Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
O termo hebraico ( רּו ַחruah ou ruach – grego pneuma), geralmente traduzido por “espírito” nas
traduções bíblicas mais conhecidas, significa literalmente “vento“, “sopro” ou “respiração“. No
entanto, por ser uma palavra polissêmica da língua hebraica, outros significados, todos de alguma
forma conectados com essa mesma raiz, são aplicados a ruah em situações diferentes. Neste estudo
bíblico veremos uma explicação um tanto sucinta, mas que definirá por completo o uso dessa
palavra na Bíblia Sagrada.
Ruah, o ar em movimento.
Em uma nota de rodapé na Bíblia de Jerusalém (BDJ) há uma explicação quase que completa
acerca do significado da palavra ruah (ou ruach). Portanto, vamos tomá-la como ponto de
partida para nossa compreensão. A nota diz o seguinte:
"Ora, a terra estava vazia e vaga, as trevas cobriam o abismo, e um sopro de Deus
agitava a superfície das águas."
(Gênesis 1:2 Bíblia de Jerusalém)
Isso explica ainda porque os discípulos que estavam reunidos no quinquagésimo dia da festa das
semanas, em Atos capítulo 2 (conhecida como Pentecostes), foram impelidos a profetizar
depois de receberem deste mesmo “espírito”, isto é, “sopro”, mover/inspiração profética que estava
nos profetas israelitas antigos (cf. At. 2:11; 10:45,46; cf. 1 Pe 1:10,11).
A ideia sempre foi de que o “sopro santo” de Deus os moveu a falar aquelas palavras, isto é, profetizar,
conforme lemos em Atos 2:4,11. Ora, este dom já era uma promessa desde tempos antigos (vide Atos
2:14-18,37-39; Joel 2:28,29; cf. 1 Sm 10:10,11).
Isso também explica as palavras do apóstolo Simão em 2ª Pedro 1:21, onde normalmente é
traduzido “porque nunca jamais qualquer profecia foi dada por vontade humana;
entretanto, homens falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo.” (NAA).
Em lugar de que, na realidade, literalmente pode ser traduzido, "homens falaram da parte de
Deus movidos pelo sopro santo“.
O sentido disso é claro, pois assim como um sopro move as coisas para a direção em que está
soprando, o “sopro” de Deus move, impele o homem a falar ou fazer algo, no caso deste
versículo em questão, ele moveu os profetas antigos a escreverem as Sagradas Letras.
O ruah de alguém pode estar triste (1 Rs 21.5), surpreso (Sl 77.3 [4]) ou contrito (Is
57.15). Pode estar sereno (Pv 17.27), ciumento (Nm 5.14) e paciente ou orgulhoso (Ec
7.8). As pessoas podem se caracterizar por um espírito de sabedoria (Dt 34.9) ou de
prostituição (Os 4.12).
Finalmente, ruah denota toda a consciência imaterial do homem:
“com o meu espírito dentro de mim, eu te procuro diligentemente” (Is 26.9);
uma pessoa sábia “domina o seu espírito” (Pv 16.32; cf. Dn 5.20);
no “espírito [do homem a quem o SENHOR não atribui iniquidade] não há dolo” (Sl 32.2)…
A primeira é o trecho que explica “o ruah (espírito) de alguém pode estar triste ou contrito”
(1 Rs 21.5; Is 57.15; cf. Is 54.6; Dn 7:15; Jó 17:1; Sl 77:3; 143:4), do mesmo modo que pode estar
alegre (Lc 1:47; 1 Cor. 16:18; Sl 16:9). Nestes casos o “espírito” (ruah) da pessoa se refere ao seu ser
interior, seu íntimo, sua força vital ou ânimo (cf. Js 2:11; At 18:25; Rm 12:11). Assim, podemos
entender melhor o que Paulo registrou em Efésios 4:30, dizendo que não entristeçamos o
espírito santo de Deus.
Ou seja, um “ruah” (espírito) estar triste não é uma ideia nova criada por Paulo nem exclusiva deste
versículo, mas as próprias Escrituras hebraicas já mencionaram uma situação em que o espírito de
Deus foi entristecido por seu povo antes, quando violaram sua aliança (vide Is 63:10).
Por isso, entristecer o espírito santo de Deus é, basicamente, entristecer ao próprio Deus no final das
contas, isto é, deixá-lo, por assim dizer, chateado (ex.: Gn 6:5,6).
Em outros trechos das Escrituras as pessoas se referem ao seu próprio “espírito” (ruah) também. Mas
isso não quer dizer que o espírito delas era algo à parte delas, mas é uma referência ao seu próprio
interior, o íntimo do seu ser (cf. Jó 6:4; 32:18; Sl 77:6). Como ruah designa o ar em movimento dentro
do ser, essa palavra também designa figuradamente os pensamentos interiores, a consciência, o
centro dos sentimentos, conforme as bibliografias lidas acima. Por exemplo, quando o texto bíblico
fala do “espírito” de Paulo, está se referindo às reações que ele teve em seu interior diante de
certas situações, ou se refere à sua consciência/intenção (At. 17:16; 18:5; 19:21).
Yeshayahu (Isaías) diz que busca/procura a Deus com seu “espírito” ou seja, em seu interior, no mais
íntimo de seu ser e na sua consciência. Da mesma forma, o Mestre afirma no livro de Yohanan
(João) 4:23,24 que Deus não seria mais adorado apenas em Jerusalém ou em Samaria, antes seria
adorado por aqueles que o adorariam “em espírito” e em verdade, isto é, aqueles que, em
qualquer lugar, o buscassem e o adorassem em seu próprio interior, no mais íntimo de seu ser, isto é,
na sua ruah (espírito, mente, consciência).
Isso significa que, assim como o vento (significado original de ruah) não é visto, mas está em todo
lugar e pode-se percebê-lo, Deus também é ruah (v. 24), ou seja, Ele é invisível, mas está presente,
vivo e ativo, e pode ser encontrado e adorado em todos os lugares do mundo.
(Para mais detalhes veja o estudo “Adorar a Deus em espírito e em verdade” no blog Bíblia se
Ensina).
O texto antigo de Isaías 40:13 da Septuaginta, como vimos, publicado ainda antes do Senhor vir
ao mundo, refletiu-se nas traduções gregas das cartas de Paulo em Romanos 11:34 e 1ª Coríntios
2:16, onde em ambos versículos lemos: “quem conheceu a mente do SENHOR?”
Logo, ruah (espírito), também trata-se da “mente de Deus”, ou seja, de sua intenção. Outras
semelhanças com isso são Jó 20:3, Sl 77:6, Dn 7:15, Atos 19:21.
Concluindo, ruah significa vento e designa o ar em movimento. É dado por Deus e a causa da
existência, isto é, o fôlego de vida, a vitalidade do ser humano e dos animais. Também exprime o
sentimento, as intenções e reações humanas e divinas. Ruah (espírito) nunca foi, em sua etimologia
original, uma pessoa à parte do indivíduo ou uma espécie de alma que pode viver separadamente de
seu corpo, mas é algo intrínseco a ele, o seu ser interior, seu íntimo, o próprio indivíduo. Todos temos
uma ruah (espírito, mente, consciência), e é através dela, isto é, de nosso próprio ser interior, que
pensamos e nos conduzimos.