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Perseguidos sem trégua durante aproximada­

mente 20 anos pelas forças da ordem, Lampião


e seu bando de cangaceiros atravessaram, de­
vastaram e saquearam o sertão do Nordeste.
Desafiaram não só as autoridades policiais e
políticas da região, como também o poder cen­
tral do Brasil.
Guerreiros valentes para uns, brutos san­
guinários para outros, os cangaceiros sob o
comando de Lampião atuaram de 1922 a 1938,
data em que as forças da ordem puseram fim
a seu reinado de terror. Surpreendido numa
emboscada, Lampião, sua mulher e nove de
seus companheiros encontraram a morte em
ESise Jasmin 28 de julho de 1938, na grota do Angico, no
estado de Sergipe. Foram todos decapitados
(p. 295). Suas cabeças foram levadas de cida­
de em cidade e expostas em praças púbficas
com uma mise-en-scène estudada. Em se­
guida, foram examinadas por médicos-legis-
tas, que nelas tentaram detectar estigmas de
monstruosidade, e depois exibidas no museu
ligado ao Instituto Nina Rodrigues, da Bahia,
até 1969, quando grandes multidões se deslo­
cavam para vê-las.
A morte desses bandidos, contudo, em espe­
cial a de Lampião, foi contestada por uma par­
te do povo do sertão, que acreditava, e ainda
acredita, na invulnerabilidade de seus heróis.

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. '::ÍSS5

Perturbador ao extremo, herói de uma consolida-se como o "senhor absoluto do ser­


grande tragédia da qual foi ator e diretor e que tão", procurando assegurar sua dominação
não termina após sua morte, Lampião é um sobre uma vasta zona e sua população.
dos personagens mais emblemáticos e contes­ Manipulador, estrategista, dotado de um
tados da história brasileira. Aquele que poderia senso inato-surpreendente para á época-de
ser considerado um personagem sem enverga­ comunicação, Lampião não demora a exibir
dura, cuja zona de influência e poder de dano um banditismo ostentatório, no qual a vesti­
pareciam restritos a uma região miserável, foi, menta, o adorno e o fausto conferem um relevo
em sua época, o revelador das fissuras de um singular aos crimes e excessás de todo tipo qüe
sistema político, econômico e social, borrando os bandidos cometem. Vestindo-se de maneira
a imagem de uma sociedade que se pretendia extravagante, com roupas de cores gritantes,
moderna, unificada é coerente. os cangaceiros usam chapéus imensos enfei­
tados com medalhas e exibem anéis, colares e
O SENHOR DO SERTÃO broches. Por mais arcaico que fosse seu modo
Nascido em 1898 no sertão de Pernambuco, de vida, Lampião ainda assim soube incorporar,
na região do Pajeú, que foi o berço do canga­ em seu cotidiano, novidades geralmente des­
ço e de onde saíram seus ilustres predecesso- conhecidas da população do sertão; cartões de
res - Cabeleira, Antônio Silvino, Sinhô Pereira, visita e cartões-postais com seu retrato no ver­
Casimiro Honório -, Lampião, a princípio, é so, o gramofone, a máquina de escrever e, por
fruto de uma sociedade marcada pela violên­ fim, a fotografia ou, ainda, o cinema. Lampião
cia, na qual é forte a tradição do banditismo de foi o primeiro cangaceiro a ter sido entrevis­
honra. Lampião, em 1922, toma a frente de um tado, posando para uma série de fotografias,
movimento que, sob muitos aspectos, ele re­ insistindo permanentemente para que fossem
volucionará. Chefe de bando, instituira rituais, divulgadas na imprensa ou distribuídas entre a
valores e um estilo de vida bem específico no população do sertão. A obsessão pela própria
seio do grupo. Fez do cangaço um modo de imagem levou-o a transformar sua vida num
vida, até mesmo uma profissão; percorreu, espetáculo-a encená-la - para consolidar seu
dominou e devastou um imenso território à prestígio, demonstrar sua força e, evidente­
frente de um grupo que contou até 100 ho­ mente, aterrorizar seus adversários.
mens, fragilizando o equilíbrio político e eco­ Fato surpreendente para a época, e numa
nômico do Nordeste brasileiro e colocando em região em que a oralidade sempre prevaleceu
perigo a autoridade e a legitimidade do poder sobre o visual, os cangaceiros, bem como seus
de Estado no sertão. À frente de seu bando perseguidores, nos legaram uma profusão de
de cangaceiros, Lampião atacava e arrasava testemunhos fotográficos. Contam-se cerca
propriedades e vilarejos, extorquia parte da de 250 fotografias relativas ao cangaço, reuni­
população, introduzindo o rapto em seus mé­ das em diferentes arquivos públicos e coleções
todos crapulosos e jogando sutiimente com privadas do Nordeste. Salvo um número muito
os antagonismos de clã entre os potentados restrito de imagens, o conjunto dessas fotogra­
locais. O recurso a uma violência sem limites, fias ilustra a história de Lampião. As imagens
à castração, às mutilações, à marcação com repertoriadas cobrem um período que vai de
ferro em brasa permitiu a Lampião aterrorizar 1922, data dos primórdios de Lampião à frente
os sertanejos que não o apoiavam e consolidar de um grupo de cangaceiros, a 1938, data do
sua reputação de crueldade. extermínio de Lampião e seus companheiros.
Espécie de guerreiro todo-poderoso, que di­ Muitas dessas imagens foram reproduzidas na
ziam ser invulnerável, gozar de proteções má­ imprensa da época, à qual eram evidentemen­
gicas ou ter um pacto com o diabo, Lampião te destinadas.

