousseau, Hercrer, mais tarde os uma falsa visáo desse tipo constitui um obstáculo à concretizaçáo humana.
e iingr-ragem,
essâ visâo das coisas como l Urn ser humano que vê seus senrimentos corno uma categoria difrrente do pensamento,
uma retzrlhaçáo cla unidade da vida, na qual a naruÍeza
deveria ser ao mesmo tempo ins- I
como Íàtos a seu respeito a serem explicados em termos nrecanicistas, náo consegue
piração e força motivadora de pe,samento e vontacle.
Náo era suficiente que a narlrreza elevar-se a uma expressáo transformacla cleles, Consecluentemente) esse erro intelectual
prôvesse o projeto para a vonrade; a voz da
narureza cleve falar por meio cà vontacle.,, cleve ser cornbatido com paixíro rnoral, conro ctescolrrirnos Helder: combatenclo as válias
. Por conseguinte, o que_ é experimentado, por ce*a visáo cro sujeito, como afi.naçáo
do self é sentido como exílio ou clivagem interna
teorias da psicologia das faculdades.
pela outra visáo. o mundo objetiva- Além dos ataques por conta das clicotomias do ser humano, vemos a corrente princi-
do é, por um laclo, a prova cla posse d1 si mesmo
ielo sujeito, mas, por ourro lado, é a pnl do Iluminismo às vezes sendo acusada de outra espécie cle abstraçáo, por introcluzir
negaçáo da vida do sujeito, de sua comunháo
com a nâtureza. d. ruo autoexpressão no um rnundo falso de representaçáo que corta a llgaçáo do ser humano com as fontes leais
seu próprio ser natural.
e vivas. Esse é um dos ternas predominantes ern Rousseau e, usualmente, evidencia a sua
Essa experiê,cia ,:le um muncro objetiva<io
co*ro exílio exprica por que.a reaçáo ex- inflr,rência. Podemos ver como ele flui da mesma ordem de ideias, A autoexpressáo do ser
pressivista foi ern parte vista,_e em parte viu a si própria, cor-.o nostalgia
de um tempo humano é distorcida, sua vicla náo é expressão dele, mas, anres, um subsrituto ilusório cle
mais antigo' quando o mundo foi entendido .oÀo
,,- texro, quando a narureza era o seus reais st:ntimentos e aspiraçóes.
lours do significado. Porém, comd{fle'e ter
ficado claro * prrti, da discussáo anterior., Nesre ponto, podemos ver um irnpulso poderoso da teoria expressivista que tem
náo houve reaLnente a aspi,açâo pol' rm rerorno
ao passacro. pero fato de a visáo ex.- importância primordial para o entendimento da obra de Hegel: ele é fortemente anticlu-
pressivista ter sustentado e até acentuaclo
a icleia c{a sr-rbjetividade, a comu'háo com o I

alista, enrpenhando-se por superar a clicotornia "corpo-alma", ou a clicoromia "espÍrito-


mr'rndo circunclante era aesejada, náo na forma I

cia conternpraçâo de uma ordem cós- -natureza", que consritui o legado de Descartes. Ele se volta rnais para as categorias de
mica de ideias, mas, anres, como cornunrráo apropriacra I

a ,,rb]euvidades, como aind.a vicla que tlanspóem essa divisáo, inspirando-se em Aristóteles do modo como vimos
veremos mais adiante.
anteriormente. Â rejeiçáo de qualquer realidade espiritual desencarnada é, como ainda
\reremôs, urn dos princípios básicos da filosofia cle Hegel.
re
obviamente' a visáo ilumi.ista da natureza co'ro moclelo Enl segundo lugar, a teoria expressivista faz cia liberdade um valor - se náo o va-
pirra a ação humana provê uma das transiçôes
para a noçáo expressivist. da voz da narureza. Ior central - da vicia humana. A liberdade rorna-se um valor importante corn a noçáo
Tanto é que algumas das passagms exaltando a narureza,
de autoria de pensadores jluministas ráo radicais
quanto Holb"ach, parecem situar-se na fronreira com os
moclerna de subjetividade atttodefinitória, como vimos. Porérn, a teoria da expressáo
sentimentos expressivistas. Porém, aqueres tanto alteqa a noçáo de liberdade como lhe confere urna importância muito maior'. Ela
que chamei de pais do cxpressivismo
que consruíram sobre o fundamento destes foram - Rousseau, Herder e os
- os q.r" .lesenvol'eram uma teoria do ser
hurnano enr
altera a noçáo no sentido de que a visáo-padtáo do Iluminisrno sobre iiberdade foi a da
consonância com essa da voz da natureza. É claro qu" o pano de r'ndo também
'oção foi p"..ir1rrnte indeper-rclência do sujeito autoclefirritório ern relaçáo ao contlole externo, principalmen-
proporcionado por Shaftesbury e pelos reóricos
clo senrimenro moral.
te o <1o Estaclo e cla autoridade religiosa. Â nova liberdacle é vista como consistindo cle
46 ],AI{TE I I AS DEÀ4AIVDAS DA I{AZÁ(-,) [SPECLIL}.I'JVI\ i,
Lllt UMA NO\/Â ÉpocA 47
^stIti,\ÇÓE.s
autoexpressáo autê,ricâ. Ela sofre ameaça náo só
de i.vasáo exrerna) mas de todas as
distorçóes que ameaiam a exprcssáo. Ela pode farhar
utdVbrurzber der Scht;pfi.rng,\, é chamado a isro: "Que ele se rorne o órgáo sensitivo do
devido a uma má-formaçâo que,
seu Deus em todas as coisas vivas cla criaçáo, à medida que lhe sejam assemelhacias".2r
em ú.lrirna análise , é de origem exrerna, mas pocle yir
a arrcor.ar-s e no .self Rou.s5sxu 11s5
Àssirn, uma das aspiraçóes centrais cla visáo expressivista, foi a de que o ser hurnano
apresentâ uma teoria desse tipo. I
:
se unisse em comr.rnlráo com a r]atlrrezar que seu aurossentimento (Se,ibstgefi.ibl) sc urisse
A liberdade assume in:portância central porque é si'rôni'ro de autorrearizaçâo,
que I corn utrra simpatia @fl.tge/i;hl) pela em sr.ra total-idade e pela natureza como vivente.
é o objeti'ro básico dos seres humanos. Era pocre
,., ,1,.n* *rn dos "itla
e ,áo . varor Podemos vel corno o universo objetivado, que pennitia apenas relaçiies mecânicas clen-
cenrral nesse sentido, pois a liberdade é apenas u,.,., 'aior.es
,rodos com que podernos carar
,ros
tro de si próprio e con'r o sujeito, foi experimerrtaclo como n:rorto, co.mo lugar de exílio,
terizar esse objetivo: rarnbérn podemos farar crele como
un.iciacle, .orr.r.tir"çáo máxinra,
como r:egaçáo daquela simpatia universal qu.e prevalecia enrre as criacuras.
harmonia e assim por diante. Nem todo autor Iàrá cia liberdade
a d"s..içáo do objccivo Thmbém pociemos \/er como essa demanda pôde ser confundida <;om a do retorno à
privilegiada por ele, mas ela sempre é uma descriçáo disponível. i
ideia pré-moderna de um mundo-texto, mes co.rno essa equivalêncie. náo se sustentava
Em terceiro lugar, a teoria da expressáo abra,gia uma inspiraçáo
para a uniáo com l reairnente. As duas visóes se opunham à visáo rnoderna de um universo objetivado que
a natureza, da qual se dizia que o Iluminismo a havia i
posro em perigo. virnos acirna está privado cle significação para o ser humano. Porérn, num dos casos, o nrund.o é visto
de que maneira urna natureza objerivada foi experimenrada
como exíiio. E., de fato, as como corporificanclo um conjunto de signiÍicados ideais, sendo a n()ssa via de contato
exigências da vida concebida como expressáo, qrre náo
podia tolerar a dicotomÍa enrre :
com ele a contempiaçáo clas ideias; no oLltto caso, a narureza é vista corno a grande
colpo e a1ma, entre pensamento e senrimento, rampouco pocliam
cleter-se nos ]irnites t. corrente davida de que fazemos parte, sendo a nossa via de,:ontato com eia, por conse-
do corpo. se náo estor"r sat.isfeito colr uma imagem cle rnim 1.

mesrno como u.rrra rnerte guinte, a inserçáo "simpática" rlessa corrente. O que se busca é o inter,:âmbio com a vida
em confronto com a natureza interna e a natureza extcma,
ntas clero conccbcr a rnir:t I
mais ampla, náo uma visáo racional de ordern.
l
nresmo como vida na qual a narureza fala por meio do pensamento
e cia vontade, e se, l.
l I'odemos ver isso se olharmos para a nrais impo:tante das formas de nostaigia pelo
por isso, eu, corno um sujeito, só sou a-[go junto com o meu
corpc, entáo tenho cle lev:rr pré-moderno naquele período, a sabeq a adrniraçáo pela, e até o culto à, Grécia clássi-
em consideraçáo o fato de que meu corpo se encontra em intercâmbio
com a rarureza ca. Esse foi um dos temas mais fortes e proÍundarn.ente sentidos nas cart2ls alemás das
extelna rnais ampla. A natureza. náo torrra conhecimento de
nenhuma fronteira Íixada úirimas rrês décadas do século XViII. Os estudos de \Tinckelmann provocarâm uma
.ros limites do corpo e, em consequência, eu, como
um sujeito, devo estar ern intercâm- respí)stâ profunda e duradour:a. Podemos lançar alguma luz. sobre isso se exarninarmos
bio com essa narureza mais ampla. l

esse tefila no conlexto da teoria da expressáo do ser humano. Corn eÍ'eito, os gregos an-
Ivlas, entáo, se a minha vida deve estar plenarnente rcfletida
era min6a ativiclade ex- tigos tepreser:rtarafil pâtâ âs pessoâs dessa era. ltm nroclo cle vicla em qLle o mais elevaclo
pressiva, se o sentimento/a visáo de mirn mesmo que ela expressa I

