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MEDICINA TRADICIONAL VERSUS MODERNA ANTE CONVID-19

Por: Msc. Bertrand G. Mendes

INTRODUÇÃO

Os cuidados de saúde não constituem a excepção para nenhuma sociedade, raça ou a


cultura, a sociedade está cada vez se tornando consumidores de saúde, na qual se tornou um
dos sectores sociais mais caro e procurado, tendo em conta que a cura não é uma coisa da
modernidade, já existia a medicina tradicional antes do surgimento da medicina moderna.
Actualmente com as patologias modernas resultantes das consequências da modernidade,
como mostra Giddens, (2010:146) que a “medicina oficial encontra grandes dificuldades
em tratar as maleitas da modernidade o que leva muitas pessoas a procurarem a medicina
alternativa (tradicional)”. Entretanto, se pode concluir que a medicina moderna está
deixando um grande vazio por causa da incapacidade da resposta rápida ou eficiente, nesse
âmbito esse vazio está sendo preenchido pela medicina tradicional, em outras palavras
estamos a voltar para o que se foi ignorado no passado por não pertencer a sociedade
ocidental.

Embora que a sociologia do corpo mostra o papel importante que as influencias


sociais e ambientais têm nos padrões de saúde e da doença, mesmo com grandes avanços na
saúde publica a nível global, se continua ver a forma desigual da distribuição da saúde e
doença entre a população, apesar de o novo coronavirus veio a tentar mostrar a outra cara
da moeda relativamente a relação existente entre a saúde e algumas variáveis, por exemplo:
classe social, raça, género, etc..., porque é um vírus que assolou todos os países da planeta
terra, afectando mais os países industrializados ou com mais meios financeiros e sanitários,
com mais ênfase na medicina moderna.

Segundo a Priya Shetty, a medicina tradicional se merece um renascer, durante


milénios, em todo o mundo se tem curado aos doentes com remédios derivados de plantas
ou animais, conhecimento que tem passado de geração em geração. De acordo com a
mesma autora em África e Ásia 80 porcentos da população se vale de remédios tradicionais
e não da medicina moderna para atenção primaria da saúde.

Nas nações desenvolvidas, a medicina tradicional está trazendo cada vez mais
adeptos, principalmente a aceleração dos números das pessoas que já aprovaram ou
procuram as terapias como acupunctura ou homeopatia, entretanto se pode afirmar que a
medicina moderna se beneficiará ou tornará melhor em futuro próximo se integrar as
terapias e praticas da medicina tradicional, porque só ela (medicina moderna) encontrará
grandes dificuldades em dar respostas as patologias da modernidade.
De acordo com a definição de Elias e Delgado (2012)1, a medicina tradicional é um
conjunto de praticas, crenças e conhecimentos sanitários baseados no uso de recursos
naturais, terapias espirituais e técnicas manuais que buscam manter a saúde individual e
comunitária liderado por um curandeiro ou um ancião com experiência e com poderes da
cura com conhecimentos adquiridos através da educação informal. É uma pratica que se usa
desde antiguidade antes do surgimento da medicina moderna, e se seguiu essa pratica de
cura a data presente nos diferentes países, principalmente em África e Ásia.

Se considera a medicina científica ou ocidental, usada quase em todos sistemas de


saúde dos países do mundo como oficial, este tipo de medicina exige conhecimentos
científicos transmitidos através da educação formal para as pessoas que a pratica, muitos
autores consideram esse tipo de medicina de quase inconciliável com a medicina tradicional
se vive constante contradição entre as duas, proveniente do menosprezo do valor e da
pratica da medicina tradicional, dando mais ênfase a pratica da medicina moderna.

