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Trabalho apresentado para obtenção do título de especialista em

_________ (Nome do curso) – ____ (ano da defesa)

Viabilidade econômica da aquisição de um tombador hidráulico para uma empresa


beneficiadora de café

Leandro Garcia Meyer¹*; Michel Augusto Santana da Paixão2; Rodrigo Braian Nori3
1 UENP – Professor de Teoria Econômica – PR-160, 817, CEP 86300-000, Cornélio Procópio (PR), Brasil
2 UENP – Professor de Teoria Econômica – PR-160, 817, CEP 86300-000, Cornélio Procópio (PR), Brasil
3 UENP – Graduando em Ciências Econômicas – PR-160, 817, CEP 86300-000, Cornélio Procópio (PR), Brasil

*autor correspondente: leandro.meyer@uenp.edu.br

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Trabalho apresentado para obtenção do título de especialista em Gestão
de Negócios – 2018

Viabilidade econômica da aquisição de um tombador hidráulico para uma empresa


beneficiadora de café

Resumo

O projeto em questão avalia a viabilidade econômica da implementação de um


tombador hidráulico de café para agilizar o processo de descarregamento do café a ser
beneficiado por uma empresa do setor. Atualmente, esta etapa inicial do processo de
beneficiamento e industrialização do grão de café é feita manualmente. Foi considerado que,
por meio da compra de um tombador hidráulico, é possível economizar os gastos com a
contratação de mão de obra para o tombamento manual do café. Outro eventual ganho
decorrente do investimento é o aumento na produtividade nessa etapa da produção, o que
pode ser revertido em aumento da quantidade de café beneficiada. Considerando tão somente
a redução dos custos com mão de obra relacionada ao tombamento manual do café, o projeto
mostrou-se viável, com uma TIR de 4,35% e um VPL de R$275.291,08. Ao se levar em conta
a possibilidade de aumento da produção de café, os cálculos indicaram uma viabilidade ainda
maior: para um aumento de 5% da produção, a TIR passou a ser de 12,60%, e o VPL passou
a ser de R$1.696.631,07. Dessa forma, os resultados sugerem que trata-se de um projeto
viável cujo retorno possui capacidade de ser ainda maior caso a empresa considere expandir
a sua capacidade de beneficiamento de café.

Palavras-chave: beneficiamento de café; tombador hidráulico; viabilidade econômica.

Introdução

O café é um produto tradicionalmente relevante para a economia brasileira.


Responsável pelo início de um ciclo de desenvolvimento econômico da região sudeste do
país, estando diretamente relacionado ao processo de industrialização da região. Ainda que
sua relevância para a economia não seja sequer próxima da que apresentou na primeira
metade do século XX, o café segue como um dos produtos de destaque do pujante
agronegócio brasileiro contemporâneo, tendo destaque na sua pauta de exportações.
De acordo com dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento [MAPA],
disponível em MAPA (2018), ao longo dos últimos dez anos, isto é, entre 2007 e 2017, o café
foi responsável, em média, por 7,15% do valor bruto da produção das lavouras brasileiras,
ficando atrás somente das culturas de milho, cana de açúcar e soja, cada uma com uma
participação de 12,53%, 17,07% e 28,98%, respectivamente.
No que se refere ao comércio internacional do café, ainda de acordo com informações
do MAPA (2018)1, o Brasil se destaca por ser o maior produtor e exportador do produto no
mundo e por ser seu segundo maior consumidor. Por isso, as importações representam uma
quantidade ínfima do consumo interno e boa parte da produção nacional destina-se ao

1Para mais detalhes sobre a cultura do café brasileiro: http://www.agricultura.gov.br/assuntos/politica-