.1.,,. ,*, aclecluado/a t, no ser ltunrano, sr.La aspiraçáo por fortna, e;:pressáo e clareza, estava em confon-niciacle
à minlra existência real, enráo esse sentimenro náo poire
p.rr, ,ro rimite ç[o meu scrf, i
com sua natuteza e com tudo na natureza. Foi urna ela cle unidarle e harmonia no
ele cleve esrar aberto para a cor{€nre rnais ampra de vida
que ÍL:i atra.,,és dele, É essa interior do ser humano, na qual pensamento e sentimento, moralidz,cle e sensibiiidacle
corrente mais ampla, e náo apeni.s a vida do *reu próprio
corpo, que de'e ser unicla eram uma coisa só, na qr.Lal a forma que o ser humano estampava cm sua vida, fosse
com a aspiraçáo mais elevada de liberclacle e expressáo, caso se queira ter unidacle,cr rnoral, política ou espiritual, fluía de seu próprio .scr naturai, e náo era imposta a ela
self Por conseguinte, nosso aurossentimento deve ser contínuo
com nosso sentimento :
pela força de voutacle bruta. E obviamente, nesse era, a grande corrente cla vida na
por essa corrente mais larga de vida que flui através de nós e da qual
somos parre; essa natureza náo era estranha ao espírito hurnano; pelo conrrário, ela era habitada por
corrente deve nos nut:rir nâo só fisicarnente, mas rarnbérn i
Á.ssin:, deuses cte aparência humana, corrr os quais o ser humano esrava em coúunháo e qr,re
ela deve ser mais do que um intercârnbio ".pi.i,u.rl-.nre. l

úril de marér'ia. Ela deve ser experirnenrarla I


extraíanr dele seus fe.iros mais elevaclos.
como çomunhã0, I

Por conseguinte, o que mútos Sti)t'mer u,ad Dnlnger viram nos gregos lbi náo tanto
Por conseguinte, Herder diz: "yeja â nâturez-a toc{a, contenrpra I

a granc{e anarogia da 1.
uma âutônticil consciência pré-moclerna, o ser hunrano clefrniCo ern relaçíro a unra olclem
.,
ct'iaçáo,'l'r.rclo sente a si mesmo e ao seu scrnelhanre,
vida repercute uiãd,,ro O ser huma- I que () transcelldia e que, cle rriuitas Íàrrnas, eIà incomerrsurável pala ele, mas, ehtes, o que
no, como a imagem de De.rs, corno "epítome e aclminisrraclor i
cla criaçâo,' (ein Áuszu8 eles ansiaram para si rnesmos, ou seja, unidade com o self e comunhão cofir â neturezâ.
i

20
" siehe die ganze Natut betrachte dic i
gt'o!íe Analogie fur scbiipfirng. Atks_fiihb siclt und wines
wallet zu Leben" (Vom Erhennbn utzd Empfiden dz, Mrrrrhiirhrn
Gleichen, Leben
''"dalí cr Sensoium rcines Gottes in aliem'Lebenden tb Schiffittg, nach ikm:Mafi? és'ihm uerwandi ist,
VIII, p. 200).
Seelr, Suphan, vol.
werdd' (ibid,em).
48 P^RTE I | Ás DEtvtANDr\§ DÂ R^ZÁO
ESPECULATM
ASPTR.á^ÇÓES DE UMÀ NOVA ÉPOCrr 49

E esta era *ma cornLrnhão cro senrimellro.


Irftl poerna os Deusas da Grécia,
deschiler, um
dos enunciados mais bem conhecidos.J.rrr;":;ddd.r.,r.,r., Qual seria o fundamento ontológico para essâ icleia cle comunháo? No poema acima,
lemos o segLrinre:
Schiller parece dar a entencler que nâo há nenhum, que o mundo de Deus na natuÍeza
Da der Dichtung zauberische lliille foi, rnuito antes, Lrma criaçáo da poesia (Dichnrzp. Schiller cle faro estava mtrito divi-
Sich noch liebliJ ,#n dir clic{o em suâ postura em relaçáo à teoria da expressáo,'como ainda veremos. Porém, em
lTahr.heit **1,
Durch dte SchApfungflof cla Lebensfith,
outro poemx famoso, na Ode à Álegria, que Beethoven usou para compor o final cle
sua sinfonia coral, ele fala da Alegria como o grande caudal unificador da vida que flui
.Und *as nie empfnden wird, ,*pynnd,
An der Licbe Buyn rie zu driichnt, arravés de todas as coisas.
Gab man hdhern Adel tler Nanrr, Entre aclueles que se nroveram mais plenamente na ór'b.ita de uma teoria da expressiro,
Álbr uícs den. ehtgeweihten Blichen, o fundamento foi visto cle maneiras variadas. Ern Herder, por exemplo, ele náo parece
Állet cinu Gottet Spar ter passado clc uma noçáo cle sjmpatia universal, uma ideia que )á era corÍeote antes do
,
,\nlm und Drung por exemplo, em Shaftesbury. Porém, ôuttos avançaram mais na dire-
[Ainda o manto n:ágico da poesia flui através da natureza, baseados num Espinosa
ção de uma noçáo clevida universal que
Suavemente a verdacle envolr,,ia, tido alguma visáo desse tipo. Mais
trânsposto para categorias vitais. Goethe parece ter
plenitr"rde
àe vida ainda fluia na criaçao, adiante, tomâremos conhecimento cle uma assunçáo ontológica de alcance maior que
Sentiu o que jar:rais sentirá novamente, clor:ou essa vida universal de subjetividade; a soluçáo cle Hegel será urna variante dela.
A1:errando-a z
Nesse caso, deparamo-nos uma vez mais com uma teoria que é reminiscência da
a,ri b uía.se, ;ffijl :Tj-llll'il jjiil, visáo pré-moderna do munclo como texto, na qual cliferentes aspectos cla natureza sáo
Tudo aos olhos dos iniciedos era
indicio, vistos como corporificação cle diferentes ideias. Por conseguinte, as filosofias da natureza
Tudo era vestígio de algunr De us.] de Schelling e Hegel parecem constituir retornos ao passado. Porém, o ponto crucial é

que leituras clo significado na natureza sáo baseadas na noçáo do sujeito cósmico; e
essâs
Porém' essa comun'áo agora está
irrecr,rperavelmente
" destr*ícla, à rnedida que o ser os próprios significados sáo derivados de uma noçáo de subjetividacle desenvolvida por
humano se depara corn urna-,,natureza
senl b.;r,;, esses autor3s. ).íesse tocante, eles náo se afastam um centímetro secluer do princípio da
subjetividacle moderna.22
Unbeturl?t der Freuden die sie
scltcnhet, Em quarto lugar, o gue foi dito da comunháo com a natureza aplica-se com a
Me entzücht uon ihrer Herrlichheit,
mesma intensidacle à cornunháo com outras pessoas. Nesse ponto, a visáo expressi-
Nie gewahr des Gehtes, der sie lenhet,
vista responde consternacla e horrorizacla à visáo iluminista de sociedacle composta cle
Selger nie durch nteine
Sligheit, sujeitos atomizados, moralmente autossuficientes, que estabelecem relaçóes externas
Fiihllos selbstfit ihrcs Künstlers
Ehre,
uns com os oLtrros, buscando \rantagens para si ou a defesa dos direitos do indivíduo.
Gleich dem toten Schlag det, pentl.elrtht;
Dient sie hnethtisch deyt Gesetz tler Os expressivitas buscam um vínculo mais profundo de unidade senticlâ que unirá
,gchuere,
Die entgôtterte Natur sirnpatia inter-humana com o seu mais elevado autossentimento, no qual os interesses
humanos supremos sáo compartilhados e tecidos nurna vida cornunitária, mais do que

{Inscienre das alegrias que pr.oporciona,


mantidos como reserva de inclivíduos,
Jamais fascinada pela sua glória,
22
Jamais conscienre do espírito que a concluz, Pode-se pensâr que o caso de Hamann náo se enquadra nesse retrâto da época, que, ao falar dá natureza

Mais venturosa nunce pôr minha como linguagen de D-e-úíele esraria se referindo a uma visão pré-modema do mundo como corporificaçáo
ventura,
de Ideias. Porém, abstraindo-se o f3to de Hamann nem de longe ser típico do movimento que ele ajudou
Insensível até para a honraria
de seu artista, a inspirar, por permanecer, em grande medida, um cristáo ortodoxo, ele nada tem â ver com as tendências
Igual ao [oque sem vida do relógio
cie pênclulo, panteístas-e(pinosistas evidentes em Herder e, obviamente, muito rnais etn náo cristáos confessos como
Prcsra-se ela servil à lei da gravidacle,
Goethe; sua linguagem de Deus na narureza é rudo menos uma ordem de ideias corporificada, sendo, antes,
A natureza desencantada.] a fala viva de Deus dirigida ao ser humanol ela náo é kng*e, mas parole de Deus; nesse tocante, ela se situe
ao lado da Biblia.
I
ÉPOCÀ
ASPIRÂÇÓ85 t'E UMA NOVA
PÀRTE I I AS DEMAND,\S DÂ N.ÀZÁO ESPECULÂTIV,\ i.
l

