Você está na página 1de 2

R.S.I.: “O nó borromeano me caiu como um anel no dedo”.

Quarto capítulo (30-37): JORGE,


M. A. C.; FERREIRA, N. P. Lacan o grande freudiano. Rio de Janeiro: Jorger Zahar Ed.,
2005.

“Um único homem, Lacan, inspirando-se nas ciências de seu tempo — a lingüística, a
antropologia estrutural e a matemática —, revê a obra de Freud com uma nova lente e
descobre implícitos nela três registros heterogêneos que constituem o aparelho psíquico:
R.S.I.” (p.31)

“É o real, sob a forma de buraco, nomeado metaforicamente em seminários anteriores ao


R.S.I. como o nada que antecede o aparecimento de toda a vida , que é recalcado

(recalque original) para que haja a inscrição de um significante, dando origem ao sintoma

do homem — S(A/) — como ser falante. E o que foi recalcado para que o sintoma possa ter

sido constituído retorna nele sob a forma de uma falta que não cessa de não se escrever.
[...]O real é o que ex-siste assim como o simbólico é o que insiste e o imaginário é o que faz
consistência.” (p.32).

“O simbólico corresponde ás relações entre inconsciente e linguagem, demonstradas,


principalmente, nos textos sobre os sonhos, os chistes e a psicopatologia da vida cotidiana [...]
O imaginário compreende toda a abordagem freudina sobre o narcisismo, introduzida desde
1911, inicialmente no Caso Schreber, depois em “ Sobre o Narcisismo: uma introdução”, e
em “Luto e melancolia”. O real está ligado àquele segmento voltado ás questões da
diferença sexual – abordadas desde Três ensaios sobre a teoria da sexualidade, “As
pulsões e suas vicissitudes” e nos textos em que interroga o feminino e o que quer uma
mulher - introduzidos em 1920, em Mais-além do princípio do prazer e retomados em
inúmeros artigos.” (p.32).

“A realidade é constituída por uma trama simbólico-imaginário, ao passo que o real é


precisamente aquilo que não pode ser representado nem por palavras nem por imagens: ao
real falta representação psíquica.” (p32.)
“O recalque (Verdrängung) originário se articula com o real sob a forma de furo no
imaginário. Ou seja, no princípio não existe nada. Então no lugar desse nada primordial é
colocada alguma coisa: o Nome-do-Pai sob forma de não, ou seja, como Lei.[...] A renegação
ou desmentido (Verleugnung) é um mecanismo que se caracteriza pelo sim e pelo não
simultâneos. Justamente por isso, a divisão (clivagem) incide de modo radical sobre o próprio
sujeito e não entre o eu e o sujeito, como no recalque. [...] A foraclusão (Verwefung)
psicótica é um não radical dado à Lei, Nome-do-Pai, de modo a não permitir a simbolização
do real, sob a forma de furo. Dito de outro modo, o não do recalque originário é um não que
tem um sim - a Bejahun, a afirmação primordial - que lhe é correlativo; já a foraclusão é
primário. O não do recalque é secundário, ao passo que o não da foraclusão é primário.[...] A
denegação (Verneinung) [...] representa uma primeira fase do processo de desrecalcamento,
pois o sujeito consegue chegar a enunciar o desejo, mas apenas sob o preço de negá-lo.[...]
Freud formula que a partícula da negativa é uma espécie de marca registrada do recalque
(como um Made in Germany, diz ele)” (p.33-35)

Você também pode gostar