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JOSÉ DE ANCHIETA

TEATRO

Seleção, introd uçã o , notas e tradução do tupi


EDUARDO D E AL MEIDA NAVARRO

Martins Fontes
São Paulo 20 0 6
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Jos é de Anchieta 0534-1597)


ÍNDICE

Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . IX
Cronologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . XVII
Nota SOb7"e a presente edição . . . . . . . , . . . . . XXIII

TEATRO

Auto de São Lourenço . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 3


Na aldeia de Guaraparim 127

Notas 193
INTRODUÇÃO

o TEATRO DE ANCHIETA

José de Anchieta, embora tendo nascido em 153 4


em Tenerife , nas Ilhas Canárias, em território perten-
cente à Espanha, matriculou-se em 1548 , aos catorze
anos de idade, no recém-fundado Colégio das Artes,
em Coimbra , Portugal. Em 1551 ingressou na Com-
panhia de Jesus e em 1553 veio para o Brasil.
Os cinco anos durante os quais Anchieta viveu em
Coimbra foram, certamente, marcantes para a futura
gestação de seus autos teatrais. Com efeito, naqueles
anos , eram muito populares os autos de Gil Vicente ,
que se representavam freqüentemente nessa tradicio-
nal cidade universitária e noutras cidades portugue-
sas. A obra teatral de Anchieta revela forte influência
de mestre Gil, seja no conteúdo, seja na forma , princi-
palmente pelo uso freqüente das alegorias. Por outro
lado, é preciso lembrar também que o próprio Inácio
de Loyola , em seus Exercicios espirituais, fundamento
da es p iritu a lid ade jesuítica , enfatizava o papel edu -
ca tiv o cio te a tro e re romendava sua p rática .
Ch e ga nd o ao Brasil e m 1553, Anchieta to rna con-
tato co m a cu ltur a indígen a , forte mente ma rcad a p ela

IX
músi ca , pela dança, pelo canto, pelos ritos religi osos .
Anchieta saberá tocar as notas mais profundas da alma
indígena, desenvolvendo um teatro voltado para os
primitivos habitantes do Brasil.
Sua primeira peça foi representada, provavelmen-
te, no Natal de 1561: foi o Auto da Pregação Universal,
que recebeu esse nome pelo fato de estar escrito nas
três línguas mais faladas 'na América portuguesa - o
português , a língua brasílica (em suas variantes tupi
e tupinambá ) e o castelhano.
Em 1577 foi representado em São Vicente aquele
que seria um esboço preliminar do Auto de Santa Úr-
sula. Sendo nomeado superior dos jesuítas do Brasil
em 1578, Anchieta passa a percorrer toda a costa bra-
sileira, a visitar casas religiosas, a fundar aldeias ou a
reorganizá-las. Por essa época acontece a fundação
de Reritiba, de Guaraparim, da aldeia dos Reis Magos
e de outras. Alguns autos importantes estão ligados a
esse período, como, por exemplo, o auto Na aldeia de
Guaraparirn - todo ele na língua brasílica.
Contudo, a fase mais importante da atividade dra-
mática de Anchieta corresponde à fase final de sua
vida, após sua saída do cargo de provincial, época essa
passada principalmente na capitania do Espírito San-
to. Com efeito, dos doze autos anchietanos que che-
garam às nossas mãos, oito foram escritos no Espíri-
to Santo.

AUTO DE SÃO LOURENÇO

o Auto de São Lourenço é um dos mais con heci-


dos de Anchieta, tendo recebido, inclusive, uma ada p-

x
tação do poeta Guilherme de Almeida. Foi represen-
tado pela primeira vez no adro da capela de São Lou-
renço, no primitivo núcleo da atual cidade de Niterói.
Isso ocorreu, segundo Cardoso (977), em 10 de agos-
to de 1587, quando Anchieta visitava a localidade na
qualidade de provincial.
A peça apresenta cinco atos. No primeiro deles
vemos o martírio de São Lourenço, morto no tempo
de Valeriano, censor do imperador romano Décio, por
volta do ano 258 d.e. São Lourenço era diácono do
papa Xisto n. Atado a correntes de ferro, ele foi açoi-
tado, esfolado e posto sobre grelhas em cima de um
braseiro.
No 2º ato vemos três diabos que querem destruir
a aldeia com suas maldades. Resistem a eles três perso-
nagens: São Lourenço, São Sebastião e o Anjo da Guar-
da, livrando a aldeia. Os diabos desse auto anchietano
tinham os mesmos nomes de antigos chefes tamoios
que lutaram na baía da Guanabara, mortos durante a
guerra contra os franceses, como aliados que eram
destes. Seus nomes eram, com efeito, Guaixará, Aim-
bírê, Sarauaia etc. Guaixará era um índio de Cabo Frio
derrotado por Araribóia e pelos soldados de Mem de
Sá em 1567. Aimbirê, por sua vez, era um índio de
Iperoig que tentou matar Anchieta quando este lá es-
teve como refém em 1563. Finalmente, Sarauaia era,
talvez, um espião dos franceses que traiu os índios
aliados dos portugueses.
No Auto de São Lourenço, esses três demônios são
acompanhados por outros parecidos, todos com no-
mes de chefes tamoios vencidos pelos portugueses:
Tataurana, Urubu, ]aguaruçu, Caburé.
O fato de São Sebastião ser incluído como perso-
nagem do auto explica-se por ele ser o patrono da re-

XI
cém-fundada cidade do Rio de Janeiro . Havia efetiva-
mente grande devoção a esse sa nto no início da Idade
Moderna, na fase do chamado "cato licismo guerreiro
cruzadista" do início da colonização da América es-
panhola e da portuguesa, quando a expansão colonial
era considerada um ato de acrescentamento da fé. São
Sebastião, um santo guerreiro morto a flechadas no
tempo do imperador romano Diocleciano (cerca de
286 d.C.), bem simbolizava aquele momento históri-
co , em que a guerra contra os franceses , na década de
sessenta do século XVI, apresentava-se como uma ver-
dadeira guerra santa.
O 2º ato é rico de detalhes a respeito da cultura
dos primitivos indígenas da costa brasileira. Nele ve-
mo s Guaixará ser recebido por uma velha índia que
o pranteia em sua chegada, prática conhecida como
saudação lacrimosa.
No 3º ato, após a derrota dos demônios e de seu
aprisionamento pelo Anjo, vemos os imperadores ro-
manos Décio e Valeriano sendo tortu rados no fogo
eterno, eles que haviam submetido São Lourenço à
morte num braseiro. Vemos aí um anjo a convidar os
diabos, a quem havia perseguido antes, a torturar os im-
peradores romanos. Assim , os santos servem-se dos
demônios como carrascos dos tiranos romanos.
É interessante observar que os imperadores fa-
lam castelhano. O uso do castelhano no auto será bem
compreensível, se lembrarmos a situação de bilingüis-
mo existente em Portugal no século XVI e a existência
de grande número de colonos de 'origem espanhola no
Brasil quinhentista.
Outra informação significativa do ponto de vista
lingüístico é o uso do guarani no auto , no trech o em

XII
que Valeri ano diz "xe akai" e o diabo Aimbirê per-
gunta- lhe se ele veio do Paragu ai, pois falava carijó,
i.e., guaran i. Além disso, Anchi eta lança mão em seus
autos das duas varian tes dialeta is mais usadas no Bra-
sil quinhe ntista, o tupi e o tupina mbá, o que enriqu e-
ce sobrem aneira sua obra lingüís tica, iniciad a com a
redaçã o de sua gramá tica da língua brasílica (essa gra-
mática foi public ada somen te em 1595 com o título
de Arte de gramá tica da língua mais usada na costa
do Brasil ),
Vemos ainda no 3º ato muita s referê ncias a práti-
cas cultur ais dos antigo s índios da costa, tais como a
antrop ofagia e a mudan ça de nome ao matar- se um
inimigo.
No 4º ato, vem o anjo acomp anhad o de duas per-
sonag ens alegór icas: o Temo r de Deus e o Amor de
Deus. Cada uma delas faz um sermã o em que busca
aprese ntar uma reflexã o sobre a vida human a e seu
destin o último e os frutos que traz para a alma do ho-
mem o seguim ento de Cristo .
Finalm ente, vemos no 5º ato uma dança de doze
menin os em louvor a São Louren ço. Essa dança fazia
parte de uma procis são de entron ização da image m do
santo na igreja, ou talvez fosse uma cerimônia levada a
efeito após a repres entaçã o do martír io. Obser vemos
aí o largo empre go da dança e da músic a no teatro an-
chieta no, presen te pratic ament e em todos os autos.

NA ALDEIA DE GUARAPARIM

Esse é o título dado pela tradut ora Maria de Lour-


des de Paula Martins ao mais longo auto de Anchi eta
escrito exclus ivame nte na língua brasílica .

XIII
Foi representado, pel a primei ra vez , na ald ei a d e
Guaraparim, no Espírito Santo, talvez no ano de 1585 .
Nele vemos alguns diabos que planejam domi-
nar a aldeia de Guaraparim, cada um a contar suas
façanhas e maldades . Nesse ínterim, pousa no meio
dos diabos a alma de um índio recém-falecido, Pirata-
raca, que os diabos tentam conduzir para o seu cami-
nho. A alma contesta as ~cusações dos diabos acerca
de sua vida passada, invocando a mãe de Deus. Final-
mente, o a njo o salva e expulsa os demônios , defen-
dendo a ald e ia. I

Compõe-se de dois atos não divididos formal-


mente.
O 1g ato representa-se no adro da igreja e aí apa-
recem os demônios a discursarem. Seus nomes são
muito sugestivos: Tatapitera (chupa-fogo), Caumondá
(ladrão de cauim), Morupiaruera (antigo adversário da
gente). Vemos, aí, um d iabo a lastimar-se dos novos
ensinamentos trazidos pelos padres para a aldeia, que
ameaçavam a su a lei maligna. Chama seus companhei-
ros já mencionados e combinam o que farão para des-
truir a aldeia .
Vemos nesse auto um forte ataque aos elementos
culturais dos primitivos índios brasileiros, tais como
a antropofagia, o uso do cauim e do fumo , a poliga-
mia etc.
No 29 ato, a descida da alma de Pirataraca evoca
o Auto da alma de Gil Vice n te , em que os demônios
queriam le var a alm a de um tolo para a barca do in-
fern o . Os di abos tentam persuadir a alma de Pirata-
raca , d izendo que ela estaria condenada e desfiando
os muitos males que já teria cometido. Pirataraca de-
fende-se de toda maneira , evoca ndo os se us nomes

XIV
de batismo e de crisma, nomes esses bastante conhe-
cidos: Francisco Pereira, primeiro donatário da Bahia,
e Vasco Fernandes Coutinho, donatário do Espírito
Santo. A alma também argumenta que teria recebido
o perdão de Deus pelo arrependimento e pela con-
fissão. Ficando os diabos renitentes em seu propósi-
to de levar a alma consigo, esta grita por Nossa Se-
nhora e pelo Anjo da Guarda. Este vem em seu socor-
ro, fazendo os diabos fugirem. Finalmente, o Anjo faz
uma pregação aos índios.

EDUARDO DE ALMEIDA NAVARRO

BIBLIOGRAFIA

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tóricos e sermões 0554-1594). Rio de Janeiro, Ci-
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xv
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Valle, L. do, Vocabulário da língua brasílica. São Pau-
lo, F.F.C.L. da Universidade de São Paulo, 1952
(revista por Carlos Drummond).

XVI
CRONOLOGIA

1479. Os espanhóis dominam as Ilhas Canárias, si-


tuadas perto da costa da África, submetendo seus
primitivos habitantes.
1522. O pai de José de Anchieta, juan de Anchieta,
abandona a Espanha e vem para a ilha de Tenerife,
nas Ilhas Canárias.
1531. juan de Anchieta casa-se com Dona Meneia de
Clavijo y Liarena , uma viúva descendente de ju-
deus convertidos ao Catolicismo.
1534. Nasce José de Anchieta, no dia 19 de março. É
batizado no dia 7 de abril.
1547. José, então com 14 anos, é mandado com um
meio-irmão para Coimbra, Portugal, para estudar no
Colégio das Artes , escola renascentista criada na-
quele mesmo ano . ,I
1550. Prisão de professores de Anchieta, acusados
de luteranismo.
1551. Anchieta ingressa na recém-fundada Compa-
nhia de Jesus, a última ordem religiosa da Igreja.
1552. Manifesta-se a d o e nça óssea que acompanha-
ra Anchie ta por to d a a vida .
1553. Cheg ada ao Brasil, na esquadr a de Dua rte da

XVII
Costa. Anchieta aparta na vila de São Vicente , no
atu al estado de São Paulo, na véspera do Nat al.
1554. Assiste à fundaçã o de São Paulo de Piratinin-
ga , com a celebração de uma missa no dia 25 de
janeiro, dia da conversão de São Paulo.
1555. Franceses calvinistas invadem a Baía da Guana-
bara, querendo ali instalar uma colônia.
1560. Os franceses são expulsos por Mem de Sá, ter-
ceiro governador-geral do Brasil.
Expulsos da Guanabara, os franceses instigam os
índios tamoios contra os portugueses. Os tamoios
criam uma liga destinada a acabar com a presença
portuguesa no sudeste do Brasil, a Confederação
dos Tamoios.
1561. É escrito o Auto da Pregação Universal, pri-
meira peça teatral feita no Brasil e início do teatro
brasileiro.
1562. A vila de São Paulo é atacada em 9 de julho
por milhares de índios inimigos, que queriam des-
truí-la. A vila resiste ao ataque.
1563. Anchieta e Nóbrega vão para Iperoig, concen-
tração de tamoios , para propor negociações com
os portugueses e se oferecem como reféns enquan-
to não se chegasse a um tratado de paz.
Anchieta, com grande risco de vida , permanece
sete meses como refém dos tamoios e em Iperoig
esboça, sem tinta nem papel, o poema Da Bem
Aventurada Virgem Maria, com quase 5.800 ve rsos.
Anchieta decora-os todos para, em outra época ,
escrevê-los.
1563. É publicada em Coimbra, anonimamente , a obra
De Gestis Mendi de Saa, de autoria de Anchieta. É a
primeira obra publicada da literatura brasileira , ain-
da que escrita em latim .

XVIII
1564. Os franceses retornam à Baía da Guanabara.
1565. Estácio de Sá, sobrinho de Mem de Sá, entra
na Baía da Guanahara e funda a cidade de São Se-
bastião do Rio de Janeiro. A guerra com os france-
ses e os tamoios dura o ano todo. Anchieta e Nó-
brega levam reforços de São Vicente para a Baía
da Guanabara. Anchieta serve como enfermeiro na
guerra.
Nóbrega manda-o para a Bahia para levar informa-
ções sobre a guerra ao governador-geral Mem de Sá.
Chegando à Bahia, Anchieta estuda Teologia para
poder ser ordenado sacerdote.
1567. Em Salvador, Anchieta é ordenado sacerdote
pelo segundo bispo do Brasil, D. Pedro Leitão. Re-
toma para o sul, onde assiste à segunda fundação
do Rio de Janeiro e do colégio dos jesuítas na ci-
dade recém-fundada. Volta para São Vicente, onde
ficará mais alguns anos.
1578. Anchieta é nomeado provincial da Companhia
de Jesus no Brasil, o mais alto cargo daquela or-
dem religiosa no país.
Dotado de espírito profético, Anchieta prevê a mor-
te do rei D. Sebastião na batalha de Alcácer Quibir,
na África, no mesmo dia em que aconteceu (4 de
agosto).
1584. Anchieta escreve a Informação do Brasil e de
suas Capitanias, o mais importante documento his-
tórico de sua autoria.
1587. É representado na Capela de São Lourenço,
hoje Niterói, o Auto de São Lourenço, sua mais fa-
mosa peça teatral.
1594. Já fraco e abatido, Anchieta recolhe-se à Capi-
tania do Espírito Santo, na localidade de Rerityba,
que hoje leva seu nome.