Nesse ponto, igualmente, a pólis grega parece rer proporciona,cio o ptradigma qr-re o !
i
osdilêrentesàsPectosclavitla,rlottabaltroeclolazer,doamc,redapolitica,e,pelornes.
ser hurnano moderno perdeu, para o seLr pesar. lvluitos alemáes nesse periodo -- entre a barrei-
Ifloato,asbarreirasentleclassesiessadécloisonnentent|áessetorializaçáo]éefetuadapor.
é liberad'a' de rnodo que
uma torrente de energia
criativa' que ao mesmo ternpo
eles, i-Iegel - viram a Pólis antíEà como o suprassunro da concluista humana ainda náo
igualado. Eles o viram numa sociedacte cuja v.icla pírblica era o locu,s cle tudo que era I raúlrinraa.serslrperadaéaqueestáPosteentreaarteeavida'ÉevidenteqlleâconceP-
I
ã",rw**r;;,. ão t,'*'no
d"'i*t''"": :::,:il THffi Tl:ffi
da maior importância para os seus cidadáos. Desse modo, estes náo apenas possuíam a "' consciência exPlesstvlsl il:1.::: ",
utrtu lvirrudel de À4ontesquieu em seu mais algo grau, est..rndr', pronros a clar tudo por Pintarnos Lrrn retrato da tlt um nrundo obietivado'
se encontra di"ttt
da situaçáo cie aperto elll qrlc o stLiciro
sua cidade, mas também colaboravam na conformaçáo de sua vida e viam a si próprios como uma exPressáo de
o abismo t"t"Iu;t"o c ob'ieto' de,veL obietividade
exPressos nelâ. A identiÊcaçáo com a cidade e a expressáo na cir{acle eram dois laclos da cle srrperal de unir-se com
:
bio .l*. porém, esse desejo in'rperic'so
subjetividade u., a. inr.rian "on, o dilema que sut8e
mesma moeda. Assim, ?tilis alÍiga associava a rnais plena liberdade à vicla contunirária
a
-,.tr,i^", d.o sujeito? Essa é a quesráo ou
mais profunda, e constituía, por conseguinte, urn ideal expressivisra. o rnundo náo ameaça " ve'ifica' corno' nessa época' a
Essas quatro demandas, a saber, por unidade, por liberdad.e e lrol comunháo com o inescapavelmentt' a""'
itttt"'^t tt*tí-r"/o' d'evemos
oposiçáo à natureza'
noçíto cle subletivitiade
igi'"t".ltn" foi clesenvolvida em
ser humano e com a Ílatuteza, refletem as a.spiraçóes cla consciência express.ivista. Es.sas
demandas, e as queixas contra a sociedade moderna associadas a elas, forarn visras como
inextricavelmente in:erconectadas, e náo só nos moclos qtre foranr investigados aqui, .l

mas também nurna porçáo de outros.


Por conseguinte, na sua sexta carta stlxe a Edttca.ç,ío Estltica do Ser Hunt,tt.a, Schiller hulana' t i"o t* uome cla liberdade
l:louveoutrareaçáopoclerosaColitlâaobjetivaçáoradicalprornor.idapelollurrinis-
investiga as clivagens que o ser hurnano sofreu na evoluçáo da sociedadc grega anriga mo, clessa vez cortra ^ .,o;";;;;ã;' ''ot"'"" qualquer outro elementc da natureza
humano ,:omo
o ser
até a sociedade moderna. O hornem moderno desrnenrbrou as faculciades que estiveram moral. caso se quiscsse rratar externa' entáo â sua
introspecçáo' seia no da observaçáo
objetivada, seja no moclo c1a
unidas nas pessoas dos tempos clássicos; e, fazendo isso, as pessoas se rornararn espe- clemais evellto§' Aqueles
crusalmente como todos os
cializadas, de modo que, em vez de expressar o todo, cada urna é âpenas unr fr'agmento motivaçáo teria de ser expiicada era incompative'l com a
liberdade'
(Bntcltstfuh) da humanidacle. Essa especializaçáo, frrrto das dicotcrnias do entendimen- que aceitaram essa visâo #;il;
G:T: próprio rlesejo' ainda
serta o livre' por ser motivado ptlo "o
to, está conectada, por sua vez,'à divisâo, clentro da socieciade, em classes, cac{a urna pois, acaso, ttáo 'ntliuítl"o
confinada a uma funçáo. Essa divisáo em ciâsses transforma a uniclade viva da sociedade ÍI *',:j:il:t;'.tr::#L uma visáo mais raclicai de
liberdade' isso era inaceitável'
inclinaçáo em
numa interdependência mecânica. Pôr em frrncionamento a máquina complexâ da so- t
moral deve tt é captrz de.clecidir contra toria a
rt:jeitava' âo mesnto
I
ciedade moderna náo é algo que possa ser cleixado pol conta da iniciativa esponrânea L,iberdacle
!

do moralmente
";;;;;
t"'*t"' Ul"t visáo mais rarlical obviamente po-
dos seus merubros, mas deve seguir fórmuias burocráticas, As pessoas pâssarn a náo ser lunçâo
da moralidade' ou seia'
o rnoralmente correto náo
I
umâ deÂniçáo frcar
mais tratadas como s€res concretqs, mâs colno meros construtos intelectuais; ern reaçáo tempo, ";;;;"lelicidacle e, por isso, rampo*co pelo deseio' En vez de
ser determinado pela
I

a isso, elas náo podern sentir identificaçáo com o Estado, o qual acaba por perder toda a deria
i dispersoenrreseusaiu.rrordesejoseinclinaçóes,or*.i.irornoralmerrtelivredeveriaser
autoridade e é rebaixado à condiçáo de mero poder governante. totâl'
uma decisáo com seu comprometimento
e tomar
Essa passagem de Schiller deixa-nos conscientes de como as ideias básicas da teoria da capaz de concentral-se é' sem dúvida nenhuma'
da liberdade
expressáo continuarem a ocorrer em diferentes formulaçóes até os dias de hoje. A queixa Ora, o vulto p'it1tiP'i;;; "'oluçao 'iit'"l
contÍa o Iluminismo e contra a sociedade que se desenvolveu nos telnpos moclernos passa ImmuruellGnt'Dealguramoclo'Rous§eaup"no"tto'aideia'masítformulaçáofoide
a ser direcionada contrâ a sociedacÍe tecnológica qr-re, de tantas maneiras, é herdeira clcr quarito a frlos':âa-crítica de IG't'
I(ant,aquelegig*nt*tnt"osfilósofos'queinrpôsasil-nesrlo'naquelel:einpoeaindahoie'
poderosa e táo rica em deralhes
Iluminismo. Tarnbém em nossos clias, ela é censuracla por clissociar râzáo cle errloçáo, Nr.rrna obra friosóíica táo hiper:simplificaçáo' mas náo
implica nece§§atiamente uma
delinear qualquer
pensamento de sentirnento, por estreitaf os seres humanos e embotar a sua criatividade e, "*';;;;
nesse processo, deformílos e, por conseguinre, separáJos um do outro numa sociedacle setrâtadeumadeturpaçáomuitograflde.di'e'qutareivindicaçáodessasubjetiviclade
da filosoÂa de IGnt'
moral laclicaimt"tt ti"t
foi uma dJprir"rcipais modvaçóes
de classes e, consequenremenre, negar a comunidade com a qual eles podem se iclentiâcar, de particta' e um qLle viria a ser
urrl novo ponro
confrontando-os, em vez disso, com o poder bruto que ihes recusa a liberdade. À teoria crítica de Kant torna
Assim, no mês de maio de 1968, em Paris, a aspiraçáo <1ue se inflamou foi a de uma imensanrenteinflo.n..,t.n.arclefrnirosuieitomedianteoalgumentotranscenden.
con:\o Humí:' que o sujeito

t*t;;;; pensadores iluministas'
sociedade " décloisorutée" fdessetorializada], uma ern que sáo derrubadas as barreiras enrre tal. Era clado conro

