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Capitulo IIT PORTUGUES ANTIGO 7 Periodizagao 7,4 Periodos E tradicional dividir © tempo das linguas em petiodos, 4 semelhanga do que se faz com a historia dos Povos. Trata-se de uma ilusio util: ilusio, porque as fronteiras entre os periodos sempre falta fundamentacio rigo- rosa, mas util, porque com um nome podemos designar uma extensio de séculos, sem obrigaco de precisar datas mais exactas. Podemos, assim, usar da periodizacao, desde que nio confiemos demasiado nela. A histéria da lingua portuguesa tem sido dividida pelos autores com critérios varidveis, como se vé pela seguinte tabela de confronto: Propostas de periodizagio da lingua portuguesa [Epoca Leite de Serafim | Pilar Vquez. | Lindley Vasconcelos | Silva Neto _| Cuesta Cintra até s. IX (882) | pré-histérico | pré- chistérico__| pré-literério | pré-litertio até 1200 (1214- | proto- proto- -1216) -histético -histérico até 1385-1420 trovado- gal.-portugués | port. antigo portugués resco até 1536-1550 __| arcaico port.co- |port.pré- | port. médio mum dliss. até séc. XVI | portugués | port. mo- | port. clissico_| port. clssico até séc. XIX-XX | moderno derno port. port. moderno modemno A titulo de legenda: no ano de 882 foi escrito, em latim, o mais antigo locumento original do futuro territério portugués, a Escritura da Igreja de Lardosa; os anos de 1214-16 talvez tenham assistido 4 redaccio da Noticia de Torto, que pode ser ligeiramente anterior. Como se vé, em am- Scanned with CamScanner ee b esesio 4 Histéria do Portugués in stério é um evento nO plano da lingua esctita (iy bos os casos © crite ossibilidade de documentos mais antigos ter," Ci - que se recorte com valot quase simbélico, pa je possa tet tido influéncia sobre a lingua hia, lao quase totalmente analfabeta. Em contraste. 2 falada por uma POP in as grandes transformagées se deram em Porty, tes oer ameltt dinastia e a consolidagao da dinastia de Avis, entre o final ssugeat da peste negra, a alteragio do quadto politico, , as, as El ‘dos centros de influéncia ¢ a entrada em contacty eave ig Renascimento si0 factores que nao actuaram apenas ny coma ni eae marcaram claramente @ lingua. A data de 1536 volta a cetera simbélica, nela tendo sido publicada a primeira gramitica ser esa, a de Fernio de Oliveira. As cara indicagdes cronolégicas sio especialmente eloquentes pela sua vaguidade. we faremos uso das designagdes propostas por Lindley Cintra, especialmente as impres- sas a negrito. 7.2 Ciclos Muito mais interessante, ¢ pr6: lingua portuguesa como repatti teflectindo a histéria da ocupagio do territério, os gtandes movimentos da nagio. O primeiro movimento a considerar pode ser apresentado como uma transplantagio inicial da lingua, que parte da sua area inicial na Galéca Magna pata se derramar pelo resto do tettitério europeu, onde se sobre- pe 2o arabe que as populagdes reconquistadas falavam. O segundo mo- vimento, igualmente para sul, consiste em um salto para fora da Europa. Com as Descobertas, a lingua instala-se em ilhas atlanticas desabitadas, nos litorais africano ¢ asidtico que ofereciam suporte as rotas maritimas, e sings no litoral brasileiro. Se, em todos estes pontos a lingua nunc genie © mar de vista, o mesmo nio se passou no Brasil. Ai, vemos 5 ro ees : eon pela tetra dentro nos sécs. XVI e XVII, coisa que s° gqibia peimisinenod a sucessivos de crescimento da lingua portu- Intivos, separados por uma eens eeeenee € # acco de dois Ciclos evo- cesura no séc. XV: ximo da verdade, sera encatar a historia da ida em duas grandes unidades ciclicas, a formagio do estado e 4) 0 ciclo da F 5 na esteira da Resnaaiae da lingua, que decorre entre os sécs. IX exV traneplantarany g onaust do terttério dos arabes; os povos do nor contacto com a lingua Teal Para o sul, onde ela se transformou pel locale ganhou, a partir do séc. XV, ascendente Scanned with CamScanner Portugués Antigo %5 re 08 dialectos do Notte, tornando.. sob eistcas metidionais, que seria vin cons : lin 2 Norma culta de b) 0 segundo ciclo é 0 da Expansao da lingua; ita nacional. a inicios do séc. XVI € aquele em que a linpua Arid do séc. XV transfigura. Enquanto se feestruturava © consoli dav deneatcalmente se lingua portuguesa comeca a expandir-se Pata fora da Ri wu eft tit de entio, é preciso distinguir entre Pottugués ews P® Pelo que, a extra-europeu. ‘OpeU € portugués O ciclo da Formagio desentola-se 4 partir da i Ai . f inttod leuma: mudangas muito extensas na lingua falada no tesritésio infeal ae mas Magna, lingua que, entre os sécs. V-VI, era ainda woe vatiedade de la tim