XIX
1595. É publicada em Coimbra, Portugal, a Arte de
Gramática da Língua mais Usada na Costa do
Brasil, primeira gramática de uma língua indígena
brasileira, obra de grande valor lingü ístico e mui-
to original para a sua época.
1596. Anchieta ausenta-se durante alguns meses da
aldeia de Rerityb a , indo para Vitória, a pedido de
seu superior.
1597. Falece em Rerityba , no atual estado do Espíri-
to Santo, em 9 de junho. Seu corpo foi levado por
um cortejo de três mil índios , por cem quilômetros,
até Vitória, onde foi sepultado no Colégio dos Je-
suítas, hoje o Palácio do Governo.
1609. Seu túmulo é aberto e seus ossos são dividi-
dos e levados para diferentes lugares, inclusive para
Roma.
1619-1622. São abertos os processos informativos
de Olinda, Bahia, São Paulo e Rio de Janeiro, que
visavam a apurar a santidade de Anchieta com vis-
tas a sua canonização.
1624. Filipe IV, rei da Espanha e de Portugal , pede
ao Papa a canonização de Anchieta .
1626-1629. Instauram-se os processos apostólicos em
Évora, Lisboa, Rio de Janeiro, 'São Paulo e Olinda.
1650. É publicado pela primeira vez o Poema da Vir-
gem, em Portugal.
1736. O Papa Clemente XII reconhece, em decreto,
as "virtudes heróicas" d e Anchieta , declarando-o
"venerável".
1877. A princesa Isabel , em nome de D. Pedro II, pede
ao Papa a cano nização d e Anchieta .
1897. No ter ceiro ce nte ná rio de sua morte , o correm
im portantes co nfe rências dos maiores nomes da cul-

xx
tura brasileira. Todos os bispos brasileiros pedem
por sua canonização.
1934. No quarto centenário do nascimento de An-
chieta 09 de março), muitas comemorações suce-
dem-se por todo o Brasil.
1963. Em nome dos três poderes da República, o se-
nador Danton Jobim entrega ao Papa Paulo VI um
pedido de beatificação de Anchieta.
1965. O presidente Castelo Branco institui o Dia de
Anchieta, a ser comemorado em todo o país na
data de 9 de junho de cada ano.
1980. No dia 22 de junho, em cerimônia solene na
Basílica de São Pedro, Roma, Anchieta é beatificado
pelo Papa João Paulo lI.
1986. O Ministério d a Educação e Cultura institui a
Comissão Preparatória das Comemorações do Quar-
to Centenário de Anchieta, ocorrido em 199 7.

,I

XXI
NOTA SOBRE A PRESENTE EDIÇÃO

O estabelecimento dos textos dos dois autos tea-


trais de Anchieta apresentados nesta edição foi feito
a partir do caderno de poesias de Anchieta guarda-
do nos Arquivos da Companhia de Jesus, em Roma, do
qual há uma fotocópia no Departamento de Letras
Clássicas e Vernáculas da Universidade de São Paulo.
Também nos valemos da edição comemorativa do
IV centenário da cidade de São Paulo, de 1954, sob a
responsabilidade da professora Maria de Lourdes de
Paula Martins e publicada pelo Museu Paulista, de cuja
reprodução diplomática dos autos de Anchieta nos
servimos.
Foram corrigidos erros da edição de 1954, acima
mencionada. Ademais, atualizou-se a ortografia, utili-
zando-se hífens para se separarem os morfemas, com
o que a compreensão do texto tupi fica facilitada àque-
le que empreender sua leitura. Utilizou-se também o
acento circunflexo para se grafarem as semivogais:
i (= j), (= w). Procuramos, outrossim, aproximar a
ú

ortografia dos textos daquela que utilizamos em nosso


Dicionário do tupi antigo-português, que corrigiu inú-
meras imprecisões da grafia original.

XXIII
TEA TRO

,I
I
I
AUTO DE SAO LOURENÇO
PATO

Enquanto se representa o martírio de São Lourenço,


cantam:

1. Por Jesus, m i salvador,


que muere por mis maneillas,
me asa en estas parrillas,
eon fuego de su amor.

5. Buen Jesus, eu ando te veo


en la cruz, por mí llagado,
yo, por ti vivo quemado,
mil veees morir deseo.

9. Pues tu sangre redentor


lavá todas mis maneillas;
ard a yo en estas parrillas,
eon fuego de tu amor.

4
12 ATO

Enqua nto se representa o martír io de São Lourenço,


cantam :

1. Por Jesus, meu salvad or,


que morre por minha s mácula s,
asso-m e nestas grelha s,
com fogo de seu amor.

5. Bom Jesus, quand o te vejo


na cruz, por mim chaga do,
eu, por ti, vivo queim ado,
mil vezes morre r desejo .

9. Pois que teu sangu e redent or


lavou toda1 as minha s máculas,
arda eu nestas grelha s,
com fogo de teu amor.

5
13 . El fuego dei fue rte a mo r
.o h mi Dios!, co n q ue me amas,
más me q ue ma qu e las llamas
y brasas , con su cal or.

17. Pues tu amor, por mi amor,


hizo tantas maravi llas,
mue~a yo en estas parrill as ,
por el tuyo, mi Sefior,

2ºATO

No 2 fl ato entram três diabos, que quere m destruir a


aldeia com pecado s, aos quais resistem São Lourenço e São
Sebastião e o A njo da Guard a, livran do a aldeia e pren-
dendo os diabos, cujos nomes são Guaix ará, que é o rei;
A irnbir ê e Sarau aia, seus criados.

Güa ixará. 21. - Xe moaíu-rnaran gatu ,


xe rnoyr õ-et é-katü -abo,
aipó t-ekó -pysas u .
Ab á serã o-g ü-eru ,
xe r-etarna morno xy-abo?

26 . Xe anhõ
kó taba pupé a-ik ó,
s-erek ó-ar-arno üí-t-e kó bo ,
xe r-ekó r-upi i moing óbo.
KGé suí a-só mamõ ,
arn õ taba r-apek óbo.

6
13. O fogo do forte amo r,
á m eu D eu sl, com qu e me amas ,
ma is m e que ima que as chamas
e b rasas, co m seu ca lor.

17. Pois que teu amor, por meu amor,


fez tantas maravilhas,
morra eu nestas grelhas,
pelo teu, meu Senhor.

No 2 f1 ato entram três diabos, que querem destruir a


aldeia com pecados, aos quais resistem São Lourenço e São
Sebastião e o Anjo da Guarda, livrando a aldeia e pren-
dendo os diabos, cujos nomes são Guaixará, que é o rei;
Airnbirê e Sarauaia, seus criados.

Guaixará: 21. - Importuna-me bem ',


irritando-me muitíssimo ,
aquela lei nova .
Quem será que a trouxe,
estragando minha terra?

26. Eu somente
nessa aldeia morava ,
estando como seu guardião,
fazendo-a estar segundo minha lei.
Dali ia para longe,
outras aldeias freqüentando .

7
320 Abá serã xe iabé?
Ixé s-erobiar-y-pyra,
xe anhang-usu-rnixyra,
Gúaixarâ s-er-y-ba'e,
kúepe i moerapüan-y-mbyra.

37. Xe r-ekó i porang-eté;


n'a-i-potar-i abá s-eityka,
. n'a-i-potar-i abá i mombyka .
A-T-potá'-katu-tenhê
opabi taba mondyka .

420Mba 'e-eté ka'u-güasu,


kaúi moieby'<iebyra .
Aip ó s-a úsu'<katu-pyra ,
aipó anbê. Ia-mombe'u
aipó i mornorang-y-mbyra.

47. Sverapúan kó mosakara,


i kaüi-g üasu-ba'e.
KaUT mboapçar-eté ,
a'e marã monhang-ara ,
marana potá mernê.

52. Moraseia é i katu,


ie-güaka , ie-mopyranga ,
s-a'-mongy, ierymã-güanga ,
ie-mo úna, peryrnb-u ,
karaí'-monhã-monhanga. o'

8
32 . Quem será que é como eu?
Eu, aquele em que se deve
[acreditar,
eu , o diabão assado,
o que tem nome Guaixará,
o que é afamado por aí.

37 . Minha lei é muito bela;


não quero que os homens a lancem
[fora ,
não quero que os homens a façam
[cessar.
Quero muitíssimo
todas as aldeias destruir.

42. Coisa muito boa é uma grande


[bebedeira 2 ,
ficar vomitando cauim.
Isso é que deve ser bem amado,
isso realmente! Afirmamos
que isso é que deve ser festejado .

47. São famosos esses moçacaras',


que são uns beberrões.
O que esgota verdadeiramente o
[cauim,
esse é o fazedor de mal,
querendo guerra sempre.
I
I

52. A dança é que é boa,


enfeitar-se, pintar-se de vermelho,
untar as penas, ting ir-se com urucu
[as pernas ,
pintar-se de preto, fumar,
ficar fazendo feitiços' ...

9
57 . Íe -m oyr õ, mor-ap iti,
IO-'u , tapuia r-ara .
agúasá , moro- potara,
manha na, syg üar aiy
- n'a-i-p otar-i abá s-elara .

62. Anga ri,


a-io-su b abá koty,
"tal xe r-erobiar" úi-T-abo.
O-u tenhê xe pe'abo
"abaré " 'i-aba, kori,
Tup ã r-ekó mornb egü-ab o.

68 .0-iko bé
xe pytybõ -an-am -eté,
xe pyr-i maràte kó-ara ,
xe irü-na mo o-kai- ba'e:
t-ubixá '-katu Aimbi r é,
apyab a rnoang aipap- ara .

Senta-se numa cadeira e vem uma velha a chorá-lo,


e ele ajuda-a, como fazem os índios, e ela, depois de o cho-
rar, achan do-se engan ada, diz:

74. - lu, anhan ga p'ikó ri!


Xe moaiu -te i nema mà!
Xe rnend- üera ipó re 'I
- Piraka 'ê-arny ril -
a- 'é kó i xupé biã,

10
57. Enraivecer-se, trucidar gente,
comer um ao outro, prender
[tapuias>,
a mancebia, o desejo sensual,
a alcovitice, a prostituição
- não quero que ninguém os deixe.

62. Por causa disso,


visito os aposentos dos índios,
dizendo: - "que acreditem em mim".
Vêm em vão para me afastar
os ditos "padres", hoje,
proclamando a lei de Deus.

68. Existe
o que será meu verdadeiro auxiliar,
o que trabalha junto de mim,
o que arde comigo:
o chefão Aimbirê,
o pervertedor dos índios.

Senta-se numa cadeira e vem uma velha a cborâ-kr,


e ele ajuda-a, como jazem os índios, e ela, depois de o cho-
rar, achando-se enganada, diz:

74. - Ó, será que isto é o diabo?


Ah, mas como me importuna o
[fedor dele!
Meu ex-marido há de ser
[certamente
- finado Piracaém! -
eis que diria a ele'.

11
Fala com ele:

79. - Nde poxy, OI! Nd'ere-tu-i xó


kori xe r-emi-ndu'u-nel
Xe nhõ a-tu-pakatu-ne.
Küeisebé, n'akó a-irumõ...
T'a-só-ne, güyl T'a-ka'u-nel

efoge.

Chama Guaixará a Airnbirê e diz:

84. - To! Marnõ-pe ahê r-ekó-ú?


Ere-ké-p'ipó e-lupa?
Afmbiré: - Erimã é. Taba supa,
ybytyr-y-pe xe só-ü,
iandé boiá r-erosupa.

89. S-ory-katu xe r-epiaka,


xe aiuban, xe mombytábo,
ko'arapukui o-kagü-abo,
o-poraseia, o-iegüaka,
Tupã r-ekó mornburú-abo.

94. Té, xe r-esernõ t-oryba,


s-ekó-poxy r-epiak-á-pe.
Xe apysy'-katu s-ekó-á'-pe.
Opabi t-ekó-aíba
mondeb-i-katu o py'a-pe.

12
Fala com ele:

79. - Tu és mau! Não beberás


hoje o que eu mastigo!"
Eu somente beberei tudo.
Eis que o ajunto há dias...
Ó , hei de ir! Vou beber cauim!

efoge.

Chama Guaixará a Aimbirê e diz:


84. - Eh! Onde ele está?
Estavas realmente dormindo?
Aimbirê. - De modo algum. Para visitar
[aldeias
à serra? eu fui,
para encontrar-me com nossos
[súditos .

89. Estavam muito felizes ao ver-me,


abraçaram-me , fazendo-me ficar,
o dia todo bebendo cauim,
dançando, enfeitando-se,
desafiando a le i de Deus.

94. Ah, sobra-me alegria


ao ver sua vida ruim.
Eu fiquei muito satisfeito na morada
,I [deles.
Todos os vícios
colocaram bem em seus corações.

13
Güaixará: 99 . - Nd'a'e-i te'e,
nde r-atã-ngatu r-e sé
üi-ie -ko ka , úi-ie ro biá .
IOri, e-s-enõi angá,
küeíbo nde r-emí-moa üié.
Abâ-pe ere-moangaipá?

Afrnbiré: 105. - Marataüã-me t-ek ó-ara


I ~
o-gu-ero biâ
la xe n h e 'enga,
opá 'y-pa' ü-rne -nd üa ra,
opá Paraíb-ygúara
xe pó-pe o 'anga me'enga.

110. Küeísê, r'akó, amõ kanhem-i,


o-güeíypa Magüeá-pe.
Abaré o-gü erasó-á'-pe,
n'a-s-aúsub-í, i nhegúasem- í,
tupi supa xe r-ekó-á'-pe.

115. A'e ré,


o-pytâ-ba'e r-esé
abaré r-ekó-a'ub-i,
iké s-eru-potá-nhê.
ErI, aani! A-morambGé;
opá xe nhe'eng-endub-i.

Güaixarâ. 121. - Mosanga-pe ere-i-puru


t-ur-e'ym-a-úama ri?
Afmbiré: - Tapuipé-güaibí a-ru
arnô MagGeá suí.. .
A'e-reme a-putu'u ...

14
Guaixará· 99. - Por isso mesmo
em tua grande força
apóio-me. confio.
Vem, nomeia, oh, sim,
os que tu venceste por aí.
Quem fizeste pecar?

Airnbirê: 105. - Os que moram em Maratauá'?


acreditam em minhas palavras,
todos os que estão na ilha 11,
todos os habitantes do Paraíba"
em minhas mãos entregando suas
[almas.

110. Ontem, é certo, alguns sumiram,


descendo para Magueá 13.
Por os levarem os padres,
não os amo, fugiram,
visitando os tupis" na minha morada.

115. Depois disso,


com os que ficam
os padres estão, sem resultado,
querendo trazê-los aqui".
Ah, não! Frustrei-os;
ouviram-me as palavras todas.

Guaixarâ. 121. - Usaste feitiço


para que não viessem?
Aimbirê. - Trouxe escravas tapuias velhas"
de além de Magueá ...
Então fiquei descansado... 17

15
126. A'e, r'ak ó, i angaip â,
o-ie-mopaié-paiébo,
apyaba mbo'e-mbo'ebo
Tupana r-ekó r-ei á,
xe nhõ xe momba'etébo.

131. Tapuipe-poxy mborypa,


t-u-potar-e'ym-i iké;
o-porasei pysaré,
o-ie-mopaié-angaípa,
t-at á-pe o só ianondé .

Gúaixarâ: 136. - ErI, aüié .


Xe rnoory-katu iepé ,
inã t-ekó mombegü-abo .
Aimbiré. - A-iepyk anhê s-esé ,
i anama katu riré ,
xe r-embiar-amo i pe'abo ...

142. Ma'ê-ne, Tupinambá ,


Parag úasu-pe-ndar-úera,
i Tupã o -sy'<ba'e-püera
opakatu ia-rnombá .
N'i tyb-et é-i s-ernbyr-úera ...

147. Ía- tu-pá Mosupyroka,


Íekei, Gúatapytyba,
Nheterõia, Paraíba,
Gúaiaió , Karii ó-oka,
Pakukaia, Arasatyba .

16
126. Elas, de fato, são más,
ficando a fazer pajelança,
ficando a ensinar os homens
a deixar a lei de Deus,
a honrar somente a mim.

131. Tendo gozo com as escravas tapuias",


não quiseram vir aqui;
dançaram a noite toda,
fazendo feitiçarias,
antes de irem para o fogo.

Guaixará: 136. - Bem, basta.


Tu me alegras muito,
assim os fatos narrando.
Airnbirê: - Vingo-me deles, na verdade,
após tornar-se boa sua nação",
como minhas presas afastando-os ...

142. Olha, os tupinambás


que estavam no Paraguaçu,
que esfregavam seu Deus",
todos arrasamos
não há muitos restos deles...

147. Comemos toda a Moçupiroca,


]equeí, Guatapitiba,
Niterói, Paraíba,
Guajajó, Carioca,
Pacucaia, Araçatiba".

17
152. Opá urn ã tarnüia s ó-ü,
o-kaia t-ará-p e o-upa.
Mokon hõ , Tupã r-a úsupa ,
kó taba pupé s-ek ó-ü,
o-ie-py syrõm o o-kup a.

157. Kó terním ínó-po xy


iandê r-ekó o-gú-e royrõ...
Güaix arâ. - E-iori s-a'ang a, rã,
t'o-tup ã-nhe' eng-ab y,
t'o-ka' u, t'o-rno ndarõ,

162 . t'o-por -epenh an o-ikób o,


t'o-i-p uru t-ekó- poxy,
t'o-só kó taba suí.
E-í'ori muru moing óbo
Iandé nhe'en ga r-upi.

Aimbi ré. 167. - I abaí xebo s-a'ang a;


s-erek ó-ara i abaeté , xe mondy ia.
Güaix arâ. - Abá-p' a'e?
Aimbir é: - Louren ço Santo- porang a ,
Tupã pyr-i o-ikó- ba'e.

Güatx arâ. 172. - Umã? Akó Rorê-k a'ê,


iandé r-apixá -mixyr a?
Aimbi ré. - A'e kó.
Güaix ará. - Nde putuê. Na s-atã-n gatu-i
[maíra!
Kori bé t'i mokan hê ...

