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unda-feira, 14 de novembro de 1966 Aula ne 12 Vida de William Wordsworth. “The Prelude” e outros poemas. Wordsworth nasceu em [Cockermouth], Cumberland, 1770, morreu como poeta laureado da Inglaterra em 50. Procede da familia Lonsdale, que significa “gente da nteira”, familia que tinha se endurecido em guerras con- escoceses e dinamarqueses. Educou-se na Grammar School do seu vilarejo, depois Cambridge. Em 1790 foi para a Franca. Descobriu-se faz uuco algo que causou certo escandalo. Descobriu-se que e amores com Anette Vallon, que lhe deu um filho. Foi partidario da Reyolugo Francesa. Chesterton disse esse respeito — muitos ingleses foram partidarios da Reyo- 40 — que um dos acontecimentos mais importantes da ist6ria inglesa foi a revolugao que esteve a ponto de se pro- luzir, [Wordsworth] foi, entao, revolucionario na juventu- le, mas depois deixou de ser. Deixou de ser, e deixou de ser artiddrio da Revolucao Francesa, porque esta culminou na jitadura de Napoledo. No que diz respeito & sua produgao, ela € em grande arte dedicada & geografia. Lembro-me que Alfonso Reyes izia a mesma coisa de Unamuno. Dizia que a emogao da aisagem substitufa em Unamuno a emogao da musica, & ual era insensivel. E Wordsworth viajou muitas vezes pelo 169 FF continente. Esteve na Franca, no Forte da Itdlig na Alemanha, e também viajou pela Escécia, 1G Suica, turalmente, pela Inglaterra, Estabeleceu-se no qu ae = mado de Lake District, distrito dos lagos, te 01 cha. da Inglaterra, um pouco a Oeste. Uma regizio de la ate aut tanhas muito semelhante } Suica, s6 que as ates 4 nos consideraveis, Mas visitei ambos os Paises, eg im ii que causam é parecida. Conta-se que um guia sug ead dia a esse distrito dos lagos, na Inglaterra, ¢ a Baa pa notou a diferenca de altitude entre os cumes, ee disso, é frio, neva muito. Sou Agora, a vida de Wordsworth foi uma vida Consagrada } Poesia. Voltou 4 Inglaterra — nao Veria mais Anette Vallon -, casou-se com uma jovem inglesa, teve varios filhos ale morreram com pouca idade. © Proprio Wordsworth tinha ficado érfio muito cedo, ¢ seus meios lhe permitiram dedi- car-se exclusivamente A literatura, 3 Poesia € As vezes pro- sa. Era um homem de grande vaidade, um homem muito duro. Creio que Emerson! conta que foi visitd-lo, fez-lhe uma observacao, Wordsworth refutou-a imediatamente — segun- do seu costume, porque bastava que lhe dissessem uma coi- Sa para que ele sustentasse 0 contrério — e, a0 cabo de dee Ou quinze minutos, Wordsworth emitiu a mesma opiniao que havia achado absurda em Emerson. Entio Emerson, com toda a cortesia, lhe disse: “Bem, foi o que eu disse ha pou- co.” Entéo Wordsworth, indignado, disse: “Mine, mine, not yours!l”, “isso é meu, é meu, nfo é seu!” O outro ae que nao se podia discutir com um homem daquele ca oS Além disso, como todos os poetas que pr ofessam uma t i tia, que estao convencidos dela, acreditava que eee ae se conformasse a essa teoria era aceitavel. Por isso a 0 i ic 803-82). * Ralph Waldo Emerson, filésofo, escritor e poeta americano (1 170 havia planejado com Coleridge a publicacao de uy se intitularia Lyrical Ballads, baladas liricas, q em 1798. Essa data é importante na histéria da literatura j glesa ¢ na histéria da literatura européia, porque ee um dos documentos deliberadamente romanticos, Quel ne zer, muito anterior 4 obra de Hugo ou dos outros, 7 Quando Wordsworth conversou com Coleridge, reso} veram dividir entre si os temas do volume em dois grupos, Um trataria da poesia que esta nas coisas comuns, nos