oral. Simplificando, dizemos que dua ‘ faty aspecto sonoro. A consoante nasal {a}, naquela posi¢ao, comega por nasalat a vogal que a precede e depois deixa de ser articulada: assim, a palavra LANA Passa sucessivamente a lina, laa ¢ la. Slgo de semelhante ocorre, na mesma época, com com soante [I] que, também quando intervocilica, softe sincope e deixa em contacto as duas vogais que a ladeiam: assim, DOLORE transforma-se em door ¢ esta em dor, devido & fusio das duas vogais. Estes dois fenémenos semelhantes produziram-se apenas na Galécia Magna e afectaram o latim ai falado, que passou assim a distinguir-se tanto do latim falado no cen- tto da Peninsula, que daria origem ao castelhano e a0 leonés, como do hatim falado a sul, na Lusitania, Essa diferenca criada entre a lingua da Galécia Magna e as suas vizinhas mais chegadas talvez tenha sido 0 acto de nascimento da nossa lingua, a que, por respeito pela area em que Scotteu, se pode chamar galego-portugués. ; Uma outra mudanga de natureza fonética bastante importante, e mais ou menos contemporanea destas, afecta as palavras latinas DS eorestad Gm pels consoances {p] {c][f] seguidas de fl]. Por exemplo: PLUvIA, CLAMARE, FLAMMA, Os trés grupos consonanticos iniciais evol ae oi da mesma maneita, para o som africado palatal (t{]. Em vez, de PLUVI 4 P: bora tenhamos hoje Passamos a ter tfuva, tfamar em vez de CLAMARE, ch aida’ da palavia ém a palavra lamar, que se deve a uma segun vlog teanafotnagoes fina enquanto vocabulo culto, e por isso isento 25 oe fonéticas que atacavam especialmente 0 léxico coma ‘Ovgalegs= ‘$0 cottente © quotidiano de.uma populasio analabels. € Beat: ‘Portugués primitivo, entre os sécs. VI ¢ XI, era de fa ninguem escrevia. Scanned with CamScanner Introdugao a Histéria do Portugués ’ in ortugués fizeram caminho j seo ee gue ae separam o salego do og muito ov Pouce fyeara da fundagio do teino de Portugal, gncPoaug nuit cede, pos a onstituem uina lingua tnica até ape osege tos defendem” Galiza, podermos falar portugues © sermon pores das, © facto de, 8898 Fo, nos dias de hoje, se trate de tamente : fio prova que, os Jes uma mesma entendido ee ene dade Média? Os trovadores — salegos, porta i gun, Come “Sescreviam todos na mesma lingua, mas era vine ea ficial ¢ nfo necessariamente a lingua que cada um falava. Nessa lingu, literitia, a que Carolina Michaélis somos speangile iste, ake s que apontem para uma s 1 regional, mas digit Se aerenn ek usatiam dessa lingua unificada, Pode secqr galego ¢ 0 portugués ja se estivessem a separat, De qualquer forma, a sua sepatacao definitiva ocorreu no dlo em exame, através de um episédio intercalar de elaborao da ing processo coincidente e decerto relacionado com as grandes alters” sociais ¢ politicas j4 referidas. Caractetizemos este processo de elabota. sao. Sofrera Portugal, em meados do séc. XIV, duas passagens gravine mas da peste negra, que dizimou patte da populacio, provavelment., sua seccio adult, O salto de geragées que daf resultou pode ter alguna culpas nas transformacées muito répidas que logo viriam a Ocotter na sociedade portuguesa. Logo a seguir, uma época de guerras com Caste as de D. Fernando e as de D. Joio I, em consequéncia das quais se uma inversio nos equilibrios politicos no nosso pais. A nobreza da pi meira dinastia, a nobreza que tinha ajudado Afonso Hensiques a fazero teino e que tinha governado o Pais durante os primeiros séculos, toma, estas guetzas, o partido da rainha de Castela, porque, como fills de D. F , eta a herdeira legitima da coroa de Portugal. Essa nobrezs perde, assim, a guerra e 0 poder. O seu espago é ocupado por uma no- breza nova constituida por burgueses nobilitados ou por filhos segundos das casas nobres, que rec: ebem terras e poder econdmico situado 00 centro € no sul do pais, O Discute-se final do gj toma. tg Sustentou, até financeiramente, a nova dinastit, ae definitivamente a capital do pais, le Portug peng: C70 se toxna cada vez mais influente, 0 nee perde o estatuto de bereo it et uma provincia distante, E imehdetee eens " 3 oe » tora. = # Galiza, com a qual tem as maiores is entio sofre agers Mais distante, As transfoomerzec que o port Softe afastam-no dy formacées qi delas terag : Mmatriz medieval gale portuguesa: algue™ carictet delibersdo (opgdes Calteoee sonco a seo Scanned with CamScanner Pe Portugués Antigo n _. do Iéxico ov a adopsio do castelhano como segunda lingua Iterit eee qualquer delas vista como processo podedtiadon a ae ‘inimente as de otdem gramatical, setio inconscientes, mas Nainaeseie caeas. Na soma dessas mudangas reconhece-se um processo de cabo, io linguistica, um. acto