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Há, porém, uma fração relevante das atividades desempenhadas pelos seres humanos
que praticam alguma atividade jurídica que nada ou muito pouco têm de jurídico em si,
e há outra parcela, também importante, de medidas que sequer tinham sido pensadas
para o Direito – ao menos não com tanta profundidade – até recentemente. Para as
primeiras, de forma adequada ou não, fez-se – e ainda se faz em muitos foros – uso de
estagiários, paralegais, cartorários, entre outros, para o desempenho de atividades
consideradas “administrativas”, como o arquivamento, a triagem e a classificação de
documentos, a análise formal de peças simples e repetitivas e a elaboração de relatórios.
São todas atividades que, em outras áreas (em especial as de negócios), seriam e têm
sido otimizadas com sucesso por meio do uso de tecnologia. Como indica Harry Surden,
são quanto a essas atividades “burocráticas”, por assim dizer, que resultados vindos de
sistemas computacionais têm se provado bastante úteis, pois, nesse campo, ainda que
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com imperfeições, “fortes aproximações” podem ser consideradas aceitáveis .
Nesse ponto, como bem observa Bruno Meyerhof Salama, a padronização e a burocracia
que caracterizam uma parte importante do processo judicial brasileiro – o chamado
“contencioso de massa”, caracterizado por uma litigância repetitiva – funcionam como
um demand pull; ou seja, incitam a demanda por tecnologias que possam otimizar
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gestão do processo no Sistema Brasileiro de Precedentes
O que é claro é que a área jurídica é – e sempre foi – marcada por ineficiências ou, ao
menos, por uma carência de reflexão generalizada sobre como atingir a eficiência,
principalmente na gestão do processo. A partir disso, já há anos, têm surgido inúmeras
propostas de uso da tecnologia para otimizar as mais diversas atividades jurídicas, das
mais simples às mais complexas. No Brasil, destacamos as iniciativas do Poder Judiciário
de estabelecer parcerias com pesquisadores para o uso de inteligência artificial que
auxilie na classificação e na identificação de causas e objetos, e mesmo na realização de
atos administrativos necessários para o julgamento de causas repetitivas, como o
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projeto “Victor”, do Supremo Tribunal Federal (STF) . Segundo se tem reportado, os
graus de precisão de tais ferramentas têm sido altíssimos – maiores do que se a mesma
atividade tivesse sido desempenhada por seres humanos, manual e individualmente,
sem o uso dessas tecnologias – e com a ressalva de que “quem julga é o juiz, e não a
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máquina” . Já há também menções à possibilidade de que a tecnologia seja usada para
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preparar “uma proposta de voto” , mas aí suscitando importantes dúvidas em termos
de legitimidade e mesmo de conveniência, como se verá.
Entendemos, como se detalhará adiante, que não há espaço ou motivo razoável para se
afastar o uso de novas tecnologias para otimizar (e não necessariamente instruir e
executar por completo) determinadas atividades no ramo jurídico, em especial as mais
simples, burocráticas e repetitivas. Tal como uma atividade desempenhada por um ser
humano, aquelas realizadas com o auxílio de soluções tecnológicas possuem também
uma margem de erro, um risco, que pode ser maior ou menor, a depender das
premissas em que são fundadas. O que cabe à comunidade jurídica nesse momento é,
sobretudo, avaliar, quanto a cada iniciativa, (i) o que deve e o que não deve ser (ou
tentar que seja) automatizado; e (ii) quais os riscos de se fazê-lo ou não. Algumas
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respostas serão dadas no campo da ética profissional, se necessário , mas a maioria
delas deverá se dar no âmbito da política pública, mormente para se decidir se, na linha
de Harry Surden, as aproximações trazidas pela tecnologia são ou não aceitáveis em
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cada atividade específica .
a essa evolução dos sistemas computacionais, que hoje podem, por exemplo, aprender
com experiências passadas para descobrir padrões, identificar tendências e, assim, fazer
previsões mais precisas do que poderá ocorrer em situações semelhantes (o já referido
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big data analytics) . A inteligência artificial, conceitualmente, também incluiria
iniciativas de que sistemas realizem atividades que antes exigiriam a inteligência
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humana (IBM Watson) , máquinas que podem interagir fisicamente (a robótica), e
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sistemas que podem detectar e expressar emoções (o affective computing) . Trata-se a
inteligência artificial, de toda forma, de conceito em constante desenvolvimento, o que
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significa que “o que é considerado AI ontem pode não mais sê-lo hoje” , mas
normalmente se referindo a máquinas que podem aprender, raciocinar e agir por si
próprias quando postas diante de novas situações com padrões semelhantes a algumas
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anteriores :
Fonte: “Is this AI? We drew you a flowchart to work it out.” (MIT Technology Review, 10
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de novembro de 2018).
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(substrato) e também pelas conclusões intermediárias obtidas :
No âmbito jurídico, há anos vêm surgindo propostas, em sua maioria privadas, das mais
diversas e também para muitas áreas da prática jurídica – as chamadas lawtechs e
legaltechs. São já centenas de empresas que se dedicam a propor inovações ou
otimizações em alguma frente da área jurídica – que, evidentemente, é destacada por
atividades que, tais como muitas outras, podem e devem ser tornadas mais eficientes e
criativas, também pelo uso de inteligência artificial, como se introduziu supra. Por isso,
no âmbito do Direito, o uso de tecnologia – e, dentro dela, também da inteligência
artificial – tem dado origem a ferramentas com focos, por exemplo, em a) automação e
gestão de documentos; b) monitoramento e extração de dados; c) analytics e jurimetria;
d) resolução de conflitos on-line (ODR – Online Dispute Resolution), entre outros.
Veja-se alguns exemplos nesse novo “ecossistema”:
Fonte: “Legal Tech Startups: Not Just for Silicon Valley Anymore”. (Thomsom Reuters.
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02 de agosto de 2016.)