agricola/cafe/cafeicultura-brasileira

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mercado externo. Da produção total entre 2014 e 2017, por exemplo, 107,5 milhões de sacas
foram exportadas, o equivalente a 77,17% da produção total no período.
Dentre as mais de cem espécies de café, as mais relevantes do ponto de vista
comercial são o Coffea arabica, conhecido como café arábica, e o Coffea canephora, espécie
também conhecida como café robusta ou café conilon. O café arábica é considerado um café
de melhor qualidade e possui um valor de mercado mais alto do que o café robusta. Dados
do MAPA (2018) revelam que foram beneficiados no Brasil 44,97 milhões de sacas de café
em 2017, sendo 10,72 milhões, isto é, 23,85% de café robusta, e 34,25 milhões, isto é, 76,15%
de café arábica. As estimativas de produção para o ano de 2018 indicam uma variação
positiva de 29,10% para a produção total de café, seguindo a tendência cíclica comum a esta
cultura.
A produção do café brasileiro se distribui em quinze estados: Acre, Bahia, Ceará,
Espírito Santo, Goiás, Distrito Federal, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará,
Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rondônia e São Paulo. Destaque para o estado mineiro,
que em 2017 foi responsável por 54,36% das 44,97 milhões de sacas beneficiadas no país.
O estado do Paraná em conjunto com o estado de São Paulo, região em que a beneficiadora
de café analisada pela presente pesquisa se localiza, foi responsável pelo beneficiamento de
5,62 milhões de sacas, o equivalente a 12,5% do total beneficiado no Brasil em 2017.
A respeito do beneficiamento do café para a elaboração da bebida, o consumidor faz
uso do café torrado ou do café solúvel, ambos resultantes do processo de industrialização
pelos quais passam os grãos de café beneficiados, conforme destaca Silva et. all. (2015). O
beneficiamento do café, ainda de acordo com os autores, é um conjunto de operações cujo
objetivo é obter lotes homogêneos que atendam aos padrões de comercialização requeridos.
De acordo com dados da Pesquisa Industrial Anual [PIA-Empresa], do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística [IBGE], disponível em IBGE (2018), o elo do setor industrial
relacionado à cadeia do café2 apresentou um Valor Bruto da Produção [VBP] de R$7,91
bilhões em 2014, o equivalente a 13,51% das indústrias relacionadas ao setor de alimentos
apresentadas na pesquisa3.
A empresa analisada em questão é uma tradicional empresa do setor que beneficia
café há algumas décadas, e posiciona-se entre as maiores empresas exportadoras do setor.
O projeto em questão avalia a viabilidade econômica da implementação de um tombador
hidráulico de café para agilizar o processo de descarregamento do café a ser beneficiado pela

2 O que corresponde ao setor cuja classificação CNAE 2.0 de três dígitos é a 10.8 (“torrefação e
moagem de café” e “fabricação de produtos à base de café”).
3 Para se chegar a esses valores foram consideradas como indústrias de alimentos aquelas cujas

classificações CNAE 2.0 de três dígitos possuem 10 como dois primeiros dígitos.

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empresa. Atualmente, esta etapa inicial do processo de beneficiamento e industrialização do


grão de café, que é o descarregamento do produto do caminhão para que o mesmo seja
estocado pela empresa, é feita manualmente. Acredita-se que a automatização desse
processo possa gerar ganhos relevantes para a companhia e, por isso, a presente pesquisa
teve por objetivo analisar a viabilidade econômica da implementação de um tombador de café.
De acordo com informações transmitidas pelos membros da empresa em questão, a
implementação do tombador hidráulico de café é capaz de gerar um ganho de produtividade
estimado de cerca de 3 vezes nesta etapa do processo, além de representar uma substancial
economia de mão de obra.
Para analisar a viabilidade de tal projeto, na etapa seguinte serão apresentadas
maiores informações acerca do investimento e dos custos tombador de café. Ainda na etapa
seguinte são apresentadas informações relacionadas às receitas do projeto, bem como os
métodos de análise empregados. Na sequência, os principais resultados são discutidos e são
feitas alterações no cenário base considerado. Por fim, a última seção conclui a pesquisa.

Material e Métodos

Para atingir o objetivo proposto, que é analisar a viabilidade econômica da compra de


um tombador hidráulico por parte de uma empresa beneficiadora de café, foram levantadas
informações referentes ao investimento inicial, aos custos totais (fixos e variáveis) e a receita
estimada. Para se obter as informações necessárias, foi realizada uma entrevista com
membros da empresa diretamente ligados ao projeto, cuja implementação já vem sendo
estudada há um certo tempo4. Por isso, a maior parte das informações consideradas neste
estudo foram obtidas por meio da pesquisa realizada pelos funcionários e também pelo
conhecimento que estes apresentam acerca das características do projeto.
No que se refere ao investimento, realizou-se uma estimativa pelos membros da
empresa a respeito dos valores necessários para implementação do projeto em dezembro de
2016. Como todos os demais valores considerados levam em conta valores monetários atuais,
os valores foram reajustados considerando o período de um ano e meio, período de tempo
transcorrido entre a pesquisa feita e o presente momento. Foi considerada, para isso, a taxa
de inflação de 2,95%5, que foi inflação média do ano de 2017.
A respeito dos itens que compõe o investimento, o principal montante desembolsado
para implementação do projeto refere-se à compra de um sistema de descarregamento de

