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Estética e politica, memoria e esquecimento: novos desafios na era do Mal de Arquivo Mitcio Seligmana-Silva O teolégico-politico e o estético-politico Nossa era de terrorismos e fundamentalismos, baseada em um pensamento cada vez mais (novamente, sempre...) religioso, faz com que nos perguntemos se o famoso constructo de Carl Schmitt, 0 teolégico-politico, nao teria triunfado na nossa cultura politica. Ou seja, a derrota do nazi-fascismo foi aparente quando levamos em conta essa continuidade dos padres teolégico-politicos de nossa era. Mas nao se trata apenas de um triunfo da “infame”, para lembrarmos da expresso carinhosa que Voltaire reservon. 4 igreja. Também notamos hoje uma continuidade da matziz estético-politica. Walter Benjamin, como é bem conhecido, fechou seu texto sobre a obra de arte na era da sua reprodutibilidade técnica diagnosticando o nazismo como uma “estetizacio da politica” (BENJAMIN, 1989, p. 384). Essa interpenetracio do estético e do politico é, na verdade, bem mais profunda do que Benjamin imaginon. Existe uma profunda relaao entre a histéria da arte e de sna reflexo e, por outro lado, a histéria do pensamento e das priticas politicas. O nazismo teria sido apenas o auge desta longa histéria. O campo das artes sempre servit. como dispositivo de reflexio e aptimoramento de dispositivos de identificagao. As artes atuam no campo das formas, das proto-formas, poderfamos escrever platonicamente. Nelas, moldes identitérios sempre foram e continuam a ser produzidos. Se o homem atua no mundo a partir de sua constante leitura e interpretacio do mesmo, esse processo de leitura é guiado por uma gramitica das formas que é em grande parte gerada pelas artes. Els produzem a ontotipologia, os tipos que esto na base de nossos julgamentos nfo apenas estéticos, j4 que essa mesma ontotipologia impregna nossos juizos éticos e politicos também. Na nossa era do politicamente correto isso esta mais claro do que nunca. A atual racializacio do politico € apenas mais um triunfo dessa forca ontotipolégica. O fato de ela se dar muitas vezes em meio a boas intencées (a justificada defesa das minotias subaltemnas) pouco importa: a ontotipologia, o estabelecimento de tipos e formas pensados como identidades auténomns e fechadas, é 0 suficiente para se instanrar um modo de pensar fascista, ou seja, um modo de pensar antes de mais nada inimigo do “outro”, incapaz de perceber a identidade como jogo de diferenciagio, como falta ¢ nio como condi¢io éntica e fechada do ser. E verdade, por outro lado, que nem toda arte serve de modo subserviente a essa maquina de formas e de tipos. Muitas obras justamente trabalham no sentido de desconstruir esse jogo ontotipolégico. Elas tentam sabotar nossos habitos de julgar e de repetir identificagdes de modo mecinico. Assim podemos ler as obras de artistas, filésofos e esctitores como Baudelaire, Duchamp, Kafka, Benjamin, Francis Bacon, Derrida on Beckett. Neles vistumbramos 0 Eu como jogo de méscaras, como impossibilidade de identidade. Por outro lado, como justamente nossa época tem esse veio fundamentalista, 272 SELIGMANN-SILVA — Estética ¢ politica, meméria ¢ esquecimento... expresses estéticas facilmente esto na origem de novas quezelas estético-politicas, Esse foi 0 caso zecente, em 2006, das publicacdes de caricatuzas de Maomé (apresentado como texorista) do didtio dinamarqués [y/lands-Posten (e que foram sepublicadas em ou- tuos difzios, como 0 France-Soir, 0 La Stampa italiano, o alemio Die Welt e 0 espanhol E/ Periodico). Nao por acaso essa querela suugiu justamente da cazicatura, a arte de desfignrar comicamente, ionicamente e de modo ctitico, as faces, a base da nossa pexcepcio das identidades. A ontotipologia tem © nosso rosto como a sua pedra de toque. O political statement das caricatuas do Jyllands-Posten estava claro. A questi é que, na nossa e1a do politicamente corzeto, publicar cazicatuzas como essas significa uma declaracio de guerza. Nas democtacias, os politicos podiam ser cazicaturados, mas, na nossa guerza ontotipolégica, uma caricatura dessas tem o valor de um missil. Como tendemos a pensar 0 politico a partir de identidades étnicas e de pueceitos teligiosos, nio existe espaco para a izonia, muito menos para a caticatura. O humor fica banido e no lugar dele vemos suugizem novas modalidades do Index Librorum Probibitorum. ‘Todos somos