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Enquanto seus ilustres predecessores não xeque o poder e os que o desafiam? Nosso ob­
haviam se rendido à objetiva, Lampião, du­ jetivo é analisar o status ambíguo dessas ima­
rante todo o período em que governou o can­ gens, a princípio destinadas a ser uma marca
gaço e reinou sobre o sertão, vai empenhar-se do real, no calor da hora, porém dotadas de
em ilustrar, com inúmeros retratos, os gran­ uma significação política e impregnadas de
des momentos de sua vida: sua "chegada", uma forte dinâmica. Analisaremos essa refe­
em 1922, à frente de um grupo de cangacei­ rência à imagem através das fotografias e do
ros em substituição ao ex-chefe de bando filme realizado por Benjamin Abrahão em 1936.
Sinhô Pereira, sua entrada triunfal na cidade
de Juazeiro em 1926 e sua incorporação, jun­ OS REGISTROS DE BENJAMIN ABRAHÃO
to a 49 cangaceiros, aos batalhões patrióti­ Benjamin Abrahão Botto, nascido em 1890,
cos que lutavam contra a Coluna Prestes no originário do Líbano, emigrou em 1915 para
sertão do Ceará; depois, nos anos 1930, o o Brasil, onde já morava parte de sua famí­
advento de uma nova forma de banditismo, lia. Nos anos 1920, instalou-se em Juazeiro, no
mais sedentário, com a integração de mulhe­ Ceará, como comerciante, e logo se tornou
res. Enquanto as forças da ordem não conse­ secretário pessoal do Padre Cícero. Benjamin
guiam agarrar o Rei do Cangaço em seu antro, Abrahão promoveu a visita de Lampião a
este último teve o topete de aceitar a oferta Juazeiro em 192ó e coordenou as diversas au­
do fotógrafo e cameraman Benjamin Abrahão diências que ele concedeu aos notáveis e per­
para fazer um filme sobre a atividade de seu sonalidades da cidade; foi também ele que
bando. Esses registros realizados em 1936, fez a ponte para o jornalista Otacílio Macêdo
verdadeira provocação, deveríam constituir entrevistar Lampião e arranjou as sessões de
um instrumento para a glória de Lampião e fotos com os fotógrafos Pedro Maia e Lauro
um desafio para seus adversários (pp. 285- Cabral de Oliveira. Foi nessa ocasião que con­
294). Nessa profusão de imagens, podemos cebeu o projeto de fazer um filme documentá­
não só ver a marca de um homem seguro de rio sobre Lampião.
sua invulnerabilidade, como igualmente per­ A partir de 1934, Benjamin Abrahão exerceu
ceber, em-filigrana, uma tentativa de conjurar a função de coiteiro, fazendo inúmeras vezes
o perigo e a morte. o trajeto até Recife com somas elevadas des­
Paralelamente a essa proliferação de ima­ tinadas a comprar bebidas caras e munições,
gens suscitadas por Lampião, surgiram foto­ sumindo em seguida no sertão durante certo
grafias impressionantes encomendadas por tempo. Essas atividades permitiram-lhe entrar
seus adversários. Às fotos que mostravam as em contato com o grupo de Lampião e tor­
forças da ordem em ação ou posando com nar-se seu fornecedor. Já tendo estabelecido
determinação, sucederam as de cangaceiros laços de amizade com Lampião em Juazeiro
presos; mais tarde, nos anos 1930, imagens em 1926, não lhe foi difícil ganhar a confiança
de cadáveres mutilados. Essas fotografias do cangaceiro.
circularam e incendiaram as imaginações. A Após a morte do Padre Cícero, em 1934,
imprensa era uma espécie de terreno de luta, Benjamin Abrahão, a fim de filmar e foto­
onde a imagem fotográfica tornava-se arma grafar Lampião, aproxima-se de Ademar
e instrumento de comunicação. Albuquerque, negociante e dono da Abafilm,
O que nos revelam essas imagens? O que empresa de distribuição de filmes e de venda
exprimem para além de sua dimensão do­ de material fotográfico e cinematográfico ins­
cumentária? Como interpretar a utilização talada em Fortaleza em 1934. A empresa devia
da fotografia pelos autores da repressão por encarregar-se da distribuição do filme dedica­
ocasião de acontecimentos que punham em do a Lampião em todo o Brasil, bem como no

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exterior, com o apoio da Zeiss, firma alemã de No filme, a meio caminho entre o documen­
matéria! fotográfico e óptico, implantada no tário e a ficção, Benjamin Abrahão,compartilha
Brasil desde os anos 1920 e representada em conosco o cotidiano do grupo; np entanto, nes­
Fortaleza'pela AbaFilm. É muito provável que ses momentos aparentemente tirados da vida,
t
outra empresa alemã, a Bayer, também insta­ os cangaceiros atuam o tempo todo. Encaram
lada no Brasil, onde distribuía produtos farma­ a lente permanentemente; mesmo represen­
cêuticos, tenha participado financeiramente tando um simulacro de combate, por exemplo,
na elaboração do filme com fins publicitários. riem, recuam com os olhos pregados na lente,
Mas foi só em 1936 que Benjamin Abrahão divertindo-se em imitar a si próprios; Lampião
pôde realizar seu desejo de filmar Lampião, ao dedica-se a falsos preparativos contra inimigos
conseguir entrar em contato com ele por inter­ imaginários, dando ordens aos seus homens,
médio de coiteiros do bando de cangaceiros. O que riem às gargalhadas; Lampião avança para
filme, em preto e branco 35 mm, foi rodado de a câmera com uma faca na mão e dirige-se a
junho a outubro de 1936 na caatinga. Os can­ um público imaginário; Lampião costura à má­
gaceiros eram filmados no meio em que viviam, quina, vários cangaceiros sangram um animal,
em seu território. Durante diversas temporadas, outros dançam alegremente, voltando perma­
o cineasta morou com o grupo de Lampião e nentemente o olhar para a câmera. Uma cena
filmou cenas de seu cotidiano. Nelas, os canga­ é particularmente teatral, aquela em que, num
ceiros aparecem nas mais diversas atividades, profundo recolhimento, toda a trupe reza, reu­
dançando, rindo, Lampião costurando, lendo nida em torno do chefe, que lê o ofício religioso.
um livro de Edgar Wallace, sendo penteado por Benjamin Abrahão fotografou separada­
Maria Bonita, dando ordens, exibindo com or­ mente as diferentes unidades que constituíam
gulho o armamento do grupo e demonstrando o grupo de Lampião (pp. 293 e 294). Todas es­
sua capacidade militar, acariciando dois cães, sas fotografias parecem obedecer ao mesmo
escrevendo uma carta com uma pena, pas­ ritual: fornecer uma imagem idealizada do
sando em revista seu estado-maior... O grupo, grupo, manifestar sua coesão, enfatizar o sta-
confiante, rendeu-se à câmera, desvelando os tus particular de certos cangaceiros com rela­
momentos que considerava os mais significati­ ção ao chefe. Foi, aliás, essa imagem de coe­
vos de sua vida de cangaço. rência e coesão que permaneceu na memória
Não foi por acaso que Lampião aceitou ser dos antigos cangaceiros que sobreviveram ao
fotografado e, sobretudo, filmado por Benjamin massacre de Angico.
Abrahão. Sempre desconfiando dos jornais, que Não existe fotografia mostrando canga­
publicavam sobre ele artigos cujo teor ele não ceiros sem armas. Eles as exibem segundo
podia controlar, Lampião certamente compreen­ critérios de representação sempre idênticos,
deu que as fotografias e o filme de Benjamin conjugando força e riqueza. Observamos,
Abrahão lhe permitiríam impor uma imagem contudo, que, mesmo existindo uma unidade
sobre a qual nenhuma intervenção ou distorção nesse requinte e na ornamentação dos atribu­
seria possível. Enquanto escritores e jornalistas tos guerreiros, os motivos e ornamentos são
zombavam de sua linguagem tosca, que denun­ diferentes de um cangaceiro para outro, cada
ciava sua origem camponesa, sua imagem foto­ qual permanecendo livre para expressar sua
gráfica e cinematográfica, muda e incontestá­ individualidade.
vel, devia mostrar ostensivamente seu êxito e o Maria Bonita, a companheira de Lampião,
de seu bando. Benjamin Abrahão foi a primeira diferencia-se das outras mulheres: veste-se
vítima desse jogo de cartas marcadas: morreu quase sempre como as mulheres da cidade
em Águas Belas, no estado de Pernambuco, em e ostenta inúmeras joias. Distingue-se igual­
9 de maio de 1938, com 42 facadas. mente das outras mulheres ao posar com

