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Mat grong (Canaus) EX-OFFICIO Jim MacNeill (Canads) cOMISsAO. ee 1 a AJ apna Au cop : COMISSAO MUNDIAL SOBRE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO 2 NOSSO FUTURO COMUM 2edigo / at ‘we Editora da Fundagio Getulio Vargas ' Rio de Janeiro, RJ — 1991 2, EM BUSCA DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL (© desenvolvimento sustentével € aquele que atende bs necessida- des do presente sem comprometer a possibilidade de as geray6es futuras atenderem a suas proprias necessidades. Ele contém dois ‘conceitos-chave: © 0 conceito de ““necessidades”, sobretudo as necessidades essen- coals dos pobres do mundo, que devem receber a méxima priori- dade; s ‘© a nogo das limitagées que o estfgio da tecnologia ¢ da organi- ‘zagio social impe 0 meio ambiente, impedindo-o de atender 4s sho. 2.1 0 CONCEITO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL ‘Satisfazer as necessidades e as aspiragdes humanas € o principal ‘ebjetivo do desenvolvimento. Nos paises em desenvolvimento, as necessidades bésicas de grande nimero de pessoas — alimento, roupas, Labitagio, emprego — ndo estio sendo alcndidas. Além ‘deasas necessidades bisicas, as pessoas também aspiram legiti- rr mamente a uma melhor qualidade de vida, Num mundo onde a recursos, 0 padrio de vida se elevari mais devagar nas ércas ‘onde existe privacSo, A questio nio é apenas 0 tamanho da po- pplacéo, mas também a distnbuicéo dos recursos: portanto, 0 de- ‘senvolvimento sustentive 1 56 pode ser buscado se a evoluco de- ‘mogrifica se harmonizar com © potencial produtivo cambiante do ecossistema. 'Hé muitas maneiras de uma sociedade se tomar menos capaz de atender no futuro Bs necessidades bAsicas de seus membros rE por todos continua sendo um desafio para todos os que estio ‘empenhados no proceso de desenvolvimento.”” ‘Making common cause US. Based development, environment, population NGOS ‘Avdiéncia piblica da CMMAD, Ottawa, 26-27 de maio de 1986 da intervencéo humana nos sistemas naturais durante o desenvol- ae dricos e as perdas genéticas. Em geral, nio é preciso esgotar 0s recursos renovaveis, como florestas © peixes, desde que sejam ites de regeneracdo ¢ crescimento natural. méxima sustentével. ‘No tocante a recursos ndo-renovéveis, como minerais ¢ com- bustiveis f6sseis, 0 uso reduz a quantidade de que disporo as futuras geragées. Isto no quer dizer que esses recursos nfo de- vam ser usados. Mas os nfveis de uso devem levar em conta a disponibilidade do recurso, de tecnologias que minimizem seu es- uma vez extintas, no se renovam. A extincdo de espécies vege- tais e animais pode limitar muito as opcdes das geracées futuras; ‘cursos. As matérias-primas © a energia usadas nos processos de produgo s6 em parte se convertem em produtos tteis. O resto se 2.2 EQUIDADE E INTERESSE COMUM Descrevemos 0 desenvolvimento sustentével em termos gerais, (Como persuadir as pessoas ou fazé-las agir no interesse comum? “0 SESE hn ne ee lee een ree Excessiva porque as pessoas que nela vivem ou nfo tém alternati- Sas ou so em geral menos influentes que os negociantes de ma- deira. ‘As interagées ecol6gicas néo respeitam as fronteiras da pro- priedade individual e da jurisdigao politica. Logo: © Numa bacia fluvi im agricultor cujas terras se situem na en- ‘0s praguicidas ¢ os fertilizantes utili- © A gua quente que uma usina térmica despeja num rio ou num trecho de mar afeta a pesca na regio. fébrica determina 0 indice de quimicos nocivos, afetando assim técnicas. ‘A interdependéncia local aumentou, quando ‘na manut muito, devido & ffatura modemas. 50 “Se os deserios estéo se expandindo, as florastas desaparecendo ¢ a desnutricdo aumentando, se as condigdes de vida dos habi- fantes de dreas urbanas estéo piorando, ndo é devido a falta de recursos, mas ao tipo de politicas adotadas por nossos dirigen- tes, pelos grupos de elite. A negagdo dos direitos e dos interesses das pessoas estd nos levando a wma situacdo na qual sé a pobre- Depoimento de um participante Audiéncia pGblica da CMMAD, Nair6bi, 23 de setembro de 1986 ee lagéo rigorosa em matéria de responsabilidades podem controlar efeitos globais e regionais da poluigio, como os que se verificam ‘em mais de 200 bacias fluviais internacionais e em grande niimero de mares. A imposiglo do interesse comum € muitas vezes prejudicada porque as dreas de jurisdi¢lo politica néo coincidem com as éreas de impacto. As politicas energéticas de uma icfo causa 1 duo agucareira, mas também a economia ¢ a ecologia de varios imento que dependem muito desse produto. uscar o interesse comum se houvesse, para todos os problemas ligados ao desenvolvimento e ao meio am- biente, solugées que deixassem a todos em melhor situagdo. Isto raramente ocorre, e em geral h4 quem ganhe e quem perca. Mui- tos problemas derivam de desigualdades no acesso aos recursos. Uma estrutura ndo-eqiiitativa de propriedade da terra pode levar & exploragao excessiva dos recursos das propriedades menores, com danosos tanto para 0 meio ambiente quanto para o desen- volvimerto. No plano internacional, 0 controle monopolisticp dos recursos pode levar os que deles nao partilham a explotar €xces- sivamente os recursos marginais. Outra manifestacao do acesso igua! aos recursos € 0 fato de os explotadores terem uma pos- lade maior ou menor para dispor dos bens “livres”, seja no regional, nacional ou internacional. Entre os que saem per- dendo nos conflitos desenvolvimento/meio