Nota-se, em especial, que essas aplicações podem ser voltadas a diferentes mercados e
usuários finais, tais como consumidores, escritórios de advocacia, departamentos
jurídicos, Poder Judiciário, entes públicos em geral e Faculdades de Direito. E as
tecnologias envolvidas são muitas daquelas propostas também para as áreas não
jurídicas, como a “computação cognitiva” (que inclui o processamento de linguagem
natural, o aprendizado de máquina e os sistemas cognitivos), o blockchain, a
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computação em nuvem, big data analytics etc. . Trata-se de tendência que já há
tempos chegou também ao cenário nacional, a partir de empresas estrangeiras e
também de locais, conforme acompanhamento feito pela AB2L, a Associação Brasileira
de Lawtechs & Legaltechs:
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Fonte: “Radar de Lawtechs e Legaltechs”, versão 4.1, de 6 de dezembro de 2018 .
E, embora tenham menor apelo na mídia, as propostas que mais têm se mostrado úteis
e ganhado mercado são justamente as relacionadas à gestão, automação e análise de
documentos, tendo em vista que muitos fluxos e atividades de trabalho – tais como
operações de compra e venda de empresas, elaboração de peças e decisões e produção
de prova em processos judiciais e arbitrais – são responsáveis pelo tratamento massivo
de bases e conjuntos de dados. Isso significa que tecnologias que eliminem ou diminuam
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práticas repetitivas e poucos criativas por seres humanos são as mais indicadas .
Também, por isso, o termo “eficiência” talvez nunca tenha sido tão enfatizado no ramo
do Direito como ocorre hoje.
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Fonte: “O futuro das profissões jurídicas: Você está preparad@?” Sumário Executivo da
Pesquisa Qualitativa 'Tecnologia, Profissões e Ensino Jurídico. FGV Direito SP, 3 de
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dezembro de 2018 .
Nos pontos mais extremos, algumas empresas têm oferecido serviços que se
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gestão do processo no Sistema Brasileiro de Precedentes
O que se tem visto é que, ainda que se possa questionar se seria prudente e adequado
confiar algumas atividades hoje consideradas por alguns privativas do advogado a uma
ferramenta, é inquestionável que para algumas delas a precisão é, sim, alcançável e
supera as capacidades de um ser humano, sem tecnologia, de atingir resultados
semelhantes. Não se trata, para os mais cautelosos, de substituir o ser humano ou as
formas tradicionais, mas de combiná-las, como concluiu estudo feito sobre a efetividade
do Ross Intelligence quando aliado com métodos tradicionais de pesquisa jurídica (ainda
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que também fazendo uso de alguma tecnologia mais simples) nos Estados Unidos .
Uma das principais perguntas a serem respondidas, com efeito, é quanto e o quê do
trabalho jurídico deve ser automatizado. Se a proposta não é a de “substituir” o
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advogado, mas atuar como um complemento a ele , a questão é se compreender
quando e qual trabalho seria aceitável que fosse auxiliado pelo aprendizado de máquina,
por exemplo. Parece claro que o modelo preditivo é extremamente útil para que
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advogados e clientes tomem decisões informadas sobre os riscos de suas atitudes ,
mas essa mesma escolha se mostraria acertada para a tomada de decisões pelo Poder
Público, ou mesmo na prestação jurisdicional, seja exercida por juízes ou por árbitros?
Os riscos associados e mesmo os questionamentos de transparência hoje existentes em
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diversos setores (crédito, seguro, transportes etc.) tornariam tal prática não
recomendável, ao menos por ora? É o que se passa a avaliar, com base nas propostas
recentes do Poder Judiciário brasileiro.
Na fase inicial do projeto, a ferramenta passou a ser utilizada para (i) converter imagens
em textos no processo digital (já que muitas petições ainda são apresentadas em
formato de imagem); (ii) separar cada documento que consta dos autos (peça, decisão,
acórdão etc.); (iii) separar e classificar as peças processuais mais comuns na prática do
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STF; e (iv) identificar os temas de repercussão geral de maior incidência . A triagem
dos processos – uma das principais, senão a principal função do Victor nesse momento
inicial – para fins de identificação de temas de repercussão geral (e a consequente
admissão ou não de recursos) foi indicada como de precisão de 84%, e que poderia
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chegar a 95% em semanas.
Enfatize-se, pois, a proposta de que o uso da Inteligência Artificial acelere a análise dos
processos, mormente por meio da digitalização, classificação e organização dos
processos – atividades historicamente feitas manual e individualmente por
serventuários. Essa “aceleração”, da forma que se tem divulgado, dar-se-ia, sobretudo,
pela a) separação e classificação das peças do processo judicial e b) identificação dos
principais temas de repercussão geral (para a devolução do recurso à origem ou sua
rejeição); em fase posterior, também se mencionou que a ferramenta poderá buscar e
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identificar jurisprudência . Veja-se que não se falou, ao menos até aqui, em decisões
jurisdicionais automatizadas ou algoritmos utilizados para fins decisórios, mas, no
máximo, em ferramenta que identifique “o tema de repercussão geral veiculado em cada
processo e o [indique] ao presidente do STF, para o fim de devolução do recurso à
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origem ou rejeição do processo” .
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Isso seria feito por meio de “redes neurais” criadas , que aprendem a partir da análise
de decisões anteriores do próprio STF sobre a aplicação de temas de repercussão geral –
sempre com a ressalva feita pelos responsáveis de que “[a] máquina não decide, não
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julga; isso é atividade humana” . E já se trata de um trabalho hercúleo, porquanto a
maioria dos documentos juntados aos autos consistem em um único arquivo em formato
PDF (formato portátil de documento) contendo diversos documentos relevantes dentro
dele – daí a dificuldade e a relevância da sua classificação por meio de ferramentas de
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análise de documentos e de processamento de linguagem natural . As técnicas
envolvem passos como (i) a extração de texto dos documentos em PDF; e (ii) o
pré-processamento do conjunto de dados, para reduzir sua complexidade e aumentar a
precisão do modelo – com a posterior utilização das redes neurais para escolher as
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porções de dados mais relevantes para fins de classificação .