300
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Sayíâo ■ © Projeto Já agn-ovado ons
2a. B3os;nssão é Viílcaa eía
ok Solpejííoteloíorlo

O Deputado Demo-
crito Rocha protesta
com veemencía
■O caso dos 242 .C9610S .devidos pelo Governo
Federal aos contratados e fornecedores do Serri-
ço EspcítmealaJ dí ír.rigsç&o do íJcrdeHe. ttri»*o
rctewate .aoe mtse» de Abril. Maio e Jaaho da
1934~lem dado quH- Inzer, '■
Apreee.otaclo ezn -£íêt«n.btfo. o projeto o. 201,
pelo deputoeo Dt.aspcriu? .Rocha, leve o mesmo
a sproveçüo da. Cpaxisfão de Finanças e lol um-
hem aprovado em ia. e 2a. dincurs/j^s copleuarlu
d» Cntcar».
Foi Quacdo. * mandado do ar. Pedro Aleixv.
o deputado mineiro- Stmsò da Cucb» requereu a
roitfl co projeto í CexnlM&o de F|Daaç«». pnra
ver oavldo õ.AHòÍísIío- da: Agricultura.
Ore. 0 .proietp fórh JustíJictdQ exatameois
cctn doía oíicins do ía.Asricirlrur*. pedlnft» eo
previdente da Republico nqueíe credito.
Eítavn provedO^ poíe. o iniuito rncgrlotorln
liv JWer úh tat>loria.. H*o obstanle. o er. Dto^
t-rílo jtccb» çxJfelo-tb* o cl cio do Ministro publi­
cado no «Diana Oíiclftl* .aioda dê 3J de Julho.
■ Wjts p projeto cnniír,nav* jóea d« ordt-m do
dio c o dcçuiecp DemOffito Rocbe. «m viste <jis«u»,
Bpre*et;titi teouerfOJtcio pcrtindo a Induado do
ít-ts»o r,c avelfO das ínut.ertas a víiiflr.
V>ja ** «iters. o qo9 acóotfcoeu ame ultima
ri-qov.*lOjeow,p*Ja» .discursos abaixo, proüuoclhdf-í
oo «estão co verpers de A‘o!al:
*0 *r. Drmocr-iQ Rocba (fofrrv a atai-Sr.
preal, enur. fc*» mela c-e jjcbs *en»na* tive »«;**•
Mdtrde x£é etjCBicictoftr a v. m-x va requerlmeolo
pedindo ltic1o*3.«, tm ordem do dia. do projeto o.
O nosso companheiro Jofio _Jsq’>e». em cro i 3(Jl-A. de 1930. )& «provado em primeira e segan­
e*c* publicada ontem neste joroa». mvcieoa. pvlol do dUcuííflo.
primeira *tx, u sensaç-ioD»! noticia de qutt cm re-l Este projeto, tejro que eproTudo em «egun-
potfer tptojçrafjco do Ccarà vem *e snirtçaoflo. b» j tí» di*cu«íio, Foi prcjadJcodu por nm requerimen­
letípo*, á arriscada e audaoloça tareia "do ap« j to d.e otn er. dvpuiudu mitieiro, solleüaadc o v.
nliü- um Tiltne -elaemstotrrtirico de LstopeOi*. co ; ex. que o (izevsv vollur á Comissão do Fíoodçb»,
1be“do o Am ílsjrranie* pttorescPs, nos senCtcs Jo- i por» . er onrldo o ar. MioUtrv da AgrlçuUur*. Fer*
■ioJ do Nurdeetc. Juatameote com sus mulher r cebl iciedlatcBienle. no requcrJtnento daquete no­
««o» sequaz»?*. bre coitçs de otn Estado do sul. o propostlo do
A noticia. roSo gtodo cofiitltuisío ura turo doe prejudicara minha tciclatlVR. que ofio v(«nru h
mui» lotercsMptes. daria ataryetn a durldaaa des- ohertura de crídrto pora aquislçtu» ou compra do
cobflsaçaa em torno de tu» veracidade, enquanto prertios para o Mlolsteno dn Guerra, ou qualquer
* impreoea nôo documentosve o vcnio quual ío- '•■bjelUo de nsiur.fz* contraria aos interesses da
crivei narrada pelo çrooi«ú>. Nbç^o t«n Dtnlmminteresse poMtco, mas con-
Por isso mevcco, tudo envidamos. de ontem «ubunoclavs utu pedido leito pelo «r. Ministro da
para boje. ao sentido de poder ofertar sos nosso* Agricultora m> »r. PrefWeolc da Republica du
leitores » prov# io*oÍiíaiBvel de que. etett.o* crçdju. secessarla ao pasnoralo de otn irlocetre
meole. um cor&Jor© o inteligente amador conse­ -de reocicceotoa atraír-dos de tuDClonarlo* con-
guira otilrarcm contacto dom o temível bandolei­ tratados dn Serviço de Jrrigcç&o d<i Norde.te.
ro. obtendo o-POP*e»t.laí«»to do toet-mo par* Io- atraso estr que -vem desde o soo de 1934.
tojçrafiMoe filmá-lo pcj di versou «specioa. V. ex. porém, a despeito do projeto ur sida
