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Abreu Etal 2017
Abreu Etal 2017
Palavras chaves: Túneis, Saúde Pública, Emissão de Poluentes, Solução Sustentável, Análise
Socioambiental
1 INTRODUÇÃO
A poluição atmosférica tem se caracterizado como um dos maiores problemas para a saúde da população
mundial. Segundo estimativa da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE),
em 2050 a poluição do ar deve se tornar a maior causa de mortalidade prematura no mundo (OECD,
2012).
Em grandes centros urbanos, grande parte dos poluentes do ar são provenientes de veículos
automotores. Na cidade de São Paulo, sobretudo, um longo período de incentivo ao transporte individual
resultou em baixa eficiência no transporte urbano, com muito espaço ocupado para transportar um
pequeno número de pessoas. Ao mesmo tempo, investimentos insuficientes na rede de alta capacidade
sobre trilhos colaboraram para a sobrecarga do transporte coletivo sobre pneus, que assumiu boa parte
do transporte estrutural metropolitano (Prefeitura do município de São Paulo, 2016), acarretando maior
tempo de viagem e aumento dos níveis de concentração material particulado no ar, com consequente
agravo das condições de saúde dos que vivem na cidade. A falta de investimentos é, muitas vezes,
justificada pelos altos custos de implantação e operação do transporte sobre trilhos, mas, quando se
insere a variável socioambiental nas avaliações de custo-benefício, as vantagens para a saúde superam
muito os gastos (Toledo, 2012).
De maneira geral, o transporte individual consome 30 vezes mais combustível por passageiro em
comparação com ônibus e 70 vezes mais energia quando comparado com o metrô. Além disso, o metrô
consome energia muito mais limpa que o combustível fóssil dos ônibus. Segundo estimativas, uma linha
de metrô poupa cerca de 3 milhões de barris de petróleo por ano e economiza aproximadamente R$ 19,3
bilhões ao ano, levando em consideração a produtividade e a mobilidade dos trabalhadores (Arantes,
2013; Saldiva &Vormittag, 2010).
2 OBJETIVO
O trabalho teve por objetivo valorar os benefícios do Metrô de São Paulo tendo como parâmetros a saúde
pública e o bem-estar social associados à redução da concentração de material particulado para avaliar
a viabilidade de investimentos neste tipo de transporte como alternativa modal com características
tecnológicas mais limpa.
30
28
26
Velocidade Média (kM/h)
24
22
BC - Manhã
20
CB - Manhã
18
BC - Tarde
16
CB - Tarde
14
12
10
2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014
Ano
Figura 1 – Velocidade média na cidade de São Paulo entre os anos de 2005 e 2014.
Fonte: Companhia de Engenharia de Tráfego, 2015.
6 METODOLOGIA
Para o desenvolvimento deste trabalho pressupõe-se que a ausência do serviço de transporte do metrô
provoca um aumento no volume de viagens realizadas por outros modos, principalmente a utilização de
veículos, que por sua vez, geram congestionamentos, acréscimo de quilometragem rodada e de consumo
de combustível e, consequentemente, aumento das emissões de poluentes.
Foram analisados os impactos causados pela interrupção da operação do metrô durante a greves dos
metroviários ocorrida em 06/06/2014.
Para isso, foram coletados os valores de concentração de material particulado (MP10 e MP2.5), obtidos no
banco de dados da CETESB, através do seu sistema de informações da qualidade do ar (QUALAR, 2016)
de onde também foram obtidas as informações de altura de inversão térmica e porcentagem de calmaria,
utilizado os dados de 12 estações da rede automática de monitoramento: Santana, Santo Amaro, Parque
D. Pedro II, Congonhas, Mooca, Cerqueira César, Nossa Senhora do Ó, Pinheiros, Interlagos, Itaim Paulista,
Capão Redondo e Marg. Tietê - Pte dos Remédios.
As informações de precipitação, umidade do ar, temperatura e velocidade do vento foram obtidas no
Banco de Dados Meteorológicos para Ensino e Pesquisa (BDMEP, 2016) do Instituto Nacional de
Meteorologia (INMET), utilizando-se os dados da Estação São Paulo (Mirante de Santana).
Em seguida, os valores de concentração de MP obtidos nos dias de paralisação do metrô foram
comparados aos valores obtidos em dias equivalentes (mesmos dias da semana e com condições
meteorológicas semelhantes).
A título de comparação são indicados também os dados apresentados por Silva & Miraglia (2009) e Silva
et al. (2012), que analisaram os impactos das paralisações da operação do metrô ocorridas no período
entre 1986 e 2006.