ambiente esto os que sofrem mais com os prejufzos que a poluigéo causa & satide, propriedade e ao ecossistema. ‘Quando um sistema se aproxima de seus limites ecoldgicos, as desigualdades se acentuam. Assim, quando uma bacia fluvial se deteriora, os agricultores pobres sofrem mais porque nao podem adotar as mesmas medidas antieroséo que os agricultores ricos adotam. Quando se deteriora a qualidade do ar nas cidades, os pobres, que vivem em Areas mais vulnerdveis, tm a satide mais prejudicada que os ricos, que geralmente vivem em lugares mais protegidos. Quando os recursos minerais escassciam, os retardaté- Tios do processo de industrializagao € que perdem os beneficios dos suprimentos baratos. Globalmente, as nagGes mais ricas esto em situago melhor, do ponto de vista financeiro e tecnolégico, para lidar com os efeitos de,uma possfvel mudanca climética. Portanto, nossa dificuldade para promover o interesse comum no desenvolvimento sustent4vel provém com freqiéncia do fato de nfo se ter buscado adequadamente a justiga econémica e social dentro das nagées ¢ entre elas. . 2.3 IMPERATIVOS ESTRATEGICOS E preciso que o mundo crie logo estratégias que permitam as na- ges substituir seus atuais processos de crescimento, freqiiente- mente destrutivos, pelo desenvolvimento sustentvel. Para tanto € necessSrio que todos os pafses modifiquem suas polfticas, tanto em relagéo a seu préprio desenvolvimento q\ em relagao aos impactos que poderfo exercer sobre as possibilidades de desen- 52 volvimento de outras nagées. (Este capitulo trata das estratégias nacionais. A reorientagao nas relagdes econdmicas internacionais € abordada no capftulo 3.) Os principais objetivos das mentistas que derivam do con vel sao, entre outros, os seguint fomar 0 crescimento; a qualidade do desenvolvimento; ler &s necessidades essenciais de emprego, alimentagho, , Agua € saneamento; © manter um nfvel populacional sustent4vel; © conservar e melhorar a base de recursos; ' ientar a tecnologia e administrar 0 risco; luir 0 meio ambiente e a economia no processo de tomada de decisées. : ae Ifticas ambientais e desenvolvi. to de desenvolvimento sustent 2.3.1 Retomando o crescimento Como jé assinalamos, o desenvolvimento sustentével tem de lidar com 0 problema do grande ntimero de pessoas que vivem na po-i breza absoluta, ou seja, que nao conseguem satisfazer sequer suas’ necessidades mais basicas. A pobreza reduz a capacidade das Pessoas para usar os recursos de modo sustentdvel, levando-as a exercer maior presséo sobre 0 meio ambiente. A maioria dos po- bres absolutos vive nos pafses em desenvolvimento; em muitos deles, essa pobreza foi agravada pela estagnagio econémica dos anos 80. Uma condicao necesséria, mas néo suficiente, para a eliminagao da pobreza absoluta é 0 aumento relativamente répido das rendas per capita no Terceiro Mundo. Portanto, é essencial inverter as atuais tendéncias de estagnacao ou declinio do cresci- mento. a ‘As taxas de crescimento poderao variar, mas € necessério um nfvel mfnimo para causar algum impacto sobre a pobreza absolu- ta. Considerando todos esses pafses, parece improvavel atingir ¢s- ses objetivos se 0 crescimento da renda per capita for inferior a 34. (Ver box 2.1.) Dados os atuais indices de crescimento popu lacional, seria necessério um crescimento global da renda nacio- nal de cerca de 5% ao ano nas economias em desenvolvimento da Asia, de 5,5% na América Latina e de 6% na Africa ¢ na Asia ocidental. Serd possfvel chegar a essas cifras? O desempenho da Asia meridional e oriental nos tltimos 25 anos, principalmente no ul- timo qilingdénio, sugere que a maioria dos pafses pode chegar a cae sclmento anual de 5%, inclusive os dois maiores, India e China. Na América Latina, foram obtidas taxas médias de cresci- 53 Box 2.1 Crescimento, redistribuigéo e pobreza A pobreza € 0 nivel de renda abaixo do qual uma pessoa ou uma familia no € capaz de atender regularmente 2s necessi- dades da vida. A percentagem da populagio que se situa ‘ abaixo desse nfvel depende da renda nacional per capita e « resposta diferird de pats para pais, mas € possivel aprender muito examinando-se um caso t{pico. gual metade da populagso pobreza e a distribuicto da renda familiar seja a se- Consideremos uma nacbo na viva na guinte: um quinto das famflias detém 50% da renda total; outro quinto detém 20%, outro 14%, outro 9%, € 0 Gltimo quinto apenas 7%. E exatamente isto 0 que acontece em muitos paises em desenvolvimento de baixa renda. Neste caso, se a distribuicho de renda no se alterar, seré preciso que a'renda nacional per capita dobre para que indice de pobreza caia de 50 para 10%, Se houver uma dir tribuigéo de renda que favoreca os pobres, essa redug’o po- de se dar mais depressa. Consideremos a ponsibilidade de ntal daquele um quinto da popu- 2 g sf i presse. rico sejam igualmente distribu(dos acs hipsteses de redistribuicSo refletem tres critérios. imeiro, na maioria das situactes as politicas de redistri- 5 fe 2 bientais. Mas enses paises fazem parte de uma economia mundial “ interdependente, € suas perspectivas dependem também dos niveis € dos padres de crescimento das nucbes industrializadas, A pers M do modo como ela é distribuida. Com que rapidez. um pals.ir.» em desenvolvimento espera eliminar a pobreza absoluta? A , - © Para que 0 indice de pobreza caia de 50 para 10%, 0 tem po necessirio serd:. © de 18 a 24 anos se a renda per capita crescer 7% 20 sno, + @ de 26 a 36 anos se crescer 2% a0 ano; tribuigao. ‘Assim, se a renda nacional per capita crescer apenas 1% 20 ano, 56 quando o préximo século estiver bem adiantado pectiva de crescimento a médio prazo dos patses industrializados € de 3-4%, 0 minimo considerado necess4riv pelas instituigbes fi- nanceiras internacionais para que esses palses participem da ex- panslo da economia mundial. Tais indices de crescimento podem ser sustentaveis do ponto de vista ambiental se as naées indus- trializadas continuarem a orientar seu crescimento pasa atividades que consumam menos cnergia € matérias-primas, € a usar de mo- do cada vez mais eficiente extas dltimas, Mas & medida que as nacées industrializades usam menos ma- e crescimento do Terceiro Mundo. . 