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O ato poético como experiancia estética no readymade de Marcel Duchamp cr Fountain Kester i Renata Reinhoefer Franca O artign pretence problematizar a questin recorrente da que 1 reacemade de Marvel Duchanyy Uetine vs finites Ue urna Hie aie, agora antiesttca, a parti Ue consideracdo de que sua operacdo conta com o desnarteamento do espectadr, jd que nad ect onde ze expera, ¢ que essa subtracia de ‘algo da arte! ne caza, do concerto de arte - causa um estranhamento que, ao mesmo tempo, aponta os lonites do ‘hiiza ele geste” kantiann @ propia ousten tina de experiocia estética a partir de estrantio-farniia, conforine defivide por Freud ‘Ae analisar um readymade de Marcel Duchamp, 4 fonte Danto' defende a seguin- te tese: se apresentamos respostas estéticas distintas para dois abjetos iguais em aparfn- cia cuja Grica ciferenca seja um ser conside- rado “objeto de arte" outro no, entdo “ica extremamente dif sustentar que ura rea- io extetica é uma forma de parcepsio cen sori’, anda que send assin nao € pos- sivel “recorrer a ConsideracGes estéticas para inna dafinichn de arta aie pari ana icfnigae prévia para identifcar as reagtes esteticas apropriadas a obras de arte em con ‘raste com meras coisas reas" Essa afrmati- \vanos interates porque pretendemee decen- volver 4 lese de que ainda que os readytrade de Duchamp acusem os limites do “uizo de gosta” kantiano, hé uma irrevogivel ex- periéncia estética a cles associada. Iniciaimente, detalhemos © percurso de Danto para chegar a tal conclusto, Constata que A fante, de Duchamp, tern caractericti- cas materiais idénticas bs de qualquer outro Lurinol mas, observa, nem todo urinol é arte Condlui entao que A fonte. de Duchamp. passa de mara coisa a obra de arte porque assim 6 declarada pelo mundo da arte, ou sj sue leytiniaay corn “oyeto de ate” no se di por questdes esteticas, mas por nomeagio. Partanto, avalia, 4.0 enquadra- mento prévio que determina a reagho osté- ‘ica, jd que um objeto dito “de arte” requer resposta diferenciada daquela dada a um ssbjsta banal de us) Comecemes questionands 2 assertiva de que © que mas importa aqui € a reflexo Gecorrente da comparacio entre dois obje- ‘0c idBnticos Seri quo, 29 fax8 lo, Dantonio std resringinlo Lode 4 reaqae esietica em arte a0 “uzo de gosto” kantiano com foo no objeto, cujos limites extie senda apres sentados pelo readjmadc?" Seré que @ 6x periencia estetica do propio readymade nao s dé em cutra ordem justarente por isso. porque quer colocar em xeque a defnicko tigna katana, de “juan de gosto” sera abandonar, ras atuaizando-a com um com> Pponente histico imprevichvel a Kant? Ni sera necessério pensar a histoncidade do conceito de ‘Idela de Arte’, de Benjamin, na determinacto de que ele é paradoval- mente formador da'e formado peas’ obras de arte, a fim de tentar dar a0 readymade otra letura? Reastendo tedricos que tamam a categoria obra de arte come defnitvamente obsoleta a partir dos movimertos histéricos de van- arda’ Peter Birger enfatiza “tata-se de muito maie do que a lguidago da categoria, Ue Ure, Ufone Ge us ready pro cluzem sentiio apenas em relagio & catego- fa de obra de arte’: cone que a ideia da arte come “eriagto individual de obras tri cas, € questionada em tom de provocacao: © préprio ato da provocacdo assume o lu- garda bea"? Na opinito de Barger, portanto, esse ato rovocativo” de Duchamp, ao se posicionar contra a insttuigao social da arte como tal acaba atingindo © conceito de obra de arte, visto que ele faz parte da instinigao, ns ino € essa, no entanto, sua questo tunda- mental O mais importante é que o ato do artista '6 pode produsir sentido’ om rela- a0 & categoria obra de arte. © que justa- ‘mente nos interessa aqui é a énfase do au- ‘torna ralavincia da avietBncia prévia da urn qusily Ue Ubre cunt © Yul O alu de Duchamp possa entrar ern tensio. Parece- os que é justamente nesce chore de fer= gasentre 6 que 26 espera c 0 que ze v8 que se consttul acesura na obra de Duchamp. £ a cesura que uma obra de arte instaura necessartamente o poste de uma confr- magao do que jé € esperado." A cesura im- pica a vertigem do conhecido, © espanto, pois € continuidade que o espectador car- rega nos elhos que serd colocada em movi mento no embate com a obra, e nao pode haver espanto se rio hd o esperado. E a frustragdo de uma expectativa preconcebie da emrelasao & arte que anima nosso esfor- 9 de compreendé-ta E 0 que faz 0 efeito surpresa do encontro ettranhe-familiar com ¢ readymade de 90 were # emsarus mae Duchamp: em face da estranhieza inguletan- te daqulo que € sem lugar, sem possiiida- cde de categoniaacio présia pelo conhesimen- to, 0 embate rasge-se em abismo, O trope- gp inesperado faz 0 imagnanfalhar em sua funco de barrar algo que nao se pode ver. derrandando arepercepgio daquilo que no podemos compreender apenas com o que ortamnos a prior Pressupomns que 0 readymade suet ume expcriéncia unheimiche, na qual © enigma ‘da semelnanga aparece como avesso da al- ferenca, “o que inclui uma duplcacdoro igual 20 familiar alada a um equivoco,cuja astra. riheza implica a promessa infnita do idénti- co allada a uma smistra ameaca’” Como prin- cipio estético para a psicandlise, 0 Unholmiche aprecentaa face oaulta que nos habita, impressa sob a forma afetiva de in- quiatacSo € estranhamento. 4 mencionamos a ideia de 0 readymade apresertar © unheimliche'® Ampiemes um pouco mais esse pensamento. A experién- dia do estranho-famliar é aquela do parado- wa, da aguiloia inetdvel Paradawo 4 lugar (nu, presenga situa isiste ve a imunéncta de mover-se = reacto 20 abismo que ce raxga em at A experincia asc correspende uma zona de Imanchamento! Intoleravel que nos ameaca de cestruic2o, pis rouba o chao firme das conviecBes ar- rrigasas E 2 insuportablidade dessa angis- tia que nos coloca em movimento numa tentatwa de elaborar signticacio nova 20 inédito. Arriscarfamos dizer que a ineustentabiidace experimentads no ectra- nho-fariiar equivale ao tal ‘terval equi brio’ na obra de arte do qual fala Hlderin contraste entre o excesso ea fata que con- fare 20 conjunte ritma tam precedentas, No ponto do ‘errivel equilirie, 0 contraste entre excesso e falta dé lugar 20 equllbno de dois excessos. Esse equilbrio instével porn, é de tal intensidade, que se config ra inguportével, rompendo limites e instalan- do a cesura: uma interrupcio antiritmica a patinda qual nada 60 mesma Com a ceeura, antes e depois nde mais rimar, rio rais se liga em continuidade. Presumimos que o readymade duchampiano, objeto vieualments indiferente, cauee no se- pecladir U inversy da infarc ya, Suscilane 60.0 estranhamento e a vertigem pela redu- o. pela subtracia de algn entranhade, em 2eus olhon Nossa hipétese €ainda a de que, a0 Rzé-lo, 0 artista nao esta abrindo mao da experiéncia estética nem declarando sua fa- lencia, ras antes enfatizando que a arte & esse ato pottico, essa forga do ato criador do artista Queremos dizer com iss0 que © estranhamento fundamenta uma experién- a extétiea caleada naquilo que Freud defi ne como o estranho familar, 0 unhemiiche, {que nao 4 de forma alguma desencamada, mas, 20 contrério, intrinsacamente ligada % experiéncia sensivel, uma vez que € ela que val desencadear sua demands de elabora oem pensarnento ~ ela que faz pensar © novo, 0 sem precedentes, No nos esquegamos também de que, jé no “ato