Embora que a medicina moderna é considerada como a medicina legal e oficial nos
sistemas de saúde do mundo, prejudicando e crucificando de uma forma directa ou indirecta
os praticantes da medicina tradicional, a medicina tradicional continua a estar presente na
vida das muitas pessoas principalmente os que vivem nas zonas rurais e algumas da cidade.
Entre essas pessoas, as primeiras principalmente na África, se deve a falta da estruturação
do sistema da saúde publica, falta das estruturas sanitárias junto a população, não cobertura
das necessidades sanitárias demandadas e a predominância de usos e costumes tradicionais,
e aquelas da cidade se deve a falta da potencialidade da medicina moderna em curar as
patologias da modernidade, obrigando essas pessoas a procurarem a cura tradicional.

Nas divergências entre a medicina tradicional e moderna existem alguns pontos que
têm em comum, entretanto:

 Se fundamentam em um propósito comum o homem a busca de uma maneira de


encontrar a saúde para si mesmo através da medicina,

 Servir a quem sofra de uma doença, ambas ocupam uma posição oficial na
sociedade,

 São reconhecidas or a mesma e jogam um papel muito importante com uma


localização social integrada, ja que nenhuma é marginada pela sociedade a que
pertence.

 Respeito a oficialidade ou legalidade, ambas estão em de acordo com as leis


estabelecidas pela cultura da sociedade que lhes praticam obedecendo-as e
colaborando com elas,

1 Se vê em: http://www.scielo.org.pe/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1728-
59172012000200002
 Todas têm um representante que é uma pessoa preparada especialmente para
desempenhar essa tarefa através de um processo educativo árduo e prolongado,

 Ambos representantes (Medico ou Curandeiro) ocupam um papel muito importante


e prestigioso dentro da sociedade onde estão inseridos.

Actualmente se assiste uma cercania cada vez mais das duas medicinas, diminuindo
as divergências e as barreiras entre elas, existe vastos programas governamentais e não
governamentais que estão promovendo a medicina tradicional, capacitando os curandeiros
tradicionais e proporcionando intercâmbio entre curandeiros tradicionais e médicos, e em
alguns países existe uma parceria entre as duas, quando os médicos encontram a dificuldade
em tratar certos patologias passam o paciente para os curandeiros tradicionais da mesma
forma quando um paciente apresenta algumas sintomas principalmente ligados a
tuberculoses e outras doenças que podem ser tratadas de uma forma mais rápida através da
medicina moderna, os curandeiros tradicionais fazem transferência para hospitais ou
centros de saúde. Se pode concluir que a medicina tradicional transferiu um vasto
conhecimento a medicina cientifica sobre plantas medicinais, métodos terapêuticos
empíricos em base do qual criaram terapias cientificamente orientadas, de mesmo modo
que a medicina cientifica enriqueceu a medicina tradicional nas questões de dosagem, e
continua haver a necessidade da criação de mais sintonia entre as ambas.

Não se podia seguir como se pensava em deixar de lado a medicina tradicional e


seguir só a medicina moderna, porque a intercularidade em saúde apresenta uma opção para
melhorar a panorama e fazer a face as patologias da modernidade, também serve de um
elemento da inclusão social, na qual cada cultura manterá sua identidade e poderá aceitar
novas paradigmas para óptima atenção em saúde, servindo como uma parte integral,
complementar para afrontar os problemas que padece os sistemas da saúde publica
mundial. Nesse âmbito a conciliação das duas medicinas serve de espaço de coexistência e
de enriquecimento bidireccional.

Alem demais, a investigação e desenvolvimento do novo fármaco leva muito tempo


e exige uma grande inversão económica, e actualmente a medicina moderna encontra cada
vez grande e crescente problema da resistência a fármacos, maioria das vezes provocada
pelo uso indevido de medicamentos ou automedicação, tornou a vários medicamentos
principalmente antibióticos ineficazes ao tratamento. Nesse âmbito fez que os
investigadores e laboratórios prestarem cada vez mais atenção a medicina tradicional.

Como mostra Doutor Fernando Cabieses, que a diferença essencial entre a medicina
tradicional e a medicina académica não é uma diferença entre um enfoque cientifico
racional e um conhecimento empírico, senão um problema das duas ideologias diferentes, e
mostrou grande importância das ambas aprender a conviver para superar os obstáculos,
Segundo essas palavras de Cabieses não passa de uma chamada a um dialogo intercultural
para encontrar os pontos de encontro ou de articulação que conduzirá a melhoria dos níveis
da saúde dos mundanos.