18
152. Já todos os tamoios" foram,
estando a queimar no fogo .
Poucos, ama ndo a Deus,
nesta aldei a moram,
estando a salvar-se.

157. Esses temiminós malvados


nossa lei detestam...
Guaixará. - Vem para prová-los, pois,
para que transgridam a palavra
[de Deus,
para que bebam cauim, para que
[roubem,

162. para que estejam atacando gente,


para que pratiquem a lei má,
para que vão para fora desta aldeia.
Vem para colocar os malditos
conforme nossas palavras.

Aimbirê: 167. - É difícil para mim tentá-los;


seu guardião é terrível,
[espantando-me.
Guaixará: - Quem é ele?
Airnbirê: - São Lourenço belo",
o que está junto de Deus.

Guaixarâ: 172. - Qual? Aquele Lourenço tostado,


nosso companheiro assado?
Airnbirê: - Esse mesmo.
Guaixará.· - Sossega. Não é muito forte o
lmaíra".
Hoje mesmo havemos de fazê-lo
[sumir...

19
177. Ixé aé s-apy-sar-üera,
s-ekob é-aba r-esé.
Aimbiré. - Nd'e-'! te'e, ipó, ko'y
opá nde r-aúsup-ar-üera
pysyrõmo nde suí. ..

182. I maran-irü abé


Bastião, u 'u-bor-üera .
Gúafxará: - Akó xe r-emi-ybõ-mbGera?!
ErI! Xe r-ory s-esé .
T'o-ie-pun xe marand-úera l

187. Mokõibé o-syi kori,


xe r-epiaka r-upibé-ne.
Afmbiré: - N'a-mo'ang-i. Nde moaúié -ne.
Gúafxará: - E-í'erobí'á-te xe ri!
A-mondyí' kori-no-ne .

192. Ab á-te-pe o-ikó xe oi á,


Tupã tirú ã mornburú-abo?
Afmbiré: - Nd'e-'! te 'e Tupã nde pe'abo ,
a'e-püer-y-pe t-atâ
aúiê-rarna nde r-apy-abo.

197. Avs-epiak, erimba'e,


Güaixar á maran-usu.
Ygara s-etá -katu.
Ere-i-pytybõ iepé ,
eri aani! Ovsyi muru...

20
177. Eu mesmo sou quem o queimou,
no tempo em que ele vivia.
Aimbirê: - Não é à toa, certamente, que
[agora
todos os que te amavam
liberta de ti...

182. Seu companheiro de guerra também


é Bastião", o flechado.
Guaixará: - Esse é o que eu flechei?!
Ó ! Eu estou feliz por causa disso.
Que recrudesça minha maldade!

187. Ambos tremerão hoje,


assim que me virem.
Aimbirê. - Não creio; vencer-re- ão.
Guaixará: - Mas confia em mim!
Espantá-Ios-ei hoje , de novo,
[também.

192. Quem há como eu ,


desafiando até mesmo a Deus?
Airnbirê: - Por isso mesmo Deus te repeliu,
desde então o fogo
para sempre queimando-te.

197. Vi, outrora,


a grande batalha de Guaixará " .
As canoas eram muitíssimas.
Embora os ajudasses,
oh não! Tremeram os malditos...

21
202 . Karaíba na s- er á-i ,
São Sebast ião, a 'e ,
o-mon dyk r-atá s- e sé,
i mondyia. N'o -p ytá-i
amõ abá maran -á '-pe.

G üaixar á. 207. - Karaíb a, ipó,


n'o-ikó -angal pá'<py ryb- í.
1
Auté, kó ternim inõ
nd 'o-gü-a r-i Tupã r-ek ó,
nd'o-s- aúsub-i, n'o-mo ryb-i.

212. E-ku ãt moxy mbo'a


Iandê iusana pu pé!
I 'anga t'o-'á taüi é,
o monha ng-ara r-ei â,
rõ o-by'a iandé r-es é",

Afmbir é: 217. - T'a-só s-a'ang a tenh ê:


e'i é t'ipó xe r-apiá- ne,
G üaixar â. - E-amb é, xe ranhê t'a-kúâ -ne" .
Xe poro-i tyka iab é,
apyaba ere-s- epenh ã-ne.

Afmbir é: 222. - E-nhe- mbory ryl um ê;


t'ia-ie- kory-r ung ia -lupa.
Íand é manha na, ranhê ,
t'o-s ó iandé r-enon dé ,
opá ok-yby nha supa.

22
202. Os cristãos não eram muitos;
São Sebastião, porém,
ateou fogo nelas,
espantando-os". Não ficou
ninguém no lugar ela batalha.

Guaixará: 207. - Os cristãos, na verdade,


não pecam pouco.
Enfim, esses temiminós
não tomam a lei de Deus,
não a amam, não a acatam.

212. Vai para fazer cair os malditos


em nossos laços!
Que suas almas caiam logo,
deixando seu criador,
apegando-se, pois, a nós.

Aimbirê: 217. - Hei de ir para tentá-los;


tempo virá em que me obedecerão.
Guaixará: - Espera, eu hei de ir primeiro.
Assim como eu derroto as pessoas,
os índios atacarás.

Airnbirê: 222. - Não te preocupes;


estejamos pondo armadilhas.
Nosso espião vá primeiro,
adiante de nós,
para visitar o interior de todas as
[ocas.

23
Güaixará: 227. - Aüié ipó!
Aipó nhê p'ipó ere-ikó,
Saraúai, manhan-aíba?"
Saraüaia. - Ovikó bé xe taygayba.
Ene'i! Ta-só mamõ,
ixé, Saraüai-oryba,

233. ixé, Saraüai-usul


Marã-p'ipó moranduba?
Gúaixarâ: - A-I-potar-eté-katu
ok-ybynha nde i xu-supa;
i xub'iré t'ere-iu.

238. Ta-só kori, nde r-eiá-pe,


apyaba pysyka pá.
Saraüaia. - fé t'a-só-ne xe mondó-á'-pe.
Memê-t'ixé, xe py'a-pe,
emonã t-ekó potá ...

243. Xe r-apixá saraüaia:


apyaba xe pokuá;
s-esé nhê a-iekoryá.
T'a-rasó kó ygaporaia":
xe potaba kaui r-á

Gúaixará: 248. - Ne'll Tere-só taüié! Nde apOan!


Saraüaia. - A-nha'-ngatu-ne.

24
Guaix arâ: 227. - Muito bem!
Fazes isso, porven tura,
Saraua ia, espião maldoso?
Sarau aia: - Minha corage m ainda existe.
Eia, hei de ir longe,
eu, o alegre Sarauaia,

233. eu, o grand e Sarauaia!


Quais são, por acaso, as novida des?
Guaix ará: - Quero muitís simo
que tu fiques visitan do o interio r
[das ocas;
após visitá-las, que venha s.

238. Hei de ir hoje, ao deixar -te,


para apanh ar os índios todos.
Sarau aia: - Está bem, hei de ir para onde me
[mand am.
Mesmo porqu e, em meu coraçã o,
assim quero as coisas ...

243. Os selvag ens são semel hantes a


[rnim'";
os homen s estão acostu mados
[comig o;
com eles alio-m e.
Hei de levar esta vasilha;
o que me ,cabe é tomar cauim .
I

Guaix ará: 248. - Eia, que vás logo! Apressa-te!


Sarau aia. - Correr ei muito.

25
Fic a pas sea ndo com Aim birê
, e diz :

Gú aix arâ : - Ía-i eby -ieb y ran h ê;


Sar a üaia r-ur 'ir é,
ia-m om bã tab a ian du- ne .

Tor na Sar aua ia e diz:

Afm biré: 253. - "Ké rnuru r-ur-i o-b ébo ?


Gü aix arâ . - Irã, n'i ate 'ym -an gâ- il
Ere -iu- pe, Sar aúa i?
Saraüaia. - Eê, Ían dé mo eté bo
apy aba nhe mo sar ai.
üi;
258 . Nde r-ory: t-yn ysê um ã ka
s-et á nh ê yga sab -us u,
o-io -en ôi um ã mu ru
i mb oap y-a g-ü arn a ri.
G üai xar â. - S-a i-ka tu-p e?
Afm biré : - S-a l-ka tu.

264. Ov nhe ynh ang um ã s-es é


kun um i-et á kag ü-a ra,
kó tab a mo ang aip ap- ara ,
güa ibí tuib a'e abé ,
kun hã- rnu ku i rno r-e' ym b-a ra.

Gü aix arâ . 269 . - Te, aüi é-k atu -ten hêl


T'ia -só, mb egü é, ia-p u'ar na,
t'i-x -ap y mo xy r-et arn a.

26
Fica passeando com Airnbirê, e diz:

Guaixará: - Vamos dar uma volta, primeiro;


após vir Sarauaia,
destruiremos a aldeia, como de
[costume.

Torna Sarauaia e diz:

Aimbirê. 253. - Não é que o maldito veio voando?


Guaixará: - Portanto, não é, de modo algum,
[preguiçoso!
Vieste", Sarauaia?
Sarauaia. - Sim. Para nos honrar
os índios fazem festa.

258. Alegra-te: já transborda o cauim;


são muitas as grandes Igaçabas",
já chamam uns aos outros os
[malditos
para esgotá-las.
Guaixará: - Estava bem azedo?
Aimbirê: - Estava bem azedo.

264. Já se juntaram por causa disso


muitos moços bebedores de cauim,
os que fazem pecar essa aldeia,
as velhas e os velhos também,
as moças que dão de beber às
[pessoas".

Guaixarâ. 269 . - Ah, excelente!


Vamos, devagar, para fazer o assalto,
para queimar a terra dos malditos.

27
Vêem São Louren ço com dois companheiros e dizem:

Aimbi ré. - Ké abá r-ekó-ü anhê


xe r-enop u ' ã-pu 'arna .

274. Kait Rorê-k a'ê p 'iã?


Saraü aia. - A'e! Bastiã o abé!
Aimbi ré. - A'e-pe ké amboa é?
Saraú aia. - Karaí' -bebé serã ,
kó taba r-arõ-a n-et é.

Aimbi ré. 279. - Xe r-eiryk kori-ne mã!


I abaeté s-epia ka ixébo...
Gúaix ará. - Aani xó! Nde pyatã!
E-iori , t'i-x-e penh ã,
i mosyk yi ê-kyiê bo.

284. Ía-mo ngúá moxy r-u 'uba,


i xupé ia-ie-m olty-am o.
Aimbir é. - Ké t-ur-i iandê nup ãmol
A-ryry i, opá xe uba
ie-syi, o-ie-m oatãrn o .

São Lourenço fala a Guaix arâ:

289 . - Ab á-pe nde?


Güaix arâ. - Güaix ará kagú-a ra ixé,
mboi-t ining-u su, iagüar a,
mor-O -ara , rnoro- apy-ar a ,
andyrá -g úasu-b ebé ,
anhan ga mor-apiti-ara .

28
Vêem São Lourenço com dois companheiros e dizem :

Aimbi rê: - Aqui uns homen s estão, na verdad e,


ameaç ando-m e.

274. Ai! Por acaso é o Louren ço tostado ?


Sarau aia: - É ele! O Bastiã o também !
Airnbi rê: - E o outro, aqui?
Sarau aia: - Talvez seja o anjo,
guardi ão verdad eiro desta aldeia.

Aimbi rê: 279. - Ah, vencer -me-ão hoje!


É terríve l para mim vê-los...
Guaix arâ. - Não! Sê corajos o!
Vem , para que os ataque mos ,
ficand o a amend ront á-los,

284. Fazem os passar as flechas dos


[maldi tos ,
diante delas esquiv ando-n os.
Airnbi rê: - Aqui vêm para nos castigar!
Tremo , as minha s coxas
adorm eceram compl etame nte
[imobi lizando -se.

São Loure nço fala a Guaix ará:

289 . - Quem és tu?


Guaix ará. - Guaixa râ bebed or de cauim eu sou,
grande cascav el, onça,
comed or de gente , queim ador de
[gente ,
morce gã o voado r,
di ab o assass in o .

29
S. Louren ço: 295. - A'e-p'ik ó?
Aimbt ré. - Xe iyboia , xe so kó ,
xe tarn üi-usu Aimbir é,
sukuri iu , tag üat ó,
tamand ü ã-aryr abeb ó:
xe anhan ga moro-p é!

S. Louren ço: 301..,... Mba'e -te-pe pe-s-e ká


,~
'k'o xe r-etarn a puper
Gúaix ará. - Apyab a r-aüsu pa nhê ,
or é r-apiar a potá,
oré putupá s-esé.

306. O mba'e , n 'ipó, asé


o py'a pupé s-a üsub-í.
S. Sebastião: - Ab á-te-pe , erimba 'e,
pe mba'e- rama r-esé
apyaba me'eng -a'ub-i ?

311. Tupã aé ,
o karaíb a pupé,
i 'anga s-eté monha ng-i.
Güaix arâ: - Tupã? Té n 'ipó, anhê ...
Svekó-re i poxy-e té ,
s-ekó a 'e n 'i porang -i.

317 . I angaip á :
Tupã o-s-aü su-pe' a,
s-es ê o-iero biâ-be buia,
Afmbi ré: - Ygasá '-pe kaúi-tu ia,
a'e ré ia-mo mot á",
oioíâ g üaibi r-ekuia ...

30
S. Lourenço: 295 . - E este?
A imbirê. - Eu sou uma jibóia, eu sou um
[SOCÓ 37 •
eu sou o grande tamoio Aimb írê",
sucuriju, gavião,
tamanduá topetudo:
eu sou um diabo esquentador de
[gente!

S. Lourenço: 301. - Que é que procurais


nesta minha terra?
Guaixará: - Amando os homens ,
querendo que nos obedeçam,
nós nos preocupamos com eles.

306 . Suas próprias coisas, na verdade, a


[gente
a ma em seu coração.
S. Sebastião: - Mas quem
como coisas vossas
os índios deu?

311. O próprio Deus ,


com sua santidade,
suas almas e seus corpos fez.
Guaixará: - Deus? Ah, por certo é verdade...
Mas sua vida é muito má,
seus atos não são belos.

317. Eles são pecadores;


Deus deixou de amá-los,
n'Ele confiando fracamente.
A imbirê: - Nas igaçabas o cauim
[transbordante,
a lé m disso, os atrai,
e , igu almente, as cuias das velha s...

31
323. O-í-m boapy abá kuiabá ;
'anga é s-ernim otara.
Moras eia r-erobi ara
i py'a ia-i-po rakâ,
n'o-mo et é-i o rnonha ng-ara ...

S. Louren ço: 328. - N'o-s- a'ang-í -te-p'a k ó


nhemb o'e ko'ara pukuí?
O-só meém o mamõ?
Afmbi ré: - Anhê . I iuru-p e, nh õ,
Tupã r-erobi ara r-u-í .

Saraú aia. 333 . - Nd'e-'] te 'e, o py 'a pupé,


o-iern ongetá -ngetá bo,
Tupã momb uru-ka t ü-abo,
"Seesa pysó-a 'u-pe é
Tupã xe r-epiaka?", o-T-ab o.

São Sebastião com Sarau aia:

338. - Gúabi ru ruã-p'ikó


konip ó sarígü ei-nem a?
Pysaré serã ere-íkó
arinha ma mokan hema,
apyab a mondy abó?

Saraüata. 343. - I 'anga 'u-potá é,


pysaré n 'a-ker- ang á-i.;
Gúaix ará: - Aúié! A-nhe 'eng, Saraúa il
Saraüaia: - Xe r-enôi urnê iep é
i xupé, na xe iuk á-it

32
323 . Esvaziam os homens as cuias;
sombra é o que eles desejam .
A crença na dança"
enche seus corações;
não honram seu criador...

S. Lourenço: 328. - Mas não tentam esses


aprender sempre?
Teriam ido para longe?
Aimbirê: - É verdade. Nas suas bocas,
[somente,
a crença em Deus está.

Sarauaia: 333. - Por isso mesmo é que, em seus


[corações,
ficando a rezar,
desafiam muito a Deus,
dizendo: u _ tem Deus vista aguda
para me ver?"

São Sebastião com Sarauaia.

338 . - Será que isto é um guab íru"


Oll um sarígü ê" fedorento?
Será que a noite toda ages
para fazer sumir as galinhas,
os índios empobrecendo?

Sarauaia. 343. - Querendo devorar suas almas,


a noite toda não dormi
[absolutamente...
Guaixarâ. - Basta! Falo eu, Sarauaia!
Sara ua ia: - Não digas meu nome
p ar a el e , senão me m ata!"

33
348 . Xe mi-te iep é i xuí!
Nde man han -am o t' o-ik ó-n el
O úaix arâ : - Nd 'o ro-m orn b e' u-i x ó-ne .
E-n he- mi, nde kyr iri.
Kor i é t'or o-m ond ó-n e.

ká;
Sara üaia: 353. - A-i e-m i-ng atu -pe
I' a üiet é na xe r-epiak-i. ..
S. Sebastião: - T'a- i-yb õ-nel Evie-pe 'a l
Evküâ ké suí raá!
- O-k er-L . Nd' ere -mo mb ak-
il
Gü aix ará .

i ker -e 'yrn-i,
S. Seb asti ão: 358 . - Pys aré kó
apy aba pob u-p obu ,
Sar aüa ia. - (Ai pó er- é sup i-ka tu ...)

