Você está na página 1de 1

o triplo filtro

Manuel Poirier Braz (Advogado e Gestor de Empresas),


in VER, Direito e Gestão, Janeiro-Fevereiro '07

Temos, como Povo, uma enoffi1e tendência para o boato ou seja, para espalhar publicamente
notícias não confiffi1adas.
O boato é uma constante, que invade, de forma insidiosa, a nossa vida política, social,
profissional e familiar .
Quase sempre anónimo e sem rosto, o boato converte-se no instrumento favorito dos que não
prezam o rigor das afiffi1ações e não têm a coragem moral de as assumir .
Encontramo-lo, com muita frequência nas empresas, onde alimenta os circuitos informais, muito
mais velozes do que os canais formais de comunicação.
Alguns gestores do tipo "paternalista" põem a circular, através da via do boato, os factos que
desejam fazer chegar, mais rapidamente, aos trabalhadores, dando-lhes a falsa convicção de que
aquela notícia ou informação provém deles próprios quando, na realidade, estão a ser manipulados.
A comunicação social, acobertada impunemente na confidencialidade das fontes de informação,
não hesita em instituir, com lamentável frequência, algumas figuras públicas, em alvos preferenciais
de campanhas de destruição -verdadeiros assassinatos civis -baseadas em factos não verídicos,
meras especulações ou notícias não confiffi1adas.
Assim se faz um mau uso da liberdade de imprensa, próximo da libertinagem e se projecta uma
má imagem da democracia.
Na verdade, devemos ser verdadeiros e rigorosos em tudo aquilo que afirmamos, sob pena de,
um dia, "o feitiço se virar contra o feiticeiro".

Na Grécia antiga, Sócrates tornou-se famoso, não só pela sabedoria, mas sobretudo pelo grande
respeito que dedicava a todas as pessoas. Conta-se que, certo dia, um conhecido se abeirou do grande
filósofo, para lhe dizer: ~-- _c-~- -

-Queres saber o que ouvi contar sobre o teu amigo?


-Espera um minuto! respondeu Sócrates; antes que me digas seja o que for, quero que passes
num pequeno exame. Chamo-lhe o Triplo filtro.
-Triplo filtro? Perguntou o outro.
-Correcto! Continuou Sócrates e acrescentou: antes que me fales sobre o meu amigo, pode ser
prudente filtrar três vezes o que me vais dizer: é por isso que lhe chamo o exame do triplo filtro! E
continuou: o primeiro filtro é a VERDADE. Estás absolutamente seguro de que o que me vais dizer é
verdadeiro ?
-Não -disse o homem -realmente só ouvi falar sobre isso e. ..
-Bem! Retorquiu Sócrates. -Então, não sabes se realmente é verdadeiro ou não?
-Agora permite-me que utilize o segundo filtro: o filtro da BONDADE. O que me vais dizer
é algo de bom?
N- 1 ' .I
-ao,
-Então, pedesejas
O contrario
dizer-me algo de mau sobre ele, porém, não estás seguro de que esteja certo.

Mesmo que agora quisesse escutar-te não poderia, porque ainda me falta um filtro: o filtro da
UTILIDADE! Servia-me, para alguma coisa, saber o que me queres dizer do meu amigo?
-Não! Na verdade, não.
-Bem! Concluiu Sócrates. -Se o que desejas dizer-me não é verdadeiro, nem bom e tão-pouco
me será útil, por que iria querer saber?

Meu caro leitor use este triplo filtro, cada vez que ouvir comentários sobre algum dos seus
amigos mais próximos e mais queridos.
A amizade deve ser considerada como um bem precioso e inviolável.
Nunca perca um amigo, um colega ou mesmo um concorrente, por algum mal entendido ou
comentário sem fundamento.
Tenha um bom dia e, de preferência, sem boatos...

Você também pode gostar