Os benefícios sociais e econômicos associados à operação do metrô foram calculados a partir da
estimativa dos impactos econômicos devido a óbitos, internações e dias de trabalho perdidos atribuídos
à variação da concentração do material particulado em dias em que não houve operação do metrô
7 RESULTADOS
7.1 AUMENTO DA CONCENTRAÇÃO DE MP OBSERVADO EM DIAS DE GREVE DO METRÔ
7.1.1 Durante as paralisações de 2003 e 2006. Fonte: Silva & Miraglia, 2009 e Silva et al., 2012
Os dados apresentados na tabela 3 indicam um acréscimo de concentração de material particulado de
151% durante a paralisação de 2003 e de 77% durante a paralisação de 2006.
Tabela 3 - Concentração de MP10 e informações meteorológicas, 2003 e 2006. Fonte: adaptado de Silva et al., 2012.
2003 2006
Variáveis Paralisação Dia Acréscimo Paralisação Dia Acréscimo
Metrô Similar (µg/m3) Metrô Similar (µg/m3)
Data 17/06 10/06 15/08 22/08
Dia da Semana Terça-feira Terça-feira Terça-feira Terça-feira
Média Diária MP10 (µg/m3) 101.49 41.15 60.34 78.02 43.99 34.03
Temperatura Média (°) 19 21 23 20
Umidade relativa (%) 75 76 57 65
Velocidade dos ventos (m/s) 1.1 1.3 1.6 1.8
Ainda que no dia de greve tenha havido precipitação de 4 mm (o que, obviamente, diminui a concentração
dos poluentes), comparando-se o dia de greve com os demais dias considerados no período, foi
observado um aumento de 42.5% nos valores de concentração de MP10 e de 52.0 % nos valores de MP2.5.
Tais números seriam ainda maiores caso não houvesse a precipitação pluviométrica.
2003 2006
Aumento na Concentração de MP10 60.34 34.03
Óbitos (atribuidas a doenças cardio-respiratórias) 56 67
Óbitos atribuídos ao aumento de MP10 8 6
Impacto econômico diário associado aos óbitos (US$) 50.8x106 36.3 x106
Impacto econômico anual associado aos óbitos (US$) 18.5 x109 13.2 x109
Extensão do Metrô (km) 57.8 60.7
Beneficios econômicos (US$ / km.ano) 32.0 x107 21.8 x107
7.2.2 Durante a paralisação de 2014
Foram analisados impactos econômicos atribuídos à greve do metrô devido aos seguintes fatores:
internações devido a problemas respiratórios, dias de trabalho perdidos e aumento no número óbitos
por causas gerais. Para isso utilizou-se a seguinte formulação apresentada por Lvovsky et al (2000):
∆𝑆 = 𝑏 ∗ ∆𝐶 ∗ 𝑃 (1)
Onde ΔS é a variação de um determinado impacto sobre a saúde, b é um valor tabelado conhecido como
função dose-resposta (apresentado na tabela 6), ΔC é a variação da concentração do poluente (MP10) e P
é população exposta.
Tabela 6 – Função dose-resposta (b) para variação anual de 1µg/m3 de MP10. Fonte: Adaptado de Lvovsky, 2000.
Função-dose-resposta (b)
Impactos sobre a saúde
para MP10
Internações devido a problemas respiratórios 0.000012
Dias de trabalho perdidos 0.05750
Variação no número de óbitos (devido à todas as causas) 0.00084
Os resultados são apresentados nas tabelas 7 a 9 e foram obtidos considerando-se os seguintes dados:
Média anual de 36 µg/m3 de MP10 (CETESB, 2015);
Variação de 42.5% na concentração de MP10 (tabela 4), equivalente a 16.2 µg/m3;
População da cidade de São Paulo: aproximadamente 11.5 milhões de habitantes (IBGE, 2016a);
Número total de óbitos na cidade de São Paulo em 2014 igual a 74,266 (BRASIL, 2016c).
Tabela 7 – Benefícios econômicos atribuídos às internações hospitalares. Calculado pelos autores, 2016.
Redução na concentração de Redução no número de Custo por internação Benefício econômico
MP10 (µg/m3) internações (R$)1 anual (R$)
16.2 2235.6 1590.57 3.56x106
1. Uip, 2015.
Tabela 8 - Benefícios econômicos atribuídos aos dias de trabalho perdidos. Calculado pelos autores, 2016.