4 A falta de clareza na organização dos dados e de um estudo de viabilidade econômica do projeto, de


acordo com os entrevistados, é provavelmente o principal fator que tem postergado a implementação
do projeto.
5 O índice utilizado foi o Índice de Preços ao Consumidor Amplo [IPCA], divulgado pelo IBGE (2018).

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caminhões da SAUR® modelo S-80-40. O custo da aquisição do equipamento mais a mão de


obra demandada para sua instalação foi orçado em R$534.469,00. Outro investimento de
maior destaque está relacionado ao levantamento de um edifício com um poço de descarga
compatível com o maquinário adquirido e uma cobertura para este edifício, o que foi orçado
em R$433.498,52. A parte elétrica do projeto também é responsável por parte substancial do
investimento inicial, constituindo-se na aquisição de um transformador e de outros materiais
elétricos, bem como a mão de obra relacionada à implementação de tais equipamentos que
somam R$496.538,61. Ainda com relação à parte elétrica, os valores referentes à aquisição
do painel de automação foram orçados em R$330.607,91. Há ainda uma série de outros
investimentos necessários para implementar o projeto, tais como os serviços mecânicos
demandados, um sistema de captação de pó para evitar a emissão de poluentes, demais
gastos relacionados à obra civil, entre outros. Considerando todos os itens que compõem o
investimento, este foi orçado em R$2.861.617,17. Os investimentos estão detalhados na
tabela A1, em anexo.
Os custos fixos considerados são referentes à contratação de dois operadores, além
de um eletricista e um mecânico de manutenção. Foram considerados os salários de cada
uma das categorias na região em que o projeto será implementado, informação que foi obtida
via consulta ao Site Nacional de Empregos [SINE], disponível em SINE (2018). Os salários
informados pelo SINE (2018) referem-se àquilo que o trabalhador em questão irá receber da
empresa. Para considerar o custo que os funcionários efetivamente acarretarão para a
empresa, é preciso considerar também os encargos trabalhistas. Para isso, o salário recebido
pelos funcionários foi multiplicado por dois, o que é uma aproximação que leva em conta os
gastos a serem incorridos em tributos e benefícios trabalhistas, além de servir para formar
uma reserva relacionada à eventuais litígios judiciais. Por considerar a possibilidade de haver
alguma imprecisão em tais contas, foi acrescentado um gasto adicional com tais custos fixos
de 5%. O total estimado para o custo fixo anual foi de R$156.240,00. A tabela A2, em anexo,
apresenta maiores detalhes a respeito dos custos fixos.
Com relação aos custos variáveis, os itens considerados foram: energia elétrica, troca
de óleo hidráulico, troca de filtro de óleo e custos com manutenção da parte elétrica do
sistema. Além disso, foi acrescido uma taxa de 5% sobre tais custos, o que se refere a
eventuais imprecisões nas estimativas realizadas. Para o cálculo de tais custos variáveis,
foram feitas estimativas dos gastos por dia útil trabalhado junto aos entrevistados com base
nas informações disponíveis da empresa. Especificamente com relação à troca de filtro de
óleo e à troca do óleo do sistema hidráulico como um todo, foi considerado que são
necessários 300 litros de óleo para encher todo o sistema hidráulico e que uma troca de óleo
é necessária a cada 1500 horas de trabalho.