. f..r) ' .t''";"'ti r' l:l'J' :;i i


.,' i ' ",''
I'I^If I I DIJÀ,ÍANI)AS DÂ IiAZÁO
^5 ESPECULÁTIVA
ÂSPIRAÇÓES DE UMÀ NOVA ÉPOCA t,
poderia ser estudacl(
t"*: otrtro obieto qualquer'
iro a. r.-oir.;;:;: É verdacle que ele era especiar
pero Logo veremos corno essa separaçáo da realidade írltima foi percebicla con:o intole-
nos prcrpiciava .",,r::,,1.,:l:
clo sue p'1"À;;;;;'o,aii,,e,io qu.
l:.]Í,:^:;#^is rável pelos sucessoi:es imediatos de IGnt. Para eles, I(ant paron na metade do caminho,
dado, cre um conjunro
a. a"u,,.,".ilât,T;il;:i"":::: ffii;:.::;I Poréin, para l(ant, essa posiçáo náo era apenâs um comprornisso que o capacitou a caçar
com os cáes do Ilurninismo ao tirar cla tc,ca todas as estrlrturas barrocas da rnetafísica
i{J;il::;n:;i:,l.lTj{','il;?;:r;:,f
visír,el.
de unidacle náo f"fetxe:,.,:.,*n".ü.,",.",oedizera,g.
de pelccpçóes" com urn
pr-incípio
leibniziana, enquanto pleservava a unidade central e a liberdade do sujeito moral. Quan-
clo I(ant disse que queria demolir as alegaçóes do conhecimento especuiativo sobre Deus
Em conrraparr,do,
,:r.rn*,n.cio argumento t(anscenderrtal, para Íhzer espaÍ:o para a fé, ele náo estava apenas oferecendo um prêmio cle consolaçáo.
sujeito, náo como run Kanr, visou clefinir o
sujeito ciaclo ao ;;.rr;;
inrerjorj nras corno o sujcito Seu prir:cipal interesse nesse ponto foi pela liberdade moral do sujeito, e isto no sentido
c,o com base no
dr; ;;:;,:",;;::::j,::*rl:
corn obietos que remos.
a ser inferi_
Ladical de que o ser humano deveria extrair os seus preceitos morais da sua própria von-
denral tenta ,rer,; a.t,lpcriência o argumenro rranscen_ proprio Deus. Por conseguinte, na Citica
rade, e náo de alguma fonte externa, seja ela o
experiência: .o,?
semerhanres
r,;il:
dizer coisas ,àbra n nr,u..r,
fri"':]ff.:,:;ryj,l:Í::
emos?.Por essa via'
f,.,. a.,emos ser la Razáo Pruitica,23 I(ant argumenta que afortunadamente a nossa razáo especulativa
,n ",,i.r*^ ^.-- i ele pocle prerender
náo pode nos levar mais longe. Se pudéssemos ver Deus e a perspectiva da irnortalidade
obje-t3s da experiê'cia. pocleriarn estar fundar:rencadas
nos de rnodo convincente, sempre teríamos agido a partir do meclo e cla esperança e jamais
à teoria do feixe sobre
por Flume, e r.rrntr"..,,"'; ";ü;il:lilj'Ji:" o xlf, formtlad,a teríamos desenvolvido a motivaçáo interior do dever, que é a coroa da vida mora1.
que, subjacenr. à ob..qut ",:"1'::':l:':""
o sujeito náo se esgota
nos fenômenos dados
à ít.orp..ção,
É rr..r" segunda crít.ica que Kant prepara a sua noçáo de liberdade moral, A moralida-

i::,::9;:;;;;;";::i::7i:,:ír:,:._*li:ru:1,":*;iT,:#ilí
drmensáo do sujeir. só
pocle ,., ut.nnçrJ"
de deve ser totalmente separada da motivaçáo da felicidade ou do prazer.
moral é categórico; ele nos obriga incondicionaLnente. Contudo, os objetos da nossa feli-
Um imperativo
,.r"j,r.,r.inferência, *.;;;,; a arguiçáo
:::ü'J,",:':.i;:T.t p""; ;;. a esr*,rl,ra do suieito
,r.u.,., pu."
ciclade sáo todos contingentes, nenhurn cleles podendo ser o fundamento de tal obrigaçáo

Issc é o argunento
f:,il:J:""'" incondicional. Esta só pocle ser encontrada na própria vontade, em algo que nos obriga
transcendental, c, ao introdtrzir em razáo do que somos, isto é, vontacles racionais, e por nenhuma outra razáo.
rum novo e ainda inconcruso essa dimensáo, I(ant inarrgtrrou
capÍturo no trrrro.ir'J, Consecprentemente, I(ant argume[ta que a lei moral deve ser obrigatória a priori; e
filosofia. Mas I(ant não levou a sua
isso significa qr,re e1a náo pode clepender da natureza particular clos objetos que cleseja-
: nfi *T,1,.:1*.,, -, *,
iü üH ffi;lurufi
expe,iência d.'L s., urna unidod.,
". ",*',., o . ",.
ele mostrou que
u,,, *, lnos oll dos atos qLre projetamos, mas deve ser purarnente forrnal. Urna lei formalmente
,,lot't'' a uniclade oo
o sujeiro cra contraditório é autocontraditório, compromete-se com uma von-
necessária, isto é, cujo
tencialmente toclas as
m. tade racional. O argumento que I(ant u.sa aqui Íbi muito discutido e parece que com ra-
pre,enciia,..,;À;'::ii,,;:::F:**i::[J:.j*.:',ffi..#il1i.*[ záo: o apelo kantiano a leis formais que, náo obstante, dariam uma resposta determinacla

porérni para à pergunta sobre o que devemos fazer sempre pareceu um pouco como a quaclratura do
il:Í,:::':::::,ffi:t 'u' '^"1"iu""**ã,*:f
nomênica só poderia
Kanr, essa espécie de
círculo, Mas o cerne estimulante dessa filosofia moral, que foi imensamente influente,
ser feita .o* o .onaifio
claramente os frnômeno a. ,. a*rirguit. é a noçáo radical cle liberdacle. Ao ser determinaclo por unra lei pLrramente formal, que
a pretensáo de provar;
,arureza do sujeito,
dentemente cro sujeito, ^
il;'j"':::j,;'il:::J:I a partir da me obriga simplesmente quavontade racional, cleclaro rninha independência, mais exa-
increpen-
seria suposiçâo ..r,i,.j,i, ;;.i';:Tj::;j.'u'"*-" tamente, de todas as consideraçóes e motivos naturais e da causalidade natural que os

,,,-.T;',:_:,:Tlll.i"1,f "io"
r.*,,il" ã"'.;;;:;;;;i,,,,*" o^ rearicracre úrti_
governn, "Uma tal independência, porérn, chama-se libet'dade no sentido mais estrito,
isto é, transcendental".2a Sou livre num senticlo radical, autodeterminante náo colno um
]il :':' :':::,::: :r, 1.1,: :m:;1"* :: iim:
;:;:u : ;: illJir #i:j: era em,Parte dada
ser natural, tnas como vontade n-rcral pura.

por nós, nada Esta é a noçáo central estimulante da ética de I(ant. Â vicla moral é equivulente a li-
.espeiro cla forrna
anr.oill o,ir"-".'..*i"t. berdacle, nesse sentido radical de autodeterminaçáo pela vontacle moral. Isso é chamacio
ó: - n, o, uy.,, Ji' "
:ld :1.::1,:,T::ff :,::':::::;:ru*; :':l
u,., n
f :,s
::l':i:,:i:Ti:.fl",:Ir:X,n"""' n.,,i ,.ill,o. ,,,ima ,,,., r,J,"..i,0"
.

é '?r Livro II, capírulo lX [ecl. bras.: Críticd d,x Razi.o PnítiL:a.Trad. \zalerio Rohclen. Ed. Lilíngue. Sáo Paulo,
,^,, lr4artins F'ontes, 2003, p. 521 -23).
ia Livro I, capítulo I, § ! [ed. bras., p. 991.
ÉPOCÀ ,,
ÀSI IP.ÂCÓES DI UI!'ÍA NoYÀ
t4 PARTE I I .{,S DElvlANLlÂ5 DA ltAZÁO ISPECI-tLATlVÂ
il
1