5 Em imimeros pafses em desenvolvimento, porém, os mercados so muito pequenos; e todos estes pafses precisarao de um grande crescimento das exportagées, sobretudo de itens ndo-tradicionais, para financiar ss importagées, cuja demanda viré com o cresci- mento répido, como veremos no capitulo 3. 2.3.2 Mudando a qualidade do crescimento O desenvolvimento sustent4vel € mais que crescimento. Ele exige uma mudanga no teor do crescimento, a fim de tor intensivo de matérias-primas e energia, ¢ mais eqiiitativo em seu impacto. Tais mudancas precisam ocorrer em todos os pafses, co- mo parte de um pacote de medidas para manter a reserva de capi- tal ecoldgico, melhorar a distribuigdo de renda e reduzir o grau de vulnerabilidade as crises econémicas. © processo de desenvolvimento econémico deve basear-se mais firmemente na realidade da reserva de capital que o mantém, coisa que raramente ocorre, seja nos pafses desenvolvidos, seja naqueles em desenvolvimento. A renda derivada de operagdes florestais, por exemplo, é convencionalmente medida em termos do valor da madeira ¢ de outros produtos extrafdos, deduzidos os custos da extracdo. Nao se levam em conta os custos de regenerar a floresta, a ndo ser que realmente se gaste dinheiro com isso. As- sim, os lucros advindos das operagdes com madeira quase nunca levam plenamente em conta as futuras perdas de renda decorren- tes da deterioracao da floresta. Também no caso da exploracao de outros recursos naturais ~ sobretudo os que nao so capitalizados em contas nacionais ou de empresas, como ar, Agua e solo — veri- ilidade incompleta. Em todos os imento econdmico tem de le- a deterioracao da reserva de recursos naturais em sua mensuraco do crescimento. A distribuigéo de renda € um dos aspectos da qualidade do crescimento, como foi dito anteriormente, ¢ o crescimento répido aliado & mé distribuicao de renda pode ser pior do que um cres- introdugdo da agricultura comercial em grande es receita com rapidez, mas também pode desalojar agricultores e tomar mais injusta a distribuicdo de renda. A longo prazo, pode ndo ser uma estratégia vidvel, pois empobrece muita gente © aumenta a pressao sobre a base de recursos naturai diante a supercomerci dos agricultores de su incia. Dar preferéncia ao cultivo em 56 “Talvez pela primeira vez na histéria, as pessoas tém nocdo de sua pobreza relativa e também vontade de sair dela e melhorar sua qualidade de vida. A medida que progridem materialmente, € comem € vivem melhor, 0 que antes era um luxo passa a ser visto como wna necessidade. O resultado é que a demanda de ali- mento, matérias-primas e energia aumenta em grau ainda maior que a populacdo. A medida que a demanda aumenta, exige-se cada vez mais da drea finita do mundo, a fim de que produza aquilo de que se necessita.”” Dr. LP. Garbuchev Academia Biilgara de Ciéncias Audiéncia piblica da CMMAD, Moscou, 11 de dezembro de 1986 pequenas propriedades pode proporcionar resultados mais lentos no principio, mas a longo prazo pode ser mais vidvel. Se 0 desenvolvimento econémico aumenta a vulnerabilidade as crises, ele € insustentdvel. Uma seca pode obrigar os agricultores a sacrificarem animais que seriam necessdrios para manter a pro- do mercado € acumulando reservas, sobretudo de alimentos e divisas. O desenvolvimento que aliar crescimento ¢ menor vulnerabilidade seré mais sustentével que 0 que nfo 0 fizer. Mas néo basta ampliar a gama das varidveis econémicas a se- rem consideradas. Para haver sustentabilidade, € preciso uma vi- sdo das necessidades e do bem-estar humano que incorpora varié- veis nfo-econdmicas como educacao e satide, Agua e ar puros, ea protegSo de belezas naturais. Também € preciso eliminar as limi- tacdes de grupos menos favorecidos, muitos dos quais vivem em reas ecologicamente vulnerdveis, como € 0 caso de muitos gru- pos tribais que habitam florestas, dos némades do deserto, de grupos que vivem em montanhas isoladas, e das populagées indf- genas das Américas ¢ da Australfsia. Para mudar a qualidade do crescimento € necessério mudar nosso enfoque do esforco desenvolvimentista, de modo a levar em conta todos os seus efeitos. Por exemplo, um projeto hidrelétrico no pode ser encarado simplesmente como um modo de produzir mais eletricidade; seus efeitos sobre 0 meio ambiente e sobre o 37 meio de vida da comunidade local devem constar de todos os ba- langos. Assim, abandonar 0 projeto de uma hidrelét prejudicaria um sistema ecolégico raro pode ser uma vor do progresso € nao um retrocesso no desenvolvime! até ser que, em alguns casos, as consideracées de sustentabilidade Jevem ao abandono de atividades economicamente ‘atraentes a curto prazo, O desenvolvimento econémico € 0 desenvolvimento social po- dem e devem apoiar-se mutuamente. O dinheiro empregado em ‘educagio e satide pode aumentar a produtividade dos individuos, O desenvolvimento econémico pode acelerar o desenvolvimento social fornecendo oportunidades a grupos menos favorecidos ou disseminando a educacio com mais rapidez. 