riador’, “ Duchamp defende a ideia de qua no existe arte fora de expectader, da reconstrugzo do espectador. A operacao do readymade conta como desnorteamento do espectador. jf que nada esté onde se expe ra Inebriade arn vertigem, ele cai nurn abie mo sem sustentagzo. no conhecido, numa zona de ‘manchamento’. A vertigem deriva ids ‘cubtragso de alga da arte! — ne cea, eonceito de arte. Avaliamosque, comvobra fem ato, 0 readyimade causa estranhamento porque hi nos olhos do espectador a ex- pectativa do objeto de arte belo (ou nlc), ras a indiferengs visual é ser lugar Para compreendermos a suposigio de que Duchamp aponta os limites do “julzo de -g0sto" lantiane @, a0 mesmo tempo, pro oe outro tipo de experiéncia estética 2 partir do estranho-fariliar, conforme apre sentado, 6 fundamental pensarmos a ime portincia histérica da questa do "jufzo de ‘gosto” para a arte moderna, calcada na au: ‘tonomia da estética Segunde Duchamp, Opgrand problime creo ato uc Iner Tina que eleger um objeto sem que este me imoressonase © Sem 2 ‘mover inarvengio, dentro do poss! ved de gud tea ou prope de elite esteica, bra necessin red 0 mau gosto pessoal a 7er0 Ealfl mmo excolr im objeto que nfo nos Interessa absotsamente, €nio 50 no dla em que o elegemos, mas para sem- pre-e que porn 10 tenha a possi. (dade de tomarse ago bob, aradé- veleu #0 Recapitulando: os readymade expoem aqui- loa que comos viualmente indiferentes, Ezz apresenlayao, no entanlo, causa estranhiee mento, algo na ordem inversa a inditerenca ‘que nos faz pensar urna operacao vertigno- sado olho pensante, do corpo pensante, urra vez que faz ute da antecipagio do expacta- dor, da expectativa que ele deposita no en- contro com uma obra de arte ~ de seu con- ceitointrojtado de arte. O readymade par- te do que acts insttuido @ efetua uma ope racao diabolicamere veriginosa Retoma- mos © id expasto ara adicionar aue i380 tudo 24 pade fszarcantidn arn determing. do content histéice de Forgas: Nesse se {ido, talvez no sej possvel pensar Duchamp fora do rmundo da norma. id que ea € peca fundamental de sun equagio vertiginosa, que rifo funciona no vaso, que precisa de gran de forca entranhada com a qual se possa chocar a patiéncia tranciormadara da arte roderna ern sus pritica rilenarde artesaria. E sobre isso que discorreremos a seguir. Rodrigo Naves observa que, hoje, “atiarte 6 praticamente un nome agressive para arte moderna’, mas que, no entanto, para Duchamp, “apareca como a fratura possvel (€ necesséria) entre 0 gesto criador e 0 ob- jeto artitico, o momento em que estas das posigdes aduire seu significado maxi, para tao logo extinguir-se em duas ménadas inearmmiedvsie"® Tal enonn Ringer, Navee destaca a importincia do rompirnento que © readyinade cuchamprano inaugura entre © gesto criador (ato provocative. nas pala- ras de Birger) € © objeto artistico, que se 4 (€ 96 podria se dat) jistamente “no momento em que essas duas posiGes ad- ‘quirem reciprocamente seu signficade ede imo”, ou seja, no momento em que a arte moderna encamna mais ferozmente sua pro- posta modema. Isso significa ser a prépria ‘modernidade a geradora tanto da afirmagio Ua pul€inia Peri ~ nay mitnelica ~ Ua ‘quanto de seu contrério: a descrenga na poténcia tranefarmacora da arte madema ‘emface de sua progressivainsitucionalizarzo, aamiate Paral reiteramos,é preciso com- 98 were # emsarus mee preender cada uma dessas grandes vagas em choque. Antes de fazé-o, para melhor ca- dancia de pensamenta, surmarizemae nessa visio acerca do que seja a operagio do readymade Pensamos entiio que a antiarte seja, em sua crigem parte ¢ decorréncia da modernidade, inerishinde (ora Jesse COntenty justar mene pela relevancia da