Os ooaeoa desejo» forno cornado* de rx>to JwpW».cs(J«- cem a transcrição ür um oíicio dc »r.
coo» maito maior prwSeM Co que esperavamos .Miotftro <}a Agrjc-ultura. txpliceof*.- o aatarezs da
e oS lém os leitores, *o iad»? deei» noticia. du*» despeza e a necessidade de ser aberto o credito',
•eflçaciotMtliF foic-grelia», coibidas peio eovladoda deferiu o reque/itoíoio daquetc depufado. O pro­
«Aba-Fiíme* em pieaa tealtt nordestino. jeto. vitime dOFSé lotqitó proteíalorto e Juconvc^
N* prltoelie. 7«.*e o arupo do l-impeio. o nietJte ao* interesse» do meu Estado, volloo, pote.
qoal lisjurs ao 1-tlo de sua snullwr e do *r. íien- 6 Cotnistfio tle Ficnoças.
jamlo Abftdo, qfle loí O Iniograro-nmador autor Depdla <Je me baver eoteosUdo cora o ar. da-
da «enaaciodsi FepõrMçrm pulado Pedr-i Aleixa. teader da mntorln. expondo
N*:aseumia. lígutam, lado t> lado. n Urtivtl Jhv vs»«>* circunslBOciae, que or» relembro, «gusr.
íadaora. ius rsuJber. ct*m o* dedo# cheios de dei rr. presidente, que t- projeto volvesse 6 ur
ancí#, e o corajeso lotoçrajo-acaadsr, tendo •* tt dem do dl*, sflm de ser aprovado ou rcpvita-JP
racofo uma maqulnn coa p dirrico du II- t-ut leteeirn dhcusfSo
»e». Cxitao tc; dwsç- tal prorlder c'í. que. allá», rao
Ewe cavalheiro, qno 1e*. por multo* anca, o bavia «tido prometida, eccaznicbei « v. ex. nat
«crelarlo porticotar <Jo Padre Cícero, e já coche- lequvrímeMo pedindo a respectlra ioctut&O eto
«la Latnprâo deítde qo« » iseaxno t»lew noJoa ordem do dia.
JClro, meisu ao cabeça a Idé* de apanhar uma De*** leü». tt. presidente, v. ex drrlvotl
pcllcol* ciaetaaiograficí» do opdaçJcsr- bandido e para o plenário » creisflo. e o meu requerlmemo.
*etí» astcclrs; c, poro lrj*o. cor4aod.o com o p* . ba ceico dc qufoze dias. consta do avulso Du­
trnclnio ds *Ábn Ffjrar*. Jli estere repetides re* rante tíBo fftr.tsoc. «3s malr. Jigorou em ulisoiti
tea ona locais o ode atús t> grupo *ÍDl«!ro. cota o legar. iDdllerente 6 marcha das decanta malvrias
, rri Je* grsadô amizade. .aUogJndo. asifím. u #eas que lhe estavam «olecedentcs e a» moálücaçóea
■. ativos. que ae «perani no mesmo avulso, «o virtude de
. As doas lologrsttas que hoje publicamos sfto e.proveçao de projeto» c-u salda de outros.
BQ alestado d* foteUgeaci* e do ssbrdii Irlo des­ Hoave um dia em que a matéria Sol esgota­
se moço. qne. grsçst A mjft tenacidade o a -eeu da qudsI totBlmeotç o o meu rvquerlmeoto iieve
desiensor. cbievo aqoiM> que o.s maiores repórteres quasi cm primeiro lugu.r. Vieb» tu. «pesar de
fc topjllcos do Rio ainda cflo -cocfegalram. doesle, ccmpareceudo ilComara cca '-o uolco ln>

301
os homens de confiança de Lampião, como Luís
Pedro ou Juriti, o que atesta seu status especial
(p. 291). Lampião arroga-se o privilégio de simu­
lar um combate sozinho, quando sabemos que os ABAIXO
cangaceiros sempre lutaram em grupo. Benjamin Abrahão.
Na maioria das fotografias de grupo, as mu­ O cangaceiro
Corisco e Dadá, sua
lheres denotam seu pertencimento a um deter­
companheira, com.a
minado cangaceiro, ao mesmo tempo que se cachorra Jardineira.
integram à comunidade. A partir de 1930 e da Sertão nordestino,
entrada de Maria Bonita no cangaço, formaram- nas proximidades
do rio São Francisco,
se casais. Os chefes de bando que afirmavam seu
1936. Arquivo digital.
status em inúmeras fotografias também fizeram
Acervo Instituto
questão de aparecer como maridos ou compa­ Moreira Salles/©
nheiros, o que traduzia uma modificação radical ICCA e Sociedade do
na estrutura do cangaço. As fotos de casais tira­ Cangaço