2.3.3 Atendendo as necessidades humanas essenciais fagdo das necessidades e aspirages humanas um objeti- vo to 6bvio da atividade produtiva que pode parecer redundante falar de seu papel central no conceito de desenvolvimento sus- tentdvel. Muitas vezes a pobreza é tanta que as pessoas no con- seguem satisfazer suas necessidades de sobrevivéncia ¢ bem-es- tar, mesmo quando hé bens e servicos dispontveis, Ao mesmo tempo; as demandas dos que no sio obras podem ter conse- cada vez maior do mundo . ipal € © sustento, ou seja, 0 emprego. Entre 1985 ¢ 2000, a forca de trabalho nos paises em desenvolvimento aumentard em cerca de 900 milhdes de pessoas, com 0 que terao de ser criadas novas oportunidades de sustento para 60 milhdes de pessoas por ano.) E preciso que o ritmo ¢ 0 padrao do desenvolvimento econ6mico criem oportunidades de trabalho sustentdveis nessa escala e num nivel de produtividade que permita as famflias pobres viverem dentro dos padrées mini- mos de consumo. E preciso haver mais alimento nao s6 para alimentar um ntime- ro maior de pessoas, mas também para combater a subnutricio. Para que cada pessoa, no mundo em desenvolvimento, coma tanto quanto cada pessoa no mumdo industilizado, pot volta do ano 2000, € preciso que haja um aumento de 5% em calorias € 5,8% em protefnas na Africa; de 3,4 e 4%, respectivamente, na Améri- ca Latina; e de 3,5 €'4,5% na Asia. Cereais ¢ amidos sio as fontes bésicas de calorias; as protefnas so obtidas principalmente de produtos como leite, carne, peixe, legumes e sementes oleagi- nosas. 38 Kennedy Njiro Aluno da Escola Politécnica do Quénia Audigncia pblica da CMMAD, Nair6bi, 23 de setembro de 1986 Atualmente precisamos nos concentrar nos alimentos bésicos, se aumentar em muito o indice de disponibilidade de protefna, Isto € especialmente dificil na Africa, devido ao recente declinio da produgéo per capita de alimentos e as atuais dificuldades de crescimento. Na Asia e na América Latina, parece mais facil che- gar aos indices mais altos de consumo de calorias e protefnas. Mas 0 aumento da produgio de alimentos néo deve basear-se em politicas de producdo ecologicamente invigveis, nem comprome- ter as perspectivas de seguranca alimentar a longo prazo. A energia € outra necessidade humana essencial que nio pode ser universalmente atendida a menos que se alterem os padrées de consumo. O problema mais urgente diz respeito as necessidades das familias pobres do Terceiro Mundo, que dependem basica- mente de lenha. Na virada do século, 3 milhdes de pessoas pode- rio estar vivendo em reas onde a madeira € cortada mais depres- sa do que pode crescer, ou onde hi escassez de leu... 7 As medi- muito longe ¢ também a preservar a base ecolégica. Na maioria dos pafses em desenvolvimento, as necessidades mfnimas de combustfvel vegetal para cozinhar parecem ser d: ordem de 250kg do equivalente em carvéo per capita por ano Isto repre- Senta apenas uma fragio do consumo familiar de enegia nos pal- ses industrializados. ‘As necessidades interligadas de habitagio, abastecimento de figua, saneamento e servicos médicos também so importantes no que se-refere 20 meio ambiente. As deficiéncias nessas Sreas sho muitas vezes manifestagSes evidentes de desgaste ambiental. No ‘Terceiro Mundo, o fato de nfo se ter conseguido atender a cssas necessidades bésicas € uma das principais causas de varias doen- 59 des ameagam agravar esses problemss. Os planejadores precisam valorizar mais 0 espfrito de iniciativa das comunidades € 0 uso de tecnologias baratas. 2.3.4 Mantendo um nfvel populacional sustentavel A sustentabilidade do desenvolvimento est4 diretamente ligada & ~dinamica do crescimento populacional. Mas a questéo nao € sim- plesmente © tamanho da populacéo do mundo. Uma crianga nas- vimento sustentével quando o tamanho da populacio se ¢: ‘num nivel coerente com a capacidade produtiva do ecossistema. chegando a um crescimento populacional zero. A populagdo total do mundo industrializado pode aumentar dos atuais 1,2 bilhio pa- ra cerca de 1,4 bilhdo em 2025.8 ‘A maior parte do aumento da populacio global ocorreré nos pafses em desenvolvimento; neles, a populagao que era de 3,7 bilhGes em 1985 pode chegar a 6,8 bilhdes em 2025.9 O Terceiro Mundo néo tem a opgéo de migrar para terras “novas”, ¢ 0 tempo de que dispée para se ajustar € muito menor que © que tiveram os paises industrializados. Assim, € preciso baixar rapidamente os indices de crescimento populacional, sobretudo em regiées como a Africa, onde esses indices esto se elevando. O declinio das taxas de natalidade nos paises industrializados deveu-se em grande parte ao desenvolvimento econémico € so- cial. Os nfveis cada vez mais altos de renda e urbanizac&o, assim como © novo papel das mulheres, tiveram grande importincia. Processos semelhantes estio ocorrendo agora nos paises em de- senvolvimento, Eles devem ser reconhecidos estimulados. As polfticas populacionais devem integrar-se a outros programas de desenvolvimento econémico € social — educagao das mulheres, atendimento médico © expanséo dos meios de sustento dos po- bres. Mas o tempo 6 escasso, ¢ os pafses em desenvolvimento também terfio de adotar medidas diretas para reduzir a fecundida- de, a fim de nao ultrapassarem de modo radical