epi- sédios comuns, nas vicissitudes comuns de toda vida. A outra parte, encomendada a Coleridge, trataria da poesia do sobrenatural. Mas Coleridge era muito preguicoso, também estava entregue ao dpio, era opidfago como o grande prosis- ta poético De Quincey’ e, quando chegou o momento de publicar o livro, o caso é que Coleridge contribuiu com duas composig6es, e todas as outras haviam sido escritas por ‘Wordsworth. O livro apareceu com a assinatura de Words- worth, e de duas composig6es se disse que eram de um ami- go que preferia nao revelar seu nome. Poucos anos depois, saiu uma segunda edigao com um prélogo polémico de Wordsworth. Nesse prélogo, Words- worth explica sua teoria da poesia. Dizia Wordsworth que, quando uma pessoa adquire um livro de versos, espera cn- contrar nesse livro certas coisas. E se 0 poeta nao as cumpre, se 0 poeta frustra essa expectativa, o leitor pode pensar duas coisas: pode pensar que o poeta é um inepto, um incapaz, ou pode até pensar que é um vigarista que nao cumpriu 0 prometido. Entéo Wordsworth fala da dic¢do poética. Diz que todos ou quase todos os poetas contemporaneos a bus- cam, que cle se deu tanto trabalho para evita-la quanto outros m livto que Me aparecey A oe Quincey, chamado De Quincey, escritor britinico (1785- 172 ara encontré-la. De modo que a auséncia de diccio poéri- , de expressdes como “brando zéfiro”, de met4foras mito- égicas, etc., isso foi deliberadamente excluido por ele. E diz jue procurou uma linguagem singela, mais ou menos afim linguagem oral, sem os balbucios, as hesitacées, as tepe- igdes desta. Wordsworth atural é a dos campos, Porque pensava que a maioria das alavras tém sua origem nas coisas naturais — falamos do Frio do tempo”, por exemplo —e que a linguagem se conser- mais pura na regio em que a gente est4 vendo continua- lente campos, montes, rios, montanhas, auroras, ocasos ¢ como Leaves of Grass de Whitman, de 1855, as Baladas dos quartéis de Kipling, a poesia contemporanea de Sandburg* té-lo-iam horrorizado. No entanto, essa poesia que se fez depois procede de Wordsworth. [Wordsworth] dizia que a poesia tem sua ori- gem num “overflow”, num transbordamento de emocées po- derosas, produzido por uma agitacao da alma. Entio teriam podido objetar-lhe: se isso acontece, basta que um homem se- ja abandonado por uma mulher, que 0 pai de um homem motra, para que se produza poesia. E a historia da literatura demonstra que nZo é assim. Uma pessoa muito emociona- da mal pode se exprimir. E Wordsworth expe aqui sua teo- tia psicoldgica da origem da poesia. Diz que a poesia nasce da emog4o recordada na tranqiiilidade. Imaginemos um tema dos que falei: um homem que é abandonado pela mulher que cle ama. Nesse momento, o homem pode se entregar ao desespero, pode procurar a resignacio, pode tratar de se dis- * Carl August Sandburg, poeta, escritor, jornalista, editor folclorista americano (1878-1967). 173 trait, pode procurar 0 dlcool, ou o que for. Mas Sora estranho que se sentasse para escrever um poema, va sa um tempo, um ano, digamos, O poeta esta mais ‘as- do, entao lembra tudo o que lhe aconteceu, isto é oe emogao. Mas desta segunda vez ele nao apenas a a que recorda exatamente 0 que sofreu, o que sentiu. ae se desesperou, mas um espectador também, um se do seu eu pretérito, E esse momento, diz Wordsworth, eo momento mais propicio para a produgao da poesia, € 0 mo- mento da emocao recordada e revivida na tranqiiilidade, Wordsworth também queria que num poema nao houvesse outra emo¢ao que a exigida pelo tema, pelo impulso primé- rio do