das por Benjamin Abrahão permitem ao mesmo PÁGINA ANTERIOR PÁGINA AO LADO
tempo descobrir tipos diferentes de relação ho- O Povo, Fortaleza, O Povo, Fortaleza, .
mem-mulher, concepções diferentes do cangaço 29.12.1936, ano IX, 31.12.1936, ano IX,
n. 7.413, capa. Acervo n. 7.415, capa. Acervo
e personalidades originais.
O Povo O Povo
Embora a maioria das fotos realizadas por
Benjamin Abrahão manifeste uma preocupação
com a mise-en-scène, algumas delas remetem a
modelos que, aparentemente, estão muito distan­
tes da cultura à qual os cangaceiros pertenciam.
Ao passo que os outros chefes de bando apare­
cem nas fotografias como cangaceiros, e exciusi-
vamente como tais, Lampião e Maria Bonita deixa­
ram-se seduzir por outros tipos de representação:
ora posando à maneira dos burgueses do litoral, ora
imitando o gestual de atores de cinema famosos,
cujos retratos viam nas revistas ilustradas. É possí­
vel ver em certas imagens uma forma de provoca­
ção, um desafio lançado à alta sociedade do litoral,
não para questionar sua legitimidade - Lampião
não tem consciência política-, mas para significar
que a interlocução se dá de igual para igual.
Numa das fotografias de Benjamin Abrahão,
Maria Bonita está sentada, cercada por seus cães
(p. 288). Traja um vestido de mulher urbana, mas
usa as indefectíveis alpercatas, indispensáveis para
caminhar na caatinga. A maneira como cruza as
pernas, como acaricia seus cães, a meiguice de seu
olhar, tudo evoca o conforto de uma mulher mun­
dana ou uma atriz. Embora Maria Bonita tenha se
apropriado dos modelos de representação de um
mundo que lhe é alheio, age com naturalidade.

302
iW o
I Oi
■'¥ S
Podemos nos perguntar qual imagem de si mesma,
qual identidade, ela reivindicou para posar assim.
Os jornalistas, a propósito, não deixarão de ironizar
suas pretensões a adotar maneiras e um tipo de
representação estranhos a seu universo.
Outra fotografia mostra Lampião em pé, lendo
um livro ao lado de Maria Bonita com seu vestido
de citadina. Dois cães acorrem até Lampião, que,
curiosamente, carrega o fuzil a tiracolo. Tem o ar se­
vero de um pregador e parece dirigir-se a um públi­
co. Trata-se de seu bando ou daqueles que contem­
plarão a fotografia? Estamos longe da imagem de
guerreiro arrogante propagada por Corisco. Nessa
época de sua vida, Lampião não tem mais como úni­
ca ambição ser um chefe guerreiro; exerce também
outras funções no seio do grupo; introduziu a leitura
do ofício religioso, é encarregado das r.eiações com
os potentados locais e os ricos fazendeiros a quem
recebe em audiência, como um monarca; arbitra os
litígios no âmbito do grupo, lê, para seus compa­
nheiros, poemas de cordel e artigos de jornais, so­
bretudo os que lhe concernem. Aquele de quem os
jornais e escritores contemporâneos sublinhavam a
falta de instrução e o quase analfabetismo é aqui
representado, em pé, lendo, com certa solenidade.
Maria Bonita, ao seu lado, não faz nenhum gesto
Benjamin Abrahão.
na direção do companheiro: olha fixamente para a
Lampião e Maria
Bonita. Sertão
lente. O fotógrafo representou um casal cujos la­
nordestino, nas ços são tão evidentes aos olhos de todos que eles
proximidades do não experimentam a necessidade de demonstrá-lo.
rio São Francisco, São personagens que já entraram para a história e
1936. Arquivo digital.
se comportam como tais. A fotografia registra um
Acervo Instituto
Moreira Salles/© momento de repouso na caatinga: Maria Bonita
ICCA e Sociedade do está sentada, as pernas cruzadas, acariciando seus
Cangaço dois cães. Ao seu lado, em pé, Lampião parece ab­
sorto na leitura de um jornal ou uma revista, pro­
vavelmente A Noite Ilustrada. Todos os ingredientes
de uma fotografia "burguesa" estão presentes, mas,
na falta de filhos, são os cães que posam ao lado
de Maria Bonita (lembremos que a vida no canga­
ço não permitia conservar as crianças, geralmente
entregues a pessoas de confiança). Lampião segura
desajeitadamente o jornal com as mãos cobertas
de anéis e, na última página, vemos claramente
a fotografia de uma mulher em trajes sumários,
o que é surpreendente quando conhecemos seu

304
extremo recato. Os cães, assim como o cenário na­
tural, as moitas, o solo juncado de lenha seca, as
árvores raquíticas, a atitude canhestra de Lampião,
seu jeito requebrado de andar, tudo isso recoloca
inevitavelmente esses dois atores no contexto.cruel
do cangaço.
Benjamin Abrahão produziu inúmeras fotogra­
fias em que os cangaceiros tinham a ilusão de
controlar sua imagem. No entanto, as fotografias
mais comentadas na imprensa são as que ilus­
tram momentos da vida cotidiana do bando e que
não são objeto do mesmo controle por parte dos
cangaceiros. Enquanto o primeiro grupo de foto­
grafias deixava transparecer nitidamente a inten­
ção do(s) sujeito(s) fotografado(s), seu desejo de
reconhecimento ou respeitabilidade, sua liberdade
Benjamin Abrahão. PÁGINA 307
de copiar este ou aquele modelo de figuração de Lampião. Sertão O Povo, Fortaleza,
outros grupos sociais, o segundo grupo escapa em nordestino, nas 15.08.1938, ano XI,
parte ao que é mostrado. São fotografias em que proximidades do n. 3867, capa. Acervo
rio São Francisco, O Povo
percebemos claramente a intenção daquele que as
1936. Arquivo digital.
capturou e nas quais vislumbramos o uso que a im­
Acervo Instituto
prensa lhes dará. Moreira Salles/©
Quatro fotografias difundidas em diversos jor­ ICCA e Sociedade do
nais chocaram particularmente os contemporâneos Cangaço

de Lampião e foram amplamente comentadas.