Com a pandemia de novo Covid-19, voltou a mostrar o grande poder da resolução


dos problemas da saúde publica que pode resultar da conciliação das ambas medicinas,
porque segundo o histórico dos países que estão tendo mais sucessos no tratamento do
Covid-19 reportaram o uso e a combinação da medicina tradicional e moderna na cura das
pessoas infectadas.

Exemplo de um dos países que usou essa combinação na luta contra o novo
coronavirus e conseguiu o resultado eficiente é a republica popular da china. A medicina
tradicional chinesa nunca perdeu nenhuma luta contra as epidemias ao largo da historia da
china, cita AFP. Os clássicos da medicina tradicional chinesa proporcionaram evidência
suficiente de como este tipo de medicina curou doênças epidémicas durante mil anos.
Desde 23 de janeiro de corrente ano, quando a sede de controlo do novo coronavirus de
Wuhan ordenou o então conciliação do tratamento de medicina tradicional chinesa e a
medicina moderna, especialmente em pacientes menos graves, dezenas de especialistas em
medicina tradicional foram enviados como reforços nos hospitais de Wuhan, a cidade onde
começou a pandemia. De acordo com AFP2, as estatísticas mostram que até inicio de abril,
foram enviados 2.220 curandeiros tradicionais as diferentes hospitais da china para ajudar a
combater Covid-19, na qual mais de 75 porcentos dos pacientes infectados com o novo
coronavirus receberam o tratamento através da medicina tradicional chinesa em conciliação
com a medicina moderna.

De acordo com o Doutor Fréard, a china busca difundir a nível internacional a sua
mensagem cultural, e a medicina forma parte dela, tudo começou com a publicação em
Pequim no ano 2016 o livro branco sobre a medicina tradicional que defende o uso da
medicina tradicional chinesa nos centros especializados nos países desenvolvidos e propõe
o envio dos curandeiros tradicionais a esses países, de igual modo que Xi Jinping qualificou
a medicina tradicional como o tesouro da civilização chinesa e depois veio a declarar que
tem que ter tanta influencia como a medicina moderna, cita o mesmo Doutor.

Seguindo o exemplo de sucesso da china, em oito de março do corrente ano, o


governo de Zimbabwe autorizou os médicos da medicina tradicional (curandeiros)
registados para tratar o novo coronavirus em base das ervas, embora gerou um grande mal
estar no sector sanitário, apesar de o pais reconhecer o uso da medicina tradicional. Não
houve uma aceitação por parte dos praticantes da medicina moderna, segundo voz de
América, Nyika Mahachi3, defendeu que na fase actual da pandemia não se pode provar
sorte com uma medicina tradicional que não está aprovada, como se fosse que os médicos

2 Se vê em: https://www.google.com/amp/s/amp.rfi.fr/es/20200202-debate-en-china-sobre-la-
eficacia-de-la-medicina-tradicional-contra-el-nuevo-coronavirus

3 Presidente do Colégio de Médicos da Saúde Pública de Zimbabue


tradicionais (curandeiros) não sabem o que fazem mas sim tentam a sorte, mais um
menosprezo por parte da medicina tradicional, um dos factores que dificultam a conciliação
e possível avanço na saúde publica e a combate as patologias modernas.

Em resposta a Mahachi, Tribert Chishanyu4 congratulou com a decisão do governo e


sublinhou que a pratica da medicina tradicional é mais velha que a ciência e é aceitada por
maioria dos zimbabuenses. E proferiu essas palavras"Se aos científicos modernos se lhes dá
a oportunidade de provar cada vez que tem uma emergência sanitária, porquê que também
não podemos fazer o mesmo com a medicina tradicional, já que temos uma grande
experiência tratando sintomas relacionados com Covid-19”.