poema. Quer dizer, rechagava totalmente o que se chamam adornos da poesia. Quer dizer, Wordsworth acha- va perfeito escrever um poema sobre a emogio da aurora na montanha ou numa cidade. Mas achava errado que num poema dedicado a outro tema —a morte ou a perda da mu- lher amada, por exemplo — interviesse uma paisagem ou uma descricao. Porque dizia que isso era buscar “a foreign splendor”, um esplendor forasteiro ou foraneo ao tema cen- tral. Agora, € verdade que Wordsworth era um homem do século XVIII, e nao é permitido a nenhum homem, por mais revoluciondrio que seja, diferir totalmente da sua ¢po- ca. Assim, Wordsworth as vezes incorre — € isso torna ridi- culas algumas das suas paginas — na mesma dicgao censura- da por ele. Num poema, ele fala de um passaro, depois nao torna a vé-lo e pensa que podem té-lo matado. Ele quer di- zer, e diz, que os homens do vale podem té-lo matado com seus rifles. Mas, em vez de dizé-lo diretamente, diz: “Os ho- mens do vale podem ter apontado o tubo mortifero”, em vez de dizer “fuzil”’. Mas isso era um pouco inevitavel. > Borges certamente recorda a primeira parte (versos 238-268) do Li- yro Primeiro de The Recluse, intitulado “Home at Grasmere”. Em seus 174 Wordsworth escreveu alguns dos sonetos mais admi t ws admira- eis da poesia inglesa, geralmente dedicados a temas a is. HA um, famoso, que se situ: sae ‘@ na ponte de Westmi inster, m Londres. Esse poema corresponde, como todos os bons oemas de Wordsworth, a uma sinceridade, Porque ele sem. re tinha dito que a beleza estava nas montanhas, nas plani- ies desertas. No entanto, nesse poema ele diz que nunca ve uma sensacao de serenidade igual 4 que teve naquela anh, atravessando a ponte de ‘Westminster, quando toda cidade dormia®. H4 um soneto muito curioso, em que ele td num porto e vé chegar um navio, e se apaixona por ele, odemos dizer, ¢ lhe deseja boa sorte, como se o navio fosse a mulher’. Agora, Wordsworth planejou além disso dois oemas filosdficos. Um deles, “The Prelude”, era autobio- co, isto é, meditacdes de um caminhante solitdrio, E af s, Wordsworth nota a falta de dois cisnes: “... Tivo are missing, 2, a lonely pair / Of milk-white Swans; wherefore are they not seen Mertaking this day’ pleasure?” (“Faltam dois, dois, um par solitirio / de isnes brancos como leite; por que nao se pode vé-los / participando lo prazer deste dia?”). O poeta oferece entre outras a seguinte explica- a0: “The dalesmen may have aimed the deadly tube’ (“Os homens do le podem ter apontado o tubo mortffero”). . : Trata-se do poema intitulado “Composed upon Westminster Brid- ”, de 3 de setembro de 1802, cujos versos sao os seguintes: “Earth not anything to show more fair: / Dull would he be of soul who could by/A sight so touching in its majesty: / This city now doth, like: - ‘gar wear / The beauty of the morning; silent, bare | Ships, fou ; me -atves, and temples lie / Open unto the fields, and to the sky | if ne glittering in the smokeless air. | Never did sun more pee tae i In his first splendor, valley, rock, or bill; / Never saw 1, aos Se eae !