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Ainda a respeito dos custos variáveis, foi considerado que o recebimento de café
ocorre de maneira contínua ao longo do ano e, por isso, considerou-se uma jornada de
trabalho de 8 horas diárias ao longo dos 252 dias úteis no ano. Como no cenário base foi
considerado que não há alteração na quantidade de café beneficiado pela empresa em
decorrência do ganho de produtividade no recebimento do café, o ganho de velocidade
estimado no recebimento de café de 3 vezes permite considerar que, para o escoamento por
meio do tombador hidráulico, é necessário um terço do montante de trabalho demandado para
o tombamento manual. Dessa forma, o custo variável foi calculado levando-se em conta o
trabalho de 8 horas diárias ao longo de 84 dias, isto é, um terço dos dias trabalhados no caso
do tombamento manual. Com base em tais dados, e considerando as demais premissas
apresentadas acerca dos custos variáveis, foi calculado um custo variável de R$11.095,46. O
detalhamento dos valores considerados nos custos variáveis é apresentado na tabela A3 em
anexo.
No que se refere à receita relacionada à implementação do projeto, esta se divide em
duas partes. Primero, com a automatização do recebimento do café, os gastos que eram
provenientes da contratação de mão de obra para o descarregamento manual do café deixam
de existir, o que foi contabilizado como uma entrada de recursos oriunda da implementação
do projeto. Os dados apresentados pela empresa relacionados aos gastos com a contratação
de mão de obra para o descarregamento do café são referentes ao período compreendido
entre abril de 2017 e março de 2018 e apontam para um custo anual de R$643.038,96.
Adicionalmente, é possível considerar um aumento na produção da empresa devido
ao aumento na velocidade no recebimento do café. Com base nos dados oferecidos pela
empresa em conjunto com os dados apresentados pelo manual de uso do equipamento6,
estima-se que o ganho de produtividade nesta etapa de produção decorrente da
implementação do projeto é de 3 vezes. Chega-se a esse valor considerando que é
necessária, em média, uma hora para descarregar um caminhão com 30 toneladas por meio
do trabalho manual. Já o tombador hidráulico, neste mesmo período, é capaz de descarregar
três caminhões com a mesma tonelagem, cálculo que já inclui o tempo necessário para
colocar o caminhão na plataforma, tomba-lo, descarregar todo café e liberar o mesmo. Na
figura A1, em anexo, é ilustrado o funcionamento de um tombador com plataforma de
descarregamento traseira7.

6 O manual do equipamento encontra-se disponível no site do fornecedor: www.saur.com.br. Acesso


em: 14 de maio de 2018.
7 O tombador considerado em questão é um tombador de descarregamento lateral. Porém, o

mecanismo de descarregamento é similar ao apresentado na figura.

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Com relação ao cenário base, foi considerado tão somente a receita oriunda da
economia com a mão de obra utilizada no descarregamento manual tal qual ocorre
atualmente. Na análise de cenários, passou-se a considerar a possibilidade de aumento de
produção decorrente da implementação do projeto. Para converter esse ganho de
produtividade em entrada do fluxo de caixa, foi preciso estabelecer algumas premissas, as
quais serão apresentadas e discutidas em maiores detalhes em conjunto com a apresentação
dos cenários considerados e seus respectivos resultados.
Foi considerado o horizonte temporal do projeto de 10 anos, referente ao tempo de
vida útil estimado para o tombador. A taxa de depreciação considerada foi de 10% ano. Tanto
o tempo de vida útil quanto a taxa de depreciação considerados foram obtidos por meio da
consulta à tabela oferecida pela Receita Federal para este fim8. Foi considerado o método de
depreciação linear, tal qual descrito em Meyer e Paixão (2017). A depreciação incide sobre a
parcela do investimento relacionada à aquisição de equipamentos, isto é, ao sistema de
descarregamento, seu painel eletrônico e o sistema de captação de pó, o que totaliza
R$1.108.535,00. Dessa forma, chegou-se a uma depreciação anual de R$99.768,00 e a um
valor residual do equipamento de R$110.853,49, o qual é incorporado no último ano do fluxo
de caixa como uma receita não operacional do projeto.
As ferramentas de análise utilizadas foram as tradicionalmente utilizadas em análise
de projetos: o Valor Presente Líquido [VPL], a Taxa Interna de Retorno [TIR] e o “Payback”.
O VPL representa a diferença entre entradas e saídas do fluxo de caixa, considerando todos
os valores trazidos a valor presente pela Taxa Mínima de Atratividade [TMA], conforme
apresentado por Gitman (2009). A TMA representa o retorno alternativo que o capital investido
poderia ter caso fosse alocado em uma aplicação com baixo risco. Foi considerada uma taxa
de 2,57%, correspondente à taxa de juros real da economia brasileira na presente conjuntura9.
A TIR representa a taxa que zera o VPL, isto é, representa o retorno do projeto. Já o “Payback”
indica o prazo necessário para que o investimento inicial seja compensado pelas posteriores
entradas no fluxo de caixa. Este indicador pode ser calculado levando-se em conta o fluxo de
caixa sem trazer os valores para o presente (“Payback” simples) ou considerando a conversão
dos valores monetários para valor presente (“Payback” descontado).