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Fonte: "Document type classification for Brazil’s Supreme Court using a Convolutional
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Neural Network”. Legal AI. 30 de outubro de 2018.
De todo modo, a divulgação pelos pesquisadores e pelo STF foi categórica em esclarecer
que o uso do Victor, também por outros tribunais, ocorreria para “pré-processar os
recursos extraordinários logo após sua interposição”, e, desta feita, antecipar o juízo de
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admissibilidade quanto a temas com repercussão geral . O que se está propondo e
também implementando, com efeito, é ferramenta que facilite a identificação e a
classificação de processos que já tenham – ou sejam semelhantes ou estejam
relacionados a outros já em vias de formar – um precedente vinculante. Está se
tratando, sobretudo, de processos repetitivos e a proposta solução que o Código de
Processo Civil/2015 trouxe para o tema, como indicou o Ministro Dias Toffoli, Presidente
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do STF e também do Conselho Nacional de Justiça – CNJ .
Conselho da Justiça Federal (CJF), Ministra Laurita Vaz, foi além e sustentou a
possibilidade de utilização da Inteligência Artificial também “tanto para a área cartorária
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quanto para a atividade jurisdicional propriamente” .
O exemplo do STJ é mais um com relação íntima com o sistema de precedentes, tendo
em vista a sinalização do Ministro Raul Araújo de que a criação do Centro Nacional de
Inteligência da Justiça Federal tem como objetivo “monitorar e racionalizar a
identificação de demandas repetitivas ou com potencial de repetitividade, além de
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aperfeiçoar o gerenciamento de precedentes" . Nas palavras do Ministro, não se trata
mais de resolver os conflitos “caso a caso”, mas de que “sejam tratados de forma
coletiva quando as demandas envolverem um mesmo problema jurídico” – além do
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acompanhamento de alterações legislativas e jurisprudenciais .
A medida mais avançada até o momento parece ter sido a tomada pelo Tribunal de
Justiça do Estado de Minas Gerais (TJMG) que, em sessão de sua 8ª Câmara Cível,
julgou 280 processos de uma só vez, “com apenas um click ”, depois de a ferramenta
“Radar” ter identificado e separado recursos com pedidos idênticos e se ter utilizado
“votos-padrão” (aparentemente preparados, inicialmente, pela forma tradicional), a
partir de teses fixadas pelos Tribunais Superiores e pelo próprio TJMG, pelo Incidente de
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Resolução de Demandas Repetitivas (IRDR) . Os processos julgados, reportou-se,
tratavam de temas como (i) a legitimidade do Ministério Público para pleitear remédios e
tratamentos para beneficiários individuais (Súmula 766 do STJ); e (ii) efeitos jurídicos
do contrato temporário firmado em desconformidade com o art. 37, IX, da Constituição
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Federal (Súmula 916 do STF) .
Em linha com as ponderações dos Capítulos I e II supra, com efeito, as perguntas que
devem ser feitas são, especificamente quanto à gestão do processo, (i) o que deve e o
que não deve ser automatizado; e (ii) quais os riscos envolvidos de se fazê-lo ou não –
tendo em vista as propostas vindas de tribunais, por exemplo, de “automação para
rotinas judiciais com o uso de robôs e o outro o uso de inteligência artificial para criar
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soluções de apoio à decisão do magistrado” . A utilização de tecnologia para a
identificação, classificação e julgamento de causas repetitivas deveria ser aceita e
validada pela sociedade civil, como forma adequada de gestão do processo a partir do
sistema de precedentes trazido pelo CPC/2015 (LGL\2015\1656)? E isso valeria da
mesma forma para sistemas que cuidassem de redigir primeiras versões de relatórios e
votos para utilização pelos juízes? Ou, de outro lado, seriam todas atividades que
deveriam ser necessariamente feitas por seres humanos em sua maior parte, seja pelos
riscos de falhas ou mesmo de falta de transparência? Vejamos.
4.Os prós (eficiências) e contras (riscos) das propostas: como e até onde prosseguir no
exercício e na gestão do processo
Logo de início, parece-nos não haver dúvidas de que algumas atividades que estão
sendo realizadas mediante auxílio substancial das tecnologias anteriormente
mencionadas são de legitimidade evidente: são aquelas, na organização judiciária,
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relacionadas à gestão do processo de uma forma geral, como têm feito o STF, o STJ, o
TJMG e tantos outros, de forma semelhante ao que também se tem visto em escritórios
de advocacia e empresas no tocante à gestão de suas carteiras de processos, em
especial, os relacionados ao chamado “contencioso de massa”. A identificação, a
classificação e o agrupamento de causas repetitivas são algumas dessas atividades que
não só não mais deveriam ser executadas por seres humanos, manual e
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individualmente, como certamente possuem grau de acerto e precisão maior mediante
o uso de aprendizado de máquina, por exemplo. Trata-se de medida condizente,
ademais, com o aumento dos poderes do juiz dos tribunais que se tem visto e defendido
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há quase décadas para fins de gerenciamento do processo .
Nesse ponto, o que se está fazendo é nada mais do que concretizando e convalidando o
sistema de precedentes trazido pelo CPC/2015 (LGL\2015\1656), que atribui ao juiz,
como gestor, o tratamento e a gestão dos precedentes considerados vinculantes. A
identificação desses precedentes, e também de casos em que seriam aplicados, é
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trabalho que, ainda que “por forte aproximação” , tem grandes chances de ser (mais)
corretamente executado mediante o uso de Inteligência Artificial. Entendemos que
andam bem os tribunais – principalmente, os tribunais superiores, que têm como função
nomofilácica a criação e a segura implementação desses precedentes como forma de
zelar pela uniformização da interpretação e da aplicação do Direito – que se propõem a
tornar o processo judicial mais eficiente em termos de tempo e recursos, por meio de
algoritmos que se mostram “úteis para fins de compilação de decisões judiciais e
identificação de teses ou argumentos mais convincentes (estruturação de dados)”, por
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exemplo . Aqui, está-se implementando a visão, nada recente, de que “[a] estabilidade
jurisprudencial e as técnicas de aceleração do procedimento contribuem para gerar
maior eficiência à prestação jurisdicional, e nesse aspecto interessam para o
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gerenciamento do processo” .
