A MALDIÇÃO

DO
LOBISMEM

AUTOR: jORDAN nATANAEL o. nUNES

ISSO ACONTECEU HÁ MUITO TEMPO
LEMBRO COMO SE FOSSE ONTEM
VOU ME APREÇAR SOBRE ISSO
ANTES QUE OUTROS RECONTEM
ESSA HISTÓRIA TODA CABELUDA
QUE AMEDRONTA QUALQUER HOMEM

FOI LÁ NO INTERIOR DO ESTADO DO PIAUÍ

EM UM DISTANTE POVOADO
LÁ MORAVA UM MOÇO HUMILDE
SEU NOME ERA EDUARDO
QUE POR SUA CORAGEM REPENTINA
QUASE MORRE ESSE COITADO

MUITAS PESSOAS DESAPARECIAM

PREOCUPANDO A POPULAÇÃO
TODO DIA ERA MULHER SUMIDA
UM TERROR NAQUELA REGIÃO
POVO COMEÇOU CONTAR HISTÓRIA
DE UMA ANTIGA MALDIÇÃO

01

DIZIAM QUE HÁ MUITO TEMPO

VIVIA UM VELHO E MAL CORONEL
QUE DE TANTA RUINDADE
FOI EXPULSO DO QUARTEL
ATÉ SUA NOIVA COITADA
LHE DEVOLVEU O ANEL

O V E L H O D E T Ã O F U R IO S O C O M T U D O
A N O IT E S A IA P A R A C A Ç A R
FOI EM UMA DESSAS CAÇADA
Q U E O C Ã O V E IO L H E B U S C A R
E C O M O P E N IT E N C IA D E S U A R U IN D A D E
V Á R IA S M O Ç A S E L E T IN H A Q U E M A T A R

OUTROS JÁ CONTAM OUTRA HISTÓRIA

QUE QUANDO O VELHO SAIU
A NOITE VEIO COMO UM VENTO
TROPEÇANDO EM UM GALHO ELE CAIU
QUANDO SE LEVANTOU DO CHÃO
NO MEIO DA MATA ELE VIU

OS OLHOS DO MAL EM SUA DIREÇÃO

ELE TINHA CERTEZA QUE ERA O MAL
PEGOU SUA ARMA E APONTOU PARA ELE
MAS FOI ATINGIDO BEM NO PEITORAL
CAIU NO CHÃO SANGRANDO
NÃO SABIA O QUE TINHA ACONTECIDO
AFINAL

A P A R T IR D E S S E D IA E M D IA N T E
T O D A N O IT E S E T R A N S F O R M A V A
E M U M A F E R A T E R R ÍV E L
S U A S V ÍT IM A S E L E S E M P R E M A T A V A
N O D IA S E G U IN T E P E L A M A N H A
DE NADA ELE LEMBRAVA

O POVO COMENTAVA SOBRE O QUE ELE ERA

SE ERA UMA FERA OU BICHO HOMEM
ELES SÓ SABIAM DE UMA COISA
QUE DEPOIS QUE TODOS DORMEM
NA CALADA DA NOITE APARECIA
O TERRÍVEL LOBISOMEM

EDUARDO OUVINDO ESSA HISTÓRIA

DE FORMA ALGUMA ACREDITAVA
ACHAVA QUE ERA LOROTA DO POVO
ELE NEM OUVIDOS DAVA
POIS ELE ERA UM PROFESSOR ESPERTO
E SOBRE TUDO ESTUDAVA

E L E D IZ IA Q U E P O D IA S E R A L G U M A N IM A L
O U A T É M E S M O U M B A N D ID O
M A S O P O V O L H E R E P U D IA V A
Q U A S E Q U E D O P O V O A D O E L E É B A N ID O
M A S D E U M A C O IS A E L E S A B IA
Q U E D A L I E L E E R A O M A IS S A B ID O

COM TANTA CONVERSA SE ESPALHANDO

UM CAÇADOR VEIO DA CIDADE
O POVO FICOU SURPRESA COM O HOMEM
ELE GANHOU O APREÇO DA MOCIDADE
O HOMEM ERA TODO GRACIOSO
CHEIO DE VAIDADE

QUANDO A NOITE CHEGOU

ELE FOI LOGO PARA O MATO
CAÇAR AQUELE BICHO
FOI ASTUTO IGUAL UM GATO
MAS VOLTOU TODO MOLHADO
PARECENDO UM PATO

O C O IT A D O T IN H A S E M IJ A D O
D E T A N T O M E D O Q U E F IC O U
V IU A C A R A D O B IC H O
E LOGO SE ASSUSTOU
DAQUELE POVOADO
L IG E IR O E L E S E M A N D O U