Aço ita- o Gu aix arâ e diz:

- Ma rã-p e nd' ere- nhe -rni m-í?


Ere -i-p or â-p e nde 'u?

Sar aúa ia. 363 . - Aka ig ú âl


Ma rã-p e xe ri ere -p üá?
A-t e-m i-ng atu kó güi-t-u pa...

Atm bir ê com São Seb asti ão:

- Anh ê, pe- küá esa py'a!


Xe mo anh ê kó xe boi á,
iei xe r-ep iak -a'u pa...

34
348. Mas esconde-me tu dele!
Ele há de ser teu espião!
Guaixará: - Não te denunciarei.
Esconde-te, fica quieto.
Hoje mesmo hei de te mandar
[embora.

Sarauaia: 353. - Hei de me esconder bem;


ainda bem que não me viu ...
S. Sebastião: - Hei de flechá-lo. Afasta-te!
Vai-te daqui já!
Guaixarâ. - Ele dorme. Não o acordes!

S. Sebastião: 358. - Eis que a noite toda ele não dormiu,


para ficar perturbando os índios.
Sarauaia: - (Isso dizes com razão...)

Açoita-o Guaixarâ e diz:

- Por que não te escondes?


Queres que ele te coma?

Sarauaia: 363. - Ai!


Por que bates em mim?
Bem me escondo, estando deitado
[aqui...

Aimbirê com São Sebastião:

- Ide depressa!
Apressam-me estes meus súditos,
tendo, hoje, saudades de mim...

35
S. Sebastião: 369 . - Urnâ-b a'e?
Aimbir é: - Tapiia ra, tuiba'e ,
g üaibi, kunum i-güas u,
apyab a , kunhã -muku ,
xe boi á-ramo pabê,
xe p ó-pe a-rekó -katu .

375. T'a-i-p apá-ne i angaip aba


ta xe r-erobi á iepé .
S. Sebastião: - Ne'l! T'a-s-e ndu tenhê .i ,
Afmbir é: - T-yny sê mernê ygasab a ...
N' i apor-i kaúí r-esé,

380. sabeyp ora suí bé


o-io-ap ixá-pix apa.
S. Sebastião: - Morub ixaba tuiba'e
o-nhe 'eng mernê i xupé,
s-enon hena, i akaka pa .

Afmbir é: 385. - O-por- akakab ? Abá? ..


A'e-te kaúí púai-t- ara,
apyab a sogü-a bo pá,
"Mo ru b ix á-mosa kara ,
t'e'i ixébo! ", o- ri-ab-a ng á.

390. Nd'e'í te 'e kunurn i-gúas u,


morub ixaba o sogü-á '-pe ,
o-ik ébo memê kagü-á '<pe,
a 'epe kunhã -rnuku
r-epen hana , i pot á-s á'<pe .

36
S. Sebastião: 369. - Quais?
Aimbirê: - Os moradores da aldeia , velhos,
velhas, moços,
homens, moças,
todos como meus súditos
em minhas mãos bem os tenho .

375. Hei de contar seus pecados' .


para que tu me acredites.
S. Sebastião: - Eia! Hei de ouvir em vão...
Aimbirê: - Estão sempre cheias as igaçabas...
Não abrem mão do cauim,

380. por embriaguez também


ficando a ferirem-se uns aos outros .
S. Sebastião: - Os chefes e os velhos
falam sempre a eles ,
repreendendo-os, censurando-os.

Aimbirê: 385. - Censuram? Quem? ...


Mas são eles os que mandam fazer
[cauirn,
convidando os homens todos,
dizendo, sim: "Que estejam os
chefes moçacaras junto a mim..."

390. Por isso mesmo os moços,


por os convidarem os chefes ,
entram sérnpre no lugar de beber
lcauírn,
as moças ali
atacand o , por desej á-las.

37
S. Sebast ião: 395. - Emonã s-ek ó suí
arakai á s-apek ó-ú ;
mund é-pe i por-er as ó-ú.
Aimbi ré: - Arakaiá-te o-rnbo ry,
oioiá marã s-ekó- ú.

S. Sebast ião: 400. - Oiepê -lomb é", n'ipó ,


I' i angaip ab amõm e é.
Aimbi ré. - N'a-mc 'ang-L : S-etá nhê,
xe aé a-poro -rnoin gó
rnoro- potara r-es ê.

G üaixar â. 405 - Íarnbé, t'oro-p ytybõ- ne:


Ovio-a 'o-a'c güaibl,
o-ío-am otare'y ,
marã 'é n'o-py k-i x ó-ne,
rnarã e'í-ara o -mbory b-i.. .

410. I angaip á kó kena 'I,


e-'í mo'em a monha nga:
mosan ga ra'ã-r- a'anga ,
o aüsuba o-i-pot ar-I,
o-ie-rn omorã'-mora nga.

Aimbi ré. 415. - A'e-pe kunum i-güas u


kunhã o-i-mo moser n-ba'e,
miaúsu ba potá nhê,
karaíb -ok-y- pe-kat u,
o-nheg üasern a mem ê?

38
S. Sebast ião:395. - Assim, por causa de seu
(proce dimen to
os aracaj ás" os freqüe ntam;
para as armadi lhas eles levam gente.
Aimbi rê: - Mas os aracajás deleita m-se com
[eles;
igualm ente fazem o mal.

S. Sebast ião:400. - Um ou outro, porven tura,


foi mau, algum as vezes.
Aimbir ê: - Não o penso ... Eles são muitos;
eu mesm o pus gente
no desejo sensua l.

Guaix ará: 405. - Espera , hei de te ajudar:


insulta m-se as velhas ,
não se querem bem,
não cessar ão de dizer malda des;
as maled icente s se compr azem com
(isso...

410. São más essas folgad as ,


mostra m-se a urdir mentir as;
ficand o a experi menta r poçõe s,
querem que as amem ,
ficand o a enfeita r-se.

Aimbir ê: 415. - E os rapaze s


que perseg uem mulhe res,
queren do escrav as
bem nas casas de cristãos,
fugind o sempre ?

39
á-sab-i,
G úaixarâ: 420. - To! Aipó n'i pap
kúa rasy -rno o-ik é iep é-m o.
Op á tab a rno ang aip ab- i l
Aímbiré: - Anh ê, n'i t-ek oku ab- i,
ian d é mo mb uru me ém o...

om be' u,
S. Lou ren ço«, 425 . - O-i kob é iem
mo san ga mú eira b-y -iar a .
Abá 'ang a mar a'ar a
i pup é o-p üei rá'<katu ;
s-a kyp üer -í Tup ã r-ar a.

430. O ekó mo asy riré,


abá só- o iem om beg ü-a bo ,
"Xe eat u-p e ká ..." o-'í -ab o.
O-s -ob asa b aba ré,
Tup ã rno nhy r õ-n gat ú-a bo.

a-m e",
G üaix ar â. 435. - Ang aip ab- e'ym
o-n h em om b e'u- k atul
Aüi é kun um i-g úas u
o ekó -aíb -et é
o -lo- mim, o-i- kua ku,

Aim biré: 440 . - (S-e )sem õ iep


ê,
"T-e ' õ r-er oby ka é,
xe ang aip â-tu bix ag- úer a
a-rn osê -ne 'íe'i nh ê.
Gú aix arâ : - Evs- end u-te , sup i é ,
a-s- ekyi i pox y-p üera ...

40
Guaixará: 420. - Ó! Isso não seria possível contar,
ainda que o sol se pusesse.
Tudo a aldeia faz pecar!
Aimbirê. - Na verdade, não têm discernimento,
ter-nos-iam amaldiçoado (se o
[soubessem)...

S. Lourenço: 425. - Existe a confissão,


remédio portador de cura.
As doenças da alma do homem
com ela saram bem;
em seguida a ela, a comunhão.

430. Após arrependerem-se de seus


[atos,
os índios vão confessar-se,
dizendo: "- Hei de ser bom."
Benze-os o padre,
aplacando bem a Deus.

Guaixarâ. 435. - Por serem sem pecados,


confessam-se muito!
Enfim, os moços
seus atos muito maus
escondem, calam-nos.
I
Airnbirê: 440. - Embora eles sobejem,
dizem: "- aproximando-me da morte,
I
meus grandes pecados
farei sair".
Guaixará: - Mas ouve; na verdade,
evoquei suas antigas maldades...

41
S. Lourenço: 446. - I a rnotare 'ym -e t éb o ,
p e -rek ó-a í-aí.
Ixé n 'a-ieiyl i xuí ,
Tupã supé úi-ie ru ré bo,
i pytybõmo 'iepi.

4 51. Xe r-es é o-ierobi á:


o-i-rnonhang kó Tupã-oka,
I
t-ek ó-püera r-ekoaboka,
o arõ-an-arno xe r-á,
xe r-es é-katu o-ie-koka,

Gúafxará: 456. - E'í tenhê nde r-erobiá ;


ere-i-pysyrõ iepé -ne,
nde pó suí a-nosê-ne.
A-bebé kó ybytu í'á;
a-no nhan, a-robeb é-ne...

461 . Airnbir é,
ia-rasó muru , ta üi é,
iandé r-oypyra rnoes ãia .
Afmbiré: - Kó xe 'ak-usu, xe r-ãnha...
Ié, kó bé xe püapê,
xe r-ü ai-pu ku , xe ryãía...

Anjo: 467 . - Na pe apys á-i, iandu,


ikó taba apamonana.
A-í'kobé n'ixé s-arõ-ana,
S. Sebastião irü ,
S. Lourenço pytybõ-ana.

42
S. Louren ço: 446. - Detest an do-os muito,
tratai- os muito mal.
Eu não me afasto deles,
p ara Deus ora nd o ,
aju d a n do-os sempr e.

451. Em mim confia m;


fizeram esta igreja,
modif icando a vida antiga,
toman do-me como seu guardi ão,
bem em mim apoian do-se .

Guaix ará: 456. - Em vão crêem em ti;


ainda que os liberte s,
de tua mão retirá-los-ei.
Vôo como este vento;
fá-les- ei correr comig o, fá-los-e i
[voar comig o...

461. Aimbi rê,


levem os os maldit os , logo,
para alegra r os que ficaram em
[nossa casa .
Aimbi rê: - Eis aqui meus chifrôe s, meus
[dente s...
sim, eis aqui també m minha s garra s,
meu rabo compr ido, meus gancho s...

Anjo: 467. - Não tendes ouvido s , como de


[costu me,
esta aldeia co nfund indo.
Eu perma neço seu guardi ão,
compa nheiro de São Sebast ião,
ajudan te de São Louren ço.

43
472. Pe-poreaúsu kori-ne;
pe-moyrô Pa'i Íesu,
kó taba pobu-pobu .
Pe r-apy t-atâ-endy-nel

Fala com os santos:

- Pe'I, pe-i-púá muru!

Os santos prendem os dois diabos.

Güaixarâ. 477 . - Aüié rã!


S. Lourenço: - Aani! A-í:e-moYrã.
Endé aé ere-iekoá
xe r-oka pobu-potâ.

S. Sebastião ao Aimbirê:

- Nde r-ase, e-ie-apírô! Oro-pysyk!


Afmbiré: - Akaigúá!

Presos estes dois, fala o Anjo ao Sarauaia, que ficou


escondido, e diz:

483. - Mba'e-pe ké t-u-I o-pyka?


Andyrá ruã-pe é,
Panama koipó güaikuika?
Ené, rã, kururu-asyka!
ErI, sarigúeia é!

44
472. Estareis aflitos hoje;
irritastes o Senhor Jesus,
ficando a revirar esta aldeia.
Queirnar-vos-ão as chamas!

Fala com os santos:

- Eia , amarrai os malditos!

Os santos prendem os dois diabos.

Guaixará: 477 . - Basta, pois!


S. Lourenço: - Não! Irritei-me.
Tu mesmo és causa de teu dano
querendo revirar minha casa.

S. Sebastião ao Aimbirê.

- Grita tu, lamenta-te! Prendo-te!


Aimbirê: - Ai!

Presos estes dois, fala o Anjo ao Sarauaia, queficou


escondido, e diz:

483. - Que aqui está deitado,


[aquietando-se?
Será que é um morcego,
uma borboleta ou uma doninha?
Eia, pois, $apo maneta!
Irra, gambá!

45
488. E-lori,
mba 'e -nem, mb a 'e -po xy,
mba rá , mia rataka ka,
se bo'i, tarnarut aka'
Sa raüa ia. - Xe púerai , xe r-o pesyi.
A úi é! Te u m ê xe m omba ka!

Anjo: 494. - Abá-p e nde?


Sara úaia. _I Saraüa ia,
aiurui ub-upi ar-üer a.
Anjo: - Aíp ó nhõ-p 'ip ó nde r-era?
Saraü aia: - Xe ab é talasug ü aia,
Xe manha na , maner nb-úe ra...

Anjo: 499. - Nd'e-' í te'e nde r-u 'um-u su


abá 'anga rnorno xy-abo .
Mba'e-u 'uma, taiasu ,
oro-ap y kori, ía n d u !
Saraü aia. - Akail Teum ê xe r-apy-abo'

504. T 'a-me 'ê-ne pirá r-uba


endéb o, úi-ie py- m e'en ga...
Ere-i-u sei-pe u'i-pub a?
Ere -i-potâ -pe itá-iub a?
Anjo: - N'a -s-end ub-i nde nhe'en ga!

509. Nde r-erni- mimb- üera , anh ê,


umã-m e-pe nde mondá ?
Abá r-ok-y -pe ere-kú á,
t-á , nhe-rnim-y ianon d é?
Ere-ru r-et á serã?

46
488. Vem,
coisa fedorenta, coisa nojenta,
borá", maritacaca",
sanguessuga, tarnarutaca!"
Sarauaia: - Eu estou cansado, eu estou com
[sono.
Basta! Não me despertes!

Anjo: 494, - Quem és tu?


Sarauaia. - Sarauaia, adversário antigo de
[franceses".
Anjo: - Esse, somente, é, de fato, teu nome?
Sara ua ia: - Eu também sou um porco;
eu sou um espião, um velho poltrão...

Anjo: 499. - Por isso mesmo tua muita sujeira


estraga as almas dos índios.
Coisa enlameada, porco,
queimo-te hoje, como de costume!
Sarauaia: - Ai! Guarda-te de me queimar!

504. Hei de dar ovas de peixe


para ti, retribuindo...
Queres comer farinha puba?
Queres ouro?
Anjo: - Não ouço tuas palavras!"

509. O que tu escondeste, na verdade,


onde tu roubaste?
Na casa de quem passaste,
tomando-as, antes de te esconderes?
Acaso trouxeste muitas coisas?

47
Sara üaia. 514. - Aani, mosap y nh õ.
Kara íb-ok- y-pe üi-t-e k óbo,
xe p ó-pe nhote a-rasó .
Üi-po rabyk y-abo gúi-x óbo,
n 'i-por- i be'l xe ai ó.

519. Ir ü -rnbú e ra , ak üeime bé ,


kaüi r-epy- rarna ri,
a-i-rne 'eng abá supé.
Kaüi-a ia useia é,
opaka tu a-mbo apy.

Anjo: 524 . - rori, t'ere-iá s-ek ó,


Ta s-epy nde monda g-üera .
Saraü aia: - Aan umê-n el A-sab eypó...
(Ovka 'u bé xe r-aixó,
g úaibi-m arã-se rã-serã ... s1)

529. Xe r-ybyt , nde nhyrõ xebo ,


xe r-asy, xe mara'a .
Kó bé xe r-ernb iar-et á
t'a-me 'ê-ne amõ endéb o,
i akang a t'ere-i o-k á.

534. E-iero k moxy r-esé


ta nde r-erap üã-nga tu.
Anjo: - Mby-p e ere-ba sê i xupé?
Saraü aia: - A-lké nhãim biara pupé;
angaip aba a-i-po kosu.

48
Sarauaia: 514 . - Não, somente três.
Estando eu em casa de cristãos,
nas minhas mãos, somente, levei-as .
Indo eu para trabalhar,
não contém mais nada minha bolsa.

519 . Seus antigos companheiros, outrora ,


em troca de cauim,
dei para os índios".
Querendo beber vinho,
tudo esgotei.

Anjo: 524. - Vem, para que recebas a lei deles .


Que tenha reparação o teu roubo.
Sarauaia. - Não! Estou bêbado...
(Bebe cauim também minha sogra,
velha muito maldosa ...)

529 . Meu irmão, perdoa tu a mim;


eu tenho dor, eu estou doente.
Eis que também minhas mu itas
[presas
hei de dar algumas para ti,
para que quebres suas cabe ças".

534. Arranca-te o nome por causa dos


[malditos,
para que sejas muito famoso" ,
Anjo: - Achaste-os por perto?
Sarauaia. - Entrei nos caminhos das fontes ;
surpreendi os pecadores.

49
-- ---- - - -

Anjo: 539. - Abá r-a 'yra-pe Ui?