seu potencial pro- dutivo capaz de sustentar suas populacées. Na verdade, o acesso maior aos servicos de planejamento familiar € em si mesmo uma cy forma de desenvolvimento social que dé aos casais, e principal- mente as mulheres, o direito de autodeterminacao. O crescimento populacional nos paises em desenvolvimento continuard distribufdo de forma desigual entre as éreas urbanas € rurais. Segundo projegées da ONU, na primeira década do proxi- 90% do aumento, no mundo em desenvolvimento, ocorrerd nas reas urbanas, cuja populaglo deverd passar de 1,15 bilhdo para 3,85 bilhdes em 2025.!0 O aumento serd especialmente aéentuado na Africa, e em menor grau na Asia. As cidades dos paises em desenvolvimento esto crescendo tio depressa que as autoridades nfo tém como lidar com o problema. Faltam habitacées, égua, saneamento ¢ transporte de massa. Uma proporgéo cada vez maior de habiiantes das cidades vive em ha- bitacdes miserdveis e corticos, exposta muitas vezes & poluigdo do are da 4gua, bem como a riscos naturais e industriais. A deterio- racdo deve piorar, pois o maior crescimento urbano se darf nas cidades maiores. Assim, se o ritmo do crescimento populacional diminuir, quem mais lucrar& serao as cidades, que se tomarso mais féceis de administrar. A propria urbanizagéo € parte do processo de desenvolvimen- to. A questo € controlar 0 processo de modo a evitar uma séria— deterioragéo da qualidade de vida. Por isso & preciso estimular a criac&o de centros urbanos menores, a fim de reduzir as pressoes sobre as grandes cidades. Para solucionar a iminente crise urbana, hd que estimular os pobres a criarem seus préprios servicos urba- nos € construfrem suas prdprias casas, e também encarar de modo mais positivo 0 papel do setor informal, concedendo-lhe fundos suficientes para o abastecimento de 4gua, 0 saneamento ¢ outros servigos... : 5 ee 2.3.5 Conservando e melhorando a base de recursos Se quisermos atender as necessidades numa base sustentével; a base de recursos naturais da Terra tem de ser conservada e melho- rada, Serio necessérias amplas reformas de politicas para fazer face aos altos niveis de consumo que hoje se verificam no mundo industrializado, aos aumentos de consumo indispenséveis 20 , atendimento de padrées minimos nos pafses em desenvolvimento € A expectativa de crescimento populacional. Mas a conservacio da nafureza nao deve ser vista apenas como um dos objetivos do desenvolvimento. Eas ete denotes ceeds see Fs os demais seres vivos e as futuras geracées.,, 61 Le A pressio sobre os recursos aumenta quando as pessoas ficam sem alternativas. As politicas de desenvolvimento devem dar mais opgées para que as pessoas disponham de um meio de vida sus- tent4vel sobretudo no caso de familias com poucos recursos e de 4reas onde existe desgaste ecolégico. Numa regiao montanhosa, por exemplo, pode-se aliar o interesse econémico e a ecologia ajudando os agricultores a trocarem as safras de graos pelas cultu- ras arbéreas; para isso é preciso dar-Ihes conselhos, equipamento e assisténcia mercadolégica. Os programas para proteger as rendas de agricultores, pescado- Tes € silvicultores contra as quedas de prego a curto prazo podem diminuir sua necessidade de explorar excessivamente os recur- ‘Sos. A conservaco dos recursos agricolas € tarefa urgente porque em muitas partes do mundo os cultivos j4 se estenderam as terras marginais, e a pesca e a silvicultura foram exploradas excessiva- mente. Tais recursos devem ser conservados ¢ melhorados para atender as necessidades de populacées cada vez maiores. O uso da terra na agricultura e na silvicultura deve basear-se numa ava- liagdo cient{fica da capacidade da terra, e o esgotamento anual do solo arfvei ¢ dos recursos pesqueiros ¢ florestais nao deve ultra- passar 0 {ndice de regeneracao. As pressées que a lavoura e a pecudria exercem sobre a terra agricult4vel podem ser em parte aliviadas se a produtividade au- mentar. Mas melhorar a produtividade de modo imprevidente e a curto prazo pode provocar diversas formas de desgaste ecoldgico, como a perda de diversidade genética dos cultivos permanentes, a salinizago e a alcalizagéo das terras irrigadas, a poluigao por ni- trato das 4guas subterrdneas e os res{duos de praguicidas nos ali- mentos. Existem opgées mais benignas do ponto de vista ecoldgi- co. Os futuros aumentos de produtividade, tanto nos pafses em desenvolvimento como nos desenvolvidos, deveriam basear-se num uso mais bem controlado de 4gua e agroquimicos, e também no uso mais extensivo de adubos organicos e praguicidas n4o- quimicos. Essas alternativas s6 podem ser estimuladas por uma politica agricola que se bascie nas realidades ecolégicas. (Ver ca- pftulo 5.) ' No tocante & pesca e a silvicultura tropical, dependemos muito da exploracdo das reservas naturais disponiveis. E bem possfvel que a produtividade sustent4vel dessas reservas seja insuficiente para atender & demanda. Nesse caso, ser4 preciso adotar métodos que produzam mais peixe, lenha e produtos florestais sob condi- ges controladas. Podem ser estimulados os substitutos de lenha. Os limites extremos do desenvolvimento glo! vez sejam determinados pela disponibilidade de recursos energéticos e pela 62 “Trabalho com seringueiras na Amazénia e estou aqui - lar da floresia tropical. a ee Vivemos dessa floresta que querem destruir, E queremos aproveitar esta oportunidade, quando tantas pessoas estdo aqui reunidas com o mesmo objetivo de defender nosso habitat, de conservar a