também mais ¢ mais obtigados a confessar nossas racas, ideologias ¢ seligides — sendo em tribunais, ao menos em formulétios oficiais, As politicas sio feitas em tomo dessas etiquetas. A biopolitica leva de roldaio categotias e puiticas da politica — elas também problemiticas, mas ao menos nio tio fascistas quanto as do biopolitico. O culto de imagens e espacos simbélicos que representem a unidade da comunidade politica corresponde a uma sociedade que pensa por categorias estanques. Se na era moderna as nacdes erigiam grandes monumentos e comemozavam a patzia em tomo deles, agora as sociedades asticulam suas memézias em arquivos que sio utilizados como argumentos na guetta de identidades. Ao invés de opoimos de modo czitico ao registro positivista da historiografia novas priticas, mais abertas, em didlogo com a memézia, que permitem incorpozar a histéria oral, as imagens, a relacio da memeézia com seus locais, as novas modalidades de memeézia estio sendo canalizadas pasa discursos ainda mais tigidos e cegos 4 outzidade do que © patiiotismo que sustentava a historiografia até ha pouco. Os monumentos ¢ toda uma inagerie da comunidade politica so utilizados na ciiagio de una nova concepcio do préptio, seja esse pensado como etnia, saa, nago ou patria. Os dispositivos de meméria ajudam a desenhar a face do préprio. Devemos entender nesse sentido © papel das obras de arte como ausiliazes desse design do xosto da comunidade. Um exemplo dessas querelas da identidade /memézia aconteceu na Esténia, em tone do monumento aos soldados russos da Segunda Guerra (“Soldado de Bronze”) em Tallinn. Esse monumento foi retirado do seu local de destaque. Na ocasiio, Mikhail Kaminin, potta-voz da diplomacia russa, declarou: “O Monumento ao Combatente Libertador foi desmontado em vésperas de uma festa sagrada: o Dia da Vitésia [sobre a Alemanha nazista em 1945]. E isso s6 se pode classificar de sactilégio e desumano” (“Riissia estuda sanges contra Esténia”). O sagrado e 0 politico esto lado a lado: uma obra de arte monumental, que sepresenta também um marco da dominacio soviética, ¢ lida como um documento teligioso e indice de humanidade. Nossos conilitos politicos tomam-se de modo explicito quezelas em torno da memétia. Tersitozios e populagdes, para afizmar sua identidade, cultuam mais e mais imagens que lhes garantem uma forca de identificacio mimética, Tiata-se de um modo arcaico e violent de identificagio, que Adorno e Horkheimer descreveram como estando na base do processo de hominizacio e que teria Remate de Males — 29(2) — jul./dez. 2009 273 como origem 0 medo do Outro.! Nosso desafio € aprender a lidar com a nossa cultura da memézia sem reproduziz essa tendéncia & mimesis mecinica que responde 4 necessidade piimitiva de protecio ¢ autoconservacio. Como esczeveu Vilém Flusser (2007), devemos aprender a viver novamente no nomadismo, na Heimailosightit (a apatuicidade), pox mais duzo que possa sex este aprendizado. Arquivos Falar hoje de arguivos, de colecionismo, de listagens e de musealizacio tornou-se quase uma obsessio, Faz parte de nossos atuais situais académicos recordar essa nossa cultura da meméria. E imperativo hoje descrever e tentar entender essa nossa nova paisagem arquival. E como se de repente todos nés tivéssemos ficado conscientes de que cultura ¢ meméria: uma assexcao que jé era verdade para pensadores como Aby Warburg, Walter Benjamin, Maurice Halbwachs, Freud, entre tantos outros. Mas é lao que falar que cultua é meméria no é 0 mesmo que falar que cultura é arquivo, ou ainda, que cultuza € musealizagio. Esses termos devem ser bem pesados e avaliados dentuo de cada época € autor que os emprega. Podemos pensar também que essa “virada memouialista” niio é de agora e pode ser retracada como mais uma etapa em uma antiquissima reflexio sobre a escritura e a nossa relacio com os dispositives de inscricio. Da cultura egipcia, de Platio ¢ Aristételes até Foucault e Deitida, acompanhamos wma longa histéria de teflexo sobre a meméuia, 0 arquivo e a escritura. Muito jA se publicou sobre esse tema nas ltimas décadas. Nesta histézia, por outro lado, é verdade que vivemos um capitulo impar, mazcado pelas profundas mudanyas tecnolégicas e pela patalela revolusiio em nossa visiio do bomem e da cultura. vitada memouialista” é sem diivida um dos momentos de maior destaque dentro de um outro movimento que convencionamos chamar de “ cultuzalista”, © culturalismo