8Disponível em:
http://normas.receita.fazenda.gov.br/sijut2consulta/anexoOutros.action?idArquivoBinario=36085.
Acesso em: 14 de maio de 2018.
9Fonte: http://www.valor.com.br/brasil/5331159/taxa-de-juro-real-cai-257-menor-patamar-desde-maio-

de-2013. Acesso em: 14 de maio de 2018.

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Resultados e Discussão

No cenário base, foi considerada como receita somente a economia que se obtém com
a não contratação de mão de obra para o tombamento manual do café. Dessa forma, as
únicas receitas consideradas neste cenário são as entradas de R$646.038,96 entre o ano 1
e o ano 10, e a entrada da receita não operacional referente ao valor residual do equipamento
adquirido, o qual representa uma entrada de R$110.852,49 no último ano do projeto. O fluxo
de caixa referente a este cenário é apresentado na tabela A4, em anexo.
Com base em tais valores, os resultados dos indicadores econômicos apontaram para
a viabilidade econômica do projeto. O VPL do projeto, considerando como TMA a taxa de
juros real da economia brasileira na atual conjuntura, isto é, uma taxa anual de 2,57%, é de
R$275.291,08. A TIR calculada foi de 4,35%. Ou seja, a TIR é superior à TMA, o que indica
indicando a viabilidade econômica do projeto. Destaca-se, porém, que tais valores são muito
próximos. O “Payback” simples é de 8 anos e dois meses e o “Payback” descontado é de 9
anos e dois meses.
Tais resultados indicam que a substituição da mão de obra no processo de
descarregamento do café recebido pela empresa beneficiadora do produto em questão é
economicamente viável mesmo considerando tão somente a redução dos gastos com mão de
obra como entrada. Pode-se considerar, porém, que o ganho de produtividade decorrente da
automatização do recebimento do produto seja revertido em aumento da quantidade de
beneficiamento de café. Para converter esse ganho de produtividade em entrada do fluxo de
caixa, foi preciso estabelecer algumas premissas. A primeira delas refere-se à relação entre
o preço de compra do café e o preço de venda. Foi considerado que a empresa aufere um
lucro de 1% sobre o valor da compra do café. Neste caso, considerando o preço médio da
saca de café arábica entre maio de 2017 e maio de 2018 oferecido pelo Centro de Estudos
Avançados em Economia Aplicada [CEPEA], disponível em CEPEA (2018), foi considerado
um preço de compra de R$446,41. Isto equivale a um ganho de R$74,40 por tonelada.
Outra importante premissa estabelecida para estimar o ganho oriundo do aumento da
produtividade no recebimento do café é a capacidade que a empresa terá de receber este
café, beneficiá-lo e vendê-lo no mercado. Para esclarecer essa etapa do cálculo, suponha
que a empresa em questão opere em capacidade máxima ou que, caso produza mais, não
possua nenhuma demanda pela quantidade extra de café beneficiada. Em tais casos, o
estoque extra decorrente do recebimento do café mais eficiente não irá gerar ganho algum
para a empresa. Por isso, é necessário estabelecer qual é o montante de café que a empresa
possui capacidade de receber, processar e vender (considerando a margem de lucro
estabelecida acima) para que seja possível calcular a entrada no fluxo de caixa relacionada

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ao aumento de produção decorrente do ganho de velocidade no recebimento do produto após


a implementação do tombador.
No cenário base, foi considerada uma produção anual de 66.528 toneladas, a qual é
compatível com os valores utilizados para o cálculo dos custos variáveis. Foram considerados
três cenários alternativos, cada um deles considerando um aumento percentual da produção
da empresa correspondente àquilo que ela é capaz de processar e beneficiar. No primeiro, a
empesa é capaz de processar e vender 1% a mais do que atualmente; no segundo cenário,
2,5% a mais; e no terceiro cenário, 5% a mais. Dessa forma, a produção anual aumentaria
para 67.193,28 toneladas, 68.191,20 toneladas e 69.854,40 toneladas no primeiro, segundo
e terceiro cenário, respectivamente10. Os indicadores financeiros para cada um dos cenários,
bem como os do cenário base, são apresentados na Tabela 1.