existéncia de conceito enraizado de arte Assim. acreditamos ser ececeirio a0 longo desea peequiea embacar ¥ angunnenty de que o readyinade late encama a compreensio de predominincia de uma “arte retiniana’"* no contexto da autonomia da arte quanto constata que nao had dfeenga entve o objeto belo © & feio, que 0 “Juzo de gosto” tem papel mutto aquém do esperado num mundo que tudo institucionaliza. Qu seja, Duchamp contesta a autonomia da estética por compreender que ndo € a “juz0 de gosto", nos termos kantianos. que determina o valor da obra de arte, mae alguma outra coisa ds ordem da Fazio burow atica, teleoligica, que nao diz respeito ao syjeita e que funciona fora dele, extrinseca a qualquer relacdo estética com a2 obras. Ora, ce © destino do objeto de arte © ser prucessay pur uns iistituiyae semjamass atingr a verdade poetica da arte, como resttutla? Assentamos que 0 susto do readymade tenta rectaurar 0 ato postico Ua ale nu porque soja enna a nkeagay Ue seu cnador, mas pelo estranhamento que efetivamente causa € que faz buscar signif- caglo. Talvez, naquele momento histérico, dat a ver o nando fosse dar a ver como © processo de insthucionalzaczo do objeto de arte por citérios a ela externos minava sua autonomia, que fugia 30 poder do “julzo es- tetico”, Talvez 56 una experigneia estética poderosa pudesse restaurar a importance a vitalidade do que € préprio ao “juizo esté- tieo". No entanto, para isso, faz-se necesss- fia uma torgao no esperado para provocar 1 choque do despertar. A constatacao dos limites do “jutzo de gos- to” derruba 0 objeto cientfico da pintura, aquele que gavante autonomia 3 pesquits cientica da ate, como centro de interesse, tal como fora para os impressionstas € pre- ciso agora subverter 0 conceito de arte ins- titulo (divorciado da racepgic) atravée de esto poetico sem precedentes que se dé 2 comoreender através do curto-ircuito da rndquina muatara!” ds ate nvadama, a auto oma da estética Csse ato posix € bene sucedido se nada mais depors dele se mants- ver iguat se. apés sua instauracao. antes € depois nunca mas rimarem Eseas ecpecula pes estao na contramao da corente dorri- nante de pensarento que toma Duchamp como aqieleqpe-imnplaconente aber as por tas para o antiestético na arte. O que gosta- rramos de problernatizar sobre esse tema €: serd que a antiate, por questionar a auto- nomia da estética, prope neceszariamente tuna arte anbestétea? Parece-nos que nfo. Thiemy de Duve ob- serva que “0 julgamento que atribuiu a0 readymade o ‘status de arte é estético, em bara ray de gente" ou stig, eu it odhcir a idela estética”” como deterrinante, aue- bea 2 limadiatdada’ lantiana da ion ce gusto”. Consideramos gue rejeitar 2 posttiidade dominante da arte moderna hum mundo moderno essencialmente util- ‘ério no signifies, de modo algum, ter que renegar Lode © qualques experi€ncia eteli= «a da arte Ao contréri, esse pode ser 0 ponte, de partida de uma refleie eftca, fundamentalmente moderna, accrea de sua Propria condicao, O fato de as coisas nao se ‘terem dado tal como previsto pelo concei- to moderno de autonomia da estética nto iiplaa abandon de toda e qualquer expe riéncia estética em arte, mas sim pensicla criticamente para poder, eventualmente, reinstauréla. com meios ¢ modes préprios 2 arte Suspeitamos que Duchamp fac isso, mas agora s0b a cave do desencarto em face do fracasso do progresso hurnano que se revela com a guerra, Nio nes referimos aqui a0 que Duchamp “quit fezer, mas 20 redo como nos parece possivel nterpretar sua obra. o readymade, a partir dela mesma. como tinguaridade que ea cou parcado co truro, as vezes parece esr dssonarte, dada arecorrente insttucionalzaco do ges- to ducharplana ‘Aasim, ainda que incvitovelmente 03 vérios ‘operagoes dos reacymage indem por ei- denciar um questionamento sobre estatu- to da obra de arte como tal, suspeitarnos que isso decorra de sua questo primordial =repor 0 ato postico na operagao artistica, (ou seja, enfatizar a vida e a pulsago da ex- perigncia extética da arte, que necezcaria mente propoe uma amplaczo da ideia de arte, mantendo-se igual, mas acoplando lhe ‘utras formas. Segundo a letura que Walter Berjamin az 05 primeiros romanticos alemaes,” cada cobra pertence & ideia ou absoluto da arte. rae no coma simp cae0 particular da urn WUIRsi yeral Pad © auler, cla obra, 20 mesmo tempo, constitu etranstorma aidea arte Senco acc hi. na dein de arte em Berjamin, historcidade prépria que desloca 2 ques20 da forma, pols a forma da obra passa a dizer respeito ao modo pelo qual fla gotra na ideia da arte @ como £8 ralacio na. Enesse sertide que polemizames o se possivel falar sobre o ato pottico de Duchamp que, no caso do readymade, ests no gesto endo no objeto, como alergador G2 iceia da arte, ja que a forma ali se apre- senta de modo muito distito do habitual Eb aparece frig, sujeta a todo tipo de ata ques, impassivel a0 "julzo de gosto”, Iss, porém, 6 em urn primero momento, sob © alhar preconcebido que 2 coloca como objeto desde sempre ji feito (resdymade), REWATA ReIMNOEFER FRawce 99 incompantvel com a idea da arte estanque € congelada.E pela demanda paradoxal de deslocar ce cam descartaratradigio que ce toma, no que diz resperto & idea, fortssina © questionamento do conceito de arte, portant faz pate da stualiacao © amplia cao constantes, inerentes &ideia da arte tal como definida por Benjamin. ou seja. nao ha risso contradigio nem negagio da arte an terior Pols, sem eriar um novo objeto para ‘© pensamento. Duchamp cria um novo pen- semente para 9 objeto. Leva, em certo een tido, a Ironia as vitimas consequéndas (no sentido, parece-nos, que Benjamin a vé nos roménticos): dectréi a forma expectica do cobra para chegar & forma da ideia da arte Passemos agora a uma breve explanacio sobre a chamada ‘afrmagio da poténcia ple- ha, na rririlica da arte oder a fi de apresentar 0 contexto em que se encaixa 0 ato poético de Duchamp. Ocittico de ate Clement Greenberg no art- 0 Pintura moderrista identiica @ arte mo- derma com 2 intensificacio da tendéncia cauluaitice que teve inicio ern Kant "Tor te sido 0 primeiro a crticar os préprios meios a erties, enrcidern Kant «primaire vars. Ueiw iuderista” Segundy Greenberg, « esséndia da arte moderna "reside no uso de métados caracter(stcos de uma discilina para criticar essa mesma distiplina (.) para entrincheird-a mais firmemente em sua drea de compatincla.” Esse nawva tipo de erica se executa por dentro, € uma “erica do in- terior”, No ambito da arte, estamos falando de uma damanstracio de que ela, apenas ela, pode promover determinade tipo de experiencia sensivel,incapaz de ser obtida a partir de qualquer outra tipo de atividade ‘A ssensibilidade pura passa agoraa ser valoi- zada como algo n4o empfrico e sim transcendental, que a pereepglo humana € considerada igual para todos os homens, tomando-se fundamento da autonomia moderna da expenéncia ectética e da eman ipagao da producao das artes visuals. Nesse sentido, 0 chamado acontecimento ‘etinana” imprecsonicta fax parta do poo cesso modemno de Crcunsergae do objeto cientfico da pesquisa artistic. O centfiismo inmpreccionicta supe que a imprescio viel 1 nervo Oprico sea esse objeto do pintor rmodern Inserida em ura preocupacto com 2 autonoma da arte, no sentido kartiano a0 qual se refere Greenberg ¢ essa resricao a garantidora de um agar automo paraapin- tira como saber