Redução na concentração de Redução no número de Custo por dia perdido Benefício econômico
MP10 (µg/m3) dias perdidos (R$)1 anual (R$)
16.2 10,712,250 77.59 83.1x107
1. Renda mensal média de R$ 2,327.80 (IBGE, 2016b), equivalente a R$ 77.59 por dia.
Tabela 9 - Benefícios econômicos atribuídos à redução no número de óbitos por causas gerais. Calculado pelos autores, 2016.
Redução na
Redução no número Custo estatístico de Benefício econômico Benefício econômico
concentração de
de óbitos uma vida (US$)1 anual (US$) anual (US$/km)2
MP10 (µg/m3)
16.2 1011 6.3x106 6.37x109 93.0x106
1. Silva et al., 2012.
2. Extensão do metrô de São Paulo igual a 68.5 km. Fonte: METRÔ, 2016b.
8 DISCUSSÃO
Este trabalho partiu do pressuposto de que a ausência do Metrô acarreta um maior número de veículos
circulantes e isso leva, naturalmente, a um aumento nos níveis de poluição atmosférica, contudo, outros
fatos devem ainda ser levados em consideração: a título de exemplo, nos dias de greve do Metrô, parte
dos trabalhadores possivelmente realizou suas atividades a partir de sua própria residência ou
simplesmente não foi ao trabalho; os modais que absorveram os passageiros trabalharam em regime de
superlotação e, naturalmente, demandariam um aumento no número de ônibus e automóveis, elevando
ainda mais os níveis de poluição atmosférica. Portanto, os dados coletados são um limite inferior da
condição de longo prazo, caso não existisse metrô.
Cabe salientar que as paralisações de 2014 ocorreram entre os dias 05/06 e 09/06, porém a ocorrência
de precipitações de maiores dimensões, inversões térmicas e falta de dados meteorológicos,
inviabilizaram a utilização dos demais dias de greve a título de comparação da variação de MP. No geral,
os dados demonstram que houve uma melhora significativa nos níveis de concentração de MP em relação
às paralisações ocorridas em 2003 e 2006, muito provavelmente devido aos programas de controle de
emissão veicular. Os fatores meteorológicos também tiveram a sua importância, durante o inverno de
2014, em particular, os seguintes parâmetros: maior ocorrência de dias com ventos mais intensos, menor
número de dias com porcentagem de horas de calmaria superiores a 25% e menor frequência de alturas
de inversões térmicas abaixo de 200 metros, contribuíram para que as condições fossem favoráveis à
dispersão dos poluentes (CETESB, 2015). Contudo, mais uma vez ficou demonstrada a influência do
metropolitano na concentração de MP na cidade de São Paulo. No dia 06/06 observou-se um aumento de
42.5% nos valores de concentração de MP10 e de 52.0 % nos valores de MP2.5 em relação à média dos dias
equivalentes durante os meses de maio e junho, ainda que neste dia tenha havido 4 mm de precipitação,
fato este que contribui significativamente para a redução nos níveis de concentração do material
particulado.
CONCLUSÃO
Os resultados demonstraram que o Metrô de São Paulo tem influência significativa nos níveis de
concentração de material particulado e, associado a este fato, diversos benefícios econômicos
relacionados à saúde e à produtividade da população.
Durantes as paralisações de 2003 e 2006, conforme indicado na tabela 5, foram observados benefícios
econômicos variando entre US$ 13.3 e US$ 18.6 bilhões ao ano, ou o equivalente a US$ 218.6 e US$ 320.9
milhões, respectivamente, por km de metrô construído.
Durante a paralisação ocorrida em 2014, apesar da diminuição dos valores de concentração de material
particulado em geral, os benefícios associados à operação do Metrô foram avaliados em torno de R$ 835
milhões por ano (tabelas 7 e 8), levando em consideração apenas internações devido a problemas
respiratórios e dias de trabalho perdido e aproximadamente US$ 7.2 bilhões (tabela 9) se contabilizados
os óbitos atribuídos à variação na concentração do material particulado (MP10), o que equivale a US$ 93.0
milhões por km de metrô construído.
Sendo assim, os benefícios sociais gerados são suficientes para justificar investimentos na construção de
transporte subterrâneo sobre trilhos, avaliados em aproximadamente R$ 600 milhões/km (METRÔ,
2016a), com isso, fica demonstrada a viabilidade econômica deste investimento que reverte em melhoria
de qualidade de vida da população, maior produtividade e maior atração de investimento na cidade de
São Paulo.
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