de "auronomia". Tôdo e quaiquer desvio clela, toda e qualcluer clcrermii-ração da vonrade independênciaemrelaçáoaalqumairnposiçáoextetrla?orén-r'amais':levada'maispura
Náo é para
atttodeterminante foi a de Kant'
por parte cle alguma consideraçáo extema, de alguna inclinaçâo, mesmo que seja a be- e rnais iutransigente das ti;;;;^ tibe'à"," a escolha
fievolência mais prazerosa, de alguma auroridade. mcsn]o que seja ráo elevada quanro o rnenrrs que eie fez a.^U"ç'
Jt toda uma geraçáo' Iichte claramente ProPóe o
e na liberdade'
pÍóprio Deus, são condenados como heteronomia. O sujeito mor:al deve agir náo só cor- cntre crois fundamentos orr."
, naroa., ,r,i-, ir^r.rdo na subjerividade
pela primeira' se a con-
opta'do enfaticarne*te
retamente, mas também pelo motivo correto, e o motivo correto só podc ser o respeiro olrrro, nâ objerivid.acle " "" r*rri".ta,
pela própria lei moral, aquela lei tnoral que ele deu a si própric como vontade raciollal. cretizeçáodoserhulnanodeveliaseradosujeitoar:todetertnin'ante'esesubjetividade
enrâo À lit'ei:dade r:oral
posse de si nresmo pela razío'
Essa visáo de vida moral incluziu náo só ao regoziio com a liberclade, mas também a era parâ signiÊcar autoclareza'
de ser vistx como um ápice'
um sentimento modificado de piedade ou reverência religiosa. De Fato, o objeto clesse ,.r* * qu*iKrnt chalnava tinirr' n^ o,r,r" direçáo' A liberclade l<an-
sentimento mudou. O numinoso que inspirava reverência náo ert mais tanto l)eus, co,tuclo, as linhas de aíinidade rarnbóm corriam
e sim a própria lei moral, o mandamento dado a si rnesrno pela razío. Assim sen<lo, tianadeautodeterminaçáorequeriacon'rpletrrde,devendoempenhar*seporsuPeraros satisfeita
consicierou-se que o momento em que as pessoas chegam mais perro do divino, ao qual Ii.rites a que íoi recluzid;;;:';;
; cteterminar tud'o' EIa r.ráo pode se dar por
imprimir seu
espirirual inrerior, mas cleve tetrtar
os mandamentos dizem respeito incondicionalmente, náo é quando adoram ern cuiro, úom a§ limirâço.s ..1. u*-"- [rr",i"a" caso' esse é o modo
deve tornâr-se tot:rl' Ern toclo
mas qLrando agem com liberdade moral. propósito também à natureza' EIa
pela geraçáo jovem que' em seus atlos de
Porém, essa doutrina ausrera e esrimulanre cobra um preço. A liberdade é definida como essa ideia semi*al ioi t"pt'i'"ntacla entusiasmo pela ideia'
acolheu t"tticos de Kant e foi tomadt de
em contrâste com a inclinaçáo, e é evidente que i(ant vê a vicla mora-l corno uma bata.lha formaçáo, "' ""'nt't'Utn* por ela'
e nrais sábiar; tenham sentido
perpétua, porque o ser humano, corrlo ser natural, necessariamente depende da natureza inclependentemente do Oltt T': ltlh* tendia a atrair
att''i f'oi*"ãa aÂnidad" entte as dr-ras visóes' que
e, em consequência disso, possui desejos e inclinaçóes, dos quais, justamenre por depen- Porém, ao uao óbvia' A liberdade
suas órbitas' havia também uma colisáo
clerem da natureza, náo se pode esperar que se entrosem corn as demandas da moralida- as tnesmâs Pessoas Pala as'
de que têm ume fonte compleramente diferente na razáo pura.25 Porém, aclernais, rern-se radica.lsópareciapossívelàcustac{etunrotrpirnentocoln;1nâtureza'der'rmaclivisáo
a incômoda sensaçáo de que uma paz definitiva entre lazáo e inclinaçáo representaria clentrodemimentrerazáoesensibilidacle,rrrnai.i,.,,isáomaistadicaidoquequalquer
e, collsequentemente' de
lluminis,,o ;;;;itr,", utilitarista, havia sonhacto
mais uma perda do que um ganho; pois o que seria da liberdade se nâo houvesse mais coisa clue o
salf liwedere ser radicahnen-
.o* ,",r,uã exrefna, cie ctijas leis causais o
contraste? Kant nunca chegou à resolver realrnente esse problema, sendo que ele Íbi r:e- urna rlivisáo esta[ em
" fenonrenicametlte.seu colllPortamento PereÇa
avivado mais de Llmâ vez por I-{egel. E trata-se, de fato, cle urn problerna ernbaraçoso, já te inclependente, lrleslno que volta para si mesmo
radicalme,re livre foi jogaclo de
qlre faz parte do dever de um sel humano moral aspirar à perfeiq:âo, isto ó, empenhar-se co'formidacle .orr, .t^r."o"feito
-'l*l'
à natureza e à autoriclade
para srrperar o impulso contrário da inclinaçáo e, ass.irn, ahnejar urn estado dc sauddacle, e, pelo que pl,"tt, O"o-o
utf inc{ividuai' t"'t opo'içao
i*t..;;, . p*., ,.,*o ãtcisáo' da qt'^l o"t'o'
náo poderiam ParticiPar'
como o chama Kant, no quâl neln surgiriâ mais a possibilicl.ade mesma de um desejo que 1790'
jove's - e alig,s náo táo iovens - da década de
p,rra os inteiectuais ale,ráes
nos incitasse a desviat cla lei moral, um estado no qual sempre pr-aticâríamos a iei moral uma tt:Tt]:O::-"a' Náo irá
''i: ganharam
de bom grado (gerne).2u essas cluas idtio', t*p"Jao t t'bt"t"dt radical'
de'oiio * transformaçóes na sociedade alemá
Kant pôde evitar o conÍionto com ploblema tanto mais facilmente porque clírvida de que elas
esse "';;;;;;'t'""tt
acredirava piamente que tal santidade é impossível neste vale de lágrimas; que estafiro.s quefizeramsentitcomurgênciatantomaioranecessidadedeumanoveidentidâde,
confrontados, antes, com a tarefa infindável de lutar para nos aproximar da perfeiçáo. Poléln,aforçaclelasmultiplicou.senruitasvr:zesenrvirtudedasensaS:áodequeaveiha
impacto da Revoluçáo
orclem esrava ruindo eãcia
uma nova oÍdem suscirada pelo
Porém, para os seus sucessores, este se converterJ em um ponto de tensáo agucia. Porque começou a suscitar
período dc'Terror' essa Revoluçáo
eles se sentiram atraídos fortemente tanto pela liberdade radical kanriana quanto pela Fran,:esa. o fato de o"t';;;;t;; aadnriravarn, náo cotl-
até hostiliclacle enile os que antes
teorie expressivisca do ser humano. serlrimentos rrobir*1.n,", áu a sensaÇío
cle urgência; pero conrrário' I-Iavia
Pensando bem, isso náo é ds todo surpleendente; há afinida<les profunclas entre as tribuiu em natra para;;;;;;r.rr^çáo pcssívt'l-t-li'" despettou
elâ táo necessária quanto
cluas visóes. A teoria da expressáo remete-nos pâra â conc(et\zaçâo do ser huntano crn cle que uma g,'ntl" t'"''"[ormaçáo que um
tempos' teriam pareciclo extravilgântes' 'Sentia-se
liberdade, que é precisamente a liberdade da auto.leterminaçáo, e não simplesmenre esPerâIltâs que, enl outros se'ia pelo novo
irrlii*"t' t
to po' t""' d'" situaçáo na Alemanha'
grancle avanço "1'
25
Livro I, capítulo III [ed. bras., p. 315]
rr,rmotomadopelal{evoluçáoFraucesa'essaesPerançâlogoabandonouaesferapolítica'

Ibidem. mâssetornou"t"o..,'"""t"'"naesferadaculturaedaconsciên<:iahumanas'Ese
/II\r 4 I , /r) r]EMANDA.S
DÁ RAZÁO ESI'ECULÁTIVA
ÀSPIRÂÇÕES DE UM NOVÁ ÉPOCÁ ,7

HT::'.ilil ffi I i: ;;::l;T;;lÍffi rde rn e is, senáo na Aren:a,ha,


poderia ser Outros, como, por exemplo, Schleiermacher e Schelling, falavam ern unir I(ant e
A esperança era
ir
as Pessoas chegassem Espinosa, sendo este último transposto, como foi mencionado anterionnente, em cate-
radical e ;J:;;'"t a unir os dois ideris,
o cla liberdacle gorias vitalistas e tornando-se, como tal, pararligma daquela uniclade do sujeito com o
"
anreriorrn.rr,,, ;:':..i1"9"1'. f". cattsa clas tli"idrd;-.;;à -^oir, mencio'a-
clas-

po,r.,o,*,ent;; ;;,,",,_td,',*lÍ[,r:ff ,,il]I;"tf:***:li:;fl:íil universo clemandacla pela teoria da expressáo,


Porém, urna das vias mais básicas para formular o problema era colocá-lo ern ter-
pãde'i..m mos de história, como problema da uniáo entre o que há de mais elevaclo na vida
í:'Jli:.ff'il]]:fi:"._oorro, com
" """"""0,r.,.,*, "
-*l'nl";;;, roi por isso antiga e na vida moderna. EncontLamos isso em Schiller, Friedrich Schlegel, no jovem
a guinada crít,.., o.
dois se estranhu.orn o.rr.r*llo,i.

, o"n., . o, Hegel, em Hôlderlin e muitos outros. Os gregos, como vimos anteriormente, repre-

,1;ffi].1*,T: lHü iifi i::,,:T* * ,.* _;fi : *t::jx:: senraram um paradigma da perfeiçáo expressivista. É isso
so entusiasn: o pela
qu. ajtdaaexplicar o imen-
Grécia antiga que reinou na Alemanha na geraçáo subsequente à de

:::;I:ltl*f ;*l;*íj*:,ruili::l: \Vinckelmann, A Grécia antiga supostamente atingiu a unidade mais perfeita entre a
;I"*x*:T:"11':ff
É verdacre
Í:ff
l':'i",d1
expressá.' natureza e a. mais sublime das formas expressivas hu.manas. A condiçáo humana vinha
.r. - ,*l^lll" naturalmente, por assim clizer. Porém, essa bela unidacle morreu, E náo só isso, ela teve

Hi:T**.{,:Iffi :,,,ffi Í,#,::;il".,.",ã;:::,;ÍjfíÍÍí: de morrer, pois este foi o preço do desenvolvimento da razáo rumo àguele estágio mais
elevaclo de autoclareza que é essencial para a nossa realizaçáo como seres radicalmente
e í1ol,rla parte é
unem maréria e rorma
decricaa" * .í,,,J" i. ;:J::J::i:ff_::j:1,:, puramenre morais, livres. Como formulado por Schiller,ze o "intelecto foi inevitavelmente compelido
mais estreitam.";;.
*;;;. ];:T::T:JJ: ii:'f,:'1" maneira, [..,,l a dissociar a si próprio do sentimento e da intuiçáo, numa tentativa cle chegar a
ter passado de ,ma bero' Kanr parece
culdades de inn
visáo da ,r.r-" ."-"1.J"ü'r:','":::ii':::
.,
um entenclimento discursivo exato", e, mais adianre:3o "Para algum dia desenvolver as
içao e enrendimenro, nossas fa- múltiplas potencialiclades no ser humano, nâo havia outro modo senáo colocá-las em
repre'sentaçáo obscura para uma u':': s:t _1i.,
,,"1'^r::: :,*pJ.r-de
vê o objeto
. ,....rr.r-*.ji_::- belo como uma oposiçáo umas às outras".
::: "* pode ser,,.il.*.ü',.:::;:.-::H:r:1o i. ,,,", ,.fi.a".';;,, erevada Em outras palavras, a bela síntese grega tinha de morrer porque o set humano neces-
sariamente seria levaclo à divisáo interior, visando ao seu crescimento, Ern particular, o
;:ilTtrff HX,',n:**x*IiH.:;.:,i#i;if fi Í,'.';:i,il:ffiii: crescimento da razáo e, consequentemente, o da liberdade radical requeriâm Llm rom-
embora por essâ pimento com o natural e o sensível. O ser humano moclerno tinha de entrar em guerra
_^.foréa, mesme razáo a rerceira
porta.te pr, ,o,lo, agueles crírica ten lta sido
imensa rne.re im-
dc I790 qr. ^r.or-.,,,1r. ,". ,";;;; ;il] foi a geração da crécadr
consigo mesrno. A sensaçáo de que a perfeiçáo do modelo da expressáo náo era suficien-
tonçou., essa rarefa. te, que ele deveria ter sido unido com a liberdade raclical, estava claramente assinalada
maneiras' Para o jovem o, ll;:]1:r,.,
lorant idenrificados
ri.,.a.,.rrt.l'ir.i, , ,Ilu"os cle várias nesse quadro da história pela conscientizaçáo de que a perda da unidade primorclial era
que a poesia daqueJe rcpresenrava
o enunciado nrais preno
o ápice em ,ill;Jir:,::: ff,:l.":,il:T;,:::Í: inevitável e que um retorno seria impossível. Â irreslstível nostalgia cla beleza perdida da
:t:lt' a, r,uirara.'. ,rtii-,orn. Grécia estava impossibilitacla de alguma vez transbordar de seus lirnites na direçáo c{e
do terf Llniros crois, conro urn projeto de letorno.