floresta, a floresta tropical. Na minha drea, extratmos da floresta cerca de 14 ou 15 pro- dutos nativos, além das outras atividades que exercemos. Acho que isso deveria ser preservado. Pois nao é sé com gado, pasta- gens € estradas que conseguiremos o desenvolvimento da Ama- Quando eles pensam em derrubar drvores, sempre pensam em construir estradas, e as estradas, trazem a destruigdo sob a mds- cara do progresso. Vamos colocar esse progresso onde as terras jd foram desmatadas, onde falta mao-de-obra, onde’ & preciso achar trabatho para as pessoas, e onde é preciso fazer a cidade crescer. Mas deixemos os que querem viver na floresta, que que- rem manté-la tal como é. Nao trouxe nada escrito. Néo trouxe nada que tenha sido pre- Parado em algum escritério. Isto nao é filosofia. E apenas a ver- dade, porque isso é 0 que nossa vida é.”” Jaime da Silva Araijo a Associagdo Nacional dos Seringueiros Audiéncia piblica da CMMAD, Sao Paulo, 28-29 de outubro de 1985 capacidade da’ biosfera de absorver os subprodutos do uso de energia.!1 Esses limites energéticos podem ser atingidos muito mais depressa do que os limites impostos por outros recursos ma- teriais. Primeiro, h4 problemas de abastecimento: o esgotamento ~ das reservas de petrdleo, 0 alto custo ¢ o impacto ambiental da mineragao de carvao, e os riscos da tecnologia nuclear. Segundo, h4 problemas de emisséo, especialmente a poluigio dcida e o acimulo de didxido de carbono, que causam 0 aquecimento da Terra. E possfvel resolver alguns desses problemas’usando-se mais os recursos energéticos renovaveis. Mas a exploracao de fontes re- novaveis, como lenha e energia hidrelétrica, também pode trazer problemas ecoldgicos. Por isso, a sustentabilidade requer uma én- fase maior na conservacio ¢ no uso eficiente de energia. Os pafses industrializados precisam reconhecer que seu con- sumo de energia est poluindo a biosfera e diminuindo as reservas jf escassas de combustivel féssil. Foi poss tar um pouco 0 ‘consumo devido @ melhorias recentes na eficiéncia energética ¢ 63 a0 estimulo a setores menos energia-intensivos. Mas € preciso rar 0 proceso, a fim de reduzir 0 consumo per capita © ¢5~ ra busca de fontes ¢ tecnologias ndo-poluentes. Nao é vid- m desejével, que 0 mundo em desenvolvimento simples- mente adote os mesmos padrées de consumo de energia dos paf- ses industrializados. Uma mudanca desses padrées para melhor requer novas politicas de desenvolvimento urbano, localizagéo de indvstrias, planejamento habitacional ¢ sistemas de transporte, bem como a seleco de tecnologias agricolas e industriais. Os problemas de suprimento de recursos minerais néo-com- bustfveis aparentemente sio menores. Segundo estudos anteriores a 1980, que supunham uma demanda exponenci crescente, © problema s6 surgiria no decorrer do préximo século.'2 Desde entio, 0 consumo mundial da maioria dos metais_permaneceu quase 0 mesmo, o que leva a crer que os minerais nao-combust!- veis s6 se esgotarfo num prazo ainda mais longo. A histéria do nérios, para dar aos exportadores uma participacdo maior no valor adicionado do uso de minerais, ¢ a melhoria do acesso dos pafses em desenvolvimento as reservas de minerais & medida que sua demanda aumente. A prevencio e a reduco da poluicdo do ar e da 4gua continua- rio sendo um ponto critico da conservagao de recursos. A quali- dade do ar e da gua € ameacada pelo uso de fer guicidas, despejos urbanos, queima de combu: de alguns produtos quimicos e varias outras Tudo isso € capaz de aumentar substar Ivimento. Limpar o que todos os paises preci- ‘sam prever e evitar problemas de poluicao, e para tanto podem, por exemplo, buscar padrées de emisséo que levem em conta os efeitos a longo prazo, estimular as tecnologias que deixem poucos rejeitos e prever o impacto de novos produtos, tecnologias e re- jeitos. 2.3.6 Reorientando a tecnologia e administrando o risco Para alcangar esses objetivos, seré preciso reorientar a tecnologi: = 0 vinculo-chave entre os seres humanos ¢ a natureza. 1 capacidade de inovacéo tecnolégica precisa ser muito ampli nos pafses em desenvolvimento, a fim de que eles possam reagi de modo mais eficaz aos desafios do desenvolvimento sustenté- 6 vel. Segundo, é preciso alterar a orientago do desenvolvimento tecnolégicg, de modo a conceder maior ateng&o aos fatores am- bientais. ‘As tecnologias dos paises industrializados nem sempre sio adequadas ou féceis de adaptar as condigées s6cio-econdmicas € ambientais dos pafses em desenvolvimento. Para aumentar 0 pro- blema, a maior parte da pesquisa do desenvolvimento no mundo dé pouca atencdo as questées prementes que esses pafses enfren- tam, como a agricultura em terras dridas ¢ o controle de doencas tropicais. Nao se est fazendo tudo o que € necessério para adap- tar as necessidades dos pafses em desenvolvimento as, recentes inovacées nos campos de tecnologia de materiais, conservagao de energia, informacdo tecnoldgica e biotecnologia. Tais lacunas precisam ser preenchidas por maior incentivo & pesquisa, ao pla- Aejamento, a0 desenvolvimento € a especializagio no Terceiro Mundo. Em todos os pafses, as preocupagées com os recursos ambien- tais deveriam nortear os processos de invengao de tecnologias al- temativas, de aperfeicoamento das tradicionais, ¢ de escolha ¢ adaptagéo de tecnologias importadas. A parte da pesquisa tecnoldgica feita por organizacdes comerciais dedica-se a criar € processar inovagdes que tenham valor de mercado. O que € ne- cessfrio so tecnologias