Saraú aia: - Sé. Abá r-a'yra , ipó...
I-I ysapu ku sã 'amõ
amõ i akang- usu-i,
O-por -akypG é-mon dó...

544. Kory-p e muru a-moin gé,


kunhã a-iukâ-'! s-ek ó-â'<pe .
Xe I manha n-e'ym -eté,
n'a-ke r-angá -i s-eká- sá '<pe,
xe r-emb iar-am o mernê . ,

Amarr a-o o Anjo e diz:

549. - Nde poxy-p otar-a 'ub.


Tere- só rõ nde r-atá-p e,
aúíera ma t'ere-iu b
morea üsuba monha ng-á'- pe.
Irõ, oro-po kosub !

Saraúaia: 554. - Almbi ré!


Afmbi ré: - OI!
Saraü aia. - Xe pysyrõ iepêl Xe pysyk kó
[Maka xera!
Afrnbi ré: - Xe abé i-I ybõ-m byr-üe ra
Bastiã o xe moaüí é.
N'l tyb- í xe abaeté -púera ...

50
Anjo: 539. - Filhos d e quem eram esses?
Sa rauaia. - Sei lá! Filhos de índios, ce rtame nte...
Eram compridas algumas cordas
nas grandes cabeças deles.
Seguiam as pessoas".

544. Nas armadilhas os malditos fiz entrar,


as mulheres matei por matar, nas
[moradas delas.
Não tendo eu um verdadeiro espião,
não dormi absolutamente, para
[procurá-los,
como minhas presas para sempre.

Amarra-o o Anjo e diz:

549. - Tu queres ser mau, sem resultado.


Que vás, pois, para teu fogo,
para que estejas para sempre
[prostrado
no lugar em que se faz sofrer.
Portanto, apanho-te!

Sa raua ia:554. - Aimbirê!


Aimbirê: - Oi!
Sarauaia: - Liberta-me tu! Prendeu-me este
lmacaxera!"
Aimbirê: - A mim, também, o flechado
Bastião derrotou-me.
Não existe mais minha antiga
[terríbilidade...

51
Saraüaia: 560 . - Akaigü á!
Ere-ké-pe, Gúaixará?
Nd'ere-iur-i xe r-epyka?
Guaíxará: - Teté marã e- ti-abo mã?
Rorê-ka'ê xe popüâ,
xe r-apy-abo, xe apypyka .

Anjo: 566 . - Iiá mosapyr-y bé


pe-kai oiepê-güasu-ne.
I angaturã, ko 'yré,
Pa 'i Tupã r-aüsupa nhê,
xe r-emi-arõ iandu-ne.

Faz uma prática aos ouvintes:

571. - Pe-r-ory,
xe r-a 'yr-et á, xe ri.
Kó a-ik ó pe pysyrõmo.
Aviur ybaka sui
pe r-ok-ybyia r-upi
iepi nhê pe pytybõmo .

577. Kó taba r-eny-rerne ,


pe pyr-i nhê xe r-ek ó-ü.
Ndaroi ái mamõ xe SÓ-U i
taba r-aroan-arno nh ê
Íandê Iara xe moingó-ú .

582 . Pe iabi'õ Pa 'i Tupã


karaí'-beb é moing ó- ü.
A'e pe mopyatã;
a 'e kó p e su ma rã
p e 'anga suí i m ond ó- ú.

52
Sarauaia. 560 . - Ai!
Dormes, Guaixará?
Não vens para me vingar?
Guaixará: - Ah, que dizes?
Lourenço tostado minhas mãos atou,
queimando-me, oprimindo-me.

Anjo: 566 . - Ainda bem que os três, novamente,


queimareis todos juntos.
Serão bons, doravante,
amando ao Senhor Deus ,
os que eu guardo de costume.

Faz uma prática aos ouvintes:

571. - Alegrai-vos,
meus filhos , por minha causa.
Eis que aqui estou para vos libertar.
Vim do céu
pelo interior das vossas ocas 57
para vos ajudar sempre.

577. Por esta aldeia luzir,


junto de vós eu estou.
Nem por isso vou para longe;
como guardião da aldeia
Nosso Senhor me constituiu.

582. De cada ub de vós o Senhor Deus


um anjo encarregou.
Ele vos encoraja;
ele, esses vossos inimigos ,
d e vossas alma s enxo ta-os .

53
587.0í 'oí'á,
kó Ía nd é Iara b oiá,
Sã o Loure nço-an gaturama ,
o-s-arõ nh ê pe r-etarn a,
Anhan ga r-eiryk a pá,
peê-te , pe mopu 'ama.

593 . Sãp Sebast ião abé,


maran a r-erek ó-ar-ü era,
tamüia , kyre'y rnbag- üera,
o-mom bab erirnb a'e :
n'i ryb-an gâ-i s-etã-r nbüera .

598. Opá, - Paran apuku ,


Íakutín ga, Moro' y,
Sarigü eia, Güiryr y,
Pindo ba, Parigü asu,
Kurusá , Miape 'y,

603. Íabebi rasyka tap-era -


aküeim e n'i por-et á -i.
I aüié mu 'arn-ar - úera,
oio-yb yr-í s-e'õ-m büera
paranã ybyr-i i kúá-i,

608. S-ausu p-ara, aiuruíu ba,


mokab a o-gü-e ru tenhê,
i abaeté muru supé
São Sebast ião r-u'uba ,
São Loure nço pyr-i bé.

54
587. Igualmente,
este súdito de Nosso Senhor,
o bondoso São Lourenço,
guarda vossa terra,
o diabo lançando fora
[completamente,
mas a vós, elevando-vos.

593. São Sebastião também,


o que cuidava das guerras,
os tamoios, os valentes,
destruiu;
não existem mais absolutamente
[suas antigas terras":

598. Todas - Paranapucu,


]acutinga, Moroí,
Sarigüeia, Güiriri,
Pindoba, Pariguaçu,
Curuçá, Miapeí,

603. a tapera de ]abebiracica59 -


há tempo não contêm mais muita
[coisa.
Renderam-se os oponentes;
ao lado uns dos outros seus
[cadáveres
ao longo do mar estavam.

608. Seus amigos, os franceses,


pólvora trouxeram em vão;
foram terríveis contra os malditos
as flechas de São Sebastião,
junto de São Lourenço também.

55
613 . Mernê -te n'ipó, pe 'anga
amotá , i poraüs ub-ok a,
ko 'arapu kui i pokok a,
i moays óbo, i momo ranga ,
t-ek ó-püer a r-ekoa boka.

618 . Mernê anhan ga popüa r-i,


pe ri s-emb iá-potá '-sá'-p e.
Pe atõia n'o-i-p otar-i.
Pe 'anga r-aúsu -katu- á-pe,
o boiá-r amo pe r-ar-i.

623 . Peteum ê
pe poxy-r amo angiré ,
t'o-kan hê pe r-ekó- p úera
- ka'u, agúas â-nê-r nbúera ,
t-erno' erna, marã 'é,
io-apí xaba, rnaran d-úera .

629. Pe-s -a üsu pe monha ng-ara ,


pe-i-m oeté Pa'i Iesu.
S-ekó- angatu rã-nga tu
pe r-etarn a r-erek ó-ara,
São Louren ço, anh ê o-í-pu ru.

63 4. I iasear apyab- aíba


s-ekob é abé r-apy- abo.
S-osan g, r-at á porará bo,
o manõ riré t-oryb a
r-erek óbo , o putug ü-abo.

56
613. Mas sempre, com certeza, a vossas
[almas
querendo bem, arrancando suas
[aflições,
sempre guiando-as,
aformoseando-as, embelezando-as,
modificando o velho modo de ser.

618. Sempre dos diabos atam as mãos,


quando querem em vós suas presas.
Não querem que vos toquem.
Por amar muito vossas almas,
como seus discípulos vos tomaram.

623. Guardai-vos
de serdes maus doravante ,
para que desapareçam vossas práticas
[antigas
- bebedeira, a velha mancebia fétida,
mentiras, dizer maldades,
ferimentos mútuos, antigas guerras.

629. Amai vosso criador,


honrai o Senhor Jesus.
Sua lei muito santa
o guardião de vossa terra,
São Lourenço, verdadeiramente
[praticou-a.

634. Uniram-se os homens maus


para queimá-lo vivo, também.
Sofreu , o fogo suportando,
tendo alegria após sua morte,
descansando .

57
639. Pe-ie-a üsub-u ká i xupé,
s-a üsupa , s-ek ó-pot á;
i pyrybé pe-rob i á,
pe r-erek ó-ara ab é,
i nhe'en ga mopó pá.

644. Pe-iori
pejbak a Tu pã kory,
pe py'a pupé s-erup a.
Ta pe-só pe-iek osupa
i potar- y-pyra ri,
i-i ypy-p e nhê pe-iup a.

Fala com os santos, convid ando- os a cantar, e com


isto se desped em:

650. - T'ia-n he'eng á'<mir t, ranhê,


'a ra momo rã-nga tü -abo,
anhan ga pysyk 'iré.
Ta s-asy muru supé!
Ta s-asê, o-iase gü-abo l

Levam presos os diabos, os quais na última repeti-


ção da cantig a choram.

Canti ga

655. Ta s-ory iand é r-a 'yra


Tupã o pysyrõ -sá'-pe !
G üaixará t'o-só t-atâ-p el
Gúaix ará t'o-s ó t-atá-p el
Gúaix ar á, Aimbi r é, Sara úaia
t'o-s ó t-at á-pe ...

58
639 . Fazei a ele amar-vos ,
amando-o , querendo sua vida ;
acre d ita i um pouco mais nele,
e em vosso guardião também,
suas palavras cumprindo todas.

644. Vinde
para vos voltar para Deus,
em vossos corações levando-o.
Que vades regozijar-vos
com O Desejado,
junto Dele estando vós.

Fala com os santos, convidando-os a cantar, e com


isto se despedem:

650 . - Cantemos um pouquinho, primeiro,


festejando bem o dia,
após prendermos os diabos.
Que eles sofram junto dos malditos!
Que eles gritem, chorando.

Levam presos os diabos, os quais na última repetição


da cantiga choram .

Cantiga

655 . Que se alegrem nossos filhos


por salvá-los Deus.
Que vá Guaixará para o fogo!
Que vá Guaixará para o fogo!
Guaixará , Aimbirê , Sarauaia,
que vão para o fogo ...

59
,
I
f
,r
i
Volta

661. Ta s-oryb, o-ikó-katú-abo,


t-ekó-poxy-püera tyma ,
Tupã mokanhem-e'yma ,
Anhanga r-aüsu-pe'abo.
Ta s-oryb, o-putugü-abo,

666 . Tupã o pysyr õ-sá'<pe.


Güaixará t'o-só t-at á-pe!
Güaixar á t'o-só t-atá-pel
Güaixar á, Aimbir é, Saraüaía
t'o-s ó t-at á-pe...

Depois de São Lourenço morto nas grelhas, o Anjo


fica em sua guarda e chama os dois diabos, A imbiré e
Sara uaia, que venham afogar a Décio e Valeriano, que
ficaram sentados em seus tronos.

Anjo: 671. - Aimbiré,


e-iori xe r-obaké!
Nde apüan, e-nhan, e-iu!
Aimbiré: - Irã bé, irõ iandul
(Xe pysy-potar-y bé
serã kó gúyrá-güasu ...)

60
Volta

661. Que se alegre m, proce dendo bem,


enterr ando os velhos maus hábito s,
não perde ndo a Deus,
afasta ndo o amor ao diabo.
Que se alegre m, descan sando ,

666. por os salvar Deus.


Que vá Guaix ará para o fogo!
Que vá Guaix ará para o fogo!
Guaix ará, Aimbir ê , Saraua ia ,
que vão para o fogo ...

3º ATO
Depois de São Loure nço morto nas grelhas, o Anjo
fica em sua guard a e chama os dois diabos, Aimbi rê e Sa-
rauaia , que venha m afoga r a Décio e Valeria no, que fi-
caram sentad os em seus tronos .

Anjo: 671. - Aimbi rê,


vem diante de mim!
Apres sa-te , corre, vem!
Airnbi ré: - Enfim , de volta, enfim, como de
[costu me!
(Talvez qu~ira agarra r-me novam ente
este p ássaro grande ...60)

61
Anjo: 677. - Nd e r-e m b ia r-a ma é
o -ikob é moru b ixab a .
São Loure n ço iuk á ré ,
t'o-kai nde r-atá pupé,
ta s-e py muru angaip aba .

Afmbi ré: 682. - Íé, aip ó xe moyta rõ,


xe.r-e mbi á s-esé kori-ne.
A-rasó muru s-esé-n e,
t'a-i-p uru xe nhemo yr õ.
A úierarn anh ê a-s-ap y-ne. '

Anjo: 687. - Ne'I, taüíé i aiubyk al


T'o-s- epiak- í bé urnê
küaras yl Ne'I, taüi é,
nde r-atá pupé s-eitykal
Pe -nhey nhang pabê s-es él

Afmbi ré: 692. - Ne'I! Ta-só


aipó nhe'en ga mopó,
xe boiá r-eynh ang-et ábo.
Saraüa i, iori e-kagü -abol
A'e ré kori 'ia-só
t-ubix aba akang a kábo!

Sara úaia: 698. - I ka úi-gü asu-p' ipó,


xe r-arnü ia Íagü ar-una?
Ene'il T'a-sa beyp ól
ErI! Aúiet é p 'akó,
a-iegü ak üí-nne -rnoun a...

62
Anj o: 677 . - O s que tu apresarás
são reis .
Após matarem a Sã o Lourenço,
qu e queimem em teu fogo ,
para que tenha reparação a maldade
[dos malditos".

Aimbirê: 682. - Sim, esses me satisfazem,


os que eu apresarei hoje por causa
[dele.
Levarei os malditos por causa dele,
para usar meu ódio.
Para sempre os queimarei.

Anjo: 687. - Eía, enforca-os logo!


Que não vejam mais
o sol! Eia ,
lança-os logo em teu fogo!
Ajuntai-vos todos com eles!

Aimbirê. 692. - Eia! Hei de ir


cumprir essas p al avras,
juntando muitos dos meus servos.
Sarauaia, vem para beber cauim!
Depois disso, vamos hoje
quebrar as cabeças dos reis!"

Sarauaia: 698. - Tem muito cauim, porventura ,


meu avô jaguarunar"
Eia! Hei de embebedar-me!
Ahl Que bom é enfeitar-me,
pintando-me de preto...64

63
703. S-ekoa Olé-pe gúaita k á
koipó gúaian â r-a'yra ?
To! Temim inô, serã ...
Aúieb etél Ta-'u pá
Íakar é-gúas u pepyra !

Vê o A njo e espant a-se dizend o:

708. - To! Anhê, mba'e -pe ké


kanind é-oby ias üara?
Nd'o-i -aby-i muru arara ...
Afmbi ré: - Karai' -bebê a 'e,
rnoro- iubyka püai-t -ara .

Saraü aia. 713 . - Akó xe iubyk- ar-üer a,


tataür ana , taman duá,
xe iubyk benhê potá!
Nd'a-r obiar-i Makax era ...
A-só-p e üi-nhe -rnima ká!

Afmbi ré: 718. - E-í'ori!


Sara üaia: - Xe su'u-m o marig üi ...
O -nharô moxy, xe 'u -ne !
A-syky 'ié, a-ryryil
E-s-ap'iá-te! Xe miril
Xe mok õ kori , iandu -ne.

Afmbi ré:724 . - Nd'o-p oro-m e'eng- í abá,


o a 'yra kuaku pa?
A'e-rn o o-iuby k-uká?
Saraü aia. - Ahê teurnê s-erob i á;
S-emo 'e oiobaú pa:

64
703 . Está pronto o guaitacá
ou o filho do guaianá?
Oh! Talvez um temiminó ...
Muito bem! Hei de comer todo
o banquete de jacaré-gua çu!"

Vê o Anjo e espanta-se dizendo:

70S. - Oh! Na verdade, que há aqui


semelhante a um canindé azul?
Não d ifere o maldito de uma arara...
Aimbirê. - Ele é o anjo
que encomenda o enforcamento.

Sarauaia: 713. - Esse é meu antigo enforcador,


uma taturana , um tamanduá ,
querendo enforcar-me novamente!
Não acredito em macaxeras...66
Vou-me esconder!

Aimbirê: 71S . - Vem!


Sarauaia. - Picar-me-ia o marigüi ...67
Está bravo o maldito, comer-me-á!
Tenho medo, tremo!
Tu , ao contrário, obedece a ele! Eu
[sou pequeno!
Engolir-me-á hoje, como de costume.
I
Aimbirê. 724. - Os homens não entregam as
[pessoas,
seus próprios filhos escondendo?
Eles mandariam enforcá-los?"
Sarauaia: - Oh, guarda-te de acreditar neles;
mentem, de cara uns para os outros!

65
Aimbiré: 729. - E-pyt á! Kag ú- ã'<pe nhõ ,
nde r-at ã-ngatu-pot á?
Manem-usu! Ambu 'a !
Sara üaia: - Akaigúál Ne'I, t'a-só
nde irü-mo, ta xe r-embiá...