;:tr[l'!3fi
navrarn revolucionado
;T::ffi::t';j.",':'Jffi ]:l*,y;,i;,,,,,*i,i)).,,,u^,,n O sacriÍicio tinha sido necessário para que o ser humano desenvolvesse ao grau má-
nova, nrais
o rnuncro
ereva<ra.
porítico,;;;;:'i:r#:Ltiil::;tffi::i ximo a sua consciência de si e a sua autodeterminaçáo livre. No entanto, embora náo
retorno, havia esperança de uma síntese mais elevada, uma vez
hotLvesse esperança cle
que o ser humano tivesse desenvolvido plenamente a slla razío e as suas factúdades,
27."
Cbffierhrif sÍntese na qr.ral ambas, a uniclacle harmoniosa e a plena consciência de si, seriam unidas.
[.,.J wodurch die i» i r n r /
t u r.
,t, 1,, i ". r^ i. Àu;i,i, í.iu!,Í,, i
h n Fo,
f
t o t t,. n en Enquanto e antiga síntese grega havia sido irrefletida, e teve de sê-lo, porque a leflexão
42.p.1471. - '-"" e Á,rônio *.,r,...",'íi.'íííÍi:';:,:::.:;:,::!,'r::.::!::,!:::;;:#,r;
1

começa cliyidindo o ser hum;rno em si nresmo, a nova uniclade incorporaria plenamente


Goethe,osAnosdeÁprcncrizadoderwrtermÀ,ei*r.sãopatro,34,2006.
i*l+.;"*'^n*n§Tolfgangvon
» A Echcação Estética lo Honum.3. ed. Slo Paulo, Iluminuras, 1995, 6n cnta, § I 1
:io Ibidenr,
§ 12.

i,
t9
NOYÂ ÉPOCA
ÀSPIRAÇOLS DE UNtT\
r^(I C I I ,45 DÊMÁNDÂS DA ITAZÁO ESPECULÀ'|IVA

a
plen'rmente c')nhecido: antes'
da realidade que jamais çroderia ser e'
a consciência reflexiva obticla, seria, de fato, produzicla por essa consciência reflexiva. No lum rnundo e"rterior pelo "eu penso'
tlos oblttos era Posto
na 0"" Jt t'ia.]''o ''""tlo
Fragmento de Hipério, Hôlderlin formtúa isso da seguinte rn,rneira: sutoierividade estava
po' *l.ll?.,il"1jru::l';.x ;Ifj::j'1T.oll";1,".,,,','ência:
é argo
Existem dois ideais de nossa existência: um é a condiçáo da maior simpiicidade 'o""g''i"':r
E claro que isso não e
I que
.--^:^ .l^ ,,-" 'inruicírn intele':rua1"' A subicrividade
que deve sel conquistacioi"L'ã:;T.:'ili,
possível, na qual nossas necessiclades se coadunant urnâ com a outrà, corn nossas ela é
Ênita;
forças e com tudo aquilo com que nos rclacionarno s, sittltlcsrnentc peLt org.anizaçrio
pôc o rnundo tamPouco Pooc
sEL,uuttww" ;il'';., à subjetir.ida<le
,^ qual
-^- do os srrieitos Ênitos
sujeitos sáo en
frnit.s sáo emanaçócs.
,rr1.ír"o ott,^b""rt""'
^,,"r ^.
mais parecida .o- o
da nttrtrera, scrn qualquer colaboracáo nr:ssa. A ourra é a condiçáo da eclucaçáo até a sua
a década de lB00
. rnais elevada possivel, na qual esse acordo surgiria entre necessidades e forças esse asPecto clo seu
pensam:'I:.t1"""*
Fichr:e clesenvolveu suieito últi-
1814' e Deus assumiu
um paPel mais l:elevante coüo
infinitamente diversi6cadas e intensi{icadas, pela orgcnizaçáo que nós sontos capazes
morte PremâtliLa, erl um tremendo impacto à
C'e Fichte' que conferiu
mo. Porém, o Ponto t""ioi foi t
de proporcionar a nós mesmos.3l ão
'i"tmattu"ti"i' q*nnào esta foi publicacla'
em'1794'
chamado a abril uma trilha da primeira condição para a segundâ. sna'Vissettscha'fsl'/"' iD.;;;'^al Náo só foi supetado
O ser humano é
p"tt ao ''''jei'o *o'^l k*"tia"o'
história, na qual náo retornamos ao rosso ponto de patida,
Essa visáo espiralada da declaraçáo d" o'"'ito*ptt8lti" f"' que deli'ritatn o
is§o r"t J.*rd" iela deuubocia de todas as barreirar;
mas a uma variante mais elevada da unidade, expressa a un1 só rempo â sensaçáo cle o dualismo, ma§
e à votrt;Ldc'
oposiçáo entre os dois ideais e a demancla, inflamando-se em espeÍançâ, de que os dois sui:iro em relaçáo ao cotrhecitlento da divisáo pudesse ser
r";;;;;';;t"te estimulante' Talvez a d'or
venham a unir-se. As tarefas primordiais do pensamento e da sensibilidacle erarn vistas À teoria de Fichte causott â divisáo' ao seu
l'"""*tê*t' cle si' que inicialmente
como a superaçáo das profundas oposiçóes que haviam sido necessárias, mas que agora sttperada impulsionu'c{o a sua oposiçáo'
O"A ela seria vista como englobancto
,rrri, pl.,-,o dt"t''olui*tnã-'1() de alguns distan-
deveriam ser suplantadas. tata-se das oposiçóes que expressaram mais acuradamente a conta do recac{o' A despeito
divisáo entre os dois ideais, o da liberdade radical e o da expressáo integral. Porém, no final, ela d;;;; "uo-a" Fitl'tt eà dtnr^siado unilateral-
t'pttot']lo"' l;;ti;;-;",.* Iftnt' "ot*t"ot
Foram estas: a oposiçáo enrre pensan"rento, razáo, moralidade, cle um lado, e desejo ciarnentos
a u
e sensibilidade, de outro; a oposiçáo entre a mais plena liberdade autoconsciente, cle um me rt !e kan tian n
*: ;;t' " ":il1:n
" "' *tl'' I t::t:,
" "' "' " para a libcrdadc I
ffi i:: T::'.111il;,'i'':
laclo, e a vida na comunidade, de outro; a oposiçáo entre consciência de si e cornunháo voita.clo exclusivamente
;1;;-o"e.ha1a um suieito do
:::'i':: ::il;;;,
conhr:cimerrto e' acrma
com a naturezai e, para além disso tudo, a sepalaçáo entre subjetividade Ênira e vida mundo pelo tt*ui..i; u.m obieto conhecido'
tlma
da
'ulttto
vontacle. ô-Jü," .lo .oni-recirnento requer suieito
infinia que fluia de rudo, do
através da llatureza, a barreira entre o sujeito kantiano e a substàrlcia A atividade mais elevada
sobre o qual possa rruir.
espinosista, Deus siae natuftt, otr, na expressáo de Lessing, o"hàn ?âtx" [um e tuclo].
vo[tade requer um "b;;J: levada a efeito
hd.i
t1tt"''o ai-^'i'ia'ae postuladora
é o livre-arbitri"'
"eu penso"'
""tl:';;" "ii"l'
t'n'e'l'lt Fichte confrontâ-se com
o mesmo problema que
pelo '"gt'ia*'
&
natureza e
o...po.,I(arrt:sendolivresunicamenteefilllossabatalhacontrâosolrstáculosdanatu.
alcançar a uni«lade de
Como pode ser efetuada es§{.grande reunifrcoçáo? Sobre o que estariam fundaclas as rezâ, a nossâ batalha
u';;;; ;;t lamais poderemos conseguin:::T'l'1" Fichte nos
livre-arbítrio, '"b Pt";;;
it'"o""tt'""to 'i"tt'' Por de retorllo à
Um dos fundamentos da esperança foi um iclealismo de e]cerrce
esperanças de alguém?
cada vez maior, um idealismo total. Foi Fichte quim o inaugurou. Reconhecido de iní- traea ontologitt'"t"1
]];ffi;';onismo' ele 'áo oferece éperspectiva
algo que §eÍnpre nos es-
e moralidade se aliam
cio como o mais brilhante discípulo jovern de l(ant, inclusive pelo n.restre, ele foi rnovi- i',^imonin' A perfeiçao ct,'m ;;;;;"t" vir a existir; nós nos aproxinramos clela'
poclerá
do pelo profundo impulso da sua época para transformar o sistenra em sua tota[idacle. O forçamos oo' to""ru'i''-tt"l ot" i"'""s no domínio do qr're cleve
ser

inas jamais poat*"-'o'


Jt^nçi-t*' r't^ semPte " ""to"t'^
ponto intolerável no kantianismo foi a delimitaçâo em relaçáo à coisâ-em-si. Fichte re-
jeitou a coisa-em-si. Ern írltima análise, náo havia uma subjetividade deparanclo-se corn lsatkn);lamais'no'I;;í;t;;"queéFicÀtenáounittosdoisideaisrelenáoconsegue
itrtcgral'
,-rtri^,t' " clemancta por expressá«.r .