que produzam “bens sociais”, como melhor qualidade do ar ou produtos mais durdveis, ou entéo que solucionem problemas que geralmente ndo entram nos cflculos das empresas, como os custos extemnos da poluicéo ou da destina- 80 dos residuos. ; considerar mais plenamente os fatores tecnologias por elas desenvolvidas. (Ver capitulo 8.) As institui- es de pesquisa mantidas com verbas piblicas também precisam receber tal orientagao, ¢ os objetivos do desenvolvimento susten- tdvel € da proteco ambiental deveriam constar das atribuigdes das instituigdes que atuam em éreas ecologicamente sensiveis. A criagéo de tecnologias mais adequadas ao meio ambiente esté diretamente ligada a questdes de administragéo de riscos. Sistemas como reatores nucleares, redes de distribuicao de eletri- cidade e outros servicos, sistemas de comunizacao e de transporte dos que ultrapassem determinado limite. dosamente as vulnerabilidades da implementagao de tecnologias € as deficiéncias que jf apresentaram, ¢ se se adotarem padrées de 65 Serr esIe ns sem “Os povos indfgenas sdo a base do que, em minha opinido. pode ser chamado de o sistema de seguranca do meio ambiente. So- mos re: is pelo sucesso ou fracasso em poupar nossos re- cursos. Para muitos de nds, contudo, houve nos iiltimos séculos uma substancial perda de controle sobre nossas terras ¢ dguas. Ainda somos os primeiros a tomar conhecimento das mudangas do meio ambiente, mas agora somos os iiltimos a serem ouvidos ou consultados. Somos os primeiros a perceber quando as florestas estdo sen- do ameacadas, jd que a economia deste pats faz delas o que bem entende. E somos os iiltimos a opinar sobre o futuro de nossas florestas. Somos 0s primeiros a sentir a poluicdo de nossas ‘Gguas, como podem atestar os povos Ojibway das terras em que nasci, no norte de Ontdrio. E, evidentemente, somos os tltimos a serem consultados sobre como, quando e onde deveriam ser to- ‘madas medidas para assegurar a harmonia para a sétima gera- ao. O imdximo que aprendemos a esperar € ser compensados, sempre muito tarde e com muito pouco. Raramente somos cha- mados a contribuir com nossa experiéncia e nosso consentimento para o desenvolvimento no sentido de evitar a necessidade de ‘sermos compensados.”” ~ Louis Bruyere Presidente do Conselho Nativo do Canadé Audiéncia pablica da CMMAD, Ottawa, 26-27 de maio de 1986 ee atividade manufatureira e planos de contingéncia para as opera- ‘g6es, as conseqiéncias de uma falha ou de um acidente podem ser senvolvimentistas recat pouca ou nenhuma influéncia sobre estas decis6es. H4 pois que levar em conta seus interesses. Sao necessdrios mecanismos ins- titucionais de Ambito nacional e internacional para avaliar os im- pactos potenciais de novas tecnologias, antes que elas se tornem 66 ““A meu ver, as questées aqui apresentadas sto muito amplas é vocés podem ter ou ndo ter respostas para elas. Mas o fato de ouvirem tudo o que foi aqui exposto pode ao menos dar-lhes uma nogiio dos problemas. Vocés podem ndo ter as respostas nem cs soluges, mas po- dem sugerir meios de resolver esses problemas fazendo sugestbes questéo ligada ao desenvolvimento. ‘Acho que a tinica coisa que aqui estamos ouvindo ou esperan- do & talvez a seguinte: que em tudo 0 que diga respeito ao desen- volvimento sejam ouvidas e consultadas as pessoas envolvidas. Se isso for feito, estard dado ao menos o primeiro passo para a solucdo do problema."” Redator-chefe de Prisma ‘Audiéncia péblica da CMMAD, Jacarta, 26 de marco de 1985 amplamente difundidas, de modo a garantir que sua produgfo, seu uso € seus resfduos nfo desgastem excessivamente os recursos do meio ambiente, Tais disposigées séo necessfrias sempre que haja intervengées de monta nos sistemas naturais, como desvio de cur- sos de rios ou derrubada de florestas. Além disso, € preciso refor- ar as compensagées pelos danos involuntérios, Ps 2.3.7 Incluindo o meio ambiente e a economia no processo de decisio O tema comum a essa estratégia do desenvolvimento sustentavel € a necessidade de incluir consideragées' ecoitémicas ¢ ecolégicas preciso mudar atitudes e objetivos ¢ chegar a novas disposigées institucionais em todos os nfveis. ‘As preocupagSes econémicas ¢ as ecolégicas nfo se opéem necessariamente. As politicas que conservam a qualidade das ter- ras agricultéveis e protegem as florestas melhoram as perspectivas 1a longo prazo de desenvolvimento agricola. Maior eficiéncia no uso de matérias-primas e energia pode servir a objetivos ecolégi- cos, mas também pode reduzir 0s custos. Muitas vezes, porém, a 6 compatibilidade entre os objetivos ambientais e econémicos fica perdida quando se busca o ganho individual ou de algum grupo, sem dar grande importancia ao impacto que isto pode causar aos ‘outros, acreditando-se cegamente que. a ciéncia encontraré solu- {ges ¢ ignorando-se as conseqiiéncias que poderso ter num futuro distante as decisbes fomadas hoje. niente das institui- oladamente vinculos intersetoriais. A agricultura moderna quantidades de energia produzida comercialmente ¢ também de Produtos industriais. Ao mesmo tempo, o vinculo mais tradi = 0 fato de a agricultura ser fonte de matérias-primas diistria — esté se desfazendo devido ao uso cada vez jgacdes intersetoriais criam contextos de interdependén- © ecolégica que raramente se refletem no modo volvimento industrial, agronomia e comércio exterior. Muitos dos problemas de meio ambiente ¢ de desenvolvimento com que nos defrontamos originam-se dessa fragmentagio