734. Abâ-pe ia-tu raê-ne?


Aimbiré. - São Lourenço r-upiar-üera.
Saraüaia. - Akó t-ubixâ-n ê-mbúera?
A-ierok kori s-esé-ne.
Ta s-etá-katu xe r-era!

739. lia muru! I py'a-püera


xe potab-arno t'o-ikó.
Aimbiré. - Xe kori i pyiaso'o.
Saraüaia. - To-'u iandé r-oypyr-úera:
s-es é pab ê t'ia-i-xo'o.

Chama quatro companheiros, que ajudem:

744. - Tataürana,
e-ru ké nde musurana!
Urubu, Íagüarusu,
ingapema bé pe-ru!
Kaburé , iori e-nhana
t-obaiara t'ia-tul

Acodem todos os quatro, com suas armas, e dizem:

Tataurana. 750. - Kó xe musuran-usu .


Ta-'u kori i iybâ-püera,
Íagúar-usu, i ug-üera,
i akang- úera, Urubu ,
Kaburé, s-etymã-mb úera .

66
Aimbir ê. 729. - Fica! Somente quando bebes cauim
tu queres se r valente?
Palermão! Centopéia!
Sarauaia: - Ai! Eia, hei de ir
comigo, para que eu tenha presas ...

734. Quem devoraremos primeiro?


Aimbir ê: - Os antigos inimigos de São
[Lourenço.
Sarauaia. - Aqueles velhos reis fedorentos?
Mudarei de nome hoje, por causa
[deles.
Que sejam muitos meus nomes!"

739. Bem feito! Seus fígados


hão de ser minha porção".
Aimbirê. - Eu hoje (quero) o lombo deles.
Sarauaia: - Que os comam os que ficaram em
[nossas casas ;
por causa deles , todos havemos de
[convidar" .

Chama quatro companbeiros, que ajudem:

744. - Tataurana",
traze aqui tua muçurana!"
Urubu, ]aguaruçu,
a ingaperna" também trazei!
Caburé", vem correndo
para que comamos os inimigos!

Acodem todos os quatro, com suas armas, e dizem:

Tataurana: 750. - Eis aqui minha grande muçurana .


Hei de comer hoje seus braços,
]aguaruçu , suas coxas,
sua cabeça, Urubu,
Caburé, suas pernas .

67
Urubu: 755. - Kó a-ikó
s-ygé-püera t'a-rasó
i nhy'ã-bebuia abé
xe r-aixó-güaibi supé.
O-u bé s-enha'ê-pepó,
t'o-moiy xe r-enondé.

Iaguarusu: ·761. - Kó bé ingapé-kúatiara,


t'a-i-akâ'<mombuk muru.
I aputu'uma t'a-'u.
Xe agüarâ-güasu, Iagüara;
xe iagúar-eré-por-ul

Kaburé: 766. - Kúeisé kó a-por-apiti,


aiuruiuba iukábo,
üí-nhe-moerapüã-ngatü-abo.
T'a-só nde pyr-i, kori,
aipó t-ubixaba gü-abo.

Saraüaia. 771. - Na pe andub-i... Pe-iaybyk.


T'a-küa-ne pe r-enondé,
pe manhan-arno, ranhê.
Ía-s-epenhan, ia-i-pysyk,
i apysyk' e'ymebé...

Vão todos, agachados, para Décio, que está pratican-


do com Valeria no.

Décio: 776. - Amigo VaIeriano,


es cumplido mi deseo,
pues por arte ni rodeo
pudo escapar de mi mano
eI siervo deI Galileo.

68
Urubu: 755. - Aqui estou
para levar seu ventre
e também seus pulmões
para minha sogra velha .
Veio também sua panela,
para que ela os cozinhe diante de
[mim .

jaguaruçu: 761 . - Eis aqui também a ingapema


[pintada" ,
para que arrebente a cabeça dos
[malditos.
Seus miolos hei de comer.
Eu sou um guará-guaçu", uma onça;
Eu sou um jaguareté comedor de
[gente!

Caburé: 766. - Eis que ontem trucidei gente,


matando europeus",
tornando-me muito famoso .
Hei de ir junto de ti, hoje,
para comer aqueles reis .

Sarauaia: 771. - Não vos perceberam; abaixai-vos.


Hei de ir adiante de vós,
como vosso espião, primeiro.
Atacamo-los, prendemo-los,
antes que se consolem...79

Vão todos, agachados, parq. Décio, que está pratican-


do com Valeriano.

Décio: 776. - Amigo Valer ia no,


cu m p riu -se meu desejo ,
p ois n ern por arte nem rodei o
p ôde esca par de minha mão
o se rvo d o Gal ileu".

69
781. Ni Pompeyo, n i Ca t ón,
ni César . ni el Africano,
ningú n g riego oi troyano
pudieron d ar co nclusió n
a he cho tan soberano .

Valeria no.' 786. - EI remate, gran sefior,


de esta tan grande hazafia ,
fu~ más que vencer Espana.
Nunca rey, ni emperador
hizo cosa tan extraàa.

791. Mas, se üor, iquién es aquél


que aIlí veo tan armado
con espadas y cordel,
y con gente de tropel ,
de que viene acompafiado?

Décio.' 796. - Es nuestro gran Dias y amigo


Júpiter, sumo Sefior,
que recibió gran sabor
con el horrendo castigo
y muerte de este traidor.

801. Y quiere, por regracíar


las penas de este profano,
nuestro imperio acrecentar,
con su poderosa mano,
por la tierra y por la mar.

70
781. Nem Pompeu, nem Catão,
nem César, nem o Africano,
nenhum grego ou troiano'"
puderam dar conclusão
a feito tão soberano.

Valeriano: 786. - O remate, grande senhor,


desta tão grande façanha,
foi mais que vencer a Espanha",
Nunca um rei ou imperador
fez coisa tão singular.

791. Mas, senhor, quem é aquele


que ali vejo tão armado
com espadas e chicote,
e com gente de tropel,
de que vem acompanhado?

Décio: 796. - É nosso grande deus e amigo


júpíter", sumo Senhor,
que recebeu forte impressão
com o horrendo castigo
e morte deste traidor",

801. E quer, para agradecer


os sofrimentos deste profano,
nosso império acrescentar,
com sua poderosa mão,
pela terra e pelo mar.

71
Valeriano: 806 . - Más me temo yo que viene
a sus tormentos vengar,
y a nosotros ahorcar...
[Ohl [Quê mala cara tiene!
Ya yo comienzo a temblar...

Décio: 811. - iAhorcar?


iQuién me puede a mí matar,
o mover mis fundamentos?
Ni la furia de los vientos,
ni braveza de la mar,
ni todos los elementos.

817. No temas, que mi poder,


que los dioses inmortales
me quisieron conceder,
nunca se podrá vencer,
pues no hay fuerzas iguales.

822. De mi cetro imperial


tiemblan reyes y tiranos.
Venzo todos los humanos,
casi puedo ser igual
a los dioses soberanos.

Valeriano: 827 . - [Oh! jQué terrible figura!


[No puedo más aguardar,
que me siento ya quemar!
Vámonos, que es gran locura
tal encuentro aquí esperar.

72
Valeriano: 806. - Mais temo que venha
seus tormentos vingar
e a nós enforcar...
Oh! Que má cara tem!
Já eu começo a tremer...

Décio: 811. - Enforcar?


. . Quem me pode matar
ou mover meus fundamentos?
Nem a fúria dos ventos,
nem a bravura do mar,
nem todos os elementos".

817 . Não temas, que meu poder,


que os deuses imortais
me quiseram conceder,
nunca se poderá vencer,
pois não há forças iguais.

822. Diante de meu cetro imperial


tremem reis e tiranos .
Venço todos os humanos,
quase posso ser igual
aos deuses soberanos .

Valeriano:
I
827. - Oh! Que terrível figura!
Já não posso aguardar,
que me sinto queimar!
Vamos, qué é grande loucura
tal encontro aqui esperar.

73
832 . [Ay, ay! [Quê grandes calores!
No tengo ningún sosiego.
Décio: - [Ayl iQué terribles dolores!
[Ayl jQué hirvientes ardores ,
que me abrasan como fuego!

837 . jO h pasión!
jAyI de mí! que es el Plutón
que viene del Aqueronte,
ardiendo como tizón ,
a llevarnos, de rondón, I

al fuego del Flegetonte.

843 . jOh cuitado,


que me quemo! jAquel quemado
me quema, con gran furor!
jOh mohino emperador!
Todo me veo cercado
de penas y de pavor,

849 . que el diablo,


armado con su venablo,
y las furias infernales,
viene a castigar mis males.
Ya no sé lo que me hablo ,
con angustias tan mortales...

Valeriano: 855 . - [Oh Decio, cruel tirano!


Ya pagas , y pagará
contigo Valeria no,
porque Lorenzo cristiano
asad o nos asará .

74
832. Ai, ai! Que grande calor!
Não tenho nenhum sossego.
D écio. - Ai! Que terríveis dores!
Ai! Que ferventes ardores,
que me abrasam como fogo!

837. Oh, sofrimento!


Ai de mim! que é Plutão
que vem cio Aqueronte,
ardendo como tição,
para levar-nos, de roldão,
ao fogo do Flegetonre".

843. Oh, desventurado,


que me queimo! Aquele queimado
me queima, com grande furor!
Oh, mofino imperador!
Todo me vejo cercado
de sofrimento e de pavor,

849. que o diabo,


armado com sua lança,
e as fúrias infernais
vem castigar meus males .
Já não sei o que digo
com angústias tão mortais...

Valeriano. 855. - Oh, Décio, cruel tirano!


Já pagas , e pagará
contigo Valeriano,
porque Lourenço cristão
assado nos assará.

75
Afmbiré: 860. - To! Kasiana-p'ikó?
Kasiana nhê serã...
Xe r-oryb. Aúi é n'ipól
Kasian-amo t'a-ik ó;
a'e ré t'a-s-epenhan!

865. Quiero hacerme castellano


y usar de polida
con Decio y Valeriano,
porque el espaüol ufano
siempre guarda cortesía.

870. jOh muy alta majestad!


Beso las manos, mil veces,
de vuestra gran crueldad,
pues justicia ni verdad
guardásteis, siendo jueces.

875 . Soy mandado


por San Lorenzo quemado,
a llevaros a mi casa ,
donde sea confirmado
vuestro imperial estado
en fuego , que siempre abrasa.

881 . [Oh qué tronos , y quê camas


os tengo ya aparejadas
en mis oscuras moradas ,
de vivas y eternas llamas,
sin nunca ser apagadas!

76
Aimbirê: 860. - Oh! Estes são castelhanos?"
Castelhanos, talvez...
Eu estou alegre. Muito bem!
Hei de ser castelhano;
depo is disso, hei de atacá-los!

865. Quero fazer-me castelhano


e usar de urbanidade
com Décio e Valeriano,
porque o espanhol ufano
sempre guarda a cortesia".

870. Oh, mui alta majestade!


Beijo as mãos, mil vezes,
de vossa grande crueldade,
pois nem justiça nem verdade
guardastes, sendo juízes.

875 . Sou mandado


por São Lourenço queimado
para levar-vos a minha casa,
onde seja confirmado
vosso imperial estado
em fogo que se m p re abrasa.

881. Oh , que tronos, e que camas


vo s tenho já aparelhado
em minhas escuras moradas
de vivas e eternas chamas,
sem nunca serem apagadas!

77
Valeriano: 886. - Xe , a k ail...89
Afmbiré: - iVinist eis dei Paraguay,
que h abláis en ca rijó?"
Todas las lenguas sé y091.
E-s-epenhan , Sara üail
K ó nde mornboi-t-aba , kó!

Valeria no: 892 . - A üi é, xe iu k á iepél


Na' s-er á-i xe angaipaba ...
E-rá-te xe r-ubixabal
Saraüaia. - Aã! Xe potaba nde! I

Nde xe r-embiá-potá'-saba!

Décio: 897. - jOh miserable de mí ,


que ni basta ser tirano,
ni hablar en castellano!
iQué es dei mando en que me v i?
iQué es dei poder de mi mano?

Aimbir é: 902. - Iesús , gran Dios soberano,


que tú , traidor, perseguiste,
te dará suerte mu y triste,
entregándote en mi mano,
a quien, malvado, serviste.

907. Pues me honraste,


y siempre me contentaste
ofendiendo a Dios eterno ,
es justo que en el infierno,
pal ácio que tanto amaste,
no sientas mal el invierno ...

78
Valeria n o: 886. - Xe , a kail...
Aimb ir ê: - Vies tes d o Paraguai,
p ois fal a is e m c arijó?
Todas a s línguas sei eu .
Ataca-o, Sarauaia!
Eis tua ameaça, aqui!

Valeria no: 892. - Basta, tu me matas!


Não são muitos meus pecados ...
Mas toma, antes, meu chefe!
Sarauaia. - Não! Meu quinhão és tu!
Tu és minha presa desejada!

Décio: 897. - Oh, miserável de mim,


que nem basta ser tirano,
nem falar em castelhano!
Que é do mando em que m e vi?
Que é do poder de minha mão?

Aimbirê: 902. - Jesus, grande Deus soberano ,


que tu, traidor, pe rsegu iste,
dar-te-á sorte muito triste ,
entregando-te em minha mão
a quem, malvado, serviste.

907 . Uma ve z que me honraste,


e sempre me contentaste
ofendendo ao Deus eterno,
é justo que no inferno,
palácio que tanto amaste,
não sintas m al o invern o ...

79
913 . Porque el adio inveterado
de tu duro eorazón
no puede ser ablandado,
si no fuere martillado
eon agua dei Flegetón.

Décio: 918 . - jMirad! jQué eonsolación


para quien se está quemando!
Sumos dioses, ipara cuándo
dilatáis mi salvación,
que vivo me estoy quemando?

923 . [Ay , ay, qué mortal desmayo!


Esculapio, ino acudís?
Júpiter, ipor que dormís?
iQué es de vuestro ardiente rayo?
iQué hacéis, que no venís?

A fmbiré: 928 . - iQué decís?


iTenéis mal de priorís?
Hálloos el pulso alterado .
[Es gran dolor de costado
este mal , de que morís!
jHabéis de ser bien sangrado!

934. Días ha que esta sangria


se guardaba para vos ,
que sa ngrába is noche y dia ,
con obstinada porfía ,
a los mártires de Dios.

80
913 . Porque o ódio inveterado
de teu duro coração
não pode ser abrandado ,
se não for martelado
com água do Flegetonte.

Décio: 918. - Olhai! Que consolaçào


para quem se está queimando!
Sumos deuses, para quando
protelais minha salvação,
que, vivo, estou queimando?

923 . Ai, ai , que mortal desalento!


Esculápio", não acudis?
Júpiter, por que dormis?
Que é de vosso ardente raio?
Que fazeis , que n ão vindes?

Aimbirê: 928 . - Que dizeis?


Tens mal de pleuriz?"
Acho-vos o pulso alterado.
É uma grande dor de lado
este mal, de que morreis!
Haveis de ser bem sangrado!"

934 . Há dias que esta sangria


se reservava para vós,
que sangr~veis noite e dia ,
com obstinada porfia
os mártires de Deus.

81
939 . Mueho d eseo beber
vuestra sangre imperial.
No me lo teng áis a mal ,
que eon esto quiero ser
hombre de sangre real.

Décio: 944 - jAeatad! [Qué disparate


y donoso desvarío!
ÉeH.enme dentro de un río,
antes que el fuego me mate,
[oh dioses, en que confio!

949. lNo queréis


soeorrerme, o no podéis?
jOh malditos fementidos,
malas y descooocidos,
que tan poco os coodoléis
de quieo fuisteis tao servidos!

955 . Si pudiese dar un vuelo,


yo os iría a derrocar
de los tronos de ese dela ,
y sermeía grao consuelo,
en los fuegos os lanzar.

Aimbiré: 960 . - Paréceme que es !legada


la hora dei freoesís,
con caleotura doblada,
la cu ai será mal curada
de los dioses, que servís.

82
-------

939. Muito desejo beber


vosso sangue imperial.
Não mo leveis a mal,
que com isto quero ser
homem de sangue real.

Décio: 944. - Respeito! Que disparate


e chistoso desvario!
Lancem-me dentro de um rio,
antes que o fogo me mate,
ó deuses em que confio!

949. Não quereis


socorrer-me, ou não podeis?
Oh, malditos fementidos,
maus e desconhecidos,
que tão pouco vos condoeis
de quem fostes tão servidos!

955. Se pudesse dar um vôo,


eu vos iria derrocar
dos tronos desse céu,
e ser-me-ia grande consolo
nos fogos vos lançar.

Aimbirê: 960. - Parece-me que é chegada


a hora do frenesi,
com quentura dobrada,
a qual será mal arrefecida
pelos deuses a quem servis.

83
965. Son fieros
de los bravos caballeros
que tienen lengua y no mano,
y por eso, tan ufano,
hoy quisisteis acogeros
al romance castellano.