val. Com a limtagio de seu objeto, ue agora independe de qualquer outa discilnagarante-e sua rea de com- peténcia, que so autorragula sem influgncias fextemas, nos moldes da cifncia moderna. A arte visual deve ater-se “exclsivamerte 20 que & dado na experiéncia vu, no fazen do referencia a cosa alguma dada ern qual- quer outra ordem de experéncia’ E nessa ideia que ce jutifia exce recorte do objeto ienufico da pinura. Em desdobramento, a5- severa que “o que precsava ser afrmado era © que havia de nico ¢ ireditivel nko 20 mente na arte em geral mastamoememcada arte em partcdar.® Advém a defnicao da rea de compaténcis de cade ato, avons 20 da espectiidade do melo, denorinada pesquisa pela “pureza” nas artes, Por “pure- 2 lea se busca de autodafnigio a nova rrissao autocrica das artes A pintura ocidental moderna e auténoma afasta.se entio de valores extravisuas, dei- >ando sua tradigao rrimética em diresto & emancipagio do sgno plastica, A partir de Manet inria-ce lange processa de concpita da autonomia da arte como “experiéncia puramente optica contra a expenénoa éptica revista ous macificada par accoriagiies 4. teis™ que sempre permeara a pintura oc dental E.contudo. a prépriafranqueza com que as tel de Manet dedaram as superfcce Planas em que estao pintadas que instala 0 divércio entre o pibico ea arte modema. Paradoxalmente, a autonoma da arte traz consigo © rompimento com 0 pudlico, uma ‘vez que no mis pinta © que o espectador reconhece, Emm eutras palavras, a arte mo derna, prinipalmente a partir de Manet, 22 parte do mundo da pesquisa livre. da auto- rromia da eatétiea, em prinelpio de autori dade. Esse mundo, no entanto, revela alta incompatilidade entre o exercicio da ima- _ginagto le do sujeto moderne, que exer Ce gosto estético livre, € as demais exi- ‘géncias do mundo utitarsta. a ponto de a arte modema no ser a arte reconhecda como tal pelo mundo moderno. instaura-se Um sinal de oposiio entre arte moderna € © mundo moderne. Em Art since 1900” os articos Foster, Krauss, Bois e Buchloch observam que as préticas antiestétcarcurgem part de 181 3% como Uma contestagao & 2utonomia da estétca O antiesttico desmantela a estética da au- tonomia em todos 0 seus rive aubetitu a ongnalidace pala reproduiisade tecnica, destrdi a aura do trabalho @ os modos contomplativos da experiéncis eatética 6 08 substtul por agbes comunicativas ¢ aspira- Bes em directo a urna percepcto coletiva simuitinea, De acordo coms autores, a arte antiestética define suas préticas artisticas como temporérias € geopoltcamente espe- cffcas (em ver de trans-histéricas). como participativas (em vez de tniea emanagio de uma forma excepcional de conhecimerto) ‘Além disso, opera como uma estética ut- ‘Grin stuando a obra de arte em contexte social em que ela assume uma vartedade de fungSes produtivas. tis como inforrmaco edueagio ou esclarecimente politico, cervin do as necessidades de autoconstiuigao cul- ‘tural para os novos piblicos emergentes do proletariade industrial antes excluldos da representagao cultural nos niveis tanto de produc quanto de recenxo, Ainda que a letura futura tenha ado e22e, zon cxxe © cere dos questionamentos desencerrados, pelas operagées de contestacio & autono- ria da extética na obra de Duchamp? Em palestra sobre 0 processo criativo" Duchamp define 0 “coeficiente de arte” como aqiilo que o artista tenta colocar no objeto e nao consegue, € aquilo que est4 no objeto de arte de modo nao intencionado, io peneado 2 prior’ pelo artcta, Nio exie- 1e arte fora da reconstrucao do espectader, ue participa como coautor. Essa ideia nos remete 20 primero romantieme aleriio, em ‘sua concepgao da arte como educagao es- tética ~ a bilouing