sepresenta a um s6 tempo o esgotamento e a tentativa de supezacio dos grandes modelos explicativos, teleolégicos e ainda comprometidos com o Iuminismo do século XVII. O modelo iluminista foi profundamente abalado nfo apenas pelas experiéncias histéricas das guests e pela “banalizaciio” dos genocidios, mas também pelas inovacdes tuazidas pela psicanilise e pelas vanguardas, e também, e acima de tudo na tltima década, pela entronizacio do saber biolégico. As chamadas ciéncias humanas, que lutaram dtante os séculos XIX e XX para se verem independentes do modelo de saber cientificos das ditas ciéncias exatas ¢ naturais, se véem agora novamente niio apenas conectadas, mas outra vez submetidas aquele modelo de saber. Nao se trata apenas de um neopositivismo (que também existe), mas, antes de mais nada, de uma indefinicfio acerca do campo daquilo que se considerava 0 pensamento sobre as producées culturais, calcado na interpretagio, no processo de entendimento, em oposi¢io 20 modelo nomotético das demais ciéncias, voltado paza as leis da natuteza. O saber biolégico e a atual revolucio das neurociéncias apzesentam um potente modelo de cultura, como um complexo sistema de hereditariedade, e do homem, como um sofisticado sistema de insctigdes mneménicas. Nosso corpo foi revelado como um arquivo. Mas nfo se tata mais da tuipatticio aristotélica da nossa alma em meméria, fantasia e A nossa atual “ “virada 274 SELIGMANN-SILVA — Estética ¢ politica, meméria ¢ esquecimento... logos, nem da tuipatticao fieudiana em id, ego superego. Nosso corpo fai desvelado agora como um arguivo em suas bases materiais ¢ ndo apenas como metifora arguival. Com a quebra do genoma e dos procedimentos de inscricio newtonal de nossos diferentes niveis de meméuia, a ciéncia entrou em um campo que as humanidades dominavam com uma soberania que, agora vemos, ea muito precétia, Paralelamente a essas descobertas ocone também a passagem para a e1a digital, a c1iacfio do universo da Intemet, impacto que compreendemos aos poucos. Essa “nova América” também abala nossa visto de mundo: a revolucio mididtica, a superacio dos suportes tradicionais de insczicio, apresenta o mundo, a histéuia e © conjunto de todo saber como uma “citation a Yordie du jou” (BENJAMIN, 1974, p. 694). Nossa cultura letrada se transforma em cultuza eletudnica-digital. As fonteizas entue 0 eu-arquivo e o mundo-arquivo aberto pela era da computacio abalam a identidade do humane. E nesse contexto que gostatia de apresentar algumas ideias sobre a questio da memézia e do arquivamento em um mundo afundado na hipermnésia do universo da web. Ji tive a oportunidade de tratar em outros textos da selacio entse a tradicional muemotécnica (a “arte da memézia”) da Antiguidade com nosso atual panorama das artes (SELIGMANN SILVA, 2006), que mais do que munca se entendem como uma espécie de arte da memézia. Aqui enfocazei apenas alguns aspectos com selacio as dificuldades da rememoracio e do arquivamento, Gostaria de destacar a amnésia e a hiponnésia, como faces nio menos importantes da nossa hipermnésia. Como lemos em um dos mais influentes textos dos tiltimos tempos sobre essa questo, o Mal de arquivo, de Dentida: “Nao haveria certamente desejo de arquivo sem a finitude radical, sem a possibilidade de um esquecimento que nfo se limita ao zecalcamento” (2001, p. 32) Esse esquecimento pode ter muitas faces: © apagamento, a tentativa de boriar da histéria, una amuésia provocada por catastrofes natuzais, ou ainda um esquecimento decretado, que, no fando, como veremos, é uma contuadi¢io nos seus proprios texmos. Nossa cultua arguival e da memeétia é uma culttza onde grandes conflitos e guemas se articulam em torno da chave de azquivos e de certas interpretacdes da nossa memézia cultural. Pocemos ler nas gueras fundamentalistas planos de deletar da memoézia da humanidade as informacées cultuais e genéticas contidas nos grupos que sio tentativamente dizimados. Tanto os genocidios, como as guerzas politicas e as ditaduras, que marcazam © continente sul-amezicano na década de 1970, levam a graves conilites em tomo dos arquivos do teizor. Em 2006, para citar um exemplo bem atual, foi anunciado que o arquivo de Bad Azolsen, na Alemanha, contendo mais de 25 quilometros de estantes com dados sobre as vitimas da Segunda Guerra Mundial, finalmente sezia aberto aos pesquisadores, Ou seja, apenas depois de mais de 60 anos de controle é