Tabela 1 – Resultados dos indicadores econômicos para o cenário base e para determinados
aumentos de produção, considerando uma margem de lucro de 1% (em R$ de 2018)
Cenário base Aumento de 1% Aumento de Aumento de 5%
2,5%
R$275.291,08 R$559.639,08 R$986.011,07 R$1.696,631,07
VPL
4,35% 6,11% 8,64% 12,60%
TIR
8 anos e 2 7 anos e 6 6 anos e 6 5 anos e 6
“Payback” meses meses meses meses
simples
9 anos e 2 8 anos e 4 7 anos e 3 6 anos e 3
“Payback” meses meses meses meses
descontado
Fonte: Resultados originais da pesquisa

Os dados da Tabela 1 mostram que há uma grande sensibilidade do retorno do projeto


com relação ao potencial aumento de produção. A TIR, que no cenário base sem alteração
na produção é de 4,35%, passa a ser de 12,60% com o aumento de produção de 5%. Além
disso, o VPL aumenta 6,2 vezes entre o cenário base e este cenário.
Com isso, é possível observar que, considerando tão somente os ganhos decorrentes
da economia com mão de obra no tombamento manual, trata-se de um projeto
economicamente viável, mas com um retorno relativamente baixo. Porém, ao se considerar
possíveis aumentos de produção, nota-se que a implementação do tombador hidráulico é um
investimento que possui alto retorno para a empresa. Esse resultado é interessante tanto sob
a ótica da formulação da estratégia da empresa quanto da teoria microeconômica. No que se
refere à estratégia empresarial, destaca-se que, caso a empresa planeje expandir suas

10 Naturalmente, os custos variáveis foram aumentados de maneira proporcional ao aumento da


produção em cada um dos cenários.

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atividades, o investimento em um tombador hidráulico de café não somente é altamente


viável, como se faz necessário, pois caso o tombamento do café permaneça sendo feito
manualmente, a expansão na quantidade de café beneficiado pode encontrar nesta etapa
inicial de produção um importante gargalo. Ou seja, os resultados indicam que uma eventual
expansão das atividades da empresa deve ser acompanhada do investimento em um
tombador hidráulico de café.
Sob a ótica da teórica econômica, é possível destacar que a mecanização de uma das
etapas de produção está diretamente associada à escala de produção considerada em
questão. Em um curto prazo, no qual não é possível considerar um aumento na capacidade
instalada, a automatização do recebimento do café apresenta um retorno relativamente baixo,
embora positivo. Em um longo prazo, porém, quando todos os fatores de produção podem ser
considerados variáveis, é possível expandir a capacidade produtiva, o que faz com que o
retorno da compra de um tombador seja ainda mais atrativo11.

Conclusão

Os resultados apresentados permitiram constatar que a compra de um tombador


hidráulico por parte da empresa beneficiadora de café avaliada é viável. Mesmo em um
cenário base, no qual a única entrada operacional do fluxo de caixa é a economia que se
obtém com relação à mão de obra anteriormente utilizada para o tombamento manual do café,
o projeto se mostra viável. Porém, a viabilidade econômica da compra do tombador hidráulico
é substancialmente maior se for considerada a possiblidade de expandir a quantidade de café
beneficiada pela empresa, sendo este tipo de informação importante para a empresa
direcionar seus investimentos futuros. Sob este ponto de vista, o próximo passo da pesquisa
é fazer uma análise de viabilidade econômica que considere a compra de um tombador
hidráulico em conjunto com o investimento na expansão da capacidade de beneficiamento de
café da empresa.

Referências

Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada [CEPEA]. 2018 Indicador do preço do


café. Disponível em: https://www.cepea.esalq.usp.br/br/indicador/cafe.aspx Acesso em:
11/06/2018.

Gitman, L. J. 2009 Princípios de administração financeira. 12ª Ed. Pearson.