romantica Para ce primeinos roménticos alamies, are. lego wume expected nao & uu polo artista para produzir determinado efeito so- bee ale, aqualaintenrinnadn, enae pratande vita Gum ele munis "Say ada relaya' pottica. Por isso considera 0 ato crftico aque- la do axpectader vive na ralagio coma obra, corny formauor du espectalor/itor. © aw oético romintico € sempre incompleto, mas no desiste, nas idas © vindas de sua relay como expectador, de buscar inces- santemente sua completude impossivel. or isco que pede ao leitor (@ a0 artico) que se convert ern poetas,” porque © leitor ‘co-nasce! do encontro com a obra, bem como sua critica, que é dada pela obra. (© espectadir participa do alo postion lane to quanto o artista, No existe obra 2 priori «lace constitu no processo de interagio com outro da obra, 0 espectador Para Holderin 6 a relacdo viva com a obra que dispara o nnascimento simultineo das partes. Ao ‘experimentéiia somos transformados pela obra e a transformamos, mais ainda, em si mesma; um paradexe ~ outre coneatto as tremamente importante para a postica ro- mantica. Por isso Beryarin diz que a obra ja traz sua criticablidade A. ironia, © paradoxe © a ambiguidade ede rile wales nas posicas JUS prineies romantics alemaes. Consttuern lugares sem sintece calétra e, na operacio artttica, im plicam 9 manutengte do mundo em Suspenso, sob tensao. A busca incessarte de signifcacio decorre da insustentabildade de uma stuacio altamente tensa por tempo: demasiado; € uma tentativa de dominar a vertigem © suportar as angistas que exts- tem, por exemplo, na paradoxal experién- cia do extranho familiar. Ox primeiros romén ticos alemaes prezam a tensao € o dinarris- mo da obra em ato id que ela commporta 0 paradox da busca de unificagia @ a com preensao da impossblidade da unidade Talvez possamos tecer um paralelo com o ‘que ocorre nas operacdes de Duchamp, em que hi o parsdoxo da busca de solugio para © incOirmedy, © estranharnenty © sua cefetivacao como destruicio do ato poético- eetésien Por outro lade, nase reflexto demand pensarmos que, como prevra © proprio Duchamp, depois de certo ntimero de re- patches esvanase a potinca posta do Feadymade. £ preciso refer se sind faz sentido hoje alguém pegar um objeto do mundo utilitario, inseri-lo no sistema de arte ‘como arte jute tl ato como deriva do do alargamento oa idela da arte benjaminiana engendrado por Duchamp. Serd que eta epeticio nfo seria, de fata mato sem impacto algun a0 contro do sto de Duchamp, posto cue o impacto poético original deste Ultimo depende nao pense de ua incerglo Hetérca no contex oz ake fe ensatus mee to da arte moderna, mas também de ser, ele mesmo, um ato tnico, sem possibilidade de rapaticie? A repetiglo de ato duchampiano de deslocar umn objeto utilts- 1no de seu contexto orginal e apresenta-io no sistema de arte, nessa visada, aniquila © ata postica, pals com nada entra em ten 80,0 ha atrito, mas total assimliagao. ‘Reta Ranhacler Panga prifonora do Pato Aries da Uen e coutorande pela PUCRio em ‘Histéra Seovilda Ctra a nha ce pasausa "Hist da Ate Notas 1 Dart, Athur A ta Te Cove, 2005 46 to do ge comm SP 2idem $a, op 5. a coro everp, at mantesages causa qu un ch prowess do pba sau cepa cia, 7 Binge Pen, Tor vargas Sto Pd Cena, 8, 8 Halen Fich, Obsenactes sete Bilbo cbse (les sore Anta Re Genero: re Zar. 2008 9 Conese ce aps de agen” Fara, Marais Pc roe, etic eee 00 ces 50 Pal: 3 Fes pecoa, 197 10 Prehioetco par pcan Fs op 1 Hiern opt. 12 Baeoxk, Grepory (org). © we enor In Dana, acl 4 ova are Sip Pas: Ea. Ppa, 2002 13 Dacha apud Pz. eta Meee Cachan tabs cd purca So Pa 6 Popa 2007 2728, 14 Nave Rodngo. 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