Nesse âmbito, a tecnologia pode contribuir de forma decisiva para oferecer aos
litigantes, advogados e juízes uma visão mais precisa e objetiva de como determinado
tema tem sido visto e julgado. Trata-se, assim, de possibilitar a segurança jurídica por
meio de decisões judiciais que se mostrem coerentes e estáveis, e também “diminuir o
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déficit brasileiro no manejo de precedentes judiciais (anarquia interpretativa)”,
mormente em um país em que as ações coletivas ainda se têm reportado com
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efetividade aquém da desejada . Por isso, grande parte das matérias antes indicadas
quanto ao “Victor” e outros projetos similares estava sempre referida no contexto do
sistema de precedentes; são iniciativas diretamente relacionadas a uma “gestão dos
precedentes qualificados”, entendidos como aqueles advindos do regime de repetitivos,
do Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas (IRDR) e do Incidente de Assunção
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de Competência (IAC) , e “das decisões liminares e nos pronunciamentos finais de
acolhimento ou improcedência do pedido na ação direta de inconstitucionalidade, na
ação declaratória de constitucionalidade, na arguição de preceito fundamental e na
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súmula vinculante” . Trata-se de uma decisão de política pública já tomada em termos
conceituais, mas que agora está sendo estudada e executada para fins operacionais em
busca de eficiência.
multitudinária, que, reitere-se, permite uma ampla base de dados com possibilidades
múltiplas de se acelerar o seu processo de aprendizagem e até de reformulação.
Nesse ponto, repita-se que essas são práticas em que, mediante o aprendizado de
máquinas, os algoritmos são capazes de realizar correlações estatísticas aprendidas pela
verificação de padrões nos dados analisados previamente e que chegam a soluções
idênticas ou muito similares – mas em muito menos tempo – àquelas que seriam
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produzidas por uma pessoa utilizando processos cognitivos treinados . No processo,
isso significa que juízes, cartorários, advogados, estagiários ou qualquer outro ser
humano – ainda que altamente capacitado – dificilmente realizariam, em sua atuação
manual, a mesma atividade no tempo e com a qualidade que são atingidos por esses
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verificadores de padrões . E quanto a essas atividades, de gestão, parece impossível
sustentar que não deveriam ser utilizadas também no campo do Direito, em tribunais,
em escritórios de advocacia e em departamentos jurídicos (como já se tem feito nesses
dois últimos, aliás); aqui, está-se tratando de práticas gerenciais que devem estar em
linha com o ritmo e as expectativas da sociedade também em outros setores. São
bastante expressivas, nesse sentido, as previsões indicadas pelo Ministro Luiz Fux de
que o “Victor”, ao identificar os 27 temas mais comuns (dentre todos os 2.010 de
repercussão geral), pode dar rápida solução a aproximadamente dez mil processos por
ano (que sequer subiriam ao STF de qualquer forma, mas seriam processados de forma
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muito mais lenta e burocrática) .
Para a advocacia, inclusive, embora hoje ainda sejam as ferramentas mencionadas mais
utilizadas pelos “litigantes habituais”, não se pode ignorar que, com o tempo, os
algoritmos baseados nesse tipo de inteligência para fins de elaboração de petições,
indicação de precedentes, entre outros, serão úteis para prestar serviços de qualidade a
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um custo muito menor ; ou seja, também estarão disponíveis aos “litigantes eventuais”
propriamente ditos ou a quem lhes possa fazer as vezes. No futuro, se prosperar essa
louvável iniciativa dos tribunais judiciais, haverá grandes chances de o serviço jurídico
em si se tornar menos custoso e até mais democrático, quebrando barreiras que existem
há séculos para as classes mais baixas da população. Richard e Daniel Susskind, por
exemplo, preveem que as atividades de muitos advogados – da forma como existem
hoje – serão provavelmente substituídas por sistemas avançados, por funcionários mais
baratos com apoio em tecnologia, ou mesmo por leigos que façam uso de ferramentas
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de simples acesso on-line – e que sejam os tribunais a adotar essa posição de
vanguarda, a nosso ver. E se o algoritmo for além e auxiliar o magistrado a “identificar a
legislação e a jurisprudência aplicáveis ao caso concreto, oferecendo, também, um
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diagnóstico de tendências de resultados em julgamentos de casos similares”, tanto
melhor para o jurisdicionado, que menos – ou nada – dependerá de uma defesa mais
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técnica .
Além disso, tal movimento auxiliará os mais diversos agentes a trabalhar mais
fortemente na prevenção de litígios, e não só na sua solução. Essa tendência, bastante
mencionada atualmente, tornar-se-á ainda mais eficaz em conjunto com uma prática
multidisciplinar, que envolverá também contadores, consultores e especialistas
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tributários, por exemplo . Essa atuação preventiva poderá se dar, também, pelos
métodos on-line de resolução de conflitos (ODR – Online Dispute Resolution), surgidos
do mercado de e-commerce e que hoje são utilizados mundo afora também por tribunais
estatais e pela Administração Pública para possibilitar a resolução de conflitos
preventiva, de forma extrajudicial, por modelos online surgidos e evoluídos a partir de
métodos alternativos (adequados) como a negociação, a conciliação, a mediação e a
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arbitragem, por exemplo . E, ainda no campo da prevenção de conflitos, como aponta o
Ministro Luiz Fux, projetos como o “Victor” contribuirão para que se formem bases de
dados úteis para maior reflexão – a partir de uma retroalimentação – sobre como o
Poder Judiciário pode ser ainda mais eficiente, ao tomar conhecimento de “a) quem são
os litigantes mais frequentes perante o STF, no âmbito recursal; b) quais temas de
repercussão geral possuem maior volume de processos vinculados; c) quais questões
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constitucionais têm sofrido maior judicialização, etc.” .