C)utraabordagt*'ig""l'ounttsemlnalfoi,enrpreenciidaporschillt'remsuasfamosas
era mais vell'ro q''re a
geraçío a que
3t " Es gibt aui ldeale ansercs Ddsains; einen Zustand der hticlutcn Einfab, wo unserc Bediirfiitse mit ich t Et*'tcação Estética do Hymey'schitlet o fato
isso tetrha algo a ver com
selbst, .sobre
Cattas
und mit unyrcn Küen, und mit allem, uontir tuir in Wtbindwzg stehan, dul:,b die blo8e Organisation cler os Schleger'' t"";ii''*
p.,,.n.1.* Htgtt' üàtat'lin' rnonisra, e procurado
um funclamento
Nl:w, ohne unset Z*tun, gegenzei.tig zusarnmenttitnneb nrd e inan Zuttmcl der hiich$en Billtutg, wo d.asselbt sobre unra ontologia
de ele náo ref se lânçado da explicaçáo kantiar-'a cta
nattfnden wiirdz bei unendlich veruielf)ltigten und'terstiirhrcn Bediirfiisreru nnd lúiifan, durch die Orgenisa- rig.iror.",-r,. ;ro-t,"à
tion, clie wir uns selbst zu geben im Stande sind."
*o Ser. scirilier perrrarlece
r,rnificador
6r
DE uM^ NovÁ ÉPOcA
, ,.-, v!,vr,ar\u^5 DÀ R^ZÀO ESPt':CULATIV^ ^s?1RÂÇÓES

subjerividadc: enquanto sujeitos, nós formamos o rnaterial que recebemos através dos olrvianlenteconstruinsohrclterceiracrícicadcKrnt'Porérn'éclatoqr-reelefoimuito
no munclo'
sentidos. Enquanto seres humanos) temos nm "instinto sensível" $innlicher'frieb) que a*.r.air"iaoã tdrt" da Szao ern nós' enr
mÀis}onge.Aexpcriência.1,b.1.,-*náoénleramenteacloscordosemes,rorçoclasnossas
,*" ffi;;u*
âpenas
facurrracrcs, nerÍr e do espo*tâneo
nos impele ii experimentar o sensível, e urn "instinro formal" (Forrnnieb) que procura ,*"oeracra do ,...i,iuo
conferir orclem c forma à experiência. Ambr-rs sâo essenciais pala o conhecimento, mas rnas ch rep:esenrâ uma ,.,irà. instinto de iogo' natureza
funàt-' No
X"*ou"'
limitam um ao ourro; na esfera prática, eles se opóem conro desejo e liberdade. que estes nâ, só estáo at
"lJi' "" "
fahm cotnum:;".L",';" Estéticn náo está
livre cle
Porérn, Schiller vislumbra a possibilidade de um tetceiro instinto que une indisso- Jt'pi'i* dn obra sobre a Educttçíto
É clato que a doutrln fosse um estásio
luvelmente essas duas funçóes, no qual â matéria sensível diante de nós coma folma f'h;;;; s' o
"téti'o outras
sem qualqr.r.er esforço e a forma encontra expressáo na rnatériâ, na qual o desejo espon- ambisuiclades; "'u'J';;"'i.,"'!''.,i""
'* tit"'ÍiffiJ;' ;; aulilio,para chegar lá; em Passagens'

taÍreamente cumpre as exigências da liberdade. O objero desse terceirr: instinto une nu .,i,''inho pt'n ' moÁl' contudo' em Pas§agens
tl* liutta*dt
t't'' t;';;;;;;n*^;;":oi'
vida e fornra, Çonstituindo a forma vfua(leltcnde Gestab), e Schiller diz que ela equivale como se ele fosse
à beleza, É na bcleza que os cloi.s lados da nossa nâtureza se encontrar"n ern hannônia. co,1o a recém- citada',
J*,il. :*::i*;: ;mi;lm ; UXX
0 objeto lrelo é urna fomra sensível, isto é, uma forma em que cada porçáo do conteú- ;J;ú;;;'::::
mas,
I
antes' que ffi.ffi:T;T,".ffiH';.il;;J
â
o*"^a"
pode prover justamente
náo mais ere

clo sensível é relevante para a forma, enr que a forma só pocle assumir esse conreúdo e moral, o instinto át logo
to* " "i'J""'tl;' *.,d" clue
em con{lito na criaçáo da
o conteúclo só pode teÍ essa forma, em colrtraste com a subsunçâo cle alguma reaiidacle esrá realizada viverinlntti"-t''"e
essa superaçáo
d" t"tfli'::Tffi;-à;
observada sob um conceito, em que somente algumas de suas propliedades justificam
a subsunçáo e as restantes estáo apenas contingentemente relacionaclas. Esta úrltima lr.l.r^ e no amor a ela' , t^.^^,ra emêree das Cartnspara aqueles qtle anseiam
subsunçáo serni)re é arbitrária, pol assirn clizcr, mas no objeto belo, fornra clemanda
a
justarnente esse conteírclo, o conteírclcl :rssume esponrânea e irresistive]mente essa for- .'';"lqq;;ltilhí:.,:ff
uma
para esperança exl
.r:'""*f, :Jf il:.ítt""il1":j;i:;Ti::
mrs a de uma progressáo
ma ern nossa percepçáo dela.
Esse terceiro instinto nos iev:r para além da tensáo da oposiçâo em que fbrma e necriva mais kantirna'ciil:il;;1;"t*nitlua;'=ti'"a''
instintos .sensír,eis limitam Lrm ao olrtro e reciplocamente impóem Lrm ao oun'o umâ er",l*ul runro a ela'
o
O qt" falta em Schiller Para
resPonder:.',t":?T,ffirt*:*j::.;ili::};]:
necessidade (nritigen). Esse terceiro instinto se situa além da seriedade clo esforço: eie é â rsl
ia"J, t" q" Fichte havia corneçado Prover'
jogo; e Schiller de moclo correspondente denomina-o "instinto de jogo" (Spiehrieb),32 " humano' â slra
ressaltanclo que isso, longe de dimintrir sua irnportância, evidencia-o como a perfeita essa unidade' mais elevado do ser
pretende que o asPecto espiritual com o
rea.lizaçáo do ser humano e de sua liberdade. Podemos reconhecer aqui o ideal de rrma Quanrlo' se
venha ; ;;;i;*" t'*' l'"'^otia passageira e acidental
mesmo para
liberclade moral, Até
teoria da expressáo, uma harmonia expressiva em qLle os desejos naturais e as fonnas hu- ^ a.". cencier para o espiritu"rl'
entáo o.;;;;;;.lo
a a
manas mais elevadas sáo unidas sem qualquer esforço num único elá. Isso é libet'dade, no serr ser naturar, tlt IQnt' Náo podemos Pensar
tt'*o'
tt'jI'j];'""il-ào'
*"io'parte do t::'Pt'"i:::;:ff;I:l:i:"ffiTt;
lormular essa dernancla
sentido cle autoexpressáo integral,'hdivisa, sern conflito. É issó tuclo, a ausêr)cia de es-
narureza como Kant
f"'
forço, a irarmonia, a criatividade livre, que Schiller quer transmitir com e palavra "jogo". "
u"'
ll: l; ;
de
m' um c'
::ffu *j,t*:xi
â'' c' nj
Consequenternente, é assim que "d ser humano só joga quando é humano no sentido
: ::':?T:l "ss
mais pieno da palavra, e ele só é plenamente lnrntano quando joga",33
*"'t"ft"u"l Jm fenômenos''a
forças subjacentes
que se
Náo será flenhuma surpresa, após a discussáo anterior sobre o model: da expressáo,
que o ser humrno lecupera a sue uniclade na dimensíro esréticâ. Nesse ponto, Schiller Entáo, o recluisito
r.' to*o
n*''" *,,'O'a' u o::
algo que tem uma
l-1"X'ff
ot"IlT,a^6. §I#ffi*l$;U|
to"tntt da vida
com a gtande
".i" " "tt"
a mera aspiraçáo de
estar t*
::t*:::''r"lista: humano uatural' uáo
;;;;"t por uma visáo natu:
um ser
ser satisfeita
12
O ternro alemâo Splrle o teimo inglêsp/a7 signiÍicam tanto "jogo" como "brincadeira", e os respecrivos ;r";;;J*' porle
verbos spielen e plq, signifr,ctm tanto "jogar" como "brincar". Seguindo a prue de falar do "insrinto de I cxen!
crítica' como' PoÍ
jogo", rrtiliza-se esse termo na rraduçáo, mas não se deve perder cle vista que a ênfase do texto está no lírdico, r- âl^'
1- de falar em *""t t?';.,.::i
êm ceÍtos mÔmeptos da rerceira
, x"*t resvrla para esse modo a^ Faurl,lode do Júzo'Trad'
àiir,
no brincar. (N. T.) ffií
a' 2005 § 46 p I 53)
i[:H*j: H*;ru;u:;H]ti::iffi:';:il"ilffi
31 "
in uoller Bedeutung des W'ortes Mensch irt, und er ist nur da ganz
der Mensch spieh nur, wo er N4ensch, wo
et spiek" (A Educaçao Lstética di ÍIometn.3. ed. Seo Paulo, Iluminuras , 1995, 15^ carta, § 9).

