Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
MISSÃO TERRASSOL
Missão Terrassol
Introdução
Relatório Final de Terrassol
O Raio Esterilizante
Mundo Animal
***
***
Ilustração da capa
Oscar Holguin
Adaptação Digital
O Autor
4
INTRODUÇÃO
não tão declaráveis nem vendáveis por serem somente velhas promissórias
das fartas dívidas familiares acumuladas pelos Yanoz ao longo dos séculos.
Lendo esses documentos, cheguei a fazer uma ideia mais completa
do que aconteceu naquele momento histórico no qual as viagens por
meio do hipnoespaço quântico abriram a possibilidade de chegarmos à
galáxia vizinha de Andrômeda, e, com a ânsia conquistadora vigente na
instituição do Conselho Galáctico Universal, não se mediu esforços para
atingir objetivo tão distante.
A maioria dessas informações foi coletada por Lady Cortezuma, que
na época dominou com mãos de ferro os braços exteriores da Galáxia. E
foi graças aos seus esforços pioneiros que se encontrou na atmosfera do
planeta de Terrassol a combinação de gases ideais para reagir e amplificar
nosso combustível ancestral, o alium de Spat – Lady Cortezuma espionou
essa civilização rudimentar por muitos anos, e quando percebeu que os
terrassolenses estavam perigosamente destruindo o nosso combustível,
então ela requereu, por moção especial no Conselho Galáctico Universal,
a decisão de tornar improfícuos esses seres inconvenientes por meio de um
programa complexo e caro de emissão de raios esterilizantes, lançados à
superfície do planeta de modo a eliminar especificamente a única espécie
dita inteligente de Terrassol.
Quando me recolhi à minha cúpula no satélite de Zhor, com todas
aquelas informações maravilhosas à mão, tive a ideia de juntá-las de uma
maneira mais divertida.
Realizei algumas verificações posteriores na polícia galáctica, nos
relatórios das comissões de controle e eliminação dos zoológicos galácticos
e nos institutos reguladores da propaganda galáctica.
Leiam calmamente e sem julgamentos acerca da veracidade desses
documentos, afinal, são relatos antigos os quais procurei deixar o mais
inteligíveis possível.
Promovi alguns cortes deliberados e algumas liberdades de linguagem
ao editar os documentos encontrados, mas, de modo geral, acredito que
sejam suficientes para dar uma ideia mais aproximada da espécie dita inte-
ligente que habitou esse distante planeta chamado Terrassol.
6
para que possam viver cada vez mais despreocupados e indiferentes ao seu
próprio planeta – ela prossegue.
No visor multidimensional, agora aparecem criaturas sedadas,
passivas em frente a uma caixa em que pulam imagens, exaltando a tortura
dos mais fracos e o orgulho do próprio corpo.
— Nobres do Conselho, peço minhas sinceras escusas pelas cenas
fortes a que os submeti. Mas vejam que esses seres, mesmo em suas tímidas
iniciativas no desbravamento do espaço, nunca o fizeram pensando na
possibilidade que nossa Comunidade Galáctica enseja, e sim apenas com
o pensamento ardiloso de controlar ainda mais o espaço – segue Lady
Cortezuma.
Nesse átimo, no grande painel se avista panoramicamente o planeta
Terrassol, com suas nuvens cinzentas, seus oceanos no mesmo tom e suas
terras somente um pouco mais escuras. O visor se apaga e o Capitão Mirador
enrola o pérgamo que trouxe, retirando-se sob o aplauso geral do Nobre
Conselho.
Lady Cortezuma agora flutua com sua biosfera reluzente no amplo
salão, encarando os Nobres do Conselho e finalizando seu aparte:
— Portanto, peço aos Nobres Guardiões da Galáxia que aprovem
esta minha moção e autorizem o extermínio TOTAL dessa espécie dita
inteligente de Terrassol! E que para isso utilizemos o nosso raio esterilizante
até não restar uma só dessas criaturas, de forma que possamos usufruir das
riquezas naturais de Terrassol sem a presença dessa espécie inconveniente,
responsável por destruir cada vez mais rápido a atmosfera que tanto nos
interessa em nossa expansão para Andrômeda. Sem mais, no momento,
peço somente a vossa aprovação à causa tão pertinente!
Com isso, Lady Cortezuma se afasta do centro da cúpula com a
sua biosfera radiante, e o meirinho anuncia mais um intervalo na Sessão
Extraordinária do Conselho Galáctico Universal.
9
O RAIO ESTERILIZANTE
Zork. A nave chegou pelo oceano na costa de uma cidade bem agitada, com
morros repletos de construções e uma figura terrassolense esculpida em
pedra, com os seus dois tentáculos superiores abertos em um ângulo reto.