Numa delas, Lampião é mostrado costurando
à máquina. Essa imagem, que afinal ilustra uma
atividade banal para os cangaceiros, pode pare­
cer um símbolo: Lampião costurando sua roupa
constrói e elabora a identidade vestimentar de seu
grupo. Sem essas roupas bordadas tão específicas, Mas o que deveras impressionou os contempo­
não existe cangaceiro. Essa fotografia, evidente­ râneos de Lampião foi a fotografia que o mostrava
mente, foi percebida de maneira bem diversa pelos absorto na leitura de um livro, provavelmente um
jornalistas do iitoral nordestino e do Rio de Janeiro. romance policial, gênero pelo qual tinha um apre­
Na sociedade do litoral nordestino, e mais ainda ço especial. Lampião insistia em ser fotografado
na das cidades do Sul, a costura era apanágio das com um livro ou uma revista na mão, lendo arti­
mulheres. Que coisa mais hilária um guerreiro san­ gos sobre si próprio. Para um homem com pouca
guinário exercendo uma atividade que, a seus olhos, instrução, mas que alcançara grande notoriedade,
colocava em dúvida sua virilidade! emulava os notáveis e políticos importantes do
Uma segunda foto mostra Lampião sendo pen­ sertão, conquistara um território e falava de igual
teado por Maria Bonita. O tema é inusitado, mas é para igual com as autoridades governamentais
visível a ternura que une os dois. É uma imagem de do Nordeste, era de extrema importância mos­
intimidade amorosa. Ignoramos se Lampião dese­ trar que sabia ler e escrever. Lampião lia muito;
jara que a fotografia fosse divulgada fora do filme. escrevia em média três cartas por dia, a maioria
Ser cangaceiro e estar apaixonado não era em ab­ pedidos de resgate, cartas de ameaça ou desa­
soluto uma contradição, muito pelo contrário. fios aos inimigos. A escrita de Lampião era quase

305
fonética e evocava o sotaque nordestino, confi­ fotografias de Benjamin Abrahão foram utiliza­
nando-o à sua região e à sua classe social, o que das para figurar no verso de cartões de visita que
fazia a alegria dos jornalistas e escritores da época. serviam de salvo-conduto. Uma delas estampa­
Totalmente consciente do fosso existente entre sua va Lampião, cigarro na boca, o cáchorro ao lado.
escrita e a dos livros ou jornais, nunca sentiu vergo­ A outra, que originalmente mosfrava Lampião e
nha por isso e continuou a se comunicar por escrito. Juriti, foi recortada a fim de que nela figurasse
Incontestavelmente, a fotografia que mostra apenas Lampião. Esses salvo-condutos ilustrados
Lampião lendo o ofício religioso para seus compa­ com fotografias feitas por Benjamin Abrahão fo­
nheiros ajoelhados foi a que mais impressionou os ram distribuídos por todo o sertão em 1936. Em
jornalistas. Enquanto estes últimos não se cansa­ torno desse mesmo ano, e mais ainda em 1937,
vam de demonizar o personagem, havia coisa mais quando Lampião preferia esconder-se para levar
contraditória do que vê-lo responder com a imagem uma vida quase sedentária, confortável e menos
de um cangaceiro profundamente devoto? Esse pa­ perigosa, sua imagem circulava em grande par­
radoxo foi objeto de um comentário incisivo e irôni­ te do sertão, espécie de corpo figurado que vinha
co na revista O Cruzeiro em sua edição de ó de mar­ substituir simbolicamente o corpo real do guerrei­
ço de 1937: "Fé em Deus e fé no rifle. Lampião reza ro que, antigamente, sulcava a região.
o 'Adoremus' ao cair da tarde para seus asseclas".
Sabemos que na época em que Benjamin
Abrahão rodou seu filme, a vida dos cangaceiros A MISE-ENSCÈNE DA NORTE DE LAMPIÃO
mudara. Haviam enriquecido. Lampião dava-se Publicadas na imprensa, as fotografias de Lampião
com notáveis, chefes políticos e alguns meios abas­ e seus cangaceiros constituíam uma verdadeira
tados do sertão, que estavam permanentemente provocação e foram certamente percebidas pelas
em contato com as grandes cidades do litoral do autoridades policiais e governamentais como um
iil
Nordeste. Lampião, por seu intermédio, adquirira desafio ao qual era preciso reagir. As fotografias
gostos de luxo e conforto. Utilizava o telefone e o ilustrando os sucessos, a riqueza e a invencibili­ ’y.\
telégrafo para lançar desafios a seus inimigos, ti­ dade de Lampião, cumpria então opor imagens V-
nha sempre café quente em sua garrafa térmica, eficazes, indicando nitidamente onde estavam o
possuía um impermeável, uma lanterna, óculos es­ poder e a ordem. Ao espetáculo de um bandido in­
curos, mandava vir revistas e jornais do Rio de vulnerável a despeito de perseguido durante duas
Janeiro, como Fort Fort!, A Noite Ilustrada, O Cruzeiro, décadas, respondiam imagens traduzindo uma
viajava inclusive de caminhão ou automóvel. vontade férrea e uma autoridade implacável.
Cúmulo da modernidade, preocupado com a falsifi­ Ao lermos os jornais do litoral nordestino, fica
cação de sua correspondência e a utilização do seu claro que a fotografia desempenhou um papel
nome por usurpadores desejosos de extorquir a po­ não desprezível na instalação dessa relação de
pulação, mandou confeccionar, em 193ó, em forças entre Lampião e seus adversários. Ao mito
Fortaleza, cartões de visita que faziam as vezes de de Lampião, irão opor um contramito: o do oficial
salvo-conduto e traziam seu retrato no verso. e soldado das volantes disposto a destruir uma das
Sabemos que, a partir dos anos 1930, os coitei- formas mais espetaculares de barbárie do sertão.
ros que se beneficiavam da proteção de Lampião Depois de mais de 20 anos no cangaço, Lampião
em troca de seus serviços costumavam carregar podia se gabar de ter se tornado um personagem
consigo cartas assinadas por ele atestando seu público. No fim dos anos 1930, não sobrevivia mais
status privilegiado. Essas cartas evitavam que graças a seus feitos guerreiros, e sim porque ti­
fossem extorquidos por outros bandos de canga­ nha conseguido tecer toda uma rede de relações
ceiros, os quais, embora estivessem sob o controle de clientela e corrupção no interior do Nordeste.
de Lampião, muitas vezes não resistiam à tenta­ Parecia quase evidente que as forças policiais
ção de se aproveitar de sua riqueza. Em 1936, duas acomodavam-se a esse estado de fato. Essa rede,

306
Trez Tripylaittes a seis
Passageiros
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à Imprensa, O POVO CCfíDCR que *?ta bojí
do fUo. com destino «d