que os histoxiadoves puderam (no sem conflitos) ter acesso essas fontes documentais primfzias. No Brasil, apenas recentemente o governo federal abziu os arquivos da ditadura, mas essa abertura ainda é limitada e no é © suficiente pasa resolver o paradeizo dos desaparecidos pela ditadusa de 1964-1985. Segundo Fabio Konder Compuazato, ¢ inconstitucional a lei que estabelece o sigilo. Ele prega a necessidade de acdes individuais para 0 acesso a documentos, tendo em vista uma abertura maior deles ao pitblico (http:// ctvincubadora.fapesp.br/portal/V.attigos/arquivos, acessado em 30/05/2006). Remate de Males — 29(2) — jul./dez. 2009 275 Como a grande pesquisadora da meméria Aleida Assmann (1999) destacou, 0 arquivo é a0 mesmo tempo uma espécie de meméria recente da burocracia e um testemunho do passado. Se no termo 4réhé, como enfatizou Derrida, encontramos simultaneamente a nocio de origem como de comando (2001, p. 11), € porque no arquivo se encontra aquilo que legitima o poder: tanto positiva quanto negativamente. O poder depende de seus arquivos. Ele necessita, portanto, de dominar e controlar as informacdes ai contidas. Todo sistema de arquivo implica tés movimentos bésicos: a selecio, a conservacio (em mais de um sentido deste termo) ¢ 0 acesso as suas informacdes (ASSMANN, 1999, p. 544). Calcula-se que apenas 1% dos documentos produzidos serio conservados. Mas com © tamanho virtualmente infinito do espaco da 2, decerto em breve essa percentagem deve se alterar. Cada grande momento de corte histézico, nas revolugdes flancesa, russa, cubana e todas as demais, assim como no inicio e no fim dos regimes ditatoriais e na restauzacio da democzacia, ocorrem grandes revisionismos nos aiquivos. Os documentos que legitimavam o poder anterior sio liberados ¢ outros se toram secretos. Trata-se da mesma dialética que Benjamin, em 1921, notou impezar na dinimica entre © poder instituidor e 0 mantenedor do diseito SELIGMANN-SILVA, 2007), transferida para a questtio dos arquives. Assim como um (giupo de) poder substitu © outro, do mesmo modo ocorze uma revisio nos c1itézios de selecio daquilo que deve sex apagado, daquilo que deve ser posto no arquivo fechado ¢ daquilo que deve sex liberado, Certas catéstuofes histézicas permanecem entexradas € caladas por décadas on séculos, Esse € 0 caso do genocidio dos arménios, ocossido na Primeiza Guerra Mundial na Turguia, que resultou no assassinato de cerca de um milhfio e meio de pessoas, Em funcio da continuidade da perseguicio aos arménios, esse genocidio nfio é reconhecido até hoje, nem internamente naquele pais (Tuquia), nem internacionalmente; tampouco € 0 mesmo pesquisado. Ainda em 2005 um congresso sobre esse genocidio, que teria lugar na Universidade de Bogazici, foi impedido de ocouer pelo governo tuco (Folha de J. Paitlo, 24 set.2005, A27) As tentativas de apagamento de arquivos, por parte de regimes autosititios ¢ totalitizios, so © contraponto de um movimento apenas aparentemente paradoxal de registro, documentagio e armanezamento da barbie. Existe uma buzocracia da moxte que se tansforma em arquivo. Em certos casos, essa auto-documentacio da barbitie atingiu na histézia um grau de detalhamento que desafia a psicologia social. Pois se, por um lado, poderiamos argumentar que, do ponto de vista do findamentalista, o assassinato do outro grupo é recomendivel e justificavel, por outro lado € sabido que em qualquer cena genocidatia paira 0 especto da vinganca. A ideia mesma de limpeza étnica, de climinacio total do ontzo, visa eliminar essa possibilidade de vinganca. Dai parecer pazadoxal, por exemplo, a existéncia de dois laboratérios de fotografia dentro de Auschwitz, assim como de outros labozatérios em Buchenwald, Sachsenhausen e Mauthausen, Esses laboratérios foram destruidos antes da libertaciio desses campos, mas no de Auschwitz sobreviveram cerca de 39.000 retratos de identificagio dos ptisioneizos. No campo de Auschwitz-Bikenau, ser fotoguafado significava escapar da cimara de gis, ao menos nos primeizos dias (CHEROUX, 2001, p. 54), 276 SELIGMANN-SILVA — Estética ¢ politica, meméria ¢ esquecimento... Além disso, devemos pensar nas transfoumagdes nos critérios de selecio, para além daqueles que ocomem devido 4 mudanca nas esferas do poder, e que sio, antes, detezminadas por novos modelos historiograficos e memorialisticos. A visada cultuzalista a que me seferia acima levou a uma verdadeita mudanca