I ':
, -.! r.,_,y,,jr\L/.,ri D_À R^ZÁO ESplilUI.A f IVA
ÀSI'll{./iÇOES Dil U]!i NO\r\ ÉPOC^ 6)

jltj,,i,r,llr..rl:fa "- que seus clcsej.s e senrinrenros


esirr.rrrràncos csríro
ern rtc:rcorclo i:s.sir rr;rtureza ainrla é o olrjcto cia percepçâo c,rt a maróri:r-ptima cla vc,ntade. Ela ainda
chanraclo.o. o.,r",iilllc1a.está ':o*Íàrnri'l'rcle cr-,;. ;";;;,;.. ,Lrpon,l,.,,o
vivas e"-tá. vi,cuiac.las
tom
"i,'. ,"u nár é urna realiclacic indepencicute, a err:rict:.laçáo de sr-tas pró1''lrias forças subj:rcentes.,i\
qLre pe.rpassa . ,"r^r,;::'.:."t clc ,,,,,"";;;";';;:ia clc sii,.petia natLireza cstii essencialnrcntc relacionlllir corrr a sub.jetivid:rdc. Contudo, a sua relaçáo
Esse ripo de visiro dcve ser t,i.ç-à-pi.s, sendo eia o ourro essclcial que uln sujeiro necessite pxÍx realizar-
náo existia sern o.s seu"s
con':o náo existe, aoje, -se mediante aspiraçírc.,; eia uáo é a cxplessho corporll de unr sujeito. É verciade que o
sem os se,,s crefcnso,es.
dj:'ffi::.,::-:;r:j;.}:écrrro ,{vrrr,
sujcito absoluto clc Ijichte náo é iclêntico ao indir,ídr-ro; cle é, autes, o universal cotn o
.
rylfi
consciência
H:
. lib".and. ,""*1. p;;;;,
*r,,, i .' ii,r. :;;; ilj:Í::;
fl ::Í:;: il.;:::T::i* rn:rjs eleyacÍas couclr.ristas
;::::: qr-r:r[ ,: in.Livídtro aspira unir-sc. Porém, justarnente por e.ssa Lazão e],: deve ser identi-

"
peio naturaJisnro. ;;r:.: tlue c{evern clesapalcccrna espirirtrais, a ficado com o sujeito ntoral universal, mais dr: quc cotn urn sujeito c<ismico, cujav.ida
Por crepender tantô rln o."..r un.ião v.isacla seria visivel na grancle corrente dà n'.rtul'eza. A teoria ele Fi,:hte, resiie tocante, aindã
é o iclealisrno transce ndental de l(ant, uras ntediante exclus:io do Di,ng tttx sich, \sto é,

s!.i;::::u;,ffi
r.nol*r, qr.
n1o
:'*;i***í"llüi:#I;:1"?r:,Í:§:::T::;i adaptaFse a forças
onde os fenômenos lbrma-do.s pelo "eu penso" constituem a única rt:aiic{ade objetiva.

:t,, l*t estáo além do chartrado


,1':
a' ra.z'ao; e ele só pode
inconscien- O rnunclo r:t:jetivo, por assim clizer, não tt:m prolr"rndida,-le. Ele reeramente provê
conr elas dondo orrjdo, alcançar trar rnonia
";;;;;; ;" :::'jjli*
acessririos par:r ,: clrama moral.
a.*.o a.L, n*;;;;:::i:'i::i^1:*"" inconscietrte, q..,.1,,í ,r" n,ais ,rão rcíIexivc,
"o E:;sa conccpç:áo c[e liberclacle e rlaturezâ .iatnais pcnnitirá uma unidade plenanreute
Enquanto concebe. realizada clas drLas, como Llegcl cxpôs c.laramente na pt'imeir:t obra filosóÂca que pr,rbli-
a natuleza eln tc.ntosde
nrais poderá furrdra.rat-ot [orças cegas.u Íht.s
brrrrci.s, ela j:r- Porque o srfpr.rstula um náo--rrftlr.te eie luta Dilra sLlp3[i1r. Contudo, a subjetivi-
ccrr-1.3';

r)cvg11,.' clade rrecessita estar relaciclna<lacolr algtur-ra oLltra coisa pata ser. Ccnsequcnt.emente,
1,."1,i..,"1,,;r,;";:,:;j:||,,],1,,:.,i:,1ff:,,1,,,u,.,rr,u,,,,,nu',*..u,,,,,.,,,
ocasional conte ll(al-t)o.s cor)l
unr ircorclo p:u.cial
dentro cle ni :r.sr:per;rçáo clo náo-srf jarnais poclcr;i ser cotnp.lem, ctrso o i:rróprio sujeito uáo clucir:r

::l"::;;;ffi "11,1I,:,":;.':,"T;I1'":::ti:Hlml**::,:;::[
nos, com a qual estanros
em intercâmSl"
desaparecer. Por isso, ela deve ser vista como uflr progresso inÊnito cle autorrealizaçáo
rlullo a urrr objerivo que deve ser realizado, mas jamais o é plenameut,:.
a"rr,,
I{egel argumenra que isso teri cie ser assim enlluanto vj.rmos a }'Iatr-rreza, o uis-à-

i1.p * :tffiTtr ;:l':;:::,x*F: "ll5"i';


i i,ii, I ll;l';); ;ll, -r:ls cl.o sujeito, simplesn:Lente 1:osta coino realce para o sujeito clÍI sr-tà autorrealizaçáo.
em si mesmo e no cosmo. esrar enr conforn.rir{aclc
to' J;;;"::
t""'"nro :llll_:"
.; mai's plena-mentc
é
utrr
corr 2r narurez:l A uniclacle real cic sujcito c objeto só pocle slLceder sc a natu.reza fot rrma explessiro de
entâo é
.rr.,
suicit. aut'.lorerniilra,Ie, subjetiviclacle pol selr próplio cLireito, qual seja, uma lealida,le cspiritual inciependente
'ecessário,
e§po, raneame,,. a,,..,iil,;ill,'J:-:,J[il:':"1 ii:i:ffi:[ ll;.;il,,: qlle por si Ínesnta pocle
O que falta
vir a tealizat srt:r ltuitl,rclc com liberdade.
a .srber, ir funclanrcntaçáo cla uatureza em algurn princípio
errL Ficl-rtc,
::: ffi:,1"i::i::'#::i,ilii::::::"",11 a. n",u,"." u ,,.:.,;;;," q,rc ,oc,a espiritual cóstnico, pocle ser cncontraclo cm Jlspinosa, que oÍerece a r'rniáo colr uma
substàr-rcia cósmica. Poréru, esse sistetla ;.,adci:e u tlo clefeito oPosto, de que nele a subie-
ilTi';::;nl1il,::
meu inte,câmb,o ,'u,,,,
'';'n"o' -l i;:; :::l'l' illi "1,1 ,:;,.,^'l'',
o''..
ainda assim' ttão c'srat , ,l
ürI ()pu;iç;o'à,1.,,rr.r-. .,,,,
lil tividrLdc finita pat'eccu aÍundar sctrr cleixal vcstigio.
.,.ttlliltl'1 :l iurercânrbio
t"'oo esse Se: a tarefa erâ erlconttar ul.Lr {tiLn,lartertro onrológrco p:Lra a unirlac{e cie liberclacle e
q,c entro em relaçáo.ono'
devc.consri,ri ,,ri;;;;;.-rnhíro
cri..r naruLeza na uniáo de subjerividacle Íinita e urn plincípio espiritual ou sujeito cósnrico,

u ;,..",..*J [i:fu :,j,, ffi il:il*::H:ffi


reaiidade natr'rralsuJ:.jacente
:'; .",,,;:.,p iri *r a s
cnrãc, o qr-re se fazirr necessário er'â urnâ espócie de .síntese de liiclrte e Espi.nrrsa, E, de
um.a f'onna ou de orrtra (r"rrna síntesc de Fichte e Goethe parl .FriedLich Schlegel, de l(ant
i-r.I, ;;i;;,;;,;;ffi^ ó urn pri:cípio espir.iruar airne- e Esp,inosa para Schleier:n:acirer), csse Í:oi o trlma recorrente rlessa geraçáo cla dócacla cle

1.790, t geraçâo do lomarttis:lc.


[:::: T:il:: ;|;fJ ::T:
:: li:fl.,Ji:iuJii.n*
cruciarmente pouáo
1,1
a,Lrrez;l e ai go,r ui,. p róx i,:r. C,s jovens rcmântico.s, os S.chlegels e l.Jovai.is, por cxemplo, settriram-se itlensarnente
de,chegar. ,i ô*_'i"":rJll:jl:],,:,;,íIl,i;JilI esrirn.ulados pol Fichte. Extraírarn clele a icleia da subjctividirde livre, criat.iva, desapegacla
rlirigiclo para a vocaçáo
,no:"r d1"s1, ;,,;;;:;jo
,ua iibercrade. Daí quc, gr11be,.;1
i,ill]
o mundo da narureza It DifiernLz
seja posrulado cle }iichte c o de Scheilingl, de 1301, quando aintla se
o.r" *lr;"r",, no icrealisr:ro .",1i.^1 J" I,i.r,r,,, l= À difêLença enue o srsrelnr iilosófico
crcontrava sob a influência de Schr:lling,

li:]i:l:-l].:i]i:i"1i1,:.:i'.:.,';;'':;:,;.;..-;+iu.,r''l',..:]:;1l

Você também pode gostar