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Inteligência Artificial e Direito: o uso da tecnologia na
gestão do processo no Sistema Brasileiro de Precedentes
Como ilustração desses riscos, pode-se mencionar ferramentas que se encontram talvez
ainda em “zonas cinzentas”, como o COMPAS – Correctional Offender Management
Profiling for Alternative Sanctions, software utilizado por tribunais nos Estados Unidos
para determinar o risco de reincidência de determinado preso e para auxiliar na fixação
da pena (em um modelo que pode ser comparado a avaliações de risco, atuariais, feitas
por empresas de seguro, que identificam riscos a partir de grupos de motoristas e
alocam seus recursos conforme suas conclusões). Embora um preso tenha,
recentemente, alegado que a utilização de tal ferramenta violaria o devido processo legal
– porquanto lhe impossibilitaria de questionar o valor científico e a precisão do teste, e
também porque alegadamente levaria em consideração gênero e raça como critérios
decisivos –, a Suprema Corte de Wisconsin rejeitou sua impugnação. O fundamento da
decisão – mantido pela Suprema Corte dos Estados Unidos, que denegou o writ of
certiorari impetrado em seguida – foi primordialmente o de que os elementos fornecidos
pela ferramenta não foram as únicas e não foram determinantes para se decidir sobre os
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riscos que o preso ofereceria à comunidade :
“98. Thus, a sentencing court may consider a COMPAS risk assessment at sentencing
subject to the following limitations. As recognized by the Department of Corrections, the
PSI [Presentence Investigation Report] instructs that risk scores may not be used: (1) to
determine whether an offender is incarcerated; or (2) to determine the severity of the
sentence. Additionally, risk scores may not be used as the determinative factor in
deciding whether an offender can be supervised safely and effectively in the community.
[...]
104. As discussed above, if used properly with an awareness of the limitations and
cautions, a circuits court's consideration of a COMPAS risk assessment at sentencing
does not violate a defendant's right to due process. The circuit court here was aware of
the limitations. Two limitations were set forth by the DOC in the PSI containing the
COMPAS report. Thus, when Loomis was sentenced, the circuit court was aware that 'risk
scores are not intended to determine the severity of the sentence or whether an offender
is incarcerated.' The third limitation, that a COMPAS risk assessment may not be
determinative in deciding whether a defendant may be supervised safely and effectively
in the community is a corollary limitation to those already set forth in the PSI.”
Há, portanto, limitações que podem e devem ser impostas, sobretudo com a consciência
de que “um algoritmo criado por seres humanos enviesados provavelmente padecerá do
mesmo ‘mal’, não de forma proposital, mas em decorrência das informações fornecidas
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ao sistema” . E, nesse passo, concordamos que, ao menos por ora, deve-se
circunscrever, no processo, o uso da tecnologia – e da Inteligência Artificial mais
especificamente - à análise de dados para fins de gestão da informação e do processo
como um todo (separação e classificação das peças, identificação dos principais temas,
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Inteligência Artificial e Direito: o uso da tecnologia na
gestão do processo no Sistema Brasileiro de Precedentes
Um ponto interessante aí é que, para que se compreenda possíveis vieses cognitivos das
máquinas, deve-se antes compreender os vieses cognitivos dos próprios seres humanos
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. É imprescindível que se decida com antecedência quais tipos de racionais são
admissíveis no sistema jurídico e quais deveriam (e poderiam) ser razoavelmente
reproduzidos por máquinas. Antes, deve-se avaliar, por exemplo, se os fatores pessoais,
políticos e legalistas indicados por Richard Posner são razoáveis e deveriam ser
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mitigados ou mesmo potencializados nessa nova fase tecnológica , para depois concluir
se devem ser (e se é factível que sejam) reproduzidos pelo uso de Inteligência Artificial.
Para que sejamos claros, parece-nos legítima e possível a automatização de gestão das
atividades de identificação, classificação e agrupamento dos processos judiciais, como se
têm feito. A exemplo do que fez o TJMG, porém, o voto condutor de todos os
julgamentos realizados deve ser idealmente preparado da forma convencional, no
máximo com a sugestão de jurisprudência pelo algoritmo, com o fito de representar, de
uma vez por todas, o posicionamento do tribunal sobre aqueles determinados temas
escolhidos e cuja decisão se considerou vinculante naquele âmbito. Nessas, a
padronização na aplicação da decisão, além de reflexo da prática contenciosa
pretendida, como já se mencionou, é formato compatível com a escolha legislativa feita.
Julgar de forma distinta causas repetitivas é que se mostraria um contrassenso e uma
decisão antidemocrática nesse âmbito. Afinal, como aponta o ex-Ministro Arnaldo
Esteves Lima, a ideia é justamente a de que “a observância do precedente configure
rotina comum, no dia a dia da jurisdição, pois os benefícios institucionais e particulares
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que encerra são muitos” .
O que não nos parece apropriado, por enquanto, é se permitir que a redação por
completo das decisões, em seu mérito, tenha como base fundamental aproximações
feitas a partir de algoritmos computacionais. Nesse ponto, os riscos são ainda
demasiadamente altos, tendo em vista o histórico recente, fora do âmbito jurídico, de
máquinas que fizeram associações “com vieses sexistas, racistas e classistas que
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prometiam resolver”, por exemplo . Aqui, poderiam se materializar talvez decisões
hegemônicas e a marginalização de minorias, com prejuízos principalmente aos
“litigantes eventuais”, que poderiam ter dificuldades bastante relevantes de alegar e
provar as falhas cometidas na elaboração da decisão. Nesse ponto, é evidente que os
números gritantes de processos judiciais entrantes e em curso no Brasil não podem, per
se, ser justificativa para se acolher “toda e qualquer técnica ou tecnologia que prometa
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reduzir o acervo de casos a serem decididos” .
