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Leandro Garcia Meyer¹*; Michel Augusto Santana da Paixão2; Rodrigo Braian Nori3
1 UENP – Professor de Teoria Econômica – PR-160, 817, CEP 86300-000, Cornélio Procópio (PR), Brasil
2 UENP – Professor de Teoria Econômica – PR-160, 817, CEP 86300-000, Cornélio Procópio (PR), Brasil
3 UENP – Graduando em Ciências Econômicas – PR-160, 817, CEP 86300-000, Cornélio Procópio (PR), Brasil
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Trabalho apresentado para obtenção do título de especialista em Gestão
de Negócios – 2018
Resumo
Introdução
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mercado externo. Da produção total entre 2014 e 2017, por exemplo, 107,5 milhões de sacas
foram exportadas, o equivalente a 77,17% da produção total no período.
Dentre as mais de cem espécies de café, as mais relevantes do ponto de vista
comercial são o Coffea arabica, conhecido como café arábica, e o Coffea canephora, espécie
também conhecida como café robusta ou café conilon. O café arábica é considerado um café
de melhor qualidade e possui um valor de mercado mais alto do que o café robusta. Dados
do MAPA (2018) revelam que foram beneficiados no Brasil 44,97 milhões de sacas de café
em 2017, sendo 10,72 milhões, isto é, 23,85% de café robusta, e 34,25 milhões, isto é, 76,15%
de café arábica. As estimativas de produção para o ano de 2018 indicam uma variação
positiva de 29,10% para a produção total de café, seguindo a tendência cíclica comum a esta
cultura.
A produção do café brasileiro se distribui em quinze estados: Acre, Bahia, Ceará,
Espírito Santo, Goiás, Distrito Federal, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará,
Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rondônia e São Paulo. Destaque para o estado mineiro,
que em 2017 foi responsável por 54,36% das 44,97 milhões de sacas beneficiadas no país.
O estado do Paraná em conjunto com o estado de São Paulo, região em que a beneficiadora
de café analisada pela presente pesquisa se localiza, foi responsável pelo beneficiamento de
5,62 milhões de sacas, o equivalente a 12,5% do total beneficiado no Brasil em 2017.
A respeito do beneficiamento do café para a elaboração da bebida, o consumidor faz
uso do café torrado ou do café solúvel, ambos resultantes do processo de industrialização
pelos quais passam os grãos de café beneficiados, conforme destaca Silva et. all. (2015). O
beneficiamento do café, ainda de acordo com os autores, é um conjunto de operações cujo
objetivo é obter lotes homogêneos que atendam aos padrões de comercialização requeridos.
De acordo com dados da Pesquisa Industrial Anual [PIA-Empresa], do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística [IBGE], disponível em IBGE (2018), o elo do setor industrial
relacionado à cadeia do café2 apresentou um Valor Bruto da Produção [VBP] de R$7,91
bilhões em 2014, o equivalente a 13,51% das indústrias relacionadas ao setor de alimentos
apresentadas na pesquisa3.
A empresa analisada em questão é uma tradicional empresa do setor que beneficia
café há algumas décadas, e posiciona-se entre as maiores empresas exportadoras do setor.
O projeto em questão avalia a viabilidade econômica da implementação de um tombador
hidráulico de café para agilizar o processo de descarregamento do café a ser beneficiado pela
2 O que corresponde ao setor cuja classificação CNAE 2.0 de três dígitos é a 10.8 (“torrefação e
moagem de café” e “fabricação de produtos à base de café”).
3 Para se chegar a esses valores foram consideradas como indústrias de alimentos aquelas cujas
classificações CNAE 2.0 de três dígitos possuem 10 como dois primeiros dígitos.
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Material e Métodos
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Ainda a respeito dos custos variáveis, foi considerado que o recebimento de café
ocorre de maneira contínua ao longo do ano e, por isso, considerou-se uma jornada de
trabalho de 8 horas diárias ao longo dos 252 dias úteis no ano. Como no cenário base foi
considerado que não há alteração na quantidade de café beneficiado pela empresa em
decorrência do ganho de produtividade no recebimento do café, o ganho de velocidade
estimado no recebimento de café de 3 vezes permite considerar que, para o escoamento por
meio do tombador hidráulico, é necessário um terço do montante de trabalho demandado para
o tombamento manual. Dessa forma, o custo variável foi calculado levando-se em conta o
trabalho de 8 horas diárias ao longo de 84 dias, isto é, um terço dos dias trabalhados no caso
do tombamento manual. Com base em tais dados, e considerando as demais premissas
apresentadas acerca dos custos variáveis, foi calculado um custo variável de R$11.095,46. O
detalhamento dos valores considerados nos custos variáveis é apresentado na tabela A3 em
anexo.