Saraúaia. 971. - Eso es.


Pensaba dar, de revés,
espantables cuchillazos,
mas en fio, nuestros balazos
dieron con él al través,
con muy pocos cafionazos.

977. Mas, [que de bofetonazos


les tengo luego de dar!
Los tristes, sin descansar,
a poder de tizonazos,
como perros han de aullar.

Valeriano: 982. - [Oh qué herida!


jArráocame ya esta vida,
pues mi alta condición,
contra justicia y razón,
vino a ser tan abatida,
que muero como ladrón!

Saraüaia. 988. - No es otro el galardón


que yo doy a mis criados,
sino morir ahorcados,
y después, sin remisión,
al fuego ser condenados.

84
965. São bravatas
dos bravos cavaleiros
que têm língua e não mão,
e, por isso, tão ufano,
hoje quisestes acolher-vos
ao romance castelhano".

Sarauaia. 971. - Isso é.


Pensava dar, ao contrário,
espantosas punhaladas,
mas, enfim, nossos tiros
deram nele atravessados,
com muito poucos canhonaços.

977. Mas, que bofetadas


lhes tenho logo de dar!
Os tristes, sem descansar,
a poder de tiçonadas,
como cães hão de ladrar.

Valeriano: 982. - Oh, que ferida!


Arranca-me já esta vida,
pois minha alta condição,
contra a justiça e a razão,
veio a ser tão abatida,
que morro como ladrão!

Sarauaia. 988. - Não é outro o galardão


que eu ddu a meus criados,
senão morrer enforcados,
e depois, sem remissão,
ao fogo ser condenados.

85
D écio: 993. - Ésa es pena doblada,
qu e me causa más dolor:
que yo, universal sefior,
muera muerte deshonrada
de horca, como traidor.

998. Ya si fuera peleando,


dando tajos y reveses,
piernas y brazos cortando,
como hice a los franceses ,
acabara triunfando.

Aimbiré. 1003. - Parece que estáis pensando,


poderoso emperador,
cuando, con bravo furor,
matásteis, traición armando,
Felipe, vuestro sefior.

1008. Po r cierto que me alegrá is,


y se cumplen mis deseo s ,
con los desgarros que echáis ,
po rque el fuego, en que os quemáis,
causa tales devaneos .

Décio: 1013. - Bien entiendo


que este fuego, en que me enciendo,
merece roi tiranía,
pues con tal cruel porfía
los cristianos persiguiendo ,
con fuego los destruía .

86
D écio: 993. - Essa é pena dobrada,
que me ca us a mais dor:
que eu , universal senhor,
morra morte desonrosa
de forca, como traidor.

998. Já se fosse pelejando,


dando talhos e reveses,
pernas e braços cortando,
como fiz aos franceses" ,
acabaria triunfando.

Aimbirê: 1003. - Parece que estais pensando,


poderoso imperador,
em quando, com bravo furor,
matastes, traição armando,
Felipe, vosso senhor.

1008. Por certo que me alegrais ,


e se cu m p re m meus desejos,
co m as desavenças que lançais,
porque o fogo, em que vos queimais,
causa ta is delírios.

D écio: 1013. - Bem entendo


que este fogo , em que me incendeio,
merece m inha tirania,
pois com tal cruel porfia
os cristãos perseguindo,
com fogo os destruía.

87
1019 . Mas que yo , en mi monarquía,
acabe con tal pregón,
muriendo como ladrón,
[es muy terrible agonía
y doblada confusión!

Aimbtré. 1024. - lCómo? lPedís confesión?


Pretendéis volar sin alas.
Sí, que vuestras obras malas
merecen haber perdón.
Pedidlo a la diosa Palas...

1029. O a Nero,
aquel cruel carnicero
del fiel pueblo cristiano.
Aquí está Valeriano,
vuestro leal cornpafiero.
jRecibidlo de su mano!

Décio: 1035 . - Esos amargosos chistes


y baldones,
acrecientan mis pasiones
y dolores,
con tan crueles ardores,
como de ardientes tizones.

1041 . Y con esto crecen más


estos fuegos , que padezco.
Acaba, que ya me ofrezco
en tus manos, Satanás,
y ai tormento, que merezco...

88
1019. Mas que eu, em minha monarquia,
acabe com tal pregão,
morrendo como ladrão,
é muito terrível agonia
e dobrada confusão!

Aimbirê. 1024. - Como? Pedis confissão?"


Pretendeis voar sem asas.
Sim, vossas obras más
merecem haver perdão.
Pedi-o à deusa Palas ...98

1029. ou a Nero,
aquele cruel carniceiro
do fiel povo cristão" .
Aqui está Valeriano,
vosso leal companheiro.
Recebei-o de sua mão!

Décio: 1035 . - Esses amargos chistes


e baldões
aumentam meus sofrimentos
e dores,
com tão cruéis ardores,
como os de ardentes tições.

1041 . E com isto crescem mais


estes fog0 1, que padeço.
Acaba , que já me ofereço
em tuas mãos, Satanás,
e ao tormento, que mereço...

89
Airnbiré: 1046 . - jOh, cuánto que os agradezco
esa buena voluntadl
Yo, con liberalidad,
quiero daros gran refresco
para vuestra enferrnedad,

1051. en la cueva,
donde
I
el fuego se renueva
corl ardores perennales,
donde todos vuestros males
harán sempiterna prueba I
de dolores inrnortales.

Décio: 1057. - iQué haces, Valeriano,


buen amigo?
AI cabo, serás testígo
de rni pena,
atado con la cadena
de fuego sin fin, conrnigo.

Valeriano: 1063. - [Enhoramala! Ya son horas ...


Vamos luego
de este fuego al otro fuego
eternal,
donde la llarna inrnortal
nunca nos dará sosiego.

Airnbiré: 1069 . - jSus! jAína!


[Vayan a nuestra cocina.
Saraüail
Saraüaia: - A-ikobé, n'a-ie-pe'a-i
i xuí.
T-atapynha n'o-i-aby-i,
oiei bé muru kaL.

90
Airnbirê. 1046. - Oh, quanto vos agradeço
essa boa von tad e!
Eu , com liberalidade,
quero dar-vos grande refresco
para vossa enfermidade,

1051. na cova,
onde o fogo se renova
com ardores perenais,
onde todos vossos males
haverão sempiterna prova
de dores imortais.

Décio: 1057. - Que fazes, Valeriano,


bom amigo?
Ao cabo, serás testemunha
de minha pena,
atado com a cadeia
de fogo sem fim, comigo.

Valeria no: 1063. - Em má hora! Já são horas.. .


Vamos logo
deste fogo ao outro fogo
eternal,
onde a chama imortal
nunca nos dará sossego.

Aimbirê: 1069. - Sus! Rápido!


Venham a nossa cozinha!
Sarauaia!
Sarauaia: - Aqui estou, não me afasto
deles .
As brasas não falham ;
ainda hoje os malditos queimam...

91
Décio: 1076. - Xe r-akub-eté kó mã!
Xe r-esy Lorê-ka'ê,
xe morubixaba bi ã.
ErT! Xe r-apy Tupã ,
o boiá r-epyka nh ê!

Aimbiré. 1081. - Supi é.


Ere-iuká-potar é
São Lourenço-angaturam-a.
A-iu nde r-es ê üí-pu 'arna.
O -ikobé nde arú-ara é ;
xe r-atá nde kai-a- úama .

Afogam-nos e entregam-nos a os quatro beleguins, e


cada dois levam o seu .

1087 . Pe-iori ,
pe-rasó muru , s-upi ,
iand é r-atá -p é s-apeka,
i monga'emo, i pokeka,
s-airnbé-katü-abo, s-esy,
i moiypa, i momembeka.

Ficam ambos no terreiro com as coroas dos impera-


dores nas cabeças, e diz Sarauaia:

1093. - Té! Mor-apiti-ara ixé ,


angaipaba sykyiéba,
morubixaba iep é.
A-ierok muru r-esé;
xe r-era "Ku ru ru p e b a":

92
Décio: 1076. - Ah, como estou quente aqui!
Assa-me o Lourenço tostado,
embora eu seja um re i.
Ai! Queima-me Deus,
seu servo vingando!

Aimbirê: 1081. - É verdade.


Quiseste matar mesmo
o bondoso São Lourenço.
Vim para combater-te.
Aqui está o teu danador;
meu fogo é onde queimarás.

Afogam-nos e entregam-nos aos quatro beleguins, e


cada dois levam o seu .

1087 . Vinde,
levai o s malditos, erguendo-os,
para sapeca-los em nosso fogo ,
moqueando-os, embrulhando-os,
tostando-os bem, assando-os,
cozendo-os, derretendo-os.

Ficam ambos no terreiro com as coroas dos impera-


dores nas cabeças, e diz Sarauaia:

1093. - Oh, eu sou assassino,


causa do temor aos pecados,
mesmo dos reis .
Arranco-me o nome por causa dos
[malditos;
meu nome é "Sapo Achatado"!'?'

93
1098. Anga lá ,
angalp á '-bora a-iuk á,
xe r-at á-pe s-ero 'a-ne :
apyab a , g üaibi, kunhã -ne ,
ko 'arapu kui xe r-ernbi á ,
s-eras óbo, i gü-abo pá-ne.

• Nota: O 42 ato é aberto com um texto em portug uês, no


origina l , o único de todo o auto , razão pela qual a página 96
vem em branco .

94
1098. Co mo a esses,
mat arei os q ue costumam pecar,
e m meu fogo fazendo-os cair comigo :
homens, ve lhas, mulheres,
se m p re se rão minhas presas,
levando-os, comendo-os todos,

4º ATO

Tendo o corpo de São Lourenço amortalhado e posto


na tumba, entra o Anjo, com o Temor e o Amor de Deus,
a despedir a obra, e, no cabo, acompanham o santo para
a sepultura.

Anjo: 1104. - Vendo nosso Deus benigno'?'


vossa grande devoção
que tendes, e com razão,
a Lourenço, mártir digno
de toda a veneração,

1109 . determina, p or seus rogos


e martírio singular,
a todos sempre ajudar,
para que escapeis dos fogos
em que os maus se hão de queimar.

1114 . Dois fogos trazia n'alma ,


com que as brasas resfriou ,
e no fogo , em que se assou ,
com tão g lo riosa palma,
dos tira n os triunfou .

95
1119. Um fogo foi o Temor
do bravo fogo infernal,
e, como servo leal,
por honrar a seu Senhor,
fugiu da culpa mortal.

1124. Outro foi o Amor fervente


de Jesus, que tanto amava,
que muito mais se abrasava
com esse fervor ardente
que co'o fogo, em que se assava.

1129. Estes o fizeram forte.


Com estes purificado
como ouro refinado,
padeceu tão crua morte
por Jesus, seu doce amado.

1134. Estes vos manda o Senhor


a gastar vossa frieza,
para que vossa alma acesa
de seu fogo gastador
fique cheia de pureza.

1139. Deixai-vos deles queimar


como o mártir São Lourenço,
e sereis um vivo incenso
que sempre haveis de cheirar
na corte ale Deus imenso.

97
Temor de Deus, com seu recado:

1144 . - "Peca dor,


engulles, con gran sabor,
el pecado,
í Y no te ves abogado
con tus males.'
'/Y tus heridas mortales
nol sientes, desventurado.'

1151. El infierno,
con su fuego sempiterno,
ya te espera,
si no sigues la bandera
de la cruz,
en la cual muriô fesús
para que tu muerte muera"

1158 . Dios te envía este mensaje


con amor.
A mí, que soy su Temor,
me conviene
declarar lo que contiene,
porque temas ai Senor,

Glosa e declaração do recado:

1164, Espantado estoy de ver,


pecador, tu gran sosiego.
Con tantos males hacer,
icómO vives sin temer
aquel espantoso fuego?

98
Tem or de Deus, com seu recado:

1144. - "Peca d or,


engoles, com grande gosto,
o pecado,
e não te vês afogado
com teus males!
E tuas feridas mortais
não sentes, desventurado!

1151. O inferno,
com seu fogo sempiterno,
já te espera,
se não segues a bandeira
da cruz,
na qual morreu Jesus
para que tua morte morra ."

1158 . Deus te envia esta mensagem


com amor.
A mim, que sou seu Temor,
me convém
declarar o que contém,
para que temas ao Senhor.

Glosa e declaração do recado:

1164. Espantado estou de ver,


pecador, teu grande sossego.
Ao fazeres tantos males,
como vives sem temer
aquele espantoso fogo?

99
1169. Fuego que nunca descansa,
mas siempre causa dolor,
y con su bravo furor
quita toda la esperanza
ai maldito pecador.

117 4. Pecador, l eó m o te entregas


a lo s vicios, tan sin freno?
De los cuales estás \leno,
lengu\lendo, tan a ciegas,
la culpa, eon su veneno?

1179. Veneno de maldición


tragas sin ningún temor,
y sin sentir tu dolor
la carnal delectación
engu\les, eon gran sabor.

1184. Sabor parece el pecado,


muy más dulce que la miei,
mas el infierno cruel
después te dará un bocado
más amargo que la hiel.

1189. Hiel beberás sin medida,


pecador desatinado,
tu alma en fuego encendida.
Ésta será la salida
del deleite del pecado.

100
1169. Fogo que nunca descansa,
mas sempre causa dor,
e com seu bravo furor
tira toda a esperança
ao maldito pecador.

1174. Pecador, como te entregas


aos vícios, tão sem freio,
dos quais estás cheio,
engolindo, tão às cegas,
a culpa, com seu veneno?

1179. Veneno de maldição


tragas sem nenhum temor,
e sem sentir tua dor
o carnal deleite
engoles, com grande sabor.

1184. Saboroso parece o pecado,


muito mais doce que o mel,
mas o inferno cruel
depois te dará um bocado
mais amargo que o fel.

1189. Fel beberás sem medida,


pecador desatinado,
tua alma em fogo incendiada.
Este será o final
do deleíte.do pecado.

101
- ---- --- -- --- --- ------- -- - - - - - --

1194. Del pecado que tú amas


San Lorenzo tanto huyó,
que mil penas padeció,
y quemado en unas llamas ,
por no pecar, expiró.

1199. Élla muerte no temi ó.


Tú no temes el pecado,
deli'cual te tiene ahorcado
Lucifer, que te ahogó,
iY no te ves ahogado!

1204. Ahogado por la mano


del diablo, se parti ó
Decio con Valeriano,
infiel , cruel tirano,
aI fu eg o, que mereció.

1209. Mereció tu fe la vida ,


m as con pecados mortales
la tienes casi perdida,
y tu Dios, bien sin medida ,
ofendido con tus males .

1214. Con tus males y pecados,


tu a lma de Dios ajena ,
en la infernal cadena
p agará, con los danados,
por su culpa, justa pena .

10 2
1194 . Do pecado que tu amas
São Lourenço tanto fugiu,
que mil penas padeceu,
e queimado nas chamas,
por não pecar, expirou.

1199. Ele a morte não temeu.


Tu não temes o pecado,
do' qual te tem enforcado
Lúcifer, que te afogou,
e não te vês afogado!

1204. Afogado pela mão


do diabo, partiu-se
Décio com Valeriano,
infiel, cruel tirano,
ao fogo, que mereceu .

1209. Mereceu tua fé a vida,


mas com pecados mortais
a tens quase perdida,
e teu Deus, bem sem medida,
tens ofendido com teus males .

1214. Com teus males e pecados,


tua alma, de Deus alheia,
na infernal cadeia
pagará, com os danados,
por sua culpa, justa pena.

103
1219. Pena sin fin te darán
en los fuegos infernales
tus deleites sensuales.
Tus tormentos doblarán,
Y tus heridas mortales.

1224. Mortales son tus heridas.


Pecador, lPor qué no Horas?
lNo ves que, con tus demoras,
todas están corrompidas,
Y cada dia empeoras?

1229. Empeoras y te finas,


mas tu peligroso estado,
la priesa y grande cuidado,
con que ai infierno caminas,
ino sientes, desventurado?

1234. iOh descuido intolerable


de tu vida!
Está tu alma hundida
en el lodo,
y tú reíste de todo,
iY no sientes tu caída!

1240. jOh traidor!


que niegas tu Creador,
Dios eterno,
que se hizo nino tierno
por salvarte,
Y tú quieres condenarte,
iY no temes el infierno!

104
1219. Pena sem fim dar-te-ão,
nos fogos infernais,
teus deleites sensuais .
Teus tormentos dobrarão
e tuas feridas mortais.

1224. Mortais são tuas feridas.


Pecador, por que não choras?
Não vês que, com tuas demoras,
todas estão corrompidas
e cada dia pioras?

1229. Pioras e te findas,


mas teu perigoso estado,
a pressa e o grande cuidado
com que ao inferno caminhas
não sentes, desventurado?

1234. Oh, descuido intolerável


de tua vida!
Está tua alma fundida
no lodo,
e tu ris de tudo,
e não sentes tua queda!

1240. Oh, traidor!


que negas teu Criador,
Deus eterno,
I .
que se f ez -meruno terno
para salvar-te,
e tu queres condenar-te,
e não temes o inferno!