setorial de respon- sabilidades. Para haver desenvolvimento sustentavel, é preciso que tal fragmentacio seja superada. A susentabilidade requer responsabilidades mais amplas para seu contexto social apropriado d4 margem a medidas mais espe- cfficas. A lei, por si s6, nfio pode impor o interesse comum. Este re- quer principalmente a conscientizago ¢ 0 apoio da comunidade, 68 ae “Nao foi muito dificil juntar 0 lobby ambiental do Norte € ficam superadas. * ‘Na verdade, existe no conceito de desenvolvimento sustentével tena comunhio politica de interesses entre o Norte ¢ 0 Sul que ode servir como ponto de partida.”” Richard Sandbrook Instituto Internacional para o Meio Ambiente ¢ o Desenvolvimento ‘Audiéncia pblica da CMMAD, Oslo, 24-25 de junho de.1985 © que implica maior participacdo publica nas decisdes que afetam + © meio ambiente. O melhor modo de se conseguir isso & descen- tralizar a administracdo dos recursos de que dependem as comu- nidades locais, dando-Ihes voz ativa no tocante ao uso desses re- cursos. Também € preciso estimular as iniciativas dos cidadios, dar mais poderes s organizagées populares ¢ fortalecer a demo- cracia local.!3 Alguns projetos de grande escala, contudo, demandam partici- pacio numa base diferente. Pesquisas € audiéncias pblicas sobre | posto tem grande impacto sobre o meio ambiente, 0 caso deve ser obrigatoriamente submetido ao escrutinio publico e, sempre que possivel, a decisio deveria ser submetida 8 aprovagso publica, talver por melo de referendo, o Também é preciso haver mudangas nas atitudes e nos procedi- mentos das empresas tanto puiblicas quanto privadas. Além disso, 2 regulamentagio referente a0 meio ambiente tem de ir além,das costumeiras regulamentag6es de seguranca, leis de zoneamento € de controle da poluicéo; os objetivos ligados ao meio ambiente devem estar embutidos na tributacio, na aprovacio prévia de in- vestimentos ¢ escolha de tecnologias, nos incentivos ao comércio exterior, enfim, em todos os componentes das politicas de desen- volvimento. E necessério harmonizar em nfvel internacional a integragao de fatores econémicos € ecolégicos nos sistemas legal ¢ devisério dos pafses. O aumento do consumo de combustfvel © matérias- primas toma mais estreitos os vinculos fisicos entre os ecossiste- mas de diferentes pafses. Também aumentam as interagdes econ6- micas mediante 0 comércio, o financiamento, o investimento ¢ 0 intercdmbio, intensificando assim a interdependéncia econdmica ecolégica. No futuro, talvez mais que agora, o desenvolvimento sustentdvel vai exigir a unificagdo da economia e da ecologia nas relac6es internacionais, como veremos no préximo capftulo. 2.4 CONCLUSAO Em seu sentido mais amplo, a estratégia do desenvolvimento sus- tentével visa a promover a harmonia entre os seres humanos € entre a humanidade e a natureza. No contexto especifico das cri- ses do desenvolvimento e do meio ambiente surgidas nos anos 80 — que as atuais instituigées polfticas e econdmicas nacionais ¢ in- ternacionais ainda nfo conseguiram ¢ talvez no consigam supe- rar ~a busca do desenvolvimento sustent4vel requer: ‘© um sistema politico que assegure a efetiva participagio dos ci- dadaos no processo decisério; © um sistema econémico capaz de gerar excedentes e know. how técnico em bases confidveis e constantes; * © um sistema social que possa resolver as tensdes causadas por um desenvolvimento nfo-equilibrado; © um sistema de produgdo que respeite a obrigagio de preservar a + base ecolégica do desenvolvimento; co sistema tecnolégico que busque constantemente novas solu- © um sistema internacional que estimule padrées sustentaveis de comércio e financiamento; © um sistema administrativo flexivel e capaz de autocorrigir-se. - Estes sequisitos_tém_antes.ocaréter de objetivos que devem. inspirar a agio nacional ¢ internacional para o desenvolvimento. 0 a te importante que esses obje ; since dade e que os eventuais desvios sejam corrigidos com eficiéncia. Notas 1 UNCTAD. Handbook of international trade and development statistics 1985 supplement. New York, 1985. 2 Ibid. ig 3 Department of International Economic and Social Affairs (Diesa).Dou- bling development finance; meeting a global challenge, views and recom mendations of the Committee for Development Planning. New York, United Nations, 1986. : 4 Um exemplo de uma decisio como essa de abandonar um projeto de de- senvolvimento no interesse da conservagio ambiental € a interrupg80 do Yearbook 1984. Rome, 1985) € em projegées demogréficas do Diesa (World population prospects estimates and projections as assessed in 1984. New York, United Nations, 1986.) 7 FAO. Fuelwood supplies in the developing countries. Rome, 1983. (Fo- restry Paper n. 42.) 8 Diesa. World population prospects... Cit. 9 Ibid. 10 Ibid. 11 Hafele, W. & Sassin, W. Resources and endowments, an outline of fu- ture energy systems, In: Hemily, P.W. & Ozcas, M.N., ed. Science and {future choice. Oxford, Clarendon Press, 1979. 12 Ver, por exemplo: OECD. Interfutures; facing the future. Paris, 1979; Council on Environmental Quality and US Department of State. The Glo- bal 2000 report to the president, entering the twenty-first century, the te- chaical report ‘Washington, D.C,, US Government Printing Office, 1980. v 13 Ver: For municipal initiative and citizen power. In: Inderena. La cam- aha verde y las concejos verdes. Bogot4, Colombia, 1985. 73 tivos sejam buscados com sinceri-

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