/ The river glideth at his own sweet we / es every asleep / And all that mighty heart is lying stil * Be 0 (es sem titulo, é 0 que comega com 0 verso Sa aie sprinkled far and nigh”. Borges volta a cité-lo no la nota 14, 0 poema é transcrito textualmente. a Um comentador de Wor oa <7 sonhado com grande ix inuuulado “Ode sobre ag iti. em que baseia sey arguments ; poema deriva de Tecordacdes & ica da preexisténcia da ‘odas as coisas tinham um ¢5. se apagando depois. Diz que hness and the glory of a dream”: 0°. Em outro poema, para di. gue € “vive como um sonho”. Sa r ncias alucinatérias. Havia estado uco antes de que foi chamado de o reino do 32 sua casa, uma casa alta, viu todo um zer que alco bemos que em Paris po Tesror, ¢ dh cfu cammesim € parcceu-lhe ouvir uma voz que profetizavaa morte. Depois novo na Inglaterra, teve de atravessar de noite as ruinas de Stonehenge, um circulo de pedra anterior 2 epoca dos celtas, mas onde os druidas executavam sacrift- Gos. E achou que via os druidas com suas facas de pedra, pedemal, sacrificar humanos. Mas volto ao sonho. Alguém disse que o sonho deve ter sido sonhado por Wordsworth. mas eu acho — vocés podem julgar, claro - que o sonho ¢ bem preparado demais para ser realmente um somho. Quer dizer, antes de relatar 0 sonho, Wordsworth Mos conta as Cincunstancias anteriores, € nessas circunstin- as, que no sZo especificamente vivas, est4 a semente do so- nho. Wordsworth diz que sempre lhe preocupara um temor, * O time original do poem: é “Ode: Intimations of Immortality from Recollections of Early Childhood”. Foi composto entre 1802 ¢ 1806¢ publicedo pela primeira vez em 1807. Borges cita 0 quarto verso, que na realidade se LE “The glory and she freshness of a dream’ , alterando inadvertidamente 2 ordem das palavras. Nao nos esquecamos de que dia wado de cor 176 ) temor de que as duas obras maximas da humanidade, as iéncias € as artes, pude n desaparecer por obra de algu- a catastrofe césmica. Awualmente, temos mais direito a esse lemon, dados 6s progressos da ciéncia. Mas, naquela época, ssa idéia era uma idéia estranha, pensar que a humanidade oda ser eliminada do planeta e, com a humanidade, a cién- ia, a musica, a poesia, a arquitetura. Isto é, todo o essencial jlo trabalho dos homens ao longo de milhares de anos ¢ de entenas de geragdes. E ele diz, que conversou com uma pes- oa sobre isso e essa pessoa lhe disse que cla também com- artilhava esse temor, e que no dia seguinte a essa conversa ‘0i a praia. Vocés verao como em todos esses fatos estd pre- arado o sonho de Wordsworth. Wordsworth chega pela manha 2 praia, e na praia hd uma gruta. Na gruta, ele pro- cura refiigio contra os raios do sol, mas da gruta se vé.a praia, a dourada praia, e o mar. Wordsworth senta-se para ler, eo ivro que ele lé — isso € importante ~ é 0 Quixote. Logo che- ga o meio-dia — a hora do calor, como dizem na Espanha ~, ele se deixa vencer pelo peso da hora, o livro cai da mio, ¢ entéo Wordsworth diz: “I passed into a dream”, “entrei num sonho”. E no sonho ele ja nao esté na praia, na gruta diante do mar. Est num vasto deserto de areia negra, uma espécie de Saara. Agora, vocés véem que 0 deserto, ¢ a areia negra do deserto ja é sugerida pela branca areia da praia. Esté perdido no deserto, e vé uma figura que se aproxima dele, ¢ essa figura tem na mao esquerda um caracol. E na outra mao uma pedra que também é um livro. Esse homem se apro- xima dele a galope em seu camelo. Agora, naturalmente, vocés véem como tudo isso é preparado pelas circunstancias ante- riores, por uma mente inglesa, antes de mais nada. Hé uma relacao entre a Espanha e os arabes, além disso esse cava- leiro em seu camelo, esse cavaleiro com uma langa, é a Mo que uma transformagao de Dom Quixote. O cavaleiro se aproxima de Wordsworth, que esta perdido nesse negro 177 deserto. Pede que 0 outro 0 ajude ¢ eng races do ouvido do pis ‘kee “numa lingua desconhecida que no amen own Tongue? uma YO7, uma voz que profetiza a destruigan dn Ome um segundo dildvio. Entao o 4rabe, com uy da Terra ve, diz-lhe que