Nesse ponto, não se pode ignorar que há décadas e anos – mesmo já na vigência do
Código de Processo Civil/2015 – tribunais já têm julgado a grande maioria dos casos de
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Inteligência Artificial e Direito: o uso da tecnologia na
gestão do processo no Sistema Brasileiro de Precedentes
forma “robótica”, com menor apreço ao caso individual, como qualquer um que já
participou de uma sessão de julgamento seria capaz de atestar. As iniciativas que se
mencionou ao menos trarão a possibilidade de que se identifique com mais precisão
quais são as demandas efetivamente repetitivas e quais os precedentes (corretos)
aplicáveis. Aplicar as técnicas de distinção e superação de precedentes será, sem dúvida,
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um desafio, mas não um impeditivo absoluto – e isso com ou sem o uso de tecnologia .
E vale reiterar que a identificação desses precedentes pelos tribunais pode trazer (ou ao
menos aumentar) uma isonomia aos litigantes habituais e eventuais que atualmente não
existe, já que esses últimos, hoje, no modelo tradicional, dificilmente obtêm
representação jurídica de qualidade a ponto de lhes indicar os fundamentos e fontes de
direito aplicáveis ou com maiores chances de sucesso em juízo.
Enfatizamos que são medidas que demonstram uma saudável evolução com relação à
forma que a maioria dos casos era (e ainda é) julgada por nossos tribunais; essas
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gestão do processo no Sistema Brasileiro de Precedentes
Além do mais, iniciativas como essas, prudentes e gradativas, permitirão que ocorra um
desenvolvimento das novas tecnologias no âmbito do Direito – e, dentro dele, do
processo – mediante análises de risco mais precisas, como se espera hoje do Poder
Judiciário e do juiz na qualidade de gestores do processo. Nessa toada, ao invés de se
alarmar a sociedade com a utilização de expressões como “juízes robôs” – ou mesmo de
se propor a redação de decisões ou votos de forma inteiramente automatizada –, serão
produzidos, aos poucos, estudos e análises aprofundados do eficiente (e seguro) uso da
Inteligência Artificial e suas ferramentas por entes públicos e privados – algo que ainda
precisa ser feito em maior quantidade e com mais qualidade antes de se seguir ao passo
107
posterior . Como disse o ex-Presidente da IBM, Thomas John Watson Jr., “[n]ossas
máquinas não devem ser nada além do que ferramentas para empoderar ainda mais os
seres humanos que as usam”.
2 HARARI, Yuval Noah. Sapiens: Uma breve história da humanidade. 26. ed. Porto
Alegre: L&PM, 2017. p. 28-33: “Podemos conectar uma série ilimitada de sons e sinais
para produzir um número infinito de frases, cada uma delas com um significado
diferente.”
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4 SURDEN, Harry. Machine Learning and Law. Washington Law Review, v. 89, n. 1, p.
88, 2014. Available at SSRN: [https://ssrn.com/abstract=2417415]. Acesso em: mar.
2019: “Consider that outside of law, non-cognitive AI techniques have been successfully
applied to tasks that were once thought to necessitate human intelligence — for example
language translation. While the results of these automated efforts are sometimes
imperfect, the interesting point is that such computer-generated results have often
proven useful for particular tasks where strong approximations are acceptable.”
6 SURDEN, Harry. Op. cit., p. 108: “Machine learning as a technique — since it excels at
ferreting out correlations — may help to supplement the attorney intuitions and highlight
salient factors that might otherwise escape notice. The discovery of such embedded
information, combined with traditional attorney analysis, could potentially impact and
improve the actual advice given to clients.”
11 Ibid.
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Inteligência Artificial e Direito: o uso da tecnologia na
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14 Judiciário desenvolve tecnologia de voto assistido por máquinas. Jota, 05 jan. 2018.
Disponível em: [
www.jota.info/justica/judiciario-desenvolve-tecnologia-de-voto-assistido-por-maquinas-05012018
]. Acesso em: mar. 2019.
19 Ibid.
20 Is this AI? We drew you a flowchart to work it out. MIT Technology Review, 10 nov.
2018. Disponível em:
[www.technologyreview.com/s/612404/is-this-ai-we-drew-you-a-flowchart-to-work-it-out/].
Acesso em: março de 2019: “In the broadest sense, AI refers to machines that can
learn, reason, and act for themselves. They can make their own decisions when faced
with new situations, in the same way that humans and animals can. [...] Some experts
believe that machine learning and deep learning will eventually get us to AGI with
enough data, but most would agree there are big missing pieces and it’s still a long way
off. AI may have mastered Go, but in other ways it is still much dumber than a toddler.
In that sense, AI is also aspirational, and its definition is constantly evolving. What would
have been considered AI in the past may not be considered AI today.”
22 Is this AI? We drew you a flowchart to work it out. MIT Technology Review, 10 nov.
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Inteligência Artificial e Direito: o uso da tecnologia na
gestão do processo no Sistema Brasileiro de Precedentes
26 Legal Tech Startups: Not Just for Silicon Valley Anymore. Thomsom Reuters, 02 ago.
2016. Disponível em: [www.legalexecutiveinstitute.com/legal-tech-startups/]. Acesso
em: mar. 2019.
27 Legal Tech Startups: Not Just for Silicon Valley Anymore, cit. Ver também: NUNES,
Dierle; RUBINGER, Paula Caetano; MARQUES, Ana Luiza. Os perigos do uso da
inteligência artificial na advocacia. Consultor Jurídico, 09 jul. 2018. Disponível em: [
www.conjur.com.br/2018-jul-09/opiniao-perigos-uso-inteligencia-artificial-advocacia].
Acesso em: mar. 2019: “Nos últimos anos, no entanto, o número das mesmas cresceu
significativamente, e novos ramos começaram a ser explorados. A IA tem sido
direcionada para monitorar dados públicos, fazer juízos preditivos das decisões judiciais,
automatizar petições, pronunciamentos judiciais, contratos e demais documentos
jurídicos, contatar profissionais do Direito para diligências específicas, propor resolução
on-line de conflitos, compilar dados e aplicar a estatística ao Direito.”