de paradigma nesse ponto. Hoje em dia, mais e mais vale a maxima de Walter Benjamin, segundo a qual “es ist niemals ein Dokument der Kultur, ohne zugleich ein solches der Babarei zu sein” (BENJAMIN, 1974, p. 696), ou seja, “nunca existiu um documento da cultura que nio fosse 20 mesmo tempo wm [documento] da barbazie”. E interessante ler a taducio do proprio Benjamin dessa famosa passagem das suas teses “Sobre o Conceito da Histéxia”: “Tout cela [Phézitage cultuzel] ne témoigne [pas] de la culture sans témoigner, en méme temps, de la barbatie” (BENJAMIN, 1974, p. 1263) A cultuza é, a pastir de meados do século NX, toda ela como que tansformada em um documento e, mais ainda, ela passa a ser lida como testemunho da barbitie. Essa nocio é essencial, porque com Benjamin vemos nio apenas una tremenda expansio nos ctitézios de selecio, como também a afizmasio radical de um modo de interpretar esses documentos, Quando se fala de arquivo, nfo se pode esquecer que a toda inscricio deve-se associar um modo de leitura e de interpretacio, de outza forma teriamos um arquivo literalmente mosto. O elemento politico domina todos os momentos do trabalbo no arquivo, da selecio, pasando pela conservacio € pelo acesso, chegando @ leituza dos documentos. A histézia, para Benjamin, como conhecido, é aproximada do modelo do colecionador e daquele do Lumpensamler, © catador de papéis. O historiador deve acumular os documentos que so como que apresentades diante do tuibunal da historia. Em Benjamin, a cultura como arquivo e meméuia, devido ao viés caitico ¢ revolucionatio de seu modo de leitura, niio deixa a sociedade e sua histéxia se caistalizarem em museus e parques temiticos. E o viés conservador da cultura como mercadoria, 20 qual Benjamin opée sua visada da cultura como documento e testemunho da barbasie, que o faz. Seu projeto de historioguafia calcado no colecionismo (que tem pot principio o arrancar seus objetos de falvo contexto para inseri-los dentro de uma nova orden comantada pelos interesses de cada presente) e, pox outzo lado, inspitado no tuabalho do catador (que se volta para o esguecide e considerado inti) pode sex lido sobsetudo no seu trabalho inconcluso sobre as passagens de Paris (BENJAMIN, 1982). Esse trabalho, por sua vez, deve sex posto a0 lado do projeto de Aby Warburg, 0 atlas cultural Muemosyne, que ocupaza os tiltimos anos da vida do famoso colecionador de livzos e historiador da aute, de 1923 a 1929 (WARBURG, 2003). Nele, Warburg cons- tuuiu painéis com reproducées de imagens pertencentes a diversas épocas culturais. Par~ tindo do principio da analogia, ele construiu constelacdes culturais que explodem os percursos de interpretacées tradicionais da histézia da arte de entio, vincadas por questées de estilo ou formais. Nesses dois projetos, o de Benjamin e o de Warburg, por sua vez, podemos identifica procedimentos que reaparecem na arte da meméria da segunda metade do século XX, das acumulacdes de César aos trabalhos de Chuistian Boltansky, Raffael Rheinsberg e de Marina Abramovic, entre tantos outros (Cf, WEIGEL, 2005, ERMEN, 1998). Remate de Males — 29(2) — jul./dez. 2009 277 Lete: necessidade e resisténcia Benjamin severte, portanto os valores tuadicionais da selecio e da conservacio. Ao invés da matéria que antes era considerada nobre digna de ser conservada, ou seja, os documentos que recordavam as grandes acdes do Estado, ele visou 0 lixo, os restos. Essa everstio € tipica de todo projeto de desconstrnciio dos cuitérios arquivisticos que estavam na base do poder deposto. Mas pode-se pensar também a proposta benjaminiana como radicalmente c1itica, ou seja, ela pode serviz de base para um projeo de reesineturagio. dos arquives, Nao se tuatatia de simplesmente péx de cabeca paza baixo os c1itétios antigos, mas sim de implodi-los, De certo modo esse projeto tem recebido ampla acolhida na pesquisa académica das tltimas décadas que, dentro da virada cultwalista, justamente passou a levar em conta as vozes antes nio ouvidas dos oprimidos ¢ massaczados pela maquina do expansionismo capitalista. Vivemos uma era de revisionismo histézico. A questo, como vimos, é no permitir que essa escalada da meméria seja instrumentalizada pelos novos discursos da propriedade ¢ da identidade estanque. Outzo desafio é a aproptiacio da prépria indiistria cultural que mesmo na Universidade transforma esses contua-discursos em main-stream politically