105
1247. iOh inse nsible !
tNo s ie nt es aquel terribl e
es panto , que cau sará
el juez, cua ndo vendr á ,
con carran ca muy horrib le,
y la muert e te dará,

1253. Y tuI ánima será


sepult ada en el ínfiern o,
donde muert e no tendrá ,
mas viva se quema rá,
co n su fuego sempi terno?

1258. jOh perdid o!


Allí serás consu mido,
sin nunca te consu mir.
Allí vida sin vivir,
allí lloro y gran aullido ,
allí rnuerte sin morír.

1264. Planto se rá tu re ír,


tu comer, hambr e muy fiera ,
tu beber, sed sin manera ,
tu sueão , nunca dormi r,
todo esto ya te espera .

1269 . jO h mohin o!
pues que verás, de contin o,
al horren do Lucifer,
sin nunca llegar a ver
aquel consp ecto d ivino,
de quien tienes todo ser,

106
1247. O h , insensível!
Não sentes aq uele terrível
espan to, qu e causará
o juiz, quando vier,
com carranca muito horrível,
e a morte te dará,

1253 . e tua alma será


sepultada no inferno,
onde morte não terá ,
mas viva queimar-se-á,
com seu fogo sempiterno?

1258. Oh, perdido!


Ali serás consumido,
sem nunca te consumir.
Ali, vida sem viver,
ali, choro e grande aulido,
ali, morte sem morrer.

1264. Pranto será o teu rir,


teu comer, fome muito feroz ,
teu beber, sede sem limite,
teu sono, nunca dormir,
tudo isto já te espera.

1269. Oh, mofino!


pois que verás, continuamente,
o horrendo Lúcifer,
sem nunca chegar a ver
aquele conspecto divino,
de quem te ns to do o ser,

107
1275 . acaba ya de temer
a Dias, que siemp re te espera ,
corrie ndo por su carrera ,
pues no puede s suyo ser,
si no sigues la bande ra.

1280. iHomb re loco!


Si tu corazó n ya toco,
múden se tus alegría s
en tristez as y agonía s.
jMira que te falta poco
p ara fenece r tus días!

1286. No peque s más contra aquél


que te ganó vida y luz
con su muert e tan cruel,
bebien do vinagr e y hiel,
en el árbol de la cruz.

1291. jOh malvad o!


ÉI murió crucif icado,
siendo Dias , por te salvar,
pues, iqué puede s espera r,
si t ú eres el culpad o,
y no cesas de pecar?

1297. Tú lo ofende s, él te ama.


ÉI ciega por darte luz.
Tú, mala, [pisas la cruz,
aquell a tan dura cama,
en la cual murió Jesus!

108
1275. acaba já por temer
a Deus, que sempre te espera,
correndo por sua carreira,
pois não podes ser seu
se não segues a bandeira.

1280. Homem louco!


Se teu coração já toco,
mudem-se tuas alegrias
em tristezas e agonias.
Olha que te falta pouco
para fenecerem teus dias!

1286. Não peques mais contra aquele


que te ofereceu vida e luz
com sua morte tão cruel,
bebendo vinagre e fel,
na árvore da cruz.

1291. Oh, malvado!


Ele morreu crucificado,
sendo Deus, para te salvar,
pois, que podes esperar,
se tu és o culpado,
e não cessas de pecar?

1297. Tu o ofendes, ele te ama.


Ele cega para te dar luz.
Tu, mau , pisas a cruz,
aquela tão dura cama ,
na qual morreu Jesus!

109
1302. jHombre cíegol
tPor qué no comienzas luego
a llorar por tu pecado?
~y tomar por abogado
a Lorenzo, que en el fuego ,
por ]esús rnurió quemado?

1308. Teme a Dios, juez tremendo


ent'esta hora postrera,
a solo ]esús viviendo,
pues dia su vida muríendo
para que tu muerte muera.

Amor de Deus, com seu recado:

1313. - "Ama a Dias, que te creô,


ibombre, de Dios muy amado!
A ma, con todo cuidado
a quien primero te amó.

1317 . Su propio bijo entregó


a rnuerte, por te salvar.
lQué más le podia dar,
pues, cuanto tiene, te dia?"

1321. Por mandado dei Senor


te dije lo que has oído.
Abre todo tu sentido,
porque yo, que soy su Amor,
sea en ti bien imprimido.

110
1302. Homem cego!
Por que não começas logo
a cho rar por teu pecado,
e a tomar por advogado
a Lourenço, que, no fogo,
por Jesus morreu queimado?

1308 . Teme a Deus, juiz tremendo


nesta hora final,
só com Jesus vivendo,
pois deu sua vida, morrendo,
para que tua morte morra.

Amor de Deus, com seu recado:

1313 . - (~ma a Deus, que te criou,


homem, de Deus muito amado!
Ama, com todo cuidado
a quem primeiro te amou.

1317. Seu próprio filho entregou


à morte, para te salvar.
Que mais lhe podia dar,
pois, quanto tem, te deu?"

1321. A mando do Senhor


te disse o que tens ouvido.
Abre todo teu sentido,
para que eu, que sou seu Amor,
esteja em ti bem gravado.

111
Glosa e declaração do recado:

1326. Todas las cosas creadas


conocen su Creador.
Todas le tienen amor,
porque de él son conservadas
cada cual en su vigor.

1331. Pues con tanta perfección


su sapiencia te formó
hombre capaz de razón,
ide todo tu corazón
ama a Dias, que te creó!

1336. Si amas la criatura


por te parecer hermosa,
aquella vista graciosa
de la misma hermosura,
ama sobre toda cosa.

1341. De su divina lindeza


debes ser enamorado.
Sea tu ánima presa
de aquella suma belleza,
[hombre, de Dias muy amado!

1346. Aborrece todo el mal,


con despecho y gran desdén.
Y, pues eres racional,
abraza a Dias inmortal,
sumo, solo y todo bien.

112
Glosa e declaração do recado:

1326. Todas as coisas criadas


conhecem seu Criador.
Todas lhe têm amor,
porque por ele são conservadas
cada qual em seu vigor.

1331. Pois, com tanta perfeição


sua sapiência te formou
homem capaz de razão,
de todo teu coração
ama a Deus, que te criou!

1336. Se amas a criatura


por te parecer formosa,
aquela vista graciosa
da mesma formosura
ama sobre toda coisa.

1341. De sua divina lindeza


deves ser enamorado.
Seja tua alma presa
daquela suma beleza,
homem, de Deus muito amado!

1346. Aborrece todo o mal,


com despeito e grande desdém.
E, pois és tacional,
abraça a Deus imortal,
sumo, único e todo bem.

113
1351. Este abismo de hartura ,
que nunca será agotado,
esta fuerite viva y pura ,
este río de dulzura ,
ama con todo cuidado.

1356 . Antes que crease nada,


ya l'il suma majestad
te tenía vida dada,
y tu ánima abrazada
con eterna caridad.

1361. Por hacerte todo suyo,


con su amor te cautivó,
y, pues todo te lo dia,
da tú todo el amor tuyo
a quien primero te amó.

1366 . Dióte ánima inmortal


y capaz de Dias inrnenso,
para que fueses suspenso
en él , aquel bien eternal,
que es sin fín, y sin comienzo.

1371. Después que en muerte caíste,


otra vez vida te dia.
Porque salir no pudiste
de la culpa, a quien te diste,
su propio hijo entregó.

114
1351. Este ab ismo de fartura,
que nunca se rá es go tado,
es ta fo n te viva e pura,
este rio d e doçura ,
ama com todo o cuidado.

1356 . Antes que criasse algo,


já a suma majestade
tinha-te dado vida,
e tua alma abraçado
com eterna caridade.

1361. Para fazer-te todo seu,


com seu amor te cativou ,
e, pois todo to deu,
dá tu todo o amor teu
a quem primeiro te amou.

1366. Deu-te alma imo rtal


e capaz de Deus imenso ,
para que fosses suspenso
nele, aq uele bem eternal ,
que é sem fim e se m começo.

1371. Depois que em morte caíste,


outra vez vida te deu.
Porque sair não pudeste
da culpa, a que te deste,
seu próprio filho entregou.

115
1376. Entrególo por esclavo,
quiso que fuese vendido,
para que t ú, redimido
dei poder dei león bravo,
fueses siempre agradecido.

1381. Porque tú no mueras, muere


con amor muy singular.
Pues, jcuá n to debes amar
a Dias, que entregarse quiere
a muerte, por te salvar!

1386. El Hijo , que el Padre dia,


su Padre te da por padre,
y su grada te infundió,
y cuando en la cruz murió,
su madre te dia por madre.

1391. Diote fe con esperanza,


a si mismo por manjar,
para en s i te transformar
en su bienaventuranza.
iQue más te podía dar?

1396. En pago de todo esta,


joh dichoso pecador!
pide sólo tu amor.
Mete , pues, todo tu resto,
por ganar a tal Sefior.

116
1376. Entregou-o por escravo,
quis que fosse vendido,
para que tu, redimido
do poder do leão bravo,
fosses sempre agradecido.

1381. Para que tu não morras, morre


com amor muito singular.
Quanto, pois, deves amar
a Deus, que entregar-se quer
à morte, para te salvar!

1386. O Filho, que o Pai deu,


seu Pai te dá por pai,
e sua graça te infundiu,
e, quando na cruz morreu,
sua mãe te deu por mãe.

1391. Deu-te fé com esperança,


a si mesmo por manjar,
para em si te transformar
em sua bem-aventurança.
Que mais te podia dar?

1396. Em paga de tudo isto,


ó ditoso pecador,
pede só teu amor.
Põe, pois, tudo o que te resta,
para ganhar a tal Senhor.

117
1401. Da tu vida por los bienes
que su muerte te ganó.
Suyo eres, tuyo no.
Dale todo cuanto tienes,
pues, cuanto tiene , te dio.

Despedida
,
1406. Alzad, mis hermanos, los ojos ai cielo.
Veréis a Lorenzo reinando con Dios,
al rey de los reyes rogando por vos,
que estáis celebrando su fiesta en el
Isuelo.

1410. De aquí por delante tened grande


[celo,
que sea Dios siempre temido y
[amado,
y mártir tan santo, de todos honrado.
Tendréis sus favores y dulce
lconsuelo.

1414 . Y, pues celebráis, con tanta afición,


su claro martirio, tomad mi consejo:
su vida y virtudes tened por espejo,
lIamándolo siempre con gran
[devoción.

1418. Por sus oraciones habréis el perdón,


y dei enemigo, perfecta victoria.
Después de la muerte veréis, en la
[gloria ,
la cara divina, con clara visión.

Laus Deo

118
- - - - - _ . ._ - ------------------- ------

1401. Dá tua vida pelos bens


que sua morte te fez ganhar.
Seu és, teu não.
Dá-lhe tudo quanto tens,
pois, quanto tem, te deu.

Despedida

1406. Alçai, meus irmãos, os olhos ao céu.


Vereis Lourenço reinando com Deus,
ao rei dos reis rogando por vós,
que estais celebrando sua festa na
[terra.

1410. Daqui por diante tende grande zelo,


que seja Deus sempre temido e
[amado,
e mártir tão santo, de todos honrado.
Tereis seus favores e doce consolo.

1414. E, pois celebrais com tanto


[entusiasmo
seu claro martírio, tornai meu
[conselho:
sua vida e virtudes tende por espelho,
chamando-o sempre com grande
[devoção.

1418. Por suas orações havereis o perdão,


e, do inimigo, perfeita vitória.
Depois da morte vereis, na glória,
o rosto divino, com clara visão.

Laus Deo

119
Dança, que sefez na procissão de São Lourenço, d e
doze meninos:

1422. Kó oro-ik ó oro-nhe-rnborypa


nde 'ara momorang-á'-pe.
T'o-u , nde ieruré-sá'-pe,
Tupã oré moorypa,
o-pytábo oré py'a -pe.

1427. Oro-ierobi â nde ri,


São Lourenço-angaturama.
E-s-arõ oré r-etarna
oré sumarã suí.

1431. T'oro-iryk oré poxy ,


paié r-erobiar-e 'yma,
moraseia , mbyryryrna,
karaí-monhanga ndi .

1435 . Tupã r-erobtá '-katu


ode py'a suí nd 'o-ir-i.
T'oro-g ú-erobi á, nde pyr-i,
iandé r-ub-eté , Íe su ,

1439. Oré 'anga t'o-io-su ,


s-ek ó-poxy mosasãia,
Nde abé, i moesãia ,
Íesu ír ü-rno t-ere-lu .

120
Dança, que se fez na procissão de São Lourenço, de
doze meninos:

1422. Aqui estamos alegrando-nos


por festejar teu dia.
Que venha, por teus pedidos,
Deus para nos fazer felizes,
ficando em nossos corações.

1427. Confiamos em ti,


São Lourenço bondoso.
Guarda nossa terra
de nossos inimigos.

1431. Que lancemos fora nossa maldade,


não acreditando nos pajés,
em danças, rodopios
com feitiços .

1435. A boa crença em Deus


de teu coração não se desprendeu.
Que acreditemos, junto a ti,
em nosso pai verdadeiro, Jesus.

1439. Que nossa alma ele visite,


seus vícios dispersando.
Tu também', alegrando-a,
com Jesus venhas.

121
1443. Tvynys ê Tupã r-a üsuba
nde nhy'ã- rne erimba 'e.
Evrna'ê oré r-es él
T'oro- s-aüsu iandé r-uba,
iandé monha ng-ar- eté .

1448. Ere-s -apiá Íand é Iara,


i nhe'en ga mopó pá.
E-tort , oré r-aüsu bâ ,
t'oro-i -morn orang kó 'ara,
nde r-ekó- porang a r-á.

1453. S-upi bé ere-m ornbú eirâ


mara'a -bora, s-obas apa.
Nde r-a 'yra i mara'a ,
Anhan ga r-ekó potá.
E-toei-no, i momb üeirap a!

1458 . Íandé Iara mornb egú-ab o,


t-e 'õ ere-i-p orará.
T'oré pyatã, angá ,
mba'e -asy porará bo
Tupan a r-esê , nde Iá.

1463. O-syk yté nde suí


Anhan ga, nde moaba etébo .
E-toei i rnosyk yiébo,
t'o-ik ó urnê oka r-up í
oré Ca nga mong uébo.

1468 . Tupã momb urü -ar-eté


t-atá pupé nde r-esyr-i .
Opá nde r-eté r-aír-i
itati ãia pupé .

122
...

1443. Abundava o amor de Deus


em teu coração outrora.
Olha para nós!
Que amemos nosso pai,
nosso verdadeiro criador.

1448. Obedeceste a Nosso Senhor,


suas palavras cumprindo todas.
Vem para se compadecer de nós ,
para que festejemos este dia,
assumindo teu belo proceder.

1453. Como ele também curaste


os doentes, benzendo-os.
Teus filhos estão doentes,
querendo a lei do diabo.
Vem, novamente, para curá-los.

1458. Confessando a Nosso Senhor,


a morte sofreste.
Que sej amos corajosos, sim,
suportando as coisas dolorosas
por causa de Deus, como tu .

1463. Tem medo de ti


o diabo, irando-te.
Vem para amedrontá-lo,
para que não esteja pelas casas
para afrouxar nossas almas.

1468. Verdadeiros amaldiçoadores de Deus


no fogo te assaram.
Todo o teu corpo riscaram
com lanças.

123
1472. T'oro- iase'o mern ê,
Pa 'i Tupã r-epia k-a 'upa.
T'o-ur kó 'a ra pupé
oré 'anga moaku pa.

1476. Ovryry, nde iuká ré,


Tupã sumar ã reiá .
E-Iori oré r-ekyia ,
t'oro-i k ó nde ypy-p e nhê,
oré sumar ã mondy ia.

1481. Nde iuk á-sar-ü era o-só


o-kaia Anhan ga r-atá-p e.
Endé, Tupã r-oryp -á '-pe
aüiera rna nhê ere-ikó .

1485. Nde iabé , r'oro-s -aüsu


Pa 'i Tupã oré nhy'ã-rne.
T 'oro-g ü-erek ó , s-etã'- me,
nde pyr-i, t-ek ó-puku ,

1489. Oré r-erek ó-ar-et é,


nde pó-pe oré 'a nga r-u -í';
oro-by 'a nde resé.
Oré r-aOsu bá iepé ,
oré r-ekob é puku-i .

FINIS

12 4
1472. Choremos sempre,
tendo saudades do Senhor Deus.
Que venha neste dia
para aquecer nossa alma .

1476. Tremem, após te matarem,


os reis inimigos de Deus.
Vem para nos arrebatar,
para que estejamos perto de ti,
nossos inimigos espantando.

1481. Os que te mataram foram


para queimar no fogo do diabo.
Tu, no paraíso
para sempre estás.

1485. Como tu, que amemos


o Senhor Deus em nossos corações .
Que tenhamos, em sua terra,
junto de ti, a vida eterna.

1489. Nosso guardião verdadeiro,


em tuas mãos nossa alma está;
a ti apegamo-nos.
Tem tu compaixão de nós ,
durante nossa vida.

FIM

125

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