11Para maiores detalhes a respeito da relação entre fatores de produção, retornos de escala e curto e
longo prazos, ver Mankiw (2011).

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Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística [IBGE]. 2018. Pesquisa industrial anual –


Empresa. Disponível em: https://www.ibge.gov.br/estatisticas-
novoportal/economicas/industria/9042-pesquisa-industrial-anual.html. Acesso em:
11/06/2018.

Meyer, L.G.; Paixão, M.A.S. DA. 2017. Instruções Gerais para Elaboração de um Fluxo de
Caixa. 1ª Ed. Pecege. Piracicaba, SP, Brasil.

Mankiw, N. G. Introdução à economia: princípios de micro e macroeconomia. São Paulo,


2001.

Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento [MAPA]. 2018. Sumário executivo: café.


Disponível em: http://www.agricultura.gov.br/assuntos/politica-agricola/cafe/cafeicultura-
brasileira. Acesso em: 11/06/2018.

Receita Federal. 2018. Tabela de depreciação e vida útil. Disponível em:


http://normas.receita.fazenda.gov.br/sijut2consulta/anexoOutros.action?idArquivoBinario=36
085. Acesso em: 11/06/2018.

Silva, L. C.; Morelli, A. P.; Joaquim, T.N.M. 2015. Café: beneficiamento e industrialização. p.
385-398 In: Marcolan, A. L.; Espindula, M. C. Café na Amazônia. 1ªEdição, Editora Embrapa.

Site nacional de empregos [SINE]. 2018. Disponível em: https://www.sine.com.br. Acesso em:
Acesso em: 11/06/2018.

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ANEXO I – Detalhamento e informações complementares concernentes ao projeto

Tabela A1 – Detalhamento do montante demandando para o investimento do projeto (em R$


de 2018)
Item Valor
Sistema de descarregamento de caminhões SAUR (Equip. + 534,469.21
MO instalação)
Locação de guindaste - 60 toneldas 13,057.18
Óleo hidráulico Texaco Rando HD 68 9,035.15
Obra civil (materiais e MO) - infraestrutura da sala da unidade 91,400.29
hidráulica
Serviço mecânico em geral (MO) 139,043.35
Materiais mecânicos em geral 42,044.13
Sistema de captação de pó Metalmeth - SIST01 215,776.52
MO de montagem dos equipamentos (Metalmeth) 44,979.49
Frete dos equipamentos orçados da fábrica (Metalmeth) 19,985.95
Obra civil (materiais e MO) - infraestrutura do filtro manga 6,398.02
Transformador de 1000kVA de 34,5/0,38kV a seco - Preço base 148,068.47
TRAFO do Concentrador GEA
Painel QGBT - Iguaçumec 129,004.98
Painel de potência - tombador + sistema de captção de pó 149,374.19
Painel romoto de automação 52,228.74
Material elétrico (SPDA + iluminação + cabos) 156,686.21
MO elétrica 191,783.93
Obra civil - ampliação da subestação elétrica 49,356.16
Readequação da cobertura do armazém 27,420.09
Obra civil - dreno de lavagem do tombador 34,732.11
Obra civil - contenção do óleo do pistão hidráulico 32,904.10
Elevador de caneca SPS EC08 80 m3/h 12M MR - EL1 22,576.64
Lote tubulações D200 - EL1 4,285.52
Perfil 6M Cant. 2"x3/16" (50,8 x 4,76) ASTM A572 AR350 - EL1 597.33
Montagem do elevador de canecas - EL1 6,864.87
Seguro de montagem do elvador - EL1 89.25
Frete do elevador de canecas - EL1 3,350.58
Prédio da moega, moeda com poço de descarga lateral e base 313,372.43
de tombador para carreta de 80 t.
Pilares estaiamento cabos elevadores ("Mortos") - 3X (prev.) 36,560.12
Cobertura do prédio da moega 120,126.10
TOTAL DO INVESTIMENTO (R$) 2,861,617.17
Fonte: Resultados originais da pesquisa

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Trabalho apresentado para obtenção do título de especialista em Gestão
de Negócios – 2018

Tabela A2 – Custos fixos (em R$ de 2018)