correct da moda, esvaziados de suas cargas politicas explosivas Benjamin também estava consciente dos limites desse proceso de arquivamento, ou seja, dos siscos da hipermnésia, Em uma fiase curta ¢ seca de seu livzo de fiagmentos Rua de mito iinica, de 1928, ele anotou: “Uberzeugen ist unfiuchtbar” (BENJAMIN, 1972, p. 87). Ou seja, desdobrando 0 conceito de Udergeagen, que pode funcionar como uma palavia-valise; “convencer é infecundo” ou “infrutifero”, mas também, “testemunhar demais é infecundo”; ou ainda, “super-gerar ¢ infrutifero”.? Nao por acaso a avalanche de testemunhos que o século XX gerou com seu actimulo de catéstuofes provocadas pelo homem tem conduzido a reagdes defensivas entre os historiadozes e teéricos da cultuza. Para além dos positivistas, que negam qualquer valor de conhecimento aos testemunhos (e nem sequer aceitam que a histéxia teria um teor politico), mesmo entre os pensadozes que tradicionalmente estio abertos para o fenémeno testemunhal constata-se hoje uma espécie de essaca, No final de 2005, Betuiz Sarlo expressou bem esse tipo de postura em seu livo de ensaios Tiempo pasado: Cultuza de la meméria y gito subjetivo (2005). Sua tese centual é que a utopia revolucionszia, com suas ideias, “recebe um tratamento injus- to se a apresentamos apenas ou fundamentalmente como diama pés-moderno dos afetos” (p. 91). Essa tese € coueta, mas, evidentemente, com ela no se tuata de calar ou deixar de onvir os testemunhos; antes, tuata-se de buscar uma dose couteta entue os discursos da meméria e os da histéria, Um discurso no deve sufocar 0 outro, Mas © dito de Benjamin que condena © Ubergeugen (ou seja, ao mesmo tempo 0 super-gerar e © super-testemunhar) também pode ser transposto pasa nosso universo vistual, A questio é como selecionar. Ou ainda: como controlar a sede da »¢b, como usar 9s sites de busca e como acessar — ou nfio — os documentos por eles listados. A vel reproduz nossa estrutuza mneménica, ja desctita por Auistételes como um misto de memézia e seminiseéncia (ARISTOTELES, 1957). No computador temos tanto os hard-disks comespondendo & meméria, como também programas de busca internos ou extemos (11a 20) a0 nosso computador, Nestas buscas recordamos, nv recollect, como se fala em inglés mais 278 SELIGMANN-SILVA — Estética ¢ politica, meméria ¢ esquecimento... precisamente. Mas se no computador existe a tecla deletar (que significa jogar no tio Lete) e se, ainda por cima, existem programas especializados em apagar totalmente de- terminados documentos de nossos computadores, o mesmo nio se pode dizer com rclagio as informagGes na nossa mente. Afora 0s problemas fisicos causados por mutilacdes, acidentes ou pelo envelhecimento, ainda nio inventaram uma ars oblivionalis efetiva. Segundo 0 semiélogo Umberto Eco (1988), tal ciéncia setia classificada como impossivel, uma vez que ela sezia uma tentativa de aplicar a “arte da meméria” (a mnemotécnica) de modo negativo. Mas ocorze que a arte da meméria ¢ uma semidtica, ou seja, uma ate “capaz de tomar presente algo ausente” (ECO, 1988, p. 258) Ao se presentificar o que se quer esquecer, apenas 0 seiteramos. Nao existitia uma arte do esquecimento. Como no exemplo da famosa anedota sobre Kant, que, ao querer se esquecer de seu ctiado Lampe, anotou em um bilhete posteriormente encontrado em seu espélio: “Tenho de esquecer completamente o nome Lampe” (WEINRICH, 1997, p. 107). Dificilmente esse método pode ter funcionado. Assim, podemos dizer que individuos que sofiem de meméria demais (uma das detinicdes do traumatizado, segundo Fiend) podem no méximo tentar diminuir 0 teor de maldade on de tuisteza de suas memérias. A terapia em certo sentido ptopée isto: uma visada cuitica sobre o passado que permita uma certa autonomia do sujeito com relacio a ele. Ao invés de agir guiado cegamente por um passado nio claborado, o individuo deveria canalizar as enegias do passado para uma acio libertadora no seu presente. Trauma, negacionismo e 0 rio da web Os sobreviventes de situacdes-limite, como campos de concentragio e de toxturas, tendem a desenvolver uma relacio ambigua com a meméria dessas experiéncias. Justamente pelo fato de eles no terem podido propriamente experienciar essas vivéncias, as imagens desse passado tendem a mazcar de modo patologico a vida dessas pessoas. Els se repetem, voltam sempze 4 mente, como Freud 0 notou, com elaciio dis memérias de traumatizados de guerza. Esse