No que se refere à receita relacionada à implementação do projeto, esta se divide em
duas partes. Primero, com a automatização do recebimento do café, os gastos que eram
provenientes da contratação de mão de obra para o descarregamento manual do café deixam
de existir, o que foi contabilizado como uma entrada de recursos oriunda da implementação
do projeto. Os dados apresentados pela empresa relacionados aos gastos com a contratação
de mão de obra para o descarregamento do café são referentes ao período compreendido
entre abril de 2017 e março de 2018 e apontam para um custo anual de R$643.038,96.
Adicionalmente, é possível considerar um aumento na produção da empresa devido
ao aumento na velocidade no recebimento do café. Com base nos dados oferecidos pela
empresa em conjunto com os dados apresentados pelo manual de uso do equipamento6,
estima-se que o ganho de produtividade nesta etapa de produção decorrente da
implementação do projeto é de 3 vezes. Chega-se a esse valor considerando que é
necessária, em média, uma hora para descarregar um caminhão com 30 toneladas por meio
do trabalho manual. Já o tombador hidráulico, neste mesmo período, é capaz de descarregar
três caminhões com a mesma tonelagem, cálculo que já inclui o tempo necessário para
colocar o caminhão na plataforma, tomba-lo, descarregar todo café e liberar o mesmo. Na
figura A1, em anexo, é ilustrado o funcionamento de um tombador com plataforma de
descarregamento traseira7.
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Com relação ao cenário base, foi considerado tão somente a receita oriunda da
economia com a mão de obra utilizada no descarregamento manual tal qual ocorre
atualmente. Na análise de cenários, passou-se a considerar a possibilidade de aumento de
produção decorrente da implementação do projeto. Para converter esse ganho de
produtividade em entrada do fluxo de caixa, foi preciso estabelecer algumas premissas, as
quais serão apresentadas e discutidas em maiores detalhes em conjunto com a apresentação
dos cenários considerados e seus respectivos resultados.
Foi considerado o horizonte temporal do projeto de 10 anos, referente ao tempo de
vida útil estimado para o tombador. A taxa de depreciação considerada foi de 10% ano. Tanto
o tempo de vida útil quanto a taxa de depreciação considerados foram obtidos por meio da
consulta à tabela oferecida pela Receita Federal para este fim8. Foi considerado o método de
depreciação linear, tal qual descrito em Meyer e Paixão (2017). A depreciação incide sobre a
parcela do investimento relacionada à aquisição de equipamentos, isto é, ao sistema de
descarregamento, seu painel eletrônico e o sistema de captação de pó, o que totaliza
R$1.108.535,00. Dessa forma, chegou-se a uma depreciação anual de R$99.768,00 e a um
valor residual do equipamento de R$110.853,49, o qual é incorporado no último ano do fluxo
de caixa como uma receita não operacional do projeto.
As ferramentas de análise utilizadas foram as tradicionalmente utilizadas em análise
de projetos: o Valor Presente Líquido [VPL], a Taxa Interna de Retorno [TIR] e o “Payback”.
O VPL representa a diferença entre entradas e saídas do fluxo de caixa, considerando todos
os valores trazidos a valor presente pela Taxa Mínima de Atratividade [TMA], conforme
apresentado por Gitman (2009). A TMA representa o retorno alternativo que o capital investido
poderia ter caso fosse alocado em uma aplicação com baixo risco. Foi considerada uma taxa
de 2,57%, correspondente à taxa de juros real da economia brasileira na presente conjuntura9.
A TIR representa a taxa que zera o VPL, isto é, representa o retorno do projeto. Já o “Payback”
indica o prazo necessário para que o investimento inicial seja compensado pelas posteriores
entradas no fluxo de caixa. Este indicador pode ser calculado levando-se em conta o fluxo de
caixa sem trazer os valores para o presente (“Payback” simples) ou considerando a conversão
dos valores monetários para valor presente (“Payback” descontado).
8Disponível em:
http://normas.receita.fazenda.gov.br/sijut2consulta/anexoOutros.action?idArquivoBinario=36085.
Acesso em: 14 de maio de 2018.