Um dos exemplos recentes do uso da medicina tradicional para combater o Covid-19, é o


lançamento oficial do remédio de nome Covid-organics no dia vinte um do mês corrente,
pelo presidente de Madagascar Andry Rajaoelina, publicado no Bangkok post.

O remédio é derivado da artemísia, a planta comprovada eficiente para a cura do paludismo


e outras ervas indígenas, já foi atestado com resultados positivos e eficazes na cura do novo
coronavirus, embora a comunidade cientifica avisaram potencial risco do uso das ervas não
atestadas. De acordo com o director geral de IMRA, Dr. Charles Covid-Organics será usado
como profilaxia, mas observação clinica mostrou a efectividade no tratamento, cita
Bangkok post.

Quase em todo o mundo o Covid-19 desapertou uma grande busca e uso de


medicamentos tradicionais (caseiros)5 como métodos de prevenção e de luta contra o novo
coronavirus, na qual os mais utilizados são: limão, áleo, gengibre, eucalipto e artemísia. E a
maioria das comunidades tradicionais recorreram os saberes culturais e religiosas para se
defenderem ou livrarem-se do vírus. Na guiné a comunidade animista recomendou beber a
água de carvão florestal e lavar o corpo com a mesma e amarar a linha vermelha na mão
esquerda como o método do escape de não ser infectado pelo vírus. Fizeram inúmeras
cerimonias nas balobas sagradas para fechar a porta da entrada da doença, em Canchungo
foi feita a cobrança da contribuição casa a casa para a realização do fecho da porta de
doença na cidade, infelizmente não se conseguiu fechar a porta, actualmente a cidade
regista treze casos das pessoas infectadas pelo novo coronavirus.

Isso demostra a não eficácia de uma só medicina ou método da defesa, nesse âmbito
é necessário articulação dos saberes para a melhoria da saúde publica e dar respostas
necessárias e adequadas a demanda actual.

Embora cada dia que se passa aumenta o nível de automedicação em defesa ou no


sentido do fortalecimento da imunidade, mesmo com a falta evidencia cientifica que prova

4 Presidente da Associação de Médicos Tradicionais de Zimbabue

5 Se vê em: https://www.france24.com/es/20200322-los-remedios-caseros-que-sobresalen-
alrededor-del-mundo-para-combatir-el-covid-19
a sua efectividade contra o Covid-19, e com advertência da parte cientifica de não uso de
medicamentos não recomendados pelo medico ou sem aprovação oficial da comunidade
cientifica, a população por tanto medo, a incerteza e a incapacidade da resposta rápida
mostrada por parte da ciência, seguiram a fé cega de consumidores voltando mais a
confiança e esperança no poder da medicina tradicional.

Segundo o trabalho feito se pode concluir que na modernidade e as patologias


transcendentes dela, torna necessário a conciliação da medicina tradicional e moderna para
a melhoria da saúde publica, com a conciliação se pode conseguir as sete vantagens:

 Melhoria da saúde da população;

 Resposta rápida a novas patologias ou passadas sem conhecimento cientifico e


menos inversão económica;

 Acesso a saúde aos habitantes das zonas rurais;

 Sentido de pertença e inclusão social;

 Diminuição de números de mortos por falta da coabitação entre as duas medicinas;

 Valorização da medicina tradicional e os que a praticam;

 Troca de conhecimento e saberes bidireccionais.

Entretanto, as lições dadas pelo novo coronavirus a humanidade, mostra a


necessidade de saber aprender a valorizar as outras culturas e conhecimento dos outros
povos, evitando de egocentrismo, só assim podemos criar uma sociedade melhor para todos
mundanos. Também serviu de uma época importante da reflexão para muitos países
africanos, mostrando que África tem potencialidade de fazer e de ajudar os outros
continentes, saindo do estado passivo e receptor. Voltando a historia a África é a mãe das
todas as coisas que hoje admiramos dos outros, por causa da inferioridade implantada na
nossa mente, o que nos leva a ignorar ou trocar o melhor que temos para menos valia dos
outros.

Abril, 2020

By: Bertrand G. Mendes, Mestre em sociologia das políticas publicas e sociais

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