fato também pode ser desczito em termos de psicologia social, uma vez que pode ser detectado em sociedades pés-totalitirias ou que passazam pot segimes autozititios. Para além das querelas entre os grupos dos antigos detentozes do poder (e zesponsaveis pelas barbaties cometidas) e, por outro lado, © giupo das vitimas e dos que Ihes so solidizios, para além desse conflito existe um dilema interno a0 giupo dos sobreviventes, que sofiem dessa meméria do mal. A anistia, que via de regia é decretada visando um pacto social e a econstrucio da normalidade, acaba por perpetuar @ memoria da dor na medida em que nio permite que os processos jusidicos sanem, a0 menos em parte, as injusticas e permitam um tuabalho da memoézia do mal. O sobrevivente oscila entre a necessidade de naar e a impossibilidade de esgotar com palavras suas vivéncias. Além disso, ele deseja com seu 1elato nfio apenas gerar meméria (e, se possivel, justiga), mas também gezar o seu esquecimento: como Temistocles, 0 general ateniense exilado na Afiica, que gostaria de aprender de Siménides de Céos nio a arte da meméria, mas sim a atte do esquecimento. Essa arte, como vimos, nio existe. No miximo pode-se tentar sufocar uma meméria negativa sob 0 peso de outras memérias, Remate de Males — 29(2) — jul./dez. 2009 279 assim como mordemos os labios ou nos beliscamos para nio sentiz a dor de uma injecio. Em Atenas, recorda Nicole Loraux, as tagédias deveriam (azistotelicamente) evitar tuatar dos males prdximos aos que a cidade vivia para evitar a comocio descontuolada dos cidados. Fuinico teve de pagar uma multa de mil dracmas por ter feito uma peca sobre a Tomada de Mieto, fato histozico ocotido duzante as guetras persas, que marcou muito os guegos devido a sua brutalidade (LORAUX, 1988, p. 25).5 O perverso do negacionismo (tio discutido hoje em dia por conta dos que negam a existéncia das cimazas de gas nazistas, mas que é tipico das quezelas em torno de qualquer meméria do mal) est4 justamente em querer apagar 0 passado negando os fatos tuemendos que as vitimas querem ao mesmo tempo nauzar ¢ esquecet. Mas esses tiltimos quezem se esquecer porque sofzem sob a sua sombua e nfo para apagar as atuocidades. Na cena do arquivamento e do apagamento do passado (¢ todo arquivamento implica selecio ¢, portanto, esquecimento mesmo que parcial de cextos aspectos desse passado) 0 aiconte, ou seja, 0 detentor da chave do arquivo, o que tem o poder sobre ele, deve sex pensado como aquele também que tem as chaves da porta da justica. A justica mio é cega, apenas talvez © seja para as injusticas que sempre ¢ inevitavelmente comete.* Apenas uma humanidade liberada poderia ter acesso integral A sua memétia. Apenas essa sociedade estaria para além dessa estrutusa juridica que fecha também as portas da meméria. arconte continua do lado dos detentozes do poder. Sezia ilusézio pensar que a vel 20 menos no estigio em que se encontra agora, representa uma verdadeira democratizacio do arquivo. Ela pode ser utilizada nesse sentido (vide os biggr que pipocam aqui e ali sob estados autoritézios, ou servem de respizo pata intimeros produtores criatives que mio encontuam espaco no mercado); mas ela ainda esta longe de verdadeizamente abalar 0 poder aicéntico. Além disso, a ved pode também funcionar como um Lete, 0 sio do esquecimento dentro da geografia mitica grega. Ela pode significar a ilusio da publicidad. O sio da web afoga a maior parte da informacio a ela conectada ao invés de realmente fazé-la circular. Mas nfio podemos negar que o niimezo de informagées acessiveis na ponta de nossos dedos e sob o nosso nariz, na tela brilhante do computador, aumenta vertiginosa- mente a cada dia. Projetos mamute de digitalizagao de bibliotecas esttio sendo levados adiante por Amazons e Googles. Se nio podemos ix as bibliotecas, elas vém a nés. Sem contar 0s miles de outzos tipos de informacées, jornalisticas, musicais, cinematogriticas, attisticas etc., que também esto on-line. O auténtico desejo de esquecimento do sobrevivente vai agora ao encontzo de nosso desejo de também nfio nos afogarmos dentro do crescimento exponencial de informagées que nosso mundo vistual permite. Sofremos concomitantemente de bipermnésia e de annésia. A memoria demais leva também a um “apagamento” da informacio por impossibilidade de metabolizaciio da mesma, Como no Funes Memorioso de Borges (1979), nossa super-meméria ameaca nos enterrar na