No Local onde tombou e a A. D. C. Norte, conduzindo pM#a-


gtiros. no .momento ca
qos levantavs 9flo. eahi
Aa deaateDçves prwatdítad*» c lo o o tnãr, ss bafs de Cuo-
eiste-nte» de gqe t«rtn «Ido at7o a Impren­ cubara, perto da ilha Sà-
sa. por parle do A380CÍ3Ç50 Desportiva ca. No momento wn que
Ceorenne. durante a prérecte temporada cabografemos. aloda »fto
da luiebol, e qu» culminaram á tarde dç de»conb«cldoa o« deta-
ontem. por oc*bH1o do togo Ceará xBb- ibc*1.
hla, impedeuwco» dò publicar, doroTHole, Rio,15 tHavsgWeattrn)
Soma & Reportagem si© ;0 PO¥0 ©ii- qualquer ootiotarla relacionado com aque­
la entidade
—{Ei. 9,50f- tio de*aé*
tc» de avlâo da «Coo-
dor>, bojo pela ccaobA,
E’ eseo aroelbot rwptwio que pode-
&o.n3ro..ti © Corpo de ^SrgoSipo é seiss rooo dsr a quanto# ndo ««beta aer corte'
zea o íralo-vels e a- melhor tn.etselra de .
morreram oove peaaoas,
seodocloco paaaagelroí e
Compaoheiros expreneermoa o qoífc proteato. *
Fique-se a amai direção da A.D.C.
quatro tr JpuIcoter.O p viao
era o «Anb&DgA», qae
coa o« *perauíafcoi«> cota qoono» pre­ decolárn batls pdncoB
O Ss^gerafo âialeeto Ía3a a ©sta JJotfásl :acüs?,© o Safei» tendeu «agraciar* e qae lhe devolvemos mlnato» do oeroporio do
pejo msobft de boje, poia a Imprensa, ten Rio. coxa destino a Be­
feals a ssísb iu.BSaca^aaê^s do eldo o maior faíordo sltuaçôo em que lém, e qoe dêvla tracei-
[Reportagem do OR. .(SfL PdAfJ. <e eocootra o Tutebo] n«»ta capilát, não íar por Fortaleza amanhã,
representante c-penai Uo O PQYO. em fi.erpipej ■vice oem ptecl»a defasores. 6» JO.SO.
Ademais, tendo a aluai temporada ÜXJA ADVBftTENUA
esportiva se traonlormado. nü que do» AOS OUEíNECESSKTAM
consta* em uo negocio, oa* cujo» lacro* Jé DE VIAJaR Eâl AViõBS
toclatemoutros» Interewadoa além da A. Rio.lbfWer tern POVO)
D. C., eKlflJoroel ooosldera a propagun- —Mais um borrfveí de­
da.de reteiltíoa Jogou como matéria pa­ sastre oerco acaba do
ga, tQuivaleot* a oo comercio, em geral. vcrlUcar com om apa­
relho da CONDOH. Ftx
lôo -pocon tempo qoe om
Depois d© matar toda a parelho dossa cumpo-

a Família f Segue na S.a pag.i


onssfDAOí?
SjaSsSâe©-â© ò JmJaH p©r-
sagnido jp©Jo BsdisjSj
Londre*. 15-AN — .0 «Excb&nz* Telegrnpb» EM©
publica cm» nctlcib procedente de Vfeoa teRundo
o qoaí o funcionário judeo do E-rtroda de Ferro! fampraaw» F3aa2o-
Auítriuo» de nome Ha»e. qae perdera o emprego nal e Gasa des
p<-r ocaí-ift» do Anechlus*. +# sulcldon. depula Ce
t?r bf+c.P-»iõado u eapoja,' ué» HUsoa o a oor«. .E3««ndhD
(Jco* empregada da família. * cojo aerviço ac Rio, ib—AÜ.— Ni> go-
aebeva h» varíoe anOi*. tombem at uUetócu. bluete do mlniaíro áõ
Tr&balbo etfcve rt cuida
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Retânir-ss-á amanha <-»lndar a loiho úa im­
prensa Nacional coçj 4
Cu» da Uoeda.
© C5SH!321®© BS USFSSâ
O Uc i onde tombfu LampeÚo. rolcgraíado- peta r-portagem da 0 POVO. Vê-se, <i0 centro, d
barrecd onde o terrível cangoetlro wzLalara o s<U P. C.:0 nosso *rpres»ntonte, dr. OU Pratà. fi­
MJaEO©
Fraga. 15 — AN — Acabado »»r nonrocado
gura entre os ctmnstanlcs. oxtlnalado por uma crus. Àsettx mostra o cadaver de LatitpeüOi que para JunaçWLq Conselho Supremo de Defera Na Aotiseptico ;e clca-
ati já se encontrava sem # -cabeça. cional. trizaDte.
Aracajó. 3 d* Agdáto porte etn berco môtor. qae. ucn cbete oe btodo
■—Annoe»itdao corre#pond-atõ
que fpl e do O aobordinado a Liapció,
nodcisr da morte de .Vir:POVO viajou em Ceada. de ootae Portogu»#, «e
goboo Parreira—o Lam 5’ vel», veeccodp uma achava em L»goa daC»
peflo, — espantalho de dlatsoota de 144 quiln cie», onde teria quere
no««t ca«tfo(?« « que roe-fro*. par» »tírg!r Pi- c»ber vlrerea e roupa».
brtda», a reportagem e« rnnba/, ondevalflo ncao-Imedtatameoto rutue( pa-
pectol do 0 FOVO em looadà* e* força» qoe ra aquele IoobL oAo *-d-
Sergipe íomon Icgénto* dersm caça to iamigera- corUramio. porém, n ci­
prothleacliu» »!fm de »e do cangaeolro, tado bando, qoa bwvh
transportar para o local FALA O SARGENTO viajado p««ra lugar incor-
da# ocorrência*, onde. ANICBTO lo. Segui, eotão. em per
■fôoeldc pela» Jorçaancb Apóe 85 bora» de pe­ aeguiçóo daquelb caagh-
o comando do teDeote no»» vl»çe», eio*no^ oo- cetro. em balida pela#
Joôo Bezerra, tombara oquelá cidade nlugono», caatlngo», romo de B*;
arrojado cangaceiro, qaeoode tlvemoK OporüinJ tre Montep. Ai ombarijuvi,
tanta» miaerta» canaoa dare de eDÍrovistar o com a misba tropa, com
•0 BrsalL doranto vlntr bravo aargenin Aoiceto poafe òe JO boroeoa. paru
etré* anoa fnJoterrapto».Bodrígusa.um do» comaoPiTPEbaa.&Iim de arlmisr-
Aracaju, a c»pit»l aer- daote» do combate trava nc com o tté. Jofto Be
g}paaa. di«» no local do na fazenda Angico. Eleserra. AquUuJ Internado,
onde fdra travada » ooafm talou ao O POVO: por um uoltclro, do qoe
lota. entre Vlrgtalltto Per — «Comando a votaste Lampe&o cetava acampa
relra « o» loiçe* olagoa da» Corç*» alagoanu com do na tazeada Capim.
Dar, um d(a d« viagem séde em Mola Grande, a T^mel o deliberação de
«a estradado terro até qna) 6 noa do* multa» telí-gralar ao ttc.Bezerra,
Proprlá e, de»ta qoe o governo do mea comunicando Uto «qno o»
cklade 6, («sendo Angico,Saudo tnnolAm para a garrote» catavam nu po» :
JS qoÜomotroK. N* Ira- caça do« bandoleira». ■A volante do sargento Aniceto Roartgute, da Policia de^Atagoús, o qual se encontra ao centro de
P^wdbiiWade de ti*n*- AIÍ, (d Informado de fSep. nft 4.0. púg.) seús soldadas, dtuldamtnte aseizalado, [Fotografia apanhada parã O PO?0}