assim é ¢ que ele tem a zi Fisionomia ra dildvio, dessa in undacSo, as duas ob; missao de salvar des. nidade. Urna, que tem cos C€Pitais da hum, nee i Parentesco “with the stars”, « estrelas’, “untouched by space or time”, “ini » Com ag qoe pelo tempo”. Essa obra éa ciéncia 5 a ciénci: z ie tada por urna pedra, que 20 mesmo tempo é a Gone ae costurna acontecer essa ambivaléncia. Sonhel z vers Com uma pessoa que as vezes era outra, ou que tinha as feighes de outra, € isso nao me surpreendia no sonho, o sonho pode manejar essa linguagem. a Entdo ele mostra a pedra a Wordsworth, e entao ele vé que a pedra nao é somente uma pedra, mas a Geometria de Euclides, ¢ isso representa a ciéncia. Quanto ao caracol, esse caracol é todos os Sivros, € toda a poesia que os homens ja escreveram, escrevem e escreverao. E ele ouve todo esse poe- ma como uma voz, uma voz cheia de desespero, de jibilo, de paix4o. O arabe the diz que ele tem de enterrar, salvar es- ses dois objetos capitais, a ciéncia € a arte, representados pelo caracol ¢ pela Geometria de Euclides. Entéo 0 sonhador pede que o salve e depois vé que 0 Arabe olha através dele ¢ vé alguma coisa, € esporeia seu camelo. Entao ele vé como uma grande luz que vai enchendo a terra, € com preende que essa grande luz €o diluvio. O 4rabe foge. O so- nhador corre atr4s do 4rabe poaerte que o salve. As aguas estao alcangando-o wando aco ' r De Quincey diz que esse sonho, que talyez seja 0 mals ido. Mas De Quincey .. ae : Detigete iB }, 1880 sonho havia sido ieee 2 idee provavel € que Proxima 6 ¢. poemas que Rilke" escreveu, o tema de um: do no campo, e da cangao, da melodia y: tempo depois. Agora, 0 poema de Wordsworth agtega a ci cunstancia, para cle misteriosa, de que a moca cantava a dialeto gaélico, em idioma celta, incompreenstyel para ele Eele se pergunta qual é 0 tema do canto e Ppensa: “unhap , far away things, and battles long ago”, “em coisas infelaes distantes, em batalhas que aconteceram, que ocorreram hj muito tempo”. Mas essa mtisica que havia enchido o vale como uma corrente, essa mtisica continua ressoando em seus ouvidos. Depois temos a série de Lucy Gray, poemas sobre uma mog¢a pela qual ele estava apaixonado. Depois a moga morre, entao ele pensa que ela agora faz parte da terra € que estd condenada a girar eternamente, como as pedrase as arvores. H4 um poema de quando a sombra de Napoleao caiu sobre a Inglaterra, por assim dizer, como cairia depoisa sombra de outro ditador. Um momento em que a Inglaterra ficou sozinha para combater Napoleao, assim como num momento da Segunda Guerra Mundial também ficou sozi- nha. Entao Wordsworth escreve um soneto dizendo: “Ou- tro ano passou, outro império caiu e ficamos sds para lutar contra 0 inimigo.” Depois diz que essa circunstancia tem de enché-los de felicidade, “o fato de que devemos estar sds, 0 fato de que nao devemos depender de ninguém, de que nos- sa salyacao est4 em nés”. Depois se pergunta se os homens que dirigem a Inglaterra estao 4 altura da sua alta missao, do seu alto destino. E depois pergunta “se realmente sao dignos desta terra e das suas tradicdes”, e nao sao, diz, “um bando servil”, porque nesse momento ele também insulta o gover no. E se nao sao um bando servil, que sao obrigados a tratar “with danger that they fear”, “com o perigo que temem”, “and ‘4 Moca cantan. ecordada Muito * Rainer Maria Rilke, poeta tcheco de Ifngua alema (1875-1926). 