medioctidade. Por outro lado, podemos pensar que mais vale softer de informacio demais do que de falta e de censuza da informacio. Passado 0 piinico do ing do milénio — que, destruindo nossos arguivos, prometia nos lancar nas trevas de uma nova idade média — s6 nos zesta esperar que bug nio se dé em nossos computadores, que a cada par de meses tem sua capacidade de meméria suplantada ou, muito pior, que esse bug no ocoua dizetamente dentro de nossas cabecas. Antes que isso aconteca, podemos deletar alguns 280 SELIGMANN-SILVA — Estética ¢ politica, meméria ¢ esquecimento... arquivos de nossos computadores: em nossas cabecas, sem uma ars oblivionalis & vista, 36 nos testa recomer & atte do esquecimento contida na propria literatura € na atte, com toda a sua carga de meméria. Os Frinicos de hoje, felizmente, via de regia nao sio multados e devemos a eles boa parte do arquivamento vital e criativo de nossa época. Notas * Segundo Adomo ¢ Horkheimer (1985), a sociedade que quer esconder sta origem no medo e 1a mimesis enreda-se cada vez mais em uma minesis patolégica do que provoca pavor. © coupo sigido da sociedade, dominado pelo pavor diante de sua origem, quer preservar-se pela uniformizacao—e imitagao de si mesma: "O sentido das formulas fascistas, da disciplina situal, dos uniformes e de todo o apasato pretensamente issacional ¢ possibilitar o comportamento mimético” (p. 172). Tudo o que escapa a uniformizacio deve ser destruido. A sebelifio da natureza veprimida leva a mais repressiio, Os judeus sio acusados de sactificios sanguinasios: eles mesmos devem entio ser sactificados de modlo sanguinazio, © anti-semita identifica-se com aquilo que projeta no judeu: do envenenamento do pove, a conspiacio internacional pasa dominar o mundo. Ele tansforma o mundo no infemo que ele aiantes projetow para justificar sa fia *Paxtindo de um estudo da Onsitia de Esqpilo,anulisei a xelagio entve uma determinada tadicio do testemmnho, préxima Aacena da sala do tribunal, na sua relago com o“testemmanho da maseulincade” (CE SELIGMANN SILVA, 2005) » Loxaus secoxda também (1988, p. 31) da anistia de 403 a, C.em Atenas que estabeleceu uma espécie paradoxal (cimpossivel) de “dever de esquecimento” (nie mnesikaken, “é proibido recordar-se os males”), quando do fim da violenta oligasquia dos trinta, Ela explica que se na cultusa grega temos intimeras personagens representando a meméria do mal, 0 desejo de vinganga, enfim, toda uma galeria de personagens assombradas pelas Féxias/ Esingas e irmanadas a eas, por outso lado a politica e seus decretos estavam do lado do esquecimento. A auséncia de ressentimento era vista como uma grande virtude politica, como lemos, entre outras obras, em De cvbibenda ira de Plutasco, Plutarco elogia o fato de que no conflito entze Poseidon e Atena pelo controle de Atenas, o deus dos mares derrotado nio guardou ressentimento, arenas, para com a deusa, Os atenicnses em agradecimento essa cleméncia divina erigiam um altara Lete, 0 esquecimento, no Fsecteion. Altarambiguo, eu acrescento, que ao homenagearo esquecimento, recorda a derrota que devetia ser esquecida, Ele na vesdade comemora apenas a auséncia da memria do mal, ou seja, do ressentimento, Devemos ter em conta a relacio entze a nogio clissica de esquecimento ea de superagio do rancor (uma espécie de-variante de perclio, mas que se dé em termos de uma toca sitnal do esquecimento das sixas por uma coexisténcia pacificada). F interessante nota que ainda hoje existe ‘uma tendéncia maior dos Estados no sentido de promover a seconciliagio por meio do esquecimento ¢ aio tanto 0 reparo (juridieo ou nao) dos males, como vemos no aso do Brasil pés-ditadura, mas nao s6. Quando processos ocorrem, como no caso da Alemanha pés tesccito Reich, eles sio normalmente mais exemplares do que efetivamente restimidores de justica. A justica sempre fica xelegada a um plano quase utépico. “Com isso nao nego a necessidade do juridico, mas apenas aponto para a necessidade de sua critica, tal como Benjamin indicon em seu ensaio de 1921 (Cf. SELIGMANN SILVA, 2007). 0 juridico, sobretudo gracas aos dispositivos do testemunho ¢ da confissio, para além de constituir um dispositivo de equilibrio das demandas de justica, bre espaco para uma nartativa do mal com seus efeitos terapSuticos (Cf. FELMAN, 2002) Bibliegrafa “Riissia estuda sangées contsa Estonia”. 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