Qualitativa 'Tecnologia, Profissões e Ensino Jurídico, FGV Direito SP, p. 7-12, 03 dez.
2018. Disponível em:
[https://direitosp.fgv.br/sites/direitosp.fgv.br/files/arquivos/cepi_futuro_profissoes_juridicas_quali_v4.p
Acesso em: dez. 2018.
29 Legal Tech Startups: Not Just for Silicon Valley Anymore, cit.
31 Ver: O futuro das profissões jurídicas: Você está preparad@? Sumário Executivo da
Pesquisa Qualitativa 'Tecnologia, Profissões e Ensino Jurídico, cit., p. 19: “Por reiteradas
vezes, entrevistados fizeram menção à adoção e ao desenvolvimento tecnológico no
contexto das atividades do contencioso de massa. Entre as causas mencionadas estão:
(i) a crescente pressão de clientes pela redução do preço pago por processos; (ii) os
elevados custos de gestão associados ao grande volume de processos; (iii) grande
repetição nos argumentos jurídicos apresentados nas demandas; (iv) expectativa de que
a automação de rotinas reduziria o número de erros humanos; e (v) interesse em
melhorar a visualização de processos e produção de relatórios para clientes.”
37 Ver em: Ross. On-Demand Research Associate – Get precise answers to your legal
questions. Disponível em: [https://rossintelligence.com/ross/]. Acesso em: mar. 2019.
38 Ross Intelligence. Artificial Intelligence in Legal Research. Blue Hill Research, jan.
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Inteligência Artificial e Direito: o uso da tecnologia na
gestão do processo no Sistema Brasileiro de Precedentes
40 Id., p. 102.
41 KOBIE, Nicole. Who do you blame when algorithm gets you fired? Wired, 26 jan.
2016. Disponível em: [www.wired.co.uk/article/make-algorithms-accountable]. Acesso
em: mar. 2019: “Algorithms run everything from Uber to advertising. They're used to
sift through our CVs, check our credit and decide whether we get health insurance. But
when they turn into “black boxes” that don't offer up their secrets, we can't hold them
accountable. Only now is this issue starting to be taken seriously.”
43 Ibid.
44 Ibid.
45 Ibid. Estudo feito no final do mês de outubro de 2018 indicou 90,035% de precisão a
partir de uma base de dados experimental. Ver: DA SILVA, Nilton Correia. Document
type classification for Brazil’s Supreme Court using a Convolutional Neural Network.
Legal AI, 30 out. 2018. Disponível em: [https://legal-ai.co/classificacoes-victor]. Acesso
em: mar. 2019.
47 Ibid.
50 DA SILVA, Nilton Correia. Document type classification for Brazil’s Supreme Court
using a Convolutional Neural Network, cit.: “The aim of VICTOR is to speed up the
analysis of lawsuit cases that reach the supreme court by using document analysis and
natural language processing tools. Most of the cases reach the court in the form of
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Inteligência Artificial e Direito: o uso da tecnologia na
gestão do processo no Sistema Brasileiro de Precedentes
unstructured PDF volume which encloses several documents that have not been indexed.
Therefore, in the first phase of this project, our goal is to classify these documents within
PDF volumes.”
51 Ibid.
52 DA SILVA, Nilton Correia. Document type classification for Brazil’s Supreme Court
using a Convolutional Neural Network. Legal AI, 30 out. 2018. Disponível em:
[https://legal-ai.co/classificacoes-victor]. Acesso em: mar. 2019.
55 STJ entra na era da inteligência artificial. STJ Institucional, 14 jun. 2018. Disponível
em:
[www.stj.jus.br/sites/STJ/default/pt_BR/Comunica%C3%A7%C3%A3o/noticias/Not%C3%ADcias/STJ-d
]. Acesso em: mar. 2019. Posteriormente, reporta-se, pretende-se possibilitar a “a
extração de dados relacionados a partes e advogados, a identificação de prevenções e o
apoio à atividade de identificação de temas repetitivos”. Ibid.
57 Ibid.
58 Ibid.
62 Ibid. Ver também: Robôs advogados analisam processos, fazem petições e aceleram
contratos. Folha de SãoPaulo, 10 nov. 2018. Disponível em:
[www1.folha.uol.com.br/mercado/2018/11/robos-advogados-analisam-processos-fazem-peticoes-e-ace
]. Acesso em: mar. 2019.
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63 Ver: Inteligência Artificial (IA) aplicada ao Direito. Jota, 27 nov. 2017. Disponível em:
[www.jota.info/opiniao-e-analise/artigos/inteligencia-artificial-ia-aplicada-ao-direito-16112017].
Acesso em: mar. 2019.
64 Ver: Tribunais investem em robôs para reduzir volume de ações. Valor Econômico, 18
mar. 2019. Disponível em: [
www.valor.com.br/legislacao/6164599/tribunais-investem-em-robos-para-reduzir-volume-de-acoes?utm
]. Acesso em: mar. 2019: “Atualmente, há pelo menos 13 tribunais do país, dentre (sic)
eles o Supremo Tribunal Federal (STF), que já utilizam algum tipo de robô para
trabalhos repetitivos ou inteligência artificial para tarefas como sugestão de sentenças e
indicação de jurisprudência.”
68 SURDEN, Harry. Op. cit., p. 88: “Consider that outside of law, non-cognitive AI
techniques have been successfully applied to tasks that were once thought to necessitate
human intelligence — for example language translation. While the results of these
automated efforts are sometimes imperfect, the interesting point is that such computer
generated results have often proven useful for particular tasks where strong
approximations are acceptable.”