TODA SEMANA CHEGAVA UM CAÇADOR

E IA EMBORA SE BORRANDO DE MEDO
EDUARDO OBSERVAVA AQUELA LOUCURA
CAÇADOR MEDROSO CONTAVA NO DEDO
CHEGAVA MUITO BAMBAM METIDO
E DEPOIS IA EMBORA ERA CEDO

MAS UM DIA CHEGOU UM HOMEM

ELE ERA TODO MISTERIOSO
ERA UM CAÇADOR JÁ VELHO
ESSE NÃO ERA MEDROSO
JÁ TINHA MATADO TUDO ENQUANTO
JÁ DEU DE CARA ATÉ COM O TINHOSO

SEU NOME ERA JUVENAL DO AMPARO

M A T A D O R M U IT O C O N H E C ID O
V E IO A P É L Á D O R E C IF E
P O R O N D E P A S S A V A E R A T E M ID O
N Ã O T IN H A P E N A D E B IC H O N E N H U M
M A T A V A A T É O S E U G E M ID O

JUVENAL DO AMPARO DISSE LOGO

QUE ALI NÃO TINHA SÓ UM
MAS SIM, DOIS LOBISOMENS
E QUE NINGUÉM IRIA PRA LUGAR NENHUM
TODO MUNDO PASSOU A SER SUSPEITO

OS DIAS SE PASSARAM E NADA ACONTECIA

O POVO COMEÇOU A FICAR ENVERGONHADO
MAS O CAÇADOR JÁ ESPERAVA ISSO
NÃO ESTAVA NEM UM PINGO APRESSADO
MAS O POVO QUE CONTOU A HISTÓRIA
JÁ TAVA TUDO AGONIADO

E D U A R D O T IN H A U M A P A IX Ã O N A C ID A D E
N O M E D E L A E R A M A R IA R IT A
F IL H A D O S E U J O S É E D E D O N A A N A
E S S A A N A C O N H E C ID A C O M O D O N A C A T IT A
A F A M ÍL IA E R A C O N H E C ID A E R E S P E IT A D A
T IN H A M U M A G R A N D E L O J A D E C H IT A

OS DOIS TINHAM UM ROMANCE ESCONDIDO

POIS OS PAIS NÃO APROVAVAM
ELES QUERIAM PARA ELA UM DOUTOR
POIS ASSIM ELES SE DESPREOCUPAVAM
NÃO QUERIAM VER A FILHA PASSANDO FOME
POIS NÃO É ASSIM QUE ELES A EDUCAVAM

CERTO DIA, JÁ BEM TARDE DA NOITE

MARIA RITA SAIU ESCONDIDA
FOI VISITAR EDUARDO
MAS FOI LOGO SURPREENDIDA
COM A APARIÇÃO DE UMA CRIATURA
ELA LOGO FICOU ARREPENDIDA

O B IC H O V E IO C O R R E N D O R Á P ID O
V E IO L O G O E M S U A D IR E Ç Ã O

COM UMA SEDE DE SANGUE

E B R A V O F E IT O O C Ã O
MAS QUANDO CHEGOU PERTO MOÇA
E L E F O I A T IN G IN D O N O C O R A Ç Ã O

ERA UMA BALA DE PRATA

PERFUROU O SEU PEITO
CAINDO MORTO NO CHÃO
FOI UM TIRO PERFEITO
A FERA LOGO FOI REVELADA
QUE ERA O ANTIGO PREFEITO

MARIA RITA FICOU ESPANTADA

FOI PARA CASA CORRENDO
A CRIATURA MORTA NO CHÃO
FICOU LOGO FEDENDO
O POVO FICOU VENDO AQUILO
FICARAM LOGO TEMENDO

O S D IA S S E P A S S A R A M D E P O IS D IS S O
E N A D A M A IS F O I V IS T O N A Q U E L E P O V O A D O

O P O V O E S T A V A M A IS T R A N Q U IL O
M A S O C A Ç A D O R F IC O U D E S C O N F IA D O
OLHAVA PARA EDUARDO QUE ANDAVA
M U IT O D E S P R E O C U P A D O

A CISMA FOI CRESCENDO NO CAÇADOR

QUE COMEÇOU A SEGUIR O MOÇO
SEGUIA ELE DE DIA E DE NOITE
MUITO DISCRETO SEM FAZER ALVOROÇO
OBSERVAVA DE LONGE E ESCONDIDO
NÃO DISPENSAVA NEM A HORA DE ALMOÇO

EDUARDO SAIU NA CALADA DA NOITE

COM MARIA RITA FOI SE ENCONTRAR
FORAM PARA O MEIO DO MATO
PARA EM PAZ ELES PODEREM NAMORAR
MAS ALGO ACONTECEU ALI
EDUARDO COMEÇOU LOGO A GRITAR