Item Valor
2 operadores (+encargos) 5.200,00/mês
Eletricista de manutenção (+encargos) 3.600,00/mês
Mecânico de manutenção (+encargos) 3.600,00/mês
Outros (5%) 620,00/mês
TOTAL ANUAL (R$) 156.240,00/ano
Fonte: Resultados originais da pesquisa

Tabela A3 – Custos variáveis, cenário base (em R$ de 2018)


Item Valor
Energia elétrica 4.800,00/ano
Troca de óleo hidráulico 3.874,30/ano
Filtro de óleo 89,60/ano
Manutenção (elétrica) 1.803,20/ano
Outros (5%) 528,36/ano
TOTAL ANUAL (R$) 11.095,46/ano
Fonte: Resultados originais da pesquisa

Figura A1 – Ilustração do funcionamento de um tombador de descarregamento traseiro


Fonte: Manual de plataforma de Descarga da SAUR (disponível em: www.saur.com.br)

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Trabalho apresentado para obtenção do título de especialista em Gestão de Negócios – 2018

Tabela A4 – Fluxo de caixa do cenário base (em R$ de 2018)


(continua)
Item / Ano 0 1 2 3 4 5
Investimento 2.861.617,17
Receita 646.038,96 646.038,96 646.038,96 646.038,96 646.038,96
Receita não operacional
Custo fixo (CFD) 156.240,00 156.240,00 156.240,00 156.240,00 156.240,00
Custo variável (CV) 11.095,46 11.095,46 11.095,46 11.095,46 11.095,46
CUSTO TOTAL (CFD+CV) 167.335,46 167.335,46 167.335,46 167.335,46 167.335,46
EBITDA (R-CFD-CV) 478.703,50 478.703,50 478.703,50 478.703,50 478.703,50
Depreciação (D) 99.768,14 99.768,14 99.768,14 99.768,14 99.768,14
EBIT (EBITDA-D-Co) 378.935,36 378.935,36 378.935,36 378.935,36 378.935,36
IR mais CSLL (34% EBIT) 128.838,02 128.838,02 128.838,02 128.838,02 128.838,02
Depreciação (D) 99.768,14 99.768,14 99.768,14 99.768,14 99.768,14
FCO (EBIT-IR+D+Co) 349.865,48 349.865,48 349.865,48 349.865,48 349.865,48
Investimento (valor
vindos de recursos - 2.861.617,17
próprios)
FCL (FCO-I-T) - 2.861.617,17 349.865,48 349.865,48 349.865,48 349.865,48 349.865,48
FCL acumulado - 2.861.617,17 - 2.511.751,69 - 2.161.886,21 - 1.812.020,74 - 1.462.155,26 - 1.112.289,78
Fonte: Resultados originais da pesquisa

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Trabalho apresentado para obtenção do título de especialista em Gestão de Negócios – 2018

Tabela A4 – Fluxo de caixa do cenário base (em R$ de 2018)


(conclusão)
Item / Ano 6 7 8 9 10
Investimento
Receita 646.038,96 646.038,96 646.038,96 646.038,96 646.038,96
Receita não operacional 110.853,49
Custo fixo (CFD) 156.240,00 156.240,00 156.240,00 156.240,00 156.240,00
Custo variável (CV) 11.095,46 11.095,46 11.095,46 11.095,46 11.095,46
CUSTO TOTAL (CFD+CV) 167.335,46 167.335,46 167.335,46 167.335,46 167.335,46
EBITDA (R-CFD-CV) 478.703,50 478.703,50 478.703,50 478.703,50 478.703,50
Depreciação (D) 99.768,14 99.768,14 99.768,14 99.768,14 99.768,14
EBIT (EBITDA-D-Co) 378.935,36 378.935,36 378.935,36 378.935,36 378.935,36
IR mais CSLL (34% EBIT) 128.838,02 128.838,02 128.838,02 128.838,02 128.838,02
Depreciação (D) 99.768,14 99.768,14 99.768,14 99.768,14 99.768,14
FCO (EBIT-IR+D+Co) 349.865,48 349.865,48 349.865,48 349.865,48 349.865,48
Investimento (valor vindos de
recursos próprios)
FCL (FCO-I-T) 349.865,48 349.865,48 349.865,48 349.865,48 460.718,96
FCL acumulado - 762.424,30 - 412.558,82 - 62.693,35 287.172,13 747.891,10
Fonte: Resultados originais da pesquisa

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