73 STJ chega a mil temas repetitivos e reafirma papel de corte de precedentes. STJ
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Inteligência Artificial e Direito: o uso da tecnologia na
gestão do processo no Sistema Brasileiro de Precedentes
79 Id., p. 100.
80 FUX, Luiz. Op. cit.: “No tocante ao quarto ponto, outra demonstração de sucesso de
tal iniciativa diz respeito ao potencial auxílio na resolução de cerca de 1/8 dos REs que
chegam ao STF. Dos aproximadamente 80 mil recursos que chegam ao Supremo a cada
ano, 40 mil, em média, são devolvidos aos tribunais de origem. Desses, metade (20 mil)
volta por não atender a requisitos formais de admissibilidade e a outra metade (20 mil)
por se enquadrar em algum tema de repercussão geral definido pelo STF. Tendo em
vista o fato de o Victor ter sido ensinado a identificar os 27 temas mais comuns, que
dizem respeito a cerca de 50% de todos os casos entre os 1020 temas com repercussão
geral, a tecnologia pode dar solução para, em média, 10 mil processos a cada ano.”
eventuais, cit.
84 VON SIMSON, Charlie. Artificial intelligence and delivery of unbundled legal services
to corporate and under-represented parties. Ross, 18 mar. 2019. Disponível em:
[https://blog.rossintelligence.com/post/artificial-intelligence-delivery-unbundled-legal-services-corporat
]. Acesso em: mar. 2019: “The technology will allow lawyers to provide higher quality
service to people who might otherwise have little or no meaningful access to justice.”
96 Ver: SALAS, Javier. Se está na cozinha, é uma mulher: como os algoritmos reforçam
preconceitos. El País, 23 set. 2017. Disponível em:
[https://brasil.elpais.com/brasil/2017/09/19/ciencia/1505818015_847097.html]. Acesso
em: mar. 2019: “Uma equipe da Universidade da Virgínia acaba de publicar um estudo
que indica, mais uma vez, o que muitos especialistas vêm denunciando: a inteligência
artificial não apenas não evita o erro humano derivado de seus preconceitos, como
também pode piorar a discriminação. E está reforçando muitos estereótipos.”
99 Ver: PASQUALE, Frank. The blackbox society: The secret algorithms that control
money and information. Cambridge: Harvard University Press. p. 2016.
100 Segundo tais autores, o direito à explicação seria regulado, em certa extensão, pela
Lei Geral de Proteção de Dados do Brasil (Lei 13.709/2018, também chamada de LGPD)
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gestão do processo no Sistema Brasileiro de Precedentes
e pela Regulação Geral de Proteção de Dados da União Europeia (a GDPR), que, todavia,
ainda impõem limitações que podem ter impacto no seu efetivo exercício. Ver, sobre
este tema: MONTEIRO, Renato Leite. Existe um direito à explicac�ão na Lei Geral de
Protec�ão de Dados no Brasil? Instituto Igarapé, 11 dez. 2018. Disponível em:
[https://igarape.org.br/existe-um-direito-a-explicacao-na-lei-geral-de-protecao-de-dados-no-brasil/
]. Acesso em: mar. 2019.
102 Ver: DO VALE, Luís Manoel Borges: “A publicidade das decisões precisa ser ampla,
sob pena de subtrair das partes a possibilidade de realizar o controle de sua legitimidade
constitucional. O princípio da publicidade, em decorrência do crescente número de
ferramentas de inteligência artificial, demanda releitura inconteste, a fim de abranger o
conhecimento de todas as etapas necessárias à formação do algoritmo.” Também nesse
sentido: ABRAHAM, Marcus: “Além disso, não se pode esquecer a importância da
neutralidade, da transparência e da auditabilidade dos códigos-fonte do algoritmo
utilizado, uma vez que são requisitos para garantir e controlar a legitimidade e bom
funcionamento dessas ferramentas.” (sic)
103 Não encontramos nada de errado, diz pesquisador que examinou algoritmo do STF.
Jota, 13 set. 2018. Disponível em: [
www.jota.info/justica/algoritmo-stf-distribuicao-processos-13092018]. Acesso em: mar.
2019: “A posse desse código não representa nenhum risco ao sistema de distribuição. E,
como a transparência é desejável, então a equipe de pesquisadores recomendou a
publicação do algoritmo, pois esse parece ser o caminho correto para a evolução do
sistema.”
104 CHADA, Daniel; HARMANN, Ivar A. Distribuição dos processos no STF é realmente
aleatória? Jota, 25 jul. 2016. Disponível em:
[www.jota.info/stf/supra/distribuicao-dos-processos-no-supremo-e-realmente-aleatoria-25072016].
Acesso em: mar. 2019.
105 Ao tentar proteger devedor, juiz pode prejudicar economia, diz Noronha. Consultor
Jurídico, 19 mar. 2019. Disponível em: [
www.conjur.com.br/2019-mar-19/juiz-nao-prejudicar-economia-proteger-devedor-noronha
]. Acesso em: mar. 2019.
106 Presidente do STJ abre seminário sobre inteligência artificial e destaca necessidade
de fazer mais com menos, cit.
107 Ver: Ross Intelligence. Artificial Intelligence in Legal Research, cit.: “What is often
lacking is evidence-based assessments of the impact of the growing market of
AI-enabled legal tools on both the successful practice and business operations of legal
organizations.”
109 Não encontramos nada de errado, diz pesquisador que examinou algoritmo do STF,
cit.:
“Uma das recomendações é que no recesso haja mais ministros de plantão para evitar
direcionamento. Pode explicar o problema que vocês identificaram? Aqui não existe
nenhum problema. A questão é que, no Direito, somos muito ligados a tradições. Se
você parar para pensar, existe uma janela de tempo no recesso em que praticamente é
possível saber para quem a liminar será distribuída. Seja como for, esse é um assunto
para o STF avaliar. A manifestação da equipe de pesquisadores chama atenção para que
você pode fortalecer os sistemas de controle redesenhando um fluxo procedimental ou
as regras do jogo. Em outras palavras, nem tudo é uma questão tecnológica.”
110 Ibid.
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