de tecusa das origens com o qual a lingua porruguess atinge 0 fim do seu perfodo de formagio e de crescimento, z precede de pouco 0 final da Idade Média. ; i picase entéo segundo movimento, o ciclo da Expansio. A lingua portuguesa transborda da Europa, esgotado que estava o seu territério europeu. Com as Descobertas, a lingua portuguesa passa a ter pelo me- nos duas histérias: a histéria do portugués europeu e a histéria do portu- gués extra-europeu: Portugués europe. O léxico entiquece-se por vatios motivos: contacto com linguas exéticas, importagio de cultismos latinos e gregos, adopcio do castelhano como segunda lingua literétia. Afirma-se um padrio na- cional, desctito pelos gramaticos do séc. XVI e seguintes. Os dialectos distribuem-se segundo um mapa muito semelhante a0 moderno, com um norte consetvador e um centro-sul, correspondente 4s terras reconquis- tadas, mais nivelado e modernizado. O som do portugués europeu nio softeu, depois do séc. XVIII, alteracdes significativas. Portugués extra-europen. Fora da Europa, o portugués teve dois tipos especificos de actuacio, logo a partir do séc. XVI: _ 9 transplantou dialectos de Portugal para territétios como o Brasil, a Aftica ea Asia e ai teve desenvolvimentos préprios, chegando aos nos- $06 dias com plena vitalidade nos dois primeiros espacos e em estado de teliquia no ultimo. Um dos principais problemas da linguistica do portu- aués consiste em determinar se as diferengas que se detectam entre as Vatiedades portuguesa e brasileira devem set encaradas a nivel de norma ua nivel de sistema, ou seja, se devem ser consideradas como varieda- $ dentro de um mesmo sistema, ou se pelo contririo constituem Ss" ae sepatados e, portanto, Iinguas diferentes (recorde-se © que foi dito rortugués e do galego); = saat $0 )20 longo do ee trés continentes que visitou, ore a Ciou-se a linguas locais para produzir pidgins e crioulos, aver Segui > mattiz Unica (0 proto-crioulo portugués), © que oF ene 8 entre linguas que nunca estiveram em contacto. a P soa Como resultados modemos, a situacig lingufsucs ie py ae a dont’ Bissau, Sio Tomé e certas Areas do Indico e Oceanis, 4m ctioulos de base portuguesa. hang, leu, Scanned with CamScanner _ Como se vé, dificilmente se poderia caracterizar a situa ’, difici , encendo ainda ao ciclo da Expansio, lingua portuguesa como Pejvimentos modetnos da lingua Pottuguer muitos lugares, “il do império colonial, pelo que nao convém telacion, precederam o fin fricana (1975) com a evolugéo do portugués brasileing a descalonizagto f algumas vatiedades asiaticas. Os processos que estig me Gece een nino da lingua portuguesa, tanto quanto se pode yes em marcha no ¢ aia nem por uma tendéncia para a convergéncia nem iio mperearactens Dai que um falante normal do portugués, e mesmo um pela coesio geral 5 as uma visio completa ¢ equidistante de toda, eae a lingua assume na sua existéncia multicontinental, ° Re crniel a previsio dos caminhos que ela ira percorter. S40 actual di 8 Fontes escritas 8.1 Fontes escritas (problemas, métodos, classificagio, bibliografia) Um linguista que pretenda descrever ou inte: que usa no seu dia a dia tem simplesmente di cia de falante, constituida pela meméria das formas que ja encontrou ¢ usou € pela capacidade de discemnir se determinada forma pertence on nio a sua lingua, se é gramatical ou agtamatical. Mas tal procedimento nao esta com a mesma facilidade ao alcance do linguista que se ocupa dos aspectos diacronicos da sua lingua, tal como nio estA daquele que se ocupa de uma lingua estrangeira, pois em ambos os casos lhe falta a ex- Petiencia de um contacto directo e susceptivel de controle. aan estudo dos estados passados de uma lingua nao pode contar com experiencia, mas apenas com dois classicos métodos conjecturais: wasp ieconsiusio dos estados passados, baseada na comparagio entre ys 2 emas, deles geneticamente derivadas; di ae ane de fontes escritas Ptoduzidas na €poca que é object espn piney Por uma variedade de motivos, pragmiticos, maticas e outros ei ). A Pattir do séc. XVI, com a publicasao de ght adicionam-se outias que aut talinguisticos em pottugués, a essas fontes Sio dele exemplo: funciona, ©, escrevem um estado de lingua, com? tpretat aspectos da lingua le confiar na sua competén- Si s © secundatias, ” 80 Mesmo tempo, como fontes primarias Até a0 séc, XVI fontes esctitas prim és St 4 forma ~ a 1S rimaria S40 do galego-portugués, apem™ B44, primeiro com exighete™ documentar elcnieb seguido pel* micia metamente oral (period preliterai®) Scanned with CamScanner

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