307
todavia, não foi capaz de resistir ao sistema autori­ os degraus da igreja (p. 295). Em volta de todas
tário imposto pelo Estado Novo a partir de 1937. Para essas cabeças foram distribuídos, com grande es­
o regime de Getúlio Vargas, com efeito, era inadmis­ mero na simetria, as armas, caftucheiras, embor­
sível que Lampião pudesse continuar a desafiar não nais e chapéus dos cangaceiros, b,em como duas
só as autoridades policiais, como todo o sistema po­ máquinas de costura. A disposição das cabeças
lítico centralizador sobre o qual repousava a ditadu­ não foi aleatória: a de Lampião, o chefe, o insti­
ra recém-instaurada. A pretexto de impedir qualquer gador, o arquiteto, o "Rei do Cangaço", foi isolada
manifestação de desordem no território nacional, o das dos outros, está no primeiro plano, na base
Estado Novo, em 1937, incluiu Lampião e seus can­ da composição. Os símbolos da riqueza e da força
gaceiros na categoria dos "extremistas". A sentença guerreira dos cangaceiros estão ali, moldura e ao
não demorou a sair: a ordem era matá-los. mesmo tempo cenário de uma espécie de nature-
Em 28 de julho de 1938, Lampião e parte de sua za-morta macabra. Esses vestígios - bordados, or­
tropa foram surpreendidos pela volante do tenente namentos, moedas de ouro-de um brilho que nos
João Bezerra, em consequência da traição de um dizem estar definitivamente perdido contrastam
de seus coiteiros. Uma vez "terminado o massacre", violentamente com as cabeças cortadas, reme­
a força volante decapitou os cadáveres e partiu tendo infalivelmente aquele que observa ao ato
com as cabeças em direção à cidade de Piranhas, de decapitação e profanação do cadáver.
onde o povo pôde finalmente "regozijar-se" com o Entretanto, a despeito da vontade de perenizar
fim de Lampião, "a própria encarnação da morte". a morte física e a destruição de Lampião mediante
Numa espécie de resposta à-alegação de oni­ imagens irrefutáveis, o mito da imortalidade des­
potência e invulnerabilidade do célebre canga­ se herói persiste, expandindo-se ainda nos dias de
ceiro, exibiram as cabeças como troféus, a fim hoje: mesmo diante das cabeças dos cangaceiros
de mostrar aos olhos do mundo que aquele corpo mortos, alguns sertanejos não acreditaram na
fechado, impermeável às balas e ao facão, podia morte de Lampião. Não acreditaram no que lhes
ser fragmentado. A morte de Lampião foi ence­ era apresentado como uma evidência: nenhuma
nada e seus adversários recorreram a todo tipo imagem-prova, nenhum suporte visual, seja qual
de simbólica religiosa: transportaram as cabe­ for, pode resistir à força da crença.
ças de Lampião e de seus companheiros de cida­ As fotografias que mostram Lampião e seu
de em cidade, de vila em vila, numa espécie de grupo, sempre ambíguas, são dotadas de um di­
procissão macabra, misturando tradições solenes namismo inegável, pois teatralizam a realidade e
e manifestações de júbilo popular, o sagrado e o também sua fragilidade, uma vez que denunciam
profano. Na cidade de Piranhas, festas, desfiles, o usurpador em cada um dos atores desse épico e
manifestações de um entusiasmo mais ou menos refletem um conflito que passa não apenas pelo
espontâneo, fogos de artifício e banda de música próprio corpo, mas igualmente pelo corpo figurado,
acompanharam o cortejo macabro. constituindo, ao mesmo tempo, provas e falsifica­
Uma das primeiras preocupações dos organi­ ções da história.
zadores e jornalistas presentes foi fotografar os
diferentes momentos daquela cenografia sinis­ Traduzido do francês por André Telles.
tra e repassar as imagens para a imprensa. Uma
das mais célebres, ilustrando a tragédia final, é ELISE JASMIN é historiadora. Há mais de 20 anos,
incontestavelmente a que mostra as cabeças de participa de exposições na Europa e América Latina
Lampião e de seus companheiros dispostas no como curadora, produtora, autora ou coordenadora.
Autora de Lampião: senhor do sertão - vidas e
adro da igreja de Sant'Ana do Ipanema: essa foto­
mortes de um cangaceiro (São Paulo: Edusp, 200ó)
grafia é produto de uma mise-en-scène bastante
e Cangaceiros (São Paulo: Terceiro Nome, 2006).
elaborada. As cabeças dos onze cangaceiros fo­
ram dispostas num pano branco estendido sobre

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