9Fonte: http://www.valor.com.br/brasil/5331159/taxa-de-juro-real-cai-257-menor-patamar-desde-maio-
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Resultados e Discussão
No cenário base, foi considerada como receita somente a economia que se obtém com
a não contratação de mão de obra para o tombamento manual do café. Dessa forma, as
únicas receitas consideradas neste cenário são as entradas de R$646.038,96 entre o ano 1
e o ano 10, e a entrada da receita não operacional referente ao valor residual do equipamento
adquirido, o qual representa uma entrada de R$110.852,49 no último ano do projeto. O fluxo
de caixa referente a este cenário é apresentado na tabela A4, em anexo.
Com base em tais valores, os resultados dos indicadores econômicos apontaram para
a viabilidade econômica do projeto. O VPL do projeto, considerando como TMA a taxa de
juros real da economia brasileira na atual conjuntura, isto é, uma taxa anual de 2,57%, é de
R$275.291,08. A TIR calculada foi de 4,35%. Ou seja, a TIR é superior à TMA, o que indica
indicando a viabilidade econômica do projeto. Destaca-se, porém, que tais valores são muito
próximos. O “Payback” simples é de 8 anos e dois meses e o “Payback” descontado é de 9
anos e dois meses.
Tais resultados indicam que a substituição da mão de obra no processo de
descarregamento do café recebido pela empresa beneficiadora do produto em questão é
economicamente viável mesmo considerando tão somente a redução dos gastos com mão de
obra como entrada. Pode-se considerar, porém, que o ganho de produtividade decorrente da
automatização do recebimento do produto seja revertido em aumento da quantidade de
beneficiamento de café. Para converter esse ganho de produtividade em entrada do fluxo de
caixa, foi preciso estabelecer algumas premissas. A primeira delas refere-se à relação entre
o preço de compra do café e o preço de venda. Foi considerado que a empresa aufere um
lucro de 1% sobre o valor da compra do café. Neste caso, considerando o preço médio da
saca de café arábica entre maio de 2017 e maio de 2018 oferecido pelo Centro de Estudos
Avançados em Economia Aplicada [CEPEA], disponível em CEPEA (2018), foi considerado
um preço de compra de R$446,41. Isto equivale a um ganho de R$74,40 por tonelada.
Outra importante premissa estabelecida para estimar o ganho oriundo do aumento da
produtividade no recebimento do café é a capacidade que a empresa terá de receber este
café, beneficiá-lo e vendê-lo no mercado. Para esclarecer essa etapa do cálculo, suponha
que a empresa em questão opere em capacidade máxima ou que, caso produza mais, não
possua nenhuma demanda pela quantidade extra de café beneficiada. Em tais casos, o
estoque extra decorrente do recebimento do café mais eficiente não irá gerar ganho algum
para a empresa. Por isso, é necessário estabelecer qual é o montante de café que a empresa
possui capacidade de receber, processar e vender (considerando a margem de lucro
estabelecida acima) para que seja possível calcular a entrada no fluxo de caixa relacionada
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Tabela 1 – Resultados dos indicadores econômicos para o cenário base e para determinados
aumentos de produção, considerando uma margem de lucro de 1% (em R$ de 2018)
Cenário base Aumento de 1% Aumento de Aumento de 5%
2,5%
R$275.291,08 R$559.639,08 R$986.011,07 R$1.696,631,07
VPL
4,35% 6,11% 8,64% 12,60%
TIR
8 anos e 2 7 anos e 6 6 anos e 6 5 anos e 6
“Payback” meses meses meses meses
simples
9 anos e 2 8 anos e 4 7 anos e 3 6 anos e 3
“Payback” meses meses meses meses
descontado
Fonte: Resultados originais da pesquisa
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Conclusão
Referências
11Para maiores detalhes a respeito da relação entre fatores de produção, retornos de escala e curto e
longo prazos, ver Mankiw (2011).
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Meyer, L.G.; Paixão, M.A.S. DA. 2017. Instruções Gerais para Elaboração de um Fluxo de
Caixa. 1ª Ed. Pecege. Piracicaba, SP, Brasil.
Silva, L. C.; Morelli, A. P.; Joaquim, T.N.M. 2015. Café: beneficiamento e industrialização. p.
385-398 In: Marcolan, A. L.; Espindula, M. C. Café na Amazônia. 1ªEdição, Editora Embrapa.
Site nacional de empregos [SINE]. 2018. Disponível em: https://www.sine.com.br. Acesso em:
Acesso em: 11/06/2018.
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