Parecia haver uma grande festa nativa em andamento em uma larga
avenida cercada de terrassolenses seminus amontoados e parados em frente
a uma fila de alegorias, representando as mais toscas e estúpidas entidades
alienígenas imagináveis. Zork, com habilidade, pairou discretamente sobre
o desfile e foi me enviando imagens surpreendentes.
Estupefato, presenciei o que a imaginação limitada do terrassolense
concebe como interestrelar: seres esverdeados, cabeçudos e com olhos em
formato de gota. Os veículos espaciais, então, eram toscas imitações daquelas
naves originais enviadas para espiar Terrassol a mando de Lady Cortezuma.
Mas não me detive muito nessas curiosidades terrassolenses, pois
Zork, uma máquina de executar, levou o conceito de “quanto mais gente
melhor” tão a sério que, justamente quando um dos casais de terrassolenses
bailava no centro absoluto da avenida, ao som de uma música insistente
e rítmica, ele acionou o raio trator. Previ um grande desastre com essa
súbita ação, mas, para a minha surpresa, o povo todo começou a aplaudir
efusivamente a dupla de terrassolenses ascendendo à nave, tracionada pelo
raio trator.
Assim que chegaram, eles foram imediatamente criogenados na
cúpula biodésica, isso porque naquele tempo se capturava em bloco com o
raio trator – um cone de luz era lançado e sugava o objeto alvo e o envolvia
em uma bolha com o seu meio ambiente. Essa era uma forma de garantir
todos os elementos necessários para poder manter o espécime vivo caso ele
fosse realocado em um ambiente similar. Muito diferente de agora, com esse
sistema não invasivo com o qual capturamos a criatura e todo o seu meio no
escâner telemolecular 18D. Agora temos uma cópia dela perfeitamente igual
em tudo. Se houvesse essa tecnologia na época que trabalhei em Terrassol,
eu poderia ter centos de terrassolenses na minha cabine, e não somente
aqueles dois desgarrados…
Nós que fomos da Vacuum Enterprise, já vimos de tudo no
universo conhecido, mas essa dupla de terrassolenses, desde o primeiro
contato, me pareceu das mais bizarras e antipáticas. Quando os analisei
no genomoscópio, pude ver que algo no seu padrão não condizia, mas a
pressa por ver concluída essa missão, a solidão lunar e aqueles centos de
13
protocolo interestrelar.
Assim que comecei a procurar com o tele-emissor os seres relativos
ao padrão dos machos, e depois de muito procurar, acabei localizando
um ou outro, bem poucos, para dizer a verdade, e todos parados de forma
estupidificada ou sentados, isolados uns dos outros, e em alguns lugares
pareciam estar somente cuidando de grandes ninhadas de terrassolenses.
Foi então que notei outra coisa espantosa. Muitos daqueles seres que
apareciam nos visores como seres machos, pela comprovação do tele-e-
missor, eram fêmeas fantasiadas de machos.
Você sabe o que é ter um arrepio em cada uma das suas três mil
caudas? Não era possível que eu estivesse me enganado daquele jeito.
Como a nave posicionou-se sobre as construções da cidade, direcio-
nando as lentes às janelas das edificações, continuei a observar poucos
machos entocados. Quando havia, estavam sempre no interior de suas
covas mimando as grandes ninhadas de terrassolenses.
Num rompante de inspiração, passei para o analisador os dados
das duas criaturas capturadas na biosfera criogenada e imediatamente
compreendi o meu erro: eram dois machos! Eu tinha capturado
dois espécimes do mesmo sexo. Por séculos eu havia empreendido o
extermínio somente dos genes machos, e o que aconteceu foi que os
terrassolenses bolaram uma estratégia para dar continuidade normal-
mente à população do planeta, criando os machos somente para a
reprodução e os aproveitando também para cuidar das crias menores,
enquanto as fêmeas continuavam da mesma maneira, vivendo suas
aventuras.
Voltei ao visor e comecei a reprogramar Zyrk para obter uma
dessas fêmeas pelo raio trator.
Numa esquina bem movimentada, analisando as informações do
tele-emissor para não haver mais erros, capturamos um belo espécime.
Quando a nave retornou, tive de refazer toda a programação do
raio esterilizante, baseado agora nessas novas coordenadas.
É incrível como o tempo passa e um erro desses pode ser fatal,
atrasando em mais de cem voltas o extermínio de uma raça, que, aliás,
já estava até dando um jeito no seu planetinha.
Mas eu realmente não podia fazer nada mais ali. Um trabalho
15
MUNDO ANIMAL
***
***
Sobre o autor
Conteúdo
Missão Terrassol 2
Introdução 4
Relatório Final de Terrassol 6
O Raio Esterilizante 9
Mundo Animal 16
Sobre o autor 19