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TEXTO 7 DE LEITURA - Trecho inicial do capítulo V (p.

223-269) da obra:

NEVES, M.H.M. Texto e gramática. São Paulo: Contexto, 2018 [2006].

[O trecho aqui transcrito vai da p.223 à página 227 da obra publicada, – com cortes).

V - CONECTAR SIGNIFICADOS.
Ou: A FORMAÇÃO DE ENUNCIADOS COMPLEXOS.*

Introdução

Em Halliday e Hasan (1976), fica assentada a noção de que conjunção (ou junção)
é processo textual (coesivo): é uma relação semântica (difícil de definir em termos claros)
pela qual se especifica a conexão que existe entre o que vem depois e o que vem antes em
um enunciado (p. 227), conexão que abrange os mais diversos tipos de estruturação de
superfície. Trata-se, na verdade, de um conjunto de relações semânticas entre orações,
entre complexos oracionais, entre trechos de texto, explicitados por um sem número de
expedientes, não apenas pelos elementos ditos ‘conjuntivos’, como as conjunções.
Elementos conjuntivos que ocorram não são, segundo Halliday e Hasan (1976), coesivos
por si mesmos, mas apenas de forma indireta, em virtude de o seu significado pressupor
a presença de outros elementos no discurso. Essas relações ocorrem ligadas a formas
estruturais até bastante gerais: por exemplo, numa predicação, o amarramento temporal
ou o amarramento causal pode ser marcado por um advérbio (como nos dois primeiros
trechos a seguir) mas pode também ser marcado pelo próprio verbo (como nos dois
últimos trechos a seguir):

 E os dois meteram-se pelo atalho juncado de muricis florando. Pouco depois,


deixavam de ouvir os gritos lancinantes de Sinhá Andresa. (ALE)
 Na variedade magnesiana, o processo é mais lento e, consequentemente, a
produção de calor é menor, assim como o aumento de volume. (MCO)
 Houve um acordo entre o Estado – que dizia que os consumidores foram
enganados – e a fábrica de flocos de aveia. Seguiu-se um megaestudo financiado pela
Quaker, analisando todas as pesquisas pró e contra o uso de aveia. (FSP)1

*Este capítulo reúne reflexões e aproveita trechos de Neves (2004b; 2003c; 2001b; 2000d; 1998; 1985).
1
Outras (con)junções de tempo possíveis seriam, por exemplo, de formas como: um megaestudo sucedeu
ao acordo; em seguida houve um megaestudo; depois disso houve um megaestudo; após o acordo houve
um megaestudo; depois que se firmou o acordo fez-se um megaestudo; firmado o acordo, houve um
megaestudo.
 A exuberância daquela saudação, violentando a serenidade do ambiente da casa
do fazendeiro, causou certa surpresa a Jenner. (ALE)

Halliday e Hasan (1976) classificam, de um modo bem geral, quatro tipos de


conjunção / junção: aditiva (incluindo alternativa), adversativa, causal (incluindo razão,
propósito, consequência, resultado, etc.) e temporal. Consideram que essas mesmas
quatro relações se estabelecem tanto no conteúdo do que está sendo dito (maior ligação
com a função experiencial da linguagem) como no desenvolvimento da argumentação
(maior ligação com a função interpessoal da linguagem).
Nas frases seguintes, são expressão de relação temporal quanto ao conteúdo os
advérbios e as formas verbais em negrito que, em diferentes níveis estruturais (entre
sintagmas, entre orações, entre frases completas), em diferentes ordens, em diferentes
distâncias, ocorrem nos seguintes trechos:

 Foi intuição, creio. Os anos iriam dizer que havia um anjo protetor a impelir
Carlito para outros amores prematuros. Primeiro, uma italianinha cujo pai sapateiro
acabou milionário. Logo a seguir uma pequenina alemã de sardas que hoje dirige uma
confeitaria em Vila Mariana. Pouco depois (ele tinha 14 anos) uma normalista
gorduchinha que já me deu três netos. (BH)

[....]

Nos trechos que vêm a seguir, observa-se, no papel dos elementos destacados em
caixa-alta, a marcação de relações temporais no desenvolvimento da argumentação, casos
que envolvem apenas porções superiores da organização estrutural do enunciado
(orações, frases), e nos quais está presente mais diretamente a marca do falante sobre a
situação, com escolha mais acentuada de papéis discursivos e de canais retóricos.

[....]
 No contexto editorial de hoje, tal êxito é surpreendente. EM PRIMEIRO LUGAR, não
se tratava exatamente de novidade: já os antigos gregos falavam de melancolia. DEPOIS,
não é um texto exatamente curto. (SAT)
 Quem quiser estudar medicina deve estar atento para o seguinte: PRIMEIRO, deve
considerar o efeito das estações do ano sobre a pessoa. DEPOIS, deve estudar os ventos,
quentes e frios, tanto os da região como um todo como os de uma localidade em
particular. (APA)
Orientação para a atividade

1. Invocando Halliday e Hasan (1976) o texto assenta a noção de que “conjunção


(ou junção) como processo textual, ou seja, como processo que se resolve no nível do
texto (operando na ‘coesão’ do texto). Então, ou autores não estão falando simplesmente
de ‘orações’ aditivas, adversativas, temporais e causais dentro da oração, eles estão
falando do processo da (con)junção visto no nível mais amplo (macro) do TEXTO.

E, como vem mostrado no meu trecho transcrito, os autores classificam, de um


modo bem geral, quatro tipos de conjunção / junção TEXTUAL:

- aditiva (incluindo alternativa),

- adversativa,

- causal (incluindo razão, propósito, consequência, resultado, etc.)

- e temporal.

Mas as ocorrências que são apresentadas no meu texto se limitam a 2 desses tipos
de (con)junção: a temporal e a causal. Então, agora cabe a você encontrar 2 ocorrências
(reais) de cada um dos outros 2 tipos de junção / conjunção TEXTUAL (não interna à
frase): a aditiva e a alternativa.

2. Traga suas dúvidas e questionamentos.

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