180 ito que a linguagem a de ser uma ling; j inh mguagem simples, mas nesses poemas ele ega a um esplendor de linguagem a juventude, quando ainda era um fandti la, por exemplo, de uma antecdm: bridge, onde ha um busto de Newton, e fala de New- n: “with his prism and silent face”, “com seu Prisma, que e serviu para formular sua teoria da luz, com seu Briss e rosto silencioso”. Depois diz: “The marble index of a mind F ever travelling through strange seas of thought”, “o in- ice de marmore de uma mente, et s ernamente atravessando tranhos mares de pensamento”, “alone”, “sozinha”. Isso io tem nada a ver com as primeiras teorias de ‘Wordsworth. ordsworth a principio foi uma espécie de escandalo, es- eve um poema perigosamente intitulado “The idiot O soneto se intitula “November, 1806”. Foi composto em 1806 e licado no ano seguinte. A versio original & a seguinte: “Another r! — another deadly blow! / Another mighty Empire overthrown! / And @ are left, or shall be left, alone / The last that dare to strugele with the 1. | “Tis well! From this day forward we shall know / That in ourselves ir safety must be sought; | That by our own right hands it must be ught; | That we must stand unpropped, or be laid low. / O dastard shom such foretaste doth not cheer! / We shall exult, if they who rule the / Be men who hold its many blessings dear, / Wise, upright, valiant; t a servile band, / Who are to judge of danger which they fear, | And which they don't understand.” “On the Statue of Newton in Trinity Chapel”, do livro Ill de The lude. Citamos em seguida os versos 58-63: “And from my pillow, king forth by light / Of moon or favouring stars, I could ee / ie chapel where the statue stood / Of Newton with his prism and silent , The marble index of a mind for ever ! Vayaging through strange seas thought, alone.” 181 versos péssimos. Pode nio ter, mediocridade e porque esta c . Em compensacao, Wordsworth tem consciéncia da sua ¢a, por isso ha tanto lastro, hé tanta parte morta na gu: ra. Quanto ao mais, fora esse sonho de Wordsworth, Ns io sei por que foi excluido das antologias, as pegas ne is de Wordsworth — salvo, talvez, aquela em que fala da- ele alto veleiro que vé e do qual se enamora— esto em to- as antologias da poesia inglesa, Foram traduzidas muitas vezes, mas a tradugao da poe- inglesa para o espanhol é, j4 constatei, dificil, muito diff- . Porque o idioma inglés, como o chinés, é essencialmei- monossilabico. Assim, num verso numa linha inglesa > m mais versos que numa linha espanhola. Como traduy(.,- r exemplo, “With ships the sea was sprinkled far and nig’ e stars in heaven”, “com barcos, o mar estava salpicad,) © jui e ali como as estrelas no céu”. Nao sobra nada na tra- cao. E no entanto essa linha é memoravel. Falei hoje de Wordsworth. Na préxima aula falarei do u amigo, colaborador e, por fim, polemista: Coleridge, o tro grande poeta dos comegos do movimento romantico. Porque esta consciente da Ontinuamente se polician- linha pertence ao soneto sem t{tulo de Wordsworth mencionado nota 7 desta aula. Transcrevemos em seguida 0 poema completo: “ith Ships the sea was sprinkled far and nigh, / Like stars in heaven, and jously it showed / Some lying fast at anchor in the road, / Some veering and down, one knew not why. /A goodly Vessel did I then expy / Come ea giant from a haven broad; | And lustily along the bay she strode, | ling rich, and of apparel high. [ This Ship was nought to me, ee , ; / Yer I pursued her with a Lover’ look / This Ship to all the rest dig fr: (When will she turn, and whither? She will brook / No ee cre She comes the winds must stir: ! On went She, and due north her ney took.” 183

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