E L E S E C O N T O R C IA M U IT O
SEUS OSSOS ESTRALAVAM
SUA BOCA FOI CRESCENDO
E PRESAS ENORMES BROTAVAM

J Á T IN H A U M F O C IN H O E O R E L H A S G R A N D E S
PELOS PELO SEU CORPO SE ESPALHAVAM

LOGO EDUARDO SE TRANSFORMOU

NA CRIATURA QUE ELE TANTO
DESACREDITAVA
ERA ELE O OUTRO LOBISOMEM
O ÚLTIMO QUE AINDA FALTAVA
ELE ERA A FERA MAIS PERIGOSA
QUE A TODOS ASSUSTAVA

 MARIA RITA FICOU COM MEDO

CORREU DALI ASSUSTADA
O BICHO FOI LOGO ATRAS DELA
DEIXANDO-A AINDA MAIS AGONIADA
MAS QUANDO VIU A FIGURA DO CAÇADOR
A MOÇA FICOU MAIS ALIVIADA

O C A Ç A D O R F IC O U F R E N T E A F R E N T E C O M O B IC H O
A P O N T O U SU A A R M A , M A S F O I IM P E D ID O
O B IC H O LH E A C E R T O U N O P E IT O
E LE C A IU T O N T O E P E R D ID O
F IC O U SE A R R A ST A N D O N O C H Ã O

A C H A V A Q U E N Ã O T IN H A C O N SE G U ID O

MAS AVISTOU SUA ESPINGARDA

ESTAVA JOGADA DO OUTRO LADO
TATEOU, MAS O BICHO LHE ATINGIU
FOI JOGADO IGUAL UM DADO
CAIU RODOPIANDO NO CHÃO
FICOU ALI MESMO, ESTAGNADO

 A MOÇA QUE ESTAVA ESCONDIDA

APROVEITOU A SITUAÇÃO
PEGOU A ARMA DO CAÇADOR
E COM MUITA DOR NO CORAÇÃO
DEU UM TIRO NA FERA
QUE LOGO TEVE UMA REAÇÃO

O B IC H O S E V IR O U P A R A E L A C O M M U IT A F Ú R IA
R O S N O U B R A V O E B E M A L T O U IV O U
MAS NESSA MESMA HORA
O CAÇADOR EM SUAS COSTAS PULOU

E C O M U M P O U C O D E L U T A E D IF IC U L D A D E
O CORAÇÃO DA FERA ELE PERFUROU

O CAÇADOR FOI JOGANDO LONGE

O LOBISOMEM BALANCEOU E CAIU
A MOÇA DESESPERADA COM TUDO
DALI CORRENDO SAIU
E UM ÚLTIMO UIVO DA FERA
TODO MUNDO OUVIU

A MANHÃ LOGO CHEGOU NO POVOADO

E TODO MUNDO FICOU SABENDO
O CAÇADOR FOI LEVADO PARA O HOSPITAL
ESTAVA QUASE MORRENDO
ELE LOGO ACORDOU
E DALI FOI EMBORA CORRENDO

E L E J Á S E N T IA N O S E U C O R P O
A GRANDE MUDANÇA
P O IS F O I F E R ID O P E L A F E R A
E F IC O U L O G O S E M E S P E R A N Ç A
E L E D E C ID IU E N T Ã O
S A IR L O G O D E S S A D A N Ç A

FOI ATÉ A MATA A NOITE

ALI TENTOU SE MATAR
MAS FICOU ASSUSTADO
POIS OUVIU ALGUÉM LHE FALAR
SE ASSUSTOU COM UMA MOÇA
QUE VINHA BEM DEVAGAR

QUANDO ELA CHEGOU MAIS PERTO

O CAÇADOR LOGO A CONHECEU
ERA MARIA RITA A NAMORADA
DO PROFESSOR QUE MORREU
ELA OLHOU PARA ELE
E ENTÃO ELE ESTREMECEU

A MOÇA NA LUZ DA LUA

E M L O B IS O M E M S E T R A N S F O R M O U
D E IX O U O C A Ç A D O R F U R IO S O
MAS ELA LOGO O MATOU

ARRANCANDO-LHE O CORAÇÃO
E BEM LONGE O JOGOU

DIZEM QUE ESSA HISTÓRIA É INVENÇÃO

OUTROS FALAM QUE É VERDADE
MAS UMA COISA EU SEI
E DIGO COM SERIEDADE
QUE EU NÃO ANDO PERAMBULANDO
A NOITE NESSA CIDADE